P/1 – Bom, seu Antônio, vamos começar com o senhor se apresentando pra gente. O senhor pode dizer o seu nome, a data e local de nascimento
R – Antônio Aparecido Golin. Nasci em 14 do seis de 65
P/1 – Onde?
R – Em Lucélia, estado de São Paulo
P/1 – Antônio, conta um pouquinho dos ...Continuar leitura
P/1 – Bom, seu Antônio, vamos começar com o senhor se apresentando pra gente. O senhor pode dizer o seu nome, a data e local de nascimento
R – Antônio Aparecido Golin. Nasci em 14 do seis de 65
P/1 – Onde?
R – Em Lucélia, estado de São Paulo
P/1 – Antônio, conta um pouquinho dos seus pais pra gente. O que eles faziam?
R – Minha mãe é baiana, o meu pai descendente de italiano. Eles trabalhavam na roça. Trabalhamos na roça até 79. Eles sempre trabalharam na roça, mudamos pra cidade em 79. Meu pai trabalhou mais 16 anos em Americana, na tecelagem e aposentou; minha mãe sempre foi dona de casa, nunca trabalhou fora
P/1 – Como eram os nomes deles?
R – Meu pai é Ermelindo Golin, e Laurita de Assis Golin
P/1 – E vocês sabem como eles se conheceram?
R – Eles só se viram praticamente, aí acertaram de casar, parece que não houve muito contato. É a história que conta. Aí casou
P/1 – Entendi. Você sabe porque sua mãe veio da Bahia, pra Lucélia?
R – Não. Eu acho que foi pra mudança de vida. Mas não sei também porque meus avós eram sitiantes lá, então acredito que não era assim tão ruim. Mas mesmo assim...
P/1 – E você chegou a conviver com seus avós?
R – Sim
P/1 – Tem lembranças deles? Conta pra gente como é que era
R – Ah, meu avô, ele capava muito porco, vamos falar assim, vivia fazendo isso, além de trabalhar na roça também. Minha avó, eu gostava de ir na casa dela pra poder comer a comida dela que era muito boa
P/1 – O que ela fazia pra você?
R – Fazia carne de panela, gostava muito de visitar eles
P/1 – E como é que foi a sua infância em Lucélia? A casa que o senhor morava?
R – A infância. Eu não brincava muito com menino porque no lugar não tinha muito menino, brincava com as meninas. Eu considero que foi uma infância boa, sem grandes problemas
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho irmãos, tenho cinco irmãos vivos. Uma, que era primeira do que eu faleceu. O cachorro mordeu, sarou muito rápido e parece que deu alguma coisa por dentro e em 45 dias ela morreu. Então, tenho cinco irmãos vivos
P/1 – E quais eram os costumes da sua casa? Que você lembra bastante da convivência da sua família, como era a vida dentro de casa?
R – Era muito boa a convivência, meus pais e os irmãos era boa. Fazia um pouco de arte na roça, mas a infância foi boa
P/1 – Do que vocês brincavam?
R – Eu brincava muito de carrinho, que eu ganhei do meu tio.
P/1 – Desde essa época já brincava de carrinho?
R – Isso. E também eu já comecei a fazer logo cedo os meus brinquedos. O que eu mais brincava era com isso daí
P/1 – E o senhor frequentou a escola?
R – Eu frequentei a escola, três anos no primeiro ano, mal, muito mal. No terceiro ano que eu passei, e passei já muito bem. Os outros três anos, que eu estudei até a quarta série, foi sempre em primeiro lugar. Mas os três primeiros anos...
P/1 – Que lembranças o senhor tem da escola? O senhor gostava de ir pra escola, achava ruim, como é que era?
R – É, nesses três anos eu achava ruim. A minha irmã mais velha, a Glória, eu ia junto com ela e ela era meio briguenta, sempre me defendia, mas nos três primeiros anos eu não gostava muito de ir pra escola
P/1 – O senhor lembra dessas professoras?
R – Lembro. Não lembro o nome, mas eu lembro bem. Depois que eu comecei a ir bem na escola, eu lembro que eu até corrigia alguma coisa pra professora, e era elogio, era gostoso, era coisa boa. Mas tive que trabalhar na roça. Terminei a quarta série, os pais precisavam que a gente trabalhasse, então, não teve aquele incentivo, não tinha condição pra continuar o estudo
P/1 – Com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
R – Com 15 anos
P/1 – E o que o senhor fazia?
R – Eu comecei a trabalhar em tecelagem, entrei fazendo limpeza, trabalhei um mês fazendo limpeza e já fui promovido. Trabalhei mais dois meses e também fui promovido, aí trabalhei cinco anos nessa empresa
P/1 – Quando o senhor fala tecelagem, conta um pouquinho pra gente porque a gente não conhece. O que é o ramo da tecelagem?
R – A tecelagem é a fabricação de tecido plano. O que eu posso falar? É produção de tecido
P/1 – Então o senhor trabalhou nessa empresa fazendo faxina e foi sendo promovido?
R – Isso. Com um mês já saí de, fazendo faxina assim, um tipo de limpeza, não exatamente faxina, mas um tipo de limpeza. Já fui promovido com um mês, com dois meses já tinha passado de tecelão, produzindo tecido mesmo
P/1 – Desde muito novo o senhor começou a trabalhar. Mas como foi essa época da juventude, o que o senhor gostava de fazer pra se divertir?
