IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Virmondes Alves Pereira, eu nasci em Uberaba, em 10 de julho de 1956. FAMÍLIA Meu pai é Piraldi Alves Pereira e minha mãe Maria das Virgens Pereira. Meus avós paternos são Domingos Alves Pereira e Josefa Alves de Souza. Avós maternos, Joaquim Jos...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Virmondes Alves Pereira, eu nasci em Uberaba, em 10 de julho de 1956.
FAMÍLIA Meu pai é Piraldi Alves Pereira e minha mãe Maria das Virgens Pereira. Meus avós paternos são Domingos Alves Pereira e Josefa Alves de Souza. Avós maternos, Joaquim José de Melo e Maria Gomes de Melo. Meus avós paternos foram sempre ligados à agricultura e os maternos idem. Meu pai também. Minha mãe é dona de casa e sempre acompanhou o pai. Hoje eu tenho duas irmãs, infelizmente, perdi um irmão há alguns anos.
INFÂNCIA Eu sou filho de agricultor. O meu avô sempre foi agricultor e tinha uma pequena propriedade perto de Uberaba, onde criou os seus oito filhos. O meu pai continuou a sua vida naquela localidade. Eu nasci na fazenda do meu avô e passei lá a minha infância. A propriedade era próxima à Uberaba; cidade do Município, a uns 20, 30 quilômetros de Uberaba. Então, era próximo à cidade, mas era uma vida mais tranqüila, uma vida rural. O pessoal que teve a oportunidade – eu considero uma oportunidade – de viver numa propriedade rural teve uma vida muito sacrificada, porque as condições, nós estamos falando de 40 anos atrás, eram bem mais difíceis, não tinha energia elétrica, uma série de coisas que você tem hoje, não tinha informação, até porque a televisão não existia, a informação que tinha era via rádio. Mas, por outro lado, te dá uma certa vivência em família muito maior, a proximidade, as famílias são criadas mais próximas e a interação entre elas é bem maior. Então, eu acho que, apesar do sacrifício, é compensado por outras coisas. Na verdade, eu tive mais contato com meu avô paterno, pois a casa do meu pai era muito próxima. E minha avó materna eu não conheci, porque quando nasci ela já tinha falecido.
FAMÍLIA
Morávamos em casa meu pai e meu irmão. Tinha um tio, irmão do meu pai, que morava próximo, na mesma propriedade, e era o único tio que morava perto. Os outros tios saíram, foram para outros locais. Talvez a distância da casa do meu pai para a casa do meu avô fosse, sei lá, dois quarteirões. Para a casa do meu tio era um pouco mais longe, algo em torno de um ou dois quilômetros, no máximo. A escola era rural também e tinha que ir todo mundo junto.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Naquela época, não existia a facilidade que tem hoje, acho que a Estrela ainda não estava bem desenvolvida, então você tinha que fabricar seus próprios brinquedos. E aí o seu cavalo era o cabo de vassoura, o sabugo de milho virava um carrinho e assim por diante. Era o que você tinha. Eu fico pensando isso, porque são 40 anos numa cidade pequena do interior e é totalmente diferente da realidade de hoje, numa época em que a comunicação era muito mais precária e o nível de informação muito menor. Eram mais difíceis as coisas. Você tinha que fabricar os seus brinquedos e essa é uma vantagem, porque te dá oportunidade de descobrir algumas coisas, dá oportunidade de criar. Na época, a gente talvez não visse como vantagem, mas hoje as pessoas ficam muito mais dependentes. Hoje você vai ali, olha, escolhe o seu brinquedo etc. É interessante.
INFÂNCIA / VIDA RURAL Meu pai plantava lavoura quando eu era criança e a gente tinha que ajudar também. Eu basicamente comecei a trabalhar com sete anos. Meu avô, que era idoso, fazia o trabalho mais leve. Comecei a aprender esse tipo de coisa com meu avô. Você tinha os cuidados com as plantações mais próximas da residência, tinha que carpir, tinha que cuidar da horta, naquela época você tinha que fazer tudo, porque você tinha que fabricar toda a sua alimentação ali. Você tinha que ajudar, de alguma forma, e eu aprendi isso com o meu avô, até porque o meu pai ia para as lavouras mais distantes e era mais complicado. Isso foi quando eu era bem criança, tinha uns seis, sete anos. Então, eu aprendi muito com o meu avô. A propriedade do meu avô não era tão grande assim. Então, meu pai também alugava terras de vizinhos para poder fazer plantações. E muitas vezes ele ia para esses locais mais distantes, a três, quatro quilômetros. O meio de transporte da época era o pé, andar, ou senão o cavalo ou a charrete, não tinha carro. Os recursos agrícolas eram muito pequenos. Eu lembro do meu pai ainda – talvez vocês nem conheçam isso – preparando a terra com boi. Depois é que surgiu máquina agrícola, trator, mas era na base da tração animal, boi, cavalo, assim por diante. As coisas eram, mais ou menos, nesse esquema e tinha que fabricar os seus alimentos, praticamente você fabricava tudo. Meu avô tinha na propriedade um engenho de cana de açúcar, então ele fabricava o açúcar, fabricava a rapadura, ou seja, tudo que você compra no supermercado hoje fabricava lá. Hoje, com certeza, você tem até um valor maior de mercado, porque é o nosso velho conhecido, açúcar mascavo. Fui criado com açúcar mascavo. Isso era para subsistência, só para consumo dele próprio e da família que morava ali, que era basicamente o meu pai, o irmão dele... E, na verdade, o que acontecia é que os vizinhos também se aproveitavam dessa infra-estrutura que ele tinha, ele emprestava. Mas ele fabricava a sua própria necessidade, no que diz respeito a alimentos de sacarose, açúcar, rapadura que era o básico que se fazia. Não tinha objetivo de venda, era só para consumo, subsistência mesmo.
EDUCAÇÃO – ENSINO FUNDAMENTAL Essa é a parte talvez mais difícil porque, naquela época, principalmente na atividade rural, as escolas praticamente não existiam, eram poucas. Tinha uma escola perto, mais ou menos três ou quatro quilômetros, e eu comecei nessa escola primária. Eu fui para a escola com seis anos e tinha que ir a pé. Depois fiquei um pouco mais velho, ia até a cavalo. Mas, no início, ia a pé com meus primos, filhos do irmão do meu pai. Eu ia sozinho até a casa deles, algo em torno de um quilômetro e pouquinho, e ia junto com eles. Hoje é bem mais fácil, você pega o carro, o pai te deixa na porta da escola e volta, as preocupações evidentemente são outras, né? Naquela época não existiam as preocupações de hoje, principalmente com a segurança. Ia sozinho para escola, depois comecei a ir com as minhas irmãs. Sou o mais velho. Estudei nessa escola acho que um ano, depois a escola fechou, fundaram outra escola bem mais distante, aí tive que me deslocar para uma distância maior ainda e fiz o primário nessa escola.
ENSINO FUNDAMENTAL / ENSINO MÉDIO
Depois que eu terminei o primário, a gente tinha que fazer um curso de admissão. E, evidentemente, o ginásio era na cidade. Eu fui para a cidade para poder fazer esse curso de admissão. Fiz dois meses de preparatório, no próprio colégio, e depois fiz a prova para poder ser admitido no ginásio. Felizmente passei e aí comecei a estudar o ginásio na cidade, sozinho. Fui morar numa casa de uma prima do meu pai. Então, fiquei morando na casa dela em Uberaba para poder estudar. Estudava no Colégio Nossa Senhora das Graças, que era perto, felizmente, e era mais fácil. Fiz a primeira série do ginasial nesse colégio, que era particular. Evidentemente, naquela época as escolas públicas eram melhores, mas você tinha que ter acesso. E o colégio não era tão barato assim, a vida de agricultura até hoje é sacrificada, imagina naquele tempo. Então, no final do ano, fiz um concurso para a escola pública e passei. Aí fui para a escola pública, apesar de ser bem mais longe de onde eu morava, mas estudei nessa escola até me formar. Eu morei quatro anos em Uberaba. Uma irmã mais nova veio também para estudar e nós morávamos na mesma casa. Quando veio minha terceira irmã, acho que já estava ficando sobrecarregado para o meu pai sustentar todo mundo e de uma certa maneira tinha que pagar ou ajudar nas despesas lá da casa. Ele alugou uma casa para nós, morávamos os três, eu e minhas duas irmãs, para poder estudar. Eu e mais duas irmãs fizemos o curso primário em escola de fazenda. A irmã mais nova só começou a ir para a escola quando nós já estávamos, os três, na cidade, e aí ela terminou o curso primário já na cidade. Morávamos os quatro. Mas quando ela veio para a cidade, eu já estava prestes a sair, porque não fiz o curso superior em Uberaba.
LAZER Tenho boas recordações, porque morávamos num bairro considerado de periferia, as coisas eram mais fáceis, não existia a violência que tem hoje. Tinha muitos amigos, tinha campo de futebol perto de casa, era uma facilidade enorme. Eu morava perto do primeiro colégio que estudei, então, mesmo depois que saí do colégio, ainda tinha quadra para jogar futebol; sempre gostei muito de futebol, de soltar pipa na rua, de fazer cerol. A gente colocava a lâmpada em cima de um trilho de ferro que passava próximo, ficava lá, quando o trem passava, a gente pegava aquela parte moída da lâmpada, colocava cola e fazia cerol para as pipas. Bons tempos
OPÇÃO PROFISSIONAL Não havia expectativa na família em relação a uma carreira, se tiveram não falaram para mim. Foi opção própria mesmo, não teve nenhuma influência do meu pai, da minha mãe. Eu queria fazer engenharia, era desejo de criança. Aí é que eu tive dificuldade: “Qual engenharia que eu vou fazer agora?” Escolhi fazer engenharia civil, talvez porque impressionava com algumas obras civis bonitas que a gente via, eu, particularmente, gosto muito de ponte, então, talvez isso tenha me entusiasmado, eu achava interessante.
