P/1 - Claudia Leonor
P/2 - Judith Ferreira
R - Lucia Tanzi
P/1: A gente vai começar a nossa entrevista dona Lucia, vou pedir pra senhora falar o nome completo, o local e a data de nascimento da senhora?
R: O meu nome é Lucia Tanzi, minha data de nascimento é dia 15 de setembro de 1923. Moro aqui em São Paulo, na rua Coronel Oscar Porto, nº 40, apartamento 41.
P/1: Em que cidade que a senhora nasceu?
R: São Paulo. Eu nasci na Itália. E vim da Itália, com 1 ano e meio, até o porto de Santos, onde a minha tia nos apanhou. Nós viemos como imigrantes, e de lá quando a minha tia estava no Porto de Santos... Isso eu sei porque eu tinha 1 ano e meio, e contado pelos meus pais. Aí nós fomos para a Vila Nova Conceição, onde nós ficamos alojados na casa dessa minha tia. Aí o meu pai começou a trabalhar, porque eles também tinham um negócio. Começou a trabalhar e da lá nós fomos indo. Aí fomos depois para a rua Treze de Maio, onde ficamos vários anos ali morando. E de lá, depois, papai foi fazendo uma economia e fez uma casa na Vila Nova Conceição também. Era uma casa ótima - tinha a casa da minha tia do lado e a nossa -, tinha 12 e meio [metros] de frente por 50 [metros] de fundos, e fomos ficamos lá dois anos. E depois de lá, houve um negócio com a minha tia que nós acabamos saindo, e voltamos novamente para a rua Treze de Maio. Lá ficamos um pouco, depois fomos para a rua Rui Barbosa [e] da Rui Barbosa nós fomos para outra residência que seria na Doutor Luís Barreto. Depois, nós fomos na Almirante Marcos Leão. Aí, nós fomos pra rua Rocha, e lá nós ficamos 22 anos morando, na Bela Vista. Depois disso, nós passamos a morar na Brigadeiro Luís Antônio, e da Brigadeiro Luís Antônio nós fomos para a Doutor Fausto Ferraz, lá nós ficamos treze anos. Só saí de lá porque o dono faleceu e os herdeiros quiseram a casa. E foi uma trajetória, assim, muito difícil, porque nós estávamos com o aluguel um pouco mais em conta e...
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P/2 - Judith Ferreira
R - Lucia Tanzi
P/1: A gente vai começar a nossa entrevista dona Lucia, vou pedir pra senhora falar o nome completo, o local e a data de nascimento da senhora?
R: O meu nome é Lucia Tanzi, minha data de nascimento é dia 15 de setembro de 1923. Moro aqui em São Paulo, na rua Coronel Oscar Porto, nº 40, apartamento 41.
P/1: Em que cidade que a senhora nasceu?
R: São Paulo. Eu nasci na Itália. E vim da Itália, com 1 ano e meio, até o porto de Santos, onde a minha tia nos apanhou. Nós viemos como imigrantes, e de lá quando a minha tia estava no Porto de Santos... Isso eu sei porque eu tinha 1 ano e meio, e contado pelos meus pais. Aí nós fomos para a Vila Nova Conceição, onde nós ficamos alojados na casa dessa minha tia. Aí o meu pai começou a trabalhar, porque eles também tinham um negócio. Começou a trabalhar e da lá nós fomos indo. Aí fomos depois para a rua Treze de Maio, onde ficamos vários anos ali morando. E de lá, depois, papai foi fazendo uma economia e fez uma casa na Vila Nova Conceição também. Era uma casa ótima - tinha a casa da minha tia do lado e a nossa -, tinha 12 e meio [metros] de frente por 50 [metros] de fundos, e fomos ficamos lá dois anos. E depois de lá, houve um negócio com a minha tia que nós acabamos saindo, e voltamos novamente para a rua Treze de Maio. Lá ficamos um pouco, depois fomos para a rua Rui Barbosa [e] da Rui Barbosa nós fomos para outra residência que seria na Doutor Luís Barreto. Depois, nós fomos na Almirante Marcos Leão. Aí, nós fomos pra rua Rocha, e lá nós ficamos 22 anos morando, na Bela Vista. Depois disso, nós passamos a morar na Brigadeiro Luís Antônio, e da Brigadeiro Luís Antônio nós fomos para a Doutor Fausto Ferraz, lá nós ficamos treze anos. Só saí de lá porque o dono faleceu e os herdeiros quiseram a casa. E foi uma trajetória, assim, muito difícil, porque nós estávamos com o aluguel um pouco mais em conta e tivemos que ir para o lado dos Jardins, apesar que da parte da Bela Vista, naquela época, foi uma época que os apartamentos estavam muito caros. E não obstante de ser Jardins, nós encontramos um apartamento mais em conta. Veja bem, passando de 200 para 1100. (risos)
P/1: Mas vamos voltar um pouquinho Dona Lúcia: qual é o nome do seu pai e da sua mãe, e porque eles vieram da Itália para o Brasil? O que aconteceu?
R: Porque lá na Itália o meu pai era (contadino?), que eles chamavam. Ele trabalhava na roça, e aí começou a se tornar muito difícil. Papai teve na guerra também, tanto que ele tinha até uma bala - e eu não sabia; que antes, quando ele estava aqui já vivo, a gente podia ter ido no consulado e mostrado aquilo, e talvez ele tivesse ou indenização, ou digamos, um ordenado, vamos supor. Isso eu só vim a saber depois que ele faleceu. Não obstante isso, eu estive no consulado e eles me disseram que não tinha direito nenhum. Eu, como solteira, talvez tivesse alguma, como se diz, (indenização?) porque meu pai esteve... E depois disso, aí nós começamos a nossa vida, a nossa trajetória de vida, sabe, trabalhando.
P/1: A senhora passou a infância na Vila Nova Conceição?
R: Ficamos na Vila Nova Conceição [por] dois anos.
P/1: O que a senhora lembra do bairro? Lembra alguma coisa ou a senhora era muito pequenininha?
R: Ah, lembro. Não era não, eu já ia para a escola. Tinha até um professor que era muito severo, então todas as pessoas que faziam... Eles tinham autonomia e a autoridade dos pais se [eu] fizesse alguma coisa, e podiam castigar - hoje não pode fazer isso. Então ele tinha aquela palmatória, aí ele dava mesmo na mão. E nós tínhamos um colega, o (Expedito?), e ele era terrível, era filho único - o pai e a mãe não aguentavam -, até urtiga ele levou nas pernas, assim, porque ele virava a classe de cabeça pra baixo.
P/1: O que ele fazia de traquinagem?
P: Ah, sacanagem. Ele mexia com tudo mundo, ele brincava, e pulava a carteira, tirava sarro dos professores. Ele era terrível. Quando ele entrava na aula era uma coisa fora de série. E foi depois, aí que teve uma desavença, e nós tivemos que sair da Vila Nova Conceição e viemos novamente para a Bela Vista. E aí nós fomos continuando por aí também.
P/1: Quantos irmãos a senhora tem?
R: Cinco irmãos.
P/1: E como era a convivência dos cinco, assim, nessa infância? Vocês falavam italiano com os seus pais, como que era isso?
R: Com o meu pai e a minha mãe nós falávamos italiano, eu estudei em escola italiana, na escola Maria Pia de Savoia e no Dante Alighieri. E, então, ali era muito gostoso. Na Maria Pia tinha um diretor, o Mário (Casadei?), ele que formava, assim, o tipo de opereta. E nós trabalhamos no Oberdan, no Municipal, no Santana, eram todas peças que vocês vão ver as fotografias ali que nós estamos. Então, ele montava o teatro e era aplaudidíssimo. O cônsul italiano uma vez ou duas vezes por ano vinha na escola, então ele brincava com as pessoas. A gente tinha um pátio muito bonito, era da parte de recreativa - você brincava no pátio e tudo -, e eu jogava beisebol. E numa hora que ali, que foi um homem me empurrou, porque o meu lado estava ganhando, de raiva, e eu fui com o dedo assim no pau e destronquei o dedo. O dedo ficou desse tamanho. Aí fui para a cozinha. Nós éramos semi-internos, e eu gostava muito de ajudar, então eu ajudava a dona Palmira, que era cozinheira, e na segunda feira era o dia da sopa de macarrão com gravatinha, eu adorava sopa de macarrão. Tinha batata doce, que era "o doce de batata doce", né? Ela sabia e enchia assim o meu parto. Então, todo mundo ia para o recreio depois, e eu ia para a cozinha, tirava os pratos e ajudava a dona Palmira. (risos) E como é que chama, picadinho com purê de batata era o meu almoço predileto na segunda-feira, então o meu prato ela extravasava. (risos) E quando as meninas iam brincar, eu ficava ajudando ela na cozinha. Eu gostava demais da dona Palmira, uma senhora idosa. Mas ela me adorava aquela senhora ali, sabe?
P/1: E das professoras, teve algum professor que foi marcante?
R: Não... Das professoras, eu sempre fui bem quista com elas ali, sabe, eu era muito atenciosa, sou muito ordeira, muito organizada, então eu tinha todas as coisas... Eu sentava na primeira carteira, sempre era eu que dava os cadernos, que ia para a lousa, eu que fazia, sabe? Eu sempre tive uma espécie, assim, não é comando, mas eu gostava dessas coisas e as pessoas se aperfeiçoaram. E nós tínhamos uma professora italiana, a dona (Bacci?), ela era espetacular, era, assim, muito extravagante. Então, quando ela entrava, pegava o espelho, passava um batom. E nós tínhamos um colega que ele era tremendo, e um dia o que ele fez, ele botou cola na cadeira dela. (risos) Quando ela chegou, ela sentou e grudou. E depois, para tirar a professora de lá? Mas ninguém acusou, ele sério, a classe toda ficou de castigo, (risos) mas ninguém acusou. Mas ele aprontava, sempre.
P/1: Esse era outro, não era o (Expedito?)?
R: Não, isso foi quando eu estava na Vila Nova Conceição. Aí foi na escola italiana, na Maria Pia de Savoia. Então, depois, nós íamos para o Dante quando era ginástica, que eles davam ali. Era com música, sabe? Era muito bonito o pátio dele, e o cônsul vinha para assistir toda a programação das crianças fazendo ginástica. Era muito bom, foi uma infância maravilhosa. Depois veio o tempo da guerra e já tive que mudar...
P/1: Foi a segunda guerra mundial?
R: Aí a gente não podia mais falar italiano, foi uma coisa muito difícil. Teve aquele salvo conduto pra viajar, você tinha como [que] era estrangeira. E depois eu tive que me naturalizar brasileira, por causa do meu emprego, porque eu tive um escritório [por] 42 anos na Praça da Sé.
P/1: Escritório do quê?
R: Eu era datilógrafa, nós tínhamos um escritório só para advocacia. Então eu virava na máquina, eu escrevia 40, 50 páginas de ofício por dia, eu voava na máquina. As quatro sócias nossas eram... Era o único escritório de datilografia montado aqui em São Paulo. Ficou 30 anos no palacete Santa Helena, e 12 anos na Ordem do Carmo, na Praça da Sé.
P/1: Saiu do palacete Santa Helena por quê?
R: Porque implodiram, foi o primeiro prédio que implodiram. Coisa que eles nunca deviam ter feito, porque aquilo era uma obra de arte.
P/1: Era pra construção do metrô ali?
R: Era, mas eles podiam ter desviado o metrô para um outro lado. Gente, aquele prédio nunca devia ter caído. Eles tinham um cinema, como se diz, um teatro ali dentro, era a coisa mais maravilhosa. Você entrava lá dentro [e] era lindo.
P/1: Diz que tinha uma sala que os pintores italianos se reuniam, a senhora se lembra disso, no Santa Helena?
R: Lembro.
P/1: Conta um pouquinho, a senhora ia, a senhora chegava a ver?
R: Não, a gente via assim, uma ocasião nós entramos, vimos, como é que chama? Vimos as fotos, os quadros - era uma coisa muito bonita. Agora, tinha um escritório que era de advocacia, do Jânio Quadros, doutor Lênio Monteiro, doutor Raul e doutor (Flaquer?), eram os quatro advogados que estavam ali. Jânio Quadros, quando nós saímos às 5 horas, ou 5 e meia - às vezes era 5 e meia -, quando nós saímos, ele vinha com aquele capote dele, assim, entrando todo pelo palacete de Santa Helena, muito inteligente. Olha, os quatro eram de famílias tradicionais, que a gente chamava, o brasileiro, de "quatrocentão", que eles falavam primeiro, mas ele "punha" no bolso todos eles. Ele era o mais simples, digamos assim, de família, mas era o mais inteligente, muito inteligente, todos os quatro eram nossos clientes no escritório, que nós trabalhamos [por] 40 anos. Então nós íamos montar esse escritório no fórum, e lá não podia entrar estrangeiro, foi aí que eu me naturalizei brasileira. E que depois não ocorreu, porque eles não permitiam escritório de fora pra ser montado dentro do fórum, mas eu já tinha me naturalizado e ali eu fiquei, aí eu tive que me naturalizar mesmo.
P/1: Tem uma história que eu queria que a senhora contasse de novo, pra estar registrando, que é o nome da sua irmã, que também é Lúcia?
R: Da minha irmã é uma história muito interessante. Porque eu nasci na Itália e o meu irmão nasceu, e entre o meu irmão e eu, tive três irmãs que as três faleceram na Itália, eu sendo a quinta filha. E quando eu vim para o Brasil, tinha 1 ano e meio. Ao chegar aqui, eu não me lembro se três ou quatro meses depois, a minha irmã nasceu, e o papai não, [só] sabia falar italiano. Então ele foi registrar a minha irmã - o nome dela, na verdade, seria Antonia, que na tradução de italiano chama-se Niela. Ele chegou ali, não sei o que passou na cabeça dele, isso eu não posso dizer, naquele dia, ele pensou, pensou e falou Lúcia, “Lutia”, porque em italiano é “Lutia”. E “pois” “Lutia”. Só que na hora do sobrenome, ele falou o dele certo, mas a pessoa que escreveu não entendeu e colocou Tanso, então ficou Lúcia Tanso, e eu Lúcia Tanzi. E ficou, como ela tinha um sobrenome que não era bem parecido com o meu, embora a filiação da mamãe e do papai eram iguais, mas ficou. Nunca deu problema nenhum. Agora, o meu sobrinho há dois anos atrás, ele quis fazer a cidadania italiana, não por ele, pelos filhos também, ou porque ele quer ir para a Itália, eu não sei o que ele quis fazer. E, nisso, ele corrigiu o sobrenome da minha irmã pelo passaporte do meu pai, que seria avô dos meninos, e ficou agora ficou Lúcia Tanzi e Lúcia Tanzi. (risos) Ela tem o RG diferente do meu e o CPF também, tudo diferente, e mora em lugar diferente também - ela mora na Lapa e eu moro no Paraíso. Até agora não deu problema e não acredito que também venha a dar. Ela tá com 78 e eu com 81 e meio, e acredito que não tenha mais problema nenhum.
