P/1 - Para começar, Graciene, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Meu nome é Graciene Maria Pereira, eu nasci em Guarulhos, São Paulo, no dia 6 de maio de 1970.
P/1 - Sua família toda é aqui de Guarulhos?
R - Não, só cinco irmãos. Aliás, seis, incluindo eu. A caçula nasceu na Bahia e meus pais, meus avós, todos são da Bahia.
P/1 - De que cidade da Bahia?
R - São Miguel das Matas.
P/1 - Você conhece essa cidade?
R - Conheço. Inclusive, meu filho de cinco anos está lá passeando. Vai voltar dia 29.
P/1 - Seus pais e sua mãe são da mesma cidade?
R - São.
P/1 - Seus avós também?
R - Também.
P/1 - Você sabe um pouquinho da história dos seus avós? Você conheceu os seus avós?
R - Conheci só os maternos. Os paternos, quando eu nasci, já haviam morrido. Inclusive, quando meu pai tinha 13 anos, o pai dele já havia falecido, então nem por foto eu conheço. Só os maternos mesmo.
P/1 - E dos avós maternos o que você lembra? Como eles se chamavam?
R - Minha avó materna ainda vive, graças a Deus. O paterno já faleceu. Mas o que eu lembro deles é muita garra, muita determinação, embora morem numa cidade pequena. O meu avô já faleceu. Mas o que eu lembro do meu avô que eu conheci, os demais não, é que ele é uma pessoa muito trabalhadora, passou muitos valores de vida para a gente. Quer dizer, é uma cadeia, passaram para os filhos, que consequentemente passaram para os netos.
P/1 - Como ele se chamava?
R - O nome do meu avô? Me desculpe, mas eu não lembro.
P/2 - Como você chamava ele? Vôzinho?
R - Vôzinho.
P/1 - O que ele fazia?
R - Gostava muito de brincar com a gente. Como ele morava na zona rural e a gente morava na cidade, quando a gente ia para lá costumávamos passear à cavalo, a nadar no rio, essas brincadeiras de pega-pega, coisa de avô, que às vezes estragam os filhos dos filhos. [risos]
P/1 - E ele trabalhava nesta...
Continuar leituraP/1 - Para começar, Graciene, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Meu nome é Graciene Maria Pereira, eu nasci em Guarulhos, São Paulo, no dia 6 de maio de 1970.
P/1 - Sua família toda é aqui de Guarulhos?
R - Não, só cinco irmãos. Aliás, seis, incluindo eu. A caçula nasceu na Bahia e meus pais, meus avós, todos são da Bahia.
P/1 - De que cidade da Bahia?
R - São Miguel das Matas.
P/1 - Você conhece essa cidade?
R - Conheço. Inclusive, meu filho de cinco anos está lá passeando. Vai voltar dia 29.
P/1 - Seus pais e sua mãe são da mesma cidade?
R - São.
P/1 - Seus avós também?
R - Também.
P/1 - Você sabe um pouquinho da história dos seus avós? Você conheceu os seus avós?
R - Conheci só os maternos. Os paternos, quando eu nasci, já haviam morrido. Inclusive, quando meu pai tinha 13 anos, o pai dele já havia falecido, então nem por foto eu conheço. Só os maternos mesmo.
P/1 - E dos avós maternos o que você lembra? Como eles se chamavam?
R - Minha avó materna ainda vive, graças a Deus. O paterno já faleceu. Mas o que eu lembro deles é muita garra, muita determinação, embora morem numa cidade pequena. O meu avô já faleceu. Mas o que eu lembro do meu avô que eu conheci, os demais não, é que ele é uma pessoa muito trabalhadora, passou muitos valores de vida para a gente. Quer dizer, é uma cadeia, passaram para os filhos, que consequentemente passaram para os netos.
P/1 - Como ele se chamava?
R - O nome do meu avô? Me desculpe, mas eu não lembro.
P/2 - Como você chamava ele? Vôzinho?
R - Vôzinho.
P/1 - O que ele fazia?
R - Gostava muito de brincar com a gente. Como ele morava na zona rural e a gente morava na cidade, quando a gente ia para lá costumávamos passear à cavalo, a nadar no rio, essas brincadeiras de pega-pega, coisa de avô, que às vezes estragam os filhos dos filhos. [risos]
P/1 - E ele trabalhava nesta propriedade?
R - Trabalhava como agricultor.
P/1 - Você se lembra dessa casa?
R - Me lembro. Inclusive a casa não era de propriedade deles. E também a fazenda não era dele. Trabalhava por... como é que chamava lá na Bahia? Empreitada. A pessoa fazia a plantação e colhia, a metade ficava para o proprietário e a metade ficava para quem plantou, cuidou. Então era dessa forma, eles não tinham propriedade, pessoas bem simples mesmo, bem humildes.
P/1 - Você lembra que tipo de produto que ele trabalhava, cultivava?
R - Mandioca, feijão, algodão, fumo, essas coisas.
P/1 - Você lembra dele trabalhando?
R - Com certeza, me lembro. A gente até ajudava, assim, como criança, né? Enrolava charuto, que ele também fazia charuto e cultivava a parte do fumo, que tem umas folhas verdes, para quem conhece da plantação. E confeccionava charutos. E a gente ajudava a ele.
P/1 - Você só passava algum tempo nessa casa?
R - Só algum tempo. Mais em época de férias.
P/1 - Porque você morava na cidade?
R - Na cidade.
P/1 – Isso, seu avô paterno?
R - Não, o materno. O paterno eu não conheci, porque já era falecido.
P/1 - E você morou algum tempo lá nessa cidade?
R - Morei. Eu nasci aqui, voltei para a Bahia com sete anos. Ficamos lá dois anos, depois meu pai resolveu voltar, depois fomos para a Bahia novamente, e depois voltamos. Aí ficamos mais um tempo aqui. Meus pais são de lá, casaram lá, vieram para cá, tiveram seis filhos, depois voltaram e resolveram ficar por lá. Tanto é que na época que meu pai trabalhava aqui, ele veio solteiro para cá e deixou minha mãe lá, como namorada dele. E ele chegou numa época aqui em que não tinha muitas indústrias. As empresas iam procurar o funcionário, não o inverso, como é hoje. E meu pai teve muitas oportunidades de conseguir muita coisa aqui. Só que ele não soube aproveitar as oportunidades que ele teve. Ele tinha vários amigos que, quando ele recebia o salário... Naquela época a terra era muito barata, dava para você comprar... Hoje, para você ter uma idéia, se a gente for avaliar, ele teria como ter vários terrenos aqui no centro de Guarulhos. E ele falava: “Mas para quê eu vou comprar? Eu não tenho interesse em ficar aqui.” E ele pegava o dinheiro e curtia, não se importava. Depois que os filhos nasceram e cresceram, ele passava a vida toda lamentando por isso, por não ter tido cabeça, comprado terras, tal. E infelizmente, quando ele faleceu, a única propriedade que ele tinha era uma casinha, casinha simples do interior, sendo que ele teve várias oportunidades na vida.
