Meu nome é Jair Antonio Meneguelli, eu nasci em 1947 na Maternidade de São Paulo, mas os meus pais já residiam em São Caetano e ali eu estou até hoje, fazem “apenas” sessenta e cinco anos de São Caetano do Sul.
Apesar de nascido em São Caetano, minha vida todinha foi feita em São Bernardo do Campo. Com catorze anos e meio eu fui para o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) pela Willys Overland do Brasil. Me formei no SENAI ali pela aquela empresa que posteriormente foi comprada pela Ford e permaneci lá. Em 1981 fui candidato e eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, fiquei dois mandatos como presidente do sindicato, e logo em seguida, em 1983, simultaneamente ao meu mandato de presidente do sindicato, fui eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores, central essa que eu presidi desde o seu início, durante onze anos.
Fui deputado federal de oposição durante dois mandatos e indicado no Governo Lula para presidir o Conselho Nacional do SESI (Serviço Social da Indústria), o único cargo político que é indicação do Presidente da República dentro de todo o sistema S: SESI, SENAI, SESC (Serviço Social do Comércio), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), SEBRAE (Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas), SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo).
Há mais de nove anos estou como presidente do Conselho Nacional do SESI. E por poder realizar projetos eu me contento mais em ser presidente do SESI do que em ter sido deputado federal, embora tenha sido importante também.
Eu vim para somar, para ajudar, se é uma entidade que tem poder, tem recursos financeiros, se é uma entidade que pode fazer alguma coisa em benefício da população, ali era um lugar bom para mim, com certeza, porque essa foi a minha batalha como dirigente sindical, essa foi a minha batalha no Congresso Nacional como deputado. Aqui é um bom lugar para que...
Continuar leituraMeu nome é Jair Antonio Meneguelli, eu nasci em 1947 na Maternidade de São Paulo, mas os meus pais já residiam em São Caetano e ali eu estou até hoje, fazem “apenas” sessenta e cinco anos de São Caetano do Sul.
Apesar de nascido em São Caetano, minha vida todinha foi feita em São Bernardo do Campo. Com catorze anos e meio eu fui para o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) pela Willys Overland do Brasil. Me formei no SENAI ali pela aquela empresa que posteriormente foi comprada pela Ford e permaneci lá. Em 1981 fui candidato e eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, fiquei dois mandatos como presidente do sindicato, e logo em seguida, em 1983, simultaneamente ao meu mandato de presidente do sindicato, fui eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores, central essa que eu presidi desde o seu início, durante onze anos.
Fui deputado federal de oposição durante dois mandatos e indicado no Governo Lula para presidir o Conselho Nacional do SESI (Serviço Social da Indústria), o único cargo político que é indicação do Presidente da República dentro de todo o sistema S: SESI, SENAI, SESC (Serviço Social do Comércio), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), SEBRAE (Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas), SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo).
Há mais de nove anos estou como presidente do Conselho Nacional do SESI. E por poder realizar projetos eu me contento mais em ser presidente do SESI do que em ter sido deputado federal, embora tenha sido importante também.
Eu vim para somar, para ajudar, se é uma entidade que tem poder, tem recursos financeiros, se é uma entidade que pode fazer alguma coisa em benefício da população, ali era um lugar bom para mim, com certeza, porque essa foi a minha batalha como dirigente sindical, essa foi a minha batalha no Congresso Nacional como deputado. Aqui é um bom lugar para que eu possa continuar ajudando, e foi isso que nós nos propusemos a fazer.
Eu verifiquei que não não era comum no sistema “S” a participação dos trabalhadores nos conselhos, os conselhos eram formados só por empresários. Ora, esse dinheiro vem da contribuição da indústria, quem faz o lucro na indústria não é só o empresário: é o empresário, é o trabalhador, são as máquinas, tem um monte de situações diferentes que produzem esse lucro, então o trabalhador também é parte disto e também tinha que estar nesses conselhos. Eu convoquei todo o sistema “S”, já não era mais só o SESI, convoquei todas as confederações, CNI (Confederação Nacional da Indústria), CNT (Confederação Nacional do Transporte), CNC (Confederação Nacional do Comércio), Confederação da Agricultura, e nós implementamos. Hoje, tem em todos os conselhos nacionais, em todo o sistema, em todos os conselhos estaduais de todo o sistema tem um representante dos trabalhadores desta identidade. Eu acho que isso foi muito importante porque os trabalhadores podem trazer muitos subsídios nessa discussão sobre o que é importante, sobre quem nós precisamos atender.