FAMÍLIA Meu pai foi sempre mais autoritário, mais rígido. Eu digo o seguinte: meu pai sempre foi mais autoritário e minha mãe sempre foi mais mandona, nunca vi gostar de mandar tanto
ENSINO SUPERIOR / ESTÁGIOS Eu fiz engenharia em Uberlândia, cidade próxima a Uberaba, são 100 quilômetros de distância. Durante a faculdade, você tinha que se virar. Meu pai sempre teve um padrão de vida baixo, ele nunca foi um abastado. Para o pessoal do interior, agricultor, as coisas eram difíceis. Depois de algum tempo, surgiu aquele programa do Governo Federal, o crédito educativo, que depois você pagava. Depois que eu me formei, paguei, devolvi. Estudei em Uberlândia numa universidade federal. Esse crédito educativo não era para pagar as mensalidades da escola, era uma maneira de você se manter, era para subsistência. Quando estava com uma determinada experiência de faculdade, eu dei algumas aulas em uma escola de química industrial para poder ganhar um pouco de dinheiro, com dois, três anos de faculdade. Já no terceiro período, eu tive oportunidade de sair e fazer estágio. Tinha um primo meu trabalhava em Brasília, mexia com as construções. Então, durante as férias, eu ia para Brasília trabalhar com ele e ganhar um pouquinho. A distância entre Brasília e Uberlândia é de 400 quilômetros. Eu trabalhava lá em construção, em reforma. Ele tinha uma pequena empresa de construção de casas, reformas, principalmente, de prédios etc. Eu lembro que fui em várias férias para lá, talvez umas três ou quatro. A gente tinha algumas obras no Senado Federal, na Câmara, reformas de banheiro, trocas de piso etc, então a gente mexia com isso. Ganhei um pouco de experiência e também era bom porque eu faturava. Durante o período letivo, dei algum tempo de aula, fiz estágio em Uberlândia em construtora, não tinha muito tempo, era corrido. Durante uma das férias, eu tive oportunidade de fazer um estágio no DER (Departamento de Estradas de Rodagem) de Minas Gerais, em construção de estrada no Sul de Minas, gostei da atividade, era interessante. Gostei muito de estrada, não da estrada em si, eu gostava mais das obras de arte. Obra de arte em estrada é ponte, túnel e assim por diante, então, isso me interessava mais. Nas férias, você sempre ficava brigando para conseguir alguma coisa melhor em termos de estágio e ganhar um pouco de experiência. Noutras férias, fui fazer estágio numa hidrelétrica da Cemig, com construção de usina. Eu já estava prestes a me formar e gostei muito. Se eu não estivesse na Petrobras, talvez fosse uma área onde eu estaria hoje. Gostei muito de trabalhar em construção de barragem. Em janeiro de 79, eu já estava praticamente no último período e estava fazendo estágio na Cemig, numa hidrelétrica próxima a Uberlândia, Hidrelétrica de Emborcação. Fiquei uns três meses fazendo estágio lá, foi muito interessante, eu falei: “Pôxa, talvez eu queira mexer com isso.” Mas a Cemig era uma empresa pública, para você entrar tinha que ter concurso e não tinha concurso assim. Eu terminei o curso em julho de 79: “E agora? Tenho que trabalhar, onde que eu vou arrumar emprego?”
Eu me formei na metade de 79. Durante o curso universitário, eu adiantei algumas matérias, naquela época a gente fazia por período, fiz o curso de verão, que a gente chama de curso de férias também. Então, consegui adiantar meio ano e fiz a faculdade em quatro anos e meio, saí no meio de 79. Foi ótimo, fiquei meio ano à toa, porque não tinha muito emprego.
INGRESSO NA PETROBRAS Estava difícil conseguir emprego, muito difícil mesmo. Eu me formei em julho de 79 e, nessa época, meu pai estava no Mato Grosso, onde tinha ido plantar umas lavouras. Então, eu estive lá no Mato Grosso, na cidade em que ele estava. Ele falou: “Ó, vem cá De repente tem alguma coisa aqui para você.” Cidade pequena, não consegui nada, voltei. Acho que fiquei um mês e voltei para Uberlândia. A minha mãe já morava em Uberaba, então falei: “Ó, vou ver o que eu acho por aqui.” E sempre mantendo contato com a Cemig, na expectativa de ter concurso, falei: “Pôxa, é um negócio que eu gostei.” Era a oportunidade que eu tinha. Mas, quando eu estava saindo da faculdade, esteve alguém da Petrobras na universidade. Eu lembro até o nome do rapaz que esteve lá, hoje é professor da Petrobras na Bahia, Daniel Xavier, não sei se ele já se aposentou, mas eu lembro dele mostrando o que era a Empresa etc. E o que era a Petrobras para nós, no interior? Era um símbolo da BR, tinha lá num posto e mais nada. O que esse pessoal faz? Não sabia nada, né? Ele falou: “Olha, vai ter concurso.” E realmente teve. A gente ficou de olho nos jornais e, no final do ano, teve o concurso da Petrobras. Eu fiz a inscrição e prestei o concurso lá em Uberaba mesmo.
IMAGEM DA PETROBRAS Quando ele [Daniel Xavier] deu a palestra, mostrando como era a Empresa, eu falei: “Pôxa, é algo mais além do que eu imagino.” Mas também não sabia muito o que era e não dava para você ter detalhes técnicos: “Ah, nós perfuramos, não sei o quê.” Eu falei: “Deve ter um poço de óleo lá embaixo, de gasolina...” Imaginava que já tirava a gasolina, não imaginava nem que tinha refino. Mas uma coisa que me deixou impressionado foi que era uma empresa grande, pelo menos para mim, que só conhecia um posto aqui, outro ali: “Deve ser uma companhia pequena.” Não tinha essa noção. A grande motivação era que eu precisava de um emprego e a Petrobras foi uma oportunidade que surgiu.
INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei na Petrobras no início de 80, na Bahia. Eu fiz inscrição, fiz o concurso e aí gente ficava de olho no jornal para ver se tinha passado ou não. Chamaram a gente para se apresentar em Belo Horizonte, pra fazer os exames pré-admissionais em Betim. Fiz os exames e já disseram o seguinte: “Ó, está aqui, tal, tal, tal, você foi aprovado, volta aqui tal dia com a passagem no bolso para ir para Salvador, para iniciar o curso.” Aí fui para Salvador em janeiro de 1980.
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO Cheguei em Salvador e comecei a conhecer uma outra Petrobras pelas próprias instalações, prédios, laboratório. A gente estava acostumado com poucos recursos na faculdade, não tinha muito laboratório, era uma dificuldade violenta, a gente chegava no laboratório e não tinha gente, era minúsculo também. Então, você se assusta, né? Na época da faculdade, eu ia muito no laboratório por causa do laboratório de rochas, de solo, que a gente chamava de laboratório de concreto. E lá na Bahia, quando eu cheguei, vi enormes laboratórios de geologia, e falei: “Pôxa, realmente é outro mundo.” Aquilo foi uma grata surpresa, foi o que me impressionou. Outra coisa que me impressionou, evidentemente, foi que eu não conhecia Salvador. Tinha conhecido o mar em Florianópolis, quando fui para o Sul fazer uma viagem daquelas de estudante e foi a única vez que eu tinha visto o mar. Fui para Porto Alegre e, no caminho, paramos em Florianópolis com a turma, mas foi só um dia de mar. Eram aquelas turmas de estudantes que iam de ônibus, não sei o quê. Cheguei na Bahia e falei: “Isso aqui é muito bom para ser verdade” Gostei muito e gosto muito de Salvador até hoje.
Eu fiz um curso de seis meses só. Naquela época – evidentemente, você fica sabendo disso depois, você não tinha esse tipo de informação –, a Petrobras precisava de muita gente, foi a época de grandes investimentos, início da década de 80, quando estava começando o desenvolvimento da Bacia de Campos e precisava de muitos recursos. Normalmente, o curso da Petrobras te dá uma formação em engenharia de petróleo, em todas as áreas. Como eles precisavam de gente naquele período, uma parte da nossa turma – acho que mais de 200 pessoas – foi destinada a fazer um curso rápido, somente engenharia de perfuração. E aí eu fui para essa turma e fiz um curso de seis meses. O pessoal fazia um curso mais longo, acho que de um ano ou mais, inclusive com intervalo de estágio. Fazia uma determinada parte do curso, ia para o estágio, ficava oito meses no estágio e depois voltava. Eu não tive estágio, fiz o curso rápido, condensado, só de engenharia de perfuração, e já vim para Macaé, para o campo.
DEPARTAMENTO DE PERFURAÇÃO – BACIA DE CAMPOS Eu vim para trabalhar na Bacia de Campos, no Departamento de Perfuração, no antigo Distrito de Perfuração do Sudeste. Ali estava se iniciando a perfuração, não tinha recursos, não tinha gente, tinha poucos engenheiros, principalmente os engenheiros de suporte. Eu me lembro disso porque fui trabalhar num setor de operações marítimas e trabalhava embarcado como fiscal de sondas de perfuração. Ficava 14 dias embarcado e folgava 14. Eu tinha um chefe, que era o chefe do setor, e havia um boliviano auxiliando ele, que era quem mantinha mais contato comigo, no dia-a-dia. Por questões operacionais, eu mantinha muito contato com ele. Todo esse pessoal dos setores de operações era estrangeiro, basicamente colombianos, bolivianos e assim por diante. Estavam começando a tentar descobrir mais campos na Bacia de Campos, a desenvolver Enchova, que já existia, e precisavam de muita gente. Eu cheguei nesse estágio na Bacia de Campos, no início do crescimento. Foi muito agradável, tão agradável que estou lá até hoje. Eu cheguei e já fui trabalhar como fiscal de sonda.