P/1 - Aqui ou lá?
R - A casa que ele tinha, simples, é lá na Bahia. Inclusive é onde minha mãe mora, mas ela derrubou literalmente a casa onde ela morava e construiu do jeito que ela está hoje. Está uma bela de uma casa.
P/1 - Mas voltando um pouquinho, você sabe como seus pais se conheceram?
R - Eles moravam perto, as fazendas eram próximas. Minha mãe não podia sair, porque meu avô era muito severo. Não podia estudar, porque ele dizia que mulher ia estudar para quê? Para escrever carta para o namorado? Então a minha mãe estudou até a quarta série. A formação que a minha mãe tem hoje é por muita determinação dela e ajuda da minha avó, que contrariava as decisões do meu avô. Porque era aquele tipo de homem machista, que não aceitava que mulher fosse trabalhar fora, não precisava estudar. A mulher era preparada para casar e cuidar da casa, dos filhos e do marido. Então, minha mãe tem só até a quarta série, e posso te dizer que a gente tem muito orgulho de tudo que a minha mãe conseguiu na vida, porque pelo estudo que ela tem... e, graças a Deus, ela tem uma mente muito aberta, em função do estudo que ela tem. Porque ela soube, aquilo que ela não teve, ela soube projetar para os filhos. Ela correu atrás para dar estudo, ela chegou a pedir dinheiro aqui em São Paulo, porque a dificuldade era muito grande. Meu pai, já estava com problemas de saúde, uma pessoa quando fica encostada no INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], recebia pouco. E minha mãe não trabalhava fora, precisava de dinheiro. Teve uma época, para colocar a minha irmã na escola, ela teve que sair pedindo dinheiro. Então tudo aquilo que ela não teve, ela tentou passar para os filhos, dar para os filhos. Mas a vida era muito difícil. Quando meu pai voltou para a Bahia, com os seis filhos, eles compraram uma casinha simples, meu pai já estava com o auxílio doença, não podia mais trabalhar. E a minha mãe fazia algumas coisas para vender na feira, estava trabalhando como feirante. Vendia banana, alguns legumes, verduras, coisa que ela mesma plantava no nosso quintal, para ajudar na renda familiar. Então, foi uma vida muito difícil. Mas minha mãe soube encaminhar muito bem os filhos.
P/1 - Então, só para entender um pouquinho melhor, eles se casaram e logo vieram para São Paulo?
R - Isso, se casaram e vieram para cá.
P/1 - Vieram para cá por que motivo?
R - Porque como meu pai já tinha vindo quando solteiro, ele sabia que as condições de conseguir alguma coisa aqui seria bem melhor. Então eles vieram para cá.
P/1 - E vieram morar em que lugar?
R - Aqui em Guarulhos mesmo, na Paes de Barros. Inclusive a minha irmã que trabalha aqui no Aché, foi muito engraçado a história de como ela conheceu o namorado dela. Ela estava fazendo o colegial, porque quando nós viemos de lá, nós não havíamos concluído ainda o colegial. Então ela estava estudando, conheceu um rapaz. Vendo foto de família, tal, a mãe dele falou assim: “Eu acho que eu conheço o seu pai.” Os pais do namorado dela eram vizinhos dos meus pais. Então muito interessante, ela olhando a foto, descobriu. E a minha irmã mora na Paes de Barros, próximo à casa em que meus pais moraram quando nós éramos crianças.
P/1 - Então eles vieram para cá, foram morar aqui em Guarulhos, e seu pai começou a trabalhar com o quê?
R - Como operário.
P/1 - Em fábrica?
R - Em fábrica.
P/1 - Você sabe em que fábricas ele trabalhou?
R - Não sei, não sei nenhuma.
P/1 - E aí começaram a nascer os filhos?
R - Começaram a nascer os filhos, um atrás do outro. São sete filhos, e os seis primeiros filhos foi uma escadinha.
P/2 - Qual o nome deles?
R - Vou falar na sequência dos mais velhos. É Luciene, o Belarnino, o Humberto, o Gilberto, a Lucimara e a Graciele, que é a caçula.
P/1 - E a sua mãe trabalhava fora nesse período?
R - Não, minha mãe nunca trabalhou fora. Às vezes, ela pegava alguns serviços, como correia de sandália havaiana para cortar sombrinha. Porque antigamente, não sei se hoje em dia é assim, mas antigamente vinha aquela parte da capa da sombrinha, com aquela parte que sustenta o tecido, então a gente tinha que costurar. E a gente também ajudava a minha mãe, então eu costurava tudo, fazia essas coisas para ajudar na renda familiar aqui.
P/1 - Você lembra dessa primeira casa que você morou?
R - Lembro. Inclusive, ela está do mesmo jeito.
P/1 - Como é essa casa?
R - Só dois cômodos, com telha de Eternit. Antigamente aqui tinha muito vendaval, teve uma vez que houve um vendaval, meu pai teve que se pendurar num caibro para as telhas
não voarem. Tinha poço na época que a gente morava nessa casa. Era muito legal. Uma
vida difícil, mas a gente tem recordações felizes.
P/1 - Com esses muitos irmãos tinha muitas brincadeiras?
R - Muitas brincadeiras e muitas brigas também. Brigas de criança, briga por qualquer coisa. A gente brincava muito.
P/1 - Do que vocês brincavam?
R - Brincadeira de capitão, aquela brincadeira de furar lata, colocar uma corda, não sei se chama pé de cavalo, e sair andando. Brincadeira com pneu, colocar um pouco de água dentro, dois cabos de vassoura e sair correndo pelo meio da rua. Brincadeira de corda, de cantigas diversas, “n” brincadeiras. Pega-pega...
P/2 - Será que você lembra de alguma cantiga?
R - Acho que eu lembro sim. “Terezinha de Jesus”, “Atirei o pau no gato”. Tem várias, mas no momento não me lembro das outras. Mas a gente brincava muito.
P/1 - E aí você entrou na escola. Você se lembra da primeira escola? Aqui em Guarulhos?
R - Não, a primeira escola foi na Bahia.
P/1 - Ah, foi na Bahia?
