Entrevista de Sarah Lazaretti
Entrevistada por Luiza Gallo e Bruna Oliveira
São Paulo, 15/07/2021
Projeto: Mulheres Empreendedoras - Ernst & Young
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º PCSH_HV997
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 – Sarah, queria que você come...Continuar leitura
Entrevista de Sarah Lazaretti
Entrevistada por Luiza Gallo e Bruna Oliveira
São Paulo, 15/07/2021
Projeto: Mulheres Empreendedoras - Ernst & Young
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º PCSH_HV997
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 –
Sarah, queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R –
Meu nome é Sarah Lazaretti. Nasci em Fernandópolis. E seria o que mais? Minha formação?
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E a sua data de nascimento.
R –
06 de março de 1959.
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E quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai se chama Oswaldo Lazaretti e a minha mãe tem meu nome, Sarah Lazaretti. Na verdade, ela tinha, minha mãe faleceu.
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Você sabe a história de como escolheram o seu nome?
R –
A história é até engraçada. Na verdade, como eu falei, eu nasci em Fernandópolis. Era uma cidade minúscula. Meu pai foi no cartório e falou que queria que eu me chamasse Sarita Lazaretti. E aí, ele falou: “Eu pego depois, eu passo depois aqui, pra pegar a carteirinha”. Quando ele chegou, estava escrito “Sarah” e o meu pai falou: “Mas, escuta, era Sarita” e aí o cartorário falou: “Não, mas Sarita é um diminutivo, então ficou Sarah, que é o nome da mãe. (risos) E foi assim que eu soube, aos sete anos, que eu me chamava Sarah. Não sabia.
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Ah, antes você não sabia?
R –
Não, meus pais não falaram e na minha família, todo mundo me chama de Sarita. E aí, um dia, fazendo prova, eu estava na escola e um dia a irmã me chamou e falou: “Sarita, porque você escreve “Sarita” na sua prova? “, eu falei: “Porque eu me chamo Sarita”. Ela falou: “Não, você se chama Sarah”. Nossa, aí eu fui tonta pra casa, eu falei: “Mãe, a freira falou que eu chamo Sarah” e ela falou: “É, filha, você chama Sarah”. Aí eu pensei e falei: “Só esqueceram de me contar, né? Eu não sabia” (risos). Foi engraçado.
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E você sabe como seus pais se conheceram?
R –
Sei. A minha mãe morava em Campinas e meu pai em Valinhos. E eles se conheceram num footing, lá em Valinhos. E aí, começaram a namorar.
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E você tem irmãos, irmã?
R –
Eu tenho cinco irmãs. Cinco: Maura, Marize, eu, Mariela, Julinha e Paula. E a Julinha chama Julinha, o cartorário daqui deixou. (risos)
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E como é a relação de vocês?
R –
Olha, a gente vive juntas, as cinco. Uma morava fora, voltou etc. A gente anda muito juntas. Briga muito, fica de bem e depois de cinco minutos... Mas estamos sempre juntas. E sempre foi, mais ou menos, assim. Engraçado que depois que cada uma casou, nós ficamos mais unidas do que quando nós morávamos todas juntas, com os meus pais. Porque, às vezes, uma não sabia nem onde a outra estava, era tanta gente e lá vivia cheio de amigas. Mas sempre foi uma relação boa.
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E você sabe o que os seus pais faziam?
R –
Na época que eles se conheceram, a minha mãe trabalhava numa loja e meu pai já era contador.
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E você sabe a história dos seus avós?
R – Os avós, por parte de pai, eram italianos. Sendo que a minha avó nasceu no Brasil e o meu avô nasceu no norte da Itália, em uma cidade que se chama Pomodoro, Promaggiore. E ele veio na Primeira Guerra Mundial, com a família. E aí foram pro interior e se conheceram. Já no caso da minha mãe, são sírios, eram sírios. Da Síria, de Damasco. O meu avô veio com o irmão dele pro Brasil e, depois de um tempo, escreveram pra Síria, falando que queriam se casar, que queriam duas sírias. Aí mandaram de navio, a minha avó e a irmã dela. O meu avô tinha trinta anos e a minha avó chegou com dezessete e casou com ele. E foram infelizes para sempre. Já a irmã dela se casou com o irmão do meu avô e foi “numa boa”. Foi assim.
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E você teve contato com eles?
R –
Com os meus avós paternos, sim, muito. E a gente estava sempre muito junto. Eles moravam em Valinhos e nós aqui, mas a gente ia todo o final de semana pra lá. E por parte da minha mãe, a minha avó morava em Campinas... eu falei que meu pai morava em Campinas... a minha mãe morava em Campinas, meu pai em Valinhos. E o meu avô eu não conheci, o meu avô materno eu não conheci.
P/1 –
E, Sarah, vocês tinham algum costume familiar ou alguma comida? Você lembra de algum cheiro que te faz lembrar essa época?
R –
Nossa! A minha avó materna, a minha tia, a tia mais velha, minha tia Júlia, fazia uma esfiha maravilhosa, era uma “festa” quando ela fazia, a gente amava. E a minha vó fazia uma canja que eu nunca mais tomei na minha vida, uma tão gostosa. Isso na casa da minha avó materna. E na família do meu pai, os italianos, todo domingo tinha aquela mesa enorme, com os tios e os avós. E o meu avô fazia, junto com a minha avó, o macarrão. E eles punham o macarrão para secar em cima da cama deles. Punha umas toalhas e punha o macarrão pra secar em cima da cama deles. E faziam polenta junto, o meu avô ia pondo, a minha avó punha água e ele ia mexendo a polenta. Manjar branco, todas são comidas muito afetivas pra mim. Muito legal de lembrar.
P/1 –
E você lembra da sua casa de infância?
R –
Lembro. Eu nasci em Fernandópolis, mas eu vim embora muito cedo. Eu vim com vinte dias e só voltei lá depois, muitos anos depois, eu já era adulta, com os meus pais e minhas irmãs. Mas eu me lembro da Rua Padre José Garzotti, que é na Pompéia. E nós morávamos lá. E eu lembro dos vizinhos todos, inclusive não sei se você lembra, tinha um livro de Matemática que era do Scipione. E a gente era vizinha do Scipione, eu era amiga de todos os filhos dele, na época todo mundo tinha muito filho. Depois nós fomos para rua Oscar Caravelas, uma travessa da Heitor Penteado, delícia também. E com nove anos eu fui pra essa casa que meus pais construíram e que o meu pai mora até hoje, que é aqui em Pinheiros. Eu lembro de todas.
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E você se lembra porque vocês vieram, saíram da cidade onde você nasceu e vieram pra São Paulo?
R –
Lá era uma cidade muito pequena, do interior, e meu pai sempre foi uma pessoa muito empreendedora e queria coisas a mais. E aí ele achou que teria mais oportunidade em São Paulo e ele veio pra São Paulo. Ele, minha mãe, eu, a Maura e a Marize, nós três.
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E do seu primeiro bairro, chegando aqui em São Paulo, o que é que você lembra? Como vocês brincavam? Quais eram as suas brincadeiras favoritas?
R –
Então, a casa que lembro era essa da Padre José Garzotti, eu era muito pequenininha. Ia muito na casa do Scipione e da esposa dele... como é que que ela chamava? Puxa, daqui a pouco eu lembro o nome dela. E ela tinha um monte de filhos. Era o Nenê, a Conceição, a Duda, todo mundo. A Cândida, que era mais da minha idade. E eu me lembro que naquela época podia fazer quarenta graus mas eu queria pôr meia-calça, sapato, luva de lã e vestido. Eu adorava. A minha mãe não dava nem conta, porque já estava nascendo a quarta lá. E a gente era todas uma “escadinha”. E eu me lembro que um dia, a esposa do Scipione, a mãe da Cândida, me viu na rua daquele jeito com meia- calça, eu tinha uns três, quatro anos. Ela tirou a minha roupa inteirinha, falando: “Onde já se viu, nesse calor você ficar com essa roupa?” Gravou na minha memória, porque eu estava me achando maravilhosa. (risos) E eu pensei: “Minha mãe deixa” e ela não deixou. A vizinha me tirou a roupa, mas não foi por mal. Mas ela achava que era um absurdo, aquele calor e eu com aquela roupa. Foi engraçado, eu me lembro disso.
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E a sua primeira lembrança da escola, você já estava em outro bairro?
R –
Já estava, já estava na [rua] Oscar Caravelas e eu entrei no jardim de infância do Colégio Santa Clara, que tem aqui em Pinheiros. E eu era pequenininha, tinha cinco anos e a minha professora era a Irmã Clarice e eu a adorava. Adorava, achava um amor de pessoa. Adorava ir ao jardim de infância. Estava indo bem, mas eu sempre gostei muito de bicho. E eu achei, acho que foi um cachorrinho ou um gatinho, não lembro. E eu não quis mais ir pra escola. Eu queria ficar em casa com o bichinho e a minha mãe deixou. A minha mãe era um amor também. Ela falou: “Tá bom, fica em casa. Vai pro “pré”, quando você for, começar mesmo”, que daí começam a ensinar a escrever, no pré. Mas eu não completei o meu jardim de infância, que eu quis ficar em casa com o “bichinho”. (risos)
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E como foi o “pré”? Foi em outra escola ou na mesma?
R –
Na mesma escola. E aí eu me lembro que eu tive uma professora que era linda, ela se chamava Ana. Ela ficou comigo até o segundo ano, mais ou menos. E ela era muito bonita, brava pra caramba, mas muito bonita. Ela ia com um cashmere marrom, ela tinha “óculos gatinho”, cabelo preto bem curtinho, umas saias pretas. Nossa, ela era toda estilosa pra época. Ainda mais hoje, eu lembrando, ela era super bonita. Eu me lembro. E ela gostava bastante de mim, mas era super brava. Principalmente com um menino que tinha na classe, “judiação”, chamava Venâncio, hoje eu vejo que ele era hiperativo. Mas, na época, não tinha esse conceito e ela não tinha a menor paciência com ele, eu ficava mortificada de dó dele. Eu me lembro.
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E aí você ficou nessa escola até quantos anos?
R –
Eu fiquei no Santa Clara até a sexta série. O primário era misto e o ginásio era só meninas. Muito, muito chato. (risos) Porém, eu já estava nessa escola desde o pré -primário. Eu bagunçava. Olha, hoje eu vejo, eu era tranquila, mas eu falava demais, eu brincava demais. Aí as freiras, porque era tudo certinho, falavam: “Sarah,” – pra minha mãe – “a Sarita precisa ficar mais quieta. Ela precisa prestar atenção e não sei o quê”. E a minha mãe falou: “Sarita, eu vou tirar você daí, vou tirar, vou tirar, vou tirar” e uma hora tirou mesmo. E me colocou num colégio do estado, que é o Reynaldo Porchat, que é ali na City Lapa. Nossa! No “comecinho”, meu Deus, imagina sair de uma escola de freira, onde tudo é lustroso, tudo limpinho, tudo arrumado e vai pra uma escola estadual. Apesar de que era boa, era bem legal, mas as cadeiras bagunçadas, a “molecada”, nossa! Era menino e menina, era uma confusão. Eu detestei. Mas aí eu fiz a sétima série e já na metade da sétima série, oitava série, eu “curti”, achei legal, achei boa.
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E como foi ir pra um colégio misto?
R –
Olha, foi legal, eu adorei. No começo, eu não curtia muito, porque os meninos tinham aquelas brincadeiras, de enrolar guardanapo e pá, bater na gente. Naquela época podia e a gente se defendia como podia também. Mas fiz amizades, foi legal. Como na minha casa só tinha menina também, aprendi a ver um pouco a diferença de como as meninas se comportam e os meninos. De vez em quando, lógico, tinha uns embates. Eu e o menino da “perua”, por exemplo, a mãe dirigia a “perua” e ele me “enchia”, mas me “enchia” tanto que a gente “saía no braço”. Eu já estava na sétima série, já tinha treze anos. Eu não batia nele não, mas ele me “enchia” tanto, que a mãe dele ficava louca e o largava na rua: “Vai a pé, porque você está enchendo!” No dia seguinte, era aquela “brigaiada” dentro da classe, porque ele era da minha classe. Quer dizer: tinha história viu, lá, ele enchia. Ele chama Fuad Abdala, não vou esquecer nunca. (risos) Ai, ai, engraçado.
