Projeto Pueri Domus
Depoimento de Guilhermino Figueira Neto
Entrevistado por Lenir Justo e Iwi Onodera
São Paulo, 21 de agosto de 2006
Entrevista Pueri_HV011
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Lúcia Nascimento
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Guilhermino, boa tarde. Vamos começar c...Continuar leitura
Projeto Pueri Domus
Depoimento de Guilhermino Figueira Neto
Entrevistado por Lenir Justo e Iwi Onodera
São Paulo, 21 de agosto de 2006
Entrevista Pueri_HV011
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Lúcia Nascimento
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Guilhermino, boa tarde. Vamos começar com você nos falando seu nome, local e data de nascimento.
R – Boa tarde. Meu nome é Guilhermino Figueira Neto, nasci no dia quatro de outubro de 1959.
P/1 – Qual a sua atividade ou função no Pueri Domus?
R – Hoje eu sou Diretor Geral do Pueri Domus Escolas Associadas e sou Presidente do Conselho Gestor do Grupo Mes.
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Antonio Figueira e Dirce Pereira Figueira.
P/1 – E a origem da sua família?
R – Origem da minha família, por parte de pai, meu avô era português e minha avó, espanhola. Por parte de mãe, minha avó era italiana e meu avô era bugre brasileiro, índio.
P/1 – E qual a atividade que seus pais exerciam ou exercem ainda?
R – Meu pai é aposentado, já foi mecânico e na sua última etapa trabalhando ativamente era inspetor de uma empresa de exportação, no Aeroporto de Cumbica, hoje ele está aposentado. E minha mãe, a maioria do tempo na vida dela, ela se dedicou a cuidar dos filhos, se dedicou a cuidar da família.
P/1 – E a casa onde você morava na infância, você lembra dela? Como ela era?
R – Eram várias casas. Nós nos mudamos muito. Eu me lembro de todas elas.
P/1- Teve alguma mais marcante?
R – Acho que a mais marcante, todas são mais marcantes. Minha família é muito intensa e toda minha infância foi muito intensa. Então, todos esses lugares onde nós passamos por uma razão ou por outra, sempre tiveram marcas muito positivas. Não tenho nenhuma em especial pra falar.
P/1 – Conta então assim um pouquinho no geral.
R – Uma família grande, com cinco filhos, só o pai trabalhando e com todas as dificuldades que podem existir num país como o nosso. As coisas começaram a melhorar quando os filhos começaram a trabalhar. Enfim, a grande marca que a gente tem de família é a união. A falta de dinheiro, obviamente foi muito forte até nossa juventude, mas o que transformou isso numa família feliz, que sempre discutia os assuntos abertamente. E que hoje tem como grande coisa na nossa vida é ter feito gente feliz, gente bacana. Todos eles. Eu tenho quatro irmãos e todos eles são muito legais.
P/1 – E as brincadeiras da infância. O que você lembra delas? Com quem brincava, o que faziam?
R – Entre irmãos?
P/1 – Isso e com amigos também.
R – Entre irmãos, como único filho homem, eu tenho quatro irmãs, então meus pais sempre preocupados de “respeitar as mulheres, homem respeita, você não pode ser agressivo”, esse tipo de coisa. Então, a gente não teve muitas brincadeiras, eu com as minhas irmãs. Eram as tradicionais e mais as brincadeiras com os amigos na rua. Eu sempre fui moleque de rua, comecei a trabalhar cedo por causa disso, e as que mais me marcam é a bola, o carrinho de rolimã, o pipa, coisas que eu gosto de fazer até hoje, diga-se de passagem.
P/1 – E era então sempre com os amigos de rua? E dessas que você citou, qual a que você mais gostava?
R – Pipa. Empinar pipa.
P/1 – E festas? As festas eram comemoradas na sua casa? Quais?
R – Ah, minha família é muito festiva. Tudo sempre era motivo pra gente estar brincando, comemorando, de alguma maneira estar junto. Até hoje é assim. Qualquer motivo é motivo pros filhos estarem juntos, se reunirem em algum lugar e brincar, comemorar, fazer uma bagunça. Então, tudo era motivo. Passar de ano era motivo pra gente se reunir, brincar. Namorado, namorada, a gente fazia uma bagunça pra comemorar namorado ou namorada de alguém. Então minha família é, sempre foi, ela é até hoje muito festiva. Todas as datas eram marcadas por comemoração, normalmente brincadeiras, né? Entre nós e entre os amigos.
P/1 – E algum fato marcante na sua infância? Você poderia contar algum pra nós?
R – Fato marcante? Olha, fato marcante, eu não sei. Fato marcante talvez tenha sido mudanças constantes de casa. Isso foi marcante na minha infância por um motivo não muito… falta de pagamento de aluguel, essas coisas. Então, isso foi marcante pra mim. Essas mudanças têm um lado negativo e tiveram um lado positivo. A gente acabou tendo que mudar. E mudar significa mudar de amigos, mudar de escola, esse tipo de coisa. E isso foi marcante. Coisas positivas, foi que a gente sempre transformou esse lado negativo em motivo de piada, né, na minha casa a gente sempre faz piada, mesmo da desgraça. A gente sempre acabou rindo, minha mãe sempre fez com que as coisas acabassem de uma maneira alegre, festiva, pra gente poder ir em frente. Então, tudo isso era muito marcante. Mesmo o lado ruim, tinha uma marca positiva de aprendizado. Minha mãe sempre transformou isso. Eu falo muito da minha mãe, porque eu acho que ela foi a grande marca de transformar, de levar, de fazer com que você aprendesse em cima dos problemas que a gente tinha. Sempre ter bons exemplos, trabalhar cedo, ter os seus caminhos, o que você quer da vida, faça a diferença. Essas coisas sempre foram muito marcantes pra todos nós.
P/1 – E a primeira escola, você lembra dela? Onde ela ficava?
R – Minha primeira escola foi o Grupo Escolar da Redenção. Foi em Guarulhos. Acho que eu entrei na escola com quatro anos. Tomei pau na escola muitas vezes no primeiro ano. Acho que eu devo ter batido o recorde no Brasil de tomar pau no primeiro ano. Entrei muito cedo e era uma escola pública muito pobre, de madeira. Fiquei lá durante alguns meses e aí fui estudar numa escola privada, que chamava Claretiano, que existe até hoje em Guarulhos. É uma escola de classe média alta, de padres. E isso, porque a família por parte de pai pagava meus estudos. Estudei ali por um ano aproximadamente, e aí comecei, voltei pra escola pública onde eu estudei até o ensino médio. Toda minha vida em escola pública.
P/1 – E você lembra dos detalhes da escola? Tinha uniforme ou você ia com roupa comum? Como era?
R – Todas elas sempre tiveram uniformes. Não tenho lembrança de alguma delas que não tivesse uniforme. Todas elas tinham uniformes. Ou era calça azul e camisa branca, ou calça cinza e camisa branca, ou depois avental. Usei avental quando estava no ginásio. Meu sonho era usar avental, né, você saía do uniforme tradicional pra usar avental no hoje Fundamental, Fundamental Dois. Então, todas elas tiveram uniformes. É uma coisa que eu lembro bem.
P/1 – E o espaço físico das escolas, você lembra?
R – As escolas em que eu estudei sempre tiveram espaços privilegiados. Sempre foram grandes espaços, campo de futebol, quadra. A marca do esporte sempre muito presente e da brincadeira. Foi o momento que, escola pra mim sempre foi brincadeira. Nunca fui um bom aluno, na verdade, nunca gostei muito de estudar. Sempre estive na escola uma coisa pra encontrar os amigos, pra gente brincar, alguma farra pra gente aprontar, qual que era a bola da vez pra gente fazer brincadeira. Então, escola comigo sempre teve essa marca da brincadeira.
P/1 – E as classes eram mistas?
R – Sempre classes mistas.
P/1 – E cartilha? Você tinha cartilha? Você lembra da cartilha qual era?
R – Não lembro do material que a gente estudava. Era cartilha, de acordo com a fase em que a gente estava, ou indicação de livros. A escola normalmente providenciava material pra gente estudar ou dava indicação de livros. Mas, eu não me lembro de nenhum material específico. Uma grande marca que eu tenho é que aos dez anos ter lido, por orientação da escola o livro Barro Blanco. Mas enfim, material específico eu não lembro. Isso era material pra meio de ano, sair de férias, ter que ler um livro, fazer aquelas fichinhas de resumo.
P/1 – Você não lembra se tinha caderno de caligrafia?
R – Eu fiz caderno de caligrafia, mas não porque a escola orientou. Eu fui obrigado porque minha letra era muito complicada. Eu tinha aqueles cadernos de caligrafia e adorava fazer aquelas coisas aaaaa, eeeee, maravilhoso aquilo.
P/1 – E biblioteca, tinha biblioteca?
R – Não, as escolas não tinham bibliotecas. Quando tinham, não eram grandes espaços. Não tenho recordação. Talvez por não ser um bom aluno e não gostar muito de ler, esse tipo de coisa, a biblioteca é uma coisa que não me vem à mente. Eu não me recordo disso.
P/1 – Material é uma coisa que você falou que não lembra muito. Você não se recorda nada do que usava na sala? Era só o giz e a lousa?
R – Tem uma escola que é uma referência na minha vida, onde estudei muito tempo, que foi o Esther Frankel São Paulo, antigo Penha de França, na Zona Leste, na Penha. Foi um momento interessante, porque eu estudei lá um pedaço do Fundamental Um, hoje Fundamental Um, até o colégio, onde eu me formei. E era um momento interessante, porque tinha muita discussão política. Muita coisa escondida, muita formação de grupos pra se discutir política. Uma época que eu não vivi intensamente lá atrás, mas ainda tinha um rescaldo dessa coisa do comunismo, dessa caça às bruxas. Então, alguns professores discutiam isso, mas com grupos fechados. E tinha muita prática de discussão. Então, era giz, lousa, muita anotação e discussão em grupo. Isso era muito forte, pelo menos com os professores que eu tive. Apesar da minha não vocação pra estudar, se eu tive... se consegui me formar, é porque tive professores que tinham uma prática de fazer trabalhos, trabalhos de arte. Eu lembro de todos os trabalhos que eu fiz e foi uma coisa muito interessante, né, trabalhos com massa, trabalhos de transformar papel em massa. E depois na evolução, discussão realmente. Discussão política. Eu, da oitava série até o ensino médio, fui o presidente do Centro Cívico da escola. E ganhando eleição ano a ano. E fazendo um trabalho político, um trabalho de fazer campanha todo ano. E você tinha que fazer o trabalho acontecer. Foi um momento interessante na minha vida. Mas, essa escola em particular me traz uma saudade grande dos professores. Hoje eu ainda penso nisso com saudade e com uma certa culpa por não ter trazido os professores comigo até hoje. Não sei se é porque estou trabalhando na área de educação, mas sempre penso nisso com carinho. Queria ter contato com eles, falar o que eu conquistei, minha família. Sinto falta disso. E essa escola em particular, o Penha de França ou Esther Frankel Sampaio me deu muito essa condição de pensar de uma maneira diferente. A gente discutia muito um mundo diferente. Foi a maneira onde eu me encontrei, principalmente no que hoje era o ginásio, o Fundamental Dois, a gente teve um trabalho bem interessante.