R - Foi na Bahia.
P/1 - Você disse que foi para lá com quantos anos?
R - Com sete anos.
P/1 - Então você não tinha entrado na escola?
R - Não. Eu não sei se naquela época era como é hoje. Para você colocar um filho cedo na escola, você tem que pagar uma escola particular. Então, eu não tenho noção se naquela época era assim também. Mas lá entrava na escola a partir dos sete anos. Então eu entrei na escola na Bahia, minha primeira escola foi lá. Eu lembro, não sei se por ser de família grande, a gente era muito apegado com a minha mãe, meus irmãos. Eu lembro que eu chorei muito quando eu tive que ir para a primeira série, a primeira vez que eu fui para a escola, eu chorei muito. Eu não queria me separar do meu irmão. Eu falei assim, eu tinha comentado com as professoras: “Deixa-me ficar com o meu irmão?” “Mas não pode ficar junto! Não são da mesma idade!” Eu tenho essa lembrança da primeira série.
P/1 - Então você voltou para a Bahia com a sua família por que motivo?
R - Porque meu pai, era aquilo que eu te falei, ele não soube aproveitar as oportunidades. Eu creio que para ele ter conseguido ter um êxito na vida ele deveria ter ficado aqui, uma vez que lá ele sabia que não tinha recursos para quem tinha tantos filhos. Então ele resolveu voltar, talvez por saudade dos pais dele, de toda a família dele. Eu creio que ele deve ter voltado por esse motivo.
P/2 - E você lembra da viagem de volta?
R - Eu lembro. Eu lembro que tivemos que vender os poucos móveis que tínhamos, comprou vários sacos de pano, colocou um monte de panela. Eu lembro que era uma tristeza, no sentido de dizer que eram duas pessoas cuidando de um monte de crianças. Na hora da parada do ônibus, para descer para comer alguma coisa, era aquele tumulto. Lembro de algumas vezes, minha irmã doente enquanto estava viajando, porque foram várias viagens de ida e de volta, né? Então acho que era por isso que meu pai não construiu muita coisa, porque ele não se fixou em um lugar só. Ele teve várias oportunidades. Mas aí começou a aparecer o fator doença, e foi caso psiquiátrico, então ficou bem mais difícil.
P/1 - Aí, retornando para a Bahia, o seu pai comprou uma casa lá ou foi morar com algum parente?
R - Não, ele comprou uma casa. A gente morou acho que um mês e pouco até conseguir a casa, a gente foi morar com parentes. Mas logo ele já comprou uma casa, e a gente mudou para a nossa casa.
P/1 - Na mesma cidade?
R - Na mesma cidade. Inclusive, a primeira vez que o meu pai voltou ele comprou uma casa muito boa, com vários cômodos, mas nessa de ir e vir o dinheiro acabou. Até que chegou uma hora em que minha mãe falou assim, ele queria voltar, minha mãe falou: “Não, se você quiser, você vai sozinho, eu não vou mais. Eu não te acompanho, porque é muita loucura que você faz.” Aquelas coisas. Antigamente a mulher era muito submissa. Então tudo que o marido dissesse, a mulher acatava. Então era o que acontecia com a minha mãe. Embora achasse que não fosse o certo, ela acompanhava porque era o papel da mulher naquela época. A mulher muito submissa, o que o marido dissesse era lei. Então ela acompanhava o meu pai. Até que ela deu um basta, viu que os filhos estavam crescendo, estava atrasando o processo escolar de tanto ir e vir, e ela falou: “Se você quiser, você vai sozinho.” Aí ele se acalmou e ficou por lá.
P/1 - E para você foi uma mudança muito grande ter saído daqui e ter ido para a Bahia?
R - Olha, hoje em dia, quando eu converso com amigos, tal, eu falo que eu gostaria muito de não ter ido. Eu gostaria de ter ido para passear, não para morar. Porque eu acho que se eu estivesse aqui desde criança, naquela época, como as coisas eram mais fáceis, na parte de escolaridade, tudo, para você conseguir um emprego mais jovem e estudar bem mais, eu acho que teria sido bem mais proveitoso. Tanto é que, às vezes, você pensa na cidade de interior para criar o filho, só que você tem que pensar nas oportunidades que ele vai ter numa cidade grande. Às vezes, entrar numa universidade federal, se você conseguir preparar bem a criança. Então tem todo esse sentido, da educação numa cidade pequena ser melhor porque a pessoa tem mais liberdade, mas tem o outro lado. Na cidade que meus pais, que a minha mãe, no caso, agora está morando, não tem indústria, não tem nada.
P/2 - Como é a cidade?
R - É bem pequena. Se a pessoa tiver oportunidade de conseguir entrar na prefeitura, ela está feita. Mas senão, você vai ser uma balconista para ganhar 180 reais por mês, trabalhar sábado e domingo, que é o que está acontecendo com a minha irmã mais velha. Ela trabalhava na prefeitura há 12 anos e ela saiu, mudou de prefeito, ela foi mandada embora e está trabalhando de balconista, ganhando 180 reais. Então, quer dizer, é uma cidade boa para quem já tem um recurso, mas para quem quer adquirir algo, quem está começando a vida agora(...)
P/2 - Fica no sul da Bahia?
R - Fica bem, na parte de Santo Antônio de Jesus, próximo de Salvador.
P/2- Mais para o centro?
R - É.
P/1 - E lá você estudou até que série?
R - Eu comecei o segundo colegial, aí eu tive que parar para vir para cá.
P/1 - Você fez da primeira série até o segundo colegial?
R - Isso. Aí eu tive que interromper, porque nós viemos em setembro para cá, já estava quase terminando o ano letivo. Tive que interromper para vir para cá para poder ajudar a minha mãe. Porque como meu pai já estava com a aposentadoria, e era cento e poucos reais, para criar seis filhos, que na época não tinha a caçula ainda, então era muito difícil para os meus pais. Aí a minha mãe, conversando com a irmã do meu pai, que mora aqui, a filha dela incentivou, falou: “Tia, manda os meninos para cá.” Aí resolveu que ia vir eu e o meu irmão mais velho, dos homens. Então nós viemos, para estar ajudando a minha mãe, porque era muito difícil. Um salário mínimo para criar seis filhos! Então, nós viemos(...) A princípio ficamos morando na casa da minha tia, daí a quase um ano, a gente alugou uma casa para que pudessem vir mais dois. Aí vieram mais dois, a gente estava numa casa de dois cômodos, ficamos alojados. E fomos construindo, juntando dinheiro para comprar um terreno e sair do aluguel. Mas ainda nesta casa, veio o meu irmão caçula, dos homens, então ficamos em cinco aqui, e duas na Bahia, a mais velha e a caçula lá com a minha mãe. E aí a gente foi juntando dinheiro aos poucos, meu irmão mais velho comprou um terreno e a gente dividiu eu e ele, meio a meio. A gente ajudou a construir a casa dele, para que pudéssemos sair do aluguel. Emprestamos dinheiro para ele, ele construiu, nós fomos morar com ele, aí cada um foi conseguindo o seu, pouco a pouco.