R – A juventude foi complicada. Eu diria que até os 12 anos eu era uma pessoa sem problemas, com 12 anos pra frente achava que tinha problema, na verdade não tinha problema nenhum. Hoje eu vejo que eu era perfeito, mas, colocava-se problema na cabeça e pra tirar daí é complicado.
P/1 – Mas que tipo de problema?
R – Vamos falar assim, achava que a gente não era assim, como vou falar? Tinha muita vergonha de conversar na frente dos outros, vergonha de comer. Era meio bicho do mato, no meio dos outros sentia muita...
P/1 – Era muito tímido
R – Muito tímido, tinha muita vergonha, então isso fazia mal
P/1 – O senhor tinha muitos amigos? Como era essa parte de começar a sair, ou não tinha muito dessa convivência? Conta pra gente dessa parte
R – Eu saía bastante. Com 17 anos eu queria trabalhar por conta, já tinha na cabeça trabalhar por conta. Aí eu fiz um curso de cabeleireiro em Campinas, foi um ano todo domingo fazendo o curso porque eu queria trabalhar por conta. Então, comecei fazendo isso daí. Depois, eu era muito nervoso então vinha bastante mulher pra cortar o cabelo, só que eu tinha feito o curso masculino. E, pelo fato de eu ser nervoso, eu fazia bem, só que eu não tava bem. Então, eu larguei isso daí porque eu não me sentia bem, simplesmente por causa do meu nervoso. Vinha bastante mulher pra cortar cabelo, eu tinha feito curso feminino, não tinha feito feminino, mesmo assim eu cortava, mas sempre com medo de errar, de alguém não gostar
P/1 – É, mulher ainda. Pra reclamar do cabelo
R – É. Na verdade nunca tive problema, mas eu achava
P/1 – E nessa época o senhor morava em Lucélia ainda ou já tinha ido pra Americana?
R – Já tinha vindo pra Americana, já
P/1 – Conta um pouquinho como foi essa mudança de cidade
R – Essa mudança de cidade. O meu irmão mais velho falou pro meu pai que ele não ia ficar mais trabalhando na roça, então eu também tenho que agradecer a ele porque se ele não tivesse tomado a decisão de vir pra cidade nós teríamos acabado com tudo o que conseguimos lá. Meu irmão veio na frente, depois eu vim também, sozinho. Demorou mais quatro meses pros meus pais virem de mudança, nós estávamos construindo. Foi muito duro sair e deixar os pais lá, foram quatro meses. A primeira fábrica que eu entrei a trabalhar quando eu entrei de lá, pela vergonha, chorava muito, passava mal e com 15 dias mandaram embora. A mudança foi bastante traumática
P/1 – E vocês foram morar onde quando vocês foram pra Americana?
R – Era casa própria. Esses quatro meses foram pra construir, uma casa pequena mas pra gente mesmo. Então a gente já veio pra casa da gente
P/1 – E vocês que construíram a casa?
R – Meus tios e meu irmão, que já moravam aqui em Americana
P/1 – E quando você estava em Americana e seus pais estavam em Lucélia, vocês se comunicavam como, uns com os outros?
R – Não tinha comunicação assim, eu não me lembro de ter
P/1 – Chegava a escrever carta?
R – Não
P/1 – Enfim, vocês chegaram em Americana, estavam morando você, seu irmão e seus tios juntos e então você entrou nessa empresa de tecelagem
R – Isso, isso
P/1 – Foi assim?
R – Meu tio que já trabalhava. Depois desses 15 dias que eu trabalhei na firma e fui mandado embora, foi em 79, aí quando foi em janeiro de 80 meu tio arrumou serviço pra mim nessa fábrica, na qual eu fiquei durante cinco anos
P/1 – Você falou muito da entrada na fábrica, que foi traumática, que o senhor tinha essa vergonha. Mas como é que foi conhecer a cidade de Americana? Quais foram as primeiras impressões que o senhor teve?
R – Foi muito bom. Apesar de ter vergonha por estar no meio de pessoas tudo era novidade, foi muito bom
P/1 – E depois que o senhor saiu de Lucélia, o senhor chegou a voltar pra lá?
R – Voltei. Voltei umas três vezes pra visitar meus avós que moravam lá
P/1 – E mudou muito desde a época que o senhor saiu pra hoje em dia?
R – Lucélia?
P/1 – Hunrum
R – Eu acho que ficou um pouco parada no tempo. Mudou, modernizou, mas ficou meio parado no tempo, eu acho
P/1 – Então seus pais vieram também pra Americana. Conta um pouquinho dessa vinda deles. A partir da vinda deles, como é que vocês se organizavam?
R – Foram feitos só três cômodos, então, vieram pra Americana, eu já tinha começado a trabalhar na firma em 80. Meu pai trabalhou de servente um tempo. Aí se fosse pra trabalhar de servente ele iria voltar pra roça, mas ele saiu e arrumou um serviço também de guarda numa tecelagem, na qual ele trabalhou em 16 anos. Não, trabalhou em mais duas tecelagens, pouco tempo depois ele se encaixou numa firma e ficou 16 anos lá
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe. Eu falar dela, ela é uma pessoa muito boa, muito boa assim, sempre querendo ajudar todo mundo, inclusive eu porque era o mais descabeçado, sempre tava querendo fazer alguma coisa diferente. Então minha mãe sempre tentando ajudar passar essa fase de juventude, os problemas que eu tinha, minha mãe foi sempre presente querendo que a gente ficasse bem. Mas eu entendo que ela também não tinha condição de me ajudar a passar aquela época. Mas é uma pessoa que foi muito importante na minha vida, é até hoje
P/1 – Sua mãe ainda está viva?
