Projeto Perpetuando a Rede LAC
Entrevistada: Beatriz Silvana Collazo
Entrevistada por: Verónica Gómez
Pueblo Villa Rodríguez, Departamento de San José, Uruguai
12 de janeiro de 2007.
Realização: Museu da Pessoa e Rede LAC
Código: REDELAC_HV014
Transcrição: Verónica Gómez
Tradução: Nail...Continuar leitura
Projeto Perpetuando a Rede LAC
Entrevistada: Beatriz Silvana Collazo
Entrevistada por: Verónica Gómez
Pueblo Villa Rodríguez, Departamento de San José, Uruguai
12 de janeiro de 2007.
Realização: Museu da Pessoa e Rede LAC
Código: REDELAC_HV014
Transcrição: Verónica Gómez
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 - Diga seu nome completo.
R- Beatriz Silvana Collazo.
P/1 - Seu lugar de nascimento.
R - Nasci em Montevidéu, em 16 de agosto de 1958. Sou casada, tenho um filho e vivo no Departamento de San José, em uma zona rural. Nos dedicamos à leiteria…
P/1 - Do seu nascimento, o que seus pais contaram a você?
R -
Fui uma filha esperada, foi um nascimento normal. Lembro que diziam que havia existido uma coincidência entre o quarto que minha mãe pegou e o dia, que tinha sido o dia 16. Nasci no hospital italiano, em Montevidéu, por volta das 11 da manhã, acho que com 3 quilos e meio.
P/1 - Por que chamaram você de Beatriz?
R -
Me chamaram Beatriz porque o avô da minha mãe era pai de 13 filhos. Sete eram mulheres e, naquela época, usavam todos os nomes de mulher que começavam com “e”: Élida, Edelvira, Elsa, Elba... e ele sonhava com ter uma filha chamada Beatriz, como aquela que tinha inspirado Dante no romance. E minha mãe, quando era pequena, dizia para ele: “não se preocupe, o dia que eu casar, quando eu tiver uma filha mulher, vou botar o nome de Beatriz”.
P/1 - Você tem irmãos?
R -
Não, sou filha única.
P/1 - Seus pais trabalhavam em quê? E sua mãe, o que fazia?
R -
Minha mãe era docente da Universidad del Trabajo, ensino politécnico. Era professora de língua espanhola. Seguiu a carreira e, depois, foi diretora da Escuela Industrial de Piedras Blancas, de Montevidéu; e depois foi assessora técnica docente, até janeiro de 1972, quando teve um derrame cerebral. Ficou impossibilitada e tirou todas as licenças que fazia muito que não tirava, mas que correspondiam por doença... E depois deram sua aposentadoria.
P/1 - Quando você era menina, o que gostava de fazer? Qual era sua brincadeira preferida?
R -
Apesar de ser filha única, me criei em um bairro que era como um balneário. Além disso, estava rodeada de famílias com muitos filhos, éramos quase como uma torcida grande de crianças que brincávamos o dia todo. Muitos da escola nos preparávamos: fazíamos inglês, íamos ao clube e andávamos muito de bicicleta; me lembro que a gente se divertia muitíssimo. E brincar de esconde-esconde... Nós morávamos em uma quadra que começava e terminava na esquina. Nos dias de semana, quando os pais saíam para trabalhar, os carros não estavam e isso permitia que nós brincássemos na calçada ou na rua sem que ninguém nos incomodasse. Era muito lindo.
P/1 - E qual escola você freqüentou?
R -
Aos três anos fiz a pré-escola no Liceu Francês de Montevidéu, até os cinco. Depois, como eu faço aniversário no meio do ano, sempre acontecia que era muito pequena para começar a primária e grande demais para o jardim. Como meu pai considerava que, dada a sua posição, o que correspondia era que eu fizesse ensino público, me mandaram para o ensino público e me mandaram para o jardim até o quarto ano. Eu repeti a quarta série e daí me mandaram para um colégio católico e terminei nesse colégio. Depois, o pré-universitário eu fiz público e a universidade também.
P/1 - Na juventude, onde você morava?