P/1 - Eu só queria voltar um pouquinho ainda para as suas lembranças na sua cidade lá na Bahia. Porque você estudou lá. Como era essa escola, você lembra?
R - Lembro. A escola era uma escola convencional, de primeira à oitava série, porque as escolas eram divididas em série. Então tinha da primeira à oitava série.
P/1 - Tinha uniforme?
R - Acho que nem tinha uniforme. Naquela época não tinha uniforme, acho que as pessoas nem tinham poder aquisitivo de adquirir uniforme. Não tinha uniforme.
P/1 - Você se lembra da primeira professora?
R - Lembro. Professora Lourdinha, um amor de pessoa. Passou vários valores de vida, lições de vida.
P/1 - E como você se avalia enquanto aluna? Era uma boa aluna?
R - Bom, eu, entre boa e ruim, eu fico lá mais na parte mediana, né? Digamos que eu sou uma aluna que devia se aplicar um pouco mais. Hoje em dia eu digo, às vezes, por ser dona de casa, ter um filho, trabalhar, estudar, não tenho muito tempo para me dedicar aos estudos. Mas o tempo que eu tenho, eu procuro agarrar com afinco. Aqui, por exemplo, dentro do Aché, eu procuro na hora do café estar estudando. Eu não venho tomar o café e fico os quatro meses de estudo me preparando. Porque em casa já fica mais difícil, você tem que cuidar da casa, tem que dar uma atenção para o filho. Porque ele cobra isso, ele começa a falar: “Ai, mãe, você não me dá atenção!” Então o momento que eu tenho, que eu estou na empresa, horário de almoço, horário de café, eu procuro estar estudando. Eu janto aqui, vou direto para a universidade, já para aproveitar esse tempo, para o final de semana cuidar da casa e ter um tempo para o meu filho. Para cuidar da parte da lição dele. Ele tem cinco anos, mas já estuda. Então estar vendo toda essa parte do desenvolvimento dele. Porque a criança cobra, a criança quer a presença dos pais.
P/1 - Mas naquele tempo você estudante lá na Bahia, você ia em grupo, ia com os irmãos para a escola, tinha brincadeiras, como era?
R - Tinha várias brincadeiras. As brincadeiras de roda, de pular corda. Nós tínhamos uma brincadeira na hora do intervalo, que era pegar um matinho, que eu não sei o nome, e enfiar num buraquinho e puxar um bichinho. O pessoal o chamava de “piloto”. Você o cutucava, ele tem umas garrinhas, grudava no matinho e puxava. Era uma festa! Para ver quem juntava mais bichinho, um barato. E tinha a parte de cantiga, pega-pega, essas brincadeiras de criança.
P/1 - E quando você veio para São Paulo, para Guarulhos, desta vez com seu irmão, você lembra da viagem?
R - Lembro. Eu lembro da viagem, lembro do receio, a expectativa. Porque era tudo novo, né? Deixar uma família grande para trás e enfrentar um desafio. Batia aquele medo. Embora fosse tia, a gente veio para a casa da minha tia, mas tinha aquela coisa de adaptação. “E se não der certo?” Aquela coisa, assim, de medo. Mas a vontade de vencer, de lutar por algo melhor era bem mais forte. Então, isso superou todo o restante.
P/2 - Chegando aqui você arranjou trabalho?
R - Eu consegui emprego temporário, numa fábrica dessas molinhas que as crianças brincam. Aquela faquinha que o pessoal colocava na cabeça, a parte de colocar o adesivo na faquinha, que era para época de carnaval. Umas bombinhas caseiras, que puxava o barbante, estouravam. Tudo temporário. E depois fui trabalhar numa outra lá no Belenzinho, o nome da firma é Filtros Inpeca, também como temporária. Eu trabalhei um mês. Aí eles iam efetivar, mas aí o Aché chamou. Porque a minha prima, que trabalha no ambulatório, pegou uma senha para mim e eu fui chamada. Aí eu pedi dispensa lá para poder entrar aqui.
P/1 - E você se lembra como foi o seu primeiro dia de trabalho?
R - Me lembro. O primeiro dia de trabalho é aquela coisa de estar conhecendo o setor, a apresentação. E aí, quando você parte para a prática mesmo, como eu não tinha, assim, tinha só experiência em serviços temporários(...) Foi uma coisa totalmente diferente vir trabalhar com parte de máquina, embalar os cartuchos, tal... Foi uma experiência totalmente nova, e uma responsabilidade muito grande por estar numa empresa de porte como o Aché. Então eu lembro que fiquei, assim, receosa no início, mas com muita expectativa, muita confiança de que tudo daria certo.
P/1 - Você entrou para exercer que profissão, Graciene?
R - Ajudante de produção.
P/1 - E o que fazia um ajudante de produção?
R - O ajudante de produção colocava os vidros na roda de abastecer, para passar pelo envase, montava as caixas para colocar os cartuchos já com o vidro, tudo prontinho, ficava na parte da máquina de fita, que antigamente era manual. A gente tinha que puxar a fita, passar cola, colocar o rótulo, para mandar as caixas de embarque, para mandar para o pessoal que trabalhava na plataforma montar nos pallets. É um serviço mais fácil o de ajudante. Porque pelo menos nos três primeiros meses, você fica como ajudante. E logo após você começa a ir em máquina.
P/1 - Você se lembra que remédios eram esses com que você trabalhou logo no início?
R - Os mesmos que estão aí hoje: o Sorine, o Mylanta Plus, Novofer, Agarol, todos esses.
P/1 - E as embalagens? Eram semelhantes a hoje ou eram diferentes?
R - Não, teve algumas mudanças, mas só mudanças, assim, de layout. A parte do Mylanta era vidro, tanto é que quando quebrava um frasco de 240 ml no chão, imagine. Hoje em dia não, até diminuiu a parte do ruído, porque hoje em dia é plástico. Então teve várias mudanças nesse sentido.
P/2 – Em que ano você entrou?
R - 1991.
P/2 - E foi trabalhar em qual prédio?
