P - Nicholas, pra gente começar queria que você falasse o seu nome completo, a cidade e o local onde você nasceu.
R - Nicholas Wahba, São Paulo, Brasil.
P - Em que ano?
R - Dezesseis de junho de 1972.
P - Você poderia contar o nome dos seus pais, de onde eles são...
R - Então, meu pai se chama Eli Wahba, ele nasceu no Egito, no Cairo, foi pra França estudar Medicina, acabou não terminando Medicina e veio pro Brasil. Minha mãe é romena, se chama Liliana Liliano Wahba, ela nasceu na Romênia, foi pra Itália e veio pro Brasil também. Se conheceram aqui no Brasil.
P - E você pode contar um pouquinho pra gente como é que foi a história que eles se conheceram?
R - Eles se conheceram quando o meu pai tava namorando uma amiga da minha mãe na faculdade de Psicologia e conheceu a minha mãe, se apaixonou por ela, ela se apaixonou por ele, aí infelizmente ele mandou ela ir embora (risos) e ficou com minha mãe. São casados há muito tempo.
P - E você tem irmãos, irmãs?
R - Eu tenho um irmão, o Laurêncio Wahba, que trabalha na Globo. Ele faz vários mergulhos; eu já fiz uns mergulhos com ele também, já mergulhei com tubarão, com golfinho, com baleia, com todos os animais. (risos)
P - Nossa, que bacana E vocês cresceram aqui em São Paulo?
R - A gente cresceu aqui em São Paulo.
P - Aonde?
R - Quando criança, até sete anos, morávamos em Higienópolis num prédio, aí meu pai comprou uma casa no Pacaembu, na Rua Catanduva. Moramos lá um tempo e agora eu to morando na Vila Madalena.
P - Lá em Higienópolis ou no Pacaembu, de que vocês brincavam? Como era a infância, seus pais trabalhavam ou sua mãe ficava em casa?
R - Meu pai trabalhava. Sempre trabalhou. Desde que veio aqui pro Brasil começou a trabalhar; minha mãe também era psicóloga, também trabalhava. Mas a gente se divertia muito, ficava brincando de futebol, de esportes, porque eu sempre fui muito ligado ao esporte, desde os dez anos de idade eu comecei...
Continuar leituraP - Nicholas, pra gente começar queria que você falasse o seu nome completo, a cidade e o local onde você nasceu.
R - Nicholas Wahba, São Paulo, Brasil.
P - Em que ano?
R - Dezesseis de junho de 1972.
P - Você poderia contar o nome dos seus pais, de onde eles são...
R - Então, meu pai se chama Eli Wahba, ele nasceu no Egito, no Cairo, foi pra França estudar Medicina, acabou não terminando Medicina e veio pro Brasil. Minha mãe é romena, se chama Liliana Liliano Wahba, ela nasceu na Romênia, foi pra Itália e veio pro Brasil também. Se conheceram aqui no Brasil.
P - E você pode contar um pouquinho pra gente como é que foi a história que eles se conheceram?
R - Eles se conheceram quando o meu pai tava namorando uma amiga da minha mãe na faculdade de Psicologia e conheceu a minha mãe, se apaixonou por ela, ela se apaixonou por ele, aí infelizmente ele mandou ela ir embora (risos) e ficou com minha mãe. São casados há muito tempo.
P - E você tem irmãos, irmãs?
R - Eu tenho um irmão, o Laurêncio Wahba, que trabalha na Globo. Ele faz vários mergulhos; eu já fiz uns mergulhos com ele também, já mergulhei com tubarão, com golfinho, com baleia, com todos os animais. (risos)
P - Nossa, que bacana E vocês cresceram aqui em São Paulo?
R - A gente cresceu aqui em São Paulo.
P - Aonde?
R - Quando criança, até sete anos, morávamos em Higienópolis num prédio, aí meu pai comprou uma casa no Pacaembu, na Rua Catanduva. Moramos lá um tempo e agora eu to morando na Vila Madalena.
P - Lá em Higienópolis ou no Pacaembu, de que vocês brincavam? Como era a infância, seus pais trabalhavam ou sua mãe ficava em casa?
R - Meu pai trabalhava. Sempre trabalhou. Desde que veio aqui pro Brasil começou a trabalhar; minha mãe também era psicóloga, também trabalhava. Mas a gente se divertia muito, ficava brincando de futebol, de esportes, porque eu sempre fui muito ligado ao esporte, desde os dez anos de idade eu comecei a jogar basquete, e as coisas que mais me divertiam era jogar basquete, jogar futebol, ficar com o pessoal na piscina também, se divertir.
P - E o basquete você jogava lá no seu prédio? Você jogava na escola também?
R - Não, jogava na escola também e em clubes brasileiros. Já fui da Hebraica, fui pro Pinheiros e voltei pro Hebraica.
P - E como é que foi que você aprendeu a jogar basquete, foi na escola?
R - Não, é que tinha uma coisa no Hebraica que você ficava brincando com esportes, e um técnico olhou pra mim e falou: “esse cara vai ser um jogador de basquete” e eu comecei a jogar, e comecei a jogar muito bem basquete, sempre jogava muito bem, fazia muitos pontos. Apesar de ser armador eu marcava muito bem os outros jogadores. Eu era um excelente jogador. Inclusive esse técnico virou e falou: “Olha...” bom, mas depois eu falo, né?
P - Não, lógico, pode falar.
R - Não, é que ele falou que se não fosse o acidente que eu tive eu estaria na seleção brasileira jogando basquete.
P - Então você jogou basquete por muito tempo e aí aconteceu esse acidente?
R - Dos 10 aos 16 anos.
P - Você quer falar um pouquinho sobre esse acidente? O que aconteceu?
R - Então, eu poderia falar já? Quer que eu já fale?
P - Sim.
