Filho caçula de uma família humilde de nordestinos, Pedro nasceu na cidade de Recife e aos quatro meses de idade foi levado por sua mãe Silvia Maria para a cidade de São Paulo onde seus irmãos e pais residiam na época. Crescendo na periferia da grande cidade paulista, conta que muitas vezes du...Continuar leitura
Filho caçula de uma família humilde de nordestinos, Pedro nasceu na cidade de Recife e aos quatro meses de idade foi levado por sua mãe Silvia Maria para a cidade de São Paulo onde seus irmãos e pais residiam na época. Crescendo na periferia da grande cidade paulista, conta que muitas vezes durante seu ensino médio, não havia aula devido aos traficantes da região e os poucos professores que tinham, muitas vezes ensinavam mais de uma matéria. As matérias que mais lhe chamavam a atenção, eram as de conteúdos exatos como matemática e química, que ele compreendia muito bem.
Sempre ansiou por trabalho devido ao exemplo de seu pai Sebastião, que lhe incentivava a conseguir seus objetivos. Aos 12 anos, morando na cidade de Embu das Artes, interior de São Paulo, Thiago queria começar a trabalhar numa padaria próxima de casa, porém, seu pai o proibiu para que ele continuasse estudando. Já aos 15 anos, passou a trabalhar como panfleteiro de uma clínica odontológica mas possuía um papel de faz-tudo na clínica. Trabalhando em meio período para frequentar a escola à noite, seu salário de meio período era a única renda da família pois era o único empregado dentro de sua casa.
Nessa mesma época conheceu a igreja através de amigos, mas não possuía nenhuma noção do que queria para sua vida. Em meio a uma fase rebelde, largou os estudos e envolveu-se com más influências. “Ser jovem em São Paulo é uma coisa que precisa ter muita força de vontade, ainda mais morando na periferia”, explicou. Devido a essas companhias, foi obrigado a deixar a cidade e retornar para Pernambuco junto de sua mãe.
Em sua terra-natal, passou a conviver com um de seus primos que era uma péssima influência para o jovem. E num certo momento, aos 19 anos, percebeu que a vida que levava não era a que queria para si e decidiu que a partir desse momento queria ter uma família, assim como seu pai, e não queria que seus filhos tivessem um pai que não fosse um bom exemplo. Afastou-se das más companhias e voltou a frequentar a igreja, para melhorar sua vida.
RELIGIÃO
Ao retornar para a igreja, passou a frequentá-la assiduamente e encontrou um ídolo: Jesus Cristo. Começou então a fazer metas para sair em missão pela igreja, mandando assim seu chamado e acabou sendo designado para o Rio Grande do Sul para pregar o evangelho. Durante dois anos de sua vida sua única atividade era propagar o evangelho de Deus, acordando todo dia cedo e estudando as escrituras.
A religião sempre foi presente em sua família mas nunca foram frequentadores de nenhuma igreja, porém, seu pai lia versículos da Bíblia quando juntava toda a família Santos, assim marcando profundamente a vida de Pedro. “Você precisa ter fé em alguma coisa, em Deus, em alguém. E eu sempre busquei essa religiosidade para a minha vida”, concluiu.
Tornando-se uma parte muito importante e uma orientação para sua vida, Pedro admite que caso afaste-se da igreja, voltaria a se tornar uma pessoa muito ruim. “Eu sou 8 ou 80, não fico em cima do muro. Tem uma escritura na Bíblia que diz: ou você segue a Deus, ou segue a Mamón, que no caso seriam as riquezas do mundo”, explicou.
FAMÍLIA
Emocionado, revelou que um dos seus maiores ídolos é seu pai Sebastião, que lhe ensinou o significado de honestidade e sempre batalhou muito para cuidar de sua família. “Eu tenho uma conexão tão forte com o meu pai, que logo após ele morrer e até hoje, eu posso sentir o cheiro dele, sentir a presença dele. A conexão que eu tinha com o meu pai era muito forte, muito forte mesmo”, contou.