P/1: Mas e na casa da senhora, quando chamava Lúcia, quem que respondia? Como é que era isso?
R: Não, porque chamava de Niela, todos nós chamávamos ela de Niela. Até hoje a gente chama ela de Niela, não chama de Lúcia. Só que quando ela dá o nome para as pessoas ela fala Lúcia e tem muita gente que faz aquela (de italiano?). Italiano, na minha casa, todo mundo me chama de “Lutia”, os meus sobrinhos, assim, me chamam de “Lutia”. Então, Lúcia e “Lutia”. (risos) Escreve-se igual, mas se pronuncia diferente, ela como Lúcia e eu como “Lutia”. E tem gente que me chama de Lucinha também.
P/1: É Complicado. (risos) E eu queria que você falasse um pouquinho do curso de corte e costura que a senhora fez. Era costume fazer o curso, [naquela época], como é que era isso?
R: Era costume das mães sempre fazer - quando mamãe era viva, porque mamãe faleceu com 54 anos. Então, o que ela fazia? No domingo, uma ficava na cozinha com ela para aprender a cozinhar e a outra arrumava a casa. Na semana seguinte, invertia os papéis. Então ela queria que a gente aprendesse, e foi muito bom, porque mamãe faleceu com 54 anos - e se nós não soubéssemos fazer nada, a gente ia dançar. Não obstante, nós em casa seríamos em sete. Eu tive quatro primos que foram morar em casa porque perderam a mãe também. Minha tia faleceu no dia 10 de maio de 44, e a mamãe faleceu no dia 10 maio de 46 - dois anos depois no mesmo dia e no mesmo mês, sendo dois anos de diferença. E os primos ficaram morando com a gente depois, que era uma farra, sinceramente falando. Papai era muito severo. Quando eu fui morar na rua Almirante Marcos Leão, era uma casa, um sobrado, e ali dizia que como era a [Escola de Samba] Vai-Vai, era de preto e a gente tinha medo. Então tinha o portão de baixo que a gente passava o cadeado...
P/1: Da escola de samba [que] a senhora tá falando?
R: Da escola de samba. Depois tinha o outro portãozinho e a gente passava o cadeado. E depois tinha a porta de entrada que também tinha cadeado. Então, ninguém podia chegar depois das 10 horas... Papai ia dormir cedo, 9 horas ele sentava e “punha” a cadeira na porta. Quem chegasse depois das 10 horas, ele dava descompostura, mesmo pros homens. E pras mulheres, nós nunca chegamos... Aliás, a gente [mulheres] não saia. E os meninos quando chegavam depois das 10: “Onde estiveram até agora?”. Eles abaixavam a cabeça, não respondiam porque eles respeitavam muito o meu pai. Entravam e iam dormir. Um dia... De manhã, ele acordava todos eles - tinha o quarto dos homens, o quarto das mulheres, o dele e o da minha cunhada. Aí o meu primo extrapolou, chegou [e] eram 6 horas da manhã, aí ele levantou, só que ele ia saindo do banheiro, o meu primo, vestido ainda, é claro. Ele não tinha entrado no quarto, e o papai levantou. “Ô finalmente, um dia você acordou cedo sem eu te chamar”. (risos) Ele entrou no quarto, os meninos ouviram e ficaram rindo, todo mundo pois a mão na boca e começou a rir. Na hora do almoço, interessante, as mulheres ficavam de um lado [e] os homens do outro; o papai ficava numa ponta e o meu irmão mais velho na outra ponta. Então, de baixo da mesa, um cutucava o outro: “O que o velho falou para você?”. (risos) Então, comendo, eles iam falando e aí começava... Era interessante que a gente se divertia com ele.
P/1: Na família da senhora, quantas eram as meninas e quantos eram os meninos?
R: Nós éramos duas irmãs e três homens, e tinha uma prima minha com mais quatro irmãos deles. A minha tia teve oito filhos. Mamãe também teve oito, só que a mamãe perdeu três e a minha tia não - tiveram oito filhos [cada uma].
P/1: E depois que a mãe da senhora faleceu? (corte________________)
R: A (Brucesi?), que eles chamam... Porque na escola italiana você tinha que saber também o mapa, não obstante o do Brasil, nós também tínhamos que saber o mapa [da Itália], que é a parte da botinha, que eles chamam, do... E ali, na escola italiana, você era obrigado a falar. A gente tinha mais facilidade porque eu falo as duas línguas...
R: Então deixa só eu fazer uma pergunta: eu queria que você falasse um pouquinho da escola italiana, só para a gente estar registrando.
R: Ah, na escola italiana, então, porque nós estávamos na escola Maria Pia de Savoia, que era primeiro na rua Dos ingleses - hoje eles demoliram e fizeram um prédio ali. E, toda tarde, quando era atividade física, tinha um ônibus que nos levava até o Dante, e lá nós ficávamos também para fazer atividade física. Depois, fechou a escola - foi na época da guerra da Abissínia. E lá, [na escola Maria Pia de Savoia], você não podia mais falar italiano, e nós íamos para o Dante Alighieri. Então, grande parte dos meus estudos foi no Dante. Aí, depois, teve também a parte que tinha que tirar salvo conduto. Para você viajar, tinha que ir com o salvo conduto e, naquela época, eu ainda não era naturalizada, era italiana. Eu me lembro que quando a minha tia morreu, em Campinas, tava quase na hora do enterro e eles não davam o visto pra salvo conduto pra você poder viajar de trem, nós chegamos quase em cima da hora. Eu achei aquilo uma coisa tão absurda, sei lá.
P/1: Sem lógica, né?
R: É, não tinha lógica nisso aí. Então...
P/1: Eu tenho uma pergunta pra senhora: depois que a mãe da senhora faleceu, né, como ficou a organização da casa, assim, o pai era severo, mas quem comandava o cotidiano da casa?
R: Infelizmente eu, até hoje. Digo assim, porque quando a mamãe faleceu, ela faleceu no Hospital Matarazzo. É, ela ficou internada três meses ali. Ela teve estreitamento no intestino grosso, fez uma colostomia e não queria ficar com a bolsa de jeito nenhum - ficou lá internada três meses. Eu fiquei, [ela ficou] um palito porque ela não tomava nem água do hospital, tudo era levado de casa. E eu sempre fui uma criatura, assim, muito atirada, muito... E fui falar com o diretor do hospital que ela não comia a comida de lá, do hospital, que eles não se melindrassem [se ofendessem] com isso. Então ele disse que eu tinha que seguir o ritmo deles, o horário que saía o almoço, pra não mostrar pros outros que ela tinha preferência do almoço e comer em horas diferentes. Então, de manhã cedo, 7 horas da manhã, eu tava com o café dela. Eu trabalhava, já tinha escritório naquela época. A minha irmã ficava em casa com a minha cunhada e eu levava o café. E aí, na hora do almoço, a minha irmã subia com o almoço. Depois, à tarde, a minha prima, que era uma menina já com 14 anos, morava perto, ela levava o lanche da tarde. Vinha, depois, na tarde, a janta às 6 horas. Aí quando eu saia do escritório, eu passava lá para ver o que ela queria, aí voltava, descia toda a rua Itapeva pra ir na rua Rocha, eu subia com o último lanche dela. Foi uma coisa [de] três meses que me estressou bastante - não só a mim, como também o pessoal lá de casa que era tudo “fora sangue”, que ela tinha que tomar doadora de sangue, que a gente teve... Foi uma coisa assim. E ela morreu comigo - eu estando no hospital no dia da operação, quando ela fez. A operação foi maravilhosamente bem, só que deu peritonite e, infelizmente, no hospital... Não só no hospital, porque eu fui buscar num laboratório que tinha aqui na cidade. Como é que chama, o nome daquela rua ali que dá depois da Maria Paula? Não me lembro agora o nome.
P/1: Santo Amaro?
R: Não, tem a Santo Amaro, a Maria Paula... A São Luiz! Tinha um laboratório ali. Eu fui, peguei um táxi e fui lá para ver se tinha um antibiótico, porque não tinha penicilina. Logo, depois que ela faleceu, acho que oito meses depois, que apareceu a penicilina. E a peritonite, infelizmente, se você não tem um antibiótico que combate o vírus... Ela, infelizmente, faleceu [e] eu estava lá. Na época, quando ela faleceu, eu estava junto dela também. Eu não me dei conta, eu pensei, porque o médico falou... Não tinha percebido que ela tinha morrido quando o médico me tirou de lá. Foi uma tragédia para mim.
P/1: Quantos anos a senhora [sua mãe] tinha?
R: 54 anos.
P/1: E a senhora?
R: Eu tinha 22 anos. E quando ela morreu, falou: “Tome conta dos seus irmãos”. Até hoje eu tô tomando conta da família. E aí começou a minha trajetória.
P/1: Eu até ia perguntar para a senhora, como é que foi?
R: Depois eu comecei a estudar à noite, eu trabalhei num... Eu comecei a trabalhar muito cedo, com sete anos eu tomava conta de uma prima minha com três aninhos de idade.
P/1: O primeiro trabalho da senhora?
R: Foi. E minha tia - o pai tinha ido embora, a menina com três meses - começou a trabalhar com calça de soldado, ela confeccionava, e a mamãe fazia a barra e os botões. Eu e minha prima, a gente “punha” as calças, assim, acavalado e nós íamos levar para a moça para passar. Então só via a nossa cabecinha na rua, era aquele monte de calça ali, e a cabeça da minha prima e a minha ali, as duas andando na rua levando lá pra mulher pra passar. Foi uma dureza muito grande naquela parte, naquela época que nós fomos, certo, mas deu pra gente contrabalançar. Depois disso, a mamãe faleceu e aí começou a nossa trajetória. E os meus primos todos morando em casa.
P/1: Família grande, né?
R: Família grande, era muito grande, tinha 14 pessoas. Aí veio a guerra, teve depois... Começamos racionamento do pão.
P/1: O que foi o racionamento? Por causa da guerra, faltava farinha de trigo?
R: É, por causa da farinha de trigo. Era no tempo acho que do...
P/1: Getúlio?
R: Não, antes do Getúlio, que ele faleceu também. Não lembro agora o nome dele, era muito famoso até. Então, o que o papai fazia: de madrugada, ele tinha que sair três horas pra ficar na fila pra comprar pão.
P/1: Tinham senhas, né?
R: É, tinha, todos os homens. Então, na fila, ninguém conhecia ninguém, não podia saber que era da mesma família. (risos) As mulheres ele não deixava ir, os homens tinham que levantar, (então eu saia?).
P/1: Três horas da manhã?
R: Três horas da manhã. Era o meu irmão mais velho, os outros dois pequenos, meus quatro primos, e o papai junto. Então ia aquela “trempa” toda, era na mesma rua. Aí quando eles chegavam, nós já tínhamos que estar com o café pronto, porque eles iam trabalhar. Coitados. Aí chegavam cada um com o seu pão. (risos) Eram 14 pessoas, tinha que pegar pão. Mas era uma farra, todo mundo saia correndo pra tomar banho para ir trabalhar. Era trabalhoso, mas era divertido, muito divertido.
P/1: Dona Lúcia, e assim, faltou farinha para fazer macarrão também?
R: Faltou.
P/1: E vocês ficaram sem fazer macarrão, como é que era?
R: Não. No tempo da mamãe, eu nunca comi nada fora, que a mamãe fazia macarrão, fazia pão. Minha mãe era habilidosa demais, ela cozinhava que era um negócio. Nunca comi macarrão de venda, era tudo... Até macarrão de sopa, aquele ponta de agulha que usava, mamãe fazia aquilo. Ela cortava, fazia com uma agilidade fora de série, aquele monte, assim, e a gente ajudava. Tinha um outro tipo, capelete, que ela virava, assim, no dedo. Ela fazia rápido. E a gente “punha”, tinha uns tabuleiros, tudo, e aquilo parecia tudo chapeuzinho. A gente gostava, sentava e... A gente brigava: “Não, eu vou! Eu vou”, aí ficava um de um lado e o outro do outro pra por todos aqueles chapeuzinhos. Ela fazia, jogava ali e a gente ia pondo, sabe? A nossa infância não foi assim, foi um grande sacrifício, mas foi divertido, foi alegre.
P/1 E quais eram as festas que vocês participavam, na cidade, festas de família?