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E você mudou mais uma vez de colégio?
R –
Aí eu fui pro Mackenzie. Eu fui pro Mackenzie, lá na [rua] Itambé, pra fazer laboratórios médicos, que eu já sabia que eu gostava da área de Biologia. Fui pra lá, eu tive tanta sorte, porque são três anos o colegial, o primeiro ano foi misto; o segundo ano tinha duas classes: a mista e a feminina, eu caí na feminina; e no terceiro ano tinha duas classes, eu caí na feminina de novo. É a minha sina, essa “mulherada”. Depois fui fazer Enfermagem, que também só tinha mulheres.
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E antes de escolher biológica, as áreas do colegial, o que você pensava, quando te perguntavam o que você queria fazer? O que você queria ser, quando crescesse? O que vinha na sua cabeça?
R –
Olha, eu sempre tive um gosto pelo comércio e também pela área médica, eu achava que eu ia fazer alguma coisa médica. Mas, assim, muito antes eu não tinha certeza. Mas quando chegou na oitava série, tinha um grupo com uma psicóloga, que fez esses testes vocacionais. E eu, naquela época, o que eu encenei, é que eu era uma enfermeira. Então, desde aquela época – olha, isso me veio agora na cabeça – eu já queria fazer essa área, eu queria trabalhar em hospital. E foi, na verdade, o que eu fiz.
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E como foi essa decisão, como foi entrar pra essa área, no colegial?
R –
O colegial... minhas irmãs, várias delas estudaram no Mackenzie e detestaram. Eu gostei, eu adorei. Eu achava legal, engraçado, assim: o intervalo entre as aulas, era um lugar legal. Tinha desde a faculdade, até... o primário não, porque não ficava lá conosco. Mas tinham as faculdades. Ai, era muito legal. Uma faculdade bonita, enorme, uma escola bonita, enorme, antiga. Eu gostei, sim. E eu era estudiosa, muito estudiosa. Então, aprendi muita coisa lá também. Eu aproveitei bem, nesse sentido. Fiz várias amizades, óbvio. E gostei, achei ótimo. Acho que eu não sou de... assim: tem pessoas que questionam muito mais e aí não se adaptam. Eu percebo que eu sou uma pessoa de fácil adaptação, por isso que eu gostei.
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E como foi a época do vestibular?
R –
Aff, aí foi “duro”. Eu já era “cdf” e eu fiz um ano de cursinho, mas nessa época eu queria ir pra Medicina. Nessa época, mais velha, eu queria ir pra Medicina e eu estudei bastante lá no Pré-Médico, na rua Sergipe, que é aquela que encosta lá na Angélica. Estudei bastante, estudei muito. Meu quarto tinha fórmula pendurada em tudo, toda a parede cheia de fórmula, de tudo. Estudava muito, estudei muito. Mas ainda um pouco na dúvida, prestei Medicina no ABC. Prestei Enfermagem na USP São Paulo. E me inscrevi pra fazer na Bahia, Medicina. E eu estava louca, eu namorava já há muitos anos. Eu estava louca pra ir pra Ribeirão, eu queria pegar a segunda opção. Mas como eu namorava há muito tempo, se eu pusesse logo de cara a primeira opção, Ribeirão, (risos) eu achei que ia “pegar mal”. Ó que bobeira, né? Hoje eu jamais pensaria nisso. Mas eu pensei: “Nossa, se eu puser, vai ser chato”. E aí, o que aconteceu? Eu entrei na primeira opção, em São Paulo, na USP. E aí, nossa, a minha mãe ficou numa alegria, porque nós já éramos em seis e o meu pai... a minha mãe depois foi ter uma loja, uma butique. Acho que ela pensou: “Vou ter uma boutique, porque pra sustentar essas seis aí” e é verdade, rla trabalhou, ganhou dinheiro, mas ela também sustentava todo mundo lá, a gente, com roupa. E todas as irmãs, todas as filhas estudavam numa escola particular. Uma irmã fazendo Medicina, a outra fazendo Serviço Social e aí eu entrei na USP. Minha mãe achou a coisa mais linda do mundo, querida, maravilhosa. E eu não tive coragem de fazer vestibular de novo pra fazer Medicina. E hoje, se eu pudesse voltar atrás, pensando, eu teria feito mais um ano de cursinho, para entrar na Medicina. Eu vejo minhas duas sobrinhas, três sobrinhas minhas, entraram na Medicina agora. Gente, olha, eu tenho um pouquinho de dó de não ter entrado. Apesar de eu adorar o que eu faço, eu acho que eu teria sido uma médica muito boa, porque eu adorava estudar e gosto até hoje. Mas puxa, peguei outro rumo, completamente diferente. (risos)
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E como foi a época da faculdade?
R –
Gente, foi uma época muito legal. Eu também estudava muito e era o dia inteiro. A USP é período integral. Então, o prédio da Enfermagem fica na Enéas de Carvalho, muito pertinho do Hospital das Clínicas. E do Instituto da Criança e do Incor, naquela rua. E era uma escola feminina.
Assim, como eu namorava há muito tempo, eu comecei a namorar com esse meu namorado, eu tinha treze anos. Eu estava no Reynaldo Porchat. Com treze anos, comecei a namorar. E namorei com ele até vinte e três anos. É muita coisa, né? Então, todas essas escolas que eu fui passando: Mackenzie, colegial no Mackenzie, a faculdade inteira, eu estava namorando, mas eu sentia falta, isso era uma coisa que me fazia falta. Mas, ao mesmo tempo, era gostoso, porque a faculdade de Medicina ficava junto. E, às vezes, terminava o namoro e sempre tinha umas paqueras com aqueles médicos. Os quintanistas, sextanistas. E a gente lá, fazendo ainda a graduação. Mas era gostoso. Eu tive uma amiga queridíssima, queridíssima da minha vida, que eu conheci lá. Fui madrinha dela, conheci o namorado. Toda a vida nós fomos amigas, desde a faculdade, mas infelizmente ela morreu em 2012, com um câncer de pulmão. E até hoje eu sinto muita falta dela. Foi uma pessoa muito querida e muito importante na vida. Mas, por esses motivos, foi uma faculdade que eu “curti”, que eu gostei. O ambiente hospitalar, como eu falei, eu achava bem legal. Porém, eu já tinha alguma coisa que eu não gostava na faculdade, porque eu não sou uma... lá, a Enfermagem ainda, que foi um dos motivos que eu saí, que eu não me importei de sair. A enfermeira ainda, naquela época, hoje eu já não sei mais, porque estou muito longe, mas a enfermeira ainda era muito submissa ao médico e isso me incomodava muito, porque eu nunca fui assim. Então, tanto é que, quando eu fiz a faculdade, a especialização que eu escolhi foi obstetrícia, por quê? Porque eu tinha uma autonomia muito grande. O centro obstétrico, eu que tomava conta. Tinha as funcionárias e eu que examinava as mães, internava ou não. Fazia o acompanhamento, fazia o parto. Então, era outra coisa, muito diferente. Era onde me dava autonomia e também porque não era doença. (risos) Era uma coisa gostosa. Lógico que, às vezes, tinha problema, mas não é o comum dentro de uma maternidade, de uma obstetrícia, o problema não é esse. Então, eu percebi isso, eu já tinha isso em mim. Eu já percebia e eu falava: “Gente, uma hora eu vou fazer outra coisa, porque esse negócio de ficar, assim, submissa ou tendo que acobertar coisa que acontecia, porque eu era enfermeira e ele era médico, não é pra mim”. Então, com o tempo... e também, eu sou mais ambiciosa. E aí, eu via estacionar lá. Ia ser o quê? Ia ser uma diretora, vamos supor, de hospital. Mas eu queria mais coisas. E logicamente que, quando você quer, você vai procurando, vai olhando os caminhos. E, na verdade, aconteceu de surgir essa ideia e aí eu virei empresária.
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E, Sarah, você lembra de alguma história marcante, nessa época que você atuava como enfermeira, obstetra? Teve algum, você lembra de alguma história, assim?
R –
Nossa, lembro de várias histórias, tinha várias. Na época da faculdade, também tinha, porque eu fui do Hospital das Clínicas, né? Eu era da USP e fazia obstetrícia em vários hospitais, mas principalmente no HC e no Amparo Maternal. E uma história que eu não me esqueço, lá do HC, quando a gente estudava lá, era que eu estava num andar e a gente começou perceber um burburinho, uma coisa: “O que vai acontecer? Vai subir uma criança aí que está mal, não sei o quê”. Que foi, na verdade, uma criança que morava numa favela e acho que os pais dormiram e o bebezinho dormia num caixote, no chão. E, de repente, ele começou a gritar, segundo o pai, ele gritou muito. Quando o pai chegou lá, tinha uma ratazana em cima dele. E a ratazana comeu toda a bochecha do neném. Comeu toda a bochecha do neném, a pontinha do pênis dele. E quando nós vimos... na verdade, eu estava numa área que ele ia subir, porque era a área de cirurgia infantil. Tinha uma área de cirurgia infantil. E quando ele chegou, gente, ele era um bebezinho, aí tiveram que pôr a sonda, pra ele tomar leite. E você via por aqui, a sonda lá dentro, porque não tinha bochecha. Não tinha bochecha. E não sei por que motivo, não consigo lembrar hoje, ele estava com a pele toda descascando e a mãe e o pai levaram dias pra levar no hospital. Então, era aquele cuidado: era antirrábica, antitetânica, anti tudo. Nossa, foi triste e eu não me esqueço desse. E lá na obstetrícia, a gente grava normalmente o que não é bom também. Eu estava no hospital e tem médico que realmente vai viajar, então eles querem –
não são todos, tá? –
adiantar, acelerar, pra eles irem viajar tranquilos, porque era cliente deles, eles ganham, tudo mais. E um resolveu tirar: “Não, mãe, o seu neném está em sofrimento fetal, vamos tirar e não sei o que e pepepe papapá” e tirou em bebezinho, gente, que ele não tinha condições, o cara achou que ele teria, mas ele não teve condições. E o neném nasceu mal e eu peguei o bebê naquele dia. Foi uma cesárea, eu peguei o bebê, levei pro berçário, pro pediatra, pro neonatologista e o neonatologista xingando, falando: “Quem tirou esse bebê?”, aí eu falei: “Foi o fulano de tal”. Ixe! Soltou a “cachorrada”, falou: “Esse bebê não vai viver. Ele é muito novo. Olha como ele está, não está nada maduro”. E, realmente, não viveu. Aí eu vou no quarto, depois de alguns dias, o bebê morreu e a mãe estava lá ainda. A mãe chorando, eu entrei e o médico do lado consolando: “Não, mãe, mas depois você vai ter outro. Ele devia ter algum problema”. Aí você fica quieta, olha aquilo e fala: “Ai, nossa!”. Isso foi ruim também. E eu também não esqueço disso, porque ele mentiu na “cara dura”. Ele que fez aquele bebê não vingar. Um bobo, nossa! Eu me lembro disso também.
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E como você se sentia, participando desse momento da chegada de um bebê no mundo? Como era, pra você, fazer partos? E o que isso representa, assim?
