Aprendi gostar de ler ouvindo as histórias contadas por minha avó e minha mãe. E toda minha infância e adolescência foram assim, permeadas de muitas histórias, poucos livros, dos de auto-ajuda, fotonovelas, romances até os clássicos brasileiros.
Uma enorme curiosidade em tudo o que poderia ...Continuar leitura
Aprendi gostar de ler ouvindo as histórias contadas por minha avó e minha mãe. E toda minha infância e adolescência foram assim, permeadas de muitas histórias, poucos livros, dos de auto-ajuda, fotonovelas, romances até os clássicos brasileiros.
Uma enorme curiosidade em tudo o que poderia haver além da minha janela. E até que a vela que me iluminava se acabasse.
Fiz meus estudos iniciais na Escola Isolada do Parque Estadual de Vila Velha, lugar bonito, região situada próxima a Ponta Grossa, onde podia se ver o “choque entre o azul e o cacho de acácia”.
Dei continuidade aos estudos na Casa da Criança Sant’Ana, e no Colégio Sagrada Família, cursei o magistério.
Descobri-me professora quando precisei dar uma aula sobre a Grécia, fui elogiada pela professora e uma nova leitura de mundo surgia em minha vida.
Sou professora, Pedagoga com habilitação em Educação Infantil pela UEPG, especialista em Metodologia do Ensino da Arte pelo IBPEX e Literatura pelo ESAP, 26 anos de magistério e dezenove dedicados à prática e a pesquisa das questões literárias.
Numa linha do tempo, poderia dizer que em 1980 foi quando iniciei minha carreira de magistério dando aulas na mesma escola em que fiz as séries iniciais.
Em 1986, fui fazer teatro, onde conheci textos de teatro, autores, atores e o Américo, com quem contraceno na arte da vida.
Mas foi em 1988, com a chegada do meu primeiro filho, no dia da biblioteca, Luam, que revisitei minha vocação recebendo uma porção de livros de literatura infantil para catalogar e nunca mais parei de ler, reler, as histórias e as ilustrações, conhecer autores e também de ter filhos.
Em 1990, veio a Amelu, linda como o choque entre o azul e o cacho de acácia. Em 1995, o Iam o meu amigo e filho querido.
E para os três contei e li todas as histórias que quiseram ouvir.
Em 1988, passei a dedicar-me à função de Dinamizadora de Salas de Leitura da Escola Municipal Dr. Raul Pinheiro Machado. Projeto reconhecido pelo CENPEC, publicado no livro "Raízes e Asas".
Em 1996, coordenei a sessão de Literatura Infantil e Salas de Leitura na Secretaria Municipal de Educação.
Em 1997, passei a desenvolver projetos de incentivo a leitura, como Morada da Leitura, na Biblioteca Pública, Brinquedoteca Ler e Brincar também é Cultura, no interior de um ônibus e NIFAL, na Usina de Conhecimento.
Em 2001, dei aulas para o programa de aceleração e projetos de leitura na escola Theodoro Batista Rosas.
Em 2002, integrei o programa PROLER, comitê instalado pela secretaria Municipal de Educação onde desenvolvi diversas ações como: Chá com Poesia, Leitura na Praça, Hora do Conto, Mala de Leitura, Formação do Professor-Leitor. Coordenei também os programas Cidadão do Futuro,leitura do jornal Diário dos Campos, Fura-Bolo, da empresa Cargil e Ler e Pensar do jornal Gazeta do Povo.
Em 2005, retorno a escola para desenvolver projetos de arte, literatura e leitura de jornal, na escola Frei Elias Zulian.
No decorrer desta história, pesquisando, registrando minha prática, já participei de publicações como:
Práticas Pedagógicas 1993- UEPG.
Compartilhando Experiências Pedagógicas-SME 1995.
Revista Nova Escola – dez 1995.
Cadernos Pedagógicos- SME 1996.
14º COLE – Mala de leitura e Chá com Poesia. 2003.
Participei como Contadora de Histórias das três Feiras do Livro da cidade de Ponta Grossa, em 2002, 2003 e 2004.
Ministrei a oficina “A leitura contada em Verso e Prosa”, em diversas cidades do Paraná e Itararé.
E continuo minha história quando ela já se entrelaça com as histórias dos meus filhos que já estão saindo por aí para contar e cantar histórias para as crianças e voltando para me contar como foi.
É inenarrável a sensação de contar histórias com Luam e Amelu e saber que Iam está lá assistindo e tirando fotos. Eu conto, Amelu dramatiza e Luam faz os sons e intervenções musicais. Cantam também.
Dou graças a vida que me conduziu a outras instâncias pedagógicas já que minha limitação física me impedia de lecionar para crianças pequenas, mas foi somente depois de 26 anos que comecei perceber. Minhas habilidades e gosto pela arte e literatura me levaram para novos ambientes em que não precisava ficar muito em pé o que dificultava minha respiração. Minhas habilidades me readaptaram para o ofício de contar histórias e promover oficinas de estimulo a leitura para professores . O que me proporcionou uma qualidade de vida melhor e continuar a fazer aquilo que mais gostava na profissão.
Os responsáveis pela administração pública costumavam me convidar para participar de projetos de leitura e assim pude desenvolver ações literárias tão importantes.
As políticas educacionais são inconstantes mas o gosto pela vida me ajudou a superar.
Em 2006,sem outra alternativa, de volta a sala de aula durante tres meses seguidos, senti as consequências .
Não sabia que era a parada quase final da minha carreira. O distúrbio respiratório se agravou devido ao retorno a sala de aula, muito tempo em pé, o pó do giz e outros.
E no final de 2006, precisei deixar a escola, a sala de leitura, a sala de aula para cuidar da minha saúde.
Foi então que algumas crianças que foram meus alunos, pediram para que eu as recebesse em minha casa para lermos e segundo eles,não "ficarem com saudades".
Assim foi. Dia 14 de março de 2007 , dia da poesia, nos reunimos em três, na próxima semana em sete e depois mais e mais.
Veio a idéia do escolher um nome e uma marca.
Estava formado o Bando da Leitura.
Toda quarta feira abro o quintal da minha casa para uma porção de crianças entrarem e fazerem arte.
E dai em diante, um novo horizonte surgiu. Cadastro da ação no PNLL, a imprensa dando cobertura, as visitas, o quintal cheio, e a determinação do MINC como Ponto de Leitura.
E se alguém que não me conhece me diz que tenho jeito para lidar com crianças, que poderia montar uma escola eu digo que já tenho um bando. Onde ninguém leva falta mas faz muita falta
Só sei que foi assim
LUCÉLIA DE CÁSSIA CLARINDO
Professora, Pedagoga com especialização em Arte e Literatura
(História enviada em maio de 2010)Recolher