Depois que eu entrei no Conselho, eu fui conhecer, fui pegar os estatutos, fui ler, fui visitar os estados, fui conhecer os programas, e passando por São Paulo, logo no início, eu verifiquei um programa, que na ocasião se chamava Alimente-se Bem por 1 Real, um programa de reeducação alimentar que ensinava a evitar o desperdício, ensinava a como manusear, como escolher, como comprar, como conservar os alimentos, porque nós temos uma diversidade muito grande no país. Implantamos o programa por todo o Brasil e em outros países com o nome Cozinha Brasil.
Agora, eu acho que a minha paixão, a menina dos meus olhos, é o Projeto ViraVida.
Um belo dia, há mais de três anos atrás, estava com a minha esposa em uma praia em Fortaleza. Em uma hora as mesas encheram de turistas italianos, e eu percebi uma moça de vestido branco que falava nas mesas dos turistas, mais atrás percebi um grupo de umas quinze meninas de todas as idades possíveis, e que, de repente, depois dessa conversa com a agenciadora, eram entregues uma ali, duas aqui, nas mesas dos turistas, como se estivesse entregando uma água de coco, e ali, em plena luz do dia, às onze da manhã, começava o assédio com essas meninas. Isso me indignou, eu tenho três filhas, e qualquer um de nós pode estar nessa situação, não sabemos o que é da vida da gente. No momento eu não podia fazer nada, só estava eu e a minha esposa, o máximo que eu poderia fazer ali era apanhar, me retirei, voltei para Brasília, reuni a minha equipe. Não sou candidato a Deus, não sei se acabo com essa situação, mas era preciso fazer alguma coisa, não bastava eu me indignar, embora o que eu percebi é que as pessoas não se indignavam, todo mundo convive com isso com a maior naturalidade. Não foi a primeira vez que eu vi isso, eu já tinha ido a Fortaleza outras vezes, não vi exatamente uma cena igual, mas parecida, mas eu não tinha enxergado. Dessa vez enxerguei e achei que não podia ficar calado.
Então passamos a idealizar o programa ViraVida que oferecia a essas crianças uma oportunidade, porque eles têm talento, eles têm inteligência, eles só não tiveram oportunidade. Oitenta por cento dessas crianças, estatisticamente, foram abusadas pelas próprias famílias, depois ganham as ruas, tráfico, violência e a morte precoce, é isso que espera essas crianças, e queríamos apenas oferecer uma oportunidade. Claro que, para aquelas que quisessem iríamos oferecer e as crianças que quiserem ter uma mudança nas suas vidas, nós damos a oportunidade, e ainda é pouco.
O projeto chama-se ViraVida, é a virada da vida dessas meninas e meninos, mas virou a minha vida também, virou a vida dos coordenadores, das psicólogas, das professoras que trabalham no programa, virou a vida de todo mundo.
Não é um trabalho fácil, essas crianças vêm, na maioria das vezes, totalmente desestruturadas, seja pessoalmente, familiarmente, vêm semianalfabetas, vêm não acreditando em absolutamente nada, já não têm mais esperança, é preciso convencê-las. Mas quando elas percebem que é uma coisa séria, elas agarram com unhas e dentes. No começo é difícil, as psicólogas, as assistentes sociais, as pedagogas, as professoras têm trabalho. Nenhum de nós tinha expertise para cuidar desse público, por isso que eu estou falando que muda as nossas vidas também, a cada dia aprendemos, a cada relato deles a gente aprende, a gente muda. Mas graças a Deus eu posso dizer que esse programa é um sucesso, nós o temos implantado em vinte estados, vamos implantar nos vinte e sete, já estamos implantando em El Salvador a pedido da Primeira Dama que conheceu o programa, lá também não tem o sistema “S”, nós vamos implantar como política pública, mas meu sonho é depois de ter implantado esse programa nos vinte e sete estados, transformá-lo numa política pública. Esse é o meu sonho.
Já existe há muito tempo no Brasil uma rede de enfrentamento, tem ONGs (Organizações Não Governamentais), conselhos tutelares, igrejas, em alguns estados, sindicatos das profissionais do sexo, que tem nos ajudado muito, tem casas de passagem, abrigos, tem muita gente na rede. O problema é que a rede não conversava, a rede não se conhecia, então eu acho que o nosso papel foi, primeiro, fazer parte da rede e integrar a rede, e mais, trazer o mundo empresarial para dentro desse tema.
Eu explico para os empresários que além dos muros das suas empresas há outro mundo, não é só aquele mundo interno da empresa, fora dos muros tem um outro mundo, ali do lado que pertence a nós, que é de responsabilidade nossa, que nós precisamos olhar.