R - Bom, no dia 28 de outubro de 1988, mesmo dia que eu fiz a última prova do segundo colegial, passei pro terceiro colegial, eu peguei carona com um ex-companheiro meu do time de basquete do Hebraica, que eu fui do Hebraica, fui pro Pinheiros, recebi uma proposta de voltar pro Hebraica, voltei pro Hebraica; e esse rapaz tinha 18 anos, eu 16 anos, e ele começou a tirar racha com o amigo dele na Gabriel Monteiro da Silva. Eles estavam os dois no farol vermelho da Faria Lima e quando abriu começaram a tirar racha, e tinha um carro que tava indo devagar na frente dele e na curva ele foi ultrapassar o carro da frente. Por sorte dele e por azar meu, vinha um trólebus. Ele tentou desviar, mas o ônibus bateu na parte traseira do carro, na parte que eu tava. O meu amigo estava do meu lado, ele levou pontos na cabeça só, e eu simplesmente recebi o ônibus inteiro no meu corpo. Desacordei, fiquei desacordado, o meu técnico tava três carros atrás, parou o carro, me pegou e me levou pro hospital, pro Emilio Ribas. Aí ligaram pro meu pai e minha mãe, falaram que tinha tido um acidente, que era pra eles irem lá me ver. Eles foram lá e rápido falaram “Leva ele já pro Einstein”. Aí eu fui no Einstein, tive que ser operado no cérebro, na traquéia, que eu não tava respirando, no braço e na cara. Eu só me lembro também quando eu saí do hospital, que eu não lembro nada da época, nem do dia do acidente, esqueci tudo, e tudo depois do acidente no hospital eu não lembro absolutamente nada. Só lembro quando eu tava saindo do hospital que eu não falava absolutamente nada e não entendia o que tinha acontecido comigo. Aí meu pai e minha mãe contando que eu tinha tido um acidente de carro grave, tudo, e aí eu fiquei meio em dúvida sobre o que eu ia fazer da minha vida. Eu voltei à escola logo no ano seguinte, mas eu percebi que não tava tão fácil como tava antes. Eu fiz da segunda série até a oitava série na Escola Vera Cruz. Na época não tinha colegial e eu fui fazer o colegial no Oswald de Andrade. Eu fiz o primeiro e segundo muito bem, e aí tive o acidente. Voltei na escola, no Oswald de Andrade, no terceiro ano, mas percebi que ainda não dava pra compreender o que estavam ensinando, tudo, mas eu fiquei mais lá porque os professores eram amigos meus, os meus amigos ficavam meio em dúvida se eu entendia, se eu não entedia as coisas, mas tinha uns amigos que sempre ficavam do meu lado e sempre ficaram. Aí o que aconteceu é que eu tive que fazer, no decorrer depois do acidente, quando eu tava na minha casa, eu tive que voltar a estudar particularmente, eu fui fazer Kumon, que é um exercício de aprendizado em português e matemática; eu tinha umas aulas de redação, tudo na minha casa. Eu tive que fazer fisioterapia com a fisioterapeuta Marli Viotti e fonoaudiologia eu fiz com a Fernanda Papaterra Limongi. Mas era uma coisa muito difícil porque primeiro eu tinha traqueostomia, então não conseguia falar absolutamente nada; depois eu fui operar a traquéia, fui operar lá em Boston com o médico que inventou essa operação, eu operei, mas não falava quase nada, voltei pro Brasil sem falar nada. Quer dizer, nessa época que eu tive fono com a Fernanda eu só conseguia falar “Ahhh”, mas era difícil pra mim, e ela virou e falou: “Pô, esse rapaz não vai conseguir recuperar tudo”, mas eu consegui recuperar tudo.
P - Nossa realmente você teve uma superação esplêndida, né? Pra gente ir passando um pouco pra sua juventude, eu queria voltar um pouquinho antes nesse tempo em que você estudava no Oswald, no Vera Cruz, você podia contar um pouquinho sobre como é que era o seu cotidiano, o que você gostava na escola, o que você não gostava, amigos...
R - Amigos eu tinha vários, várias pessoas eram minhas amigas. Eu não tinha inimigos (risos). Uma pessoa que gostava de todas as outras. Me divertia que eu conversava com todas as pessoas de modo que todos ficavam contentes em me conhecer, em falar... eu falava sobre qualquer coisa com todas as pessoas. Aí teve o acidente, que eu não conseguia falar nada e não entendia o que tinha ocorrido comigo. Mas era muito divertido, as pessoas que me conheciam gostavam de mim de todo o jeito.
P - E como é que foi então depois que você teve o acidente, aí você fez a operação, e aí a superação de começar a falar de novo, a se inserir, a se sentir mais seguro, o que foi te ajudando nesse processo?
R - Nesse processo o que me ajudou foi a minha força de vontade de voltar a crescer, de voltar a ser como eu era, que eu sempre fui um esportista que jogava para vencer, não importava se estávamos perdendo de 10 pontos, 20 pontos, eu sempre ia até o fim com força de conseguir vencer, então isso que me ajudou também a recuperar todas as minhas dificuldades. Inclusive uma pessoa que me ajudou muito foi minha mãe também, fora os exercícios que eu fazia, ela me ajudava; A gente inclusive fez um livro que ela que bolou, que é o Reconstruindo a Palavra Juntando o A e o B e o C, que são uns exercícios de memória, de compreensão de textos. A gente lia um texto pequeno e ela fazia umas perguntas baseadas no texto. As As eram um pouquinho mais fáceis, as Bs um pouquinho mais complicadas e as Cs eram muito complicadas. E eu ficava meio desesperado em não conseguir entender direito o que eu tinha que fazer na C, como que eu ia encontrar a solução, mas eu consegui encontrar essa solução.
P - Nossa, que interessante E ela te acompanhando, percebendo tudo que você estava passando, aí vocês juntos fizeram esse livro?
R - É, na verdade ela que fez esse livro. Eu fiz os exercícios e ajudei ela a escolher se era A, B ou C. Na verdade as perguntas não fui eu que fiz porque eu tava numa fase que eu nem entendia direito as coisas pra achar.
P - E aí como é que foi depois? O que você foi fazendo?
R - Então, aí o que aconteceu comigo? Tive o acidente. Na minha recuperação, fora ir na escola tentar estudar, eu fui no... deixa eu voltar só um segundo: eu fui no terceiro colegial no Oswald. No ano seguinte, em 89, eu não fiz nada. Não fazia prova, não fazia as aulas inteiras, tal, eu só tava lá pra me sentir contente em estar na escola com meus amigos. Aí, no ano seguinte eu tentei fazer o terceiro colegial no Oswald de Andrade, e percebi que não dava, tava muito complicado pra mim. Então eu virei e falei: “Olha, não vai dar ainda pra fazer o terceiro colegial. Está muito complicado para mim, para fazer o terceiro colegial.” Eu tive umas aulas particulares e aí voltei para uma escola mais fácil chamada Endac, e para relembrar um pouquinho eu voltei desde o primeiro colegial em supletivo e fiz o segundo e o terceiro em supletivo. Como o primeiro ano no supletivo é o ano inteiro, entrei numa aula normal, e o segundo e o terceiro eu fiz em supletivo e consegui terminar o terceiro colegial. Aí eu não sabia o que eu ia fazer da minha vida no futuro, e qual foi a minha idéia? Fazer vocacional com uma psicóloga. Fui lá, fiz o vocacional. Aí ela olhou pra mim e falou: “Ta na tua cara, tem tudo direitinho, você tem que ser administrador de empresas”. “Vamos lá, já que ela falou que eu tenho que ser administrador de empresas (risos), vamos entrar em administração de empresas” e entrei na faculdade UNIP muito contente, fiz o primeiro ano todo contente em estar numa faculdade, de encontrar os amigos, passei do primeiro ano pro segundo ano. Fiquei meio assim, mas falei: “Não, como ela disse pra mim que eu sou administrador de empresas vamos lá fazer o segundo ano”. Consegui terminar o segundo ano. Não tão contente quanto quando eu terminei o primeiro (risos), consegui terminar o segundo, aí falei: “Então vamos pro terceiro”, agora no terceiro, começava a aula e eu falava: “Ah, acho que a aula já foi inteira”, olhava no meu relógio e só tinham ido dez minutos. Eu virei e falei: “Não vai ser isso que eu vou fazer”. Mudei pra Propaganda e Marketing. Também fiz um ano, não gostei, virei e falei: “Não sei mais o que eu vou fazer.”