COMEÇANDO A GOSTAR Para mim, tudo era novidade A partir do momento que você faz o curso, que você começa a estudar uma coisa, você começa a gostar. Impressionante isso. A gente tem uma capacidade de adaptação muito grande. Era um negócio totalmente diferente para mim, que eu nunca tinha visto na faculdade, mas aí comecei a gostar daquilo e me sentir entusiasmado. E eu achava o mar deslumbrante. Um cara do interior, que não conhecia o mar, e de repente estava lá no meio. Impressionante essas recordações daquela época quando você estava chegando, como é que você viu aquilo. Está de noite trabalhando com uma lua, aquilo tudo prateado, o mar, você fala: “Pôxa Que cenário bonito” E você está ali, no meio do nada. Então, era um negócio diferente e muito motivador. Eu comecei a gostar desse tipo de coisa e aprendi. Adoro o trabalho de plataforma marítima até hoje.
TRABALHO EMBRACADO Então, eu comecei, fiquei um determinado período embarcado, fiscalizando, ainda morando em Minas Gerais, porque nos 14 dias de folga eu voltava para lá. Fiquei quatro anos fazendo esse esquema de embarcar e desembarcar, trabalhando nessas plataformas, tinha muitas necessidades. A minha turma – nós éramos 40 pessoas – que fez esse curso rápido, mais de 50% veio para Macaé, os outros foram para outras regiões, como Sergipe, Belém.
OPÇÃO PELO MAR Escolhi Macaé pela proximidade. Na época, a gente tinha algumas opões e até hoje tem. Eu tive uma oportunidade de escolha porque fui, felizmente, uns dos bem classificados no curso da Petrobras e normalmente eles dão essa opção para as pessoas que são melhores classificadas: “Olha, tem essas vagas e você escolhe.” Minha primeira opção foi Macaé porque está mais próximo, sem sombra de dúvida era o local mais próximo de Minas Gerais, e talvez porque algumas pessoas que estiveram dando aula para a gente, de outras regiões, disseram: “Olha, Macaé vai crescer muito, a atividade lá vai crescer, está começando agora.” E eu sempre tive um negócio: mexer com coisa nova dá trabalho, mas dá muitas oportunidades, então isso me atrai. Se for fazer alguma coisa nova que ninguém ainda fez, eu quero estar fazendo. Mas isso é coisa intrínseca da pessoa, não tem jeito. Então, na época, eu pensei: “Tá pra mim, eu vou para lá mesmo.” Sem sombra de dúvidas o fator distância da família, a distância de Minas Gerais foi um fator preponderante, mas esse outro também foi muito importante. Pra começar, lá é mar, é diferente. Nas outras regiões, eram basicamente operações terrestres. Então, eu decidi: “Vou para lá, que está começando.” Esse é um dos fatores.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Mas, só para voltar, já que vocês gostam de história, vamos contar a história. Eu cheguei em Macaé em 80 e comecei nesse trabalho de embarcar com o pessoal e nós não tivemos, na verdade, a minha turma não teve muita oportunidade de treinamento, porque não tinha gente para treinar e a gente não conhecia nada. Então, eu lembro que embarcamos, eu e um amigo de turma, Demarco Epifanio, que hoje está trabalhando em Cuba. Já tinha alguém experiente, embarcamos com uma pessoa antiga da Petrobras, um técnico, que estava lá de fiscal. Naquela época, a escala era 14 por 14. Normalmente, hoje, quando o pessoal chega, engenheiros novos, o cara embarca com alguém para ficar treinando, para poder aprender. Mas as coisas eram novas, totalmente diferentes, e nós não tivemos muito essa oportunidade. Eu lembro que nós embarcamos juntos, mas já tinha um técnico experiente a bordo, que tinha embarcado acho que dois dias antes. Eu fiquei sete dias junto com ele e, depois, ele desembarcou para ir folgar. Ele é daqui do Rio e desembarcou porque morava mais perto, combinamos isso. Ele folgou sete dias. Quando voltou, eu já estava com 14 e desembarquei com o outro rapaz que estava lá, e ele ficou sozinho. No outro embarque, eu já voltei rendendo ele, nessa escala. E continuamos assim, sem ter mais ninguém, só o contato com a base, com aqueles engenheiros que eu falei, o engenheiro boliviano que dava as orientações, as dificuldades técnicas etc, porque a gente não tinha tanta experiência. Então, eu diria que foi sacrificante, mas foi muito motivador, ou seja, colocaram um desafio na nossa mão. Essa é que é a realidade. Hoje a gente diz: colocou, jogou no fogo, né? Mas isso é muito bom.
TRABALHO DE PERFURAÇÃO Na verdade, em linhas gerais, você tem uma plataforma semi-submersível, em que você instala os equipamentos de perfuração, a sonda, e perfura. Não modificou muito em relação a essa concepção básica. O que modificou, evidentemente, são os equipamentos que se usa hoje. São equipamentos mais modernos, que dependem menos do esforço humano. Naquela época, era tudo bruto, equipamentos pesados. Hoje, as pessoas têm uma condição de trabalho muito mais tranqüila, muito mais leve. Antigamente, você tinha que pegar equipamentos pesados, manobrar equipamentos pesados com a própria mão. O esforço físico era muito grande. Hoje é bem menor, dadas as condições, cresceu, evoluiu, nesses últimos 25 anos. Eu vim para a Petrobras no início de 80, trabalhar em sondas marítimas. Fui conhecer sonda terrestre em 1993, quando fui fazer missão na Líbia. Eu não tinha noção do que era. Os equipamentos são semelhantes em terra e no mar, mas as adaptações para mar exigem equipamentos mais robustos, condições específicas para mar, para eliminar as características básicas do mar, porque você está em movimento e em terra você está parado, então, são diferentes em função disso. Como eu não conhecia sonda de terra, o pessoal dizia: “Ah, sonda de terra não tem nada, é simples. O conceito é o mesmo.” Talvez fosse assim: você pode andar num Fusca, pode andar num Mercedes hidramático, um tem controle de não sei o que lá, para o outro não tem, não tem nada.
ENCHOVA / BAGRE
Naquela época, a gente não tinha essa noção que a gente tem hoje, porque você embarcava os 14 dias e era muito focado naquele seu trabalho. O primeiro óleo da Bacia de Campos veio em 78, com a produção de Enchova. Então, o foco era desenvolver Enchova, era desenvolver alguns campos menores que tinham sido descobertos por ali, mas eu trabalhava numa sonda de perfuração, que basicamente perfurava poços exploratórios para descobrir novos campos. Eu tinha vontade de trabalhar mais nessa área e não na parte de poços em desenvolvimento. Mas o grande motivo era desenvolver Enchova e, talvez, Bagre, que tinha sido descoberto também, eram os campos que tinham na época. O trabalho era perfurar os poços e desenvolver esses campos. Um dos marcos incentivadores, metas desafiadoras que surgiram na época, foi a meta dos 500 mil barris, em 1985. Isso foi importante porque deu um ânimo para todo pessoal, eu diria que é o mesmo ânimo que a gente tem hoje de atingir a auto-suficiência no máximo até 2006. Então, isso marca qualquer companhia. Direta ou indiretamente, você está envolvido, porque você está trabalhando nas unidades. Naquela época, eu trabalhava embarcado, então a conversa era: temos que produzir 500 mil barris no final de 85. E a Bacia de Campos era a alavanca disso. Foi interessante.
PERFURAÇÃO E EXPLORAÇÃO Eu trabalhava em fiscalização de plataforma de perfuração, para descobrir novos campos. Só fiscalizava uma plataforma. Perfurava um poço aqui e ia para outro poço tentar descobrir óleo e assim por diante. Então, não supervisionava campos, isso era mais com o pessoal da produção, que trabalhava desenvolvendo os campos. Perfurava os poços de desenvolvimento e ficava com essa parte. Eu não tive oportunidade de trabalhar, nessa época, em desenvolvimento. Tinha geólogo que acompanhava a perfuração do campo junto com a gente, nós éramos responsáveis pela parte geológica. Então, ele analisava o que estava saindo lá do fundo do mar, as amostras de solo, fazia as co-relações com perfil sísmico, com o que estava sendo esperado, as perspectivas, as formações esperadas, para ver se ali tinha aquilo que havia sido mapeado no perfil sísmico e se realmente se caracterizava como uma realidade. Eram feitos todas aqueles processos, falhas, não sei o quê, trapeadores e uma série de termos técnicos de geologia, que formam determinadas condições para existir reservatório de óleo. Na verdade, eles buscam essas formações, essas conformações geológicas que têm todas as características de ter óleo. Só tem uma maneira de saber: chegar lá e ver se tem efetivamente. Então, eles iam co-relacionando isso. Eu diria que é um trabalho muito interessante. Com certeza, o geólogo deve achar muito mais do que eu, porque ele faz as suposições, faz todas as co-relações, hipóteses, trabalha com dados indiretos e, aí sim, vai comprovar aquilo. Então, eles ficavam lá analisando e verificando junto com a gente na sonda. Nós dependíamos muito das informações deles para saber o que podia vir, o que não podia vir, por exemplo, qual a melhor broca que podia utilizar, qual o cenário que tinha para eu escolher melhor a broca para perfurar. Essa interação entre geólogos e engenheiros de perfuração e de petróleo sempre foi grande e ainda continua sendo.