R: Ah, era sempre o Natal, Páscoa. Uma coisa tradicional. E no Natal, então, os nossos brinquedos, os nossos presentes. Que hoje as crianças têm uma fábula, presentes mais caros, elas que escolhem. O nosso presente assim... De noite, a gente pegava o sapatinho e “punha” atrás da porta, aí pegava a meia e pendurava. A mamãe tinha uma vareta, assim, e a gente pendurava a meia. Então, qual era o nosso presente? Mamãe “punha” castanha, nozes, avelã, é, bombom, e ela punha uma moedinha assim de 500 réis, que chamava naquela época. E de manhã, a gente levantava e era uma festa: “Papai Noel chegou, olha!”. Era festa, aquilo para nós era uma festa. Hoje é presente importado e daí pra frente. E aquilo, nós fomos acostumando com a vida. Aí quando eu morava na Treze de Maio, começou a história da Vai-Vai. Eu morava onde hoje é o La Tavola, um restaurante - depois demoliram a casa. E a mamãe fazia pão, que o dono dessa casa tinha a casa vizinha e ele tinha forno, ele cedia pra mamãe fazer. Aí começou a história da Vai-Vai, eu tava ali no meio dançando, que eu queria sair no cordão. Eu levei uma surra: (risos) “Aonde você vai se meter no meio deles?”, (risos) “Mas o que é que tem mamãe?”, “Não é possível!”. Eu ia lá pra dançar, pra brincar lá com eles e tudo. E, naquela época, essa menina que foi também rainha do carnaval, ela pespontava sapato, e eu aprendia a pespontar... Tinha o quê? Uns 12 anos. Eu pespontava sapato, era aquela máquina ali, e comecei a trabalhar também. Aí, com 14 anos incompletos, eu comecei a trabalhar na fábrica de manufatura de tapete Santa Helena [e] lá eu fiquei 4 anos. Eu estudava à noite. Levantava às 5 horas da manhã, tomava meu banho e, às vezes, eu tinha que decorar pontos. Aí eu ia lendo as frases e ia decorando. Naquele tempo, você decorava o ponto - hoje não. Hoje tem as perguntas [de] sim ou não, você vai falando. Mas, naquele tempo, você falava o ponto inteiro, então tinha que decorar. Aí eu entrei na manufatura Santa Helena, depois de um ano eu tinha quatro aprendizes. Eu sei fazer o tapete se tiver um, como é que chama? Um tear. Eu faço aquilo ali - trabalhei 4 anos com aquilo [e] tive quatro aprendizes. E trabalhei com tapete oval, que é a coisa mais difícil, que você tem que ter uma (batida?), tudo por igual, porque senão ele fica torto. Eu sempre ganhava prêmios em produção.
P/1: É mesmo?
R: Ganhava. Modéstia à parte, pra trabalhar, eu sou um pé de boi. (risos) Aí quando eu me formei, cheguei para o seu Antonio e eu disse pra ele que ia trabalhar num escritório, e que eu precisava ver como é que... “Não tem que marcar nada, você foi uma funcionária... Eu sinto de perder você como funcionária, mas você vai pro melhor. Eu estou satisfeito com você, pode sair.” E nunca deixei de visitá-lo.
P/1: É mesmo?
R: Nunca. Depois ele terminou a fábrica, que era na Antonio de Queiroz, aí ele ficou só com o escritório na rua Augusta. E eu fiquei uma porção de anos sem saber dele. Quando eu soube que ele ainda tava vivo, eu fui fazer uma visita para ele na rua Augusta. Quando ele me viu... O meu número era o número dois: “Oh, Tanzi, número dois!”. Me abraçou, foi mostrar pra todo mundo, me elogiou. Aquilo pra mim foi uma glória, sabe? Me levou para tomar café. Mas, olha, eu fiquei com ele quase uma hora. Depois disso, eu soube que ele adoeceu e quando ele faleceu, eu não soube, aí eu perdi o contato com ele. Mas, em todos os lugares que eu trabalhei, eu sempre fui muito...
P/1: E a senhora saiu lá da Santa Helena para ir trabalhar aonde?
R: Eu tava nesse escritório que depois eu me tornei sócia. Aí...
P/1: Ele já existia como escritório e a senhora se tornou sócia depois?
R: Depois, quando eu me formei, nós fomos... Eu trabalhei numa outra, numa (agrofilme?), mas ali também eles me deixavam numa sala sozinha. Era um serviço que eu ficava mais o dia inteiro sem fazer nada, e aquilo foi me dando tédio, porque eu gosto de trabalhar, não gosto de ficar sem fazer nada. Aí surgiu essa parte do escritório e eu fui trabalhar lá. Foi uma pena também, porque eu ali, praticamente, fiquei parada. Porque eu tive oportunidade de trabalhar com um advogado que trabalhava no ministério, se eu tivesse ido talvez hoje teria sido uma aposentadoria melhor, num cargo melhor. E eu, de pena de deixar uma colega nossa que tinha perdido... Porque esse dedo aqui é o que transmite toda a força, e ela perdeu força nesse dedo aqui, então não podia mais escrever. Aí ela passou a dirigir o escritório e nós que datilografávamos. a gente tinha advogado, por exemplo, que tinha audiência, vamos supor, a gente entrava às 11. Primeiro, nós fazíamos dois turnos. Mas quando a condução começou a ficar péssima, o que está acontecendo hoje, [com] esse trânsito, antes de fazer o metrô. Tá a mesma calamidade que nós estamos hoje, não andava na rua.
P/1: É?
R: Não andava. Quantas vezes eu fui da Praça da Sé até a minha casa a pé, andava toda a Brigadeiro Luís Antônio porque tava aquilo tudo parado. O que nós estamos atravessando hoje, nós atravessamos quando começou o metrô. Depois que veio o metrô, aí começou... Então, naquela época, nós começamos a fazer um período só, entrávamos às 11, já vinha almoçada e vinha direto. E pra almoçar às dez horas depois, foi difícil, que eu tinha que almoçar. (risos) Aí eu chegava de manhã, tomava um cafezinho simples sem nada, mas o estômago habituou depois e 10 horas eu almoçava, saía pra entrar às 11. Porque quando nós tínhamos dois turnos, era uma hora e 15 de almoço, então eu saia da Praça da Sé para chegar na Marcos Leão - era um trajeto de você ficar 5 minutos em casa engolir a comida e sair. Hoje eu não faria isso, ficaria na cidade: tomaria um lanche, certo, ficava mais “light”, mas não aquela correria, quer dizer, o que você comia embolava até no seu estômago. Porque tinha que tinha que esperar outras duas que saíam. Nós tínhamos que chegar ao meio dia e meio pra outra sair, para chegar depois a uma e meia a outra. E não podia porque tinham advogados, por exemplo, que, às vezes, vinham com audiência para uma hora, e entrava às 11 horas pra fazer razões, petições. Aquela coisa era assim. A gente voava na máquina: ele ditava e você ia escrevendo, você ia...
P/1: Já sai a petição e tudo...
P/1: Saía a petição, e o nosso serviço foi... Era o único escritório de datilografia montado aqui em São Paulo. Depois, começaram a vir as máquinas elétricas, aí começou a vir computador [e] derrubou as máquinas manuais; aí nós fechamos. Foi aí que, há 30 anos atrás, os meus irmãos tiveram uma queda no comércio [e] perdemos tudo que nó tínhamos, ficamos na estaca zero, tudo.
P/1: Eles trabalhavam no comércio? Que ramo?
R: Eles trabalhavam com aço e ferro, naquela época, e perdemos tudo. Um funcionário, parente nosso, que foi para o Paraná com o dinheiro para pagar, só que a gente não sabia que naquela época cidadão já mexia com droga. Aí fechou a boate com o dinheiro que ele tinha ido para pagar, dinheiro para todos. Quer dizer, quando os caminhões chegaram pra cá, veio com nota fria. Aí os meus irmãos perderam tudo que tinham, foi uma catástrofe. Foi aí que eu comecei, certo, a lecionar corte costura. Quando a mamãe era viva eu comecei a aprender, aprender por aprender. Ai minha professora ela tinha dificuldade pra engravidar, e ela engravidou, só que tinha que ficar em absoluto repouso, ela já tinha perdido três. Aí eu assumi a escola, comecei a dar aula na escola - eu já tinha sido formada com ela. Aí eu comecei a dar aula pra ela, e ela na cozinha - ela pôs até uma cama para ficar em repouso e qualquer dificuldade que tinha, eu perguntava. Ela tinha umas 40 alunas. Aí eu comecei. Depois, ela saiu e eu fiquei morando na casa dela, que ela foi pra um outro bairro, e eu comecei a lecionar. Eu pus uma placa numa caixa de papelão, de sapato: “Leciona-se corte e costura”. E eu tinha uma colega que era muito invejosa, e morava do lado. Aí eu me lembro que eu estava numa casa de sobrado, tinha três andares, eu estava lá em cima... Aliás, a minha cunhada que estava, eu tinha saído. O marido saiu, olhou para aquilo ali, entrou na casa dele e falou pra Iracema que ele viu a placa. No dia seguinte, ele mandou fazer uma placa, desse tamanho, de ferro, e pôs ali também: “Leciona-se corte e costura”, pegado. Mas aquilo não me atingiu porque as alunas já estavam, e eu tive 45 alunas. Morava numa garagem, montei uma mesa, assim, comprida e tive 45 alunas ali. Depois eu tive que sair da casa também porque ela vendeu, ela tava precisando da casa. E aí eu morei na rua Rocha também, numa outra casa, que no fundo tinha uma edícula, e lá eu formei a minha escola. Eu dava aula de corte e costura duas vezes por semana. Aliás, duas vezes por semana de curso primário, e três vezes por semana de corte e costura. Aí eu ficava até umas duas horas costurando, dando aula [e] depois eu costurava, que era pra fazer frente à despesa. Eu não enlouqueci porque Deus não quis, foi uma dureza muito grande você perder tudo. E daí você começa a ver onde estão os seus amigos nesta hora, onde estão. Eu me lembro perfeitamente [de] uma amiga minha: eu vinha desse lado [e] ela vinha daquele; ela olhou assim de lado, ficou fazendo de conta que tava vendo ali um sobrado. Eu digo: “Iracema, o que aconteceu com você? Não disfarça não, não vou te pedir nada.” Aí ela chegou para mim e disse: “Olha, eu não posso emprestar dinheiro pra você porque o meu dinheiro está empregado.” Eu digo: “Mas eu te pedi alguma coisa, eu lhe pedi alguma coisa?”, “Não.” , “E por que você tá me falando isso? Pode ficar sossegada, eu não vou te pedir nada, absolutamente”. Aquela japonesa que você viu, nós éramos amigas, que toda noite, todo sábado nós saiamos - eu era sócia da (Ecio Estanguer?), do Piratininga, do Clube Homs, do Banco do Brasil. Então cada sábado a gente saía, era aquela turma que... Primeiro, você podia sair, hoje não porque tem medo, mas você saía, ia dançar. E depois disso, essa japonesa ela chegou para mim e disse: “Lúcia, eu não tenho dinheiro, mas eu posso te fazer uma coisa, te apresentar no Banco do Brasil”. O Banco do Brasil, naquela época, quem era funcionário do Banco do Brasil tirava o chapéu. “Eu posso te apresentar pro gerente do Banco do Brasil se você quiser tirar um empréstimo, eu vou ser sua fiadora”. Veja bem, eu não tinha nada, né? Eu disse: “Olha Beth, eu vou pensar. No momento, não, que eu não quero acarretar dívida, mas se eu precisar eu te agradeço”. E, realmente, eu precisei depois, não teve outro jeito, mas aí eu ficava costurando de noite, dois dias antes de pagar a duplicata... Eu pagava a duplicata. Tanto que quando acabou, o próprio gerente me chamou: “Se a senhora estiver precisando de um outro empréstimo, não precisa nem a Beth assinar. A senhora é corretíssima, a senhora pode tirar.” Eu tirei o segundo, e assim foi indo a minha vida.
[Pausa]
P/1: Então a senhora tava falando, assim, que com esse segundo empréstimo a senhora reconstruiu a vida toda?
R: Fiz de novo o empréstimo e aí nós fomos indo. Antes dessa parte aqui, teve a parte que eu estudava a noite e eu trabalhava durante o dia. Foi ali que eu conheci o que foi meu noivo - eu estudava à noite. E tinha um professor, que é o professor de história, era gordo, simpatizou comigo e foi uma coisa terrível, porque na hora de ir embora ele queria acompanhar. E o meu irmão estudava comigo naquela época, e os meninos começavam a tirar um sarro: “Ah, o professor tá gostando da sua irmã, vai levar ela até em casa”. O meu irmão ficou doidinho da vida, ele me cutucava. Eu dizia: “Mas o que eu posso fazer?”. Mocinha ainda, né? Não tinha interesse nenhum dele, ele era noivo também, gostava de uma outra. Quer dizer, não sei se gostava, ele cismou comigo. Então, na história, eu gostava muito, estudava, me esforçava porque eu tinha notas boas, e ele “punha” 10, 9. (risos) E os meninos diziam que eu era privilegiada dele, né, e foi indo. Depois eu conheci esse meu noivo, que a gente fazia passeio aqui no Paramount, na Brigadeiro Luís Antônio. Era todo sábado e domingo [que] você fazia aquele passeio. Como tinha na Paulista, também, primeiro onde é o Masp hoje, que era o baile do Transatlântico. Aquele também, não deviam ter implodido aquele prédio de jeito nenhum, porque eu acho aquele museu de arte um caixão - não tem arte nenhuma naquilo. Tem o que... Porque não tem uma laje, não tem pilares nem nada. Tudo bem, quem fez foi glorificado por causa disso. Agora, aquela [era uma] obra de arte também [com] um salão maravilhoso, muito bonito. Aqui o brasileiro, infelizmente, não sabe preservar o que é seu. Nos outros países eles preservam o que é antigo, entendeu? Hoje eles derrubam tudo, são duas coisas que eu nunca me conforme: o palacete Santa Helena e esse prédio da avenida Paulista, que não deviam ter implodido de jeito nenhum e fizeram.
P/1: Era chamado de Transatlântico?
R: Transatlântico, era muito bonito. A passeata dos cadetes, com aquelas capas de noite, a gente passava, nossa mãe, a gente ia para ver os cadetes. As moças passavam aqui, os cadetes aqui, eles passavam todos orgulhosos com aquelas capas assim, era muito bonito. Como teve também o passeio da Brigadeiro Luís Antônio, foi onde eu conheci o meu noivo lá, certo? E tinha um amigo dele que eu só fiquei sabendo que este amigo gostava de mim, mas nunca, porque eu tava mais interessada no outro, nunca percebi. E quando nós íamos pra cinema, ia eu, minha amiga, que era irmã da minha cunhada, essa irmã da minha cunhada gostava desse que gostava de mim - só que eu não gostava dele, gostava do outro -, mas eu nunca percebi isso, vim a saber depois disso. E entre namoro e noivado, nós ficamos 7 anos.
P/1: Nossa, 7 anos...