Como nós montamos o programa? Nós não entregamos coisa pronta, principalmente no começo. Nós chegamos no estado, eu reúno todo o sistema “S” – estamos todos juntos nesse projeto, é coordenado por mim, mas estamos todos juntos. Depois eu busco o governo do estado, busco a prefeitura do local aonde nós vamos começar – geralmente nós temos que começar pelas capitais, não necessariamente só pelas capitais. E convidamos toda a rede de enfrentamento presente no estado, apresentamos o programa, a nossa intenção, e junto com essa rede nós formatamos o programa de acordo com a realidade daquele estado. Você tem um que é praia, outro que é estrada, outro que são usinas, outro são siderúrgicas, e assim por diante, cada um é uma situação. Quando nós vamos montar os cursos, nós pensamos também na demanda de mercado daquele estado, vamos verificar junto ao Ministério do Trabalho, à Secretaria do Trabalho qual é essa demanda, porque a ideia é resgatar a autoestima desses jovens e prepará-los para o mundo do trabalho para que depois eles possam continuar por si. Não basta um curso de um ano, isso você já tem, há alguns cursos por aí, é preciso muito mais, nós costumamos dizer que o projeto tem começo, meio e fim.
O projeto traz as crianças, oferece a oportunidade com esses cursos, o atendimento psicossocial, atendimento à família, atendimento médico e odontológico, damos uma ajuda de custo de quinhentos reais por mês, na verdade damos quatrocentos, cem é guardado numa poupançazinha que é resgatada ao final do curso, e depois vamos atrás de emprego para eles, nas empresas públicas e privadas. Depois continuamos a acompanhar esses jovens por mais um ano, junto com a rede, acompanhando esses jovens e as famílias desses jovens. Não basta acompanhar só eles, porque durante o dia eles estão no curso, nas nossas unidades, depois eles voltam para as suas casas, então nós precisamos estar atentos também ao que acontece nas casas, resgatar as divergências, os conflitos que existiam nas famílias. E depois, aqueles que quiserem fazer cursos técnicos mais avançados dentro do sistema “S”, continuamos garantindo a bolsa para que eles continuem estudando.
A evasão é um problema, apesar de ser mínima, comparada à evasão que você tem nos chamados cursos normais no SENAI, que é de dezoito por cento. Nós temos entre oito e nove por cento de evasão, essa evasão se dá na grande maioria porque muitos deles vêm com uma alta dependência química e não conseguem acompanhar o curso, somos obrigados a enviá-los à outra entidade que tenha essa expertise para que ele se recupere e depois retorne ao projeto. Aqueles que não saem por dependência química, nós vamos atrás, nós insistimos, nós vamos buscá-los, nem todos voltam, alguns não querem e não podemos achar que forçando eles vão voltar. Passa por todo um processo de convencimento, desde a entrevistas iniciais, de que eles não podem perder essa oportunidade. Eu peço que eles se ajudem, que eles não deixem os outros escaparem, teve uma menina que desistiu duas vezes e depois retornou e completou, não desistimos, eu digo para eles: “Olha, daqui para frente vocês vão me aturar porque eu vou encher o saco de vocês”, eu digo a todos eles. Agora, obviamente, tem alguns que escapam. Fomos encontrar uma menina uma vez, em Teresina, que estava lá numa casa de espetáculos, ela estava grudada numa roda e tinha um cara atirando facas, atirador de facas, nós não conseguimos trazer ela de volta, nós fizemos de tudo.
Quando nós montamos os cursos no estado nós temos que preparar a psicóloga porque vai haver um trabalho com esse público, a assistente social, as pedagogas, os professores, nós os funcionários do SESI, e também as crianças chamadas normais, que estão lá, porque vêm para dentro das nossas entidades, não são escondidos em outras salas, não, eles vêm para dentro das nossas entidades. Até teve uma vez que quatro meninas dos chamados cursos normais foram falar com a diretora em Natal, chegaram para diretora: “Diretora, olha, não dá. Essas meninas são prostitutas, não dá ficar junto com a gente”, e a diretora explicou a elas quem eram essas meninas, o que nós estávamos oferecendo para essas meninas, qual a vida que as meninas tinham tido, que era diferente da delas, e ao final da conversa elas pediram desculpa por terem ido lá conversar com a diretora. Na próxima turma todos os alunos e as alunas chamados normais, receberem a próxima turma em fila indiana na entrada do SESI aplaudindo, se abraçando, chorando. Então, tem bastante preconceito. Precisamos vencer esse preconceito. É uma luta, uma luta diária, mas estamos vencendo, é difícil, mas não é impossível.