. Tentei ser editor de imagens, outras coisas, nada me atraia. E aí eu fui ter aula de clown lá no México com o maestro Siegfried Aguilar Trinidad. Eele dá muito teatro físico, muito uso do corpo. Eu fui lá em 2002 e voltei em 2004. Mas o que me ajudou o teatro então, só retomando um pouquinho antes e indo até o presente: desde criança eu bolava umas peças muito bonitas que eu apresentava pra minha família. (risos) Ia meu pai, minha mãe, minha avó, (risos) o meu tio e meu irmão, eram a platéia. Vamos considerar que fosse em Real, eu cobrava um dinheiro, de cada um eu recebia 50 centavos pelas cinco pessoas (risos). Cada pessoa tinha que pagar 10 centavos pra ver a minha incrível peça, e fazia a peça. Quer dizer, eu sempre fui ligado ao teatro, sempre ligado à arte. E aí, no decorrer dos anos na oitava série eu tava no Vera Cruz e tinha que apresentar uma peça, uma coisa no final do ano, que era passar do oitavo pro primeiro colegial, uma mudança, e eu tinha que decidir se eu ia fazer arte, teatro ou música, depois eu falo um pouco de música, mas aí eu resolvi fazer teatro, e aí eu apresentei uma peça na oitava série no final do ano, na formação, e eu continuei com o grupo mais dois anos, com o mesmo grupo, com o mesmo diretor. E aí eu continuei e tinha uma peça que eu ia ter que apresentar em 1988, que infelizmente eu não pude apresentar porque eu tive que ir pro hospital. Mas eu tava em dúvida. Então, voltando um pouquinho atrás, que eu tava em dúvida entre teatro e música. Por quê? Porque desde os oito anos de idade eu tinha aula de piano, e foi uma coisa que me ajudou muito a voltar foi o piano, e então, eu tava em dúvida se eu ia fazer música ou teatro, daí eu virei e falei: “Não, vamos fazer teatro mesmo”. Na minha recuperação então, depois do meu acidente, eu entrei numa escola de teatro amador chamado Atíria, e quem era o diretor e também o dono do lugar era o Hélio Braga, e ele olhou pra mim, eu falava como se fosse um bêbado, “falava meio com dificuldade” (entrevistado reproduz fala simulando embriaguez), e na primeira vez que eu fui fazer aula lá ele virou para mim e falou: “Olha, já encontramos uma pessoa pra terminar o grupo da apresentação do Marinho Marinheiro, vai ser o Nicholas, porque ele vai ser aquele marinheiro bêbado” e eu fiz essa peça, fiquei todo contente. No decorrer dos anos fui crescendo, melhorando, fiz peças mais complicadas, quer dizer, Pluft O Fantasminha, que era dos fantasmas... Numa eu tocava, na outra eu era um dos fantasmas, e outras peças mais complicadas, e aí ele virou e falou: “Olha, você já ta tão bem, mas tão bem, que você vai ser um personagem da peça, um burguês fidalgo, do Molière: você vai ser o Cleont, o Cleont que se apaixona pela filha do burguês.” e eu fiquei todo emocionado de receber um papel tão importante quanto esse. Aí eu fiquei “Nossa, muito legal”, aí eu chego na minha casa “Nossa vou fazer um papel incrível”, eu olhei pra tudo que eu ia ter que falar e falei: “Como que eu vou conseguir decorar tudo isso?” . Fui semana seguinte, voltei e falei: “Olha, muito obrigado por me dar esse papel, mas infelizmente eu não vou conseguir decorar” e ele falou: “Você não só vai conseguir decorar como vai ficar surpreso no final da apresentação”. E eu consegui decorar e fiquei muito contente no final da apresentação.
P - Nossa, que bacana Nicholas, só voltando um pouquinho antes da gente engatar nesse assunto do teatro, da arte, pensando no seu tempo de faculdade. Você lembra como foi esse teste vocacional que você fez, que te colocou na administração em primeiro? O que você tinha que responder? Como é que era?
R - Eu não lembro direito (risos) o que tinha que responder, o que não tinha que responder. A mulher, acho que ela vira e fala: “ Ah, deixa eu falar qualquer coisa aí que já adianta muito.”.
P - E nesse tempo todo de faculdade aí, você não tem alguma história para contar pra gente de algum amor que você tenha passado, alguma paquera? R¬– Ah, tive várias paqueras. (risos)
P - Alguma história mais marcante, alguém que você tenha conhecido na escola de teatro?
R - Que tinha conhecido na escola de teatro?
P - Que tenha trocado correspondências... (risos)
R - Não (risos)
P - Que a gente sempre esquece, mas sempre tem aquele amorzinho de mais novinho, sabe? Ou o primeiro, não sei.
R - Não, para mim não. (risos)
P - Foi mais pra frente?
R - Foi mais pra frente.
P - E essa mudança de cursos que você fez, mesmo quando você tava em administração ou marketing, você pensava já no teatro? Quando você fez escola, foi nessa mesma época a escola de teatro?
R - É, o primeiro grupo que eu fiz depois do acidente, com o Hélio, foi antes de fazer a faculdade.
P - E foi sua primeira peça?
R - Não, minha primeira peça foi na oitava série, no final da oitava série, na formação.
P - E quando você fazia o teatro naquela época, você imaginava já... aquilo que eu vi que você falou do basquete já com o intuito de seguir pelo basquete, com o teatro você imaginava que futuramente você poderia continuar trabalhando?
R - Eu acho que já tinha algo dizendo que eu ia continuar fazendo isso.
P - E aí foi chegando cada vez mais perto, né?
R - Foi chegando cada vez mais perto.
P - Você falou desse grupo de teatro, desse último que você tava comentando da última peça, que você teve esse desafio de decorar, essa última peça, não da sua carreira, mas um momento marcante, digamos assim. E aí depois, como é a sensação de você estar... você teve um desafio muito grande e aí você entra no palco e olha pro público, qual foi a sensação disso tudo, vencendo esse desafio?
R - Foi uma coisa que me deixou muito contente, muito. Eu terminei e falei: “Nossa, eu consegui apresentar essa peça, consegui entrar no personagem, consegui usufruir uma coisa que eu achava que ia ser impossível”. Foi uma coisa que me deixou muito contente.
P - E aí foi crescendo cada vez mais?
R - Cada vez mais.
P - E como é que foi esse processo? Porque hoje você esta nesse grupo do Teatro Afásicos, né?
R - Então, mas antes de entrar nesse grupo de teatro da Afásicos, deixa eu falar um pouquinho de música, que eu não falei. Desde quando eu tinha oito anos eu comecei a ter aulas de piano e eu gostava muito do piano, gostava de tocar músicas, tudo, inclusive tem umas músicas que eu inventei no decorrer dos anos, e eu adorava o piano. Tive o acidente e para voltar a ser como eu era antes eu voltei a ter aulas de piano também. E atualmente nessa associação eu também to tocando, tem uma peça que eu sou a pessoa que toca durante a peça. Bom, qual foi a sua pergunta? Desculpa.
P - Não, mas se você quiser contar um pouco mais sobre a música, que você falou...
R - A música.
P - Dos instrumentos que você gosta.
R - Então, os instrumentos que eu gosto, eu gosto de todos os instrumentos desde que bem tocados (risos). Não gosto de Axé (risos), músicas meio assim eu não gosto, mas eu gosto de todo o tipo de música, música clássica, jazz, blues, rock, todo o tipo de música eu gosto desde que seja bem cantada e bem tocada. E eu sempre fui ligado ao teatro e à música também, desde criança eu era muito ligado à música também.
P - E além disso você também é muito extrovertido, né? Alegre.
R - Eu sou muito extrovertido, muito alegre.
P - E o que você acha, por exemplo quando você começou , porque você começou em escola de teatro, daí você foi pra peça, como foi? Você já tinha assistido, você lembra como é que foi ver uma peça importante , mais interessante, alguma que você tenha gostado?
R - Então, eu sempre gostei de teatro e me apaixonei por entrar nesse trabalho aqui em São Paulo também.
P - Tem alguma peça que tenha te marcado, que você tenha assistido?
R - Ah, deixa eu ver...
P - Se você quiser pode ir pensando, depois que lembrar você fala, é uma pergunta bem...
