TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE ORLANDO ASSIS DA COSTA RANGEL (1903 -1994)
Origens
Filho de Inácio Cardoso Rangel e Vicentina Francisca da Costa Rangel, nasceu no Couto, município de Rio Pardo, no Estado do Rio Grande do Sul, a 20 de março de 1903, quando eram cinco horas e quarenta minutos. Teve como...Continuar leitura
TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE ORLANDO ASSIS DA COSTA RANGEL (1903 -1994)
Origens
Filho de Inácio Cardoso Rangel e Vicentina Francisca da Costa Rangel, nasceu no Couto, município de Rio Pardo, no Estado do Rio Grande do Sul, a 20 de março de 1903, quando eram cinco horas e quarenta minutos. Teve como avós paternos João Cardoso Rangel e Julia Rangel, e como avós maternos João Antonio da Costa e Benta Lobato Costa.
Os “Assentamentos para o futuro” redigidos por seu pai registram o nome Orlando de Assis, acredita-se que por influência religiosa. O nome definitivo foi adotado quando de sua incorporação ao Exército, como voluntário, em primeiro de maio de 1924.
Foi o segundo filho de sete irmãos, três do sexo masculino e quatro do feminino, sendo que o primeiro nasceu em 1901 e faleceu com poucos meses de vida, portanto passou a ser o mais velho. A propósito de seus irmãos, é interessante registrar que Orlando foi escolhido para padrinho batismal de sua irmã Anita, que ainda reside em Cachoeira do Sul e está com 86 anos de idade.
Seu pai era comerciante de alimentos, lidava com gado de corte e possuía vacas leiteiras das quais retirava o leite, que era entregue pelo filho Orlando nas casas dos fregueses, em Cachoeira do Sul. Contava o ex-leiteiro que todos os meses, no dia do pagamento, aqueles fregueses recebiam brindes de presente tais como uma abóbora ou uma melancia. Já menino graúdo, por volta dos seus 15 anos de idade, Orlando participa da organização de uma associação dos leiteiros, provavelmente a primeira de Cachoeira, com o objetivo de disciplinar o mercado.
Em conversas, o biografado assinalava que pela parte de sua mãe, o avô possuía muitas terras onde plantava arroz e na sede dessa propriedade costumava receber mascates de origem árabe, que circulavam pelo interior da então Província do Rio Grande do Sul. Nesse local as pessoas das redondezas vinham para adquirir bens que não eram produzidos na região, e aproveitar para receber e enviar mensagens.
Até 1909 residiu no local de nascimento, em seguida passou a residir, até 1914, na região denominada Rincão do Lagoão (Irapuá), município de Caçapava, de onde foi para Cachoeira do Sul e permaneceu até abril de 1924. Com uma carta de apresentação em mãos dirigiu-se para Porto Alegre, e aí resolveu apresentar-se voluntariamente no 7o Batalhão de Caçadores do Exército, para incorporação como praça, onde foi matriculado na Escola Regimental.
Nos documentos encontrados não consta que tenha freqüentado escola regular, afirmava com satisfação que a sua primeira grande escola foi e Exército e a segunda a Maçonaria, por outro lado desde muito tempo dominava perfeitamente conhecimentos de Aritmética. Citava com orgulho o curso de Aritmética do autor Souza Lobo. Trata-se de um período anterior constituição de 1934, que incluiu o ensino primário obrigatório e gratuito.
Traços de sua vida na caserna
Dois meses após sua incorporação ao Exército, no dia treze de julho partiu de Porto Alegre com o seu Batalhão, a bordo do vapor Itatinga, com destino a São Paulo, em conseqüência da revolução de 1924, registrada na história como “Revolução Tenentista” e originada em São Paulo, no dia 5 de julho. Um dia após chegou ao porto da cidade de Rio Grande, passou para o vapor Itaúba, que foi aportar em Santos no dia 17. Daí seguiu por estrada de ferro até ser acantonado em São Caetano, e no dia 20 marchou com destino à Olaria de Sacuman-Frére, de onde partiu para o Ipiranga, local do posto de comando do 13º Batalhão de Caçadores, para um bivaque. Em seguida foi encaminhado à frente de batalha e logo depois louvado pelos serviços prestados pela vitória da Santa Legalidade, pelo Coronel Vargas Neves.