R - No prédio aqui da produção. Não sei a numeração dele, mas é esse(...) A parte de líquidos.
P/2 - Você poderia descrever um pouco como era esse espaço? Era a primeira vez que você estava entrando numa fábrica de medicamento. Como era o espaço em que você trabalhava?
R - Olha, um espaço enorme, em relação às outras firmas. Porque era só um galpão. Quando você trabalha num lugar temporário, num lugar pequeno, é um galpão. E aqui não, você entra numa firma enorme, você sente aquele impacto, aquela diferença. Tanto é que várias pessoas que saem daqui falam: “Você pode encontrar emprego lá fora, mas dificilmente vai ser igual aqui.” Porque é tudo bem limpinho, bem organizado, você até pega alguns valores daqui e aplica em casa, porque tem aquela parte de cinco “s”, de estar descartando aquilo que não é utilizado, então você acaba aprendendo várias coisas aqui. Como uma lição para toda a sua vida. Você aprende aqui e desenvolve na sua casa também. Passa para a família. Então, a parte da higiene, da limpeza, foi o que mais me chamou a atenção. A organização, tudo identificado direitinho, no seu devido local. Coisa que nas outras empresas, assim, tudo era um tumulto, tudo misturado. Então é uma diferença muito grande.
P/1- Você lembra do uniforme que você usava?
R - O primeiro uniforme que eu comecei a usar era todo marrom. O gorrinho era de pano. Era todo marrom.
P/1 - Nessa época vocês levavam o uniforme para lavar em casa?
R - Levávamos para lavar em casa. E eram duas trocas. Então você usava, levava para casa e trazia na segunda-feira. Hoje em dia, não. Tem setores que têm 14 trocas, porque tem que trocar... Coloca de manhã, na hora do almoço tem que trocar e subir com o uniforme limpo. Acho que é o setor de manipulação, comprimidos, que mexe diretamente com a manipulação do medicamento. O nosso não, já são sete trocas, uma para cada dia. São sete trocas, porque tem duas que ficam, assim, vai para fora para lavar, então tem duas que ficam de garantia, para que não falte. Então foi uma maravilha quando mudou essa estratégia de lavar o uniforme aqui, muito bom.
P/1 - Você lembra dos uniformes que você usou todo esse tempo?
R - Eu só cheguei a usar esses dois, o marrom e o que a gente usa atualmente. Mas a gente, vendo fotos antigas dos colegas, tem um que era verde, até o pessoal fica falando: “Ah, você parecia um papagaio”. Era verde só com o colarinho branco, uns que eram cor de abóbora. O pessoal comenta desse que era cor de abóbora. Só assim, das pessoas estarem falando, eu não cheguei a usar.
P/1 - Como é o uniforme que você usa hoje?
R - A calça cinza e a blusa branca, de manga comprida. Antigamente a gente usava manga curta. Mas como sempre vai aprimorando, descobriu-se que a nossa pele descama, então a gente usa para proteger, uma melhor proteção para o medicamento.
P/1 - E você se lembra dos equipamentos de segurança? Quando você entrou aqui você tinha que usar algum equipamento de segurança especial?
R - Tinha, o protetor auricular.
P/1 - Por causa do barulho.
R - Por causa do ruído. Até hoje a gente usa.
P/1 - As máquinas mudaram também, do tempo que você começou para hoje?
R - Com certeza, mudou muito, uma mudança considerável. A gente até comenta com as pessoas que têm pouco tempo de casa, dois três anos: “Olha, antigamente era bem mais difícil.” Porque conforme vai passando o tempo, vão chegando máquinas modernas que deixam a pessoa mais na parte visual, você vai trabalhar só com a visão, só ficar ali analisando, se tiver que mexer alguma coisa você vai lá e mexe. Antigamente não, era mais manual, você tinha que estar ali toda hora. Hoje em dia não, uma coisa bem avançada. A tecnologia que está sendo implantada nos setores é muito boa.
P/1 - Então você trabalhava de auxiliar de produção no Envase de Líquidos?
R - Isso.
P/1 - Como era? Quem nunca viu como faz o remédio, você poderia contar um pouquinho? Começava como e terminava como?
R - O medicamento é manipulado na parte da Manipulação de Líquidos, que fica no quinto andar, no prédio em que eu trabalho. O pessoal começa o processo de manipulação, passa para o terceiro andar, e aí o pessoal engata o produto na linha. Aí essa linha já leva o medicamento para a caixa de envase, e aí já vai colocando o medicamento. Tem os bicos da máquina de envase, que injeta o medicamento nos frasquinhos. Vai passando por todo o processo da esteira, passa pela rosqueadeira para colocar a tampinha, rosquear bonitinho, passa pela revisão, para as meninas verificarem se não há nenhum resíduo dentro dos frasquinhos, se não tem problema com o volume, se o volume não está abaixo, não está acima, está regulando. Vai para uma outra roda. Dessa roda passa para a encartuchadeira. Antigamente tinha a rotuladeira, hoje não, hoje em dia tem a parte da etiquetadora, que coloca o rótulo. E vai para a encartuchadeira, da encartuchadeira tem o operador, que já pega tudo prontinho, já embaladinho e coloca na caixa de embarque. Antigamente era manual, a gente tinha que puxar a fita, colocar tudo bonitinho. Hoje não, a pessoa só dobra e passa, a máquina já puxa e já passa para o pessoal da plataforma colocar nos pallets, que serão enviados para a expedição.
P/1 – Então o que mudou mais nesse tempo foi essa parte do rótulo e da embalagem?
R – Isso. A máquina que era a rotuladeira, que você mexia com a cola. Então tinha cola, o papel, os rótulos, que vinham enrolados em um elástico, tinha que tirar, colocava na máquina e a máquina ia puxando um rótulo, passava na cola, passava no carimbador e colava no vidro. Hoje em dia, não, é etiquetadora, é rótulo adesivo, então já sai direto, já passa para o frasco e já vai para a encartuchadeira. A parte da máquina de fita era totalmente manual.
P/2 - Como era?
R - Você tinha que montar a caixa. Hoje, não. Você monta a caixa, está lá bonitinha, você só empurra e a máquina já puxa, ela mesma já fecha, já lacra com a fita. Antigamente não, a gente montava a caixa. Você montava primeiro a parte de baixo, passava a fita. Era uma fita de papel, hoje em dia é aquela fita adesiva. Você passava, puxava na máquina, ela já tinha a colinha seca, conforme você passava, ela passava por um pincel que tinha água, e essa colinha ficava mole. Você colocava, fechava a caixa e esperava um tempinho para secar, senão ela desmontava. Aí virava o lado, colocava os cartuchos, fechava a parte de cima, puxava a fita novamente e colocava. Então, quer dizer, era uma coisa mais manual. Hoje, não, você só faz a dobra e a máquina de fita já puxa. Então, quer dizer, é um avanço considerável.