R - Então, aí eu fiz o teatro na época que eu tava na minha recuperação, e atualmente também eu fiz vários cursos de teatro aqui no Brasil e no México com o maestro Siegfried Aguilar Trinidad. Eu fui em 2002 ter aula com ele e era eu e mais 11 pessoas. Adorei. Muito bom. As aulas eram todos os dias de segunda a sexta, das nove da manhã às quatro da tarde, e ele dava meia hora pra almoçar. Era puxado. Três semanas. E eu voltei em 2004 para ter aula com ele, que também era das nove da manhã às quatro da tarde com meia hora de almoço. O que mais foi interessante é que nessa volta éramos eu e mais duas pessoas. Então era como se fosse aula individual de teatro clown, que é teatro de palhaço, e eu adorei Muito uso do corpo, teatro físico. Nesse tempo eu tive umas aulas aqui no Brasil, em São Paulo, com o Marcio Ballas, que era dos Doutores da Alegria na época. Agora ele tá num grupo dele que chama Jogando no Quintal. Não sei se vocês já viram. (risos) É muito divertido. O negócio é o seguinte: eles são seis pessoas que dividem em dois grupos, um azul e o outro laranja. Um é o curinga, quando eles estão sentindo dificuldades chamam o curinga para ajudar, duas ou três pessoas tocam um instrumento e um é o juiz. Aí vira o juiz e pergunta pra platéia: “bom, vamos começar então. Você, fala um país, um Estado que você está.” “Ah, na Alemanha” “Na Alemanha. Tudo bem”. Aí ele pergunta pro outro: “Qual o sentimento?” “O cara tá passando mal e correndo” e pergunta o outro: “Em que horas que é?” “Duas da manhã”. Eles têm que improvisar no momento, sem tempo de pensar. Quando sentem dificuldade eles chamam o coringa para tentar ajuda-los. Aí no final você vota se ganhou o laranja ou o azul. São 4 sketches, tem o intervalo, depois 3 sketches, para cada grupo, ou seja, um grupo vai ganhar no máximo de 4 a 3. Os que perderam recebem uma torta na cara; os que ganharam jogam a torta na cara dos que ganharam, e todos pegam a torta e jogam no juiz e é uma diversão muito legal que eles fazem.
P - Nossa, que bacana
R - Muito legal.
P - Conforme você estava falando, você retomou algumas atividades que você já fazia antes do acidente, como a música e o teatro. E os esportes?
R - Então, os esportes. Eu tentei voltar a jogar basquete. O meu técnico era o meu preparador físico, que ele me dava corrida, natação, musculação e basquete. Aí ele não tinha mais tempo, ele trabalhava no Bradesco, pediu para ir o preparador físico do Bradesco que me dava essas quatros coisas, que eram: natação, musculação, corrida e basquete. Voltei a treinar com time, mas eu senti o seguinte: se eu continuasse com o basquete na minha cabeça, teria que virar e falar: vou ter que acordar às oito, nove da manhã; treinar das dez à uma; almoçar e treinar das duas às oito. Ser só o basquete para mim, para aí ver se ia dar para voltar a jogar o basquete. Então eu senti que não dava para mim. Era muito complicado.
P - Mas você buscou outros esportes?
R - Então, agora o que eu tô fazendo atualmente: eu nunca parei de fazer esportes. Eu corro, nado, faço musculação, e agora eu to fazendo pilates também, que é muito bom também para as minhas costas.
P - Então, vamos voltar ao grupos dos palhaços. Essa sketch é apresentada aonde, quer dizer, esse espetáculo?
R - Do Jogando no Quintal?
P - É.
R - Eles estão apresentando agora na escola Santa Cruz, no teatro do Santa Cruz. Eu não sei se eles continuam apresentando, que é sexta, sábado e domingo. Acho que sexta e sábado às nove e meia e domingo às sete da noite.
P - Esse curso especial que você fez no México, que você falou que mexeu com você. O que você acha que mexeu? O que você sentiu quando você tava fazendo, que era diferente dos cursos de teatro, que era mais a sua cara?
R - Era muito uso do corpo. Você tinha que entrar em ação. No momento tinha que pensar dentro o que você ia ter que mostrar pro público. Era uma coisa muito interessante. Inclusive eu voltei pro Brasil em 2002 e fiz um grupo que era eu e uma parceira minha, que a gente tinha uma peça chamada: Amei, adorei, gostei. Que era uma peça infantil. E a gente usava muitos exercícios que eu tinha tido no México que a gente usou nessa peça também.
P - Tem muito de improviso nisso, né?
R - Muito improviso.
P - Nossa, um teatro dinâmico. Eu não me lembro de conhecer isso tanto assim, de ter visto tanto no Brasil assim, no dia-a-dia, sabe?
R - Voltando então, eu tive aula com o Marcio Ballas, que estava nos Doutores da Alegria, saiu agora, tá no Jogando no Quintal só. Eu fiz um curso com a Cristiane Quito também, que é também de palhaço. Tive aulas com outras pessoas de teatro de palhaço. Mas há pouco tempo atrás entrei num curso de mímica com o Luis Louis. Eu entrei e adorei o curso que eu tive com ele. Fiquei dois anos com ele, tendo aula de mímica e usando muito o teatro físico, usando muito a sua emoção pra transmitir pro público.
P - Nossa, que bacana. Tudo bem inovador, assim.
R - Muito inovador. Aí eu tive esse curso com Luis Louis, que foi uma coisa muito interessante. Fiz algumas apresentações com um grupo dele. No final dos anos tinha apresentações. E sempre eu fiquei ligado ao teatro, ao corpo. Eu fiz um curso ano passado também com o americano chamado Alito Alessi que ele dá danceability, que é muito o uso da dança através do seu corpo, e ele considerando todas as pessoas normais. Pode ter uma pessoa de cadeira de rodas, uma pessoa de muleta, uma pessoa com alguma dificuldade de visão, são pessoas normais para esse curso que ele dá. Muito interessante.
P - Você acabou criando uma abertura na sua vida para cursos muito especiais, né? E além disso dá pra perceber que você é muito interessado em estar toda hora estudando uma coisa nova. E aí, o que mais você tem feito? Como é que tá andando essa...
R - Então, fora isso, várias coisas do teatro. O que eu faço todo dia? Eu faço esporte. Eu sempre fui ligado ao esporte, eu nunca quis parar. Então fiquei todo contente há um mês e pouco por conseguir correr meia maratona, e o preparador físico lá do Ecofit, da minha academia, virou e falou: “Olha, você tem uma meta, você tem que correr esse tempo de meia maratona no máximo em duas horas. Eu consegui correr em uma hora e 57 minutos. Fiquei todo contente. Aí ele falou: “Bom, agora vamos relaxar, vamos tirar o tênis, a meia.”. Tirei minha meia, olhei pro dedão do pé direito, tava com, acho que um pouquinho de sangue embaixo, tudo. Falei: “Ah Mas tudo bem, vai sumir”. Aí no dia seguinte fui no dermatologista e ele falou: “Olha, tenho uma notícia triste pra você, vou ter que arrancar tua unha” (risos) aí, dói muito, que ele dá um monte de anestesia no dedão do pé para arrancar, mas tudo bem. Esse foi o meu presente por ter conseguido terminar a meia maratona.
P - Nicholas, tem uma coisa que a gente tava conversando antes de começar a entrevista que eu queria que você contasse pra gente é que você já falou que você deu umas viajadas por esse mundo afora. Eu queria que você contasse um pouco quais são essas viagens, umas histórias.