É interessante notar que tendo voltado para Porto Alegre em meados de setembro, somente a 12 de outubro prestou compromisso à Bandeira. Novamente seu Batalhão é deslocado, agora pelo interior do Rio Grande do Sul, em função da dita Santa Legalidade, e então aquartelado no Sexto Regimento de Artilharia Montada é “passado a pronto nas instruções de recruta”. Como o seu Batalhão deslocou-se para Santo Ângelo, foi nessa localidade que foi obteve aprovação com “grau sete e cinqüenta” no curso de candidatos a Cabo. No dia dois de dezembro tomou parte no combate de Tupanciretã, contra a lendária “Coluna Prestes”, motivo pelo qual no dia três foi louvado pelo Capitão Jerônimo Teixeira Braga, tendo em vista a maneira digna e meticulosa de seus procedimentos no referido combate. Aqui cabe um comentário interessante do biografado: afirmava que nessa batalha Luiz Carlos Prestes deslocava-se com desenvoltura na linha de frente, montado em seu cavalo branco, sem que alguém conseguisse atingi-lo para que saísse de combate.
De janeiro de 1927 a agosto de 1928 foi deslocado para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola de Sargentos de Infantaria, tendo sido aprovado em décimo primeiro lugar, em uma turma de 65 alunos aprovados. Por esse motivo teve a vantagem de ser promovido diretamente à Segundo Sargento, além de atuar como instrutor na referida Escola.
Em abril de 1931 foi designado para Monitor do Colégio Militar de Porto Alegre, quando já era Sargento-Ajudante. Por vezes foi elogiado em decorrência do seu comportamento, dedicação e exemplo, no período em que esteve atuando nesse Colégio. Em outra passagem de sua vida, participou da organização o extinto Corpo Naval “Marcílio Dias”, na Capital do Estado do Rio Grande do Sul.
O biografado casou-se com Alice Nunes Rangel, no dia 20 de setembro de 1933, na cidade de Porto Alegre, senhora que veio a falecer em Osasco no mês de setembro de 2002, e sendo que desse casamento nasceram os filhos Érica, Renato e Rui. Deve-se registrar que a primeira faleceu com poucos dias de vida.
Em 9 de julho de 1938 foi nomeado Sub-Tenente, pelo Senhor Ministro da Guerra, em nome do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, através da Portaria número cento e oitenta e oito, para servir no 7o Regimento de Infantaria.Em julho de 1941 embarcou para São Paulo, a fim de apresentar-se no 4o Regimento de Infantaria, em Quitaúna, onde permaneceu até 1950, quando foi transferido para a reserva remunerada, como Segundo Tenente.
Um fato curioso ocorrido nessa época sucedeu quando se encontrava destacado em Cubatão para guarnecer a usina hidrelétrica da Light. O biografado deixou um documento manuscrito onde dentre outros acontecidos, registra que no dia 16 de fevereiro de 1945, viajou por fia férrea para o Rio de Janeiro, cumprindo ordens dos Capitães Rui, de sobrenome não declarado, e Waldomiro de Oliveira, para entregar quatro cartas a quatro outros Capitães que se encontravam naquela cidade, e dos quais deveria trazer resposta escrita. Antes da partida foi informado de que um movimento político-militar estava sendo arquitetado. Chegando ao Rio procurou os respectivos oficiais, porém um encontrava-se na Itália, o outro no México, um terceiro ficou de entregar-lhe a resposta no outro dia, na estação ferroviária Dom Pedro II, quando do embarque de volta. Este último compareceu ao referido embarque e perguntando se Rangel conhecia o teor dos documentos, ao receber resposta afirmativa, disse que na próxima semana estaria em São Paulo, para conversar pessoalmente com os seus colegas. O quarto oficial procurado, respondeu por escrito, em envelope fechado. Do mesmo registro consta que posteriormente esses fatos foram relatados ao Coronel Nicanor, do 4o Regimento de Infantaria.