P/1 – E a hora do recreio, você lembra?
R – Eu lembro sim.
P/1 – O que vocês faziam, do que brincavam?
R – Depende da época, né? Sempre foi brincadeira, mexer com as meninas, sempre fazer brincadeira de beijo, abraço e aperto de mão até uma idade. Depois de uma certa idade era namorar de fato. Mas era ficar, enfim, jogando bola, brincando. Ficar fazendo aquela brincadeira da garrafa, não sei o nome disso, onde a ponta da garrafa ela cai você tem que falar alguma coisa.
P/2 – Verdade ou desafio.
R – Isso, verdade ou desafio. Então isso era muito divertido, porque a gente descobria as coisas. Era muito sério, não podia mentir. E tinha uma outra que era pra dar beijos, né, essa era maravilhosa.
P/1 – Em algum momento você teve educação religiosa?
R – No Claretiano. Quando eu fui pro Claretiano que eu saí do Grupo Escolar da Redenção. Era uma escola de padres, né, eu não lembro quais padres eram, mas ali a gente tinha religião mais intenso. E eu tive também numa escola que eu estudei aqui na Vila Nova Conceição, a gente tinha uma prática, tinha aula de religião com bastante frequência. Inclusive tinha uma igreja na frente da escola. Tem até hoje uma igreja lá. Era comum a gente ir lá. Inclusive, eu fiz catecismo nessa igreja. Muito pela prática que tinha na escola, mas não foi uma coisa tão intensa, não. Me lembro realmente no Claretiano, e depois no primeiro, segundo ano de vida escolar, me lembro dessa prática de ensino religioso, onde fiz o catecismo. Muito induzido pela escola, tá? Mas eu não lembro de ter a prática do estudo de religião mais intenso fora disso.
P/1 – E algumas outras atividades que você tinha na escola, tipo coral, fanfarra, jornalzinho?
R – Não, tinha coral, tínhamos jornalzinho, porque eu fazia parte do centro cívico da escola, então tínhamos jornalzinho, grupos de teatro. Sempre procurei fazer parte dessas coisas, muito mais pra estar perto da galera do que por qualquer outra afinidade com a área. Mas tinha sim: teatro, visitas constantes, a gente fazia passeios com os professores pra estudar museu, ou alguma coisa nessa linha.
P/1 – E você tem algumas pessoas que foram marcantes na sua vida escolar, que você lembra até hoje?
R – Eu lembro. São desses que eu me referi ainda a pouco. Eu trabalho desde os 12 anos, né? E um dado momento, eu sempre, isso até a faculdade, eu levava marmita. E era meio, poderia ter sido, mas não foi chato nem vergonhoso, porque os professores de alguma maneira entendiam aquela coisa. Porque a minha irmã estudava comigo e num dado momento, ela ficou atrasada, a gente estudava na mesma sala, apesar de ela ter dois anos a mais que eu, a gente estudava na mesma sala. E mesmo quando a gente não estudava na mesma sala, ela me levava maçã, minha mãe mandava torta, porque eu saía do trabalho e ia direto pra escola. Eu era o único que ficava, todo mundo estudando e eu estudando e comendo. E não era permitido. Eu lembro de uma professora chamada Vani, que é uma grande referência pra mim, e a Dona Vani era muito, muito dura, com uma disciplina... Ninguém abria a boca na aula dela, não podia mascar chiclete, não podia respirar alto, porque era uma coisa. E ela era completamente tolerante comigo, porque eu comia, comia maçã. E comer maçã é uma coisa que me agrada muito desde criança, por causa do barulho. Então, eu comia maçã pelo prazer de escutar o (barulho) do que por qualquer outra coisa. Fazia isso na sala dela, ela era professora de matemática, muito pra provocá-la e ela sempre tolerou. Depois de muito tempo, mesmo estudando, eu comecei a ter uma admiração muito grande por ela, porque ela fazia aquilo porque sabia que eu trabalhava e estudava e precisava comer quando chegava nas primeiras aulas, né? Porque tinha três aulas antes do intervalo, se não me engano, depois o intervalo e duas aulas. Eu me alimentava normal, mesmo que pra mim era pra provocá-la, mas ela sabia que eu precisava me alimentar, comer alguma fruta, uma torta, alguma coisa. Pra mim, foi uma referência muito positiva. Os professores de matemática, de maneira geral, sempre foram referências positivas pra mim, sempre puxaram, me estimularam. Eu sempre fui bem nessas disciplinas e os professores eram rígidos, né? Acho que os professores mais rígidos, pelo menos pra mim, foram os que marcaram mais a minha vida.
P/1 – E você gostava então de matemática? Que outras matérias você gostava?
R – Eu não gostava de línguas. Línguas, não. Eu não gostava de inglês, né? Eu sempre fui bem em francês e tal, mas inglês foi uma coisa que me reprovou em dois anos: na oitava série e, se não me engano, no primeiro colegial. E aquilo me deixava muito chateado. Muito chateado porque nas outras disciplinas, não por estudar, mas de alguma maneira, responder em sala de aula, participar das coisas, participar ativamente... Eu nunca fui de estudar, mas do que eu assistia em aula, eu procurava colocar em prática nas provas. Apesar das respostas não serem exatas, como se pedia naquela oportunidade, as minhas respostas sempre tinham abertura e eu conseguia navegar nessa coisa e ia bem. Não por estudo, porque realmente eu nunca me preparei pra provas. Isso foi assim no ensino básico, isso foi assim na faculdade, onde eu decidi que na faculdade eu tinha que colar, porque era a maneira que eu tinha de estudar. E passava vergonhas absurdas, porque não estudava.
P/1 – E indo já pra juventude, na época do colegial. Você tinha um grupo de amigos? Como era o grupo de amigos?
R – Foi o momento onde eu, do ginásio pro colégio, eu realmente consegui formar grupos, ter amigos. Até então eu brinquei com muita gente, mas não posso falar que foram amigos. Era molecada. Já no fundamental dois, no ginásio, a gente formou um grupo forte, um grupo de amigos que ficou muito tempo. Muito tempo. E era diferente, o comportamento era completamente diferente. Eu acabei não mantendo o relacionamento com essas pessoas, mas era muito diferente. Era uma coisa de estar presente. De fazer aquilo que a gente vê em filme hoje, de ser diferente, de estar em grupos que pudessem chamar a atenção. Por alguma razão, eu não fazia parte desses grupos, mas andava bem nesses grupos. Eu fazia sempre parte do grupo dos nerds, não por estudar, mas fazia parte do grupo de lerdos. Mas eu andava bem com esse grupo das estrelas da escola. Não fazia parte do grupo deles, não sei se dá pra você entender? Eu não fazia parte daquele grupo, mas eles por alguma razão me respeitavam. Eu transitava bem naquele grupo, mas fazia parte do grupo dos mais bobinhos, de brincadeirinhas mais bobinhas, dos mais purinhos. Esse era o meu grupo. E que fizemos uma amizade muito grande, depois de estudar, de fazermos trabalhos juntos. Começar a trabalharmos juntos, aí de uma maneira diferente, mais profissional. Não aquele trabalho que minha mãe me obrigava a ir pra não ficar na rua. Aquele trabalho que era registrado, aquela coisa de pensar em se encarreirar.
P/1 – E o que vocês faziam pra se divertir? Bailinhos, festinhas?
R – Ah, bailinhos. Era a coisa mais gostosa. O que me vem à mente eram os bailinhos, né? Os bailinhos que a gente fazia na casa de um, na casa de outro. Bailes de formaturas, no colégio era uma coisa fabulosa. Desde os primeiros anos, todo final de semana de dezembro até fevereiro eram bailes de formatura. A gente saía do baile de formatura de madrugada, quatro, cinco horas da manhã e ia pra escola. Pulava o muro da escola e ia jogar bola, porque tinha muita gente que jogava bola e jogavam muito bem. Eu tive amigos que jogavam muito bem bola, jogavam no Corinthians que era ali perto, não pode falar muito isso, vocês me desculpem, mas eu sou corintiano. E Casagrande, Ataliba, tinha um grupo de pessoas que ficaram profissionais, hoje são comentaristas na área esportiva, mas naquela época era um bando de moleques que saía do baile de formatura, e eram muitos, era uma coisa fantástica. E a gente saía do baile, ia pra escola, pulava o muro e ficava jogando bola. Jogava bola até 10, 11 horas da manhã, de cueca, pelado, fazendo farra. Coisa de moleque. Essa era nossa diversão na época de formatura, janeiro, dezembro, coisa assim.
P/1 – E tinha algum trabalho social com esse teu grupo ou na escola? Alguma coisa que você tenha participado?
R – Nós fazíamos algumas atividades na escola. E uma delas deu muito certo, que era a Festa do Folclore. E ela tinha um, como papel fundamental, a arrecadação daquele evento que nós fazíamos na escola era ajudar as famílias carentes ali da região, no entorno da escola. Isso era uma coisa que foi feita durante muitos anos, pelo menos na minha estada na escola. Era uma grande festa, com recorte de jornal, com grande arrecadação, com música, com dança. E a partir daí a gente levava o fruto disso pra essas famílias, essas pessoas. Isso foi um trabalho que era feito com sequência, a escola estimulava que a gente fizesse essa prática. Tinham alguns professores que incentivavam isso com a gente, através desses eventos que aconteciam na escola.
P/1 – Havia alguma expectativa na tua família pra que você seguisse alguma carreira? Como foi? Como você se decidiu?
R – Tinha meus pais querendo que eu fosse alguém. E a primeira coisa do ser alguém era ser... Minha mãe queria que eu fosse um oficial das forças armadas, o sonho dela era me ver de branco na marinha, alguma coisa assim. Meu pai já falava que queria que eu fosse médico. Coisas daquele momento. Na realidade, o que eles queriam era que eu... O sonho dos meus pais é que eu trabalhasse e fosse registrado. Não vivesse os problemas que a gente teve na família, que aquela era a grande experiência. Então, era trabalhar e ser registrado. Já que tinha uma possibilidade ou não de ser médico ou entrar nas forças armadas, mas era remota. E foi, porque eu fiz o teste no que eles chamavam Eprecad – Escola Preparatória de Cadetes do ano, e nunca soube nem o resultado, porque... Mas o grande objetivo dos meus pais, com toda sinceridade, era que eu tivesse uma carreira profissional bem sucedida. Pensando provavelmente como funcionário público: “olha o pessoal do Banco do Brasil, ganham bem, têm estabilidade.” Coisas dessa... Sempre fez muito parte da minha mãe ter um emprego garantido. Essa sempre foi a busca do meu pai e da minha mãe pra que eu tivesse um emprego garantido. Que não fosse mecânico como meu pai era, como se isso fosse algum problema. Então tratava dessa coisa de ter um emprego num escritório, poder andar de gravata. Era um sonho dos meus pais pra mudar o cenário que a gente tinha vivido.
P/1 – E aí você resolveu fazer o quê?