R - Bom, a primeira história que eu tenho pra contar é que a gente ia muito pra Bariloche visitar meu vô, que meu vô separou com minha vó e casou com outra mulher e foram morar na Argentina e a gente ia visitar ele (risos) e a gente se divertia muito. Em Bariloche tem uma história muito engraçada, que eu era criancinha, minha mãe era maior – lógico que era (risos) – e ela tava andando comigo nas neves e ela escorregou e caiu em cima de mim, em cima da neve. O quê que aconteceu? Pro resto da viagem eu fiquei no hotel, que eu tava com febre e minha mãe ficava do meu lado e meu irmão, e meu pai, e meu vô e a mulher dele saiam, mas eu fiquei no hotel com febre (risos).
P - Você foi afundado na neve.
R - Fui afundado na neve.
P - E você foi várias vezes pra lá? O que tinha de comida gostosa lá? O que você gostava de lá?
R - Ah, eu não lembro das comidas Inclusive as comidas que eu fui há pouco tempo pra lá não são comparadas as comidas que a gente come aqui no Brasil. Não tem comparação.
P - Nosso arrozinho com feijão
R - É. Aí eu fui também pros Estados Unidos, já fui várias vezes. Eu lembro que eu fui na Twentieth Century Fox lá dos Estados Unidos e meu pai virou e falou: “Olha, pega o carro, tem aquele carrinho pequenininho, você pega o carro e vai visitando os lugares que tão filmando, vê o que tão...” tal. Aí eu falei: “Ah Que legal” Aí, aquela coisa com a marcha pra frente, pra ré, sem querer eu pus pra ré, quase bateu num carro (risos). Mas tudo deu certo, tal, e eu vi várias filmagens que eram reais de filmes de coisas que tão fazendo lá.
P - Nossa, que bacana Porque é um sonho para muita gente isso, né? Que é ter esse backstage.
R - A gente ia na Universal. A Universal é coisa de turista, né? Ver um tubarão, sei lá, apesar de ser divertido, não era coisa do filmar mesmo. E lá nos Estados Unidos eu fui muitas vezes. Fui pra New Orleans quando existia, quer dizer, ainda existe, agora tão reconstruindo New Orleans. Eu vi muitas músicas de jazz, muito bom, fui muito blues também. Fui pra Nova Iorque que é linda também, para Washington. Eu fui jogar basquete em Chicago com a seleção. Era muito divertido. Fui pro Canadá também, fui pra Montreal e pra Québec, pra viagem para Toronto para jogar com a seleção. Eu fui pra Europa, fui em vários lugares da Europa, fui pra França. Agora, na França tem uma coisa muito engraçada: que os franceses não são como os brasileiros. Eu tava no inverno lá na França. Tudo bem. O que eu fiz? Eu acordava de manhã. Pra acordar mesmo eu tomava um banho e saía. De noite eu também tomava um banho para relaxar. Os franceses não tomam banho. E o que eles fazem? Eles passam perfume. Quando eu pegava metrô, eu passava mal (risos) sentindo aquele cheiro daquele pessoal que só passava o perfume e nem tomava banho e nem lavava o sovaco que era uma coisa que eu passava mal pra caramba. Eu virava e falava: “Não é possível, os franceses ficam três dias, quatro dias sem tomar banho (risos) Não dá pra entender”. Era engraçado. Eu fui também, fui muitas vezes, fui pra Inglaterra também, pra Itália, pra Espanha. Fui para vários lugares na Europa. Fui pra Holanda também. Era uma diversão.
P - Você contou aquela históoria do nome lá da Itália, você podia contar depois de novo.
R - Então, no ano passado fui eu e minha mulher pra Itália e pra Espanha. Depois do nosso casamento a gente foi com calma pra Itália e pra Espanha e tava um pouquinho friozinho na Itália, mas tava uma delícia. Inclusive tinha um pessoal que batia perto do Coliseu, que batiam fotos fantasiados como romanos e batiam fotos com o pessoal de lá, tudo. Inclusive tinha uma cena muito engraçada que ele pegou uma mulher, a gente viu isso, e começou a fingir que ia beijar ela, chegou a quase a beijar ela e a mulher sentindo, toda assim, agradecida (risos). Foi muito divertido. E aí então, tava lá na Itália, em Roma, e estávamos saindo de lá. Na Ida nós fomos de trem e metrô até o hotel, tudo, e na volta a gente falou: “Pô, como a gente vai para Madri às oito da noite, vamos pegar um táxi” e o motorista do táxi chegou e perguntou: “Oi, tudo bem? Como é teu nome?” e eu falei: “Nicholas.” “Ah Nicholas”, tudo bem “Nicholas do quê?” aí eu pensei “Vou brincar com ele: Nicolas Cage”. Ele olhando pro espelho e falando: “No, no, si, si, si Estou com Nicolas Cage Nicolas Cage” e começou a buzinar para um monte de moto que tava na frente dele que tava com Nicolas Cage, um monte de gente que estava num ponto de ônibus, que tava com o Nicolas Cage. Falou pra um monte de gente, ligou pro patrão, pra mulher dele falando que estava com Nicolas Cage, bateu três fotos com o aparelho celular dele. Ele sentiu agradecido por estar com Nicolas Cage. Eu falando: “Meu, não é verdade” E minha mulher falando: “Não, não é verdade” e ele: “Não, é sim” (risos). Foi muito divertido. Essa que foi a saída de Itália. Os italianos são muito simpáticos.
P - Tem mais histórias dessas, interessantes, que você passou? Algum lugar bem diferente que você achou?
R - Então, nós fomos então pra África. A gente foi pro Marrocos, pra África do Sul, pro Egito. Pro Egito foi divertido que a gente tava lá e o pessoal de lá começou a falar: “Vem cá Vem andar de camelo” e a gente: “Não, não queremos bater fotos de camelo, não queremos” “Não, vem andar” e nós: “Não, obrigado” “Vem andar” “Não Não queremos andar”. E ele começou a xingar a gente em árabe, e meu pai por entender, começou a xingar ele também em árabe (risos) e quase deu uma confusão, chegaram uns guardas e conseguiram separar os dois caras de lá com a gente (risos). Pô, o cara ficar xingando a gente. E tem uma história também divertida que a gente foi pro Quênia também e a gente fez várias coisas que ninguém acredita. Andar de kombi perto de leões comendo hipopótamos, a gente chegou a ver. A gente vendo leão comendo... ainda bem que não era ninguém da gente, era hipopótamo (risos).
P - Praticamente o Indiana Jones ali.
R - É, Indiana Jones. A gente com a kombi aqui, ele comendo aqui e a gente vendo “Nossa Muito bonito”. Batemos umas fotos com ele, tudo. A gente dormia num apartamento, que não era apartamento, era uma cabana que eles falavam assim: “Olha, vocês podem ir no banheiro, mas na parte noturna vocês não podem ir no banheiro porque vem muito animal aqui por fora que atacam vocês, então vocês vão no banheiro e voltam pro quarto. Só no dia seguinte, na manhã seguinte vocês podem voltar ir no banheiro” (risos). Era uma coisa... bom, fazer o quê? Tudo bem. A gente tava na nossa cabana, do lado da cabana do meu pai, e eu lembro que a gente tava lá de tarde, tava voltando, quando a gente vê um monte de macacos invadiram o nosso território, e o macaco líder de todos começou a conversar com meu pai (risos), cercou a gente e meu irmão conseguiu escapar dos macacos e conseguiu avisar pra pessoa do hotel: “Ó, tem uns macacos prejudicando a gente” e tal. Aí, ele foi correndo – o rapaz do hotel – jogou uma garrafa e todos os macacos saíram.