Continuando o destaque de fatos marcantes, convém ressaltar que no dia vinte e quatro de abril de 1947 o Senhor Presidente da República resolveu conceder-lhe a Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço de guerra a favor do Brasil.
A esta altura seria conveniente destacar que, apesar dos quase incontáveis elogios recebidos na corporação militar durante longos anos, registrados nos arquivos da referida, e a declaração de que se encontrava apto para servir ao Exército, em junho de 1947, nota-se que logo em seguida, no mês de outubro do mesmo ano foi submetido a uma Junta Militar de Saúde, no Quartel General da Segunda Região Militar, que concluiu por julgá-lo incapaz para o ingresso no Quadro de Oficial Auxiliar. Na época comandava o 4o Regimento de Infantaria o Coronel Florêncio José Carneiro Monteiro, que mesmo respeitando os laudos técnicos tinha poder de influência, conhecia perfeitamente o biografado e, ao que parece foi omisso, ou o que é pior, não agiu com justiça.
Um fato interessante é que mesmo depois do ocorrido, em julho de 1952, o biografado organizou uma solenidade pública, com ata assinada por quarenta e dois moradores do local, onde foi denominada por Rua General Florêncio, a antiga Rua 22, da Vila Quitaúna, em Osasco.
A propósito dessas curiosidades, parece interessante acrescentar que certa vez, em 1958, quando eu cumpria o meu serviço militar como praça, no mesmo 4o Regimento de Infantaria, à tarde quando cheguei em casa encontrei o General Florêncio visitando meu pai. Não é preciso dizer que fiquei bastante atrapalhado, sem saber se fazia continência ou apertava a mão da alta patente.
Por Decreto presidencial de 15 de junho de 1950, foi transferido para reserva remunerada do Exército, no posto de Segundo Tenente, e em seguida fez jus ao posto de Primeiro Tenente, segundo Decreto presidencial de 15 de janeiro de 1952.
No que se refere ao Exército, deve constar que finalmente o biografado foi reformado como Primeiro Tenente, em 2 de agosto de 1965, por Decreto presidencial de 26 de maio de 1964.
Na vida civil
Começou a freqüentar e participar do Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento, em São Paulo, no início de 1946, onde afirmava ter adquirido inúmeros e valiosos conhecimentos. As anotações encontradas, referentes às aulas freqüentadas no Circulo Esotérico, constituem um documento inconteste do empenho e seriedade com que levava a nova iniciativa. Possuía vários livros sobre o assunto, os quais foram de bastante utilidade para seus filhos e amigos.
Residiu em Quitaúna de setembro de 1944 até dezembro do mesmo ano em casa de aluguel, quando se transferiu para um imóvel próprio, cito à antiga Estrada de Itu, hoje Avenida dos Autonomistas, número 13059, onde permaneceu com a família até agosto de 1957.
Nesse período participou ativamente de iniciativas do interesse comum, tais como a criação da sociedade União dos Defensores de Quitaúna, como redator do anteprojeto dos estatutos da referida, em fins de 1953. Criou e organizou o Grêmio do Cedro, que segundo a ata de fundação, datada do dia seis de junho de 1954, e contendo 13 assinaturas de residentes no bairro, deveria dar assistência aos interesses coletivos de Quitaúna. Preferiu ficar na condição de Primeiro Secretário, porque no seu entender, aí estava o cerne documental da nova associação, que na verdade esperava funcionasse como o embrião de uma loja maçônica. Tanto é que no Grêmio do Cedro havia comissões como a de Harmonia, a semelhança das Lojas maçônicas. O estatuto foi registrado no Primeiro Ofício de Registro de Títulos e Documentos, no dia 13 de agosto de 1954, na Capital. Esse Grêmio prestou relevantes serviços à comunidade, desde festas de natal para crianças pobres, até a difusão de cultura, através de palestras, apoio a associações esportivas como no caso do Juvenil Esporte Clube “Matadouro Municipal”, que posteriormente, com a colaboração de Rangel na redação dos estatutos, passou a denominar-se Esporte Clube “Duque de Caxias”.