R – Eu resolvi que não gostava de estudar. Eu resolvi que tinha que entrar na faculdade sem fazer cursinho. Eu resolvi que tinha que fazer a diferença, porque fazer a diferença era o que poderia dar certo. Então, trabalhar mais. Meus pais sempre falavam: “olha, em trabalho você não tem amigos, tem colegas. Se esforce. Você vai competir com muita gente que é tão bom quanto você ou melhor. Portanto é a sua dedicação no trabalho que vai fazer com que você tenha sucesso”. E eu acho que isso ficou muito na minha cabeça. Eu sempre, desde que comecei a trabalhar, sempre procurei ser diferente, ser criativo e trabalhar mais que os demais. E não existia o não. Não existia falar não, era aceitar todos os desafios. E aí, eu sempre falei que eu tinha vontade de estudar Astronomia, Oceanografia, mas fui fazer Administração de Empresas. Por uma única razão: foi onde eu entrei. Foi onde eu entrei na Unicid. Entrei acho que na quarta lista, porque eu sempre fui muito bom pra essas coisas. Acho que era a última, porque se tivesse umas 12 eu ia entrar lá. E como eu entrei no diurno, eu entrei no diurno e comecei a estudar no noturno, porque eu sempre trabalhei. E aí, eu me transferi e deu tudo certinho. Eu entrei na quarta lista de Administração de Empresas da Unicid. E descobri que era bacana, que eu, por uma feliz coincidência na vida, com certeza por um apoio divino, que eu devo agradecer todos os dias, acho que foi bom. Porque eu me tornei um generalista, me formei bem na faculdade. Fui convidado pra dar aula. Já muito jovem, porque eu já trabalhava. Enquanto a maioria estava ali de alguma maneira iniciando a sua vida, principalmente só estudando, eu já trabalhava, desde os 12 anos. Então tinha muita troca com os professores. Nunca chegava na faculdade falando dos trabalhos que eu tinha que realizar no Unibanco, por exemplo, e eles: “puxa, essa magnitude de trabalho? Isso é processo, é procedimento.” É como reengenharia lá atrás, naquele começo de atividade profissional. Eu discutia muito com os professores. Nas aulas, era muito comum a minha interferências, as discussões, eu provocava sempre coisas muito positivas. Não que eu estudasse, mas a participação nas aulas.
P/1 – Você tinha a prática.
R – Tinha a prática e gostava de conversar. Talvez se eu tivesse tido professores que me entendessem, desde pequeno, conseguindo me encaminhar de uma outra maneira, talvez tivessem arrancado mais de mim. Fazer a coisa de uma maneira gostosa, poder brincar, discutir. Acho que é uma coisa da família de que tudo tinha que acabar num sorriso, numa brincadeira. Eu acho que eu esperei mais da escola em relação a isso, mas nem sempre foi possível. E na faculdade eu tive essa vantagem naquilo que eu fiz, quando fiz, do jeito que fiz, de poder discutir mais, porque tinha essa experiência.
P/1 – Vamos voltar só um pouquinho. Você já citou várias vezes, mas você não contou pra nós. Esse teu primeiro emprego aos 12 anos, o que foi, o que você fazia?
R – Ali foi uma coisa fascinante, porque eu chegava da escola e ia pra rua, voltava à noite. Mas no outro dia, não: eu chegava da escola e ia pra rua, só voltava à noite. Até que um dia minha mãe, e eu não estudava, tirava nota baixa, meu pai: “vai estudar.” “Vai estudar por quê?” Ele pegou a marmita e atacou na parede, a marmita dele. Fez um buraco. “Você precisa estudar, ser alguém na vida.” E minha mãe decidiu que eu deveria trabalhar, já que gostava tanto de ficar fora de casa, ia trabalhar. E eu fui trabalhar numa tapeçaria. Eu passava o que nós chamávamos macarrão no tear. Enrolava o macarrão numa madeira e depois ficava passando no tear e construindo os tapetes. Esse foi o motivo do porquê fui trabalhar tão cedo e a primeira empresa. Era uma empresa familiar, bem pequenininha, numa casa. Fazendo tapetes. E aproveitava o tempo ocioso pra espiar a filha do dono se trocando, mas isso não pode contar.
P/1 – E depois, na faculdade, você falou que trabalhava no Unibanco, época da faculdade? E aí você continuou no Unibanco?
R – É. Eu continuei no Unibanco. Eu já tinha algumas experiências profissionais, já estava trabalhando na Bolsa, estava indo pro Unibanco, já tinha algumas experiências profissionais diferentes.
P/1 – Se você quiser contar um pouquinho...
R – Bem, depois dessa fase, comecei a trabalhar registrado numa empresa de cobertores, a Fiação e Tecelagem Tognato, com o senhor Duílio Domenico Belinelo, aqui em São Paulo, na rua Boa Vista, 230, terceiro andar. As grandes referências da minha vida estão na vida profissional, porque eu encontrei pessoas que me ensinaram coisas boas e coisas ruins. Mas, a maioria, coisas boas. E o senhor Duílio gostava muito de família. Falava muito da família, dos filhos. Sempre da vida profissional, do que a empresa representava pra ele e falava muito da família, a preocupação dele com a família. Lá eu era aprendiz de escriturário. No escritório trabalhávamos eu e ele, e eu fiquei lá, enfim, foi o começo da minha vida de escritório. Não era de gravata ainda, o sonho da minha mãe, mas era o início da minha vida em escritório, na Rua Boa Vista. Aí eu saí de lá e fui trabalhar numa seguradora, na Praça da República, Grupo Áurea, era Áurea Seguradora. Trabalhei lá como mensageiro. Saí de lá e fui, era muito garoto, né, brincava muito no trabalho. Então, fui demitido depois de um ano, ano e meio. E aí, tive que ficar sério, porque se não, a coisa ia ficar preta pra mim, em casa. Eu comecei a procurar emprego de uma maneira maravilhosa. Era batendo de porta em porta, perguntando: “tem alguma coisa aí? Estou querendo trabalhar.” Até que fui trabalhar no IPOM – Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado como, pasmem, Auxiliar do Departamento Pessoal, com 16 anos. Ou seja, aprendi escriturário, mensageiro e auxiliar de departamento pessoal. Foi muito interessante esse trabalho no IPOM, porque a gente trabalhava muito com autônomos, os pesquisadores. E eram pessoas diferentes, eram pessoas com cultura diferente, com jeito diferente, com roupas diferentes, trabalhavam no campo fazendo pesquisas. Eram figuras maravilhosas, de todo tipo de gente que você pode imaginar, mas gente muito honesta, bacana. E eu me desenvolvi muito, não no departamento pessoal, mas em relações humanas. Em relações humanas foi muito importante. Tanto é que depois eu... É IPOM e AudTv, né? Hoje, essas empresas, os grandes profissionais da área de pesquisa passaram ali, porque ali foi o início da pesquisa no Brasil, essas duas empresas. Isso foi muito importante na minha vida profissional e é até hoje. Aprendi conceitos e coisas que não mudam e eu aprendi ali com aqueles profissionais, na área de pesquisa. Aí, eu passei um tempo, saí depois dessa coisa de ser auxiliar de departamento pessoal e fui ser pesquisador de campo, fazer os processos estatísticos. Fiquei algum tempo trabalhando como pesquisador, o que também me deu outra vantagem na minha vida, que é ter trabalhado em contato direto com o público, fazendo essas pesquisas. Na sequência, fui trabalhar na Bolsa de Valores, fiquei lá por uns quatro ou cinco anos. Entrei como datilógrafo e cheguei a procurador. Eu fui o procurador mais jovem da Bolsa. Numa área onde trabalhavam profissionais naquela época que tinham a minha idade hoje, mas tudo bem. Profissionais que tinham naquela época 40, 50, 60 anos e eu lá com 21 anos. Estava acabando de fazer 21 anos e estava sendo promovido a procurador. Por quê? Por que eu era brilhante? Não. Por que eu tinha feito a melhor universidade? Não. Mas porque eu realmente não falava “não” e trabalhava muito. Incessantemente. E fui conseguindo conquistar meu espaço na Instituição. A ponto de depois de ter trabalhado esses quatro, cinco anos ter sido convidado a trabalhar no Unibanco, no Departamento de Acionistas. Muito cedo fui convidado. Dobrei meu salário, coisa fabulosa, né? E no Departamento de Acionistas do Unibanco, onde eu comecei, eu tinha uma proposta muito grande que era proposta de carreira: “vai trabalhar, ser registrado, se encaminhar. Isso é seu desafio na vida.” E no Unibanco, eu realmente me encarreirei, fiquei no Unibanco aproximadamente 15 anos. Comecei no Departamento de Acionistas, que era ligado ao Marketing. E aí eu comecei a minha carreira no Unibanco indo pro Marketing. Onde eu estudei, fiz muitos cursos de extensão universitária na USP em Marketing, Negócios. E fui crescendo. Eu tinha um chefe que falava que não se conformava. Ele acabava de me comunicar uma promoção ou um aumento e eu já perguntava pra ele quando era o próximo. Em quanto tempo podia ter o próximo, porque eu ia buscar. E foi assim. Então, foi tudo muito rápido, cheguei a Superintendente de Marketing e com projetos... Uma grande escola o Unibanco, uma grande escola profissional, com figuras ótimas, com profissionais que marcaram muito a minha vida profissional e até minha vida pessoal. E trazendo sempre resultados, né? Eu ajudei a lançar o Unibanco 30 horas, fiz parte de todos os produtos e serviços da família 30 horas. Eu respondia direto ao Vice-presidente do Banco, eu Diretor de Marketing no Banco. E na minha última etapa no Unibanco, eu lancei o Banco1. Pensei, criei, desenvolvi e coloquei o banco no ar, que foi o Banco1. Hoje já não existe mais, mas até o ano passado era o Banco1.net. Esse é um projeto realmente meu, que a gente estudava muito no marketing o banco remoto, o banco a distância. E a gente conseguiu fazer um trabalho de uma agência que estava com grandes problemas numa agência rentável e depois num banco. Isso me levou a ser convidado pra trabalhar em outras áreas. E eu fui convidado pra ir pra Multicanal, o que hoje é NET. Não como escola profissional, mas como visibilidade, foi onde eu consegui ter visibilidade no mercado de trabalho, foi na NET. Eu fui lá responder pela área comercial de São Paulo, em 6 meses já respondia por toda diretoria comercial Brasil. Não só comercial, mas marketing. Em um ano já estava respondendo pra Holding, com convites pra trabalhar no mercado brasileiro, mercado internacional. Foi uma coisa fascinante. E também aprendi, porque me davam espaço pra me expor, pra trabalhar. E ali eu descobri uma coisa interessante, que tão importante como é criar, é pegar uma coisa que já foi criada e colocar em prática. Nem todo mundo tem essa capacidade de desenvolver. E eu fiz muito isso na NET, na Multicanal, que foi, quando eu entrei lá, conhecer e rapidamente pegar o que tinha sido feito sem sucesso, conversar