P - Eles assustaram com a garrafa?
R - Assustaram com a garrafa.
P - Mas o macaco ficou falando com seu pai? (risos)
R - O líder deles olhou pro meu pai e falou: “Esse que deve ser o líder deles? Deixa eu conversar com ele”. Os dois conversaram um pouco. Meu pai fala muito pouco de africano, mas eles conseguiram conversar um pouquinho (risos).
P - Falando dessas coisas de animais, de viagem, você deu uma brechinha que você falou que já mergulhou com tubarões. Como é que é? Como é que foi?Sei irmão, o que ele faz?
R - Então, meu irmão, ele tava terminando a faculdade dele. Cinema na FAAP, e recebeu uma proposta de uns amigos dele que viraram e falaram: “Olha, vamos fazer uma viagem? A gente vai vir de Los Angeles até São Paulo de duas pathfinder” “Falou, bom, vamos lá”. Aí ele fez essa viagem de Los Angeles até o Brasil de pathfinder e foi filmando. E ele começou se interessar por filmar coisas do mar. Ele filma também coisas fora do mar, mas ele gosta mais de filmar coisas no mar. Ele veio lá dos Estados Unidos até o Brasil. Uma coisa engraçada é que quando ele estava lá em Honduras, eles foram parados pelos guardas de lá e perguntaram: “O que vocês tem?” “A gente não tem nada” tal. “Deixa eu revistar os dois carros”. Um amigo dele tinha comprado duas Playboy (risos). Falou: “Olha, vocês podem continuar, mas essas Playboys censuradas aqui vão ter que ficar com a gente” “Tá, fica com vocês”. Os caras ficaram com as Playboys para ficar olhando pras Playboys, mas foi muito divertido isso. Aí, ele voltou pro Brasil e falou: “Ah, vou começar a fazer isso, filmar viagens, o que eu passo fazer”. Aí, ele fez umas viagens, que foi daqui de Santos até a África, e fez outras viagens, e começou a se interessar por filmar coisas do mar. Esqueci de falar que a gente foi pro Equador, a gente foi em 92. Fui eu, o meu pai, meu irmão e minha mãe. A gente foi pro Equador, para Galápagos, e a gente virou e falou: “Bom, nossos primeiros sete dias é ficar de barco e os outros sete dias a gente vai ficar num hotel” “Ah, vamos”. A gente chegou meio de noite, pegou o barco, tal, e o cara falou: “Bom, vocês vão jantar, depois podem dormir, no dia seguinte vocês vão acordar, a gente vai pra uma ilha” sei lá o quê. A gente comeu, dormiu, no dia seguinte a gente acorda e vê um monte de lobo marinho. O capitão vira e fala pra gente: “Olha, se vocês quiserem vocês podem mergulhar com os lobos marinhos”. Foi o mergulho mais lindo que eu fiz na minha vida, porque você mergulha com eles, eles vêm até você e desviam, de brincadeira. É uma brincadeira que eles têm com a gente. Foi uma coisa que eu nunca vou esquecer.
P - E os mergulhos com tubarões?
R - Então, lá também a gente mergulhou com os tubarões, tudo, meu irmão mais louco foi mergulhar na parte noturna com 200 tubarões tigres que são tubarões que atacam a gente, mas tudo bem. Eu fui com meu irmão para Nassau. Nassau é um país que é perto de Miami, Estados Unidos e lá você tem um mergulho com o Stuart, que é o nome do cara que faz o mergulho com tubarões, e você assina um papel querendo dizer: “Se um tubarão me atacar, a culpa é minha, só minha etc; não responsabilizo o dono” sei lá o quê. Você assina esse papel. Aí, você vai, mergulha, vê uns 40, 50 tubarões de dois metros. Pequenininhos, né, dois metros. Você volta, troca de tanque, faz um semicírculo e o Stuart começa a alimentar, só 40, 50 tubarões foram comer com ele e a gente só olhando. Bom, eu virei e falei: “Bom, qualquer coisa, se o tubarão vier aqui, eu dou meu parceiro aqui do lado, pode comer a vontade” (risos). Mas foi muito interessante isso.
P - A sensação do mergulho que você gosta, o que é esse sentimento de imersão aí, ficar na água?
R - É, você se sente um animal da água quando você mergulha, você não se sente um ser humano, se sente um animal da água. Eu já vi várias raias, iguanas, já vi iguanas no mar que são mais rápidas, porque fora são muito lentas, no mar são muito rápidas. Vi vários animais no mar. Peixes, diversos peixes.
P - Muito bacana. Mais alguma história de viagens?
P - Você falou que foi pro Cairo com seu pai, né? Como foi ir pra terra natal de seu pai?
R - Para mim foi incrível. A gente fez essa viagem que a gente foi pro Cairo, depois saímos do Cairo, fomos para Israel, que tem aquela coisa meio... e depois a gente foi pra França e voltou pra cá, mas foi lindo porque meu pai por falar o árabe, o pessoal já tratando da gente como se fosse da terra deles. Mas foi muito legal.
P - Teve aquela emoção por seu pai estar mostrando a terra dele?
R - Deu emoção. Ele mostrando: “Olha, eu morava aqui. Aqui que teu vô tinha fábrica de papel. Aqui era o lugar que a gente jantava”. Era muito interessante.
P - E teu pai te levou, por exemplo, nesse lugar que ele jantava ainda, pra comer, coisas assim?
R - Ele levou em lugares pra jantar.
P - E você chegou a ir pra terra natal de sua mãe?
R - Não, Romênia eu nunca fui.
P - Nicholas, todas essas viagens que você fez, tudo isso que você já viveu deve te dar uma bagagem muito grande até para essa criação toda que você leva pro teatro, né? E como é que foi então, chegando na associação, essa associação é nova?