P/2 - E a parte dos cartuchos também mudou?
R - Não, as encartuchadeiras(...) O que teve maior mudança foi a máquina L-7 e a máquina L-8. Se você visitar o setor, você vê a diferença das máquinas. Inclusive a parte de estar abastecendo a roda que coloca os frascos, para fazer todo o processo produtivo, não é igual das outras linhas. Os meninos chegam nessa máquina L-7, pegam um saco cheio de frasco, no caso, esse produto é o Sorine, é frasquinho de plástico, então eles jogam nesse compartimento e a máquina já vai levando. Essas outras não, o pessoal tem que estar ali colocando, fica o tempo todo ali. Já nessa outra máquina, não. A pessoa só despeja, enche o compartimento e pronto, só tem que voltar lá quando estiver esgotando. Então é uma máquina que não precisa(...) essas máquinas da L-7 e L-8 são da Alemanha, são bem mais avançadas. Então, quer dizer, não depende tanto do operário, não precisa estar ali constantemente.
P/1 - O número de trabalhadores também mudou ao longo desse tempo? Aumentou, diminuiu?
R - Diminuiu.
P/1 - Em razão da tecnologia, você acha?
R – À parte da tecnologia e devido também às mudanças, às transformações que ocorreram na empresa. Várias pessoas foram mandadas embora, então o quadro diminuiu bem.
P/1 - Você se lembra de alguma época em que vocês tiveram que fazer mais horas extras, por conta de um medicamento?
R - Sim. Na época que eu entrei aqui se fazia muita hora extra, fazia bastante.
P/1 - Qual eram esses medicamentos?
R – Mylanta Plus, Sorine. Na época de inverno, Sorine adulto e infantil eram os que mais precisavam.
P/1 - Além disso, você lembra de mais algum momento especial, que exigiu mais de vocês, da produção?
R - Não, não teve, assim(...) Bom, uma época que foi muito marcante foi quando houve, isso na empresa em geral, houve aquela enchente, né? Que aí todo mundo teve que se ajudar para deixar a empresa novamente em ordem para voltar a produzir, porque foi o caos quando aconteceu aquela enchente. Então a gente teve que fazer toda uma limpeza, todo mundo junto. Foi muito lindo, muita união.
P/1 - Seu setor foi atingido pela enchente?
R - Foi atingido na parte do térreo, que era onde se guardavam algumas peças. Mas não igual a outros setores. Os setores que ficam no térreo mesmo, como a parte da pomada, do almoxarifado, a segurança do trabalho, o controle de qualidade. Não dessa forma. Então foi muito bonito ver a união de todo mundo correndo atrás para conseguir deixar tudo em ordem para a gente voltar. Ficamos acho que três(...) foi na época do carnaval, a gente estava na semana de carnaval em casa, então ligaram pedindo para vir ajudar. Então foi muito bonito, uma união muito grande entre todos os funcionários.
P/1 - E você começou então como auxiliar de produção, depois que mudanças você teve aqui no Aché?
R - Eu entrei como ajudante de produção, depois passei para operadora de máquina, daí a um ano e dois meses eu participei de um RI, fui ser auxiliar administrativo na manipulação.
P/1 - O que é um RI?
R - Recrutamento Interno. É a mesma área da minha gerente. Eu fui classificada, então fui trabalhar como Auxiliar Administrativo 1. Logo após, depois de um tempo, eu voltei para o Setor de Líquidos, com a mesma gerente, e hoje estou como Auxiliar Administrativo 3.
P/1 - Quando você era operadora de máquinas o que você fazia basicamente?
R - Toda essa parte de abastecer a roda. Trabalhava na máquina de envase, na rotuladeira, na máquina de cartucho, a gente acompanhava todo o processo. Acondicionava os cartuchos nas caixas de embarque, trabalhava na máquina de fita. Então a gente aprendia todo o processo do trabalho, todas as fases.
P/1 - E na produção, sempre mais mulheres ou mais homens?
R - Antigamente eram mais mulheres, hoje em dia está bem equilibrado. Porque no nosso setor eram mais mulheres, mas aí os homens foram conquistando espaço lá. Então está meio a meio, hoje em dia.
P/1 - E o ambiente de trabalho, como era?
R - Quando eu era operadora?
P/1 - É, como operadora.
R - Muito legal. Várias pessoas que eu conheci naquela época continuam. Então, quer dizer, é como se fosse uma família, é uma amizade muito grande. A gente até diz: “Quando sair, a gente vai sentir muita falta.” Porque a maior parte do nosso tempo a gente passa aqui dentro. Então o que a gente tem que procurar? Viver bem, fazer várias amizades, porque a riqueza é maior, uma amizade verdadeira. Então a gente tem muitos amigos, pessoas que entraram no mesmo dia que eu entrei, que estão até hoje. Então, quer dizer, uma amizade de vários anos. É uma coisa muito gostosa, construída dia-a-dia. Você conhece bem a pessoa, aprende a respeitar cada face e procura conhecer a pessoa. Você olha para a pessoa e já sabe como ela está naquele dia. Então, quer dizer, é uma coisa bem construída, tem muita amizade.
P/1 - E a sua rotina de trabalho hoje, como é, Graciene?
R – Algum tempo atrás eu estava mexendo com a parte de processos. Que é como se fosse uma receita, que o pessoal fabrica o medicamento. Então, eu mexo com toda essa parte de preenchimento, a conferência final. Agora eu estou aprendendo a parte de BPCS, que é um programa instalado na fábrica, que move toda a parte da produção material, controla tudo. Então eu estou aprendendo isso agora, estou há dois meses fazendo essa parte de BPCS.
P/1 - E durante esse período no Aché você passou por algum treinamento? Como foi?
R - Quando foi instalado o BPCS a gente veio fazer o treinamento, na época das férias. A gente voltou uma semana antes, a empresa pagou hora extra, para a gente ter esse treinamento. Então eu fiz o treinamento de uma semana desse programa, o BPCS. E outros treinamentos que eu tive foi na parte de informática.
P/1 - E paralelo ao Aché, você voltou a estudar aqui em Guarulhos?
R - Agora eu estou fazendo a faculdade em Letras, procurando me aprimorar, porque o mercado está exigindo, e como uma realização pessoal também. É necessário, é gratificante ver que você está buscando conhecimento. Que faz parte da nossa vida, enriquece a gente.