R: 7 anos. Quando eu ia marcar a data do meu casamento, que era pra ser no dia 15 de setembro, no dia 2 de setembro ele desmanchou comigo, não quis mais. Foi uma tragédia, eu hoje peço...
P/1: O que ele falou pra senhora?
R: Não sei, se pergunte porque também não sei, nunca fique sabendo o porquê. Eu sofri bastante. Hoje eu peso 58 quilos, eu cheguei a pesar 45, era uma vela ambulante que andava na rua. Nunca deixei de trabalhar. Chorava. Porque eu tinha cabelo comprido, eu chorava e enrolava o meu cabelo toda a noite - sempre fui muito vaidosa. Aí toda semana eu tinha um vestido que eu mesma fazia, confeccionava, que eu tava até com um “tailleur” de (piquê?), que usava aquela época. Um “tailleurzinho” com uma saia, que eu punha dois alfinetinhos aqui, porque não tinha mais o que apertar - eu apertava e aquilo caía. Então eu botava dois alfinetes aqui para segurar a saia porque caía. Foi depois de três meses que eu desmanchei com ele. Eu ia me saindo da rua Rocha, entrei na rua Una, aliás, da Marcos Leão, na rua Una, pra entrar na Rocha, ele passou de carro e parou ali. Eu paralisei, fiquei parada. Fazia calor, eu transpirei tanto que ficou uma roda assim em mim, ele teve que parar o carro, sair do carro, me pegar e pôr dentro do carro, porque eu paralisei, não andava.
P/1: A senhora ficou sem reação?
R: É. Aí ele me levou até onde eu trabalhava na Praça da Sé, no palacete Santa Helena, lá ele parou o carro - naquela época podia parar - e me levou até o escritório. Eu entrei ali e aí foi um pranto, chorei [e] chorei. Ele saiu porque ele tinha que entrar no banco, depois ele ligou para a minha colega. Se me perguntar até quanto tempo eu fiquei chorando, eu não sei - dentro do escritório. Ela me pôs ali num canto, pra que ninguém que entrasse ali no escritório... Ela abriu a outra porta, fiquei em outra sala até eu me desabafar. Ali foi e eu fiquei. E essa paixão durou anos e anos e anos, certo?
P/1: É o grande amor da vida da senhora?
R: Foi. Nunca mais eu consegui gostar de ninguém. Olho, até hoje eu olho [e] ninguém me interessa. Não gosto mais [dele], é claro, que já a muitos anos atrás. Eu tinha o quê? 22 anos também. Aliás, eu perdi a minha mãe com 20 anos [e] com 22 eu desmanchei o noivado e o casamento. Veja bem, eu não tinha nem me refeito da minha mãe quando eu perdi esse amor. Ai, ficou muito tempo. Depois de muito tempo, acho que quase um ano, ele se aproximou. Queria só sair pra matar as saudades. Aí eu fui muito firme, disse: “Não, você mata as saudades e eu fico com o quê? Ou você decide ou cai fora”, eu gostava, mas eu fui muito firme. Porque eu tenho um temperamento - eu faço de conta que não percebo as coisas, mas se eu tomo uma decisão, não volto pra trás. Eu sofro, mas eu não volto pra trás, e não voltei. Não voltei porque não queria. Queria só sair de vez em quando, pra quê? Não. Aí depois eu fiquei sabendo que ele contou para uma colega que ele mantinha contato, porque o escritório tinha contato com o banco dele, o banco auxiliar, que ele fazia troco de caixa pra gente, mas não eu que entrava, era a minha outra sócia que entrava com ele, aí ele falou que já tinha encontrado o amor da vida dele. Só que o que eu sofri, ele sofreu com a outra, porque a outra não gostava dele, marcava encontro... Isso eu vim saber muito tempo depois, certo, que eu fui numa senhora ler carta, uma amiga minha me levou. Ela contou toda a minha vida, eu falei: “Meu Deus do céu, como que ela tá sabendo tudo isso aí?”. Aí, depois, ela perguntou para mim: “Peraí, você mora onde?”. Eu falei: “Na Bela Vista.” , “Que lugar da Bela Vista?”. Eu falei: “Eu morei na rua Rocha”. Eu falei toda a trajetória, ela falou: “Você teve um noivo?”. Eu falei: “Tive. Você viu nas cartas?”, “É, moreno, alto. Como é que chama?”, “Paulo”. Ela falou: “Paulo? Por um acaso ele morava na Bela Vista?”, “Morava”. A minha irmã, ele ficou apaixonado na minha irmã. Só que a minha irmã fez ele sofrer muito, ela gostava de um outro, então ela marcava encontro na esquina da rua Rui Barbosa com a Conselheiro Carrão, ela de lá via ele de baixo de guarda-chuva - quando chovia ficava de baixo de guarda-chuva. Ela saía por outra porta, ia sair com outro homem e ele ficava ali parado. Saía com o rapaz... (risos) Quer dizer, o que ele fez pra mim, ele passou depois, mas isso eu vim a saber depois que eu já tinha passado por tudo. Depois eu fui morar na Brigadeiro Luis Antonio, e o irmão dele era estabelecido também na Brigadeiro, e eu passava por ele, mas daí, nunca mais me... No dia do aniversário dele, que era no dia 13 de dezembro, de janeiro aliás, eu saindo do prédio, ele ia passando, não olhei, porque eu não olhei mais para a cara dele, nunca mais. Fiquei sabendo agora, a questão de o que, acho que de uns oito meses mais ou menos, eu fiquei sabendo que ele faleceu, do coração. E essa minha amiga, que eu vou toda noite fazer massagem nas pernas dela, o marido dela trabalhou com ele dentro do Banco Auxiliar. Quando eu falei Paulo... Não, essa minha amiga falou: “Lúcia, você nunca trouxe uma fotografia dele aqui”. Eu falei: “Um dia eu vou trazer a fotografia pra você”. Eu levei e ela falou: “Peraí, eu acho que... Como é o nome, Paulo? Ah, o Gouveia conhece”. Ai chamou o Gouveia, falou, e o Gouveia: “ Ih, nós trabalhamos juntos, nós éramos gerentes do Banco Auxiliar. Veja bem, você sabe que ele faleceu?”. Falei: “Não, perdi de vista, nunca mais soube [dele]”. E aconteceu um caso muito interessante de coisa sobrenatural. Eu acho, pelo tempo que ele me contou que ele faleceu, eu nunca sonhei com ele, [mas] naquela noite eu sonhei. Eu acho que naquele dia ele tinha falecido, porque eu senti ele se aproximar de mim, me deu um beijo no rosto muito carinhosamente e sumiu. O sonho, eu me lembro só disso. Eu acho que em sonho ele veio se despedir, sabe, nunca, nunca sonhei com ele durante esses anos todos, [mas] naquela noite... Isso já faz, que ele me disse, faleceu a questão de um ano, dois anos mais ou menos, isso já faz tempo que eu sonhei. Então eu associei, não marquei a data nem nada, nem sei quando que ele faleceu, que eu perdi contato com a família, com tudo. Mas eu sofri muito. Quando eu via algum membro da família dele, minha perna tremia.
P/1: E você encontrava sempre, né, São Paulo era menor...
R: É. Depois eu perdi de vista completamente, e eu tinha uma pessoa que, ele fazia muito aquelas caixas para por joias, toda trabalhada com veludo por dentro, era muito amigo. Sempre que ele encontrava comigo, dizia: “Lúcia, esse Paulo perdeu uma coisa mais joia da vida”. Eu digo: “O que é isso rapaz? Você é que vê, isso ele não viu”, “Não, não, ele perdeu uma mulher da vida que ele nunca mais vai encontrar uma outra igual a você”. Eu falei: “O que é isso, rapaz? Não tem nada disso”. E ele falava pra ele, sabe, me contava de vez em quando. Depois ele faleceu, quer dizer, eu fiquei sem saber mais nada, porque ele que tinha mais contato com a família. Então ele me contava alguma coisa, mas não foi muito fácil...
P/1: Aí a senhora deu essa volta na vida trabalhando, a senhora foi muito forte...
R: Olha, eu vou dizer pra vocês, de tudo que eu já passei na minha vida, e continuo ainda lutando por ela, o único amigo sincero foi o trabalho. Eu quero que deus me dê vida, até o finzinho dela trabalhando. E o dia que eu tiver que ir, que me dê um tapa: "Vamos embora, chega daqui", porque este foi o meu melhor amigo. Tem gente que se atira a vícios, a coisas... Nunca, graças a Deus, até hoje nunca eu fiz essa coisa toda. Voltando agora, depois dessa parte aqui, nós estávamos [falando de] quando eu comecei a aprender, como chama... Que eu dava aula? Corte e costura...
P/1: E em que contexto que veio o trabalho com a Natura?
R: Bom, aí vai chegar nessa parte agora. Agora que vem a parte da Natura. Aí quando eu comecei... O meu campo era completamente diferente, era lecionar, era escritório. E eu tinha um salão que lá eu fazia tudo, era pé, mão, cabelo. Antigamente, usava aqueles penteados. E o meu escritório era, como se diz, era frequentado pela elite de São Paulo, então a gente tinha que estar muito bem arrumado. Era muito vaidosa, sapato alto, sempre gostei. Agora não, ando mais de tênis, uma coisa mais, assim, corriqueira, porque nesse São Paulo que tá tudo bonitinho, tudo cheio de buraco, você não pode andar de salto alto. Bom, aí o negócio começou a apertar. Aí eu lavava o meu cabelo, eu mesma faço a minha unha, meu pé, faço o meu cabelo - eu faço tudo sozinha. Eu só ia fazer o meu penteado, então eu enrolava e só ia pentear. E a moça do salão, ela disse pra mim: “Ô Lúcia, você tá me traindo”. Eu disse: “Não, Cleide, eu não tô te traindo. Você vem aqui e eu vou te contar a minha vida como é que tá. Tá assim, assim, eu só vou poder soltar o cabelo porque não tenho dinheiro pra isso”. No sábado seguinte, eu ia no sábado de manhã, 9 horas, 10 horas, era o meu horário, ela chegou para mim, disse: “Lúcia, você sabe tirar sobrancelha?”. Eu digo: “É o que eu mais faço para as minhas amigas, e o pessoal de casa”, “Então você vai me ajudar, no sábado. Você vem aqui, a Rose vai casar, e você vai tirar a sobrancelha”, “Tá bom”. Mas os problemas eram tantos que eu esqueci completamente, tinham dias e noites que eu ficava - eu morava em sobrado, ficava embaixo de noite para saber o que eu ia fazer, isso quando nós começamos a perder tudo. Aí chegou no sábado, eu fui de cabelo preso, eu usava aquele turbantezinho, fui lá, eram 10 horas, 11 horas: “Cleide, você não vai soltar o meu cabelo?”. Ela virou pra mim, disse: “Lúcia, a Igia ta chegando aí, tira a sobrancelha dela”. Eu fui e tirei a sobrancelha. Ela falou: “Nossa, que beleza”. Ela foi pro salão que era uma salinha aqui e outra aqui, a menina falou: “Nossa, eu quero tirar a sobrancelha”. Resumo: oito sobrancelhas de manhã, “Você não vai soltar o meu cabelo?”, “Eu fiz um pacto com você, eu só vou soltar o seu cabelo às 5 horas da tarde.”
P/1: A senhora não sabia desse pacto... (risos)
R: Eu tinha esquecido completamente, ela falou: “Se você quiser almoçar comigo, você almoça. Se você não quiser, você vai para casa almoçar e depois você volta”. Eu falei: “Eu vou porque ninguém tá sabendo o que aconteceu comigo”. Aí eu fui para casa e contei para a minha cunhada, ela falou: “Vai, o que você esta fazendo aqui?”, “Nada.”, “Vai lá e ajuda”. Bom, eu fui. Era 70 (merréis?), eu não sei o que era isso aqui atrás. Aí ela chegou para mim e falou assim: “Agora, o cabelo, vai soltar". Eu falei: “O cabelo, quanto que é?”. Ela falou: “Nada”. Eu falei: “Não”. Eu sempre fui muito justa, falei: “Trabalho é trabalho e eu quero pagar”, “Tá bom, então você vai pagar metade”. Paguei a metade. Aí ela me deu 70 reais limpo, era dinheiro naquela época. Aí tem uma colega minha que morava também, ela falou para mim... Não, no outro sábado ela falou: “Você vai fazer limpeza de pele”. Falei: “Essa não, não sei nem cuidar do meu rosto, quanto mais limpeza de pele Cleide. Você tá doida”. Ela falou: “Olha, o que a Rose faz, eu vou te ensinar. Fica até o fim.” Aí o salão tava vazio, ela falou: “Senta aí.” Eu sentei. Ela pegou um algodão e foi passando, assim, com adstringente no meu rosto, passou um creminho, e ela falou: ‘É isso que a Cleide faz, é isso que você vai fazer. Agora você vai fazer em mim para aprender”. No sábado seguinte, eu passei a fazer isso, mas eu sempre fui muito consciente, eu não queria fazer uma coisa que eu não sabia. A minha sobrinha trabalhava com a Rhodia naquela época, e ela tinha direito a fazer um cursinho. Como ela entrava de manhã cedo, ela não tinha como, aí eu chamei a gerente, que era promotora, eu expliquei a minha situação, [mas] ela falou não - ela foi muito legal comigo. Eu comecei a frequentar as aulas da Rhodia, e ela vinha na minha casa. Minha sobrinha comprava os produtos dela e ela vinha para explicar o que eu tinha que fazer, mas eu não fiquei satisfeita com isso, fui fazendo coisas a mais...
P/1: Deixa só eu tirar uma dúvida: a Rhodia, nessa época, trabalhava com produtos cosméticos?
R: Trabalhava. Eles tinham um creme de pescoço, que nenhuma casa de cosmético ainda fez. Ainda vou dar essa sugestão pra Natura. Era um creme espetacular, você passava, seu pescoço ficava... Tanto que na época tinha que ir na Praça do Patriarca, tinha uma revendedora. E, naquela época, eu arrematei uns dez potes de creme, mas depois acabou, né? Quem derrubou a Rhodia foi a Avon.
P/1: Ah é?