com as pessoas e tentar mudar. E grandes projetos foram relançados e a gente teve realmente muito sucesso. E essa explosão que eu tive no campo profissional começou a me fazer ter muito convite. E eu acabei aceitando o de instalar no mercado brasileiro o UOL, que era do Grupo Folha e do Grupo Abril. Foi assim, foi rápido. Uma passagem rápida, mas rápida por puro sucesso. Hoje, grande parte das estruturas que tem nessa empresa, são frutos daquilo que nós lançamos enquanto trabalhei lá. Lá no UOL, que era fruto da Abril, com o Brasil Online, com a Folha de São Paulo e o Universo Online, nós lançamos o UOL no mercado brasileiro, na internet brasileira. Tenho muito orgulho de falar, porque como todas as que eu passei está também aí até hoje, com muito sucesso. Porque o UOL é um patrimônio da internet brasileira. Uma empresa nacional que nós conseguimos fazer com muito carinho e muita dedicação. NO UOL eu fui chamado a ajudar a desenvolver o Universo Online no mercado brasileiro, cuidando das áreas de publicidade, comércio eletrônico, conteúdos regionais, call center, assinaturas. Enfim, eu respondia por todo o ______ da empresa. E foi muito interessante, um desafio enriquecedor. Eu sempre fui muito rápido, e ali aprendi a ser mais rápido ainda. Internet impõe na gente uma outra velocidade. O mercado ficou muito competitivo e a gente tinha que estudar muito. Ali eu também aprendia estudar a concorrência, a fazer outro tipo de movimento na minha vida, pra que a gente não tivesse surpresa, né, a se preparar melhor diante disso. Eu vou até lembrar um fato aqui que é importante. Eu lembro que no UOL a gente começou a fazer sucesso, estava muito bem, tudo indo muito bem quando a American On Line estava pra vir pro Brasil. Aí, nós nos reunimos, os executivos do grupo se reuniram e decidimos estudar. Eu havia recebido de presente de uma funcionária minha um livro que contava a vida do Steve Case, que era o CEO da American On Line. Coisas interessantíssimas, inclusive sobre a vida íntima dele. E muito sobre a concepção de empresa, o que tinha acontecido de certo e de errado. Era um livro que tinha umas 400 páginas, 500 páginas e muito rico. Nós fizemos a tradução juramentada e entregamos pra todos os profissionais do UOL, pra todas as áreas e pedimos pra que todos eles exercessem o seguinte pensamento: se você fosse American On Line, se você fosse o Terra, se fosse quem quer que seja no mercado, o que você faria pra deixar a UOL numa situação sem tanto privilégio como tem hoje no mercado? Todo mundo preparou aquele material e nós tivemos várias e várias reuniões. E fizemos um book daquilo e chamamos de Welcome to Vietnam pra American On Line. E entregamos isso nas mãos do Nizan Guanaes. E ficou fruto até de uma campanha que nós íamos fazer, mas que depois nós não deixamos ficar dessa maneira, porque o Vietnã é muito delicado pro povo americano, a gente podia não ser bem entendido naquela ação. Mas aquilo foi estudo, estudo, estudo. Foi uma coisa fabulosa e a gente fazia isso com todo mundo que estava naquele mercado ou pra entrar naquele mercado. E aconteceu o que aconteceu. Nunca tivemos nem sequer um soluço, porque nós estávamos sempre preparados pra enfrentar os problemas que poderiam vir. Nós pensamos em quase todos. E naqueles que nós não pensamos, a gente tinha uma prática tão grande de soluções, de criatividade que era fácil dar o encaminhamento. O UOL era e acho que é até hoje uma grande empresa, abriu capital recentemente. Eu tenho plena satisfação. Foi o momento em que se criou ali muitos novos ricos no Brasil e no mundo fruto da Internet. Eu não sou um deles. Mas fiz bastante sucesso. Na última etapa fui convidado pra ser o CEO, o presidente de uma empresa multinacional formada por três grandes empresas internacionais que eram a ____________, pra lançar, seu o braço da Vésper, que era a empresa de telecomunicações no país, naquela época. Com uma tecnologia que trabalhava via wireless e nós seríamos o braço dessa empresa no Brasil. Eu aceitei o desafio, porque era um sonho, né, minha mãe falava: “você tem que ser presidente de alguma coisa, filho.” Então eu falei: “puxa, chegou minha vez, vou ser presidente de alguma coisa.” Então fui lá eu, ser o presidente. Foi o maior desafio da minha vida e o maior fracasso da minha vida. Se tem um lugar que eu aprendi foi realmente ali. E aprendi a duras penas, aprendi com o fracasso. Não é muito fácil falar disso, mas a empresa, acho que ela performou bem, conseguiu ter chegado ao ponto de equilíbrio antes do esperado, mas não teve sucesso, porque ela se integrou à empresa mãe, que estava com muitos problemas e um endividamento monstruoso, que era a empresa de telecomunicações. E aí nós por sermos uma empresa muito pequena e não suportar essa operação, acabou se integrando para ser uma área da empresa de telecomunicações. No momento em que eu saí, sempre falo que fui convidado pra ir pra tal lugar, nessa eu fui convidado pra sair e foi muito bacana, porque eles me convidaram no dia do meu aniversário. Foi uma festa tremenda lá em casa, um presentão. Mas foi, isso é verdadeiro, a maior experiência e onde eu acho que mais aprendi. Eu acho que hoje melhorei profissionalmente, porque eu cuido de coisas e detalhes que não cuidava naquele momento. Acho que eu estava muito jovem e pensava sempre em representar o mercado, em representar os meus profissionais, ter uma empresa de sucesso. E na realidade, eu tinha que acrescentar ali um detalhe, que era representar o acionista, que eu talvez tenha dado menos atenção pra esse pequeno detalhe. Então, aprendi muito. Saí de lá e felizmente eu rapidamente já estava trabalhando. Foram coisas de duas ou três semanas, fui convidado pra ser Diretor Comercial do Valor Econômico. E no momento onde eu pensava: “puxa vida, será que eu vou fazer como meus amigos, esperar pra ser presidente de novo? Não. Eu não vou fazer isso, porque eu vou ficar louco. Preciso trabalhar pra não ficar louco. Então não importa se vou ser gerente, balconista, atendente, eu vou trabalhar. Porque preciso não viver com esse problema na minha cabeça.” Acho que eu tomei uma decisão muito assertiva, tive uma decisão muito correta. Porque eu fiz grandes trabalhos com a equipe, com toda equipe do Valor Econômico, na área de publicidade, projetos especiais, assinaturas. Grandes projetos. E um dia eu estava com dois anos de Valor Econômico, eu estava com um grupo de amigos, num restaurante. Empresários, executivos de empresas, estávamos lá almoçando, batendo um papo, né? E aí: “puxa, o que você não fez da sua vida, o que você quer fazer? E você, Guilhermino?” “Olha, quando eu penso na minha vida profissional, o que eu não fiz, gostaria de fazer, gosto de trabalhar, preciso, gosto de trabalhar. E quanto a segmento eu não tenho muita dificuldade, porque não tenho nenhuma genialidade, mas gosto muito de gente. Procuro ter gente competente nas áreas que precisam ter nessa empresa, seja na área que for.” Comentário, brincadeira. “Eu tenho feito, por alguma razão na minha vida, na área de marketing, projetos, eu tenho trabalhado com a área de educação. Isso tem dado muito prazer, tenho conhecido gente muito bacana. Assim como eu conheci, nessas empresas, jornalistas interessantíssimos, que são grandes amigos até hoje, pessoas muito importantes no meio e que ficamos grandes amigos. Na área de educação, essas empresas que a gente fez parcerias, eu também me dei muito bem e também gostei muito. Acho que é uma área muito promissora. Então, talvez a área de educação”. Eu falei aquela coisa, mas... Saí de férias com a minha família, ficamos uns vinte dias fora do país e quando voltei tinha um recado no meu celular. Uma das pessoas da mesa era amiga delas, das meninas, da Fernanda, da Roberta e da Patrícia, que viviam um momento de reestruturação da empresa e estavam buscando um executivo pra atuar no Pueri Domus Escolas Associadas. Então, foi um feliz comentário da minha parte que deu certo. Então, rapidamente na minha volta a gente sentou, conversou e eu aceitei trabalhar aqui. O que eu também acho que foi, e francamente, não é porque eu estou fazendo esse comentário pra vocês, foi um momento importante aquela tomada daquela decisão. Eu melhorei muito estando aqui, tanto profissional - onde eu posso praticar várias coisas que você aprende ao longo da sua vida, na área acadêmica quanto na profissional, aqui eu tenho como colocar em prática - e também na área pessoal. Educação é diferente. Essas meninas são diferentes. Tem sido uma relação muito positiva e eu me sinto construindo junto com elas, ou ajudando a empresa, as empresas, me sinto contributivo, me sinto muito bem.
P/1 – Então, essa foi sua entrada no Pueri Domus? E você entrou, a gente sabe que você veio pra fazer uma reestruturação, não é isso?
R – Não, eu entrei como Diretor Geral do Pueri Domus Escolas Associadas, no dia 12 de agosto de 1990 e, quer dizer, de 2003. Alguns meses depois, elas, a Roberta, a Patrícia e a Fernanda acharam importante pra condução do grupo, num movimento estratégico, a criação de um Conselho. Como se fosse um Conselho de Administração com profissionais do grupo e podendo ter também profissionais que não fossem do Grupo Pueri Domus, mas fazer um Conselho pra dirigir os assuntos estratégicos, entender esse mercado, nos posicionarmos e sermos mais pontuais nas ações da empresa. Então, elas criaram um Conselho Gestor, fui convidado pra ser o Presidente do Conselho Gestor e sou até hoje, desde a sua criação. Então sou Diretor Geral do Pueri Domus Escolas Associadas e sou o Presidente do Conselho Gestor do Grupo Mes.
P/1 – Houve uma reestruturação ou não do Grupo Mes? Só foi criado o Conselho ou...
R – O próprio trabalho, a criação do Conselho ele é um step, é um passo dentro das estratégias que elas estabeleceram. Portanto, passou pela criação do Conselho, a partir daí, a estruturação das áreas. Então, como ficaria a área de Recursos Humanos no Pueri Domus, onde nós tomamos uma medida pra que tivesse uma estrutura adequada, moderna, voltada pra educação e que pudesse responder aos anseios das nossas comunidades internas, das comunidades externas, do mercado, enfim. Esse foi apenas um passo dentro das estratégias adotadas. Com certeza, um passo importante, mas é um passo, é um movimento dentro das estratégias que elas procuraram desenvolver.
P/1 – E nas escolas associadas. Quando você entrou, você trouxe assim, mudou alguma coisa? Como foi?