O ViraVida proporciona uma nova vida. E costumo ir com a maior frequência possível, acompanhar essas crianças, vou em todas as aulas inaugurais e depois acompanho na medida do possível. Quando eu vou, eles querem conversar comigo. Você vai vendo a carinha deles no dia a dia. Quando vêm para entrevista é uma coisa, eles na aula inaugural já têm um sorrisinho, já de uniforme, vai ter um coquetel, já trazem as suas famílias para assistir a aula inaugural, então a carinha vai transformando, no primeiro mês é outra carinha, é outra postura, vai transformando, dia a dia, mês a mês vai transformando, vai resgatando a confiança, a autoestima. Muitas delas vêm falar comigo: “Independentemente do que acontecer depois do curso, Jair, eu não volto mais a fazer isso”, porque, literalmente, elas passam a conhecer um outro mundo em que elas não acreditavam, porque elas não faziam parte. Com o primeiro salário elas vão lá e compram uma sandália, que elas não tinham, então elas começam a fazer parte desse mundo, dessa transformação.
A primeira formatura foi em Fortaleza, então, você chega à formatura, aqueles meninos e meninas que você trouxe da rua, eles vão para formatura como se tivessem se formando na maior universidade do mundo, de vestido longo, com penteados, maquiadas. E para elas é a maior coisa que viveram no mundo. É uma formatura igualzinha à uma formatura de universidade, é maravilhoso. Os alunos organizam comissão de formatura. Eles que organizaram, eles passam a ser protagonistas de suas próprias vidas. Então é incontida a felicidade, eu não sei explicar o que significa isso, como nos sentimos e na verdade eu não quero saber como eu me sinto, eu quero saber como eles se sentem. É preciso conhecer para você ver, porque é difícil explicar.
É importante saber que eles acreditam que são capazes, que eles podem fazer as coisas. Nós tivemos vários seminários regionais, no ano passado, que culminou com o Seminário Nacional, onde nós fizemos várias apresentações, com o Seminário Protagonista Juvenil. Os seminários são muito importantes. Você discute o Brasil, você discute as diversas experiências, você mostra uns para os outros, você mostra a eles a capacidade deles, você mostra que eles não são coitadinhos que estão sozinhos, tem mais gente nessa situação e todo mundo é capaz de sair dela.
Eu acho que a reunião desses jovens faz com que eles cresçam, com que eles conheçam, com que eles tenham cada vez mais expectativas, com que eles troquem experiências, tanto é que eles se juntam, e é até impressionante, porque todos eles agora têm facebook, então rapidinho eles já sabem de tudo, todos já têm o seu celular, comprou com o salário da ajuda de custo. Então eles montam jornais, se relacionam estado por estado. Então começa toda uma articulação deles, eles fizeram peças de teatro durante os seminários dizendo: “Chega de exploração”, eles mesmos, uma peça de Recife, o tema deles era esse. eles passam a acreditar que não é irreal, que não é só sonho, que o sonho pode se transformar em realidade, porque eles fazem as coisas. Eles prepararam peças de teatro, musicais, eles fizeram várias apresentações sem contar com nenhuma ajuda externa, de nenhum profissional. Então esse sonho protagonista é o mesmo que dizer: “Jovem, você é capaz de ser protagonista da sua própria vida”.
Hoje você assiste um apagão na mão de obra no Brasil, faltam profissionais, e nós estamos formando profissionais, quando as empresas recebem esses jovens, elas não estão fazendo nenhum favor, o dinheiro que eles tinham que gastar para formar seus profissionais, nós investimos. Isso não é um gasto, é um investimento, nós investimos no ser humano, nós investimos nessas crianças.
Salvar vidas, é esse o significado desse projeto, nós formamos profissionais, nós resgatamos gente, nós tiramos a menina lá da rua, da prostituição, servindo à uma rede, à uma grande rede, servindo às agências de turismo que você lá fora, em países da Europa. É uma rede milionária, o tráfico de pessoas hoje é mais rentável do que drogas, do que armas. Hoje o maior número de mulheres traficadas para a Espanha são brasileiras, e o maior número de brasileiras são de Goiás. Quer dizer, não é um privilégio do Nordeste, tem de Norte a Sul do país. Então nós precisamos formar uma rede, nós precisamos da sociedade, por maior que seja o SESI, por mais que seja o sistema “S” nós ainda somos pequenos para enfrentar essa batalha. Nós precisamos da sociedade, precisamos das empresas, dos políticos, dos governantes, das ONGs, da imprensa, dos conselhos tutelares, nós precisamos da sociedade, se nós não estivermos juntos, nós vamos perder essa batalha.