O livro de atas do Grêmio do Cedro, em sua ata de três de setembro de 1958, registra que por decisão de todos os membros presentes ficou resolvido “adormecer” a associação por tempo indeterminado.
Quando ainda residia em Quitaúna, em 1953, certa tarde conversava na frente de sua residência com José Maximino Gonçalves, quando notaram que se aproximava um carreata dos “osasquenses do centro” que pleiteavam a autonomia do então Sub-Distrito da Capital, Osasco. Observaram que o entusiasmo pelo “já ganhei” era grande, mesmo que nas regiões mais afastadas do centro pouco se soubesse a respeito da importante iniciativa. A partir desse fato, consultando pessoas de mais destaque no bairro a propósito da referida autonomia, não lhes pareceu oportuno aquele movimento, pelos mais variados motivos. Tendo em vista essa realidade, foi convocada uma reunião na casa de um dos residentes no bairro, contando com a presença de pessoas do local denominado Quilometro 18 e inclusive da região central de Osasco, de onde surgiu o movimento conhecido como “Campanha do Não”. O jornal a “Folha de Osasco” publica em sua página de rosto, no dia 8 de novembro de 1953: Movimento Contra Autonomia é iniciado em Quitaúna, dando entre outros nomes o do biografado, logo de começo. Várias Sessões Livres foram publicadas no jornal “A Folha de Pinheiros” e outros, além de panfletos, procurando defender os vários pontos de vista frente à população. A partir daí vieram a propaganda, embora muito pobre, e inclusive os comícios, dos quais se aproveitaram autoridades municipais, especialmente vereadores, tais com Arruda Castanho, Gabriel Quadros e Paulo de Tarso, este ultimo futuro Ministro da República. Tendo em vista o novo quadro, os autonomistas conseguiram uma reunião com o pessoal da recém criada campanha contra a autonomia, que ocorreu na casa do biografado, de onde após vários argumentos de ambas as partes, concluíram por seguir seus respectivos caminhos.
O jornal “A Gazeta” de 12 de novembro de 1953, traz reportagem com fotografia, mostrando lideres do movimento contra a autonomia de Osasco, que pleiteavam junto às autoridades da Capital a passagem de Osasco à condição de Sub-Prefeitura e que se garantisse a presença da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), dentre outros benefícios coletivos. Na época o Prefeito da Capital era Jânio da Silva Quadros, o qual concordou em estudar as propostas e inclusive levar o transporte coletivo público até o local denominado Quilometro 21.
Após vários argumentos das partes, apresentados ao povo eleitor, finalmente veio o plebiscito que confirmou a manutenção do vínculo com a Capital.
Vitorioso no embate, o biografado passou a ser procurado para os entendimentos políticos da região, tanto por lideres do Sub-Distrito de Osasco como da Capital, objetivando envolvê-lo especialmente em suas campanhas eleitorais.
Com o início da Campanha Jânio Quadros-Porfírio da Paz para o governo do estado, Rangel com os seus companheiros do Grêmio do Cedro, instalou um Comitê Político no dia 14 de agosto de 1954, em Quitaúna, tendo sido eleito Primeiro Vice-Presidente, desse Comitê. Como o Comitê Central, sob a Presidência de Antonio Menk, encontrava-se na região central de Osasco, vários ofícios documentam o relacionamento vivido entre os dois Comitês. Como Rangel fazia parte inclusive do Comitê Central de Osasco, na qualidade de Conselheiro, iniciou-se o estreitamento das relações com Reinaldo de Oliveira, tido como o arquiteto da Sociedade Amigos de Osasco, onde surgiu o movimento de emancipação. É interessante notar que o biografado declarou de maneira informal e em algumas oportunidades, considerar Reinaldo como a pessoa que aparentava objetivos sociais mais claros e bem definidos, de interesse coletivo, além de ser mais organizado.