R - Eu vou falar um pouquinho da associação. Essa associação chamada Ser em Cena foi fundada em 2002. Minha ex-fono, que eu fiz fonoaudiologia primeiro com a Fernanda Papaterra, depois fiz com a Mara Behlau e com o Jaime Zorzi, para conseguir voltar a falar, voltar não a falar, a se sentir sendo ser humano. Mas aí, a Fernanda Papaterra, eu sempre visitava ela, uma vez por ano ia visitar ela. Fui visitar ela em 2002 e ela virou e falou: “Você não acredita, eu fui pra Montreal e vi uma peça de pessoas afásicas. O que você acha de montar um grupo aqui no Brasil com pessoas afásicas fazendo teatro?”. Porque ela sabia que eu fazia teatro e falou: “Pode ser legal, vamos bolar isso” “Vamos lá”. Montamos nossa primeira aula. Ela conhece várias fonos, tal, falou com várias fonos, montamos um dia duas horas de aula incríveis. Quando chega, a gente todo empolgado, só chega uma pessoa: o José Francisco. Esse rapaz continua no nosso grupo e ele nunca quer sair do nosso grupo, e sente agradecido por ter o nosso grupo. Bom, eu virei e falei: “Olha, Fernanda, tudo bem, não veio o que a gente esperava. A gente esperava umas dez pessoas, veio uma pessoa, mas não adianta ficar triste, vamos continuar com isso” e começou a crescer. A gente ensaiava lá no lugar onde a Fernanda fazia fonoaudiologia. Começou a lotar, o consultório não era só dela, tinha outras fonos. A gente virou e falou: “Vamos ter que mudar de lugar”. Aí eu conversei com meu ex-fono, que agora é diretor geral da nossa associação, o Saliba Filho, ele ainda não era da nossa associação. Ele virou e falou: “Olha, vocês podem ensaiar se vocês quiserem, no Sesc Consolação”. Então, a gente foi ensaiar no Sesc Consolação. Eram ensaios mais tranqüilos. A gente virou e falou: “Olha, o que você acha de montar uma peça?” a gente falou: “Vamos lá, vamos fazer então 4 sketches”. A primeira eu era diretor e também ator. Eu entrava falando da minha força de vontade, como consegui crescer. A segunda sketche que eu fiz é de mímica, todo mundo andando em mímica, param e chega uma cara meio desnorteado perguntando e ninguém respondendo pra ele, ele sai com força e sai de cena. A terceira é um jogral que todos falam da força de vontade de voltar a crescer, voltar a falar, e a quarta era de um bar, de duas pessoas conversando num bar. Um quer contar uma piada pro outro e o outro fala: “De novo essa cara contando aquela piada O que eu faço?”. Ele conta duas piadas meio sem graça e termina a peça. A gente apresentou dez vezes essa peça. Foi muito vista por várias pessoas e todas ficaram muito contentes com o nosso grupo. Nas três primeiras apresentações em 2004, entrou no programa do Serginho Groisman, aquele programa Ação, que passa no sábado às sete da manhã. Os que querem ver vão ver todo sábado às sete da manhã (risos). Bom, passando o programa Ação, várias pessoas afásicas viram e falaram: “Não Cara, eu quero entrar nesse grupo” e entraram no nosso novo grupo. A gente tá agora com dois grupos mais ou menos com 40 pessoas afásicas, fora os familiares, quer dizer, devem ter 160 pessoas nos nossos grupos. Fora os afásicos.
P - Nicholas, para quem não conhece, o que é o afásico? O que significa?
R - Afasia ocorre por diversas maneiras diferentes, o mais presente de todos é o acidente vascular cerebral. AVC do lado esquerdo do cérebro. E que acontece? A pessoa perde a fala. Apesar de entender, de compreender, eles perdem a fala. Eles sabem que tem uma lâmpada em cima deles, mas eles não conseguem falar “lâmpada”, não conseguem falar as palavras apesar de saberem. Na minha recuperação foi muito complicado, por exemplo, eu sabia o que era mala, eu sabia o que era lama. Eu não conseguia ligar o “ma” com “la” para fazer “mala”, nem “lama”. Não conseguia. Entendendo o que era, mas não conseguindo falar absolutamente nada e não conseguindo escrever também depois do meu acidente. Então, foi uma coisa meio dura, mas deu pra voltar.
P - Voltando à experiência de ter formado mais um grupo...
R - Então, a gente formou mais outro grupo. Estamos agora com dois grupos. A gente recebeu por tempo indeterminado um lugar pra gente trabalhar com um grupo, e o outro grupo a gente está trabalhando no Sesc Consolação. A gente recebeu da Twentieth Century Fox uma sede da nossa associação, que fica na Rua Doutor Costa Junior, 230. É muito interessante a gente ter esse lugar. Fica no bairro da Água Branca. O outro grupo, estamos ensaiando no Sesc Consolação. No dia primeiro de maio saiu uma reportagem contando um pouquinho da nossa associação no jornal Folha de São Paulo, no Equilíbrio, e já tem 12 pessoas afásicas que estão interessadas em entrar em outros grupos. São pessoas novas, então a gente está pensando em formar um outro grupo.
P - Nossa, que bacana. Tá crescendo muito, né? E quantas pessoas? Quem são as pessoas que estão compondo, assim, a associação, que tão ajudando a direcionar ela?
R - Então, a associação é assim: o presidente é o Eli Wahba, que é meu pai. Na psicologia, a principal é Liliana Liliano Wahba, que é minha mãe, e a Fátima Monteiro. Em fono está a Fernanda Papaterra, que está abrindo pra Ruth Bicudo e pra outras fonos, para ir crescendo os grupos. Na direção principal é o Saliba. Também sou diretor, mas eu sou mais diretor teatral. Ele também, além de ser diretor teatral é diretor geral de todas as coisas, e temos uma pessoa que está trabalhando, que é o Fagner, que está trabalhando com administração, ajudando a gente, e a Magda Valente também, que é da publicidade.
P - Nossa, que bacana que tem um time forte, né?
R - Um time forte, mas a gente quer crescer mais ainda. O que a gente precisa, que várias associações precisam, é de dinheiro. Conseguimos nesse ano depois de uma dura batalha a Lei Rouanet, que um empresário ao invés de pagar uma porcentagem ao governo, pode pagar essa porcentagem às associações. A nossa associação é uma associação que está crescendo e está precisando de mais dinheiro para crescer mais ainda porque tem várias pessoas interessadas em entrar nos grupos, mas a gente vai ter que abrir outros grupos. Mas não adianta abrir vários grupos com dinheiro meio curto das pessoas, mas eu acho que neste ano vai crescer muito a nossa associação.
P - Nossa, e é muito bom sua família estar envolvida, vocês terem pegado isso como uma bandeira, uma forma de estar melhorando esse mundo que a gente vive, né? Porque o teatro, principalmente pela questão da Lei Rouanet, ele está passando por uma certa discussão forte, né? Pra captação de recurso. O que você acha que apresenta mais dificuldades para você poder expandir esse trabalho maravilhoso que vocês estão fazendo, para poder estar multiplicando cada vez mais, além do dinheiro?
R - Acho que precisa de mais exercícios de voz, de canto. Inclusive o Saliba usa muito o canto para os afásicos, que eles têm uma dificuldade de falar, mas com canto, um pouco antigo, eles conseguem lembrar a palavra e conseguem cantar umas palavras que eles não conseguem falar, mas no canto eles lembram que tinha essa palavra e conseguem cantar. Então, é uma coisa muito interessante usar o canto. O uso do corpo, tem um amigo meu que ele trabalha no Barbatuques, chamado Fernando Barbosa, que ele falou que está afim de trabalhar com pessoal. Corpo, uso do corpo também para os afásicos. A gente está olhando em dança também. Tem um amigo nosso chamado Irineu que dá aula de dança, que inclusive ele dá aula lá na minha academia, a Ecofit. Eu conversei com ele, ele falou: “Quem sabe possa dar um pouquinho de dança pros afásicos”, que é voltar a acreditar que eles estão vivos, todos estão vivos. E não é por causa de um problema de fala que vai parar de continuar crescendo.
P - Ele é aberto, gratuito?
R - É gratuito. A gente vira e fala pros paciente que a gente aceita também um dinheiro, que a gente precisa desse dinheiro, mas não é obrigatório dar esse dinheiro. A gente fala também pros familiares: “Olha, a gente está precisando de papel higiênico na nossa associação, estamos precisando de mais água, mais café”. Então, três vezes por ano, a gente recebe isso dos familiares, que entregam pra gente. Porque a gente abre esse caminho pra todos poderem se sentir em casa, então como é que são os trabalhos? São dois grupos que a gente tem e dois dias antes da apresentação é que tem mais ensaios. O que a gente faz nos ensaios? Tem uma hora que chegam todos e vão lá embaixo, tem café e chá que foram feitos, tem umas bolachas, eles comem, conversam um pouco, aí sobem, vão pros nossos ensaios. Tem um intervalo, eles voltam para baixo, votam a conversar, voltam a comer, a beber, a se divertir e volta de novo pro ensaio, que é um momento muito agradável para todos, ter esse momento em que podem contar diversas coisas que aconteceram neles nessa semana em que não se viram. Então é uma coisa muito interessante para eles.