P/1 - E você casou, teve filhos?
R - Não, não casei. Meu estado civil é marital, eu vivo junto com uma pessoa.
P/1 - E teve filhos?
R- Eu tenho um filho, mas não é dessa pessoa.
P/1 - Mas esse filho como chama?
R - Luan Henrique Pereira.
P/1 - O Luan acabou estudando no CDI [Centro de Desenvolvimento Infantil] , não é isso?
R - Isso.
P/1 - Quanto tempo ele ficou no CDI?
R - Um ano e dez meses, porque foi a época que cortou. Ficava até sete anos, aí reduziu para três, no máximo três anos e meio. Quando foi a época que cortou ele já estava com... foi final de ano, ele estava com três anos e dez meses.
P/1 - Você lembra bem desse período em que ele vinha para o CDI?
R - Olha, é a coisa que eu mais lembro na minha vida, porque a coisa que eu mais amava era trazer meu filho para cá. Das fotos que vocês pediram, a maioria é disso aí. Cada coisa que ele foi descobrindo, cada descoberta. Às vezes, as tias do CDI presenciaram coisas que eu, como mãe, não presenciei, porque elas ficavam mais tempo com meu filho. E eu sabia que estava com pessoas, com profissionais entendidos no assunto, na parte da educação. Então eu trazia o meu filho com o maior prazer, a maior tranquilidade do mundo. Às vezes, quando eu tinha algumas amigas que não traziam o filho, eu falava assim: “Olha, se minha mãe morasse aqui e dissesse: ‘Deixa o seu filho comigo que eu cuido’, eu diria não.” Não, porque a parte do trabalho de conhecimento, tudo que eles passaram para o meu filho, isso não tem dinheiro que pague.
P/1 - Como era? Você vinha cedo para cá, trazia ele? Conta para a gente?
R - Isso. Meu filho vinha no ônibus, a partir dos quatro meses de vida. Ele passou a vir quando eu voltei de auxílio maternidade. Então eu comecei a trazê-lo, ele vinha. Logo cedo eu o deixava lá no CDI, ia me trocar, tomava o café e subia. À tarde, às 17 horas, o mesmo processo. Me trocava e ia lá pegá-lo.
P/1 - Você ia amamentá-lo em alguns períodos?
R - Sim, cheguei a ir amamentá-lo até os sete meses e meio. Então tem o período, assim, que você volta do auxílio maternidade, que você tem o direito a amamentar, eu ia duas vezes por dia amamentá-lo. Três vezes, quando eu ia em meu horário de almoço e ele estava acordado. Se ele não tivesse feito a refeição, porque normalmente elas deixam para ver se a criança pega o peito. Aí eu amamentava, às vezes, três vezes ao dia. E esse foi um fator de muita importância, porque você acaba tendo um contato maior com o seu filho, ele teve essa oportunidade de vir para cá.
P/2 - Você lembra do primeiro dia em que você o deixou lá no CDI?
R - Eu lembro. É a coisa mais traumática para a mãe [risos]. Embora você saiba que ele vai ficar num lugar, num ambiente com profissionais de altíssima qualidade, mas aquela coisa, você ficou quatro meses, é o seu primeiro filho, toda aquela coisa gostosinha ali do seu lado, aí ficar até a hora de amamentar longe do seu filho, partiu o coração. Mas foi muito bom, só tenho lembranças boas.
P/1 - Como é o CDI? O que eles fazem lá?
R - O próprio nome já diz: CDI, Centro de Desenvolvimento Infantil. Então eles preparam a criança, desenvolvem toda a parte da criança. A parte de coordenação, a parte física, a parte intelectual. Trabalham tudo, tanto é que quando eu ia ver meu filho pequeno lá, e eu falava: “Ele está com sono.” Elas falavam assim: “Mas não pensa que ele vai dormir, ele vai fazer atividade agora”. Para uma criança. Para você ver o nível. Então era uma coisa muito boa, eu tenho muita saudade.
P/1 - Quando você estava grávida já tinha grupo de gestante aqui no Aché?
R - Já.
P/1 - Você participou do grupo de gestantes?
R - Eu participei de(...) porque, assim, o grupo de gestante na época era novo, estava começando, então eu só cheguei a pegar duas reuniões. Mas era muito interessante, porque quando você vai ter o primeiro filho(...) não que quando a pessoa vai ter o segundo não seja(...) cada caso é um caso. Mas para o primeiro você tem muitas dúvidas, fica aquele monte de fantasia na sua cabeça, você tem medo de muita coisa. O pai dele, depois que eu engravidei, por não ter acompanhado nada, eu tive que correr atrás de tudo sozinha, eu que tive que me virar, então eu tive muito medo. Eu tinha medo principalmente do meu filho nascer com algum problema, alguma deficiência, algum problema mental. Eu morria de medo. À noite, em casa, bate muitos medos. E com esse grupo de encontro você podia conversar, tirar os medos. Procurar saber tudo. Eles levavam reportagem, mostravam várias coisas, então isso te acalmava. Eu acho que... não sei se todas as mulheres sentem isso, mas eu sentia muito medo.
P/1 - E aí, quando seu filho nasceu começou no CDI. Tem algum momento que você achou mais marcante durante esse período do CDI?
R - Quando uma das tias veio me dizer que ele já estava andando. Que elas que começaram a colocar ele para andar. Elas falaram: “Ele está andando.” A gente sempre traz a máquina, eu trazia a máquina para registrar os momentos. Porque como são várias novidades, várias coisas que eles aprendem, então a gente queria ter aquilo tudo registrado. E quando a gente revelava as fotos, em uma delas tem ele aprendendo a escovar os dentes. Nossa, muito linda. Eu até chorei quando eu vi, no dia. Então são várias coisas, várias fases. O carnaval, o primeiro carnaval dele, ele com fantasia.
P/1 - Fantasia do quê?
R - Fantasia do Ali Babá, o Sheik. É aquela época do Tchan, era o Ali Babá. Muito lindo.
P/1 - Tem alguma descoberta que ele fez, que ele contou em casa, que você ficou emocionada?