R – Está viva
P/1 – E na sua casa quem que exercia mais autoridade? Era seu pai?
R – Não, era a minha mãe. Meu pai, tudo o que ia fazer ele achava que não ia dar certo, sempre com medo de fazer as coisas, não tinha
muita iniciativa, era mais do trabalho pra casa. Ele recebia o pagamento, colocava tudo na mão da minha mãe e apesar dela não ter estudado fazia essa administração muito bem, certo? Depois eu perguntava muitas coisas pro meu pai, o que fazer, e ele sempre falava pra esperar. Aí eu falei assim pra ele: “Pai, eu não vou perguntar mais nada pro senhor do que fazer, eu vou pegar e vou fazer. Toda vez que vai perguntar fala pra esperar um pouco mais”. Foi onde eu comecei a fazer as coisas. Eu trabalhava e investia na casa. Um tempo eu passava só investindo na casa, outro eu já investia em mim. Porque eu ganhava mais do que todo mundo na família, então eu tinha sempre condição de fazer mais
P/1 – O que o senhor fez com o primeiro salário que ganhou?
R – Compramos uma geladeira e uma bicicleta pra ir trabalhar
P/1 – E nessa época o senhor tinha seus 17 anos
R – Sim
P/1 – E quando é que o senhor começou a época dos namoros, de sair, como é que foi?
R – Comecei tarde, acho que comecei com 18 anos. Saía bastante, mas comecei a namorar, nem pode falar que é namoro. Já tinha uma ideia meio fixa na cabeça
P/1 – Que ideia?
R – Arrumar uma boa pessoa e casar. Saía bastante, mas não era muito de... A ideia era arrumar uma boa pessoa e casar, certo? Então, falar que tive namoradas, foi muito pouco
P/1 – E o senhor chegava a ir pra baile?
R – Sim. Vamos falar assim, comprei uma moto antes de completar 18 anos, com 17 anos, então eu andei um ano sem carta. Eu e meu irmão, compramos a moto juntos e depois eu acho que comprei a parte dele, eu andava mais do que ele. Então andei um ano sem tirar carta, no dia que passou na carta eu bati. Estava eu e minha irmã, eu fui pagar a carta, tirei de manhã cedo, que eu fui pagar à tarde um carro entrou na frente e batemos, um fusca
P/1 – E aí, o que deu?
R – Eu pensei que ia perder a carta, mas nao deu nada. Foi um ano andando sem carta e o dia que tirou a carta foi quando teve o acidente
P/1 – E como o senhor conheceu sua esposa?
R – Eu tinha 19 anos, eu a vi na, tinha a praia lá de Americana, a praia dos namorados e eu vi e já fiquei encantado com ela. Estava eu e um colega, o colega sabia onde ela morava porque eles estudavam juntos. Aí eu já comecei a passar na frente da casa dela
P/1 – Pra ver se encontrava com ela?
R – Isso. No primeiro dia que passei já vi. Os pais dela eram muito ruins, muito ignorantes. Ela tinha bastante medo deles, mas eu achava que era a pessoa certa, então já não tinha mais tanto medo. Começamos a namorar meio que escondidos, com pouco, não deixava sair, mas a gente saia às escondidas. Achava que só via no final de semana, não via na hora do almoço. À tarde. E assim foram-se oito meses. Eu tinha um terreno, pretendia construir pra casar no próximo ano, mas como era muito incômodo do pai dela, resolvi vender e fazer o casamento. Então em oito meses nós já estávamos casados
P/1 – Caramba! E foram morar onde?
R – Fui morar com a minha mãe
P/1 – Antes de você contar, você não contou como você foi falar com ela a primeira vez
R – Com a minha mãe?
P/1 – Não, com a sua esposa
R – Na verdade, nós conversávamos bastante mas ela deixava muito que eu tomasse as decisões. Ela poderia ter falado pra esperar um pouco, pra gente ter a casa da gente, mas enfim, o que eu vou falar? Ela deixava muito por minha conta, então foi feito rápido, casamos. Eu queria casar tudo certinho porque por eles, pelos pais delas, só casava no civil, mas eu queria casar na igreja, tudo direitinho, eu queria que fosse tudo certo. Aí fizemos o certo, fomos pro Rio em luademel
P/1 – E como foi?
R – Foi muito bom, mas também tinha um pouquinho de medo porque nunca tinha saído de fora.
P/1 – Nunca tinha saído de Americana?
R – Praticamente não. Então fomos pra lá sem conhecer, tudo é novidade, tanto pra mim quanto pra ela. Foi muito bom, fomos na praia à noite e eu lembro que ela tava com um chinelo, a água tirou um chinelo do pé dela, e ficamos esperando bastante tempo pra ver se... E deu um certo medo aquilo lá. Depois de um tempo o chinelo veio de volta no pé dela, aí nós saímos, nos mandamos embora. É meio que parece que tá chamando a gente pro mar. Mas foi muito bom. Fomos nos locais turísticos lá, pagamos a pessoa pra levar a gente porque não conhecia. Foi muito bom
P/1 – Então voltando. Você tava contando que tava trabalhando naquela fábrica de tecelagem que você ficou cinco anos, daí você casou. Como é que foi quando, a sua filha que é a mais velha?
R – Não, o meu filho
P/1 – O seu filho. Como é que você teve seu filho?