Enquanto tais fatos se passavam, foi procurado por Jânio Quadros, Rogê Ferreira, Ademar de Barros, Lino de Matos e outros políticos influentes naquele momento.
Nessa nova circunstância, após várias reuniões e argumentos, criticado por alguns ex-companheiros, resolveu aderir ao movimento de emancipação ocorrido em 1958, como sempre dedicando todas as suas energias.
A esta altura residia na mesma Estrada de Itu, porém no número 9167, que após a autonomia passou a ser o 3147, da Avenida dos Autonomistas, quando por mais de dois anos esteve na direção da Guarda Noturna de Osasco, como Diretor, e onde pôde aplicar sua capacidade de organização. Aumentou a arrecadação, o efetivo da corporação e melhorou a qualidade do elemento humano utilizado.
Aos treze dias do mês de dezembro de 1957, ocorreu uma Assembléia Geral da Sociedade Amigos de Osasco, no salão principal da Associação Atlética Floresta, inicialmente sob a presidência de Reinaldo de Oliveira e depois presidida por Luiz Gonzaga de Carvalho, cuja ata foi redigida pelo biografado, na condição de Primeiro Secretário. Nessa reunião ficou decidido que deveria ser reiniciado o movimento pela emancipação, e que de acordo com a Lei Orgânica dos Municípios, a documentação necessária deveria ser encaminhada à Assembléia dos Deputados até o dia 30 de abril de 1958, para o devido pronunciamento do legislativo estadual. Várias sugestões foram propostas, porém o início de movimento foi marcado pela disposição geral de constituir comissões encarregadas de buscar apoio nos vários bairros e regiões do Subdistrito de Osasco, além das várias categorias profissionais. Aqui, nota-se uma mudança radical no comportamento das lideranças, acredita-se que em função do mal sucedido em 1953. O tempo correu até que chegou o dia do povo decidir a questão da autonomia de Osasco, pelo voto, em 21 de dezembro de 1958.
A partir dessa data, Rangel, agora um dos lideres do movimento pela emancipação, participava das decisões mais importantes, no início, principalmente devido às dúvidas levantadas quanto à lisura do pleito. Os jornais da Capital falavam em fraudes no plebiscito de Osasco; o Prefeito Ademar de Barros impetrou mandado de segurança; finalmente é acionado o Supremo Tribunal Federal, onde após um período de tensão as dúvidas foram dirimidas, a favor da emancipação. Em função desses acontecimentos, as eleições para Prefeito e Vereadores de Osasco foram marcadas para o dia 7 de janeiro de 1962
Outro fato interessante é que o biografado, em 1960, a pedido de Antonio Dinaer Piteri, Secretário da Sociedade da Guarda Noturna de Quitaúna, redigiu os estatutos da Guarda Noturna de Quitaúna, recomendando que os mesmos fossem submetidos à leitura do Delegado da 24a Circunscrição de Polícia, de Osasco.
Nesse mesmo ano participou ativamente da campanha à Presidência da República, na qual Jânio Quadros era o seu candidato. Integrou o Comitê Central Pro “Jânio Quadros”, de Osasco, com sede à Rua da Estação, número 79, na qualidade de Secretário Geral. Com a vitória do candidato, recebeu juntamente com Antonio Menk, um telegrama de agradecimento pelos esforços prestados, assinado Presidente Eleito.