DIVISÃO DE PERFURAÇÃO DO SETOR DE OPERAÇÕES MARÍTIMAS Em 84, fui nomeado para Divisão de Perfuração do Setor de Operações Marítimas. Quando eu estava embarcando, fui convidado para vir para o escritório. E aí eu fazia o trabalho que aquele assistente fazia, o boliviano, vim para exatamente ficar no lugar dele. Aí já tinha mais turmas chegando na Petrobras, mais engenheiros, mais pessoas embarcando. A gente supervisionava e ficava em terra auxiliando a supervisão daquelas quatro sondas que perfuravam no setor em que eu estava como gerente. Fiquei durante dois anos trabalhando nesse suporte e depois fui nomeado gerente de um desses setores operacionais. Em 1986, já fui ser gerente desse setor de operação. Na época, estava no início de perfuração em águas profundas e esse setor que eu fui gerenciar era exclusivamente para mexer com perfuração em águas profundas. Foi meu início nessa área.
PERFURAÇÃO / ÁGUAS PROFUNDAS
Talvez devido ao meu desejo de querer fazer uma coisa nova, surgiu aquela oportunidade e aí fui. O meu setor só trabalhava com perfuração em águas profundas, ou seja, perfuração acima de 400 metros. Utilizavam-se sondas não como unidades de perfuração, mas com sistema de ancoragem, com sistema de posicionamento dinâmico, que a Petrobras contratou lá fora. Todas essas sondas que vinham para águas profundas, na época, em torno de três, quatro, às vezes cinco, ficavam sob minha responsabilidade, como gerente desse setor de operações. Então, em 1986, formou-se um setor, um grupo de pessoas, para poder enfatizar a perfuração em águas profundas, porque era tudo novo para nós e para o mundo todo, praticamente. As dificuldades eram outras, totalmente diferentes daquilo que a gente conhecia para lâmina de água rasa, a começar pela própria sonda, que não tinha âncora. E aí como é que nós vamos operar com isso? Quais são as dificuldades? As condições de solo marinho eram totalmente diferentes, então como que a gente vai iniciar, montar a nossa estrutura, chamada de início de poço? Montar aquela base inicial, aquela infraestrutura, era como se fosse montar a fundação da casa, do prédio, lá no fundo do mar, então isso era basicamente o diferente para nós. Esse era um dos maiores desafios que a gente tinha, porque não tinha onde buscar informação, não tinha muito isso lá fora. Era raro, você via um pessoal furando um poço aqui, outro lá etc. E a gente tinha que fazer esse tipo de coisa. Aprendemos, sofremos muito Foram muitas noites sem dormir, muitos problemas acontecendo e soluções que a gente tinha que dar, discutindo com o pessoal que estava embarcado. Felizmente, tinha uma equipe de engenheiros que trabalhava comigo muito boa, que eram, na época, os fiscais que ficavam lá na plataforma. O que nos ajudou muito também foi o pessoal da parte de fluidos e perfuração, os químicos de fluido de perfuração, porque eles nos ajudaram muito a resolver vários problemas e a gente conseguiu, aos poucos, construir toda essa tecnologia que nós temos hoje para perfuração em águas profundas.
INTEGRAÇÃO DOS TRABALHOS Naquela época, não tinha muita gente, era basicamente o pessoal da minha turma mesmo, tinha um pessoal com um pouco mais de experiência, um pouquinho mais antigo. Nós fomos para Macaé, éramos 22, mas nem todos trabalhavam na minha área, outros foram para outras áreas etc. Eu diria que, quando nós começamos em águas profundas, éramos talvez umas 12 pessoas, 12 engenheiros de perfuração. Tinha os químicos, que somam muito mais pessoas, mas engenheiros de perfuração tinha uns 12 a 15. E aí, esse grupo de pessoas é que, juntos, construíram as soluções. Lá em Macaé tinha o pessoal da Sede que dava suporte técnico e tinha o pessoal de Cenpes, que ajudou muito. Nós fazíamos esse link entre o lado operacional, o pessoal da Sede, que tinha um conhecimento técnico dos cálculos e intermediava isso com o Cenpes e voltava com soluções para nós, para testarmos no campo essas alternativas. Então, a gente dizia: “Não, isso aqui não dá certo, isso não dá para fazer, isso é difícil, esse sim, esse nós vamos ter que ajustar.” Havia essa construção conjunta, essa integração entre o pessoal da área técnica, da Sede da Companhia, da Sede do Departamento de Perfuração e o pessoal do Cenpes. E gente lá na ponta da linha foi muito importante para construir isso, apanhando, apanhando. Isso foi em 86.
MANUAL DE PERFURAÇÃO Até por experiência, nós começamos a escrever algumas coisas, registrar aquilo. Fizemos algumas apostilas, chegaram alguns engenheiros novos que gostavam muito de escrever. O Décio Odonne, que trabalhou comigo lá na Bacia de Campos, é um engenheiro que gosta muito de escrever, registra muito bem, é um excelente profissional, e nós fizemos algumas apostilas juntos, escrevemos. Começamos aos poucos e o pessoal novo que ia chegar já teria alguma base, pelo menos, a partir de um rascunho, para poder registrar um pouco desse conhecimento. Na Petrobras, deve existir em algum local essa apostila que a gente escreveu. Então, foi muito importante isso.
AULAS DE PERFURAÇÃO E a partir daí também começamos a ir para os cursos em Salvador, para poder falar com o pessoal um pouco daquilo que a gente fazia. Tive oportunidade de ir a Salvador várias vezes para dar aula de perfuração, principalmente o que a gente chamava de início de perfuração em águas profundas, que era o mais difícil na época, porque depois, mesmo em águas mais profundas, as formações são mais iguais. Mas o início era mais difícil, nós não tínhamos conhecimento. Então, tive oportunidade de ir lá e falar para o pessoal, que fazia alguns cursos de reciclagem, não só para quem que estava se formando, mas para o pessoal mais antigo, que não tinha tido a oportunidade de trabalhar nessa área ainda. Depois fizemos um curso de reciclagem também, acho que já no final de 90, para todos os engenheiros que trabalhavam na Bacia de Campos, foi um desafio no dia-a-dia.
GRUPO ESPECIAL EM PERFURAÇÃO Depois que a gente consolidou esse grupo, especialista em perfuração em águas profundas, a gente viu o seguinte: “Olha, a atividade tem que crescer e não dá mais para ficar só com esse grupo, temos que espalhar para todo mundo.” E aí sim, outros setores começaram a perfurar em águas profundas, outros setores começaram a tomar conta de sondas que perfuravam águas profundas e treinar mais pessoas. E hoje é praticamente o que existe, todo mundo trabalhando em águas profundas.
TRABALHO EM POÇO / KICK Quando a gente conseguia efetivamente fazer um trabalho num poço do início ao fim, sem nenhum problema, aquilo era uma motivação muito grande para nós. Isso nos dá uma certa motivação. Mas uma das coisas que me marcaram muito e que talvez ainda me marquem são as dificuldades enfrentadas e superadas. Nós estávamos num poço, não me recordo o nome, mas estávamos trabalhando, tinha um engenheiro a bordo e eu estava responsável em terra, como gerente. Tivemos o que a gente chama de kick nesse poço, em água profunda. Kick é quando você está perfurando e, por algum problema, a pressão lá embaixo é maior do que a pressão que você está colocando em cima. À medida que você vai perfurando, vai colocando fluido em cima, para manter as condições, porque as pressões vão aumentando de acordo com a profundidade. Então, você mantém dentro daquele poço um fluido pesado, mais ou menos pesado, para poder suportar não só as paredes quando desmoronar, mas também evitar que o que está lá embaixo, seja óleo ou seja gás, venha na superfície. É lógico que essas formações ocorrem, não é incomum, mas quando, por algum problema, o seu peso está um pouco menor, as coisas vêm. E aí você tem pressão na cabeça. Nós tivemos isso num poço e fomos chamados lá de noite: “Olha, estamos com problema aqui etc.” Fui para a base e ficamos lá a noite inteira tentando resolver, o que fazer, quais as soluções de combate que a gente já tinha estudado muito: então vamos fazer isso, então vamos fazer aquilo.
Fomos para bordo da plataforma e conseguimos debelar, ou seja, evitar que isso se tornasse um problema maior. Essa foi uma das grandes dificuldades para mim, nós não tínhamos enfrentado isso em lâminas d’água profunda. Eu já tinha tido a oportunidade de escrever, com outras pessoas, material técnico sobre combate de kicks em águas profundas, como fazer uns procedimentos, na época do antigo Depex. Então, foi bom porque a gente foi lá e fez aquilo que a gente tinha escrito, que a gente imaginava. Fizemos e deu certo. Para mim, foi uma satisfação muito grande, eu me recordo dessa dificuldade. É lógico que têm muitos fatos agradáveis e muitas etapas vencidas. Nós estávamos a mais de 1600 metros de lâmina d`água. Eu não lembro o nome do poço. A
gente tinha escrito porque, se acontecesse um kick em água profunda, o que a gente ia fazer, que método ia utilizar? A gente sempre imagina como é que é o esquema que eu vou trabalhar, será que a plataforma vai ter os recursos todos necessários? Então, a gente imaginava e descrevia isso e exigia que as plataformas que a gente contratasse tivessem determinados recursos em termos de sistema de circulação, de fluido etc. E chegamos lá e a satisfação foi essa, porque aquilo que a gente previu, aconteceu como a gente previu no que a gente tinha escrito. Isso é bom. O melhor era que não tinha o problema que a gente poderia ter tido. Combater tudo direitinho, e essas são operações demoradas, são operações que, às vezes, demoram dois, três dias, e você tem que ficar ali praticamente durante o tempo todo. Então, quando você termina e vê que está tudo bem, você está super cansado, mas com aquela sensação de dever cumprido. Isso te motiva muito. A satisfação pessoal é muito grande. É a própria satisfação pessoal. Aí você não precisa de elogio, você se auto-elogia.