R – Desde o começo do casamento eu tinha na cabeça que os filhos tinham que vir sem problemas nenhum, sem ela tomar remédio ou passar um tempo. Então logo que nós casamos, com um mês ela já parou de tomar remédio porque nós já queríamos ter três filhos. Não foi acontecimento, foi que a gente desejava mesmo, da minha parte e dela também, pelo menos que demonstrava. Estou falando dela mas, realmente, eu comecei a fazer, eu fiz o berço dele, fiz carrinho, eu fazia tudo pro meu filho porque foi muito esperado. Eu paguei todo o pré-natal dela, foi cesariana, então foi tudo bem programado, foi muito bem feito
P/1 – Como é que foi ser pai pela primeira vez?
R – Ah, eu curti muito. Eu gostava muito do meu filho, gostava de criança, gostava de brincar. Apesar de eu já ter meus 20 anos eu sempre gostei muito de brinquedo, então eu fazia pra ele. Foi muito bom. Eu tinha orgulho de sair com ele desde pequenininho puxando o carrinho e ele sentado, segurando o volantinho. E todo mundo parava pra ollhar, eu curti muito meus filhos
P/1 – O senhor contou pra gente, lá dentro, a história de um carrinho que o senhor fez, colocou o motor. Conta essa história aqui pra gente
R – Como eu falei, eu sempre gostei de fazer brinquedo, então, eu fiz um pequeno que foi pro meu primeiro filho. Depois eu fiz outros, aí já tinha a minha filha também. Eu andava com elas pra rua, puxando eles no carrinho. Depois eu fiz um motorizado, que era para eu andar e pra eles também, a gente saía andando pra rua com ele e os meus filhos gostavam muito. E como eu tava na cabeça ainda de trabalhar por conta, eu fiz outros carrinhos maiores, não terminei, aí comecei a fazer móveis também, não deu muito certo, mas eu fiz algumas coisas de marcenaria. E trabalhava ainda.
P/1 – Lá na fábrica de tecelagem?
R – Isso. Já tinha saído da primeira fábrica, já estava trabalhando em outra e sempre fazendo. Aí veio o terceiro filho também, e decidimos que era só três e ia parar, certo? A minha esposa começou a tomar remédio também, mas, eu acho que era complicado, fazia mal, eu fiz a vasectomia e o médico falou que tinha que esperar pelo menos 30 dias, só que eu não esperei nada, fui com seis dias já e minha esposa ficou grávida novamente
P/1 – Nossa, depois de você fazer cirurgia?
R – É, vou falar assim, eu tinha que ter um tempo de ficar aguardando, ia ter que fazer exame, pra depois estar liberado. Só que, na verdade, eu não fiz isso daí. Com um mês e meio depois da cirurgia ela já deu sinal de que estava grávida. Aí o pessoal, teve alguém que falou alguma coisa, certo, mas como eu também tinha certeza que não tinha, pra mim foi normal, só que com três meses ela perdeu e parou aí nos três filhos
P/1 – E como é que o senhor saiu dessa fábrica de tecelagem, foi fazer seu trabalho por conta, que o senhor contou pra gente?
R – Então, na verdade estava pra ganhar o filho mais novo, o Jonas, e eu entrei nessa tecelagem nova e foram-me apresentado aqueles produtos lá
P/1 – Que produto?
R – As fitas do tear
P/1 – Conta um pouquinho assim, pra quem não conhece nada de tecelagem, o que é isso?
R – A fita, ela substitui a antiga lançadeira, que faz a transferência do fio de um lado pro outro, pro tear ir trançando. Antes era só lançadeira, aí veio a modernização que era essa fita, que era o que existia de mais moderno no mercado. E como eu trabalhava com resina, já tinha feito algumas coisas, a pessoa me apresentou também. “Em vez de fazer brinquedo desse jeito, faz dessa forma, com resina”. Eu vi essa fita e eu falei que eu fazia, aí um contramestre falou assim: “Ê rapaz, você não faz nada disso, não, porque esse negócio é muito difícil”. E eu comecei a pesquisar
P/1 – Essa fita é de resina no caso?
R – É. É um plástico de engenharia e vai resina também. Aí eu comecei a fazer pesquisa. Eu vinha praticamente toda semana pra São Paulo porque Americana não tinha nada disso aí, São Paulo parece que tinha tudo. Mas ninguém sabia, o pessoal olhava as peças e ninguém conhecia, ninguém sabia o que era. E eu fui descobrindo, fui estudando e comecei a fabricar no fundo de casa, fiz algum equipamento bem precário, mas as peças começaram a sair. E aí eu fui desenvolvendo. Visitava muita empresa aqui em São Paulo, a Du Pont, tudo quanto é firma que trabalhava com resina eu tentava tirar informação. Mas ninguém sabia, ninguém dava informação porque ninguém conhecia o produto
P/1 – Foi um trabalho mesmo de pesquisa do senhor pra descobrir
R – Exatamente. Então eu acabei descobrindo sozinho, entre o erro e o acerto fui desenvolvendo. Quando foi já em 95 eu já era contramestre, já tomava conta da tecelagem, e gostava muito de trabalhar na última firma que eu trabalhei. Eu tinha orgulho de trabalhar, sendo que antes disso era complicado ir pra fábrica, eu não gostava de passar o tempo, picar cartão, enfim. Essa última firma não, além dela deixar eu desenvolver, usar ferramenta, eu tinha liberdade pra trabalhar, então eu fazia meu trabalho rápido e ia fazer as outras coisas. Então eu colocava as peças nas próprias máquinas. Foi quando o pessoal falou que eu não precisava mais trabalhar em firma, mas eu precisava, em 96 eu ganhava bem, por aquela época daria para eu continuar investindo, mas o pessoal achou que eu não precisava mais trabalhar
P/1 – Que pessoal?