R –
Ai, gente, isso era legal. Muito legal. E tinham outras histórias também. Ai, eu me lembro de uma, que olha, eu era novíssima, gente. Eu fui trabalhar, o meu primeiro emprego foi no Hospital Sorocabana, aqui da Lapa. Na época não era um hospital bom não, ele estava atravessando uma fase muito ruim. Mas me chamaram e eu fui. E me lembro que eu ficava, acho que no sétimo andar, oitavo andar e o pronto-socorro era lá embaixo e eu ficava sozinha na área. E aí chegou uma mãe pra ser examinada e quando eu olhei –
ela era enorme, e eu sou minúscula –
eu não esqueço –
ela já estava com dilatação total (risos). E eu falei: “Mãe, você fez pré-natal? Ela falou: “Não, eu não fiz”, porque eram pessoas muito simples que iam lá. Não deu tempo de nada, calcei a luva correndo, “puf”, peguei o bebê, grandão, bonitinho, nasceu o bebezinho. E eu já mais tranquila, porque eu já sabia os passos. Eu falei: “Bom, agora, ela dá uma relaxada, vai sair a placenta, tarara, tarara”. Ela começa a se mexer de novo, quando eu pus a mão, eu vi que vinha outro, eu falei: “Gente, tem outro! Você sabia que você estava grávida de gêmeos? Ela falou: “Não!” Eu falei: “Ai, meu Deus!” E quando eu vi, o neném estava sentado, era pélvico. E o neném pélvico é um perigo, porque, às vezes, não passa a cabeça, é uma coisa horrorosa. Ninguém faz parto pélvico. Mas eu não tinha o que fazer. Eu comecei a gritar: “Chama o médico! Chama o médico lá embaixo, é pélvico!” Aí saíram correndo pra chamar o médico, mas o bebê vinha vindo. Eu rezei pra todos os santos que eu tinha conhecimento, (risos) eu falei: “Gente, fazei que ele nasça bem, aqui comigo”. E existe uma manobra, tudo, eu estava fresca ainda da faculdade, estava sabendo tudo. Aí nasceu, eu fiz –
eu tremia –
o rebatimento, tudo mais e ele nasceu bonitinho, perfeitinho, saiu. Saiu a cabecinha, que é o que dá medo. Quando o médico chegou, já tinham os dois lá, nascido. E aí eu falei: ‘Mãe do céu! Mãe, vamos botar agora o nome deles de Leandro e Leonardo” e ficou! (risos) Mas eu acho que não existia o Leandro e Leonardo naquela época ainda. Mas ficou o Leandro e o Leonardo. E uma outra mãe, essa também assustou, porque ela já tinha tido uns oito filhos, mais ou menos. A musculatura dela não estava boa. Nasceu uma menininha. Ela quase chocou, porque perdeu muito sangue também. E ufa, foi, passou. E aí ela colocou o nome de Sarita na menininha. Não sei onde está essa menina, essa mulher hoje. Mas ela colocou o nome de Sarita, eu achei uma “gracinha” também. Tem muita história, hospital tem muita história. Mas foi muito bom.
P/1 –
E, Sarah, você chegou a trabalhar, ou antes ou um pouco depois, em outros lugares, em outra área?
R –
Olha, quando eu estava na faculdade, eu falei: “Mãe...”, porque eu queria ganhar dinheiro e aí minha mãe já era comerciante. Ela falou: “Por que você não vende enxoval? Tem uma loja que tem uns enxovais lindos, não sei o quê” e eu estava na faculdade. Então, a primeira leva de mercadoria eram uns lençóis muito bonitos, mesmo. Jogos diferentes, 100% algodão, lindos. Eu tinha o edredom. E eu vendi até não poder mais na faculdade, uma “mulherada”, vendia pras professoras, vendia pras meninas que iam casar, fui e paguei a minha mãe, porque meu pai e minha mãe nunca deram “moleza”, não. Sempre foram muito conscientes e ensinaram a todas o valor do dinheiro, do trabalho e nunca, nunca, nunca ninguém deu trabalho nesse sentido. As seis, olha só. Às vezes, tem gente que tem um, dois e dá “mô trabalhão”. As seis, todas trabalham, são independentes, muito legal isso. E eu vendia enxoval, essas coisas e foi muito bom também. Comprei, vendi, comprei terreno em Valinhos. Comprei carro, fui viajar, tudo com o meu dinheiro. E fiz isso. Então, foi bom. Isso na faculdade, depois comecei a trabalhar no hospital, só que quando eu me formei, com vinte e três anos, já fazia dez anos que eu namorava aquele rapaz, nós terminamos. Quando nós terminamos, a minha amiga Shirley tinha casado. Acabou a minha faculdade, então cada um foi pra um canto. Não tinha mais aquele encontro, não tinha mais nada. Eu fiquei muito mal, muito mal mesmo. Eu fiquei super deprimida, nossa, eu fiquei péssima. Foi quando eu estava fazendo especialização, com vinte e três anos. Fazendo a minha especialização, nós terminamos e eu fiquei muito mal, muito mal mesmo. E aí eu fui, nessa época, chamada pra dar aula numa escola, na Escola Anchieta. Mas eu estava péssima, mas me chamaram e eu me lembro que as minhas professoras falavam: “Você vai dar aula? Mas você não tem tanta experiência e não sei o quê” e o meu pai que viu, minha mãe que via aquilo, que eu estava me arrastando, estava fazendo especialização ainda, mas estava péssima e meu pai falou: “Vai, sim, filha. Vai, que você vai dar conta, eu tenho certeza. Pode ir. Vai, que você vai dar conta”. E eu fui. Foi uma experiência bárbara, foi ótima. Eu formei um grupo, uma classe de auxiliares de enfermagem e eles foram super bem, só teve uma reprovação, mas a “senhorinha” lá era difícil mesmo, sabe? Ela tinha uma dificuldade grande de acompanhar (risos), então eu achei melhor, falei pra ela: “Olha, vamos fazer de novo”. Porque, afinal de contas, aquela mulher ia trabalhar num hospital. E os outros passaram, foi superlegal. Foi uma experiência muito boa e que me deu uma encorajada enorme, mesmo assim continuei fazendo a minha especialização. Claro, fui pra terapia. Tive que ir uma ou duas vezes no psiquiatra, para tomar o medicamento que o psiquiatra deu, porque eu não dormia, não comia, tinha crise de pânico, tive tudo que você imagina. Foi muito ruim mesmo, nossa. Foi um divisor de águas aquilo. Hoje, graças a Deus, eu não gosto nem de lembrar, mas quando eu lembro, okay, eu consigo falar. Mas tinha uma época que eu não tocava nisso, não podia falar a palavra pânico, eu tinha horror. Mas hoje, passou, graças a Deus e foi uma época muito conturbada na minha vida. Aí foi isso, que eu fui dar aula e depois eu fui trabalhar. Trabalhei lá no Sorocabana, que eu te falei, que eu já tinha me formado, que eu era obstetra e tudo mais. No Sorocabana, eu ainda estava muito ruim e aí eu falei: “Não quero mais”. Depois eu fui trabalhar num outro emprego, eu fui trabalhar como enfermeira, mas no São Camilo, daqui da Pompéia, mas aí eu saí e falei pra minha mãe, eu estava ruim ainda: “Não quero mais, mãe. Quero fazer outra coisa”. E a minha mãe contatou uma pessoa, José Roberto Leonel, que foi meu chefe, ele era dono de uma confecção chamada Aliocha. E eu comecei a vender, fui representante dele. E vendi pra caramba também, vendia, nossa! Eu era super regrada, então eu sabia a hora que eu saía de casa e ia trabalhar, abria cliente, não sei o quê. Também ganhei dinheiro, foi bom. Ele me adora até hoje e eu também. Apresentei a minha cliente, pra ele. Ele se casou com ela, eu fui madrinha –
aí já com o meu marido –
deles e tenho amizade com os dois até hoje. Eles se separaram, de uma forma não muito amigável, mas eu sempre falei: “Eu não tenho culpa disso. Eu só apresentei. A vida é de vocês lá”. (risos) Mas eu tenho uma amizade ainda com ele, ele foi muito legal. E fiquei trabalhando como representante um “tempão”, mas aí conheci meu marido. Meu marido é geógrafo e ele trabalhava no IPT, como geógrafo. E eu estava ainda na Aliocha, trabalhando. E ele querendo sair do IPT, porque ele já tinha cansado, não queria mais. E aí ele falou: “Vamos montar uma confecção, você já tem cliente etc”. Não era o que eu queria, mas acabei montando, saí do Zé, né, do Zé Roberto e montamos a nossa confecção e começamos a trabalhar. E foi muito legal, no começo, foi superbom. Trabalhávamos, mas aí veio –
não tínhamos casado ainda –
o Sarney com aquela inflação, que você nem lembra, mas era de 80% ao dia, (risos) semana. Eu errei uma coleção –
mas a gente estava ganhando dinheiro –
foi superdifícil de vender e eu já não queria mais aquilo. Eu já tinha casado, já estava grávida da minha filha, a primeira e eu falei: “Não quero mais”. Aí voltei pra Enfermagem, porque eu fiz, na época tinha uma contratação de emergência pra Erundina e eu entrei. Eu entrei e fui trabalhar como enfermeira, no PA Bandeirantes, ali na Raposo Tavares e foi muito legal também. Foi bem legal e trabalhei lá, foi gostoso. Só que a minha filha já tinha, nessa época, um aninho e meio e aí ela teve uma catapora, que parece que não é nada, mas foi uma catapora horrorosa, que ela teve uma septicemia. Por muito pouco ela não morreu, muito pouco mesmo, ela não morreu. E eu me lembro dessa época, eu também fiquei acabada, acabada. E foi uma época também difícil, viu? Mas ela sarou, graças a Deus, ela sarou. E aí a confecção eu já não queria mais, já tinha saído, já estava lá. Prestei outro exame pra Enfermagem e.... com o que é que eu trabalhava nessa época? Já nem lembro. Ah, eu fui trabalhar em CCIH, trabalhava sempre em um monte de emprego. Trabalhava na CCIH, a Comissão de Infecção Hospitalar. Eu trabalhava no Hospital São Bernardo, em São Bernardo, trabalhava em outros dois aqui em São Paulo, mas era longe pra caramba, eu trabalhava que nem louca, que nem louca. E o Edison tinha saído do IPT e a gente tinha fechado a confecção, antes de ficar com dívida, antes de dar problema, simplesmente fechamos e “acabou”. Ru trabalhava muito e ele fazia compras no Paraguai e vendia. Começou ir pro Paraguai, ele tinha que fazer alguma coisa, ele ia pra lá, comprava as coisas e vendia. E assim nós fomos indo. Depois, o que aconteceu? Tinha confecção com a Marina, depois saí, fui lá pra isso e aí eu entrei no concurso público, para ser enfermeira. E aí entrei em quarto lugar. Eu nem acreditava, porque eu já estava tão longe da faculdade, né? A Shirley, a minha “amigona”, me deu umas apostilas. Eu estudava em casa, com neném pequeno, trabalhando em dois empregos, parecia uma louca. E aí eu entrei. Mas eu entrei e me mandaram lá pra pediatria do Campo Limpo. (risos) O dia que eu cheguei lá, estava um alvoroço e eu também não sabia, porque era enorme aquilo. E aí eu vi, tinha uma plaquinha em cima do bercinho: “Não entregar pra mãe”. Aí eu falei: “Nossa, mas por que não pode entregar pra mãe?” Aí ela falou: “Ai, não, não pode entregar pra mãe, porque ela já matou outros nenéns dela”. Bom, aquilo já me chocou. E aí, naquele alvoroço, eu falei: “Gente, é sempre assim, agitado, aqui?”, ela falou: “Não, essa madrugada morreu um neném asfixiado”. Aí eu falei: “Ah, não, gente, é demais pra mim, eu não estou querendo”. Eu falei não. Eu já tinha saído, eu falei: “Não, eu não quero”. Não dá pra trabalhar nisso, porque é ruim. É ruim, você não tem condições, acontece uma coisa dessa. Talvez hoje eu tivesse mais estrutura, mas não, eu não ia ficar. Mesmo porque eu não gosto muito do funcionalismo... desculpa falar, seja lá quem for. Não é fácil trabalhar, eu prefiro trabalhar na área privada, do que na pública. Os costumes, a morosidade, essa falta, um pouco, de compromisso... não todos, obviamente, mas não é uma coisa que me agrada, nunca me agradou. Então eu não fiquei, saí de lá. Nem lembro o que eu fui fazer, depois eu não lembro exatamente o tempo, mas aí eu fui trabalhar... eu prestei exame novamente... prestei exame