R – Escolas associadas, eu entrei num momento interessante. Eu acho que a gente está até hoje tendo uma contribuição muito significativa. A empresa, desde sua criação em 1996, ela acabou sendo sempre muito voltada pra dentro. Olhando o modelo pedagógico, criando seus livros, fazendo uma relação, estabelecendo uma relação com os nossos autores e construindo nossa proposta pedagógica, tudo muito voltado pro modelo pedagógico. A minha vida, acho que facilitou um pouco não só olhar para o modelo pedagógico - que é essencial no nosso negócio, isso a gente não pode abandonar nunca, e a gente olha muito de perto isso - mas também olhar pra fora. O que está acontecendo nos mercados? Quais são as tendências? Vamos estudar o que está acontecendo no mercado dentro da nossa prática, daquilo que nós acreditamos, da missão, posicionamento e visão da nossa empresa, como a gente consegue se manter crescendo, continuar crescendo. Esse foi o desafio, pra mim colocado desde o início, e foi no que eu acho que pude ter contribuições junto com o grupo de escolas associadas. Então, olhar um pouco mais pro mercado e ter crescimentos de outra ordem. Eu acho que a gente vem conseguindo isso, mas temos muito pra fazer. Mas tem umas coisas interessantes: eu não dirijo o Pueri Domus Escolas Associadas, nós dirigimos. Eu tenho um grupo de profissionais, que nós trabalhamos juntos. Isso não é discurso, é fato. Até porque quem sou eu, vindo de outras áreas, discutir educação com mais profundidade, tomar medidas sem ter pessoas que pudessem me aconselhar. Essas pessoas são as mesmas que trabalharam na empresa. São hoje Diretores da empresa, ou têm cargos importantes dentro da empresa e que discutem, que nós damos os encaminhamentos para a empresa juntos. Isso é fato. Hoje, nós continuamos com as mesmas pessoas dentro da empresa, colocamos sangue novo, porque é importante oxigenar. Isso sempre vai fazer parte das empresas, essa oxigenação. Mas é importante a gente ressaltar que é um grupo de profissionais, um grupo pequeno, hoje a empresa tem 44 profissionais diretos, mas é um grupo que faz a diferença. Um grupo encantador, um grupo que pensa em desafios, que vai buscar os desafios que são colocados e sempre com sucesso. A gente vem crescendo com uma taxa razoável, e a partir de agora esse nosso crescimento vai ser maior graças a termos empreendedores dentro da organização, termos pessoas éticas. Isso é muito importante. Isso já estava na casa, é uma conquista delas, não minha. Mas que eu valorizo muito. A gente só tem a agradecer, está tendo um sucesso muito bom. Tem uma expectativa muito positiva pra nossa empresa no mercado.
P/1 – Mais especificamente, como que é a ideia tua na avaliação pedagógica das escolas associadas?
R – Não sei se vou te responder da maneira correta. Mas, nós procuramos escolas pra associar, ou aquelas que já estão associadas, ou aquelas que virão, são escolas que têm uma afinidade pedagógica como nosso modelo de educação, com a nossa proposta pedagógica, que é uma proposta, a mesma do Pueri Domus, uma proposta sócio-construtivista, mas que olha pro mercado, sim. A gente olha pro mercado, vê as necessidades e procura conciliar, sem perder aquilo que nós acreditamos. Então, essas escolas que estão conosco hoje, temos 165 escolas hoje associadas, são quase 60 mil crianças ou adolescentes que usam nosso material, são oito mil professores que usam nosso material, eles vêm de uma identidade com a nossa prática. Não só da nossa prática pedagógica, mas também de uma empresa – e eu tenho muito orgulho de falar isso – que trabalha com seres humanos. A gente respeita muito gente. A gente gosta de falar com as pessoas, de personalizar. Essa é uma marca da nossa empresa e não tenha dúvida de que ela continuará existindo, seja o tamanho que a gente venha atingir. Porque nós estamos crescendo, vamos crescer muito mais, mas não vamos perder o jeito, a relação que nós temos com as pessoas. É uma marca muito forte da empresa que a gente vem realmente estimulando que ela continue e que a gente aprimore cada vez mais isso. Porque não é comum no mercado, seja ele de educação, seja outro mercado. Acaba virando um trabalho de atendimento, um trabalho de relação que vai pra massa. O nosso não vai ser assim, porque não é isso que eu acredito, não é isso que nossos profissionais acreditam. Este também é um grande diferencial do Pueri Domus Escolas Associadas. E as escolas estão conosco, elas estão justamente porque a gente identifica. Hoje na avaliação dos novos, a gente faz uma avaliação criteriosa sobre afinidade que a gente vai ter na construção dessa educação nas escolas.
P/1 – E quais são as novas coleções editadas pelo PD?
R – Então, nós tivemos grandes conquistas nesses últimos anos. Nós lançamos coleções, vamos chamar de mais agressivas, no ensino médio. Coleções que têm muito mais sistematização, conteúdo, entendo como o mercado está se posicionando hoje. Não abrindo mão do que acreditamos, mas para as escolas que têm essa necessidade, para um público que requer isso, a gente tem uma coleção especialmente construída, que tem os nossos princípios pedagógicos nela. Mas que tem mais sistematização, mais conteúdo. Isso foi uma conquista. Nós estamos crescendo no ensino médio, devemos crescer muito mais, porque é um trabalho muito sério, muito honesto. Outra conquista foi termos aprovado, estar lançando este ano, está ficando pronta agora nas próximas semanas, uma coleção específica pra iniciativa pública. Por quê? Tem algumas razões básicas. Em primeiro lugar, porque nós fizemos alguns exercícios com a iniciativa pública a alguns anos atrás e achamos que não podemos ficar fora. Nós entendemos que a prática de educação que nós temos pode ajudar essas crianças da iniciativa pública. De uma maneira inteligente, de uma maneira que realmente transforme esses jovens, transforme esses professores, de uma maneira que a gente consiga trazer pra uma visão de mundo mais adequada. A gente identificou que isso era uma carência. Como uma segunda razão, e eu não estou aqui colocando por ordem de importância, mas a parte pedagógica e a vontade de atuar na educação é muito forte pra nós. Isso é o que permeia a instituição, mas você tem hoje um investimento muito forte na área pública. E com todos os participantes desse mercado, as empresas que atuam nesse mercado o fazem de maneira muito forte. Então, nós vimos que ali também tinha uma oportunidade também de agregar nas receitas da empresa. Então, a partir daí nós estudamos e vimos a necessidade e que nós temos a oportunidade de entregar um modelo de educação bom, com um modelo financeiro que também nos pediu pra entrar, nós lançamos uma coleção que nós denominamos Educação e Desenvolvimento Humano – EDH. Uma marca própria, não é uma empresa separada, mas é uma marca própria pra atuar no ensino público. Por que isso? Porque nesses três anos que nós atuamos na iniciativa pública com nossas coleções, nós entendemos que precisávamos construir uma outra coleção que pudesse ajudar aqueles professores, crianças e adolescentes a chegar onde nós acreditamos. Então, nós introduzimos formas de aplicação e conteúdos que pudessem fazer com que essas crianças conseguissem fazer aplicação dos nossos materiais, pra chegar onde nós acreditamos que todos podem chegar. Isso foi uma conquista muito forte. Ela é promissora no sentido de que nós vamos ajudar a educação, continuar a ajudar a educação brasileira e, também no aspecto financeiro, ela também é bastante promissora. Nosso negócio são as escolas particulares e sempre vai ser. Mas estar contribuindo também do outro lado, projetando outras receitas, também é muito importante. Então, essas entre várias outras são as que eu destaco. Uma outra, estávamos transformando a área de promoções e ventos numa unidade de negócios, fazendo eventos nacionais, internacionais. Hoje nós fortalecemos aquela coisa de ser uma empresa que pesquisa, que se preocupa, então nós viajamos pra vários cantos do mundo pra conhecer os melhores cases de educação. Levamos os profissionais que trabalham nas nossas escolas pra conhecer. E não é pra que copie ou não copie, que faça, ou que não faça. Mas que pense. Reflita naquilo que está fazendo. Tem alguma coisa que pode ser bom pra você? É refletir. Nosso objetivo é refletir, pesquisar pra que nossas escolas possam cada vez mais fazer uma prática mais forte, mais adequada junto às suas comunidades. Acabamos de trazer pra cá, pela primeira vez na história, a ________, que fica na Itália. E os trabalhos acontecem na educação infantil a partir das artes. Nós visitamos lá várias vezes e conseguimos trazer, pela primeira vez, aqueles educadores de lá pra cá e fazer um seminário internacional, que aconteceu nessa última semana. Maravilhoso. Quase mil pessoas participando de todo Brasil. Sucesso absoluto de crítica e público. Estamos criando grupos de estudos dentro do Pueri Domus, dentro de escolas associadas, assim como nós criamos com a Escola da Ponte. E pasmem! São escolas públicas, mas não importa. Importante é a prática de educação que você vai fazer. Importante é como a gente leva pra essas escolas particulares ou mesmo nosso material público, outras práticas de educação. Como você pode refletir e melhorar seu dia-a-dia. E a gente está fazendo isso com muito sucesso. Então, isso é uma coisa que eu também destaco e que está se tornando, se tornou uma unidade de negócios, com resultados crescentes e uma expectativa e uma projeção bastante promissora. A empresa inteira hoje trabalha com a sua vocação, com a coisa da educação no sangue, pensando nessas crianças, nesses professores, nesses mantenedores, mas também pensando nos resultados que a empresa precisa ter, que as acionistas merecem por tudo que elas fizeram, que é o crescimento da empresa numa velocidade maior.
P/1 – Tem outro mercado que vocês estão atuando além do particular e do público?
R – Nós trabalhamos com programas de formação. Mas aí tanto vale pro público quanto pro privado. Nós entendemos que é muito importante estar fazendo isso, porque na prática o que importa muito é a formação do professor. Então, a gente vem trazendo através dessa área programas de formações, palestras, seminários. Por isso é que eu estou me referindo como uma unidade de negócios.
P/1 – Quando você citou, você falou “nós entramos de uma forma mais agressiva no segundo grau”, não é isso? Então, eu queria te perguntar em cima disso o seguinte: você tem uma coleção pras outras escolas e tem uma pro Pueri, as unidades do Pueri, ou é uma só que serve tanto pra um como pra outro?
R – Não. Nós temos hoje duas coleções. O Pueri Domus usa hoje a coleção que foi construída pelo Grupo Pueri Domus e Pueri Domus Escolas Associadas para o ensino médio há seis anos atrás. Que é uma coleção que trabalha com fascículos, fortalece muito a pesquisa, a interdisciplinaridade. Uma coleção que é premiada, sonho de qualquer educador desse país. Hoje o Pueri Domus, as escolas próprias usam e um grupo de mais 16 escolas usam. Eu tenho um grupo de mais nove escolas que usam essa outra coleção. Por quê? Porque a prática que elas têm na sua comunidade requer um pouco mais de sistematização. Então que nós fizemos? Nós durante dois anos estudamos esse mercado e construímos uma coleção, que ela pudesse ter esse modelo de sistematização, de exercício, de pensamento só no vestibular, mas com nossos princípios. Você tem palavra-chave, tem interdisciplinaridade, mas de uma maneira mais suave. Hoje eu poderia ir pro mercado e falar: aquilo que você tem, eu tenho. Mas o que eu tenho, ninguém tem. Porque nós construímos isso pensando e estudando. Então o que nós fazemos? A coleção que o Pueri hoje usa chama-se Primus, que é uma coleção que trabalha com fascículos, são 72 fascículos nos três anos. Uma coleção que a gente trabalha muito bem com ela e as escolas que trabalham com ela estão fazendo também de uma maneira adequada. E pra aquelas escolas que têm uma outra prática em função da sua comunidade ou da concorrência, nós temos uma outra coleção pra atendê-las também. Esse foi o objetivo.
P/1 – E isso vale também pro ensino fundamental?