R – Da fábrica. Tinha o pessoal, eles iam mandar embora o pessoal, ia máquina nova e, como eles achavam que eu não precisava mais, a minha turma saiu inteira, a turma que eu tomava conta e eu também. Não foi que ninguém mandou embora assim mas, eu dei o aviso prévio pro pessoal todo e pra mim também, estava no meio, trabalhei até o último dia muito bem. E eu tinha começado a produzir o maquinário, só que eu perdi o serviço, aí eu precisava de um sócio porque eu não tinha condição de tocar sozinho. Foi onde começou a Fitas Forte e o pessoal...
P/1 – Fitas Forte é a empresa que o senhor começou
R – Isso, foi o início. Eu chamei esse sócio e nós abrimos a firma. Não, primeiro no nome de Stradiotto e Golin, eu tinha começado mas colocaram o nome deles na frente. A turma achava ruim, mas eu não esquentava a cabeça porque eu queria andar. Não, Stradiotto e Golin era o nome, e o nome fantasia era Fitas Forte. O pessoal achava que tinha acertado, mas eu sabia que não, faltava bastante coisa ainda pra fazer, bastante desenvolvimento. Começou a vender bastante, comecei a ter bastante problema também
P/1 – Fabricando sempre essa fita que o senhor começou a descobrir no quintal da sua casa
R – Isso. Então, já vendia desde 96, começamos a vender em 96. Mas tinha bastante problema porque faltava bastante coisa pra ser feita ainda, não tava tudo desenvolvido, mas o pessoal vinha e comprava porque era uma peça cara, era 120 reais cada peça na época. Eu falava assiim: “Eu vou ficar rico vendendo isso”. E o pessoal usava muito. Então tinha bastante problema
P/1 – Que tipo de problema?
R – Quebrava, desfiava. E o pessoal colocou o nome Fitas Forte. Como que é forte se tinha problema. O pessoal ligava, respondia, é fita forte, mas a fita quebrava, tinha muito problema. Eu sei que eu chegava na fábrica, teve uma época que eu não conseguia dormir porque era tanto problema que tinha, todo dia de manhã cedo chegava e os problemas já estavam esperando eu pra resolver, certo? Aí eu precisei dar um jeito na minha cabeça porque eu precisava dormir, eu comecei a falar pros problemas que se dane e foi uma coisa que resolveu muito pra mim na minha vida porque eu consigo me desligar hoje das coisas e descansar e depois voltar ao desenvolvimento porque se eu não fizesse isso eu já teria morrido. Enfim, eu fui resolvendo os problemas. Aí contratamos funcionários porque eu não dava conta de tanta coisa, contratamos um chefe, uma pessoa pra tomar conta. Eu ensinei ele a fazer para eu poder fazer outros desenvolvimentos. Estava indo tudo bem e eu saí pra fazer outras coisas e quando eu voltei, naquela época já tinha 60 mil reais pronto pra vender, quando eu fui olhar na fábrica. Eu fui olhar: “Pode parar tudo que é tudo lixo”. Naquela época estava precisando de dinheiro ainda, 60 mil reais produzido estragado. Foi quando eu também mandei todo mundo embora porque foi um prejuízo muito grande. Minha esposa que também trabalhava junto, ela também teve que sair fora, só ficou eu, mais uma pessoa, ficamos em três na fábrica, que eram os sócios. Mas só eu desenvolvia. Então, depois disso daí a fábrica foi bem devagar até passar esse monte de problema que deu e recuperar de novo. A firma foi ficando ruim e não dava mais pra tocar do jeito que tava. Mas eu acreditava no negócio, e eles não, então eu queria metade da fábrica pra mim e eles falaram em cortar no meio as máquinas exatamente pra não servir, pra eu não fazer mais lá, pra que eu pudesse dar continuidade no negócio. Enfim, foi uma separação muito difícil, nessa época eu já tinha ganhado dinheiro com a fábrica, eu tinha comprado um terreno, estava construindo, gastei bastante nele, isso também me fez falta, não tava conseguindo mais pagar ele, tive que vender. Nessa mesma época eu fiquei sem casa, perdi a casa também por causa da firma
P/1 – Por causa desse prejuízo da fábrica
R – É, entrou num caos assim que eu fiquei sem lugar pra morar
P/1 – E como é que foi essa fase com a sua família?
R – Essa fase, eu aprendi muito com um sócio meu também, que ele falava pra mim: "Antônio, no dia nós resolvemos as coisas, o que pagar”, e geralmente foi sempre assim, então, eu aprendi muito com esse sócio que eu tive. Aí na firma tava tudo ruim, ele arrumou um outro terreno pra mim só que não tinha nada em cima do terreno e eu precisava mudar em 45 dias. Aí a minha mãe falou pra mim: “Você pode voltar junto”, só que eu achava que ia ser muito humilhante, depois de tudo o que tinha feito voltar pra casa da minha mãe. Mas eu fiquei em paz porque eu tinha uma família, eu tinha alguém que não ia me deixar na mão, então eu não perdi um minuto de sono e no dia 25 de dezembro eu consegui fazer negócio nesse casa, local que a gente mora até hoje, e aí eu já tinha, pra quem não tinha nada, eu já tinha uma casa e um terreno, foi onde eu comecei a construir a fábrica da sociedade
P/1 – Nesse outro terreno?