R -
Na juventude, no ano 1966, faleceu meu pai em um acidente de carro. Ficamos minha mãe e eu. No ano 1972, minha mãe teve um problema de saúde, mamãe não se sentiu... Ela sempre teve terror de que acontecesse alguma coisa com ela e eu ficasse sozinha na vida. Por isso, pediu para quem era minha médica de cabeceira, que era pediatra, que se acontecesse qualquer coisa com ela, se a doutora não poderia se encarregar, se não aceitava ser minha tutora legal. E junto com uns amigos do meu pai, que também eram os tios do meu esposo, eram os quatro tutores legais que iam se encarregar de mim no caso de que acontecesse alguma coisa com mamãe. Foi assim que, no ano 1972, ela entra em estado de coma e depois fez toda uma regressão – toda uma aprendizagem, da fala, do movimento... Tinha que ir adiante e, então, do ponto de vista legal, ela foi declarada incapaz. Sendo declarada incapaz e com uma filha menor de idade, foi aí que meus tutores entraram em acordo e eu passei a morar com a médica, que era minha médica de cabeceira... De ser filha única, muito independente, que tinha chave para ir e vir, porque mamãe tinha que trabalhar, passei a ser uma filha a mais. Essa foi minha posição: uma filha a mais em um casal – os dois eram médicos – com três filhos, duas filhas e um filho homem. E morei com eles até os 19, quando eles se mudaram para o Brasil e eu tive que me encarregar da minha mãe. Da adolescência, eu diria que fui uma mocinha de classe média acomodada em Montevidéu, onde frequentávamos a paróquia, estudávamos, íamos aos bailes... Em uma época muito especial, porque era ditadura e tudo que fosse movimento e atividades extras eram muito poucas, sobretudo para as que estávamos nessa idade. Pode ser que mulheres mais velhas sim tivessem... Sempre comentamos no grupo que foi uma década perdida para as mulheres uruguaias, e eu era adolescente.
P/1 - Como se vestiam nessa época, que roupas usavam?
R -
Usavam calças de cintura baixa, camisas ajustadas, com alguns bolsinhos, as golas de ponta, as calças bem altas, os tamancos – tudo com plataforma, mais baixas, mais altas, mas tudo com plataforma – e as calças jeans.
P/1 - Como foi o dia que você conheceu o seu marido?
R -
Como estava dizendo, os tios do meu marido tinham um armazém na zona rural de Montevidéu, tinham um sítio. Eram muito amigos do meu pai – nós íamos nos finais de semana e meu esposo era mais uma das crianças que brincavam lá. Com todos os problemas que fui tendo, ia nas férias, porque seus tios eram também meus tutores. Então, sempre passava as férias com eles. E, bom, na adolescência a gente se gostou e depois ficamos noivos.
P/1 - Você lembra do dia do casamento? Como foi?
R -
Sim, eu lembro. Tivemos cinco anos de noivado e, no ano de 1982, dissemos “casamos ou casamos”. A verdade é que estava cansada do noivado, mas como é que nós íamos viver lá fora, em campanha? Meu marido não tinha casa, dividia com o homem com quem trabalhava na terra, ele queria fazer alguma coisa para poder ter independência, o que era razoável em um casamento que recém começava. Por meio de um crédito hipotecário, fizemos a casa. Estávamos terminando a casa e houve uma crise econômica no país, que foi chamada de “ruptura de la tablita”, e que deixou todo o mundo na lona. Havíamos programado casar no dia 11 de fevereiro, que é o dia da Virgem, e tínhamos programado ir de lua-de-mel para Machu Picchu – depois de cinco anos nós acreditávamos que merecíamos. Mas como teve a “ruptura de la tablita” terminamos em Piriápolis... Machu Picchu não foi nunca mais. E as últimas duas remessas do crédito nem chegamos a retirar. Se tivéssemos feito tudo o que eram pisos, as aberturas, do jeito que o dinheiro tinha desvalorizado, não dava nem para comprar duas portas. Mas, bom, decidimos casar do mesmo jeito. Foi muito engraçado, porque não havia onde comprar tecido, nenhuma confeitaria se animava a pegar o encargo do serviço de lunch, dar um orçamento, porque não sabiam o que ia acontecer. Foi tudo muito louco. Não dava para conseguir igreja e meu marido meio que apertou um padre do colégio em que ele havia estudado. Ele disse ao padre “eu sou ex-aluno daqui; o senhor vai me casar ou vai me casar”. E, bom, saiu: casamos e fomos até Piriápolis em 11 de fevereiro de 1983. Foi um dia lindo. Como minha mãe tinha sequela, o casamento foi feito em casa, para que ela pudesse participar, porque o registro civil tinha escada e minha mãe não podia participar... O que eu não aconselho nunca... É uma loucura! Casei ao meio-dia em casa e, à noite, na igreja. Se a gente tem uma família em torno, é capaz que dê para fazer, mas apesar da ajuda dos meus sogros, do meu marido, foi uma doidice. Eu entrava na igreja às nove da noite e já eram seis da tarde e eu não tinha o buquê de noiva! Minha casa era em Paso Molino e tive que sair correndo e fui até o cemitério de La Teja – isso quer dizer que as flores que eles têm são para arranjos mortuários – para pedir por favor que me fizessem o buquê. Fizeram um arranjo de rosas pequeninas, que se chamam petibirí, porque em fevereiro não tem flores no Uruguai. Foi um buquezinho simples, mas ficou bárbaro, foi muito engraçado.