Participou com os correligionários de Osasco, das campanhas de Carvalho Pinto, à Governador do Estado, e Emilio Carlos à Prefeito da Capital, sempre integrando o Comitê Central de Osasco e atuando como Secretário Geral.
Durante o lançamento dos candidatos Antonio Menk e Marino Pedro Nicoletti, respectivamente para Prefeito e Vice-Prefeito de Osasco, na primeira eleição do novo município, participou arduamente dos difíceis entendimentos que culminaram com o registro dessas candidaturas, no Partido Trabalhista Nacional. Para conseguir esse registro contou com o apoio decisivo de Rodolpho dos Santos Ferreira, então o representante legal desse Partido, em Osasco. Em dado momento o biografado chegou a desistir do movimento, revoltado com as ações desleais, inclusive dos referidos candidatos, contra antigos companheiros de lutas. Procurado em sua casa por Rodolpho, o candidato à Vice-Prefeito e Hélio Djtiar, viu-se na condição de voltar á campanha, mesmo sabendo que naquele momento o seu nome estava sendo usado para evitar a debandada dos antigos companheiros da política local. O seu pedido de afastamento era inclusive devido à intenção em andamento, de colocar Rodolpho em segundo plano, após todo o seu empenho pelo registro das candidaturas. No dia 11 de outubro de 1961, após várias desilusões, com o restante da cúpula da candidatura Menk, resolveu afastar-se daquele meio, profundamente desiludido com o caráter daquelas pessoas. Foi procurado por outros candidatos e seus seguidores, porém preferiu aguardar um momento oportuno, sem deixar de comparecer às solenidades para as quais foi convidado, em associações e movimentos sociais.
No dia dez de dezembro de 1961, à noite, recebeu em sua residência a visita de Fuad Auada, também candidato a Prefeito, e tendo como seu Vice Albertino de Souza Oliva. Após apresentar o seu plano de trabalho, fez um resumo da condição em que se encontrava a sua campanha, e convidou o biografado para participar da cúpula do seu grupo, constituída por três pessoas, incluindo o próprio candidato. Depois de transcorrido um prazo para meditar sobre a nova proposta, resolveu participar da referida cúpula como o quarto membro. Aí permaneceu até o pleito, que apontou e terceiro lugar para o seu candidato.
Embora tenha participado em outra oportunidade, com afinco, da campanha de João Gilberto Port para Prefeito, começou a se afastar da vida político-partidária, e a intensificar sua vida maçônica, até então menos ativa.
Na Maçonaria
Em seus apontamentos consta o Currículo Maçônico, do qual foram extraídas as datas e efemérides que são relacionadas abaixo:
Foi iniciado na Loja Virgilio Nascimento, em 29/04/1950; passou a Companheiro em 17/10/1950; Mestre em 06/03/1951; Mestre Instalado em 29/05/1956. Em 19/05/1959 foi declarado Benemérito da Loja, e finalmente em 19/06/1962, ao afastar-se definitivamente da mesma foi declarado Membro Honorário da Loja Virgilio Nascimento.
Continuando o relato de sua trajetória, atingiu o Grau 18 em 15/04/1952; passou para o Grau 30 em 06/09/1953; para o Grau 31 em 20/03/1955; para o Grau 32 em 25/09/1955; finalmente galgou o Grau 33 em 26/04/1958.
Na Grande Loja Unida de São Paulo, foi Porta Estandarte, Guarda do Templo, Membro da Comissão de Justiça, Delegado Especial do Grão Mestre para inspecionar as Lojas de várias cidades do interior do Estado de São Paulo, finalmente foi eleito Grão Mestre em maio de 1958, e empossado em 09/07/1958. A propósito desta última passagem, seria interessante registrar que no seu entender deveria ter sido eleito para Grão Mestre o Professor Luiz Rosanova, grande amigo e iniciado na Loja Virgilio Nascimento, na mesma data do biografado.