R – Isso, isso. Aí separamos a sociedade, eu fiquei com as dívidas e as máquinas. Paguei todas as dívidas e fui modernizando as máquinas, o processo. Foi quando também uma empresa que comprava da gente pegou um orçamento meu de mil e 500 peças e levou pra Itália pra poder abaixar o preço da mercadoria. Falou assim: “Tem alguém fabricando no Brasil”. Então, começou a cair o preço das coisas e de lá pra cá vem uma guerra muito grande porque só eu que fabrico, então se eu sair, eles vão colocar o preço que querem na mercadoria
P/1 – Hoje aqui no Brasil você ainda é o único que fabrica?
R – Ainda sou o único que fabrica
P/1 – Com essa tecnologia que o senhor desenvolveu
R – Isso, com a tecnologia minha. Nunca saí pra fora
P/1 – O que tem de tão diferente nesse produto, que é tão difícil das pessoas produzirem?
R – Teve algumas pessoas, um material extremamente rígido e flexível ao mesmo tempo porque é uma das peças que mais exige da máquina. Então, ninguém conseguiu fazer, teve as pessoas que tentaram, inclusive com dinheiro, tinha bastante dinheiro. Eu não tinha dinheiro. E eu faço até hoje
P/1 – Uma coisa que ficou de curiosidade pra mim, seu Antônio. O senhor falou, já faz um tempo, quando você e a sua equipe, nessa última fábrica que trabalhava foram substituídos por uma nova máquina que chegou. O senhor comentou sobre isso, que chegou uma nova máquina e eles iam mandar o pessoal embora. Como era essa relação da máquina que chegava e das pessoas que eram mandadas embora, como era pra vocês dentro da fábrica trabalhar e ver a tecnologia cada vez aprimorando mais e precisando de menos pessoas. Como funcionava pra vocês isso?
R – Sim. Era uma máquina, usava fita e aí passou pra jato de água. As máquinas de fita, apesar de serem modernas, tinha outra série de máquina mais moderna. Então, poderia ter mudado pra essa, eu acho que pelo que eu fazia eu poderia ter ficado na empresa ainda, não achei muito justo que foi dispensado porque eu não tinha construído a fábrica ainda. Essas máquinas foram pra outro lugar, as máquinas mais antigas, porque houve muito isso daí, troca a máquina só que elas vão pra outro lugar, então elas continuam produzindo ainda. Ficou menos gente trabalhando na fábrica, já era uma máquina mais moderna
P/1 – E nessa crise toda que o senhor contou pra gente. Como é que ficou a sua família, seus filhos? Como que vocês dentro de casa reagiram a isso?
R – Vou falar assim, minha esposa sempre cobrou porque ela foi dispensada, aí gerou-se também um problema porque ela achava que ela não deveria. Meus filhos, eles acreditavam muito, ela também acreditava que as coisas iriam funcionar, que a qualquer hora ia decolar e ficar bem. Certo? Então, eu sempre fui muito presente na família. Eu levei eles pra morar na fábrica também. Tinha a separação, mas eles moraram na fábrica, estava todo mundo junto. Então meus filhos, eu trabalhei com meus filhos até 2011. Em 2011 o meu filho mais velho saiu e foi trabalhar numa outra empresa e o mais novo trabalha comigo até hoje. Agora, minha filha já saiu logo cedo, ela não quis trabalhar junto. Então eu fui muito presente da fábrica e da família também junto
P/1 – Era tudo misturado, o cotidiano da família era o cotidiano da fábrica e tudo era misturado
R – Estava muito próximo. Eu nunca fiquei distante da família e nem da fábrica, então as duas coisas caminhavam meio juntas. Apesar de ter separação
P/1 – Separação você diz da fábrica?
R – A fábrica e a casa, mas estava sempre junto, no mesmo local
P/1 – Como era um dia normal da sua família nessa época?
R – Normal da minha família. Eu e meu filho mais velho. Depois que nós mandamos o pessoal embora, que ele começou a me ajudar, teve mais funcionário mas não foram muitos, sempre poucos funcionários. Eu já levantava de manhã cedo, fazia o café e meu filho buscava o pão. Ou ele fazia café, já desde novinho, e eu ia buscar o pão. Todo mundo tomava café e já descíamos pra trabalhar. Sempre foi assim
P/1 – Seu Antônio, como é que foi essa saída do seu filho da fábrica?
R – Essa saída. Na verdade, em 2007, como tinha muita gente, as lojas que vendem material importado, eles tinham uma guerra muito grande, uma concorrência meio desleal, certo? Hoje ainda, eu acredito que 80% das tecelagens trabalham sem nota, então isso eu apresentei na Receita Federal porque eu acho que eu tinha direito de ter mais condição de venda, certo? Então, eu fui na Receita Federal e protocolei um documento pra que eles também olhassem alguma coisa porque vinha muito contrabando, então até hoje ainda entra contrabando porque ninguém conhece nada, tá certo? Eu sempre vim numa guerra muito grande com o pessoal falando mal, mas eu sempre tive meus clientes fieis. Então, em 2007 eu fiz essa denúncia, não resolveu nada e a família sempre passando dificuldade porque achava que ia melhorar, que ia melhorar e sempre nessa dificuldade. Eu desenvolvendo, fazendo equipamento novo, fita nova, eu sempre estive desenvolvendo. Fazia outras peças, outras máquinas, isso foi que também me deu condição pra ter tocado até 2012, fechou o ano passado. Fechou não, vendeu a firma. Mas a tecnologia é minha, eu sei fazer, não é ninguém, a pessoa que comprou, na verdade, só complicou mais a minha vida então eu falei pra ele que ele que assumisse o que ele tinha feito de errado. Eu achei que iria melhorar e ele acabou complicando ainda mais minha vida, eu acabei tirando a firma do meu nome, foi pra ele
P/1 – E o senhor comentou lá dentro que o senhor teve alguns problemas de ir pra Brasília. Que história foi essa, que problemas foram esses?