Nós temos conversado com vários ministérios que estão junto conosco, nós temos já assinado, com o NBS (Nomenclatura Brasileira de Serviços), com a Secretaria das Mulheres, com a Secretaria dos Direitos Humanos, com o Ministério do Trabalho, com o Ministério da Justiça, com o Ministério da Educação, com o Ministério da Saúde, eu fui buscar envolver todo mundo, todos que tivessem uma pontinha de relação.
Desde que nós começamos esse projeto, pelo menos na minha frente, ninguém disse não a esse projeto. Nenhuma entidade, nenhum empresário, nenhum político, absolutamente ninguém. Todos se prontificaram a fazer alguma coisa, o mínimo. Uma empresa não precisa me dar cinquenta empregos, me dê um. Nós estamos fazendo um acordo agora com a ABIH (Associação Nacional dos Hotéis), tem cinquenta mil estabelecimentos associados à essa entidade, e eu não quero cinquenta mil empregos, me dê cinco mil empregos no Brasil, são cinco mil crianças que eu salvo. Então precisamos nos juntar, e as pessoas têm se prontificado a ajudar. A Caixa Econômica é uma extraordinária parceira, a Petrobras, Correios, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, empresas privadas, graças a Deus todo mundo tem contribuído de uma maneira ou de outra.
Agora nós vamos ter a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, e as Olimpíadas. Na ocasião da Copa do Mundo na África do Sul – e a África do Sul não tem o apelo que o Brasil tem–, o aumento da prostituição foi de quarenta por cento. Então nós queremos estar atentos a isso. Nós temos que defender as nossas crianças, porque se aumenta a demanda, eles oferecem a oferta, eles vão buscar oferta, a máfia vai buscar oferta, a organização, a rede, vai buscar oferta aonde quer que seja. O nosso programa ajuda. Nós agora estamos fazendo um projeto piloto em Brasília. Quando você vai à Europa, você pega um taxi, tem lá o endereço de um bordel, de uma casa noturna, então nós vamos fazer o seguinte, vamos começar pelo piloto de Brasília, nós vamos fazer talões de recibos e vamos entregar gratuitamente para os taxistas, só que vai estar lá o disque 100, “Exploração sexual é crime”, e o site do ViraVida, e atrás do recibo o artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, em inglês, em espanhol. Vamos dar gratuitamente esses recibos aos taxistas, vamos começar fazendo uma experiência porque queremos implantar isso massivamente durante a realização desses eventos. Nós estamos fazendo um convênio com a ABIH, que para instalar o Cozinha Brasil nos hotéis e também o ViraVida, nós queremos anunciar no check in dos hotéis, nós queremos que o cara encontre um panfleto lá no quarto, quando ele chegar lá, nós já estamos projetando que nos televisores dos aeroportos um vídeo de um minuto contra a exploração sexual, esse vídeo vai ser veiculado em todas as aeronaves da TAM, em vôos nacionais e internacionais. Nós ainda queremos projetar em várias companhias. Então, por menos que nós estejamos fazendo, nós estamos fazendo um pouquinho.
Enquanto eu puder andar, enquanto eu puder falar, enquanto não me calarem, eu vou estar nessa estrada. Uma vez um dirigente do SEBRAE lá de Fortaleza me disse: “Jair, você sabe que você está atravessando uma estrada difícil de ser atravessada”. Eu falei: “Eu sei, se fosse fácil alguém já tinha atravessado”. Eu gosto de desafios e sou sonhador, eu tenho três filhas, tenho três netos, eu sei que as coisas boas e as coisas ruins podem acontecer em qualquer família, a droga não escolhe sexo, não escolhe condições sociais, ela pode estar em qualquer lugar.
O meu sonho é que o Projeto não precise mais existir. Me falam: “Ah, mas você é muito sonhador”. Eu sou, eu sou, eu vivi uma vida sonhando, eu estava no movimento sindical sonhando, como deputado federal eu sonhava, e agora eu sonho, o meu sonho é que as pessoas façam o que têm que fazer por prazer de fazer, e não para sobreviver, eu não quero tirar a sexualidade de absolutamente ninguém, eu acho que isso é uma coisa inerente do ser humano. Então o meu sonho é que um dia esse projeto não seja mais necessário, aí eu posso morrer.
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