não, fui trabalhar no Hospital Indianópolis, como enfermeira obstetra. Fui trabalhar lá. E fui também trabalhar na escola, que a Shirley também me levou. Então, ela trabalhava lá e eu também. Eu trabalhava na área do atendimento e ela trabalhava no berçário. E fiquei lá durante um tempo, no Anglo Latino. Marina fez um ano, dois anos lá. E trabalhava à noite, no hospital. Então, à noite eu ia pro meu plantão de doze horas, chegava de manhã... verdade, eu ia pra casa, chegava em casa umas sete e meia, oito horas, tomava um café, um banho e deitava. Marininha, judiação, tinha quatro aninhos, nem isso, dois. Ela queria ficar comigo e eu trancava a porta, porque eu queria dormir, (risos) porque eu não dormia à noite. Mas aí, no dia seguinte, eu a pegava, ia pra escolinha, ficava trabalhando na escola enquanto ela estudava. Chegava à noite, eu a punha no carro e ia até o estacionamento do hospital. A minha mãe ou o meu marido pegavam a Marina e eu dava o plantão até o outro dia. E assim eu vivia, trabalhando de dia, no plantão noturno e com a Marina novinha, fazendo supermercado, tudo. E foram anos difíceis. Não vou falar que era ruim, não ruim, mas pesado, né? Bem pesado. Mas também eu sou uma pessoa que eu gosto de trabalhar e sempre tive muita energia. Então, eu trabalhava, eu parecia meio “zumbi”, minhas irmãs falam. (risos) Elas ligavam assim: “Sarita! Não sei o quê, não sei o quê lá” e eu falava: “Ããaa”. Eu demorava... fora do plantão: “O que você almoçou hoje?”, elas falavam: “Sarita” “O que eu almocei hoje?” “É, o que você almoçou hoje?”, elas perguntavam. Acho que era pra dar tempo pra eu raciocinar, porque tinha dia, tinha noite que era duro. E aí eu fiquei trabalhando e aí eu saí da escola, porque nós estávamos montando a Alergoshop. Eu e a minha irmã Julinha, que estamos juntas, né? Eu e a minha irmã Julinha, isso foi em 1993. Nós começamos a montar a Alergoshop, fazer, procurar fornecedor, por causa daquela história: a Marina era muito alérgica, a minha filha. Muito alérgica, ela tinha alergia respiratória, alergia de pele e realmente era uma dificuldade, não achava nada pra comprar. Os médicos falavam: “Passa isso, passa aquilo”, não tinha onde comprar. E, nessa época, a Julinha fazia Imunologia e Biologia com um cunhado meu, que é um super alergista também, até hoje. E aí eu falava: “Ai, nossa, não sei o que eu faço. Não acho nada, papapa”, aquela reclamação. E a Julinha comentou também: “Você sabe que os médicos também falam que não sabem onde indicar, pra comprar os produtos. Então, vamos montar? Vamos montar”. Começamos. Aí eu saí da escola, fiquei só no plantão noturno, porque eu tinha que levar dinheiro também, né, pra casa. Plantão noturno, Marina pequeninha, com quatro aninhos, grávida do Caio e trabalhando à noite, “barrigão” desse tamanho. E aí começamos, inclusive, em 1994, o Caio nasceu em dezembro de 1994, nós começamos em 1993 e aí eu fiquei grávida, o Caio nasceu em dezembro de 1994 e nós fomos no primeiro congresso, com a Alergoshop, acho que em setembro ou outubro de 1994. E eu já “grandona”, não lembro se eu pedi licença, porque eu trabalhei até o fim, dos dois. Mas continuei trabalhando ainda no hospital, Caio nasceu onde eu trabalhava. E depois de um tempão, eu saí. Quando eu já consegui sair, porque a gente, no começo, não ganhava nada na Alergoshop, não ganhava. Então, eu tinha que ficar no hospital. A Julinha é sete anos mais nova do que eu, ela morava nos meus pais ainda. E eu tinha que trabalhar. Então, ela ficava mais na Alergoshop e eu ia nos dias que eu não tinha plantão. E levava o Caio, bebezinho, comigo. E assim foi, viu Luiza, foi crescendo e aí eu saí do hospital, fiquei só na Alergoshop e as minhas crianças eram pequenas, mas já não tão pequenas. E nós fomos trabalhando, trabalhando e era uma novidade, porque nós criamos esse nicho no Brasil, não existia uma empresa de produto pra alérgicos. Montamos as lojas, a primeira foi lá na João Cachoeira, começamos a trabalhar e os médicos acharam bárbaro. Nessa vez que eu estava grávida, lá, tinha médico que adorava e tinha médico que falava: “Mas essa ideia, eu que tive!” “Mas o senhor montou?” “Não, não montei!” Bravos. É muito engraçado, teve médico que ficou bravo que nós montamos, porque uns achavam que eles também tinham tido aquela ideia. E eu não sabia, nunca. Ó, “dor de cotovelo”. (risos) Mas muitos adoraram. E graças a Deus, a Alergoshop foi indo, foi crescendo, teve erro, teve acerto. Montamos isso, montamos aquilo. E hoje nós estamos aqui, vinte e sete anos depois, a gente tem a Alergoshop. Hoje nós temos aqui, na Cerro Corá tem uma loja, tem e-commerce. Tem loja no Eldorado, tem loja na Itambé. Tem seis franquias, a gente vende pra revenda, vende licitação. Agora estamos inventando mais uma, que era a única que faltava, que era área de serviços, nós estamos vendo também. Bom, então, chegamos até aqui, dessa forma.
P/1 – Antes de saber um pouco mais de detalhes como foi esse começo, que imagino que deve ter sido bem conturbado, eu queria saber como você conheceu o seu marido.
R –
(risos). Foi bem legal também. Na época, eu estava muito... lembra que eu falei que eu fiquei muito triste, porque eu terminei com vinte e três anos, namorei outros dois rapazes, mas sempre com a cabeça em outro lugar. Aquela coisa de: “Não, meu”. Eu não saía pra me divertir naquela época. Eu saía pra ver se eu encontrava com ele, em algum lugar. Horrível. E assim eu fui indo, né? Namorando, saindo com as amigas, não sei o quê, me recuperando. E quando eu tinha vinte e sete anos, eu estava voltando de um curso de Aids, do Servidor Público, com o carro do meu pai, que era um Landau, na época. Era o carro mais “top, top” que podia ter e eu, como já te falei, pequena, minúscula, naquele Landau dramático, com rabinho de cavalo. Estava voltando do curso, na Avenida Brasil e emparelhou um moço numa Brasília e me olhava e eu olhava e falava: “Ai, nossa, não sei o quê”. Ele olhava, ele falava: “Encosta”, eu falava: “Não, eu não vou encostar” “Não, vamos parar, não sei o quê”, mas ele era bonito pra caramba. Aí eu falei: “Ai, meu Deus do céu. Quer saber? Vou encostar, sim”. Quando chegou no fim da [avenida] Brasil, vai virar, depois tem a [rua] Henrique Schaumann. Eu parei na faixa zebrada, no meio da rua, assim, porque também tinha medo. E ele pensou que ia entrar no carro, eu falei: “Não, dá volta, meu filho, vem aqui fora”. Daí ele veio na janela, a gente começou a conversar etc e tal. E aí, começamos a falar no telefone, mas ele era, gente, a minha amiga falava: “Sarita, você é...”. Na época, tinha dois partidos, um bem conservador, que era Arena e o outro que era o PCdoB, sei lá. E ele era o meu oposto, eu toda janota e ele todo maluco. Ele era mesmo. E ele é nove anos mais velho que eu também, mas não parecia também e aí nós começamos a namorar, começamos a sair, mas ele falava cada coisa, eu tinha medo dele. Verdade, eu tinha medo! Ele falava cada coisa dos amigos e não sei o quê, eu falava: “Ai, meu Deus, esse homem não vai dar certo, não vai dar certo”. E aí, um dia, ele saiu com os amigos dele e com a ex-mulher, mas ele tinha tomado “umas e outras”, bateu na Avenida Brasil, arrebentou toda a perna. E ele me ligava, ligava e eu tinha decidido que eu não ia mais sair com ele, porque eu tinha medo. Sinceramente, ele falava cada coisa, Luiza, que eu falava: “Meu, que mundo que esse homem vive? (risos) Louco!” Imagina: bebia, fumava e eu falava: “Ai, meu Deus!”. E eu toda de scarpin pink, era isso mesmo: scarpin pink. E ele tinha uma casa em Boiçucanga, na beira do rio, maravilhosa. Assim: gostosa, rústica, não tinha luz, era só com castiçal de vela e eu já achava aquilo: “Ai, Jesus amado”. Depois, eu comecei a curtir mais. Mas aí foi assim que eu conheci. Aí ele me ligava, ligava e eu não atendia. E a minha mãe: “Mas, Sarita, ele quer falar com você, só atende o telefone” “Não, mãe, eu não vou, não vou, não vou”. Minha mãe: “Sarita, ele ligou de novo, liga pra ele. Só liga” “Tá bom, mãe”, aí eu liguei e ele falou: “Olha, eu bati o carro, fiz uma cirurgia, eu tô acamado, tô te ligando. Você não vem me visitar?” Eu falei: “Ah, tá bom, vai, eu vou”. Aí fui visitar e aí começamos a namorar e ele já tinha sido casado, mas não tinha filhos. Eu tinha um ciúme de morrer da ex-mulher dele, porque eram todos da História da USP e da Geografia da USP e eu da Enfermagem, que é toda, né... e eu me lembro, eu morria de ciúme, porque ela ia na casa dele e pegava coisa emprestada, falava oi, dava beijinho assim, selinho na boca, eu falava: “Ah, não! Isso aqui, pra mim, já é demais. Não, eu não quero”. (risos) É demais... os amigos dele lá em “Boiçu”, você não consegue imaginar uma pessoa... você consegue? Uma pessoa bem que estudou em colégio de freira, no Mackenzie. Chegamos lá, eu iá lá pra “Boiçu” [Boiçucanga], tudo mais. E aí, os amigos dele, as amigas, todos judeus. Ele não é judeu, mas essa época era os amigos, muito legais até, judeus. E eles tiravam a roupa, todos pelados, pra entrar no rio, eu falava: “Ai, meu Deus do céu! O que é que isso? Não é possível, gente. Acho que não vai dar, não vai dar esse negócio”. Mas no fim, foi indo, foi indo, foi indo. E aí, um dia, eu cheguei, a gente já estava namorando, viajava, tudo mais, mas eu já estava com vinte e oito anos e eu estava muito decidida, eu queria casar. E eu falei um dia, nós fomos em um restaurante japonês e aí eu fui decidida, mas eu não estava blefando, eu estava decidida e falei pra ele, ele tinha se separado, já fazia uns dois anos, ele não estava querendo casar. Eu falei assim: “Olha, eu vou te falar uma coisa: eu quero casar. Então, é assim: eu quero uma resposta sua. Se você quer casar, a gente fica junto, marcamos, casamos. Mas, se você não quiser, não tem o menor problema, eu juro pra você. Eu vou ficar bem e você também vai, mas eu vou me separar de você”. Não que eu morasse com ele, imagina, naquela época não. “Mas eu vou me separar de você”. Ele chorou, chorou... não é modo de dizer, ele chorava no jantar e eu lá comendo. Cada um faz aquilo que quer, né? Eu comendo lá com os palitos, comendo. Aí acabamos e falei: “Então, você vê e você me dá uma resposta, ok? Esta semana”. E aí eu saí pra trabalhar, eu trabalhava ainda lá com o Zé na Aliocha. Estava trabalhando, nisso ele me liga, eu estava numa cliente, ele falou: “Tô aqui no seu pai e eu já sentei com ele, eu falei pra ele que a gente vai se casar”. Eu falei: “É? E o que meu pai falou?” Ele falou: “A Sarita está sabendo? Ela aceitou?”, porque eu não estava lá. Ele falou: “Não, sim, nós conversamos e ela aceitou, sim”. Aí meu pai falou: “Bom, vocês já sabem do que vocês vão viver, onde vocês vão morar, tudo?”. Ele morava sozinho, na Henrique Schaumann. Por isso que ele parou na Henrique Schaumann, um pouquinho antes de chegar na casa dele, porque falou: “É agora ou nunca”. E aí, tá bom, vamos casar. E aí casamos. Fizemos uma festa... eu não casei no papel. Eu sempre brinco que eu sou a concubina dele, eu não casei no papel até hoje, mas já estamos juntos há trinta e quatro anos. E aí fizemos uma festa, um churrasco, na chácara dos meus pais e casamos. E é assim que nós casamos.