P/1 - Quando nasceu o seu filho, seu único filho?
R -
Meu filho nasceu quando nós pensávamos que não íamos poder ter filho… Por volta de quatro anos de casados, meu esposo começou com um problema no rim e sofria muito. No país não se aconselhava... diziam que quanto menos se mexesse nos órgãos era melhor. E só dava para fazer no Brasil e era muito caro, e no Chile era mas caro ainda. Então, decidimos que éramos jovens e que íamos gerenciar o estabelecimento sempre pensando em melhorar, mas sem ficarmos complicados.Como víamos que não íamos ter filhos, por isso de que ele estava se cuidando, nós íamos levar a vida de um jeito muito diferente. Daí eu fiquei grávida. Não conseguia acreditar. Tive uma gravidez excepcional. Eu cheguei a arrebanhar terneiros no campo e não tive problemas de nenhum tipo. E nasceu por cesariana, em 9 de novembro de 1987. Cesariana porque eu não tinha muita dilatação e, além disso, ele pesou cinco quilos, então a médica entendeu que não valia a pena me sacrificar.
P/1 - Como é o lugar onde você mora, pode descrever? O que vem à sua lembrança? Como é o solo... tem água?
R -
É um lugar que tem água. É um campo, uma faixa comprida. É um retângulo onde em um dos lados corre um arroio e no outro corre o rio San José. E depois temos outra fração, que é quadradinha, que tem somente em direção ao arroio. Graças a Deus, a água não falta. Temos boa quantidade de água.
É um campo em que dá para ver que em algum momento se fez monocultivo. Tem nos custado muito... tivemos que fertilizar muito para conseguir que ele renda. E tem melhorado, temos bons rendimentos. Há coisas que não fazemos. Ainda tem o galpão velho onde se fazia a ordenha. Depois, tem uma salinha pequena que meu esposo fez com suas mãos quando quis fazer melhoras e, depois, foi feita uma sala maior, mais profissional... espero que esta já seja a última. A casa é a que fizemos com o crédito hipotecário. O lugar foi meu esposo que escolheu, que é uma ponta que dá para ver desde a capital do Departamento, das zonas altas de San José se pode ver a estrada. É um lugar com muito vento... O vento incomoda quando é muito forte. Tem muitas árvores, porque quando fizemos os alicerces da casa a primeira coisa que fizemos foi plantar árvores.
P/1 - Como é um dia no campo, ordenham vacas? Vocês têm leiteria?
R - Nós temos leiteria. Meu esposo, quando comprou aqui, ele vinha de uma zona de chácaras do Montevidéu Rural onde trabalhava meu sogro. E o meu sogro estava ficando velho, então meu esposo trabalhava aqui na leiteria. Assim que comprou a leiteria, o que ele fez foi contratar um homem casado com crianças pequenas... Já tem 31 anos disso e ele ainda está lá em casa. Agora está um filho dele trabalhando lá em casa, porque ele está meio aposentado... Não vai para a cidade porque diz que não ia se acostumar a viver na cidade. Então, sempre se trabalhou com um empregado. Tem um empregado que se encarrega da leiteria, da ordenha e tudo isso. Depois, tudo o que tem a ver com o trabalho da terra, inseminação, isso quem faz é meu marido. E tudo o que tem a ver com a gestão, idas e vindas, bom, tem que dar uma mão para o meu marido em algo e nisso eu ajudo ele. E assim a gente tem ido se alternando e gerenciando de maneira tal a não ficarmos complicados.
P/1 - Quando é que você começa a ter contato com as mulheres rurais, a sentir a necessidade de participar em uma organização de mulheres do campo?