R – Então é o seguinte. Como era muito acirrada a minha briga com o pessoal que vende, eu fiz a denúncia na Receita e eu quis ir pra Brasília. Na minha cabeça eu disse: “Eu vou lá falar com a Dilma também”. Teve gente que tirou sarro, mas eu precisava fazer isso pra mim, não para os outros, eu precisava tentar. Então, eu fui pra Brasília, fiz um documento lá, mesmo sem saber. Porque eu leio muito bem mas para eu escrever é sempre com muita dificuldade, eu tenho bastante dificuldade. Meu filho fez na fábrica, mandou pra mim lá porque o pessoal não me recebeu em Brasília, mas indicaram outros lugares pra ir, então eu fui me informando. Fui no Coaf, eu tenho o documento ali se o nome não estiver certo, que investigam isso daí. Porque o país está perdendo, não sou só eu o prejudicado, o país perde todo mês com esses contrabandos que vêm, então eu fui fazer uma denúncia lá também porque eu acho que pra resolver isso é só com alguém lá de cima porque com o pessoal lá debaixo ninguém vai conseguir resolver nada. Então eu fui, não consegui falar com ela, mas me orientei e cheguei nesse outro órgão, fiz a minha denúncia, está lá, diz que dentro de um mês e davam a resposta, isso já faz mais de um ano
P/1 – Nossa, e nunca te retornaram?
R – Nunca me retornaram. Ainda me garantiram que lá eu teria um amparo, teria uma resposta, e até hoje ninguém fez nada. E continua o país perdendo por que? Porque quem tá ganhando é o pessoal lá fora e eu aqui, tecnologia nacional, eu acho que eu tinha direito a ter pelo menos um apoio, ou pelo menos que deixassem trabalhar, tivesse condição de trabalhar. Então eu perdi muito por não conseguir, por estar perdendo na concorrência, você não consegue comprar equipamento novo, fazer equipamento novo, não consegue desenvolver. Apesar de ter todo o conhecimento, eu preciso de um determinado material, eu sei como é que faz, mas tem um tratamento que eu sei a parte química, mas eu não sei a quantidade que vai do material, e o pessoal aqui não passa, você entendeu? Tudo isso prejudica a fábrica, prejudica o desenvolvimento. Então, meus filhos acompanham tudo isso, também ficam revoltados com essa situação porque não consegue andar, foi onde ele foi trabalhar fora. Ficou um pouco revoltado comigo também porque ele ficou bastante tempo trabalhando comigo e não conseguiu o que ele esperava. Mas eu também esperava que eles me ajudassem a fazer alguma coisa, só que eles ajudavam no trabalho, não era a ajuda que eu precisava
P/1 – E como é hoje em dia? Não só dentro da fábrica, mas o que você costuma fazer no seu tempo livre
R – Eu gosto de viajar, fazer venda. Então, todo mês, pra algum lugar eu to indo viajar, pra Santa Catarina, pra Minas. Eu vivo muito bem, eu tenho uma paz muito grande por ter feito tudo o que eu fiz. Mas hoje também a minha esposa, depois desses acontecimentos aí ela sempre falava em separação, que ia embora, que ia embora. E eu nunca falei nada de separação porque eu não aceitava separação, não era uma coisa que tava no meu, de dar errado. Um dia eu falei pra ela que se ela queria ouvir que acabou, então ela ouviu e acabou que ela podia ir embora. E no outro dia ela foi embora, certo? Ela foi embora, logo em seguida ela voltou atrás, mas eu falei que não poderia aceitar mais porque ela tinha saído duas vezes e voltado, eu não poderia aceitar mais e estamos separados já há dois anos e meio. A separação foi no final do ano, no dia 20, exatamente no dia 20, mas foi o melhor Natal, o melhor final de ano que passamos em família porque ela também veio passar. Ela saiu de casa, nós passamos o final de ano juntos e vivemos muito bem
P/1 – Hoje vocês são amigos
R – Isso. Nós vivemos muito bem, é uma coisa que eu nunca, eu faço tudo dentro de casa também, menos passar roupa . Então ela vem, ela passa, e só mora eu e meu filho hoje, eu e o Jonas. O outro casou tem três meses, a minha filha também casou, já está com uns quatro anos, eu tenho uma netinha de três anos
P/1 – Tem uma netinha? Como é que foi ser avô pra você?
R – Vou falar assim, foi muito bom. Foi muito esperado, a minha filha engravidou e não era casada ainda, casou já tava no sexto mês. Pra mim isso nunca foi problema, então eu achei que demorou, achei que ela podia te ficado grávida antes, mas desde o primeiro momento foi muito bem recebida a minha netinha, por todo mundo, independente, da minha família. A minha esposa, os meus filhos, foi ótimo
P/1 – E o senhor constrói brinquedos pra ela?
R – Então, pra ela eu já não faço agora porque estou muito envolvido com a fábrica, mas eu saio pra brincar com ela, a gente vai passear, levo na praia, cachoeira, ela curte muito a gente também
P/1 – Seu Antônio, o senhor falou das suas viagens, que o senhor gosta de viajar. Tem alguma viagem marcante pro senhor, que o senhor não esqueceu, que tem alguma história legal?