R: Porque a Avon é americana, minha filha. A Rhodia, hoje, existe só que em outros produtos, não na parte de cosmético. Eu trabalhei muitos anos com a Rhodia. Aí a minha amiga falou: “Quero fazer limpeza de pele com você”. Ela faleceu, agora faz dois anos que ela faleceu. Eu cheguei e ela falou assim: “Lucia, você tem tanto jeito pra coisa, porque você não faz um curso de estética?”. Eu falei: “Olha, eu não sei aonde e nem como”. Ela falou: “Imagina, o Almir faz. Todo dia ele vai no meu escritório.” Ela tinha um escritório de contabilidade na Praça Marechal, ela falou: “Eu vou conversar com ele, você quer?”. Eu falei: “É claro que eu quero”. Aí ela conversou com ele, ela falou: “Você me espera segunda-feira, eu te pego e nós vamos na avenida Tiradentes”. Aí ela chegou do escritório - eu já tava pronta, do jeito que eu cheguei do escritório eu fui. Aí eu fui na avenida Tiradentes e fiquei lá, e ela conversou com ele, tava no fim de um curso. Porque todo fim de curso de estética, um mês antes eles abrem a porta pro público, você paga uma taxa pequena que era 2 (merréis?), não sei agora a importância, e a gente faz uma limpeza de pele. Bom, eu fiquei ali, ele não me deu satisfação. Pegou minha colega para servir como modelo e eu fique ali de braços cruzados feito um 2 de paus. Mas eu fiquei prestando atenção no que elas faziam e, no sábado seguinte, eu comecei a aplicar nas clientes no salão aquilo que eu tinha visto, então o pessoal ficou deslumbrado que eu fazia muito mais que a Rose, todo mundo ficou. Bom, aí eu fui fazer, ele não me deu confiança [e] ela ficou doidinha da vida. No dia seguinte, quando ele foi no escritório, ela falou: “Almir, o que você fez com a minha amiga que você não deu confiança?”. Ele falou: “Você acha que aquela grã-fina - porque eu me vestia bem, de sapato alto e tudo - ela vai mexer com pus, com pele? Você tá louca”. Ele falou pra ela. Ela falou: “Você se engana, ela precisa disso aí”, “Manda ela ir amanhã lá”. Que de segunda, quarta e sexta era o dia dele, e de terça e quinta era de maquilagem. Aí eu fui, fiquei lá plantada das 6 e meia até as 10 e meia da noite, depois que acabou, porque eu não ia interromper. Eu disse: “Pois bem, você terminou a sua aula, nós vamos pro mesmo caminho, e na rua eu vou contando o porque eu preciso disso”. Ele cruzou os braços assim e falou: “Resolvi te ouvir, pode falar”. Aí eu contei a minha história, o que tinha acontecido conosco, [que] nós tínhamos perdido tudo, que eu tava precisando desse diploma, enfim. “Eu vou te ajudar, só que você tem que passar no psicotécnico. Se você não passar, não posso fazer nada”. Bom, o dia que era pra fazer o psicotécnico, era um desenho que você tinha que fazer, era uma coisa incrível. Meu irmão, esse que faleceu, ele tinha Molestia de Addison - é uma parte que fica preta no seu corpo, [e] o dele ficou [no] braço e [no] rosto, escuro; parece mulato, ninguém sabia. O tratamento dele era como se ele tivesse alguma coisa no fígado, só depois um professor, médico ginecologista da minha cunhada, que indicou um médico no hospital das clínicas, ele ficou três meses ali internado. Mas antes de ser internado, ele teve uma crise, e quando vinha essa crise, ele ficava com pressão a cinco e pulsação quase a zero. Você tinha que sair correndo para ele ser atendido. Eu botava ele num táxi e entrava naquele Hospital das Clínicas, lá pra dentro, enquanto ele não punha soro. Depois eu voltava e fazia a ficha, porque não tinha como, você tinha que entrar e escancarar aquilo. Eu sempre fui atirada, entrava e mandava atender. Depois eu voltava pra fazer a ficha dele. Naquele dia, meu irmão me dá uma crise [e] eu tinha que fazer o psicotécnico, o que eu fiz? Deixei ele nas Clínicas, ele tava tomando soro, peguei um táxi e fui fazer. E quem tinha cabeça de fazer o psicotécnico ali? Que eu fiquei pensando nele, se ele ia sair, não sei, minha cabeça naquele dia falhou. Bom, eu tive que esperar três meses depois pra fazer um novo psicotécnico, aí eu passei. Bom, passei. Tem 24 cadeiras, são 12 cadeiras, são 24 alunos, eu fui a 25º. Quando eu fui saber com a assistente social, eu tive uma crise de choro lá dentro, que a mulher ficou doida comigo, foi buscar água, me deu, eu falei: “Eu preciso desse diploma, preciso fazer esse curso.” Contei a minha história. Eu não sei o que ela fez, ela falou: “Espera”. Foram pra secretaria, quando ela voltou, falou assim pra mim: “Vai fazer a sua ficha”. Eu não entendi. Eu tinha que pagar conta de luz naquele dia, não me deu tempo, e tava a conta e o dinheiro da conta de luz, eu tinha que pagar a matrícula. Eu peguei o dinheiro da conta de luz e paguei a matrícula. Olha a minha história. Eu fiz a matrícula, ai eu pensei, eu vou mostrar para esse professor - que ele disse que eu sou grã-fina, que eu não vou aprender. Menina, eu me dediquei de corpo e alma. Eu saía do escritório às 5 e meia, a aula começava as 6 e meia. A avenida Tiradentes estava em conserto, o trânsito impossível, eu corria feito uma doida, 6 e meia eu tava ali no Senac na avenida Tiradentes.
P/1: Isso [foi em] 74 né?
R: Em 74. Isso, eu fiz o curso com ele. Quando chegou na hora, eu fiz maquiagem também. O professor de maquiagem simpatizou comigo, tinha uma cadeira cativa. “Eu quero que a Lúcia fique aqui, porque ela me transmite muito bons fluídos”. Ele era bicha, ele era negócio também. Bom, não vem ao caso. Aí eu fiz o curso. Depois que eu terminei tudo, tinha uma que... Eu sempre tenho alguém que fica no meu pezinho, tudo que eu fazia, ela fazia. Aí chegou na hora do diploma, tava todo mundo ali, quem dava o diploma era o paraninfo. Chegou numa hora, ele pegou um diploma ali e falou assim: “Esse diploma eu faço questão de entregar pessoalmente”. Não sabia quem era. “Uma aluna que nunca me deu problema, uma aluna que nunca faltou, uma aluna que nunca chegou atrasada, sempre foi muito atenciosa”. Ele me deu 9, parece que com 9 ali com segurança de trabalho, e 10, eu não sei. Atrás do meu diploma tem a minha nota, Lucia Tanzi. Quando ele falou, menina, deu um gelo em mim, sabe? Uma coisa assim, me deu um negócio dentro, minhas lágrimas corriam. Aí eu fui lá, ele me abraçou, me deu o diploma. A outra ficou com dois olhos deste tamanho, porque a outra (fez com o?) paraninfo. E eu chorei de emoção, porque eu não esperava. Mas eu fiz aquilo com acinte mesmo, eu mostrei pra ele que realmente, não é porque era grã-fina - não tinha nada de grã-finagem, mas ele achou. E aí que eu levei todos aqueles elogios, e o Juvenal fez a mesma coisa comigo. E tinha um colega nosso, o Antonio, ele coitado não tinha dinheiro pra comprar material, porque você tem que levar todo o material de maquiagem, como, de creme. Você tem que comprar os cremes também na estética, ele era meu parceiro. Aí eu "punha" aqui e dizia: “Antonio, você disfarçadamente vai pegando as minhas coisas. Eu pego um, você pega outro, mas vai fazendo com o meu material’’. O professor era bicha e tinha cismado com ele - e ele era casado, cismou com o rapaz. No dia que nós fomos fazer a prova, não sei, não me lembro o que foi que aconteceu em São Paulo, que ninguém podia entrar no Senac. Estranho, quer dizer, todos os modelos que nós tínhamos pra levar, ninguém pôde entrar, então nós tivemos que escolher modelo dentro do próprio Senac. Cada um escolheu uma moça pra fazer o modelo. O coitado do Antonio teve a infelicidade de pegar uma velha, e uma velha com uma pele que pelo amor de Deus, certo? Por mais que ele fizesse, ele não podia apresentar uma maquiagem maravilhosa, e ele cismou que ia reprovar. Aí eu cheguei perto dele [o professor] - como ele era meu fã, né: “Ô Juvenal, me diga uma coisa. Você como um profissional, eu gosto muito de você, você é um professor excelente”. Botei ele lá em cima, eu falei: “Me diga uma coisa, se fosse você no lugar do Antonio, o que você faria nessa mulher? Claro que você ia fazer uma coisa melhor porque você é um professor, mas não tão bem quanto você maquiar uma jovem. Você concorda comigo? Por que você vai agora fazer isso com o rapaz, que ele ta precisando de diploma?”. Ele olhou bem sério para mim e falou: “Bom, eu vou fazer um trato com você”. Eu falei: “Faça”, “Eu vou dar o diploma pra ele, isso em consideração a você”, “Tá bom, mas o que você quer em troca?”, “Se ele frequentar o primeiro mês de aula do outro ciclo que vai ter”. Eu falei: “Quanto a isso não tem problema, que eu vou falar com o Antonio. Tenho certeza absoluta que ele vai concordar comigo. Quanto a isso, você pode aprovar o menino”. Cheguei perto do Antonio e falei: “Antonio, 'isto [e] isto'’’. Contei tudo pra ele, falei: “Você vai fazer o seguinte, vai concordar com ele, vai vir em duas, três aulas [e] depois você some. (risos) Você tá com o diploma na mão, meu filho, o que ele pode fazer com você? Só que você vai honrar a minha palavra”, “Não Lúcia, eu vou fazer”. Tá bom. Aí ele me convidou para almoçar na casa dele, eu fui, ele me apresentou a esposa, o filho e tudo mais. Eu falei: “Antonio, pelo amor de Deus, na hora que começar, você vai duas ou três aulas, depois você espirra no mundo”. E o coitado teve que fazer, e assim ele foi, ele recebeu o diploma dele.
P/1: E como vem a Natura neste contexto?
R: Depois disso aí eu tive que sair da casa, que eles venderam a casa e eu fui morar na Brigadeiro Luis Antonio, e o negócio começou a ficar apertado. Aí eu fui atender uma cliente lá na Santa Cecília e a moça falou pra mim: “Ó Lúcia, você não vende Natura?". Eu falei: “Não, eu trabalho com o produto da Payot, mas não trabalho com a Natura”. O creme do Payot, número 2 da linha profissional, começou a dar problema na minha mão, de alergia, mas eu pensava que era alguma coisa que eu tivesse comido. Fui no médico, o médico mandou fazer teste. Lembrei que o professor Almir disse que o creme número 2 quando chegava, ele não pegava na mão, ele mandava todos os alunos pegarem e ele não pegava, porque o creme número 2 já tinha dado alergia. Depois de muito tempo, e eu passando o creme, fazendo limpeza de pele e passando o creme, e o negócio ia indo. Chegou num ponto que eu não podia atender cliente. De repente deu um “click” na minha cabeça, o creme número 2. Aí, naquele dia, não usei aquele creme. Uma semana, minha mão melhorou sensivelmente. Aí comecei a usar, ela piorou. Isso eu fiz o teste três vezes. Falei: "Bom, então eu vou deixar. Aí encontrei com uma colega minha, na Nove de julho, ela falou: “Lúcia, tô trabalhando com os produtos da Natura profissional, eles estão ótimos”. Eu digo: “Ah é? E como é que eu faço para eu entrar na Natura, para ver? Porque eu to tendo problemas com os produtos da Payot”. Que eu trabalhei com a Rhodia, com a Payot, depois com a Valmari e daí pra frente. Eu falei: “Vou entrar". Aí eu fui na Natura, fui lá conversar com eles e me inscrevi. Aí a promotora veio na minha casa, é uma exigência tremenda, agora já entra gato e sapato, mas primeiro não. Porque tinha que ter curso superior, você tinha que ter conta em banco, você tinha que ter um currículo bom, certo? Então eles investigavam tudo, e foram oito dias pra tirar a minha ficha pra fazer. Aí depois eu fui, comecei na Vitorino Carmilo. O pessoal sabia, eu atendia três clientes toda semana lá. Aí comecei a levar o catalogo: “Ó, você vai vender Natura e nós vamos te ajudar”. Eu sei que num prazo de 15 dias eu formei o 1º pedido, tava satisfeita, e ai foi indo, e tô há 25 anos na Natura, né? O meu forte mesmo é a linha Chronos, que é uma linha de rejuvenescimento, porque eu faço limpeza de pele, tratamento de acne, rejuvenescimento cutâneo também e uma série de coisas, maquiagem. Aí eu comecei a engrenar na Natura, e esse engrenamento já está há 25 anos, sinceramente falando. Então, todo ano eu participo das festas de fim de ano por ser VIP da Natura. Só que agora as VIPs também têm que produzir, que eles cortaram, quer dizer, se você não produzir... Porque tem as clientes também de VIP, que às vezes faz um pedido só, de 100 pontos por mês, ou pra uso próprio ou pra uso da família, e pra Natura isso não é interessante. Agora, se eles me cessarem depois de 25 anos, eu cesso a Natura. (risos)
P/1: Agora, a senhora tava falando que conheceu a Natura quase no comecinho, na rua Rego Freitas...
R: Ah sim, na Rego Freitas eu conheci o Seu Seabra, quando ele entregava. Tinha um rapaz que entregava os folhetos da Natura, certo, e daí eu comecei a conhecer a Natura. Depois eles foram pra Domingos de Morais, da Domingos de Morais aí foram pra Avenida Brasil, da Avenida Brasil depois eles foram aqui na, como é que chama? Tem a Augusta, a outra. A Oscar Freire não, a outra...
P/1: Padre João Manoel?
R: Não, não, tem Freire também no meio...
P/1: A Bela Cintra?