GEPEM
O Departamento de Perfuração da Petrobras tinha um ramo que se chamava Gepem, Grupo Executivo de Perfuração Marítima. Esse grupo foi responsável por operar as plataformas fixas da Petrobras. A Petrobras não tinha plataformas marítimas próprias, plataformas de perfuração, e foi construída uma série dessas plataformas durante a década de 80, fruto ainda do governo do Delfim Neto, aquela história toda que os jornais noticiaram tanto. Nós compramos quatro plataformas da França, mais quatro do Japão e a Petrobras tinha que operar essas plataformas e treinar muita gente. Para isso, o departamento de perfuração criou um grupo especializado em operar plataformas, que se chamava Grupo Executivo de Perfuração Marítima, Gepem. Eu acho que, para o pessoal que participou dessa época, foi um negócio muito interessante, porque ninguém fazia isso no país. Ninguém operava as plataformas, nós contratávamos as plataformas de perfuração lá fora para vir operar para a gente. A partir do momento em que você tem a sua própria plataforma, começa a operar com pessoal próprio, treinar o pessoal, buscar a escola técnica, o pessoal técnico, botar para operar, para fazer a manutenção. Esse é o histórico. E, no final da década de 90, houve uma reestruturação no Departamento de Perfuração e as atividades desse grupo de perfuração marítima, que estavam concentradas, foram dispersas. Era um grupo de pessoas que só fazia isso e foi disperso por todo o departamento. Então, todos os distritos começaram a operar essas unidades. Esse grupo deixou de existir e as pessoas foram re-alocadas nos vários distritos, principalmente no distrito de perfuração do Sudeste, na Bacia de Campos, onde as unidades estavam.
SETOR DE OPERAÇÕES ESPECIAIS Nessa época, eu saí da atividade de perfuração de poço e fui trabalhar nesse setor de operações especiais, que dava suporte técnico, para gerenciar essa atividade. Dava suporte técnico também às operações nessas plataformas, e tinha uma parte mais voltada para equipamentos. Imagina, o engenheiro civil, especializado em petróleo, de repente começa a mexer com equipamentos Eram outros desafios, muito mais voltados para a parte dos equipamentos que compunham as plataformas, isto é,
dando suporte aos equipamentos da própria plataforma de uma maneira geral, principalmente, àqueles voltados para a perfuração. Fiquei um determinado período nesse setor, nem sei quanto, mas foi pouco tempo. E aí numa reestruturação interna foi criada uma divisão que englobava, além dessas atividades, a atividade de manutenção e oficina. E fui ser gerente dessa divisão. Fiquei lá um bom tempo. Eu ficava em terra. As atividades gerenciais são em terra, mas as atividades das plataformas são no mar. Então, a gente sempre diz “trabalho em terra”, mas a freqüência que se ia às plataformas era grande, porque as atividades ocorriam lá. E, nessa época, eu ainda embarcava, ia muito na plataforma, ficava um ou dois dias, voltava, ia para ver algum problema, alguma coisa, ou dava uma orientação, a diretriz mais próxima, mas sempre tinha que estar na plataforma. Foi uma época de muito aprendizado, porque era uma área nova. Eu pude conhecer um pouco mais de manutenção de equipamento: como eles funcionavam efetivamente, os fabricantes, as alternativas etc. Foi um período muito bom.
PLATAFORMAS DE PERFURAÇÃO Essas plataformas são semi-submersíveis, elas flutuam. A Empresa já tinha algumas plataformas fixas, de perfuração, que a gente chama de plataformas auto-elevatórias, jack-ups. Essas têm uma estrutura que se apóia no fundo do mar, aí ela sobe através dessa estrutura e não tem contato com o mar, ela fica apoiada na estrutura. Mas as flutuantes não, elas ficam o tempo todo flutuando mesmo, como se fosse um barquinho desse aí qualquer. Então, a Petrobras já tinha alguma experiência em operar essas unidades auto-elevatórias, mas as flutuantes não. E aí teve que treinar essas pessoas para isso, em função das plataformas que a gente tinha adquirido lá fora. Por estratégia da Companhia e, talvez, estratégia até do país. E a gente precisou treinar as pessoas, isso se deu no início da década de 80. Quando eu fui para lá, já era final da década de 80, fui para essa área em 91, tanto que já tinha toda uma consolidação de conhecimento, as pessoas já estavam formadas, era só dar continuidade, e eu fui exatamente aí para tomar conta dessa área de equipamentos de plataformas semi-submersíveis e equipamentos em geral, desde equipamento de geração, motores, motor gerador, até os equipamentos de perfuração em si.
EQUIPAMENTOS E SISTEMAS MARÍTIMOS A dificuldade, para mim, era porque eu não tinha nenhuma formação em engenharia mecânica e, de repente, tive que mexer com isso. Eu não sabia nada de mecânica, não sei muita coisa até hoje, mas não sabia nada de engenharia mecânica, motor de combustão, motor diesel e assim por diante. Não sabia nada disso, nada de elétrica, alta-tensão, barramento, geração, gerador de alta-tensão. Bom, e aí você tem que acostumar não só com o palavreado, como ter um conhecimento mínimo, necessário, básico, para poder até estar conversando com os especialistas da área. Foi interessante, e eu acho que foi bom. Eu fiquei de 91 até 95 nessa área, mexendo com esses equipamentos de plataforma e dando suporte à parte técnica. Essa divisão era um suporte técnico mesmo. O pessoal lá da plataforma opera o dia-a-dia, se tivesse alguma dificuldade técnica com relação a esses equipamentos, aí vinha para a gente, para dar o suporte técnico. Evidente que existia todo um background de engenheiros que trabalhavam comigo, com conhecimento específico para poder dar suporte. Muitas vezes era: “Olha, aconteceu isso aqui, deu uma trinca, não sei o que, o que faz, o que causou, o que não pode ter causado...” A gente buscava informações com outros órgãos internos, mandava fazer análise em laboratórios, mandava fazer no Cenpes, consultava fabricante, pesquisava no exterior, pois a maioria desses equipamentos era de fabricantes internacionais. Buscava informações lá fora, trazia técnicos de fora para auxiliarem em algum problema mais sério, mas, enfim, tinha que dar uma solução. A gente não gerenciava e não mexia com a manutenção do dia-a-dia, aquela que o cara dá manutenção no equipamento diariamente, que vai lá, lubrifica, faz aquilo, mas quando surgia um problema maior você tinha que dar uma solução adequada. Basicamente era isso, nessa época que a gente trabalhava nessa área. Com a DIESMA – Divisão de Equipamentos e Sistemas Marítimos –, a gente ficou também responsável pelas oficinas. Nós tínhamos, naquela época, algumas oficinas próprias em terra, oficinas de manutenção. Os equipamentos funcionam, mais ou menos assim: aquela manutenção mais leve, que dá para ser feita a bordo da plataforma, é dada lá; quando não tem condição, exige equipamentos maiores, tornos etc e qualquer manutenção de maior vulto, aí não tem jeito, até porque lá não tem tantos recursos. Desembarca o equipamento e a gente faz manutenção em terra. E nós tínhamos as oficinas próprias, em Macaé mesmo. Então fiquei responsável por essas oficinas também.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / BRASPETRO
Em 93, eu era chefe da DIESMA e fui convidado para fazer missão na Braspetro, lá na Líbia. A Petrobras tinha umas concessões exploratórias, tinha que perfurar dois poços para descobrir óleo e a gente esteve lá. Foi a época que eu conheci sonda de terra. Fui conhecer sonda de terra na Líbia, trabalhando no deserto. Mas fiquei lá pouco tempo. Fiz acho que duas missões, devo ter ficado uns 80 dias. Foi pouco tempo, mas era novidade para mim. É totalmente diferente. Bom, a novidade não era a atividade em si, porque a sonda de terra é mais simples, não tinha novidade nenhuma em termos de desafio tecnológico. O desafio era em termos de local e logística, porque você está isolado. Lá é isolamento total, você falava com a base pelo rádio durante o dia, a noite não podia falar, por causa das condições atmosféricas. Às vezes, durante o dia, nem dava para falar com aquelas tempestades de areia, em algum local do deserto, falava muito mal.