R –Eu gosto de viajar, gosto de passar nas praias
P/1 – O senhor procura pelas praias porque o senhor acha bonito
R – Eu vou nos lugares políticos, então eu saio, enfim, horário de trabalhar é uma coisa, deu o horário de descansar hoje eu já trabalhei muitas horas além do horário de trabalhar. Mas depois da separação deu cinco horas da tarde eu não quero mais me envolver com trabalho. E quando eu saio pra fazer venda, eu saio pra fazer venda e estou viajando, então na verdade estou passeando e fazendo venda porque gosto disso daí
P/1 – E seu Antônio, fiquei curiosa. O senhor falou que viu sobre o Museu da Pessoa na televisão, e desde que o senhor viu, o senhor quis contar sua história. De onde veio essa vontade de contar a sua história?
R – Essa vontade já é antiga. Desde quando eu comecei a procurar a Justiça eu gostaria que o pessoal conhecesse porque ninguém conhece. Por exemplo, eu fui na Sinditex em São Paulo, pra ver se eles poderiam fazer alguma coisa. E eles que são da área têxtil, que estão dentro e representam o setor têxtil, ninguém conhece nada, ninguém sabe de nada. “Mas isso é tecido?”. Então, as pessoas que deveriam saber, elas não sabem de nada. Eu queria registrar isso daí, de alguma forma é como se fosse um prosteto. Eu gostaria de ter escrito uma história, na verdade é muito pouco tempo pra gente falar de tanta coisa que passou, então eu gostaria de escrever um livro, vamos falar assim, mas eu não tenho condição, eu sou ruim pra escrever. Como eu faço leitura na igreja, fazia porque eu acabei me distanciando também, mas eu faço leitura, comunicação na frente dos outros, só que pra escrever não, isso é uma dificuldade, acho que já é, se eu estiver fazendo pra mim tudo bem, agora na frente dos outros não vai. Eu queria registrar, eu queria que alguém conhecesse porque hoje eu estou tentando me juntar com uma empresa, uma empresa que já tem mais suporte, que tem mais condição porque sozinho eu acho que eu não consigo dar continuidade ao meu trabalho e ir pra frente, então eu preciso me unir a uma outra empresa. Isso já está sendo providenciado também, não sei se vai dar totalmente certo mas já está andando esse processo. Então, eu queria que alguém conhecesse, que não ficasse só, de repente eu morro amanhã e ninguém fica sabendo de nada
P/1 – E quais são as suas perspectivas pra daqui em diante, seus sonhos?
R – Eu fiz alguns projetos, eu patenteei também. Então, na área de energia, que foi um dos primeiros projetos que eu fiz eu aprendi bastante porque eu precisava de informação então eu ia buscar, ia pesquisar. Tinha as pessoas que trabalhavam na área que achavam que sabiam e eu acabei comprovando que muita gente que acha que sabe não sabe e eu acabei aprendendo com tudo isso. Então, eu tenho uma patente na área de energia que foi um erro também mas serviu. Na área de reciclagem também, que é uma coisa que eu acho que ainda pode funcionar porque iria se, o tecido, a roupa que se usa, que já não serve mais, ela vira um outro material pra ser utilizado. Isso é uma patente que eu tenho, que eu também não consegui colocar pra andar. Então, a roupa viraria placas pra fazer como divisória, bastante coisa. Eu espero que eu consiga essa parceria com essa outra empresa e eu tenho mais um projeto ainda na área de geração de energia que já faz 30 anos que eu venho pensando nisso e, recentemente, coisa de um mês parece que eu vi uma luz aí. Então eu acho que, de repente, minha vida possa mudar muito, eu possa fazer alguma coisa de muito bom pra humanidade. Mas eu tenho certeza disso, se eu tiver condição, vai sair boas coisas. E se eu não conseguir, eu vou ficar em paz também porque não foi por incompetência minha só, é por causa desse país nosso que não tem apoio pra quem faz, realmente faz
P/1 – Seu Antônio, o que o senhor achou de contar sua história? Dessa experiência de lembrar desde sua infância?
R – Eu fiquei muito contente quando eu vi o anúncio na televisão que tinha o Museu da Pessoa que eu não tinha ouvido falar. Então, eu achei muito bom. Eu tenho certeza disso. Nas últimas horas que eu tava vindo pra cá, ontem à noite, existe aí uma, sempre dá um receio de como vai ser, como que seria esse momento, eu fiquei um pouco apreensivo, mas eu não desisto daquilo queeu quero fazer. Eu acho que essa iniciativa de vocês é uma coisa muito boa porque, de repente, nunca ninguém ia saber da minha história, do que eu fiz, entendeu?
P/1 – Tem alguma outra história que o senhor quer contar pra gente? Já encaminhando para uma parte final dessa entrevista?
R – No momento assim, às vezes tem bastante coisa que a gente pensa e no momento some. Na verdade tem outras coisas, mas aqui e agora vai ser por aí só
P/1 – Entendi. Então, obrigada seu Antônio, por ter vindo até aqui, procurado a gente, compartilhado com a gente um pouquinho da sua vida
R – Certo
P/1 – E fica o convite também pra você voltar, visitar o Museu
R – Eu agradeço a vocês porque vocês estão realizando uma coisa que, vamos falar assim, acho que de repente poderia ter saído melhor, mas a gente não tá assim totalmente preparado pra isso. Mas eu agradeço a oportunidade porque eu acho que é muito importante issoRecolher