P/1 –
E, Sarah, você já pensava em ter filhos? Já era um desejo ou aconteceu?
R –
Não, não, já era um desejo. Eu sempre quis ter filhos e como eu já estava com vinte e oito anos, né, por isso também. Estou pensando aqui: “Não quero ter bebê tão já, mas já estou com 28 anos, o relógio vai girando mais rápido”. E aí eu engravidei e o Edison não queria. Nossa, ele não queria, porque o Edison perdeu a mãe e o pai quando ele era pequenininho. Ele perdeu a mãe quando ele tinha, acho, oito anos e perdeu o pai com dez anos. E foi morar com as tias, mas não tinha mais nem mãe, nem pai, ele tinha um irmão mais velho e eles foram colocados num colégio interno. E isso foi um trauma na vida dele. Nossa! Até hoje, se ele fala do pai dele, o olho dele enche de lágrima. É uma perda, gente, que eu acho que não tem remendo, nada que cure perfeitamente, não tem. E sempre tem... acho que deixa sequelas. E ele não queria de forma alguma, não queria, não queria e eu grávida. Eu tive a Marina com trinta anos, né? Mas eu engravidei em janeiro, em março e tive em novembro. E eu, de novo, naquele “blasézona”, eu falei: “Olha, eu vou ter” e ele chorando: “Não, mulher”. Eu falei: “Outra vez, uma opção tua: se você quer ficar comigo, eu fico com você numa boa e o meu bebê. Você quer ou você não quer?” Ele chora, chora, vai pra cá, vai pra lá. Aí, um dia, ele liga pra tia dele, que também criou ele maiorzinho, depois que saiu do colégio interno e falou: “Tia, eu vou ser pai”. Aí ele aceitou. Ele aceitou ser pai. E aí, tudo bem, foi a gestação, tudo, tive bebê, mas assim: ele aceitou, mas com a Marina, ele ainda tinha, ele não entendia bem. Ele não teve família, né? Como que era a postura dele como pai, como marido. E eu como mãe, eu tinha feito cesárea, uma dor. E leite e peito até não poder ter mais. E ele simplesmente falava: “De final de semana, eu vou pra Boiçu”, eu falava: “Você vai pra “Boiçu”? A Marina tinha quinze dias” e eu falei: “Mas eu não vou pra “Boiçu””. Ele falou: “Tá bom, mas eu tô a fim, eu vou”. Não foi muito fácil, não. Não foi nada fácil, no começo. Aí eu ia pra casa da minha mãe, do meu pai, com a pequeninha. Você imagina a sua mãe e seu pai, com você indo pra lá: “Cadê o Edison?” “Ai, ele foi pra “Boiçu”” Até não ligava tanto, sabe? “Ele foi pra “Boiçu””. Minha mãe só olhava pro meu pai, assim, ficava chateada, óbvio. Mas tudo bem e o tempo foi passando, ele foi se acostumando mais com a Marina e ele é um pai maravilhoso. Para falar dos filhos tem que pôr o babador, porque ele ama, ama, esses filhos são a vida dele. E eu também, eu e as crianças. Porque ele não tem mais ninguém, só tem nós. O irmão morreu, a família dele tem um problema cardíaco... a mãe morreu do coração. O pai estava andando na rua, morreu, com quarenta e poucos anos, a mãe com quarenta e poucos. O irmão com cinquenta e pouco, no Natal. Ele estava no carro com a mulher, iam sair, lembrou: “Ah, tem que fechar a porta de não sei onde, da casa lá”. A mulher saiu, foi lá fechar a porta, quando voltou, ele estava morto, dentro do carro. Então, ele tem isso, na família. Difícil. Então, ele só tem a família dele mesmo: eu, Caio, Marina e a minha família, que é grande e é muito bacana. Então, é o que ele tem. E aí, quando nasceu o Caio, já foi diferente. Com o Caio, ele já queria. Então, foi uma outra época, interessante também. Mas, assim, nessa época eu não tinha o Caio, mas eu trabalhava no hospital, lembra que eu falei? À noite, de dia, à noite, de dia. O Edison foi trabalhar numa ONG –
que ele é todo ligado em natureza, planta, mato, essas coisas –
e ele ia pra área indígena e ele ficava um mês, dois meses na área indígena. E eu ficava aqui, com a minha santa escudeira, a Dedé, que está comigo há trinta e dois anos. E que eu, nossa, devo muito, muito a ela, ela está em uma das minhas fotos. Porque ela, gente, se não fosse ela... e, às vezes, nas brigas, nas discussões, eu falava: “Edison, você toma atenção. Porque, se for pra ficar sem alguém, eu vou ficar sem você. Mas eu não fico sem a Dedé”. (risos) Minha filha, você tem filho? Você tem filho? Espera pra ter, pra trabalhar e vai ser uma doida, você vai ver, quem é que você vai optar. (risos) Não sei, eu acho. Então, ela me ajudou muito. E ele ficava na área indígena, voltava, ia de novo, mas não era ruim também, não. Era bom, também era gostoso. Ficava eu, a Dedé e a Marina. E final de semana ia pra chácara, que a gente tem chácara, ia pra um monte de lugar, com a minha mãe, o meu pai, minhas irmãs, cunhados, era bom. A “criançada”, porque na minha casa todo mundo ficava grávida em par. Eu com a mais velha, a mais nova com a do meio, a do meio com não sei quem. Ia nascendo, tudo em “parzinho”. Então, a gente ia pra chácara, gente, era uma “farra” a “criançada”, tão gostoso. Nossa, muito bom, muito bom relembrar também. Foi um lugar muito importante pra nossa vida.
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E, Sarah, como foi o momento de perceber a alergia da sua filha, imagino que não deve ser muito fácil, como que se manifestava? Qual era o incômodo que ela sentia? Como foi pra você ver isso?
R –
Então, a Marina ainda era bem pequenininha, ela já começou com asma. Ela tinha uma alergia respiratória que piorava. Aparecia sempre quando ela ficava meio resfriada. Ficava resfriadinha, já tinha que tomar cuidado, que desencadeava o broncoespasmo. Ela tinha que usar bombinha, Berotec e era... lógico, você fica em cima da criança. Ia pro hospital, voltava. Não precisou ficar internada com asma, mas ia pro hospital, fazia medicação, voltava e era muito chato, era bem pequenininha. E aí, quando ela cresceu um pouquinho mais, ela teve uma dermatite atópica, ela é atópica, mas ela tinha uma dermatite na perna e no bumbum que, pelo amor de Deus, gente do céu! Era horrível, porque aquilo ela coçava muito, inflamava. Ela tinha vergonha de pôr “shortinho”, de pôr saia, porque aparecia aquilo. E noites e noites, às vezes, ela não dormia, porque coçava muito. E aí eu levantava, dava um banhinho morno nela, punha de bruços, passava os cremes e ficava fazendo esse movimento mesmo na perninha até ela dormir, porque ela, às vezes, não conseguia dormir, “tadinha”. Porque era uma “coçeirada”. E foi bem chato isso. E aí o meu cunhado era alergista também, é alergista. E eu ia sempre lá, pra fazer os tratamentos, tudo. E quando nasceu o Caio, eu pensei que essa menina... gente, ela ficou numa alegria, numa alegria! Porque ela que pediu. O Caio, na verdade, só veio porque ela pediu, pediu, pediu, pediu. Mas ela foi tão chorona, que eu falei: “Nunca mais vou ter neném na minha vida”. (risos) Juro, falei: “Nunca mais eu vou ter”. Ela chorava, até hoje não sei por quê. E chorava. Mas quando ela cresceu, ela começou a pedir nenê, nenê: “Mamãe, eu quero irmão”, eu falava: “Ai, filha”. Foi muito engraçado, eu falava: “Ai, filha, mas a mamãe perdeu o endereço da cegonha. Eu não tenho mais como pedir”. Juro. Nisso eu ia muito pra casa da minha irmã mais velha, que tinha uma sobrinha que nasceu junto com ela, assim, quatro meses de diferença. E aí a minha irmã ficou grávida e aí ela entrou... ela tinha passado o final de semana, quando ela entrou em casa, ela entrou, nem falou tchau pra tia. Ela entrou aos gritos, falou: “Mãe! Pede pra tia Maura, que ela sabe o endereço da cegonha”. (risos) Falei: “Ai, meu Deus, acho que vou ter que ter” E aí me animei e aí veio o Caio, mas foi muito engraçado. Mas a alergia dela foi assim, desde pequenininha. “Marinoca” já me deu vários sustos. O Caio não tinha nascido ainda, ela tinha um ano e meio, que foi gravíssimo o que ela teve, a septicemia, foi horrível. E ela teve isso, foi muito” feio”. Bom, depois, Marina, com vinte e quatro anos, caiu de moto com o namorado, se machucou, teve que fazer fisioterapia, tudo. Depois, Marina, com vinte e quatro anos, teve uma embolia pulmonar, que foi uma coisa louca, muito assustador e com isso nós percebemos, que foram feitos vários exames e aí percebemos que ela tinha uma doença genética, que é uma trombofilia, que é o Fator V de Leiden, que chama, é uma trombofilia. E desencadeou porque a gente tinha ido viajar, fazer uma viagem longa, ela tomava anticoncepcional. Não se mexeu muito na viagem e lá ela começou a inflamar, mas a gente achava que era a bota: “Troca a bota, compra a bota nova. Tá bom agora? Tá bom”. Mas quando voltamos pro Brasil, voltamos no dia 24 de dezembro. No dia 25 eu fui pra Argentina, que eu ia passar o réveillon lá e ela foi com o namorado, o Caio e a namorada, pra Ubatuba, porque a gente tem casa lá. E aí ela me ligou, eu lá: “Mãe, tô com uma dor no peito, assim, estranha”, eu falava: “Filha, não deve ser nada, deve ser gases”, você pensa, gases. Mas aí eu fiquei com aquilo. E aí, no dia seguinte, ela falou: “Mãe, tá pior”. Eu falei: “Então você pega...”, era 31 de dezembro, imagina a estrada. Eu falei: “Filha, você pega o carro e volta pra São Paulo. Volta agora, hoje”. E aí ela não queria, não queria, mas o namorado dela falou: “Vamos, pô”. Quando voltou, ela foi direto pro hospital e uma dor, uma dor, ninguém imaginava que podia ser isso. Ela tinha vinte e quatro anos. Aí o médico foi dar alta, ela falou: “Não vou sair daqui, tô péssima” e quando fizeram, ver o que ela tinha, estava com cinco coágulos no pulmão. E aí eu voltei, consegui voltar. Mas, graças a Deus, ela ficou bem. Tomou remédio por muito tempo, mas hoje a gente sabe, cuida. Então, hoje ela está bem, graças a Deus. E o Caio não, Caio era mais “pé de boi”. A Marina é mais sensível. Operou a garganta, teve que voltar, porque não parava de vomitar, porque não sei o quê, foi reinternada. A Marina é mais complicadinha, mas o Caio é mais “pé de boi”. (risos) Caio foi melhor, mas Caio teve muita alergia respiratória também. Teve um pouco de dermatite, mas teve muita alergia respiratória, mas aí eu já sabia o “caminho das pedras”, certo. Foi melhor, já tinha a Alergoshop, já tinha produto, foi mais fácil de controlar. E hoje ele ainda tem rinite, porque rinite é uma coisa muito difícil de ir embora. Se você encontrar com o que te dá alergia, vai desencadear. Mas todos os dois estão bem, graças a Deus, estão ótimos.