BRASPETRO / LÍBIA Eu fiquei 80 dias na Líbia, mas fiquei uns 60 dias direto no campo, lá no deserto. É uma experiência interessante também, muito interessante O principal desafio, a maior preocupação que eu tinha lá era com acidente. Nós tínhamos um avião que dava suporte a gente, que ia duas vezes por semana e descia no deserto, perto do campo mesmo, naquele deserto de areia, mas escolhia um local; tem toda uma tecnologia para descobrir campo de aviação em deserto. Você vai lá, vai andando e vê se o pé afunda, se afundou muito, ali não dá para o avião descer. Você escolhe um lugar que não afunda muito. Então, lá tem toda uma técnica toda avançada para isso, tudo planinho, aí você marca com um tambor, faz o seu campo de aviação, o campo de pouso e decolagem, monta lá e pronto. E o avião desce lá, duas vezes por semana. A vilazinha mais próxima estava a 110 quilômetros e não tinha recurso nenhum. Eu vou contar como era. Tinha uma área que já estava mais desenvolvida, que inclusive tinha uma outra sonda de terra da Petrobras perfurando e tinha mais recurso, tinha uma infraestrutura. A estatal libanesa já produzia óleo, então tinha uma base de produção, uma estação de produção, tinha uma enfermaria que ficava, sei lá, a 180, 200 quilômetros de onde a gente estava. Bom, de noite nem pensar. Se você sair no deserto de noite, você vai se perder. Então, se acontecesse um acidente de noite ali, o recurso que a gente tinha naquela plataforma era um médico paquistanês. Era interessante. Era uma beleza A Braspetro contratou uma sonda para perfurar, botou uma sonda búlgara. Um dia, por curiosidade, eu estava lá na sonda, de noite, e tinha mais gente brasileira também. Resolvemos fazer uma pesquisa de quantas nacionalidades tinham ali. Tinha 16 nacionalidades na sonda: paquistanês, libanês, mauritano, brasileiro, francês, só não tinha americano. Lógico Na Líbia, não ia ter americano. Tinha de tudo, sudanês, etíope... Tinha gente de todo lado do mundo. Era interessante, falávamos inglês entre nós. Mas, como eu estava contando, a preocupação era com acidente, porque se acontecesse algum acidente, à noite, um acidente grave, não tinha condição, os recursos que o enfermeiro tinha eram mínimos, não tinha jeito. E, felizmente, a gente não teve nenhum acidente grave, nada, nada. Teve alguns acidentes no tempo que eu estava lá, um rapaz que cortou o dedo e teve que dar dois ou três pontos. Essa sempre foi uma preocupação grande, porque a gente levou a cultura daqui da Petrobras e a gente sempre teve uma preocupação muito grande com a segurança.
Lá eu ficava impressionado com as pessoas advindas de várias culturas. Imagina, o que é a Etiópia? Não conheço a Etiópia, mas será que tem essa cultura de segurança? Não tem, num país africano, as pessoas trabalham sem a mínima segurança. A gente tinha que treinar muito as pessoas, mas não era só o treinamento, era a cultura mesmo. Então, você tinha que ficar o tempo evitando que as pessoas se acidentassem, policiando mesmo, vigiando durante a execução do trabalho. Eu cheguei lá e já vi: “Isso vai ser o nosso desafio, durante o período que eu estiver aqui. Então vamos ver se a gente consegue não ter nenhum acidente mais grave.” Porque senão não tinha jeito, era fatal.
Não tinha estrada. Estrada no deserto é tipo aquelas que você já deve ter visto no Paris-Dakar, sinalização por tambor. Você tem um tambor aqui, aí eles vão marcando e colocam o outro lá na frente. Você tem que ver sempre o da frente, então tem que estar sempre de dia. Se você fugiu daquela linha ali, você se perde, apesar de ter sempre os motoristas da região, que nasceram no deserto. Tinha um motorista que andava comigo que era da Mauritânia. Eu andava muito porque tinha que ir a outras bases, às vezes, buscar equipamentos que estavam longe, então andava muito lá. E ele era meu motorista. Ele conhecia aquilo lá muito bem, mas é a mesma coisa que você estar no mar, você não tem orientação. Só andava de dia, de noite não. Foi impressionante. Muito bom. Infelizmente, a gente não achou óleo lá. Nos dois poços que a gente perfurou, não achamos óleo. Mas as perspectivas foram boas. O tempo foi muito agradável, sabe? Diferente Você vai falar assim: “É bom morar lá?” Eu não sei. Quando você está num período curto, você está descobrindo as coisas, mas imagino que não seja tão fácil. Sabia que ia ficar o período necessário para perfurar os poços. Já estimava, mais ou menos, de ser 80, 90 dias, então foi esse tempo, não tinha muito como fugir disso. Mas ficar, trabalhar um ou dois anos no deserto seria bom? Não sei. O período que estive lá eu gostei muito, porque estava conhecendo, era diferente. Mas o ambiente era bastante inóspito. Eu estive numa época em que essas dificuldades eram menores, porque foi o período de junho, que é basicamente verão na Europa, então a temperatura estava mais agradável. De dia, fazia 48 graus, chegava a 50 graus, mas à noite fazia 17, 18 graus, estava tranqüilo. Piora no inverno, que faz 48 graus de dia e, sei lá, cinco, dois durante a noite. Aí o pessoal sofre muito. Não tive dificuldade nenhuma em voltar. Para mim, valeu muito ter ido conhecer, porque sempre é uma oportunidade. É outro mundo, é outra realidade, aqui você está em Macaé, está próximo, as unidades são próximas, se faltou alguma coisa você tem a oportunidade de colocar aquele recurso na plataforma mais rápido. Lá não, tem que estar tudo bem planejado, tem que estar tudo bem estruturado, porque se faltar, não vai chegar daqui a quatro horas, vai chegar daqui a cinco, seis, oito, 10 dias. Então, não dá para falhar no planejamento.
CULTURAS DIFERENTES Na Líbia, havia outras culturas totalmente diferentes, acho que você começa a ver a própria diversidade. Mas as pessoas, como estão num local inóspito, com o mesmo objetivo, elas se unem mais. Então, você não sentia dificuldades das pessoas se relacionarem, a não ser pela língua, porque nem todo mundo falava inglês. Os libaneses, principalmente, o pessoal da região, quase não falavam inglês, alguns africanos não falavam, ou seja, só o pessoal de maior nível que falava inglês, os técnicos mais especializados da Turquia, tinha gente da França, aí falavam inglês. Então, a não ser por essa dificuldade de língua, as pessoas se davam muito bem, se respeitavam. Mas era interessante, você sentia diferença até pela música que o pessoal estava ouvindo. Você saía, estava lá o pessoal ouvindo as músicas turcas Aí passava para o outro lado, o pessoal estava em outro ritmo, totalmente diferente. Cada um com seus aparelhinhos de som, ouvindo sua música, quando isso era possível. Então, é interessante, enfim, é outra realidade.
REESTRUTURAÇÃO DO E&P Em 95, houve a reestruturação do E&P. Existiam três departamentos: Dexpro, Departamento de Exploração, Depro, Departamento de Produção e Deper, Departamento de Perfuração. Os três departamentos foram extintos e surgiu o E&P, Exploração e Produção, com tudo integrado. Nessa época, houve essa grande mudança de estrutura e, em Macaé, onde existia os três departamentos, foi tudo agrupado no que a gente chamou de “o grande E&P - Bacia de Campos”. A estrutura de perfuração de poços, que já existia, foi reestruturada e eu fui ser gerente dessa área de engenharia de poços. Era a antiga engenharia de poços, mas ligada à gerência de produção. Era E&P-BC / Gepro/ Genpo, responsável por toda perfuração e completação de poços da Grande Bacia de Campos, como a gente chamava. Grande Bacia de Campos porque ela era o principal, mas tinha também atividades no Espírito Santo e na Bacia de Santos, era tudo ligado, em 1995, à E&P-Bacia de Campos. Foi a época que eu retornei para a minha atividade inicial, perfuração de poços. Foi muito bom. Eu conhecia as pessoas de antigamente, que continuavam lá, e fui muito bem recebido, gostei muito, era uma atividade nova, nova estrutura, novos desafios. A gente estava juntando duas atividades que eram separadas nos departamentos: a atividade de perfuração, que era a perfuração do poço em si e ficava no departamento de perfuração, e a completação, que é o preparo do poço para a produção, é colocar os equipamentos necessários para a produção, como se fosse completar mesmo o poço, e ficava no departamento de produção. Então, para mim, essa era a novidade, porque na perfuração não via esse tipo de coisa, na época antiga. Agora juntou tudo numa área só e estão juntas até hoje, perfuração e completação, e eu fui ser o gerente dessa área. Foi uma experiência boa, uma gerência muito grande, que, na época, só de engenheiro acho que tinha mais de 280. É uma atividade muito técnica, então foi muito bom.
MARLIM / ALBACORA Fiquei responsável por todos os poços marítimos da Grande Bacia de Campos, na área de perfuração e completação. A Bacia de Campos era a que demandava mais esforços pela dimensão. Porque, em 95, a gente estava desenvolvendo Marlim, Albacora, já se falava em Barracuda, então os grandes campos já estavam começando a ser desenvolvidos, tinha que perfurar os poços para desenvolvimento do campo, a atividade era enorme.
BACIA DE CAMPOS / BACIA DO ESPÍRITO SANTO / BACIA DE SANTOS Cada bacia possui as suas características históricas e cada uma possui a sua história. E até mesmo determinados locais da Bacia de Campos têm as suas próprias características. É como a gente mesmo, que nasceu naquele local e tem a sua cultura de vida. As bacias são mais ou menos assim também. A Bacia de Campos e a Bacia do Espírito Santo com certeza possuem características geológicas diferentes, os históricos geológicos, as origens, como é que começou a surgir petróleo etc. O geólogo, com certeza, fala disso melhor do que eu, mas são históricos diferentes. Nós temos, na Bacia de Campos, óleos que a gente chama óleos leves, bons, mas temos muito óleo viscoso também. Em Marlim, por exemplo, temos um óleo mais viscoso e temos alguns óleos leves, em menor quantidade, mas temos. Estavam descobrindo óleo mais leve na Bacia do Espírito Santo, onde também tem algum campo de óleo pesado. Na Bacia de Santos, estavam descobrindo gás. Então, dentro da própria bacia, dependendo da formação, as características do hidrocarboneto podem ser diferenciadas.