R – Não. Pro ensino fundamental nós só temos uma coleção, que é usada por todas as nossas escolas. Tanto pra educação infantil, quanto fundamental um e dois. Nós fizemos esse trabalho no ensino médio, em função de estarmos discutindo muito o que estava acontecendo hoje na educação brasileira. Há um momento de se pensar. No Brasil, a educação tem sido muito discutida, mas precisa parar de discutir e se colocar as coisas mais em prática. Essa é a minha posição sobre isso. Se discute os PCNs, depois não se quer mais os PCNs, os parâmetros curriculares. Enfim, tantas outras coisas que fica muito complicado você ir e voltar, ir e voltar. Do outro lado, a gente percebe que há um movimento tradicionalista na educação. Um movimento que não é só na educação, mas o mundo de alguma maneira tem dado esses sinais e a gente tem que estudar, não é? Eu não quero e nós não podemos e não vamos, até porque somos submetidos a um Conselho Editorial onde o Pueri Domus e as Escolas participam ativamente pra tomar decisões dos caminhos editoriais de nossas publicações. Mas a gente tem que estudar, ver como a gente se comporta. E aí eu estou falando da empresa que presta serviço pra escolas, pra que a gente possa privilegiar o crescimento da maneira mais correta, da maneira como o Pueri Domus permite que a gente faça isso. Então, nesse sentido que eu estava me referindo.
P/1- Embora você esteja a pouco tempo na área de educação, quais os desafios que você tem enfrentado nessa área?
R – Quais os desafios que eu tenho enfrentado? Em primeiro lugar, o desafio de não ser da área, né, de estar trabalhando junto com pessoas que têm, uma capacidade muito grande, que são estudiosos, e aí eu me refiro tanto ao Pueri Domus quanto às escolas associadas. É um desafio. Você poder traçar uma linha de relacionamento, de diálogo. São pessoas que além da formação, têm muitos anos, têm tempo de experiência nessa área pra discutir, pra poder privilegiar o crescimento. Em outras palavras, não falar bobagem. Porque não é fácil. Imagina você ter que trabalhar com essas pessoas, o que é fascinante, mas falando o mínimo de besteira possível. Fazendo com que as pessoas entendam essas suas besteiras como contribuições. Isso tem sido um desafio. Acho que eu já estou um pouco melhor. São três anos, mas isso é sempre um desafio. Como língua, né, você estuda, estuda, estuda inglês, mas não adianta, porque é uma língua diferente da sua. Eu acho que, esse é um paralelo, eu acho que vou melhorar, mas vou precisar de mais alguns anos pra poder não estar igual a esses profissionais que eu trabalho, mas estar um pouco melhor. Esse é sempre um desafio. Outro desafio foi entender, porque é uma área com muita emoção, muita emoção. Um lado que eu estranhei, mas é uma coisa que eu sempre fui muita emoção. Então rapidamente consegui me adaptar a essa coisa do passional, da emoção que também tem me ajudado. Mas tem um lado que é complicado, porque às vezes você precisa de menos emoção e mais prática e pra voltar pro caminho, nem sempre tem sido fácil.
P/1 – E houveram dificuldades nessa trajetória? Algumas assim que você queira citar?
R – Eu acho que as dificuldades são os desafios. Essa é a beleza de você trabalhar, transformar as dificuldades em desafios e poder rir. Acho que eu tenho um humor americano demais, mas eu gosto muito de rir. Eu gosto muito de contato humano, de tocar nas pessoas, eu acho que isso é vital pro meu desempenho. E aqui eu consigo isso. Toda rigidez que de alguma maneira eu fui me colocando por trabalhar no mercado financeiro, bolsa de valores, Internet, eu sempre tendo uma família do jeito que eu tenho, humana do jeito que eu tenho? Imagina que minha mãe botava mendigo pra casa pra poder cuidar, botava cachorro pra dentro de casa, porque ela gostava de cachorro e achava que não podia... A mesma coisa com gente. Então, de repente o mundo profissional me deixou um pouco mais rígido e sempre foi muito difícil. Quem me conhece sabe que eu tenho uma coisa da emoção muito forte. E aqui eu consegui resgatar isso. É mais fácil, mais gostoso. Trabalhar no duro é desafio. Para pra pensar no seu dia-a-dia, conversar com um cara como eu, uma coisa chata. Então você começa a transformar essas coisas em coisas gostosas. Desafios que você de alguma maneira, eles têm que ser, eu tenho que transformá-los em coisas mais suaves pra gente poder combater e continuar com uma empresa motivada. É muito importante a motivação, a empresa, seus recursos humanos e a empresa ser uma empresa que briga. Isso tem que ser dessa maneira. Não acho que não tenha tido problemas, ou não tenha, ou não vá ter, mas a gente tem que trabalhar pra que isso saia rápido, que você tenha capacidade e criatividade pra fazer isso. Outro lado, que é fascinante, é importante até fazer esse registro, é muito comum em outros mercados, você não valorizar a idade. Isso é uma coisa que sempre me incomodou muito. Se você num dado momento da sua vida virou prata da casa. Esse mundo de conteúdo, eu vi um pouco isso nas empresas de mídia, no jornal, no UOL e aqui isso de fato se cristaliza, a gente valoriza essa experiência, a gente valoriza as pessoas que têm idade. É uma coisa fascinante, você vai nas escolas associadas, você tem uma mescla, eu digo mescla porque a gente tem profissionais que estão estagiando conosco, então você teve uma média alterada em função disso, mas a média é alta. Porque a gente tem profissionais que têm bastante idade e isso só faz a gente aprender, só faz a gente aprender. Eu tenho uma profissional que trabalha comigo que, quando ela trabalhava comigo ela falou: “menino.” É uma coisa fascinante, a primeira vez eu falei: “acho que eu vou matar essa mulher aí”. Mas depois, fui pra casa: “puxa que bacana”. Ela tem acho que 65 anos, uma mulher maravilhosa e que a gente aprende. Não significa que eu estou certo ou errado, mas a gente aprende a lidar com isso. Eu acho que nasci muito preocupado com isso, né, nessa valorização. E a gente permite isso aqui, essas meninas permitem isso aqui. A valorização é muito positiva. Há uma cobrança muito forte, ainda mais nessa fase de reestruturação, que isso é um processo, é longo, mas elas permitem o diálogo, dão oportunidade de conversar, têm um tratamento de gente. E isso não é comum. Eu não sei nem se é comum em outras empresas da área de comunicação isso, mas aqui é assim. A gente só tem que transformar isso cada vez mais positivo, né, não cometendo abusos com relação a esse jeito com que elas conduzem. Mas é fascinante. Acho que está indo muito bem, é um respeito muito grande que a empresa vem conquistando, mas é muito fruto da habilidade dessas meninas em trabalharem com as pessoas. As pessoas curtem trabalhar no Pueri Domus, é uma empresa que é disputada pra se trabalhar e que valoriza a experiência, valoriza a idade das pessoas. Estou até feliz, né, porque agora já estou com 46, então, você imagina que...
P/1 – E tem alguns casos pitorescos, que você queira nos contar, ocorrido nesses três anos?
R – Preciso ver se eu lembro de algum, porque tiveram muitos. O que mais acontece na vida são casos pitorescos. Porque como eu gosto de me divertir, só entro em casos pitorescos. Não sei se vou lembrar de algum. Eu lembro que uma vez, não sei se é um caso pitoresco, mas a gente tem o hábito de falar “deixa de sonhar, isso é um sonho, vamos por os pés no chão”. E nessa área sonhar faz parte, né, buscar a realização dos sonhos. E numa das primeiras reuniões que eu tive com o grupo, falei, mas da maneira mais pura possível - não parece, mas eu sou muito puro – falei que aquela coisa do precisamos colocar os pés no chão, porque os sonhos...Foi aquela coisa que todo mundo fechou a cara e ficou uma semana de cara fechada comigo, porque eu fui falar que eles eram sonhadores. Coisas daí pra mais, da falta de hábito, dos costumes, dos jargões, de entender um pouco o pensamento desse povo, que é algo fascinante.
P/1 – O que você acha que mudou na educação, que mais mudou na educação, desde a sua infância até hoje?
R – Olha, essa é uma pergunta interessante, mas me leva a refletir um pouco sobre o que nós conversamos lá atrás nesse nosso bate papo. A educação lá atrás, estava focada em conteúdo, apesar de ser giz, lousa e tal, mas em conteúdo. Em exercício, em teoria, em livros, mas muito conteúdo. E pouco diálogo. Era mais ou menos assim que era a educação. E eu estava comentando que não era o que eu, por alguma razão que eu não sei especar, precisa conversar. Era muito difícil que eu respondesse assim de bate pronto uma coisa, se eu tivesse alguma dúvida, alguma falta de entendimento. Então o diálogo era muito importante. E nem sempre foi possível. Onde foi possível eu acho que consegui sair da média baixa e entrar na média normal e algumas vezes até na média superior, porque me permitiram conversar, pesquisar, trabalhar em grupos. Me permitiram fazer outras coisas que estavam muito mais pra uma pessoa como eu, desde lá de baixo. E não é isso que foi a educação, pelo menos na forma como eu vejo hoje. Não era a prática. Quando a gente fala da educação de hoje, eu infelizmente não vejo na totalidade essa prática, mas é a nossa prática. Então, talvez eu pudesse falar pra vocês da nossa prática, comparada com muito da prática que tem até hoje, desse pensamento tradicional, esse tipo de coisa, dessa volta às tradições. Dessa prática que de alguma maneira está nessas coleções que estão no mercado e comparar isso com o que acontecia lá atrás, porque tem muita coisa parecida, muita coisa igual. E com a prática do Pueri Domus, com a prática do Pueri Domus Escolas Associadas. Eu sempre me preocupo muito com essa coisa de falar, de transformar jovens, de fazer isso...Está virando jargão. E eu rapidamente vi que não era, porque faz parte daquilo que a gente acredita, faz parte daquilo que nós queremos. Eu vejo a Fernanda falando, eu tenho a oportunidade de estar algumas reuniões com a Roberta e com a Fernanda, e eu lembro a última reunião que eu tive fora da empresa com um grupo de empresários da educação, falando sobre educação. E aquilo foi uma verdadeira aula. Eu sempre aprendo muito com essas coisas e aquilo foi muito bacana, porque existia uma preocupação muito grande com o vestibular, com os resultados do Enem, isso e aquilo. E num dado momento a Fernanda escutou - outra coisa muito importante é que a gente aprende muito a escutar aqui, né, muita emoção, muita coisa, mas a gente aprende a escutar. Isso é um direito de todos, falar e ter que escutar – e aí ela falou: “eu acho bacana. Se você acredita nisso deve buscar o seu caminho. Nós acreditamos que essa prática de vestibular faz parte da nossa vida. As melhores universidades é uma consequência do que nós acreditamos. É assim que nós pensamos. Assim que vamos continuar a atuar. Em transformar essas crianças, em transformar essa sociedade. Em pensar num mundo de uma maneira diferente, se inserir no mundo de uma maneira diferente”. Eu, até então, não conseguia pensar muito nisso. No mundo, as pessoas são diferentes. Nem todo mundo vai ser gerente, nem todo mundo vai ser atendente, nem todo mundo vai ser presidente. O mundo é formado de pessoas que tem habilidades diferentes, que se focam diferentes e está aí o brilho. Então, nós precisamos levar pra essas pessoas que o mundo é assim. Fazer com que elas sejam felizes. Óbvio que o ser feliz está em ter sucesso em alguma coisa. Então vamos buscar em você aquilo que você pode ter sucesso, vamos despertar essa coisa. Acho que essa prática de educação está muito naquilo que a gente...Você tem muitas iniciativas hoje, claro que tem. Mas nós não estamos só na iniciativa, estamos na prática. E obviamente sem deixar de se preocupar com vestibular, com faculdade. Isso está no sangue. Os pais lá atrás deixaram pras famílias o quê? O que seu pai ou seu avô pensava em deixar? Eram as casas de aluguel, fazendas, não é isso? Hoje o que nós pais pensamos em deixar? Eu tenho um filho de um ano e oito meses e outro de oito anos, independente da posição financeira que eu tenha no mundo ou não, do status ou não, isso vale pra qualquer um, você pensa em deixar é educação. Isso que todo mundo fala, está no discurso de qualquer pessoa, de qualquer classe social. Isso é interessante de se observar. E o que é educação? Educação com certeza é faculdade e, portanto passa pelo vestibular. Essas preocupações certamente estão no Pueri Domus e estão no Pueri Domus Escolas Associadas. Essa é uma coisa interessante, só trabalhando aqui pra gente ver. Ou estudando aqui. Quem estuda aqui ou nas escolas associadas consegue enxergar isso. Então, se eu estivesse fazendo um comparativo, talvez o mundo atual, partindo de iniciativas como a nossa e outras que estão aí no mercado, talvez hoje exista a preocupação de entender as habilidades, entender os problemas e como você transformar esses problemas em soluções, trazer habilidades pra isso. Essa é a grande diferença que eu vejo, de uma discussão maior em educação, uma discussão maior em todas as áreas, do social ao ecológico, lá sei eu. Mas hoje, acho que a gente discute muito mais do que se discutia. E na prática, entender melhor essas crianças e adolescentes, pra que eles estejam inseridos no mundo e tenham o sucesso, seja lá o que for que signifique sucesso pra eles.