P/1 –
Sarah, como foi o dia que você sentou com a Julinha e decidiram montar a Alergoshop?
R –
Então, a gente se encontrava sempre de final de semana, de domingo. E aquilo que te falei: eu estava naquele desânimo, porque eu não parava de ir no médico com a Marina. Era toda hora indo no médico. E aí, falamos: “Vamos montar etc? Meu cunhado falou: “Olha...”, eu falei: “Mas o que será que a gente vai ter que pôr, né?” E aí meu cunhado ajudou muito, muito, muito. Ele falava: “Olha, vocês precisam...”, porque ele é super conhecido na área, ele ia muito em congresso médico, ele vai sempre, dá palestra e tudo mais. Ele falou: “Olha, vocês precisam ter uma linha de cosméticos com alergênico. Vocês precisam ter a capa antiácaro. Vocês precisam ter contra picada de inseto”, ele falou tudo pra gente. Aí, as coisas foram acontecendo, Julinha pegou o avião e foi para os Estados Unidos na “cara dura”, foi comprando as coisas, pondo na mala e chegou aqui, parecia uma muambeira, cheia de coisa. E na época passava! Olha só, hein, tudo mudou muito. Ela voltou que nem uma muambeira. Pegamos aquilo, alugamos uma casinha desse tamanho na Henrique Schaumann, mas quando ela já vira uma ruazinha e montamos a loja. E aí a Julinha trabalhava mais lá, por causa daquilo que eu te falei: ela ainda morava com o meu pai, não precisava trabalhar, eu tinha que levar dinheiro também. E a Julinha foi muito boa também. Começamos e logo foram pedindo um monte de franquia, a gente não sabia nem trabalhar e aí tinha, nossa... que nós saímos no jornal, uma notinha desse tamanho. Uma das minhas irmãs é jornalista, a Mariela e não sei se foi ela ou ela falou com um amigo e era uma novidade, puseram a gente no jornal e muita gente querendo franquia, a gente não sabia nada. Começamos a trabalhar. E quando saiu essa notinha, o outro jornal viu, repôs também, veio revista, veio tudo: Pequenas Empresas, Grandes Negócios; Silvio Santos; Silvia Poppovic. Todo mundo, nós fomos em todas essas. Acho que só não fui Ana Maria Braga. A Julinha foi em outros, outras entrevistas. E assim foi indo, foi indo e a gente foi vendendo, vendendo. Aí começamos a fazer nossos próprios produtos: os cosméticos hipoalergênicos, que não existiam quase no Brasil, foi uma novidade. E aí apareceu uma moça não sei de onde, de onde que ela “caiu”, que ela fazia, ela falou: “Eu faço essas capas pra você”. Ela era uma graça, a Alice, bem “seriona”. Morava em Alphaville, perdi o contato com ela. Ela começou, fez os lotes, começou a fazer capa pra gente e a gente não tinha mais que trazer de fora. Aí desenvolvemos um produto, acaricida, que é maravilhoso, não precisava trazer de fora. Porque também a gente trazia umas muambas e vinha um cara, com um Opalão velho, entregar aquilo. Gente, era uma coisa, parecia umas muambeiras mesmo e era importação “por baixo do pano” naquela época. Hoje ninguém pode me condenar, eu acho, há vinte e sete anos atrás, se alguém ver isso. (risos) Mas era daquele jeito, daquele jeito. E fomos desenvolvendo a linha, foi crescendo. Desde o comecinho, nós começamos a ir em congresso médico, que eu te falei, em 1994. E aí fomos indo e chegamos aqui.
P/1 –
E pra você, o que representa ser pioneira no mercado nacional de produtos hipoalergênicos e poder impactar tantas pessoas? Como você se sente?
R –
Então, eu acho que é muito gratificante, muito. Porque, assim, é impressionante... é assim: eu acho que pra você empreender, você precisa ter um propósito, porque você empreender, porque você pensa: “Olha, eu quero ganhar dinheiro, eu vou empreender”, é muito difícil, porque empreender não é fácil em lugar nenhum, mas aqui no Brasil, gente, é uma coisa louca, louca, louca. A parte de tributação, de imposto, de cobrança, da visão como a parte do governo vê os empresários, eles não têm orgulho dos empresários. É uma coisa muito horrível de você perceber isso. Então, você precisa ter um propósito. Eu acho que a Alergoshop é uma empresa com muito propósito e um propósito muito claro: ajudar as pessoas com alergia no dia a dia. Eu tive a experiência “na pele” de como é difícil. E eu acho muito legal, porque as pessoas adoram a marca, os médicos adoram a marca e é uma coisa assim: você imagina, você não pode usar um desodorante. Isso faz mal, porque você pode transpirar, você não se sente confortável e, a partir do momento que você consegue fazer isso... Se a tua criança tem uma alergia horrorosa e, de repente, você consegue passar um hidratante hipoalergênico, alguma coisa que ela melhora. Usar uma capa que não te dá mais rinite. Então, gente, é uma coisa muito legal e isso eu tenho muito orgulho, tenho certeza absoluta que a Julinha também, é uma coisa gostosa. Numa época, nós fazíamos bolo de Páscoa sem lactose... mas não é lactose. Lactose é um açúcar, as pessoas têm alergia à proteína do leite, são alergias gravíssimas, muito graves. E aí, nós desenvolvemos um ovo de Páscoa –
também foi uma coisa linda –
sem caseína, sem leite. Eu comprava –
agora eu posso falar também –
só o chocolate kosher. Por quê? Porque eles lavam todo o maquinário, tudo, pra não ter resquício de leite, pra não ter nada de leite. A gente tinha que ter certeza absoluta disso. E aí, isso era feito de uma forma artesanal mesmo. Na minha casa eu tinha uma geladeira, tudo um, um, um, tudo separado e a minha “Santa” Dedé que fazia. (risos) Quando eu lembro hoje, ai, coitada. Mas ela fazia, a gente montava chocolate, embrulhava e fechava e punha laço, não sei o quê. Fizemos muito chocolate, vendia pro Brasil todo. E os pais agradeciam. Eu me lembro muito bem de um pai que chegou na loja, ele estava com o olho cheio de lágrima, ele falou: “Gente, vocês não sabem a alegria que vocês estão me dando, de eu poder dar um ovo de Páscoa de chocolate, pro meu pequeno”, porque ele encontra os primos na Páscoa e só ele não ganha. Ele ganhava ovo de Páscoa de açúcar. E ele falou: “Esse ano ele vai ganhar um ovo de Páscoa de chocolate, igual os outros”. Então, gente, era tão legal e até hoje tem coisas muito legais, muito legais mesmo. Então, como eu me sinto? Eu me sinto muito orgulhosa disso, muito feliz. Eu tenho... eu adoro a minha empresa, adoro.
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E quais foram os maiores aprendizados que você experienciou, ao longo dessa trajetória?
R –
Como empreendedora? Ah, como empreendedora, eu acho assim: você precisa ter uma força de vontade, você precisa ser persistente, você precisa ter um certo estofo pra correr risco. Porque, se você não tiver isso, você não vai fazer nada. Você precisa aprender a liderar pessoas. E eu e a Julinha, imagina: eu sou enfermeira e a Julinha é bióloga. E fomos aprendendo, né, do jeito que dava. E, assim, uma sempre confiou na outra: “Ah, então eu vou fazer isso. Acha que vai dar certo?” “Acho”. “Então vamos. E depois a gente vê se vai dar certo. E se não dar...”. Algumas coisas não davam, ninguém brigava com ninguém nesse sentido, porque não deu. Mas nós duas tentamos. Deu, não deu. E é isso, você vai tendo um pouco mais de confiança, também, em você. Porque você precisa resolver, precisa raciocinar rápido, pra não deixar a coisa estourar. Você não pode deixar pra amanhã, depois de amanhã. Então, você aprende a não ser... como chama? Procrastinadora. Você tem que fazer, porque senão vai dar problema, aprende a ser resiliente, porque tem que aguentar umas coisas, que nem eu acho, aqui no Brasil, que é uma coisa complicada. Primeiro: as leis trabalhistas, que melhoraram muito, podem falar o que for do Temer. Ele pode ter um trilhão de defeitos, como a gente realmente sabe que ele tem, ele não é uma pessoa... mas ele, quando falou: “Escuta, vamos fazer o seguinte: você está acusando a empresa, então agora você vai ter que provar também, porque senão você vai pagar”. Você lembra o Lalau, um “show”, acabou. Isso deu um fôlego maior porque, gente, é impossível. Até hoje, é uma coisa horrorosa, que você estando certo ou errado, o funcionário sempre vai ganhar alguma coisa e isso, muitas vezes, pra quem fala: “Meu, mas ele não merecia um centavo. Ele merecia pagar, olha o que ele fez: isso, isso e isso”. Então, isso é muito complicado, isso é muito difícil pro empresário. E outras coisas também: os órgãos públicos não são fáceis de você lidar. Eles são demorados. Só pra você ter uma ideia, nós montamos uma empresa, porque precisava montar essa empresa pra gente... como eu já te falei: vai aparecendo coisa e você tem que montar. Eu tive que levar todo o estoque para um outro lugar, pagar e o estoque, o lugar onde ia abrir a empresa... estava montada, com ar-condicionado e tudo, esperando a Anvisa. Ela levou dois anos para ir. Dois anos! Eu pagando dois galpões, porque ela não ia. Você chamava, chamava, tudo pronto, a gente esperando e pagando lá, pagando lá. Esperando dois anos, a Anvisa dar o okay dela. Complicado. E hoje melhorou um pouquinho, mas não muito, ainda não melhorou. Eu não tô dizendo que não é importante ter a Anvisa, é bom, é importante, porque ela te obriga a tantas coisas, que você profissionaliza, isso é muito legal, muito bom, dá mais segurança e tudo, só que é difícil, bem difícil. Mas você aprende tudo isso: ter paciência, resiliência, força de vontade, persistência, trabalhar sob pressão, não dormir à noite, pensando nas coisas. (risos) Por isso você precisa gostar muito e ter um propósito, porque senão eu acho que é muito difícil. E também o seguinte: não é todo mundo que nasceu pra ser empresário, assim como não é todo mundo que nasceu pra ser cantor, não é todo mundo que nasceu pra ser médico, veterinário, enfermeira. Então, a pessoa, às vezes, acha que ela tem que ser empresária, mas ela não tem que ser. Ela tem que ser aquilo que ela gosta de fazer,porque realmente não é fácil.
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Sarah, como você conheceu a Ernst & Young? Como foi participar do programa Winning Women, como foi esse momento?