PERFURAÇÃO E COMPLETAÇÃO Vou falar da fase de perfuração e completação. As dificuldades para se trabalhar com óleo viscoso são maiores, é meio óbvio, né? Transportar água é bem mais fácil do que transportar piche via tubo. Então, os equipamentos precisam ser adaptados, precisam muitas vezes ser mais robustos e a forma de trabalhar diferencia. Como você vai moldar aquilo, como é que você vai bombear? A forma de tirar, trazer esse óleo à superfície é totalmente diferente, exige esforços adicionais. Um óleo mais viscoso vai ser mais difícil de fluir dentro da tubulação; óleo mais leve, mais fino, é mais fácil. Então, você tem equipamentos diferenciados para isso. Eu sempre disse que óleo viscoso é mais difícil e ele é difícil até o final, para o refino. E gás, para nós, é uma novidade. A Petrobras não é especializada em produção de gás, nós não produzimos gás, nós produzimos petróleo. Então, nós temos agora um grande desafio que é o campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, que é um campo de gás, com uma perspectiva muito boa e que a gente está na fase inicial do desenvolvimento. Gás exige mais cuidado, exige mais atenção, não significa que o outro também não exige, mas é muito mais perigoso trabalhar com gás, os riscos de acidentes são maiores; você tem que ter todo um cuidado especial, gás é mais fácil de vazar. Imagine um vazamento de gás, é muito mais complicado, tem os riscos de explosões, então você tem que ter todo um controle. E para nós é uma novidade, é um desafio nosso também. É lógico que, hoje, o nível de informação que se tem na indústria é muito maior, os recursos são muito maiores, com certeza, as soluções estão mais à nossa disposição, mas, de qualquer forma, é novidade.
MODIFICAÇÕES EM PLATAFORMAS
Retornei à engenharia de poço em 95, mas fiquei muito pouco tempo, nem um ano. E aí depois fui re-alocado para a operação das plataformas próprias de perfuração. Aquelas plataformas antigas que a gente comprou, quatro francesas, quatro japoneses etc, vieram inicialmente para perfurar. Aos poucos, elas foram se adaptando e se tornando plataforma de produção, deixaram de ser plataforma de perfuração. Isso foi no final da década de 80, início da década de 90. Algumas plataformas se transformaram em unidade de produção, dada a própria necessidade de aumentar a produção de óleo no país e até para alcançar a meta dos 500 mil barris, em 85. Algumas ficaram como unidades de perfuração, semi-submersíveis. E, dessas, sobraram quatro plataformas. Quando saí da engenharia de poço, em 96, eu fui para a gerência dessas plataformas, dessas quatro unidades de perfuração própria. A gente continua até hoje com essas quatro plataformas. Mas, na época que eu fui gerente lá, nós fizemos o que a gente chama de upgrade nessas plataformas, ampliamos o raio de atuação delas. O que significa isso? A gente ampliou a capacidade delas em termos de perfuração em lâminas de águas mais profundas. Uma foi transformada de 360, como era originalmente no projeto, para 700 metros. A reforma foi feita aqui mesmo no Brasil, deu para fazer exatamente como na P-17, fizemos um upgrade
para ela atingir capacidades maiores, ter oportunidades de trabalhar em lâminas d’água maiores, porque as necessidades da Bacia de Campos eram cada vez em lâminas d’água mais profundas. A gente precisava adaptar as plataformas para isso. Fizemos uma sonda ancorada até 700 metros. Fizemos um upgrade, numa outra plataforma, P-10, para ancorar em mil metros. Ela era anteriormente para 300 e poucos metros e nós colocamos para mil metros. Essa plataforma teve que ir para um estaleiro em Portugal para fazer as obras necessárias. E fizemos uma, talvez a maior de todas, para ir até 1500 metros de lâmina d’água, na P-23, e não mais com sistema de ancoragem, mas com sistema de posicionamento dinâmico. Originalmente, era ancorado e aí precisamos redesenhar, contratamos uma firma internacional para isso, fizemos adaptação na Holanda. Foi a época que eu estive nessas plataformas, de 96 até o final de 2000, e fizemos essas adaptações. Foi muito bom porque deu perspectiva para as unidades e atendemos às necessidades da própria Bacia de Campos em lâminas d’ águas mais profundas.
E&P SERVIÇOS Em 2000, voltei para a atividade de poço novamente. Sempre que eu volto para o poço, volto para casa, que é a área em que comecei a trabalhar na Companhia. Então, em 2001, com a reestruturação do E&P, a criação da UN-Rio, UN-Espírito Santo, eu fui gerenciar uma parte das unidades de serviços. Foi criado o E&P Serviços e eu fui gerenciar a unidade de serviços de poços, que presta serviços aos poços. Hoje eu estou novamente nos poços fazendo perfuração e completação. E aí sim, atendo todas as unidades de negócio: UN-Rio, UN-BC. Então, continuo trabalhando na Bacia de Campos, Bacia do Espírito Santo, Bacia de Santos e atendo também o Nordeste em perfuração marítima.
POÇOS HORIZONTAIS Hoje é muito maior o volume de trabalho e o volume de recursos. A gente utiliza um volume de recursos muito maior do que usávamos no passado, sem sombra de dúvidas. Nós temos, todo dia, plataformas operando em perfuração e completação, em torno de 30, 33, que a gente é responsável pelos poços e pela operação desses poços. Em termos de tecnologia, os avanços são significativos, são tecnologias totalmente diferenciadas, cada vez buscando tornar mais fácil o trabalho, a perfuração dos poços. Cada vez a gente está fazendo poços mais difíceis, poços mais profundos, numa extensão horizontal maior. Antigamente, a gente fazia poço vertical, hoje a gente faz poços horizontais, na horizontal dentro do reservatório. Você perfura, sei lá, 1000, 1500 metros na vertical e depois começa a colocar ele inclinado, inclinado, de repente está horizontal e você vai mais 1000, 1100 metros na horizontal, dentro do reservatório, para aumentar a produção de óleo. Isso a gente não fazia no passado, hoje tem a tecnologia para fazer. As tecnologias estão cada vez mais avançadas e dando essas flexibilidades para que você aumente, cada vez mais, o seu potencial de produção. E a gente tem a oportunidade de estar acompanhando essas tecnologias e utilizando.
EMPRESAS FORNECEDORAS DE EQUIPAMENTOS Tem as companhias de serviços internacionais que nos prestam serviços, que fornecem determinados equipamentos exclusivos para perfurações e completação. A gente está sempre também em contato lá fora, com pessoal de fora, participando de congressos, visitando outras operadoras, essas companhias grandes de petróleo: Majors, ABP, Shell, Texaco, Chevron etc. A gente está sempre visitando, vendo o que eles estão fazendo, o que elas estão desenvolvendo em termos de equipamentos e serviços, visitando o centro de pesquisa dessas companhias. Também estamos em contato com o nosso centro de pesquisa, o Cenpes. Eu diria que nós fizemos a tecnologia de águas profundas, de perfuração, evidentemente tem a companhia de serviço que nos auxilia, mas a Petrobras teve que desenvolver isso, até por necessidade.
TECNOLOGIA / ÁGUAS PROFUNDAS O papel da Petrobras no desenvolvimento de tecnologia em águas profundas é fundamental. Aliás, quem tem a necessidade se torna fundamental. Nós tínhamos a necessidade de buscar ou construir tecnologia para produção em águas profundas. Não tinha outra maneira, porque os nossos campos estavam em águas profundas. Nós não tínhamos outra forma. No mundo não se fazia isso, era melhor produzir em terra e em lâmina d’água rasa, que já era conhecida e os custos são menores. A gente não tinha essa opção. Tivemos que construir isso. Então, construímos, com apoio de centros de pesquisas, com apoio de universidades e estudos e também com apoio de companhias de fora que prestam serviços para a gente, com idéias etc, mas tivemos que desenvolver a nossa maneira de extrair esse petróleo dessa lâmina de água profunda. É por isso que a Companhia recebe esses prêmios internacionais, por ter que enfrentar esse desafio e vencê-lo. Hoje a gente é referência em termos mundiais para produção em águas profundas, o pessoal vem muito na Bacia de Campos ver o que a gente está fazendo, como a gente está desenvolvendo os campos, como a gente consegue produzir em 1500 metros, em 1800 metros, como a gente está indo buscar os dois mil metros e assim por diante. Então, é um negócio que, para quem, como eu, gosta, é muito gratificante. A gente sempre tem que contribuir com uma parcela, mesmo que seja pequena, mas contribuir. É muito interessante, é muito bom. Cada prêmio é uma satisfação enorme, é um reconhecimento. A Companhia tem um nome muito bom lá fora, as pessoas respeitam. Não raramente, os nossos técnicos estão no exterior, dando palestras, participando de workshop etc, e são muito respeitados. O pessoal vê a gente como uma empresa que venceu e está vencendo os desafios que são colocados e impostos. Até por necessidade mesmo, temos que fazer isso, não tem jeito. A gente tem condição de fazer. Eu diria o seguinte: pior se a gente não tivesse feito. Porque se a gente não tivesse aumentado o nível de produção do país, talvez a situação econômica do país não estivesse como a gente está vendo hoje. Bem ou mal, se nós não estivéssemos produzindo petróleo interno e estivéssemos dependendo das importações, com os preços internacionais de petróleo hoje, eu diria que o país estaria passando por dificuldades econômicas maiores.