R -
Eu casei em 1986 e, em 1987, foi quando tive meu filho. Com a característica que minha mãe estava em Montevidéu, com uma senhora que se encarregava de cuidá-la, mas nós estávamos no campo e, depois, nós íamos em um final de semana longo para que a senhora pudesse sair... então, meu marido voltava e eu ficava uma semana. Assim até o ano de 1990, que minha mãe faleceu. Aí, nós fechamos a casa que tínhamos em Montevidéu e viemos residir definitivamente no campo. Eu já tinha deixado meus estudos e acho que a gente tem que se apropriar do lugar de onde é. Lá pelo ano de 1988, meu filho era pequeno, havia um grupo novo que se chama “Mujeres del Área Rural Lechera de San José”, que fazia oficinas sobre temas de leiteria, sobre temas de situação da mulher, que eram muito interessantes. E, bom, convidavam pelo rádio, eu participava, até que um dia pedi para ingressar, eles disseram que sim e daí em diante fiz parte do grupo.
P/1 - Como é o grupo, quem integra, de onde são suas companheiras do grupo?
R -
É um grupo muito atípico: todas viemos do ramo de leiteria, menos uma companheira que vem da área hortícola da zona sul do Departamento e, depois, outra das companheiras que nos acompanha desde o começo, que é uma companheira que trabalhou com uma cooperativa de queijeiros de San José, que mora na cidade de San José. Depois, todas somos de diferentes lugares, as que estamos mais perto estamos a 20 km – é complicado para a gente se reunir, nos reunimos no Lar Católico de San José.
P/1 - Quais atividades o grupo realiza?
R -
O grupo iniciou da base da preocupação pela condição da mulher: o que acontecia com a condição da mulher no meio rural? Qual era realmente a incidência que nós tínhamos em nossas casas no campo? Se é que tínhamos alguma. Nós entendíamos que sim e queríamos saber o que era que reconheciam de nós e o que não reconheciam. Tudo o que fosse refletir quanto à nossa situação e evoluir.
P/1 - Sua vida mudou depois que você ingressou no grupo?
R -
Sim, sim, porque a gente deixa de pensar só na gente mesma e pensa em função de outras, e o que antes era não se animar ou ter um certo pudor para marcar o que fosse machista – explicitamente se deixava a mulher de lado – poder dizê-lo com tranquilidade. Isso também me fortaleceu.
P/1 - A nível nacional, como tem sido sua trajetória na organização em que participa?
R - No início eu participava a partir do grupo, havia companheiras que participavam como delegadas, e eu tentava dar minhas contribuições. Depois, foi minha vez de ser delegada: fiz parte da diretiva na condição de secretária. Posteriormente, terminou o meu período e continuei trabalhando no grupo, apoiando as companheiras e a partir deste ano voltei a estar na diretiva, como presidenta.
P/1 - Quando foi que você conheceu a Rede LAC?
R -
A Rede LAC surgiu a partir de um encontro que houve em San Bernardo, na Argentina, em que participaram várias companheiras do grupo e perceberam que as mulheres do meio rural não foram contempladas e daí entraram em contato. Do nosso grupo, participaram Kika Casas, Teresa Adán e Teresa Varela.
Na Red de Grupos de Mujeres Rurales del Uruguay, houve companheiras que participaram do 1º ENLAC. Elas nos mandavam muito material, formulários, e tentamos mandar elementos para estar presentes, mesmo que não diretamente. Sem estar na “cozinha” da Rede LAC, sim tenho estado participando.
P/1 - Mas você esteve na coordenação do 2º ENLAC?
R -
Sim, na preparação do 2º ENLAC. Foi muito interessante o jeito em que me aproximei. Havia uma companheira que tinha muitíssima dificuldade com o português e realmente passava trabalho para participar. Kika teve a idéia de que eu, que tinha feito um curso de português, poderia ser quem acompanhasse ela. Ela apresentou a idéia e nós duas ficamos como integrantes da Rede LAC. Eu fazia a secretaria da preparação de campo: dizer para as mulheres dos grupos sobre os grupos que se estavam organizando, das reuniões que realizamos antes no país, localizar a técnica que nos acompanhou, conversar com ela pelo telefone sobre como íamos levar isto adiante. Como sempre acontece no Uruguai, que tudo é de último momento, acho que, para definir três ou quatro organizações com critérios bem diferentes, fiquei satisfeita com a participação. Fiquei com uma experiência positiva
P/1 - Compartilhar com tantas mulheres de outras partes da América Latina e do Caribe, o que deixou para você? Mudou em algo a sua vida?