R –
Ah, foi muito legal. Na verdade, eu e a Julinha, nós confiamos muito uma na outra e tudo mais, mas aqui a gente se “pega” bem, a gente briga. (risos) A gente briga, briga, mas continua, está sempre aqui. E nessa época, alguém da Ernst & Young entrou em contato, entraram duas vezes em contato conosco. E quem conversou com eles foi a Julinha. Essa última vez, acho que foi, porque nós fomos da turma de 2017. Então, eles entraram em contato, elas vieram aqui, acho que foi a Marina, não lembro bem, acho que foi a Marina. E elas vieram aqui, tinha que responder umas questões e mostrar como é que foi o início da Alergoshop, falar um pouco da família etc e tal. E tinha uma banca, tinha uma banca de mulheres empresárias e tudo. Inclusive, chegou a Luiza Trajano, no meio da reunião, que ela está sempre super ocupada, tinham muitas. E a Julinha que falou, falou super bem, mostrou fotos, tudo mais, eu estava junto. E aí ficamos esperando e fomos aprovadas. E a nossa mentora foi ninguém mais, ninguém menos que Luiza Trajano. Foi maravilhoso. E a Luiza... nós tivemos uma sorte, gente, imensa. Foi a Luiza Trajano e como facilitadora foi a Priscila, a Priscila... como é que ela chama? A Priscila, puxa, tenho que lembrar. Ela é fantástica. Inteligentíssima, gente boníssima, ajudou muito, muito. E aí a Luiza, maravilhosa, dava cada bronca na gente, vou te contar. Ela é uma pessoa muito humana e rígida, firme, dava umas broncas, porque a gente brigava. E a gente comia pipoca lá. A gente ia uma vez por mês lá no escritório dela. Ela tinha uma memória, gente, ela lembrava tudo que ela tinha falado pra gente, tudo que ela pedia pra fazer: se a gente tinha feito, se não tinha feito. A gente ficava bem “pianinho” com ela, porque ela é brava. Ao mesmo tempo que ela é um amor, carinhosa, ela é brava. E ela devia ser assim com os filhos dela também, porque ela falou que era. E daí, “gente boa” também, só pode ser “gente boa”. E aí, nossa, eu me lembro que um dia ela ficou tão nervosa, porque a gente comia pipoca lá. E: “Você fez isso?” e não sei o quê. E estava a minha... a Tânia Macriani, que desde aquela época, ela é a nossa conselheira, minha e da Julinha. E ela foi uma vez e a Luiza pediu pra ela fazer algumas coisas nossas e aí, não sei se não foi feito, meu Deus do céu! A Luiza pegava a pipoca, comia e dava bronca, nós pensamos: “Ela vai jogar essa tigela de pipoca em cima da gente”. (risos) E ela ficou bem brava, nossa, saiu de lá. Mas ela tinha razão, estava realmente, não era daquele jeito que era pra fazer, era outro. E olha, eu sei que foi um divisor de águas, um divisor de águas. E dali pra frente, mudou muita coisa aqui na Alergoshop. Nós estamos profissionalizando a Alergoshop. A vinda da Tânia Macriani foi bárbara pra mim e pra Julinha, que tínhamos embates. Você imagina: duas pessoas com personalidades fortes também e uns embates aqui. E a Tânia botou ordem na casa, na governança e até hoje eu sou muito, muito, muito grata à Luiza, à Priscila, todo mundo da Ernst & Young, que nos ajudaram muito. E esse projeto é maravilhoso, a Winning Women, maravilhoso. Todo mundo que faz, eu tenho amigas de lá, que não tiveram a sorte que eu tive, que nós tivemos. Então, não teve apoio, depende da facilitadora, porque a facilitadora é tudo também. Se não teve apoio e, às vezes, mas tô sendo injusta. Foi a Luiza Trajano e a Lídia Abdalla do Laboratório Sabin. Só que a Lídia mora em Brasília, então ela ficava menos com a gente. Por isso que a Luiza era todo o mês. A Lídia não, a Lídia não era todo mês, mas maravilhosa também, ajudou muito também. Então, eu sou muito grata, muito. Eu e a Julinha, agradecemos muitíssimo a elas. É um programa maravilhoso.
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E, Sarah, como é seu dia a dia hoje em dia? Como a pandemia afetou a sua vida, desde a área profissional, até pessoal mesmo?
R –
Então, você sabe que em 2019... eu costumo dizer que eu tenho um “santo” muito forte. (risos) Em 2019, eu estava já construindo uma casa na Bahia, que era um sonho que eu tinha, eu queria ter uma casa na praia. E, assim, comprei bem pertinho, lá perto da Praia do Espelho. A minha irmã, a Mariela, já tinha comprado e eu já tinha ido, tinha gostado, isso lá em 2017, mas eu não quis comprar naquela época, enfim comprei depois. E eu estava já construindo a casa, eu estava cansada, bem cansada na época. Estava a Tânia já aqui, a Julinha. Aí, um dia eu falei: “Tânia e Julinha, eu vou querer tirar um sabático. Eu quero um ano de sabático”. Eu vou pra Bahia, eu vou construir, porque construir à distância... construir já é difícil, à distância, é dificílimo. Então, eu quero sair. Combinamos. Eu ia sair em outubro de 2019 e ia voltar em outubro de 2020. Aí, entrei no meu sabático, feliz da minha vida. A Marina mora, a minha filha, no Canadá. Então, ela mora lá, falei: “Vou passar três meses no Canadá, quatro meses no Canadá e vou fazer inglês”, porque eu não falo nada de inglês. Nada, eu falo nada, é vergonha. Aí eu falei: “Tá bom”, me matriculei na escola de inglês e fui pra casa da Marina. Fizemos uma viagem super gostosa, no meu aniversário. Fomos lá pra Los Angeles e ficamos lá. Fomos almoçar no dia do meu aniversário, lá no Píer Santa Monica. Nossa, foi delicioso. Fomos na Disney que tem lá. (risos) Então, você imagina, nós estávamos lá, entrando nos passeios, saía do passeio, punha a mão na boca, aquilo que a gente fazia antes, né? Isso no final de semana. Voltamos pro Canadá. Na semana seguinte, fechou o parque, começou a pandemia. Começou a pandemia, tinha tido uma semana de aula, fechou a escola. Eu falei: “Ai, meu Deus, eu não vou aprender nunca esse inglês”, fechou a escola. (risos) O povo daqui morria de rir. E foi uma época gostosa também, porque a Marina mora num lugar muito bonitinho, mas são apartamentos pequenos e eu não queria ficar perturbando-os, pra quem ia ficar três, quatro meses. Eu falei: “Eu não vou ficar na casa da minha filha e do meu genro quatro meses, né”? Aí eu aluguei uma casa super “gracinha”, mas bem longe dela. E eu fiquei lá. Então, quando estourou a pandemia, eu estava na minha casa. Ela estava na casa dela, aqui em São Paulo. Ninguém sai, ninguém entra. Aquele problema. Mas chegou uma hora, eu sozinha. Aí, a minha irmã que é mais velha do que eu, ligou e falou: “Sarita, sai daí, vai pra casa da Marina! Não fica aí sozinha, que daqui a pouco você não vai poder sair mesmo”. Eu fui pra casa da minha filha e o meu “aluguelzinho” larguei pra lá, um mês de aluguel, em dólar, aí larguei pra lá. Larguei a escola e aí apareceu a notícia: “Vão embora até dia 25 de março, porque senão vocês não entram mais”. Aí tive que pegar um avião e voltar, também, um, dois meses antes do que ia voltar. E eu estava na minha casa, na pandemia, quando estourou. A Julinha “ralando” aqui que nem louca, parecendo uma louca, porque não podia fechar tudo, porque a gente precisa trabalhar, tem vários funcionários, tudo. E o e-commerce ali e a Julinha aqui, trabalhando sozinha e eu lá no meu canto. Aí peguei, estava construindo, morei cinco meses na Bahia. Foi muito bom, pra mim foi maravilhoso. Lógico que, construindo a casa ali, as coisas subindo e faltando material, tudo aquilo, mas eu morei cinco meses lá, maravilhoso e em dezembro ficou tudo pronto. Foi muita gente pra casa, pra passar Natal, revéillon, foi uma delícia. Mas em janeiro eu voltei. Eu voltei dia 13 de janeiro e a Julinha saiu agora, está no sabático dela, até abril do ano que vem. Porque também, no ano passado, a Marina ficou grávida, ela estava super querendo ficar grávida. Ela ficou grávida, eu falei: “Julinha, não vou voltar em outubro, porque o nenê vai nascer em setembro e eu quero ficar mais. Eu vou voltar em abril. “Ai, está bom, não sei o que, né? Está bom”. Mas a Marina perdeu o bebê e eu falei: “Ah, não, mas eu já tinha falado que ia ficar, agora eu vou ficar” e fiquei até abril. Agora ela está fora. Agora ela volta, ela volta depois. Eu fiquei até janeiro. E agora ela volta pelos mesmos, foram seis meses acho, catorze meses, não sei. Ela volta em abril, se Deus quiser. E aí eu saio de novo, já tem outras coisas que eu vou fazer.
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Sarah, eu queria saber o que a Alergoshop representa na tua história.
R –
Nossa, na minha história? A Alergoshop, logicamente, eu gostei dos meus outros empregos, mas a Alergoshop ela me permitiu, primeiro: ter essa vivência de empreendedora, de empresária e ela permitiu eu ter tudo que eu tenho hoje. A minha família é muito simples, no começo eu dormia na cama com a Mariela, (risos) até hoje a gente lembra. Porque já era lá na [rua] Oscar Caravelas onde a gente morava, já tinha cinco filhas e eram dois dormitórios. Então, era minúsculo. E a Julinha dormia no quarto da minha mãe, no berço e as outras quatro, no quarto. E eu dormia com a minha irmã. Mas, assim, meu pai também foi melhorando e todo mundo. Então, não é que eu tive uma infância difícil, não, nem uma juventude, nada disso. Mas, como eu sempre disse, meu pai e minha mãe nunca foram de... não tem mãe e pai que tudo o que o filho quer, dá, não sei o quê. Não, meu pai e minha mãe nunca foram assim. Assim: você consegue o teu dinheiro. Meus pais compraram uma casa pra cada, né? Quer dizer, comprou seis casas e, quando você casava e ia morar na casa, paga o aluguel. Até hoje, paga o aluguel. E assim que nós fomos criadas. Então, eu tive... quando eu casei, a gente era “durango”, “durango” mesmo e eu tinha que trabalhar. Dois empregos, o Edison fazia isso e aquilo, inclusive. Então, eu acho assim: a Alergoshop me permitiu dar boas escolas pros meus filhos, ter uma vida... não é de luxo, absolutamente não, mas é uma vida confortável, gostosa, sabe, que me dá. Eu preciso de segurança e conforto, eu já sei disso. Então, isso eu consegui. Tem gente que precisa de luxo, que precisa ostentação. Não. Mas o que eu quero, eu consegui. Meus filhos viajavam, eu tenho casa própria, eu tenho carro, eu viajo, eu tenho seguro saúde, (risos) meus filhos também, meu marido, sabe essas coisas, que são básicas, mas que são importantes. E a Alergoshop me ensinou tudo aquilo: a ter mais... amadurecer muito, ter uma certa autoconfiança, ter mais... eu não sei como eu seria, se eu não fosse aqui. Mas eu acho que eu seria frustrada dentro da Enfermagem, com certeza, porque daquela minha característica pessoal, que eu não gosto de você... você vê que já tem um certo ímpeto de: “Espera aí, que eu vou sozinha, não preciso ficar dependendo tanto de ninguém”. Então, eu acho que a Alergoshop... nem tem o que falar, importantíssima na minha vida. Muito, muito. Eu tenho um carinho enorme por tudo isso aqui.
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E você consegue dizer qual foi o momento mais importante nessa sua trajetória como mulher empreendedora?