Em 23/05/1959, foi signatário do Tratado de Fusão entre a Grande Loja Unida de São Paulo e a Grande Loja do Estado de São Paulo, que culminou com a reunião dos “obreiros” das referidas Grandes Lojas, onde o biografado renunciou ao Cargo de Grão Mestre, declarando que “tomava tal atitude em benefício da paz e união dos maçons regulares do Estado de São Paulo”.
Algumas honrarias:
Grande Benemérito da Loja “Fraternidade e Justiça”, da cidade de Rio Claro.
Membro Honorário da Grande Loja do Estado do Paraná.
Grande Benemérito da Grande Loja do Estado de São Paulo.
Agraciado com “Cartão de Ouro”, pela Loja “Marques do Herval”, Osasco.
Medalha comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, pelo Supremo Conselho, Rio de Janeiro.
Homenageado com um distintivo, Supremo Conselho, Rio de Janeiro.
Membro Honorário da Grande Loja da Guanabara, Rio de Janeiro.
Membro Honorário da Grande Loja do Estado de Minas Gerais.
Membro Emérito do Supremo Conselho, Rio de Janeiro.
Retrato entronizado na galeria dos ex-Grão Mestres, no salão de entrada da Grande Loja do Estado de São Paulo.
Nos chamados altos graus, ocupou várias funções de destaque, como por exemplo, membro efetivo do Supremo Conselho, representante do Estado de São Paulo na Reunião dos Soberanos Grandes Comendadores das Américas, realizada no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro, entre os dias 19 e 23 de agosto de 1974. Foi nomeado Soberano Grande Inspetor Litúrgico do Estado de São Paulo, em 16/05/1973, condição na qual permaneceu por vários anos.
Na Loja “Marquês do Herval”
A bem da verdade deve ficar registrado que a iniciativa da fundação de uma loja maçônica em Osasco, naquele momento, não teria sucesso imediato caso não contasse com o nome do biografado. Ao que parece a tarefa de convencê-lo coube a Rodopho dos Santos Ferreira, que inúmeras vezes abordou o assunto com Rangel, inclusive dispondo-se a colaborar no que fosse necessário. A partir daí vieram, inicialmente as reuniões de alguns maçons na residência do biografado, à Avenida dos Autonomistas, mais precisamente em seu escritório. Em seguida essas reuniões passaram a aglutinar mais pessoas, sendo transferidas para a garagem da residência de Rodolpho, à Rua Tenreiro Aranha. Logo a seguir resolveram alugar uma sala, no primeiro andar, de um prédio cito na Rua Antonio Agu, esquina com a Rua Padre Damásio, para onde o biografado dirigia-se, várias tarde, com a finalidade de preparar o local para as reuniões que deveriam ocorrer à noite. Desse endereço passaram para um outro prédio próximo à atual Praça Marquês do Herval, pertencente à família do maçom de nome Nilton Barbosa. O próximo passo foi a aquisição do lote de terra onde se encontra atualmente a Loja, pela cotização de um certo número de sócios mais abonados, dentre eles o biografado. Daí em diante Rangel não arredou os pés das obras e tudo o que dependesse do seu empenho, para levar a bom termo a nova empreitada. É verdade que teve alguns bons companheiros, porém, a partir daí os seus dias tornaram-se dedicados quase integralmente às obras e tudo o que fosse necessário para esse grande objetivo.
Certa vez conversando com meu pai, tive a oportunidade de enfatizar a sua satisfação em poder observar à distancia, que a sua criação tinha vida própria e era útil à sociedade. Notei que ele tinha vontade de permanecer entre os seus pares, debatendo, ouvindo, falando e em fim vivendo. Apesar da boa vontade de seus confrades, conduzindo-o várias vezes para as reuniões, embora com dificuldades, a vida material foi se apagando até que finalmente seu corpo foi velado na noite de 7 para 8 de agosto de 1994, nos salões da sua querida Loja Marque do Herval, com as profundas manifestações de pesar, de seus irmãos de ordem e respectivos familiares.Recolher