P/1 – E como você vê a relação dos pais com a escola, hoje?
R – Relação dos pais com a escola, no que eu tenho visto é que há uma certa delegação, né, da educação básica. Não estou falando da escola, mas da educação dos pais pra escola. Eu até entendo que essa sociedade moderna está um pouco nisso, mas está tendo um pouco de exagero. Porque a escola, a educação, aquela educação básica dos pais é a família que tem que dar, não é a escola. Está tendo um exagero nesse sentido. A gente trabalha, os pais hoje casam mais tarde, demoram mais tempo pra casar, têm menos filhos, um país ainda onde você tem um volume de desempregados muito grande, nos últimos anos uma baixa salarial terrível, e aí todo mundo preocupado em sobreviver, em competir, em se destacar, trazer um pouco mais de qualidade de vida. E essa tal de educação deixa pra escola e a escola acaba sendo responsável, o bicho papão. Quando não é bem assim. A escola tem uma parte dessa incumbência, a outra parte continua na família e sempre vai estar na família. Então, eu acho que essa relação é saudável na medida em que as famílias entendam isso, porque ela entende o papel da escola e entende o seu papel. É muito comum e eu acho isso algo de maravilhoso, as escolas se preocupam cada vez mais em levar palestras sobre sexo, educação ambiental, quaisquer outros problemas do mundo moderno, sobre vários assuntos e discutir esses assuntos com a maior clareza, sobre empreendedorismo, qualquer outra coisa. Isso é importante que os pais ouçam e entendam do outro lado o que fazer para que os filhos possam estar melhor enquadrados na realidade escolar. Mas não ficar delegando tudo pra escola, porque não é saudável. Papel de pai e mãe é papel de pai e mãe. Hoje, infelizmente, eu acho que está tendo um exagero nessa relação. E eu vejo que há muita preocupação da escola em atender os anseios dos pais. Eu agora estou falando um pouco ao contrário, porque nós não temos escola pra pais, escola são pros filhos. Não adianta você ficar criando uma coisa pra cada necessidade específica, porque você vai criar um monstro de escola. Os pais têm necessidades diferentes, tem pensamentos diferentes. Portanto a escola tem que ter um pensamento, ter uma prática e seguir. Isso é o que destaca a escola, isso que faz com que a escola cresça, ou seja referência. É perseguir seus objetivos. De outro lado, eu também acho que há uma certa confusão de algumas escolas, de modo geral, em achar que tem que atender todas as demandas dos pais, porque não tem. Umas sim, outras não. Algumas escolas têm modelo, tem uma essência, tem modelos que têm que ser perseguidos. Se você acha que aquela escola não atende suas expectativas como pai, procure uma que tenha. Mas se você colocou naquela instituição, acho que tem que haver o respeito. Acho que é um pouquinho, está um pouco distorcido hoje isso. É o que eu vejo acontecendo.
P/1 – E a relação da escola com a comunidade?
R – Acho que a relação da escola com a comunidade tem que ser cada vez mais ampla. Porque a escola está na comunidade e a comunidade tem que estar na escola de alguma maneira. Então, você precisa estar inserido na comunidade pra entender os problemas da comunidade, porque os problemas da comunidade, com certeza, são os problemas do mundo. E aí, faz parte você estar fazendo, entre aspas, o estudo do meio. Acho que essa inserção é muito positiva.
P/1 – De uma forma geral, pra melhorar a educação brasileira, o que você acha que está faltando?
R – O que eu acho que está faltando? Infelizmente, por um lado, meu pai, a coisa de três anos atrás, teve um acidente, caiu de uma escada e fraturou aqui duas vértebras. Foi um momento muito traumático até a gente descobrir de fato o que tinha acontecido. Os médicos não conseguiam passar a informação, então passamos a consultar vários médicos, vários especialistas. Uma coisa completamente louca. Um momento muito crítico. Agora está bem, está saudável, mas foi a primeira vez em que eu vivi de perto a possibilidade de perder alguém, nunca tinha sentido isso antes e foi muito pesado aquela coisa. E num dia eu estava falando com um médico num hospital, ele estava na UTI e eu naquela particular com o médico, conversa particular, eu falei: “estou ficando completamente louco, porque falei com tal médico me falou isso, falei com tal especialista me falou aquilo. Estou falando com o senhor que está me falando isso”. Ele respondeu: “seu problema é exatamente esse. Você está escutando tudo e todos. Em algum momento da sua vida, vai ter que escutar só um e tomar uma decisão. Enquanto estiver escutando a todos, vai ser complicado saber o que está acontecendo”. E aquilo valeu, porque a gente seguiu uma orientação, deu certo, muito certo tanto que ele está bem, com o tamanho da gravidade do acidente que ele teve, ele está bem, saudável. Mas a principal lição é que em algum momento você tem que tomar um caminho. E eu vejo a educação brasileira hoje, nunca vi se discutir tanto educação, provavelmente porque eu estou a três anos em educação e escutando tudo de educação. Mas o que eu falo com especialistas da nossa área, da nossa empresa, das nossas escolas e do mercado. Nós temos hoje grandes nomes nacionais e internacionais que são nossos consultores, e grandes nomes, Professor José Pacheco, Cleide Tese, Marco Antonio Ferraz. Enfim, um número de pessoas que conhecem educação muito, muito grande. E pessoas que também hoje trabalham também no Pueri. E eles falam que nunca se discutiu tanto educação. Só que eu acho que está na hora de parar de discutir. Recentemente se discutiu sócio construtivismo versus tradicionalismo, ou versus método fônico ou fonético. Eu apesar de não ser pedagogo, não ser professor e ter poucos conhecimentos, eu acho que a conversa é um pouco maior. As pessoas estão conversando periféricos, sendo que a gente tem que atacar o problema de frente, a formação dos professores... Porque eu acho que as coisas podem conviver, elas podem conviver e convergir. O que não dá é continuar a discussão por tantos e tantos anos. Isso está sendo penoso e danoso pra um país como o nosso em que educação é vital. O governo atual, hoje, muito se discutiu e pouco se fez. Os governos anteriores, eu posso dizer a mesma coisa. Então, eu acho que a gente tem que investir para que persiga um modelo que não passe por política. Isso é um pouco de hoje, de você, e a gente está estudando muito iniciativa pública, e pasmem, se muda o prefeito, ele pode mudar o material. Quer dizer, se o material está há um, dois, três anos, não pode mudar. É uma seqüência. Educação é um processo, como a maioria das coisas na vida. Portanto tem que dar seqüência. A maioria das coisas na vida, você tem que dar seqüência. O resultado você colhe a partir do momento que faça avaliação, acompanhamento, habilitação dos professores, formação dos professores e um trabalho adequado com material adequado pra esses alunos. Isso tem sido danoso. Eu, se tiver que apontar alguma coisa, está na hora de menos discussão e mais prática, com mais investimento direto na educação.
P/1 – Como você avalia as iniciativas governamentais? Talvez você já tenha respondido um pouco, mas não sei se quer falar mais alguma coisa. Tanto federal como estadual?
R – Eu avalio, você tem boas iniciativas, você tem iniciativas que não têm caminho certo. Enfim, é muito confuso hoje, as discussões e a falta de diálogo entre as diferentes esferas também traz um problema muito grande. Então, é como eu falei, está na hora de parar de falar, porque não importa se vai ser a iniciativa ou se vão ser as iniciativas. Importante é a gente localizar e atender os problemas específicos que passam pela formação, pelos professores. Isso é que realmente, em qualquer esfera. Você tem obviamente como em tudo, movimentos importantes, iniciativas muito, muito importantes que estão acontecendo, posso nomeá-las aqui. Mas pra um país que tem as dimensões do nosso país, está na hora de a gente enfrentar esse problema de uma maneira um pouco mais efetiva do que a gente está enfrentando. Eu sou um crítico do que eu tenho lido, estudado nesses três anos. A gente decidiu, como lhe falei, entrar nessa área porque a gente acredita que pode ajudar e ajudar de verdade. É muito sério isso. Hoje eu entendo que trabalhar nessa área, e está muito no meu prazer de trabalhar, é porque trabalhar com educação, um executivo como eu, que posso ser um executivo bem sucedido na vida, mas hoje eu tenho oportunidade de buscar o resultado pra empresa e buscar o resultado pra educação do país. Isso é muito sério. Isso é uma coisa que de alguma maneira está dentro da gente, né? As pessoas querem fazer o bem, querem ter a prática do bem seja em que área for. E nesta área a gente tem essa oportunidade. Nessa área eu tenho a possibilidade de não só olhar processos, procedimentos, as habilidades em qualquer área que seja, e buscar o resultado, seja financeiro ou não. Mas em tudo tem um pano de fundo muito forte que é melhorar a educação. Tudo que a gente faz tem isso. Isso é muito sério, é muito importante. Eu não tenho dúvida do sucesso dessa empresa já conquistou e que vai conquistar por essa maneira de pensar, por essa filosofia. Porque mais do que tudo, acho que isso é uma filosofia de trabalho, uma filosofia empresarial. Eu estou preocupado com o que eu vejo nas diversas esferas e a conversa da educação passando muito pelo político. Tem coisas, se discute muito a independência do Banco Central, e eu acho importante se discutir a independência do Banco Central. Mas eu acho que já está na hora da gente discutir não sei se é a independência, mas a educação de peito aberto, de frente. Porque muito já se falou. Está na hora de escolher e atuar.
P/1 – E mais especificamente na área de formação, porque vocês até trabalham com isso. Como você vê o peso dessa formação, pra que essas coisas dêem certo. Como está agora, está bom, não está? Como está a formação de professores?