UNIDADE DE SERVIÇO DE POÇO Eu vou falar um pouquinho da minha área, a perfuração e completação de poços. Aqui dentro existe uma série de atividades específicas, especializadas, para se construir isso. Então, como numa cirurgia, eu diria que existe uma série de especialistas para que aquilo seja realizado: tem o cirurgião mesmo, mas tem o anestesista, o clínico geral, o instrumentista e todo aquele pessoal, todo o aparato para o médico. E na nossa área também tem uma série de especialistas: os caras especialistas em broca e perfuração, os equipamentos em fluidos de perfuração, os especialistas em perfuração direcional, os especialistas em revestimentos e cimentação, os especialistas em completação, especialista em contenção de areia, uma série de especialidades. O nosso grande desafio é fazer com que essas pessoas trabalhem integradas. Para quê? Para que o resultado final, que é o poço perfurado e completado, seja o melhor possível. São vários especialistas, cada um com a sua visão, e nós queremos que o paciente, aquele que está sendo operado, fique bem. Mas imagina se o instrumentista não faz o papel direito, se o anestesista dá uma vacilada, se o clínico geral não olha determinadas condições clínicas do paciente. É difícil, né? Tem um especialista ali cortando, tem todo um aparato de especialistas ao seu redor e, de uma maneira ou de outra, tem que estar integrados. Então, o nosso desafio hoje, na minha área, é fazer com que esses especialistas trabalhem de maneira integrada e tenham um objetivo comum, porque o poço não é só o revestimento, a cimentação, não é só a parte da coluna de produção, mas é o todo. Eu faço a co-relação sempre, para que o anestesista entenda que o papel dele não é só dar a anestesia, o objetivo final é que o paciente saia em condições boas da mesa cirúrgica, viva em boas condições. Então, não adianta nada ele fazer um trabalho brilhante de anestesista, se a instrumentista falhou, deixou um negócio cair ou, por algum motivo, teve algum problema. Esse é o nosso grande desafio. As pessoas têm que ser especialistas naquilo que fazem e ter uma noção geral do todo, qual o objetivo final, para que tragam menor impacto nas atividades que estão co-relacionadas. Hoje, é o que eu mais tento fazer na atividade que gerencio.
NOVOS DESAFIOS / GRANDES CAMPOS Todos os nossos projetos são desafiantes. Para começar, nós estamos em águas profundas. Hoje a gente trabalha, por exemplo, para desenvolver os grandes campos da Bacia. Estamos trabalhando para desenvolver Roncador, perfuramos poços de lá. Então, nós temos grandes projetos: temos Roncador, temos Albacora Leste, temos Marlim Leste, temos Marlim Sul fase 2 – Marlim Sul está desenvolvido, mas tem fase 2 e fase 3 ainda –, temos Jubarte e Golfinho no Espírito Santo e temos o campo de gás que estamos iniciando em Mexilhão, na Bacia de Santos. Sem pensar no campo de Piranema, em Sergipe - Alagoas, que é água profunda, é a primeira vez que vamos fazer isso lá. Eu acredito que isso é muito importante para a região, é importante para a Petrobras. Temos o campo de Manati, na Bahia, em frente ao Morro de São Paulo, que é outro desafio enorme, porque está numa área muito sensível, ecologicamente, ambientalmente falando.
ÁGUAS PROFUNDAS / MANATI (BA)
Em Morro de São Paulo, na Bahia, estamos iniciando os trabalhos de perfuração – deve iniciar entre 60 e 90 dias – e a gente tem que fazer um trabalho bem feito ali, de uma maneira bem correta. Eu ainda não tive oportunidade de ir ao local, mas o pessoal disse que vai dar para ver a plataforma do Morro de São Paulo. Então, temos que fazer isso de uma maneira bem correta e ambientalmente sadia, porque para nós é fundamental, é a imagem da Companhia: “O pessoal realmente sabe o que faz e consegue construir riquezas sem danificar o meio-ambiente.” Então, é uma série de desafios. Além disso, tem os desafios exploratórios, que é buscar mais petróleo. A gente ainda tem muita coisa para descobrir na Bacia de Campos, sem sombra de dúvidas, estamos indo para o que os geólogos chamam de outros layers, em termos técnicos. Significa o seguinte: estamos cada vez mais buscando, além de águas profundas, horizontes mais profundos. O que são horizontes mais profundos? São poços mais profundos ainda, formações mais embaixo, para ver se tem óleo. Então, são outras concepções e, se a gente descobrir, vamos descobrir mais óleo ainda, que serão novos campos no futuro, tanto na Bacia de Campos, como na Bacia de Santos e até mesmo no Espírito Santo. As expectativas de maiores profundidades são excelentes, tanto de água como de profundidade do poço. Vamos buscar horizontes mais profundos. A gente tem boas coisas para se fazer. Eu acho que desenvolver o campo de gás, coisas diferentes e novas, que ainda não fizemos, a gente sempre gosta de fazer, até porque vai ser algo de importância para nós e se a gente descobrir alguma coisa em poços profundos, em lâminas d’águas profundas, aí sim, é outro desafio que também o mundo não tem tanta experiência assim. Poços profundos em lâminas d’águas profundas. Se a gente descobrir e forem reservas economicamente viáveis, vai ser um desafio que a gente espera conseguir vencer.
CAMINHADAS E CAVALOS Hora de lazer é o seguinte: eu gosto muito de caminhada, apesar de não ter muito tempo para fazer, gosto muito. Mas o que eu gosto de fazer mesmo é andar a cavalo. Eu sou de origem rural, como disse no início, de família de agricultor que basicamente nasceu na fazenda e cresceu na roça, em Minas Gerais. Aqui no Rio o pessoal não entende muito desse termo. Então, eu gosto muito. E aqui não tenho muita oportunidade, mas nas férias sempre eu vou para lá, quando tenho oportunidade. Meus pais moram lá ainda, tenho tios. Eu gosto muito de roça, porque lá tenho oportunidade de fazer esse tipo de coisa, pegar o cavalo e andar seis horas a cavalo. Talvez o pessoal não consiga fazer isso, mas eu consigo fazer até mais. Eu gosto muito disso, o meu hobby é esse. Eu gostava muito de futebol, mas, infelizmente, por questões de acidente, não posso mais jogar. O que eu gosto de fazer mesmo é caminhar, gosto de fazer trilha, mas não tenho muita oportunidade também, sempre faço algumas, porque significa andar pelo mato. Mas se me perguntar: “O que você gosta mais de fazer?” “Me dá um cavalo que eu estou feliz para andar.” Em Macaé, tem muito cavalo. Tem uns amigos lá que tem cavalo e, de vez em quando, a gente dá uma voltinha. E em Minas Gerais eu ainda tenho.
FAMÍLIA / FILHOS Sou casado, moro só com a minha esposa, meus filhos já estão em Niterói, estudando. A minha filha faz Microbiologia, no Fundão (UFRJ) e o meu filho passou agora no vestibular, para o Cefet, que fica em frente a Petrobras, no Maracanã. A minha filha se chama Fernanda e o garoto se chama Henrique. Minha esposa se chama Luzia, ela também é engenheira, mas não trabalha na Petrobras. Estamos juntos há 23 anos. A minha preocupação hoje é: “O que eu vou fazer depois que aposentar?” Então, ainda estou começando a pensar nisso, porque um dia isso vai chegar e vai ser inevitável. Eu não me sentiria bem não tendo um destino. Um desafio particular meu, hoje, é falar assim: “bom, você vai se aposentar daqui a algum tempo”, e como as coisas passam muito rápido, quando você imagina que não, as coisas estão chegando, e aí você precisa estar estruturado para isso. Hoje eu diria o seguinte: apesar de ainda faltar muito tempo para me aposentar, eu já começo a me preocupar com o que vou fazer depois. Ainda não tenho nada definido, mas já começo a ter idéias etc.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que faz parte dos desafios de uma empresa registrar suas memórias, porque são coisas que ficam. Com certeza, tem grandes histórias dentro da Petrobras, como em qualquer outra empresa. Eu acho que preservar esse tipo de memória é importante para dar significado à própria Empresa. Nós não pensamos numa empresa para nós, pensamos numa empresa que se perpetue, nós somos passageiros. A Petrobras é uma empresa jovem, tem 50 anos, a gente vê que vai ser impossível, mas a gente gostaria que a Empresa ficasse, se perpetuasse e fosse uma empresa para 200, 250, 300 anos, talvez não mexendo mais com petróleo. E aí, com certeza, você imaginar daqui a 200 anos alguém contando a história da Petrobras, desde o início, e esse trabalho que vocês estão fazendo pode ser que alguém esteja relembrando daqui a 200 anos, como é que as coisas eram e acho que esse tipo de coisa não significa relembrar o passado, mas olhar o passado e saber como ele foi concebido para a gente tentar vislumbrar um futuro melhor. Eu acho que é fundamental esse tipo de trabalho que as empresas hoje já vêm fazendo, não só a Petrobras, mas outras empresas, para registrar a sua própria memória. Porque a Petrobras, eu diria, ela é feita por pessoas. Qualquer empresa é feita por pessoas e as pessoas têm as suas histórias. E é esse conjunto de histórias que forma a própria empresa. A Petrobras é uma empresa. E quando você pensa que nós estamos estudando hoje a origem da civilização, quantos estudos se têm a respeito disso e etc, como é que surgiu, porque que as coisas acontecem hoje, muitas vezes está calcado no passado, que aí muitas vezes a gente não tem melhores esclarecimentos. É registro de um ser vivo chamado Petrobras. Estou muito feliz, obrigado.Recolher