A morte de seu pai foi um momento muito difícil de sua vida e até hoje continua sendo complicado lidar com a ausência e saudade de seu pai. Muito grato a todos os ensinamentos e pelo exemplo que foi em sua vida, Pedro afirma que apesar dos defeitos de seu pai, não havia nada a reclamar pois ele havia dado o seu melhor como pai.
Desde muito jovem, Pedro sempre sonhou em ter sua família e seus filhos, uma das características que acredita ter herdado de seu Sebastião - que casou-se com dona Silvia apenas 28 dias depois de conhecê-la. Quando conheceu sua esposa Aline, teve a certeza que era o momento de começar a construir sua família e hoje, após 10 anos de casamento e 4 filhos, seus filhos são o seus maiores amores. “Apesar do cansaço, dos problemas, quando olho para eles, eu faria tudo de novo”, explica com um sorriso no rosto.
O principal legado que deseja deixar para seus filhos é que sejam pessoas boas, mas seu maior sonho é que seus filhos tenham a mesma ligação com ele, da mesma forma que ele com o seu. “Quero que eles me amem de verdade, que quando eu morrer eles sintam a minha falta, assim como eu sinto a do meu pai. Não digo como dependência, mas sim como amor, carinho”, falou.
SEGUNDA CHANCE
Desde que havia largado os estudos, Pedro acreditava que se esforçando, sendo o melhor funcionário, sendo honesto e trabalhando muito, seu patrão iria reconhecer e promovê-lo, dessa forma ele iria subindo de cargo. Até que em um certo momento, no estacionamento que trabalhava, surgiu uma vaga de encarregado na empresa e essa vaga foi dada para outro funcionário. Questionando seu patrão queria saber porque não havia sido escolhido se era o melhor funcionário, o mais honesto, que havia aumentado a receita. “Por quê não eu? E sua resposta foi: porque você não tem ensino médio”, contou.
Naquele momento caiu a ficha para Pedro que não bastava apenas trabalhar, que agora quem ganhava mais, era quem estudava mais. Ele precisava terminar o ensino médio e ter uma profissão, pois não lhe dariam oportunidades se ele não tivesse estudo. “Tinha que fazer alguma coisa, técnico ou faculdade” relembra Pedro.
Mesmo sabendo a necessidade de uma profissão, conta que nunca foi muito ambicioso e apesar de gostar da química, nunca havia pensado nisso. Foi trabalhando na distribuidora Ambev, antes de sair em missão, que Pedro passou a ter contato com técnicos em química e química industrial. Ouvindo sobre as máquinas e a parte química do refrigerante, passou a interessar-se por automação, robótica. Na hora de voltar a estudar, havia duas áreas que lhe interessava muito: química e mecatrônica, pelo seu interesse em robótica.
Porém, em Porto Alegre não havia nenhuma escola técnica de mecatrônica. Apenas em cidades vizinhas, e com uma família, não havia como fazer o curso técnico fora da cidade. Sobrando-lhe assim a química e técnico em química, fez cerca de 6 meses primeiramente para testar. “Tem uma diferença entre você ser bom; você gostar e ser bom; e você gostar e não ser bom”, afirma Pedro, e a partir disso, descobriu que era bom em química.
Seu gosto por química tornou-se sua futura profissão. Para suprir a educação precária que teve em seu ensino médio e conseguir concluir seu curso técnico em química, Pedro sempre precisou buscar e aprender por conta própria. Mesmo fazendo algumas pausas devido a falta de orçamento, conseguiu atualmente concluir seu curso técnico e começou a cursar na UFRGS, bacharelado em química. Ainda em dúvida sobre qual lado seguir, considera fortemente trocar para licenciatura por interessar-se na parte acadêmica, mas possui planos para o futuro de abrir uma empresa de técnicos em química.
Um verdadeiro exemplo de transformação e superação, Pedro Thiago da Silva Santos percebeu o que realmente queria para sua vida. Mudando e melhorando ela, Pedro agora aos 33 anos vê um futuro totalmente diferente do que via há 10 anos atrás.Recolher