R: Na Bela Cintra. Aquele prédio todo... Que a gente mesmo ia buscar os produtos lá, saía com a sacolinha. Aí depois eles foram pra Paulista, pro Prédio da Rosas - ali era ótimo, muito bom, porque ali você encontrava com o seu Luiz Seabra, conversava com ele, você trocava ideias, via todas as promotoras - que cada uma tinha a sua mesinha para fazer -, se tinha trocas de produto - que, às vezes, ou vinha com defeito ou a cliente não gostava. Agora, a Natura é uma firma idônea, muito responsável. Vamos supor: se você usa um produto da Natura, e esse produto lhe traz alguma alergia, alguma coisa, eles te dão todo o atendimento. Você liga para 0800-115566, e eles te dão toda a assistência. Se você não gostar do produto, eles retiram o produto e te devolvem o dinheiro. É uma firma conceituadíssima, muito idônea e muito séria. De vez em quando eu brigo com a Natura também, porque, às vezes, eles fazem um lançamento, principalmente no dia dos pais, nos dias das mães, no fim de ano, dia dos namorados, e se você não lança o produto logo que eles lançam, você fica sem o produto porque a procura é muito grande. Como, às vezes, a gente luta com dificuldade, você fica com receio de pedir, por exemplo, os produtos e ficar encalhada, vende depois. Porque quando a duplicata vem, modéstia a parte, 25 anos de Natura, que Deus me proteja sempre, eu não atraso com a Natura de jeito nenhum. Posso atrasar qualquer outro pagamento, a Natura eu mantenho sempre em dia. E eu tenho um grande crédito na Natura, que eu posso tirar até 33.400 e tantos pontos se eu quiser tirar. É pena que eu não tenho dinheiro para estocar a Natura e vender mais adiante. Mas eu adoro, sinceramente, adoro a Natura, gosto dos produtos deles, são gente muito honesta, muito responsável com aquilo que eles fazem. Gosto muito do Luiz Seabra, no fim do ano, às vezes, ele leva uma bronca de mim. Porque o ano passado eu fiz 80 anos, e todo dia do meu aniversário eles sempre me mandam um cartão parabenizando a data do meu aniversário. E quando eu fiz 80 anos eu esperava realmente, e foi esquecido, não sei por que razão, dizem [que] por causa do correio. Não sei, não aceitei essa justificativa. No fim do ano, eu conversei com o seu Luiz Seabra.
P/1: E ele escutou?
R: Aí eu disse pra ele: “Pois é seu Luis, eu estou muito sentida com a Natura”. Ele disse: “Mas porque você esta sentida com a Natura?”. Falei: “Porque nos meus 80 anos eu esperava uma cartinha de vocês como sempre vocês me mandam. E este ano eu não recebi”. Tanto no encontro da Natura, quando todos estavam ali eu pedi licença pra Neide e falei pra ela: “Eu estou muito sentida com a Natura". Ela disse: “Aguarde”. Ai pegou o talão de cheque, anotou o meu telefone, o meu endereço. Três dias depois eu recebo uma rosa importada linda - nunca vi uma igual. Ficou 15 dias na minha casa, uma embalagem maravilhosa. Aquilo me deixou tão emocionada, mas, infelizmente, eu não pude conversar com ele pessoalmente, nem por telefone que é a coisa mais difícil. Seu Luiz Seabra, de vez em quando apareça pra gente conversar, porque aquele tempinho aí da Paulista, do Prédio das Rosas, era maravilhoso. Nós trocávamos ideias, a gente conversava muito, [e] hoje é muito difícil. Eu sei, o, você é muito ocupado, não resta a menor dúvida, mas a gente gosta de conversar com você. Me permita que eu lhe chame de você, que eu sou mais velha. Com a minha idade, você é meu bebê. (risos)
P/1: Que ótimo isso. A gente vai aproveitar e trocar a fita.
[Pausa]
P/1: Vamos lá dona Lucia. A senhora lembra, assim, os primeiros produtos que a senhora fez pedido?
R: Ah sim, lembro. É claro que eu lembro. O que saiu muito no começo foi muita maquiagem, naquela ocasião também, e existiam produtos também que tinham AGR 200 que nunca eles deviam ter tirado do "coiso", porque aquilo ali era um assombro. Umas ampolas que você passava no rosto da cliente, ou mesmo a cliente passando era muito bom. Tinha dois produtos também que usava de dia e a noite, deixa eu ver se me lembro, que depois entrou a linha Chronos e derrubou essa linha também. Que agora não estou lembrando, sinceramente, o nome dos dois produtos. Também não deviam ter tirado de linha. Muitas coisas quando eu comecei a trabalhar com a natura eram produtos que, realmente, você via o resultado. O Chronos é bom? É, não resta a menor dúvida, mas ainda eu vou discutir nesse ponto que eu preferia os que sairam [antes] aos que estão agora. A vitamina C é boa? É ótima, não resta a menor dúvida. Sabe que é um produto que você passa à noite? Eu fui em um evento da Natura a pouco tempo de perfumaria e o Marcos Costa, foi até no dia 15 de setembro, que é aniversário dele e o meu também. Que ele gritou: “Quem faz aniversário hoje?”. Aí a Neide falou: “Lucia, vai ali que é o seu aniversário”. Aí eu gritei: “Eu faço”. Fui pro palco e ele falou: “Quantos anos você tem?”, “81”. Ele passou a mão na minha mão e falou: “Eita, Chronos”. (risos) Eu sou vaidosa e passo creme, ele falou: “Eita, Chronos”. (risos)
P/1: Tá aí a prova, né? (risos)
R: Tá aí a prova do Chronos - e isso eu não deixo de passar mesmo. Eu faço passo a passo: passo o sabonete, depois eu passo a loção tônica e durante o dia eu passo o creme do dia. À noite eu faço o mesmo trajeto, passo a vitamina C e depois o creme da noite. Eu sou muito vaidosa. Nesse ponto, eu cuido muito porque eu gosto, é uma coisa que você tem que homenagear a Natura. Porque você vendendo o produto, tem que fazer jus aquilo que está na praça e mostrar pra pessoa. Mesmo porque eu sou esteticista e o que eu tenho que fazer é mostrar, porque senão a cliente acaba não comprando. E, nesse ponto, eu tenho um jogo de cintura muito grande pra conversar com a cliente e fazer. Não porque pra impedir só o produto, pra mostrar que o produto é bom e se você usar ele é excelente. Agora, outra coisa que eu não gostei que a Natura tirou de linha foi o creme de homem. Porque era a única firma de cosméticos que tinha creme pro homem, e eles tiraram. Não sei porquê razão, porque eu tinha 4 clientes que usavam e estão usando a linha Chronos, mas não gostam muito. Usam porque não tem outro, mas que eles sentem falta do creme de homem sim. Não sei porquê razão, porque talvez não tenha tido no comércio. Não deve ter saído muito e mesmo porque as meninas que vendem não soubessem mostrar - o homem hoje está muito mais vaidoso do que a mulher.
P/1: É mais que a mulher?
R: Tá muito mais vaidoso do que a mulher. O homem se cuida, faz limpeza de pele, arranca a sobrancelha, faz uma porção de coisa, massagem corporal. Porque eu também faço massagem corporal, eu faço pra homem e pra mulher, sabe? Então, eu acho que o homem hoje está muito mais vaidoso. Eu vejo assim, por exemplo, dentro de um elevador, o espelho o homem tá ali montando seu cabelinho apontando aqui. A mulher, às vezes, entra e também faz, mas não tanto quanto o homem. O homem fica olhando pro espelho, assim, e dá um jeitinho no cabelo dele, fica assim. Tem um no meu prédio que fica olhando no espelho, olha [e] olha, depois vai aqui, assim, sabe? Então ele fica assim, olhando no corpo, vendo um monte de coisa. Quer dizer, o homem hoje está muito mais vaidoso e ele se cuida muito. E tem que se cuidar porque a mulher esta se cuidando bastante.
P/1: É, né?
R: Tanto de ambas as partes. Aliás, eu estimulo muito assim, principalmente as mulheres casadas.
P/1: Por quê?
R: Porque hoje a competência [concorrência] está muito grande, certo? E se a mulher não se cuida, ela dança. Porque o homem gosta de vê, chegar em casa e encontrar a mulher bonita, bonita de verdade como o Seabra fala. Bonita de verdade, e ela tem que se cuidar realmente, porque o que o homem não encontra em casa, ele vai procurar fora.
P/1: É um conselho sábio, né? (risos)
R: É conselho sábio. É verdade, porque eu vejo.
P/1: Deixa eu perguntar uma coisa pra senhora: quando começou a vender Natura, então, a caixa com os produtos chegava na casa da senhora ou tinha que buscar?
R: Não, eu tinha que buscar. Naquela época, a gente ia buscar - foi no tempo da Rego Freitas. Na avenida Brasil, a gente ia pegar saia naquela sacola. Depois, aí que eles começaram aqui no Prédio das Rosas, na Paulista, também você tinha que buscar a caixa. Daí depois é que eles começaram a mandar pela transportadora, certo? Que quando chega nessa época de dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, às vezes, a caixa demora 5, 6, 7 dias porque o normal mesmo é 3 dias, no máximo, você já recebe sua caixa. E quando o pedido é demais, então acho que as transportadoras não dão conta e demora. Teve, nessa época, não sei se foi no dia das mães, que a caixa demorou mais de 8 dias pra chegar. E, às vezes, a cliente tem ou dia dos namorados, que chega, você tem que entregar o produto porque às vezes é um presente pra dar. No fim de ano também, certo? E a pessoa viaja. Eu sei que é um transtorno pra eles também porque eles não gostariam que acontecesse isso. Mas eu não sei porque razão acho que acúmulos demais ou porque tem demais também. Porque a Natura está, assim, crescendo de maneira assustadora.
P/1: O que a senhora acha que acontece pra ter esse crescimento? É a credibilidade, são os produtos, é o conceito de beleza, a (praticidade?)?
R: É porque é um creme que, aliás, a Natura está em primeiro lugar na parte de cosméticos. Ganhou em primeiro lugar. E é uma firma muito grande e o produto é, realmente, muito bom em tudo. Em cabelo, corpo, desodorante, na parte de maquiagem, batons, na parte de estética também. Tanto pra jovem como pra pessoa madura também, certo? Não vamos dizer a terceira idade não, vamos deixar na parte madura, certo? (risos) Vamos pintar um pouquinho essa coisa. Mas ele é muito bom. Se a pessoa fizer direito, é porque tem muitas consultoras também ainda que são novatas ou revendem pra outras pessoas e não tem. Agora é muito necessário que elas façam um curso, que elas frequentem o curso, pra conhecer o produto, pra poder explicar pra cliente como é que se faz. Porque se você não dá o passo a passo, a cliente passa aquilo ali. Eu fui fazer [em] uma parente minha, que eu fui no enterro de uma pessoa da família, e ela falou: “Você continua com a Natura ainda?”. Eu digo: “Sim, continuo e você?”, “Ah, eu to fazendo hidro e não sei que lá, eu compro de uma moça que revende”. Mas eu falei: “A senhora está passando só o Chronos?”. Ela falou: “Só o Chronos”. Eu falei: “Mas você não lava com sabonete, não passa a loção tônica, não passa o da noite?”, “Não, nada disso”, “E como é que você faz?”, “Eu pego o produto, ponho aqui na minha mão e passo assim”. Eu digo: “Peraí, não é assim que passa”.
P/1: Como é que passa?
R: O produto, por exemplo, tem jeito pra você passar. Essa região aqui dos olhos, isto aqui você joga pras têmporas. Esta parte aqui você vai pra cima, massageia, certo? A parte do pescoço você faz isto aqui também. Importante a mão também você cuidar, dos braços, do teu corpo. Você tem que passar creme, porque senão aquilo... Eu comparo o nosso corpo com uma máquina: se você não lubrifica a máquina, o que acontece? Ela enferruja. A máquina precisa tá, quem tem carinho põe azeite, vai pôr isso, pôr daquilo. Você vai sempre ao nosso corpo também. Nós envelhecemos? Envelhecemos sim, mas vamos envelhecer com galhardia, bonita, certo? A gente envelhece com o tempo, mas a pele da gente - isso é um conselho que eu dou pra vocês também. Porque dizem assim: “Eu não preciso, nunca passei creme no meu rosto”. Não, ao contrário, tem que passar. Quando chegar a uma certa idade você vai perdendo a parte hormonal, então a pele vai ficando flácida. Então é necessário que vocês também passem, lubrifiquem. Se vocês não fizerem isso, poxa. Esse conselho também eu dou pros homens. Porque hoje o homem está muito vaidoso, ele se cuida mais. Vai cortar o cabelinho, ele pinta o cabelo também, porque tem uns que não gostam de ficar. Eu não tenho muito cabelo branco, pouquíssimo, tenho alguns fiozinhos aqui, mas eu pinto meu cabelo. Às vezes eu mudo a cor, ponho um pouquinho mais claro, outras vezes mais escuro, e assim eu vou indo. Enquanto existir creme da Natura, vai ser passado no meu rosto e no meu corpo, então eu recomendo.
P/1: E esses conselhos a senhora dá também pros clientes?
R: Do pros clientes, é claro que eu dou. Se eu vou fazer uma limpeza de pele, eu vou dar o passo a passo pra ela fazer. Porque eu trabalho, que a Natura não tem produtos profissionais. Já teve, eu não sei por que razão também tirou a parte profissional. Talvez porque também não saísse muito, certo? E eu trabalhava com a linha Natura, trabalhei muito tempo. Depois eles tiraram e eu tive que, eu trabalho com a (Sacruza Morelli?), que é uma firma italiana, trabalho também com a Ática e outras firmas mais. Eu vou pra congresso, vejo sempre o que é melhor na linha profissional, também, pra trabalhar. Mas na minha cliente é só Natura, eu não recomendo uma outra linha, não, a não ser Natura. Sinceramente falando, eu gosto muito dos produtos deles.
P/1: Qual que a senhora gosta mais, assim, que a senhora tem paixão?
R: A da linha Chronos - é a linha que eu uso. Agora, o que eu adoro na criança [e] no bebê, a linha bebê. O perfuminho da linha bebê, a colônia.