R –
Um momento? Sabe que eu não consigo? Eu não sei um momento, assim, mais importante. Assim, uma coisa que foi muito interessante foi notar que a Alergoshop era uma coisa que... a gente não conhecia nada, mas que o pessoal começou a dar muita importância, que é aquilo que eu te falei. Lá no começo, a gente não era nada. A gente mal sabia, não sabia nada, né? A “chuva” de pedidos, de franquia e as pessoas confiavam. “Ah, então tá bom”. A gente tinha um “contratinho” lá, mais ou menos assim. Eu esqueci de falar que nós tivemos um sócio também, né, nós fomos sócias da IPI Asac, que é uma empresa de vacinas, espanhola, que era o José Carlos Mori, que é o médico e nós. E a gente tinha 50% lá e ele aqui. Mas, no final, a gente separou. Tivemos também uma empresa, a Alergoclin, quem cuidava era o meu marido, que fazia a higienização, a desacarização nas casas, hotéis etc. Mas aí ele desistiu, depois de dez anos, ele não quis mais. Mas eu acho assim, que você vê... e as pessoas: “Põe o dinheiro na conta” “Então, tá bom” e aguardavam a chegada dos produtos, não tinham nem certeza. A gente tinha um ano de vivência lá e eles acreditavam. E abrimos um monte de loja, com o nome Alergoshop. Depois fizemos licenciamento, depois de muitos anos fizemos a franquia. O estudo de franqueamento e franqueamos. Então, são vários momentos que foram importantes. Então, esse começo. Eu viajava bastante para fazer treinamento, em todos os lugares. Conhecer as lojas. A Julinha ficou mais no desenvolvimento dos produtos. A coisa foi tão orgânica que foi indo, foi crescendo, fomos fazendo as coisas. Teve vários momentos importantes. Não teve, acho, que um só.
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E, pra você, o que é ser uma mulher empreendedora? E, além disso, ser mãe e ter que tomar conta de tudo, dar conta de tudo?
R –
Não é muito fácil, não. Uhn, uhn, não é, eu acho que é aquilo, de novo: a criação que nós tivemos. Todas nós somos assim, meio enlouquecidas. E assim: “sem choro nem vela”, tem que fazer, vai fazer e ponto final, entendeu? Então, eu e a Julinha... a Julinha também teve duas crianças, trabalhando já na Alergoshop, tendo as duas meninas dela. Eu tive o Caio, já tinha a Marina. E eu tenho essa irmã, que é jornalista e ela tem a empresa dela também, que é de gastronomia. Ela tem uma revista que chama Prazeres da Mesa e ela e o marido, que faz umas festas, que eu falo: “Gente do céu, eu não faria isso nunca”. Nossa, é um “trabalhão”. Parece doida também. A outra é médica, professora, pós-doc, tudo lá na Escola Paulista, tem três filhos. A Mariela tem dois, casou com o Jorge, que tem dois também. Então, eu, a Julinha, a Mariela. A Paola, essa é engraçada, a mais nova. Ela é veterinária. Super estudiosa, “caxias”, ela é ótima. E ela casou, separou, casou de novo com um texano, foi morar no Texas. Revalidou o diploma, morou lá dez, onze anos. Teve duas crianças, trabalha lá que nem sei o quê. Hoje ela voltou pra cá e casou com o ex marido dela de novo. (risos) Separou do marido, casou, está junto com o ex-marido dela. E que ela namorou dez anos também. Na minha casa todo mundo namora “um monte”. E casou com ele de novo, mas só que, como ela era de lá, o pessoal do Estados Unidos chama, ela trabalha lá e trabalha aqui. Então, você vê, todo mundo... e a mais velha tem uma empresa também com o marido dela. Então, todo mundo é assim. Então, é fácil? Não, não é fácil, mas não é impossível. E uma coisa que muita gente pergunta é sobre... agora maior, né: “Como você é como mulher empreendedora? Como que te respeitam ou não respeitam”. Respeitam. Não tem essa, respeitam. E, assim, se não respeita também, eu nem sei se não respeita, porque eu nem percebo isso, como não respeito. Deve ter, tem muito machão por aí. Teve uma vez só que eu me senti ofendida, porque participei de uma licitação e a pessoa que ganhou, ganhou com o meu produto. Mas, depois, um amigo dele, que também tinha o mesmo produto que o meu, chegou e bateu um papo com ele e ele quis me tirar fora. Nossa, fiquei “p da vida”, nossa! “Subi nas tamancas” com ele e foi muita... mas eu fiquei e ganhei. A Julinha também já teve umas brigas aí horrorosas com logística lá, o pessoal do transporte. Mas esse “negócio” assim, de falar: “Ai...”, eu não gosto muito disso. Esse negócio: “Sou mulher empreendedora, tatata”, não acho que tem muito a ver isso. Existe e eu nem gosto de falar isso, porque assim: falam que homem sempre... essa história, né? E deve ser muito verdadeira, mas eu nunca vi um lugar onde se paga mais pra homem do que pra mulher. Eu nunca vi, porque nos hospitais onde eu trabalhei, tanto o homem, como a mulher, ganhava a mesma coisa. Na prefeitura, a mesma coisa. Quando eu era representante, a mesma coisa. Quando eu fui trabalhar na escola, a mesma coisa. E aqui não existe essa. Eu tenho um cargo, é “x” o valor. Se você for homem e atender, você entra. Se você for mulher e atender, você entra. Eu não sei exatamente, eu nunca vi isso. Mas deve existir, porque tem muita gente fala, deve existir. Eu acho que eu tive essa sorte, de nunca trabalhar em lugar onde a pessoa faz isso. E aqui, não tem essa “conversa”. É: cargo é esse, entra homem ou entra mulher. E entra outros gêneros também, aqui não tem problema isso. Então, eu acho que é difícil sim, é difícil. Eu já tive cansaço enorme, mas dá pra levar, pode ficar tranquila.
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Sarah, queria saber quais são os seus maiores sonhos hoje.
R –
Olha, hoje eu tô com sessenta e dois anos. Então, eu já tô querendo, assim, dar uma diminuída. Não porque eu tô cansada, não tô cansada. Mas eu acho que o mundo mudou e mudou muito rápido, muito rápido. Informática, tudo. E o pessoal da minha época não é tão inserido nesse contexto e muda muito rápido, muito rápido. Então, eu acho que eu estou querendo ver gente melhor do que eu. Já tô querendo ver gente melhor do que eu, pra ficar aqui. Nem que fosse pra ficar em Conselho e a pessoa aqui. Julinha também tem essa intenção. A Julinha, como eu já falei, é mais nova, mas ela também quer. Então, existe isso de ir pro Conselho. Eu quero curtir mais a minha casa na Bahia. Ir mais também pro Canadá. Ficar mais com a minha filha e ficar mais solta. Eu até posso trabalhar em outra coisa, mas eu vou trabalhar numa coisa menor, numa coisa mais pra ocupação. Ou então fazer alguma coisa do terceiro setor. Alguma coisa mais desprendida. Eu já fui, por exemplo, do CVV, Centro de Valorização da Vida. Eu trabalhei lá quase dois anos, eu gosto dessas coisas. Tanto é que fui enfermeira, eu gosto. Eu também ouvia bastante história, muita história. (risos) Nem sempre eram histórias boas de vida, mas eram outros tipos de história, mas bastante. Então, eu quero isso, quero acompanhar meus filhos. Quem sabe eu vou ganhar netos também, eu espero. Mas se não ganhar também... acho que vou, sim, de uma forma ou de outra. Mas vou fazer mais coisas pra mim, vou curtir muito a minha Bahia, meu sol. É isso que eu quero.
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E, Sarah, de alguma forma... você falou que seu pai era empreendedor. Então, eu acho que você cresceu vendo um pouco isso. E você teve a oportunidade de empreender vendendo enxovais, mas depois você teve outras empresas. De alguma forma, você imaginava que você ia chegar onde você chegou? Ou isso não estava assim?
R –
Não foi nada programado, assim: “Olha, eu tenho certeza que eu vou fazer esse caminho e vai acontecer isso, vou ficar aqui”. Mas, sempre muito otimista, sempre muito comprometida e as coisas foram acontecendo. Porque tem coisas que, às vezes, não acontecem, emperra aqui, emperra lá, não dá certo. Não, mas nós fomos. E eu não previ isso, mas eu tinha um instinto que ia dar certo. Mas não foi uma programado: “Eu tenho certeza que tal data assim, eu vou estar assado”, eu não fiz essa programação, nós fomos indo. Como era uma diversão e era muito bom trabalhar, não era um trabalho, na verdade. Não é uma coisa pesada, é uma coisa gostosa. Então, a gente foi, fazia parte da nossa vida. Vir pra cá, trabalhar todo dia, fazer as coisas, resolver, foi assim.
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E queria saber se você gostaria de acrescentar alguma coisa, contar alguma história que eu não tenha instigado, deixar alguma mensagem.
R –
Não, eu acho só aquilo que eu já te falei, que empreender precisa ter um motivo pra isso, sem ser o dinheiro. Você precisa ter uma vontade maior pra isso porque, como eu te falei, não é fácil mesmo, mas é muito gratificante quando você está numa coisa que você gosta, apesar de todas as dificuldades que existem aqui no Brasil, eu acho que vale muito a pena. E é isso: dá, sim, pra ser mãe, dá pra trabalhar em dois empregos, dava. Agora, hoje não. Hoje eu já não quero, acho difícil. Mas dá. Não pode ser cheio de... assim: as pessoas que se preservam demais, eu acho que têm uma dificuldade grande de crescer. Tem que entrar, entra lá no “ringue”, vamos, vamos pensando, com o pé no chão. Mas vai pra frente, vai pra “guerra”, porque você tem que fazer isso, pra você sair do lugar. Se você se preservar muito, você não faz nada. Na minha opinião.
P/1 –
E, por último, queria saber o que você achou de ter dado essa entrevista, ter lembrado um pouco das histórias.
R –
Ai, nossa, eu adorei. Quando a Bruna me ligou, eu não acreditei, eu falei: “O quê?”, porque vocês ficam também na Vila Madalena, né? Ai, eu vou passar lá qualquer hora, a gente pode entrar? Pode entrar?
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Então, é um museu virtual, não tem muito o que fazer na casa...
R –
Ah, não tem lá?
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Mas ficamos na Vila Madalena.
R –
Ó, que legal, então eu entro no site de vocês e aí tem os nomes e eu posso...
P/1 –
Exatamente, navegar.
R –
Olha, que legal. Vou fazer isso, porque eu quero ver. Quando entra lá, a minha?
P/1 –
Mais pro final do ano, mas assim que tiver pronto, a gente te manda. A gente entra em contato, te manda tudo.
R –
E eu tenho certeza, Luiza, que eu vou falar: “Ai, meu Deus, eu devia ter falado isso”. (risos) Acho que todo mundo fala isso, né? “Meu Deus, eu não podia ter falado aquilo”. Mas hoje, o que eu me lembro, foi isso. Teve mais coisa, teve muito mais coisas. Mas também tem um limite pra falar e tem que ser... às vezes, entra muito no detalhe e fica muito complicado também. Mas é isso, adorei, adorei quando vocês me chamaram. Fiquei muito contente. Tive que falar pra Julinha: “Julinha, olha...”, porque eu falei pra Bruna. Falei: “Bruna, mas a minha sócia, não vai, que é a minha irmã?” Ela falou: “Não, dessa vez não”. Eu falei: “Ai, meu Deus”, mas ela estava junto o tempo todo. Mas a Bruna falou: “Outra hora, eu a chamo”. “Tá bom, então”. Porque as duas estavam juntas. É que teve esse outro “lance” aí na vida, com meus filhos, Enfermagem etc. Mas é isso.
P/1 –
E Julinha, de alguma forma, está presente na sua história, né? Além de sócia, ela é sua irmã. Então, te acompanhou.
R –
Sim, a vida toda, a vida toda. Quis o destino que estivéssemos juntas.
(risos) Entre “tapas e beijos” até aqui, mas hoje Julinha está no ano sabático e eu aqui e ao contrário. E gente, como irmã, é maravilhoso, é ótimo. Agora, no trabalho é mais difícil. Mas também estamos juntas, estamos aqui.
P/1 –
Sarah, muito...
R –
Tudo tem que ter força de vontade.
P/1 –
Tudo tem que ter força de vontade. Queria te agradecer muito, foi uma tarde muito gostosa com você.
R –
Que bom!
P/1 –
Foi muito divertido, tenho certeza que sua história... é muito bom ter essa diversidade e várias mulheres poderem se inspirar em outras mulheres. Então, agradeço muito.
R – Eu agradeço também, muito.
[Fim da Entrevista]Recolher