R – A gente vive um momento interessante, mas ele ainda não é o melhor momento. Mas ele vai ser o melhor momento, porque a primeira coisa é as pessoas estarem preocupadas com isso e elas estão. Estão com um pensamento muito firme sobre isso. Então pra nós isso é muito importante em todos os aspectos. Mas ainda temos vários desafios pra enfrentar, vários desafios. O primeiro é que as escolas têm que investir. A gente vive um problema na educação que precisa ter gestão. As escolas têm que ser entendidas como empresas. Trabalhar com gestão. Gestão da sala de aula, gestão pedagógica, gestão de recursos humanos, gestão de recursos administrativos e financeiros. E a escola não se entende, ela não conhece bem isso. E acaba tendo dificuldades pra enfrentar o dia a dia. Grande parte das escolas particulares do Brasil não conhece nem a legislação que rege a categoria. Isso é lamentável. Esse é um dos nossos grandes esforços nesses últimos anos do Pueri Domus Escolas Associadas. Mas isso leva com que as escolas não consigam investir. E esse é um investimento de muita qualidade. Investir na mão de obra. Investir na tal da formação. Então, eu tenho visto que há uma tendência, há uma vontade, mas ainda o modelo financeiro não permite que se faça isso da maneira como deveria se fazer ou na intensidade com que deveria se fazer.
P/1 – Como você vê a introdução das novas tecnologias nas salas de aula?
R – Uma vez eu estava, logo depois que o Laurélio veio pra cá e a gente estava numa reunião, o Laurélio tem muita profundidade nas coisas que ele fala, é uma pessoa muito capaz. E ele estava fazendo uma apresentação pra gente, eu nunca esqueço foi ali na capela que a gente usa de vez em quando, e ele estava fazendo uma apresentação pras pessoas que respondem pra ele e a gente estava presente. Ele estava falando que a tecnologia da forma mais abrangente que se possa usar, ela não vai substituir o professor. Mas o professor que não estiver preparado para usar, esse vai ser substituído. Eu me apropriei dessa frase dele e uso muito, porque achei que, talvez seja comum pra muitos, mas pra mim foi muito forte. As novas tecnologias vêm aí pra contribuir, mas têm muitas novas tecnologias. O que é nova tecnologia e o que é tecnologia? Você primeiro precisa descer nesse nível, aprofundar um pouco a questão. Mas eu acho que elas são importantes. Só que usadas com a devida técnica, não esquecendo que você tem um modelo pedagógico por trás, que faz com que você use a tecnologia sempre pensando naquilo que você está tendo na prática, como que você vai explicitar isso. E acho que nem sempre, até as que estão tecnologicamente com mais tecnologia instalada têm esse pensamento. E acaba ficando uma coisa na educação muito falsa. Tecnologia tem que contribuir, ajudar no dia a dia. Ela não pode ser só pra você fazer de conta porque o pai fica feliz. Eu outro dia estive numa escola nossa, uma escola nossa, isso é lamentável. Eu falei: “E os Cds, está usando?” “Não. Mas não tem problema, os pais gostam tanto de saber que tem CD na nossa escola.” Você acha que ainda não é assim? Tem que gerir, tem que pensar. Tecnologia é importante. Nós, escolas associadas temos no nosso planejamento que levar pras nossas escolas todo ano novos modelos, novas tecnologias, pensamentos na área que possam ajudar as escolas. E também levamos muita coisa interessante em parcerias: desde computadores, programas em 3D pra Geografia, ciências e Biologia que são algo de maravilhoso. Você imagina ver em 3d um corpo humano, você navegando naquele corpo humano só com imagem e som, sem conteúdo. O conteúdo é só de imagem e som, portanto você usa o seu livro, o conteúdo do professor pra navegar. Com tudo gravado, tudo simples, fica muito mais rica sua aula. Imagina você entrando numa corrente sanguínea, entrando num pulmão e só escutando aquele movimento, e você faz, você muda, começa a usar aquele mesmo aparato tecnológico pra circular, pra escrever e pra melhorar as coisas e criar um conteúdo específico pra aula. Isso é muito importante porque enriquece. Com certeza se nós tivéssemos isso, ou eu, não vou falar nós porque sou provavelmente muito mais velho que você, mas se tivesse seria muito mais rico, teria feito com a gente talvez pudesse ter se aprofundado um pouco mais, se interessando um pouco mais. E as novas tecnologias, se bem usadas, se com conceitos, permitem inserir, incluir. Esse é o ponto, né? A escola tem que ser inclusiva, não exclusiva. Eu acho que as novas tecnologias têm esse papel importante. Agora, não são todas e mesmo aquelas que são nem sempre tem oportunidade de usar. Mas aquilo que você faz, faça de verdade. Isso é importante.
P/1 – Que indivíduo você acha que a escola deve formar hoje?
R – Eu acho que a escola deve formar um cidadão, no mais amplo significado do que é um cidadão. Tem que formar uma pessoa que tenha ética, que tenha um pensamento que construa, que respeite o próximo, um pensamento que busque novos caminhos, que use a criatividade como ferramenta para crescer. A formação realmente de cidadãos, conscientes do mundo em que vivem. Do mundo, não da sua cidade ou das sua rua, mas do mundo. Porque hoje é assim. Se a gente está discutindo hoje os índios, usando isso como ferramenta, isso já passou por qualquer barreira. Então, é isso que eu espero, não é o que eu espero, mas o que a gente trabalha e está trazendo. Cidadão consciente capaz de pensar num mundo que ele tem hoje, um mundo com desafios cada vez maiores e que eles precisam estar preparados para esses desafios. Sejam quais forem as suas habilidades, sempre existirão desafios e a gente está preparando pra que possam enfrentar esses desafios.
P/1 – A sua passagem pelo Pueri é bem recente. Mas já teve um impacto na sua vida pessoal, profissional?
R – Teve alguns impactos. Alguns na minha vida pessoal e outros na profissional. Na pessoal, acho que hoje eu estou mais...Até porque você vê que coincidência, eu tenho um filho de oito, o Gabriel, e outro de um ano e nove meses, que vai fazer nove meses dia primeiro de setembro, que é o Lucas. Então eu trabalhar nessa área me capacitou um pouco mais, sempre é um desafio, é muito difícil, todo dia aprendo, todo dia aprendo, é até gozado, mas acho que está me capacitando pra educá-los cada vez mais. Isso tem sido muito bom. Na relação com a família, na relação com as coisas, eu acho que eu escuto muito mais, não estou tão agressivo. Hoje tem as verdades de todo mundo. Então, eu tenho melhorado muito na família. Acho que eu estou mais preparado pra educar meus filhos. Na vida profissional, com certeza... Nós somos muito reflexo daquilo que a gente vive na família, na escola e na vida profissional. Trazem marcas pra gente, muito profundas. Tudo isso de alguma maneira, acaba chegando na sua vida profissional. Ela chega na sua vida profissional. Aqui eu estou trabalhando mais. Eu sempre trabalhei muito, mas não sei como, estou trabalhando ainda mais. Mas de uma maneira gostosa, planejada, com muito acompanhamento, não estou deixando de acompanhar as pessoas, os trabalhos. Não centralizo, porque não acredito em centralização, não gosto. Só no limite, quando é necessário. Do contrário eu delego e delego com responsabilidade, com acompanhamento. Eu acho que essas coisas a empresa está me permitindo de fato estabelecer no meu grid gerencial. Isso vai ser muito bom. Porque não tenho dúvidas sobre a minha competência, a competência e as competências dos nossos profissionais. Você cria um elo só com coisas positivas. E isso tem possibilitado aumentar esse elo, aumentar nossa visibilidade, mesmo com todas dificuldades que uma empresa do nosso tamanho vive. E poder afirmar que nós vamos crescer e crescer muito. Hoje eu tenho plena consciência, é mais que consciência e mais que convicção, quer dizer, não tem como não dar certo. Isso faz parte do crescimento, de colocar essas coisas positivas em prática. Então eu acho que estou melhor hoje, muito melhor.
P/1 – O que você acha do Pueri Domus estar comemorando 40 anos através desse projeto que está resgatando a memória, trazendo as pessoas que trabalharam, que trabalham?
R – Isso é a melhor maneira da gente poder marcar. A gente sempre discute muito do problema da falta de registro, falta de informação, das pessoas não...Poder passar aqui e estar aqui nesses 40 anos é um dado importante. Podendo estar falando aqui com vocês é mais importante ainda, porque eu não sei se faço parte da educação brasileira, mas eu me sinto muito contributivo nesses três anos que eu estou. Então é uma felicidade poder estar participando disso. E poder comemorar dessa maneira significa que você eterniza. Não sei se o termo é muito forte, mas é forte realmente isso. Eu gosto de festa. Mas a gente vive um momento em que é tão importante poder fazer esse registro, chamar as pessoas, mostrar a educação nos últimos 40 anos, itinerar esse programa, poder ter um material muito mais rico na mão das pessoas. Isso é comemorar de fato. Isso é marcar de fato a tua existência e dar os caminhos onde você vai chegar. Enfim, acho que é quase que inenarrável. É sério isso, viu? Eu discuti muito isso com a Roberta e fui muito crítico no início de todo o programa, todo o projeto, porque eu sou favorável a ações que sejam muito claras pro público. Porque a festa pega alguns naquele momento, mas isso não, isso fica. Vamos ver esse material daqui a algum tempo e com certeza as pessoas vão ver, vão se emocionar, vão chorar. É maravilhoso. É aquilo que eu falo pra você que sinto falta dos meus professores, de algumas relações que por alguma razão, casei cedo, e tal. Acho que a gente consegue transformar isso, ter alguma marca. Porque aquilo está na minha cabeça e aqui não, vai ficar com outros registros. Então, não tenho dúvida que é bacana, foi uma decisão muito acertada. Não precisa fazer mais nada. Esse trabalho fala por si só. Ele vai falar mais alto A Roberta quando me convidou a participar, eu falei: “ó, Roberta, eu estou até emocionado, porque eu queria participar, mas não faço parte dos há 40 anos ou da história da educação. Mas eu estava com ciúme, não sei como chama isso”. Mas eu gostaria mesmo de participar porque é algo que vai ficar. E você podendo estar presente é muito bacana. Estou até comentando isso, porque é bacana, foi uma iniciativa bacana, com profissionais do mais alto nível. Eu vi toda a chatice que você me trataram aqui quando eu falei que estava com pressa, porque é sério, né, e tem que ser sério. Pra fazer, você tem que fazer, se entregar. É a marca do Pueri, a marca de todos nós. Então, eu não tenho a menor dúvida de que isso vai contribuir muito também pro nosso crescimento. Isso é muito sério, vai contribuir pro nosso crescimento.
P/1 – E o que você achou de ter participado da entrevista?
R – Eu gostei bastante. Gosto de falar. Você percebeu? Inclusive tem um detalhe que quando eu estava na barriga da minha mãe que eu não contei pra ninguém isso. Eu achei bacana, é sempre bom poder falar e falar da gente, né, e eu gosto de poder contar um pouquinho da família. É tão bom ter pai, mãe, esposa, filhos e poder dividir isso com eles. E estar numa empresa que valoriza a família. E poder falar isso: “Mãe, um beijo. Minha mulher, um beijo. E meus filhos, um beijo. E Roberta, Fernanda e Patrícia, um beijo”.
P/1 – Tem alguma coisa a mais que você queira falar?
R – Não, eu estou a vontade. Obrigado pela oportunidade.
P/1 – Então, em nome do Pueri Domus, em nome do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista, obrigada.
R – Obrigado.Recolher