P/1: É uma delícia?
R: É joia, todos meus sobrinhos usaram isso daí. E, de vez em quando, eu também pego pra mim, uso porque fica aquele cheirinho de nenê.
P/1: Aquele Mamãe Bebê?
R: É muito gostoso, tanto do Pica-Pau, como o da linha Mamãe Bebê também. E minhas, as amigas quando elas têm nenê, eu dou o perfuminho pra elas. Também porque elas adoram, que o nenê fica gostoso, você pega aquele nenê assim, fica aquele cheirinho gostoso, né? E na linha Mamãe Bebê também existe aquele creme de massagem que você trabalha com uma criança. Isso é muito importante pra uma criança quando nasce, por exemplo. O contato da mão da mãe na criança, a massagenzinha na criança também, na barriguinha, nos pés, na mão, fazendo aquela massagem, aquilo é gostoso. Você sente o contato da criança com a mãe, é um aconchego, certo? E perfume também é uma coisa que tem, gosto muito das lavandas deles também. Porque o perfume também que tem o do pau-brasil também é muito gostoso. É mais caro, vem naquela concha de cerâmica que é uma maravilha também aquilo. Mas a água de colônia deles ali, é gostoso porque quem passa perto de você sente aquele cheirinho de limpeza. Você se habitua com o cheiro. Você não sente, mas quem passa por você sente. Às vezes eu vejo os homens na rua passando, Kaiak eu sinto o cheiro, eu digo: “Eita, Natura”. (risos) Senhor (elhe?) e senhor (elhe?) Natura, o pessoal fica rindo de mim. Porque eu passo quando eu sinto o cheiro, a gente está habituada já com o cheiro, daí eu falo, sabe? Daí o pessoal fica olhando pra mim, assim, sabe? Digo: “Pois é Kaiak, Natura, né?”. (risos) É isso aí, porque eu sou muito espontânea. Eu, por exemplo, se estou em algum lugar assim que eu gosto, que eu vejo assim ou que eu sinto coisas da Natura, eu falo, tanto [para] homem como [para] mulher, eu digo: “Eita, Natura”. Eu falo pras pessoas, sabe, e é interessante isso.
P/1: E como que a senhora fez a sua clientela?
R: Eu sou esteticista, certo, e através da estética que eu cuido das clientes, aí eu vou recomendando. Que elas me perguntam: “O que eu vou passar na minha pele agora?”. Aí eu vou passando. Quando a pessoa não pode comprar tudo de uma vez, eu digo pra ela: “Tá bem. Vamos fazer o seguinte, você vai comprar um produto hoje, que você está podendo, e daqui a 10 dias você compra outro, você já faz armazena. Quando você tiver os quatro, aí você começa a fazer o tratamento”. Agora, quando termina, não faça com que termine tudo de uma vez, você vai vendo, termina um, tá chegando agora, porque a primeira compra sempre é mais difícil. Hoje o poder aquisitivo está muito pesado para todo mundo e nem todos têm pra comprar tudo de uma vez. Então você tem que orientar a cliente pra ela poder começar, certo? Aí compra um, depois vai comprando outro [e] quando ela tem os quatro passos, que seria o sabonete, o tônico, o creme, depois passa para o creme da noite [e] passa o creme de vitamina C, e assim você vai conquistando a cliente. Tudo é questão de você conversar, porque se você vai fazer tudo de uma vez, a cliente assusta. Não tem dinheiro pra comprar e vai ficar difícil, então você tem que orientar. Aí você entra com um shampoo, você vai entrando depois com um creme de corpo, com desodorante. Então, cada vez que a Natura vai tendo promoção, você tem que agradar a cliente também, dar a promoção. Às vezes eu brigo com a Natura, que a cliente vê a promoção, chega na hora, você pede [e] esgotou. E você vai fazer o quê? Tem clientes que sabem e acreditam em você, mas tem outras que pensam que você fica com o produto pra fazer revenda depois, pra você ter lucro. Depois que passou a promoção que nós temos de 21 em 21 dias, passa e vê em outra vitrine e você perde às vezes a cliente por causa que ela não acredita em você. Então quando tem, geralmente, esses lançamentos, se eu puder fazer, eu já faço antes. Só que tem às vezes clientes que vão ver depois e você já não tem mais o produto. Tem umas que dizem: "Tudo bem, eu acredito em você, já sei que não tem", mas tem outras que ficam, assim, meio chateadas com você, porque não tem. Aí eu brigo com a Natura. Ai eu ligo pro (Kan?). E o (Kan?) não tem nada a ver. ________________ eu digo: “Vocês não têm nada a ver, vocês são funcionárias”, “E daí passa pra quem?”, “Não porque não tem, daí a senhora tem que explicar pras clientes”. Eu digo: “Às vezes eles aceitam a explicação e outras vezes também não”. Aí minha briga com a Natura é essa, as vezes que eu faço. (risos)
P/1: Agora, quando a senhora faz uma venda, né, qual a estratégia que senhora usa, que truque que a senhora faz assim para....
R: Pra conquistar clientes?
P/1: Isso.
R: Às vezes você já tem alguma coisa em casa, que já vem de produto que você dá, você dá uma amostra de batom, amostra de perfume, você dá às vezes uma porcentagem de 10%, você está entendendo? Então são coisas [que] dependendo da cliente, você tem [que ter] um jogo de cintura com cada uma pra poder conquistar. Às vezes eu faço assim a apresentação de uma maquiagem, passo produto. Às vezes eu faço uma apresentação de uma limpeza de pele, não total, mas pra você saber como ela deve usar os produtos. E a cliente vê o resultado na hora. Porque eu uso o esfoliante que também a Natura tem, pra pessoa que tem a pele oleosa faz duas vezes por semana, tem um esfoliante que você faz uma vez só por semana que é interessante a cliente ter no, passa o do dia a dia também isso daí. Então, são coisas que você tem que ter aquele jogo de cintura pra conquistar a cliente. A pontualidade também é muito interessante. Se, por exemplo, a cliente não tem, você dá uns 2 ou 3 dias pra cliente passar o cheque. Uma pessoa de confiança, aquela que você confia. Porque tem outras pessoas também que você dá o produto e às vezes fica a ver navios. E não pode também isso. Geralmente, desses 25 anos que eu trabalho, nunca levei um calote de ninguém, graças a Deus. Eu entrego o produto, o pessoal passa o cheque: “Posso dar daqui a 2 ou 3?”, “Pode”. “Posso dar daqui a 5 dias?”, “Pode”, certo? E desde que eu tenha dinheiro. Quando chega a duplicata para eu pagar, explico direitinho pra cliente se 5 dias eu posso, porque eu tenho 21 dias de Natura pra eu poder pagar, eu posso dar esse _____. Então, isso é tudo coisas que você tem que saber como lidar com uma cliente, porque senão você dança. Porque tem cliente que, por exemplo, vende o produto, não explica, como essa minha parente. Mas não explicou como: “Não, eu passo o produto”, “Como é que você passa?”, “Passo assim”. Eu falei: “Não é assim”. Fui na casa dela num domingo, certo, que saiu aquele creme de frapê de limão que é excelente.
P/1: Uma delícia, né?
R: Muito gostoso. E eu perdi a última promoção, [então usei] uma que eu tinha em casa [e] servi a cliente. Ela estava pedindo mais dois e tinha acabado a promoção, não tinha, mas eu servi porque eu já tinha pedido pra cliente. Eu fui lá, levei, expliquei, fiz tudo que ela precisava, acabou comprando o frapê de limão também, acabou comprando o perfume que vinha a promoção do pequenininho que agora saiu o outro nessa outra vitrine. Pronto, ela disse: “Agora, quando chegar, você me mostra”. Conquistei a cliente, não porque tenha que tirar de uma outra, não porque a outra já era revendedora de uma outra consultora, quer dizer, essa consultora também não explicou pra menina como devia explicar. A menina comprou o produto, vendeu, repassou, só que não sabe como explicar. Isso depõe muito contra a Natura. É necessário que mesmo que tenham revendedoras de consultoras, que a consultora também explique pra ela como ela deve fazer.
P/1: É por isso que é importante frequentar as reuniões _____?
R: Pois é, ou se não frequenta, ela mesmo pode dar explicação. Ela mesmo pode dar explicação: “Olha, você tem pra fazer isto, você tem que fazer isso [e] isso”, dar os passos como é ela tem que fazer, pra cliente também ficar sabendo. E ela, a menina também, que revende, pra ir se instruindo. Futuramente ela pode ser... Às vezes a pessoa não quer entrar. Se bem que eu estimulo também, né, e como eu lido com uma faixa de gente um pouquinho mais _____, o pessoal não quer entrar na Natura, prefere comprar e tudo. Mas essas meninas que também, às vezes, revendem, eu aconselho que entrem diretamente pra Natura, com elas. Às vezes ela: “Ah, mas eu não sei porque a duplicata vai vencer depois”. eu digo: “Não você não gasta o dinheiro, porque o dinheiro da Natura é da Natura, você pode tirar o lucro pra você, mas o que é dela você põe de lado, faz de conta que não existe, pra quando chegar a duplicata, você ter”. Você vai tendo crédito na Natura. Porque se você não fizer isto, quando você entra, tem um limite que são de 250 contos. Passando disso, você não pode. Depois de 3 meses, o terceiro pedido que você faz, aí você começa a ter crédito, vai pra 300, vai pra 400. Eu com 25 anos, já tenho 33 mil e não sei quanto. Às vezes quando eu passo meu pedido, eles dizem assim: “A senhora tem 33.450”. Eu digo: “Que bom se eu pudesse fazer esses 33.000”, eles dão risada do outro lado. (risos) Seria bom se eu pudesse ter 33.000 pontos, é produto pra caramba.
P/1: É um caminhão né? (risos)
R: É um caminhão. (risos)
P/1: Dona Lucia, qual é a região que a senhora mais atua? Como chama o setor da senhora e qual o perfil dos clientes?
R: Olha, querida, eu ando pra tudo quanto é canto de São Paulo, porque atendo cliente em casa. Eu vou pra Raposo Tavares, Washington Luiz. Eu vou aqui... [Em] São Paulo, se você me perguntar os bairros, tem vezes clientes que chegam pra mim, amigas: “Lucia, eu preciso ir em tal lugar, você sabe qual o ônibus que tem?”. (risos) Eu digo: “Sei, você toma esse ônibus assim e vai até lá”.
P/1: A senhora vai de ônibus a esses lugares todos?
R: É, tudo. Às vezes a pessoa tem carro, eu falo “carro nas pernas”, meu carro é nas pernas, vou pra Moema, tenho uma cliente na Alameda dos Aicás, eu desço na avenida Ibirapuera, subo seis quarteirões a pé com minha maleta que pesa 7,5 kg. Eu boto a mochila nas costas e vou embora.
P/1: Vai de mochila?
R: Vou de mochila.
P/1: Bárbaro, hein?
R: Porque eu levo todos produtos, eu atendo o cliente em casa. Eu tenho que levar todos, porque às vezes eu vou [e] tem um parente, alguma coisa, quer, dependendo do tipo de pele, pele oleosa, pele seca, pele mista e daí pra frente. E se eu levar só o que eu vou _____, e se chegar alguém que quer fazer, eu não posso fazer, então eu levo, eu levo tudo atrás. Quando é maquiagem, eu vou com uma maleta aqui na mão, o estojo, a outra pendurada aqui, fica parecendo aqueles vendedores ambulantes. (risos) E você tem que mostrar pra cliente. Maquiagem você tem também que passar. Às vezes você passa uma sombra, um blush, um batonzinho e a cliente fica toda entusiasmada. Eu dou um retoquisinho no rosto com o creme, passo um adstringente, tudo que eu uso pra cliente. Aí você passa, a cliente olha no espelho e se sente bem. E daí você estimula a cliente a comprar. “Não, hoje você compra isso, o batonzinho, amanhã você compra um blush. Depois você compra uma sombra. Você merece, tem que fazer então”. Esse jogo de cintura você tem que ter com a cliente, senão você não consegue.
P/1: Dona Lucia, não sei se vou ser indiscreta, mas, assim, a senhora fala a idade que a senhora tem? Essa disponibilidade, o que elas falam disto?
R: Eu nunca escondi. Sempre recebo elogios, porque com a minha idade não é fácil.
P/1: Porque a senhora não aparenta a idade que tem.
R: Certo. Outro dia eu fui, não me lembro onde foi que eu fui, que o homem deu um tapa na cara. Disse: “Não é possível. Não, você não tem [essa idade], não é possível”. Bom, eu digo: “Então veja minha carteira de identidade, está aqui”, “Não é possível, você foi registrada”. Eu falo: “Olha, filhinho, onde eu nasci não tem contrabando de carteira”.
P/1: De registro geral. (risos)
R: De registro. Eu nasci na Itália e ali eles são muito rigorosos, é tudo direitinho, na hora. E tem gente que eu conheço, o padrinho da minha irmã foi registrar os filhos quando eles tinham 14 anos. E não registrou com 14, registrou com menos idade, com 6 anos, sei lá, senão ele levava uma multa tremenda. Quer dizer, se eles já tinham 14, ele registrou como se eles tivessem 6 anos. (risos) Que é que adianta? Ah, mas a pessoa diz: "Não precisa falar sua idade". Eu digo: “Filha, eu tenho minha carteira de identidade, não mente”. Eu tenho que falar. Nunca escondi minha idade, eu sempre falo.
P/1: Ela faz parte de uma estratégia de venda da senhora?
R: Faz, eu falo. Ela fala: “Não é possível que você tenha essa idade e está trabalhando ainda”. Eu digo: “Trabalho, graças a Deus”.
P/1: Com essa energia toda.
R: Graças a Deus, eu trabalho. “Mas não é possível que você tenha toda essa energia, essa coisa toda.” Ginástica, eu faço ginástica todo dia na minha casa. De 15 a 20 minutos, todo dia, eu faço ginástica. Eu faço uma ginástica tibetana que não é fácil de fazer, certo, mas é rejuvenescedora e eu faço. Enquanto tiver força, eu vou fazer.
P/1: E onde a senhora aprendeu a fazer essa ginástica tibetana?