P - Como é que está o calendário? Vocês estão com alguma peça para...
R - A gente está pretendendo apresentar uma peça agora para o começo de setembro. A peça é Humor na ponta do lápis. Então, a gente tem a peça antiga que é Reconstruindo a Palavra, que eu tinha falado. Eu virei e falei com o Saliba: “Estamos na hora de mudar a peça, né? Porque a gente já apresentou tudo. Vamos mudar?” “Vamos”. Eu tive uma conversa, sempre eu converso com o Hélio Braga, que virou amigo meu depois, na recuperação, e em relação a tudo ele virou amigo meu. Eu conversando com ele. Porque o Hélio Braga, além de diretor e dono da Atíria, ele também era pedagogo. Agora ele está dando aula de pedagogia em quatro faculdades. Não tem tempo de parar as coisas para entrar na nossa associação, ainda que não temos o dinheiro para ele entrar. Mas eu sinto que no futuro ele vai entrar de coração aberto. Eu virei e falei: “Hélio, a gente que mudar, a gente tem a peça Reconstruindo a palavra, mas a gente quer modificar”. Ele virou e falou: “Que você acha? Só dá umas lidas numas cenas e tenta fazer com o pessoal”. A gente começou a brincar com os grupos, com umas cenas estilo que a gente tem na nossa cena, por exemplo, um cara vai no restaurante, chama o garçom “Oi, boa tarde”, mas não é falado, mas ele aponta: “Olha, eu gostaria daquele prato”. O garçom: “Tem certeza?” “Sim, aquele prato” “Tudo bem”. Ele vai pro lado e tira o prato dele e dá pra ele (risos), os dois ficam assim. Então, a gente começou a ensaiar umas cenas dele e outras cenas que a gente usa no nosso dia-a-dia, e conseguiu fazer a peça Humor na ponta do lápis. A gente já apresentou uma vez no final do ano passado, que o pessoal tava querendo apresentar e a gente: “Tá, vamos apresentar no final de dezembro, quer dizer, dia 16 de dezembro a gente vai apresentar”. Aí, a gente apresentou meio o esqueleto da peça ainda, e agora para setembro vai ficar boa essa peça. Em relação a outro grupo que ainda esta ensaiando no Sesc e o pessoal liberou o Sesc Consolação, o Teatro Anchieta, que é considerado o teatro número um do Brasil. Eles liberaram pra gente apresentar lá. O Hélio virou e falou: “O que você acha? Dá uma lida nesse livro que eu tenho O Teatro de Sombra de Ofélia. Dá uma lida nesse livro e vê o que você acha de trabalhar com esse grupo”. E a gente está ensaiando com eles esse Teatro de Sombra de Ofélia com o grupo mais novo.
P - Muito interessante. Voltando a todo esse trabalho da associação, queria que você contasse um pouco mais das expectativas, o que vem por aí, como vocês estão pensando em superar alguns desafios, ampliar mesmo?
R - Então, a gente está pensando em ampliar mesmo, abrir outro grupo, apesar de o dinheiro não estar entrando mesmo, mas precisa ampliar. Tem muita gente interessada em entrar nos grupos. Então, o negócio é continuar crescendo, ir atrás das coisas porque eu estou sentindo que nesse ano, quem sabe, depois de conseguir a Lei Rouanet, está mais tranqüilo. Acho que vai ser mais tranqüilo.A gente tem uma pessoa que vai atrás de patrocínios. Ela conversou com vários laboratórios que se interessaram muito por nossos grupos, por nosso trabalho. Acho que a partir de julho eles já podem começar a dar um certo valor pra nossa associação. Então, é uma coisa que começa a crescer.
P - E tem mais alguma coisa, histórias de pessoas que estão lá na associação que você queira contar pra gente?
R - Então, uma pessoa que estava desde o começo e continua, chama Mario, ele não conseguia falar quase nada, era meio complicado pra ele falar. Tinha uma cena na peça Reconstruindo a palavra que ele falava poucas coisas. Ele tinha que falar: “palavras, palavras e palavras”, três vezes. Era difícil pra ele falar “paa laa vvras”, quer dizer, com a dificuldade. Agora ele ta falando muito melhor. Ele vira e fala que não quer sair da nossa associação porque ele conseguiu cresceu muito, falar mais as coisas. Ele agora tem, nessa peça Humor na ponta do lápis, uma cena que ele conversa no começo, e várias outras cenas. Ele quer mais papel na peça (risos). Eu falei: “Olha, fica tranqüilo, todos vão ter um papel, mas tudo bem, não vamos te desanimar”. Mas ele está muito melhor. Todos estão muito melhores.
P - Que ótimo Nicholas, você trabalha em outro lugar também, ou você está sempre na associação?
R - Agora eu estou sempre na associação.
P - E você é relações públicas.
R - Relações públicas também.
P - O que você faz com relações públicas, além de tudo isso?
R - Vou atrás de revistas, jornais, vou atrás de ampliar nosso grupo e ser conhecido pelo mundo, pelo Brasil, porque várias pessoas não conhecem nossa associação. Tem vários estados que já estão conhecendo nossa associação, que estão conversando, estão querendo que a gente dê uma palestra em outra cidade. Então, a nossa associação começa a crescer.
P - Hoje você acha que tem... O cenário da cultura no Brasil esta mudando muito, né, nesses últimos tempos. Você acha que agora ele tem mais aberturas? De possibilidades, ou ainda está com muitos problemas pras associações conseguirem se emancipar?
R - Estamos num momento difícil para todos, mas eu acho que tá modificando também. A partir do momento que conseguimos fazer a Lei Rouanet, conseguimos patrocínios, quem sabe dê pra crescer muito a nossa associação. A gente está interessado, inclusive que tem vários outros estados, outras cidades que perguntam: “Como é o grupo de vocês?”. A gente quer ampliar, quem sabe, abrir outros lugares em outras cidades e a gente ficar como que olhando por fora como que são dadas as aulas, dando auxílios pra eles. A gente quer ampliar o nosso trabalho.
P - Aquele grupo de Montreal, que de repente começou a surgir essa idéia, você já teve contado com eles?
R - A gente já teve um contato com eles. Eles ficaram muito contentes com o crescer que eles tinham lá em Montreal e a gente abriu um grupo aqui em São Paulo, para eles é muito interessante também.
P - A gente foi passando um pouco pela história de sua infância, sua juventude, chegamos na associação, suas viagens. O que mais você gostaria de contar, alguma coisa que a gente esqueceu de perguntar e que você esteja interessado em dividir com a gente?
R - Eu queria dizer um negócio, que foi uma luta que eu tive para conseguir voltar a ser come eu era. Mas o que eu acho é que todas as pessoas não podem virar e falar que não vão conseguir. Tem várias pessoas que estão na nossa associação que viraram e falaram: “Olha, você não vai conseguir falar nada, você não vai conseguir andar mais nada...” e todas essas pessoas conseguiram crescer através do seu sentimento, através da sua vontade de voltar a crescer, voltar a ser a mesma pessoa que era. É isso que eu acho que seria interessante. Sempre ir para conseguir melhorar.
P - Você gostou de estar relembrando um pouco da sua história aqui com a gente, o que você achou dessa experiência?
R - Achei legal.
P - A gente queria agradecer pelo Museu da Pessoa e falar que foi muito bacana saber da iniciativa dessa associação, quem sabe poder fortalecer essa luta, e agradecer por esse momento.
R - Obrigado.
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