R - Sempre muda, porque a gente aprende de diferentes realidades, sobre todas as uruguaias, isso nos mostra um pouco onde estamos, não vou fazer um julgamento de valores em dizer “sim, estamos melhores ou piores do que outras”. Temos as nossas características, que às vezes até ficamos com vergonha de dizer, porque parece que somos altivas. Bom, não é a realidade na qual se criou e se formou este país, onde nós vivemos e participamos. Então, ver outras realidades, ver outras mulheres com suas lutas, suas angústias, com alegrias... A alegria das outras mulheres com suas próprias características, com o orgulho das suas raças, com o cuidado que elas têm com sua cultura é interessantíssimo e é um prazer compartilhar isso.
P/1 - Como você vê a Rede LAC no futuro?
R -
Eu vejo bem, acho que precisamos ter clareza de que esta é uma rede. O dia em que a gente sentar e pensar que “já está”, “já sabemos tudo”, “o terceiro encontro vai ser fantástico porque já aprendemos tudo do primeiro e do segundo”, que “umas vão estar melhores do que outras”, esse dia a Rede desaparece. Enquanto nós tenhamos o mesmo ponto de vista, de que todas somos mulheres, a Rede é um instrumento fantástico para trabalhar, para conhecer, para contribuir com idéias, para nos copiarmos – porque se aqui tem coisas que são feitas e que podem servir para grupos de outras instituições, por que não copiar? Se nós podemos recolher de outras companheiras e termos coisas para crescer juntas...
P/1 - Que sonho você tem para as mulheres latino-americanas e caribenhas, para as mulheres uruguaias e para você?
R -
Que difícil e que grande! Desde o menor… Para as uruguaias, que nós possamos ter mulheres no campo. Hoje em dia somos poucas, a população no Uruguai, comparada consigo mesmo, comparando com quarenta anos atrás. Que as mulheres que decidam viver no campo também possam fazer isso em igualdade de condições com respeito aos homens, já seria uma espécie de ideal. Com relação às mulheres da América Latina e do Caribe, acho que elas têm suficiente força, já demonstraram suficiente força para se fazerem sentir e se fazerem notar. Que tenham sempre a oportunidade. Por isso, acho que é um bom instrumento, a Rede LAC, para poder refletir e, às vezes, não ficarmos só no slogan ou na palavra de ordem. Sempre que tenhamos a oportunidade de refletir, a palavra de ordem é o que pedimos; depois, as coisas vão saindo, as mulheres têm força e têm demonstrado isso durante anos.
P/1 - E para você, o que você sonha do seu futuro?
R -
Eu sou comum, eu sou um espírito inquieto, a gente pode estar, na medida das possibilidades, trabalhando no âmbito rural, sempre com uma visão de mulher, mas continuar me capacitando, dando seu próprio espaço ao meu filho, que já está grande, tem 19 anos, e me mantendo no campo. Mas não tenho uma meta, “vou ser tal coisa”. No lugar em que tenha a possibilidade de fazer, vou estar.
P/1 - Que coisas você quer contar da sua história que tenhamos passado por alto na entrevista?
R -
Sim, deixei passar quando falamos de mim. Como tenho mais nexo com mamãe, por causa da morte de papai, eu praticamente não te disse nada do papai. Meu pai era dirigente político, pertencia a um partido tradicional, era Senador da República. Em uma viagem para Flórida, foi ajudar uma pessoa que estava com um problema, foi com um advogado. Na volta, furou um pneu e ele bateu contra a cabeceira de uma ponte e faleceu instantaneamente. Tinha 36 anos. E, bom, eu me criei em um ambiente político. Na verdade, tinha os horários de uma criança normal, mas que ficavam alterados quando papai vinha da atividade legislativa. Ele não tinha horários fixos: de repente meu pai podia aparecer às 2 da manhã e mamãe pensava que era preferível me acordar para que eu brincasse um pouquinho com ele a que eu não o visse. Tive muito boa relação; perdi ele com 9 anos, mas tenho muitas lembranças e ele era muito bom de se conviver.
P/1 - Bom, Beatriz, muito obrigada.
R -
Obrigada a você, muito lindo, muito bem perguntado.
Fim da entrevistaRecolher