R: Eu comprei um livro.
P/1: Olha!
R: "A Fonte da Juventude", pode comprar. (risos) É chama-se "A Fonte da Juventude".
P/1: Vale a pena mesmo.
R: Vale a pena.
P/1: E me fala uma coisa, o que é beleza para a senhora? O que é ser bela, ser bonita? Qual o significado de beleza?
R: É você se gostar em primeiro lugar. A beleza vem de dentro. Se você não se gosta, se você fica sempre mal humorada, porque por mais que você tenha problemas na sua vida... Tenho bastante, estou passando uma fase difícil agora, por exemplo, tenho um apartamento que aumentou muito agora [e] vou ter que sair, empregada que tínhamos há dez anos, mandamos embora. Então, nós estamos passando uma fase muito difícil, mas não é por causa disso que eu vou esmorecer. Eu não sei pra que lado eu vou, acho que a família vai se destruir, cada um vai pra um canto. E eu também não sei pra onde eu vou, o que vou fazer da minha vida, mas não é por isso que o mundo vai acabar. Eu tenho que lutar. Então a beleza pra mim é uma coisa que vem dentro de você. Tem dias que você se sente, assim, chateada. Depressão comigo não existe, porque eu não dou margem pra depressão e não quero saber de depressão. E outra que eu me olho no espelho, que eu vejo meio abatida, lá vou lá eu passo creme, (risos) ______, limpo, já passo um negócio, faço uma massagem, alguma coisa, pra mim me olhar no espelho e não me sentir deprimida. Eu quero me sentir bonita, eu quero me sentir bela, mas é uma coisa que tem que vir de dentro de você. Então, a beleza está aí, [de] você se sentir, não se entregar. “Ah, mas eu já passei da idade”. Imagine, a idade não tem nada a ver, você tem que lutar pela vida, porque a vida é uma passagem nossa aqui. Nós temos que passar por aquilo que Deus determinou. E se você se entrega, você vai passar do mesmo jeito, só que jogado, e isso eu não quero. Então, pra mim, a beleza está aí, a luta que você tem que ter pela vida, [de] você não se entregar. Porque hoje você dá um passo, amanhã dá dois, dá três e daí pra frente você vai. Então, é um exemplo de vida que eu dou pra vocês, porque até hoje, com a idade de 81, partindo pra 82, tudo aquilo que eu almejei na minha vida, eu não consegui. Eu adoro piano [e] antes da mamãe morrer, estava aprendendo piano. Já estava tocando valsinhas de Schmoll, certo? Mamãe faleceu, minha vida mudou. Eu queria estudar mais. Adoro estudar [e] saber, mesmo na minha profissão. Agora vou entrar numa massagem linfática, tá?
P/1: A senhora está sempre se atualizando.
R: Sempre estudando. Eu adoro, só não faço mais curso por parte financeira, porque os cursos são caros, são 330, são 400 pra fazer. Então, se eu tivesse acesso, muita coisa eu faria ainda. Eu tenho vontade. Eu vejo jovens que às vezes precisam, tem oportunidade de fazer e jogam fora. Vocês são jovens ainda, têm uma vida pela frente, então lutem: aí está a beleza. Não é só você por fora, você tem que ter a beleza por dentro também. Se você não tem esse ânimo, essa batalha... Eu, quando ando na rua, quando me acontece alguma coisa, digo [que] ninguém pode comigo. Só existe uma pessoa no mundo [e é] aquele lá de cima. Esse pode. O resto? Aqui não. Me balança, mas me derrubar não vai derrubar.
P/1: O que é que a senhora acha de bonito na mulher brasileira?
R: Olha, a mulher brasileira, pelo que... Eu nunca viajei assim pro exterior, mas o que eu leio, o que eu vejo: a mulher brasileira, eu acho a mulher mais bonita do mundo. Porque a mulher brasileira, ela se cuida, a mulher brasileira tem o corpo bonito, ela procura se valorizar ao passo... Não quero menosprezar nenhum país absolutamente, são meio obesos, não cuidam de si. Então, quando os estrangeiros vem pra cá, eles se encantam, principalmente no carnaval, que eles veem aquelas meninas dançando, cantando, aquela coisa toda, eles ficam, assim, alucinados de ver porque a mulher brasileira, eu acho a mulher muito bonita, a mulher brasileira. É claro que existem aquelas que não se cuidam também, eu não digo em um modo geral, mas na maioria. Hoje a mulher brasileira está se cuidando muito, principalmente a jovem. Agora, o que eu não acho assim das moças de hoje, por exemplo, é esse tal de botox. É de fazer, como é que se chama... Enxerto de mama. Meninas ainda que estão na flor da idade [e] já passando por isso. Isso eu sou contra, sinceramente.
P/1: Essa beleza artificial.
R: Artificial. Eu gosto da beleza natural. Eu, com a minha idade, com 81 anos, este corpo que você está vendo... Se eu disser pra vocês que esse meu vestido, [há] quantos anos eu tenho, você vai dizer [que] não é possível. Tem mais de 30 anos, (risos) e eu estou entrando dentro dele, tá bom?
P/1: A senhora toma cuidado com o peso? Com o que a senhora come?
R: Bom, eu sou o tipo... Não, não que eu seja. Eu, por exemplo, não gosto de coisa gordurosa, não gosto de manteiga, de carne de porco, nada dessas coisas. Salada eu como sem tempero. Graças ao bom Jesus que eu digo [que] em boa hora ele me deu uma saúde maravilhosa. Não tomo, a única coisa que eu tomo de remédio são pros ossos.
P/1: Ah, sim.
R: Que isto eu tenho muito cuidado, com os ossos. Ginástica que eu faço a mais de 10 anos. Isto eu já fazia quando eu estudava, depois deixei uma parte, agora continuo fazendo. Então, de 15 a 20 minutos por dia, quando eu tenho mais tempo - vai mais tempo, quando não, eu faço -, mas não deixo de fazer pra movimentar o meu corpo. Seria pro meu próprio benefício e por vaidade também, porque eu não gosto de ser obesa, sinceramente falando. Então eu como no limite, eu levanto da mesa com vontade de comer mais, mas se eu fizer isto, me sinto empanturrada, assim, “fastiada”. Eu preciso sair, preciso movimentar. Então eu me conheço, eu como isso. Não tomo muito líquido nas refeições. Agora, vinho é uma coisa que eu adoro, italiana, [né?] Aí eu tomo um tanto assim no almoço e um tanto assim na janta.
P/1: Todo dia?
R: Todo dia, eu gosto. Do vinho, eu gosto.
P/1: Faz muito bem pra saúde né?
R: Faz. Você sabe que na França e na Itália o índice de colesterol é mínimo? Então, se atribui a grande quantidade de vinho que se consome. Eu tenho muita resistência, mas agora o que me derruba é a cerveja. Gosto sim, não vou dizer pra você que não, mas eu tomo um copo e daí a pouco eu começo a ficar mole, começo a bocejar, começo a ficar assim. Me dá, assim, não sei se é a cevada, não sei o que é, me dá moleza. Agora o vinho me estimula. (risos) Olha, [o] que me produz 3 copos de vinho, um copo de cerveja me derruba. (risos)
P/1: Que ótimo.
R: Eu gosto do suave, do tinto. Agora, o seco eu não gosto muito não. Eu gosto do suave, aí do suave eu tomo bem. (risos)
P/1: É, vamos encaminhar para o final da entrevista. Tem alguma pergunta que vocês querem fazer? Ju?
P/2: Tem uma que não quer calar: a senhora tem uma visão de mundo, né, bem ampla. A Natura alterou, ela acrescentou mais coisas ainda nessa visão de mundo?
R: Muito, a Natura aumentou muito. A Natura tendo o passo que vai, eu acho que ninguém alcança mais. Ela está evoluindo cada vez mais, tá aumentando cada vez mais. Os produtos dela são excelentes, são de boa aceitação. Eu faço votos que a Natura progrida, mas progrida muito. Eu não sei por quantos anos eu vou viver e eu gostaria que Deus me desse essa sorte, até quando ele determinou, que eu continue com a Natura. A não ser que, mesmo que eu ganhe em um loteria esportiva grande também, aí eu vou comprar pra mim, pra consumir (risos) e vou continuar com a Natura até... E quando chegar o meu dia de ir, que a Natura então lembre de mim, me faça um retoquezinho para eu ir bem bonitinha dentro do caixão. (risos)
P/1: Que ótimo. Dona Lucia, se a senhora fosse fazer um autorretrato, se autodefinir, como que a senhora se definiria?
R: Vamos ver. Eu gostaria, sinceramente falando. Vamos ver, se eu tivesse essa experiência de hoje, uns trinta anos pra frente, muita coisa eu não teria feito. Eu agiria de uma forma completamente, não com relação a Natura, Natura eu continuaria sim fazendo. Trinta anos atrás já conhecia sim, porque eu conheço a Natura há 36 anos, 35, porque ela fez... Está partindo pra 36 e mesmo antes dela ser divulgada já conhecia o seu Luiz Seabra. Ele não me conhecia, mas eu o conhecia, porque eu fiz o curso no Senac em 1974. Mas, antes disso, eu já era consumidora, já conhecia os produtos. Tanto que o curso que eu fiz no Senac tinha muita coisa da Natura. Então eu me definiria assim num sentido, de vamos dizer, de divulgar mais, de fazer coisas completamente diferentes daquilo que fiz, porque perfeitos nós não somos, todos nós temos nossos defeitos. São coisas que você não pode voltar pra trás, mas é errando que você aprende. Você erra e daí vai vendo a experiência da tua vida. Muita coisa talvez eu não tivesse feito. Por exemplo, essa história de eu ficar apaixonada só por um homem. Eu não aconselho a ninguém fazer aquilo que eu fiz, sinceramente falando. Eu acho que a vida continua. Você se anula nessa parte, então eu não aconselho que nenhuma jovem faça o que eu fiz. Se anular completamente, quer dizer, eu me atirei ao trabalho o mais possível, este foi o meu melhor amigo e continua sendo. Porque você estando trabalhando, a sua mente trabalha, eu puxo muito pela minha mente - não faço conta em calculadora nenhuma, eu faço pela minha cabeça, faço palavra cruzada. Quando vocês tão fazendo ali... Eu não sei fazer conta na maquininha, eu me atrapalho. (risos) Enquanto tá fazendo uma, eu já vou puxando ali e já faço tudo assim. Mas faço mesmo para eu puxar minha mente. Porque é uma coisa que eu acho muito deprimente você chegar a uma certa idade e perder assim a sua razão, e eu não quero chegar nesse ponto. Sinceramente falando, eu não quero.
P/1: E dona Lucia, a última pergunta, assim, pra gente encerrar. A gente brincou no começo da entrevista que a sua história dava um livro, uma novela, né? Que é que a senhora achou de ter passado esse tempo com a gente contando essa sua experiência de vida, sua trajetória pessoal, profissional? O que é que a senhora achou dessa experiência?
R: Ótima, achei uma ótima experiência mesmo porque eu conversando com você ou com alguém que vai ouvir, isso seria uma experiência da vida. A pessoa pode se espelhar naquilo tudo que eu já passei. E muita coisa não contei do que eu já passei na minha vida, porque aí eu ficaria aqui horas e horas contando isso aqui. Então o que eu estimulo, o que eu dou conselho pras pessoas [é] que nunca se atirem a vícios, nunca se atirem ao desespero, a depressão. Lute porque a vida é uma luta. Você lutando, você é uma guerreira. Como diz o nosso grande amigo Luiz Seabra: “Meus guerreiros e minhas guerreiras”. Então vamos ser meus guerreiros e minhas guerreiras, guerreando sempre pra você subir na vida e não se atirar à lama. Isso não dá nada, dizer a pessoa: "Eu me atirei na droga porque não tive pai nem mãe", eu fiquei com 20 anos sem mãe e sem pai. O pai eu tinha, eu perdi meu pai com 86 anos, mas eu digo com toda a sinceridade, amava meu pai, o meu pai, minha mãe e dei o máximo de mim, o que eu pude e o que eu não pude. ________eu tenho uma consciência tranquila com isso. Papai amputou uma perna [e] graças a Deus, depois de oito dias, ele faleceu, mas foi uma coisa terrível pra nós, certo? Mas não é por isso que você vai se atirar na lama, por causa disso. Não, você tem que ir e progredir. Vocês que são jovens também, que sirva de exemplo pra vocês: nunca se atirem a vício nenhum, por maiores que sejam as suas circunstâncias. Porque a vida tem o valor [com] você lutando, porque tudo aquilo que vem pra você de mão beijada, você não dá valor. Uma das coisas que eu vou contar pra você, quando eu comecei a trabalhar, tinha a casa Henrique, na rua Direita [e] toda vez que eu passava na vitrine tinha um porta nota, eu namorava todo dia aquilo ali: “O dia que eu tiver dinheiro eu vou comprar esse porta nota”. E passou muito tempo, aí eu fiz um trabalho no escritório e ganhei uma gorjeta. Coisa que não era permitida, mas não sei porque razão ele achou que devia dar e acabou dando aquilo ali. Pois eu fiquei satisfeitíssima, eu fui na loja casa Henrique e comprei o porta nota. Só que esse porta nota (risos) ficou comigo nem uma semana. Eu fui na feira aqui na Bela Vista, certo, e se aproximou de mim uma pessoa, puxou da minha carteira o porta nota. Eu não percebi. Eu tava na banca, fui comprar umas coisas, que era aniversário do meu sobrinho e fui comprar. Quando eu ando mais pra frente, eu vejo minha amiga dizer: “Mas que é que você tá fazendo toda chique na feira? Comprando agora na feira com esse chiquê todo e sua bolsa aberta?”. Eu digo: “Que bolsa aberta?”, quando eu fui ver cadê a minha carteira? A carteira sumiu, roubaram a minha carteira. Então aquilo ficou, perdi a carteira ____, mas eu ganhei aquilo. Comprei, satisfiz minha vontade, mas, ao mesmo tempo, perdi a carteira. Não por isso deixei, toquei o barco pra frente.
P/1: Tá joia. Então, obrigada pela entrevista.
[Fim do depoimento]
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