R - Na época que estava trabalhando a figura do Pelé. Porque o interessante do trabalho do CDI é que eles não jogam a informação para a criança. Eles fazem a criança construir o conhecimento. Então quando eles foram estudar a parte do Pelé, eles trouxeram uma foto, elas iam contando para a gente como que era. Porque sempre tinha reuniões em que elas falavam o que era trabalhado. Então eles foram mostrar a foto do Pelé para as crianças, mostraram a bola e começaram a perguntar quem era, que era um jogador antigo, que já tinha participado de várias copas, que era consagrado, era o rei. Então, quer dizer, foram jogando várias informações para as crianças começarem a dizer quem era. Então, quer dizer, ele chegou em casa e comentou: “Mãe, hoje eu conheci o Pelé.” Foi uma coisa assim, não é você chegar, olhar uma foto e dizer: “Aquele ali é o Pelé.” Teve todo um trabalho em torno disso. Então é uma coisa que fixa, a criança absorve bem. Tudo que eles têm que fazer, eles fazem minuciosamente.
P/1 - E quando ele saiu do CDI você achou que foi uma ruptura? Mudou muito na vida dele a saída do CDI?
R - Foi uma ruptura, eu comecei a sentir aquilo que eu sentia quando ele estava dentro de mim, aquele medo de quando ele fosse sair, o mundo que ele ia enfrentar. O CDI era como um útero para mim, então eu sentia que meu filho estava protegido ali dentro. E a partir do momento em que ele saiu, eu tive tanto medo que eu cheguei para a minha gerente e falei assim: “Olha, se minha mãe dissesse ‘Manda esse menino aqui para a Bahia que eu crio’, eu mandaria meu filho para lá.” Porque isso aqui é uma selva, você deixa seu filho às vezes num lugar que você não sabe o que está acontecendo. A criança vive presa. Você coloca numa escola que você sabe que não é o mesmo padrão, você não tem condições de pagar o padrão a que ele estava acostumado. Então eu tive muito medo. E cheguei a falar isso, que se minha mãe quisesse(...) aí ela falou: “Não, mas tudo vai se acertar.” Realmente, depois de um tempo(...) Ele está agora numa escolinha, só que nem se compara, em nada. Por isso mesmo que eu estou estudando, para buscar algo melhor, para que ele consiga ter um nível de educação bem melhor.
P/1 - Voltando agora um pouco mais para o Aché, você participa do grêmio, das atividades culturais aqui?
R - Não, o grêmio só quando tem festa junina, festa das crianças, do Dia das Mães. Atividade física, assim, não, por causa do tempo. Eu já saio do serviço, vou tomar banho, jantar e vou direto para a faculdade. Final de semana, dia de sábado, também eu estudo. Então só tenho o Domingo, praticamente, para cuidar da casa e ter um tempo para o meu filho. Para a parte esportiva, não.
P/1 - Você lembra de alguma festa mais marcante?
R - Lembro da primeira festa do Dia das Mães. Porque a primeira sempre marca, a primeira vez que você está comemorando o Dia das Mães.
P/1 - Que ano foi isso?
R - Foi em 1997, que foi a época em que meu filho nasceu. Então, ele nasceu em fevereiro, em maio teve a primeira festa. Eu ainda estava gorda, gordona, por causa da gestação. E, nossa, eu tenho várias fotos registrando esse momento. E foi muito marcante, muito lindo.
P/1 - E quanto ao trabalho voluntário? Você já participou de alguma atividade, Graciene?
R - Não, nunca participei.
P/1 - Mas você sabe de colegas que participam?
R - Sei. Sei de colegas que participam e falam que é muito gratificante. Você estar proporcionando algo de bom para uma pessoa e ao mesmo tempo estar absorvendo, como se fosse uma troca de conhecimento. De realidades diferentes, mas onde há uma troca de conhecimento muito grande.
P/1 - E você pega o ônibus aqui no Aché? Vai para casa e volta de ônibus?
R - Eu utilizo o transporte do Aché.
P/1 - E como é? Dentro do ônibus tem brincadeiras, tem conversas?
R - Bom, de manhã normalmente não tem, é mais silêncio. O silêncio é às vezes quebrado por alguma criança que às vezes chora ou pede alguma coisa para a mãe. Mas normalmente os funcionários já vêm dormindo. Porque trabalharam o dia todo, tem uns que estudam, então vêm dormindo. À tarde, como agora eu vou direto para a faculdade, eu não estou indo, mas sempre que estou de férias, que eu vou, tem muito bate-papo. As pessoas conversam entre si. É muito legal. Agora mesmo, que a gente está em época de Copa, o dia que tem jogo do Brasil e a gente vem mais tarde, nossa! Aí o pessoal vem tudo conversando, todo mundo acordado, animado, e comentando sobre o resultado do jogo. Falam sobre tudo, “n” assuntos.
P/1 - Aqui no Aché tem um ponto de encontro do setor, dos amigos? Tem um lugar que vocês se reúnem para papear?
R - Então, o pessoal se reúne mais no horário de almoço. Ou o pessoal que gosta de ir para o grêmio para praticar algumas atividades que tem lá, se encontram lá. Outros se encontram no vestiário, conversam no vestiário, estudam lá. Mas normalmente o ponto de encontro maior é no grêmio mesmo. E, quando não, é quando tem algum chá de bebê, algum chá de cozinha, e aí reúne todo o pessoal aqui no Aché 5, reserva um módulo e é realizado aqui. Porque a parte de alimentação tem que estar fora, então fica aqui no Aché 5. Ou então no grêmio, após o expediente.
P/1 - E você tem sonhos? [PAUSA - INTERRUPÇÃO DA GRAVAÇÃO]
R - (...) não só para as mães, mas para os filhos também (choro). Um referencial muito grande de vida para eles. Uma base muito sólida que eles tiveram aqui, graças a Deus, só tenho que agradecer. Pena que não ficou até os sete, né?
P/1 - Mas foram três anos.
R - Três anos e dez meses, quase quatro.
P/1 - Que bom, né? Porque é difícil a pessoa trabalhar, deixar o filho com outra pessoa. Se é alguém da família você ainda tem mais confiança, né?
P/2 - Hoje como é um dia típico seu? Você reúne a vida de profissional, mãe, estudante, dona de casa. Conta para a gente como é um dia típico seu hoje em dia.
R - Eu acordo cinco e meia da manhã, faço a parte de higiene. Quando meu filho está indo para a escola, no caso agora ele está na Bahia, eu arrumo a mochilinha dele, coloco o uniforme dele(...) Porque agora ele está indo para(...) Ano passado ele ficava o dia inteiro na escolinha, este ano ele está meio período com uma vizinha, meio período indo para uma escolinha. Então eu preparo a mochilinha dele, coloco uniforme, coloco o tênis dele, tudo bonitinho, vejo se tem lição, então olho toda a parte dele. Me troco e vou junto com ele até a casa da vizinha. Deixo-o na casa da vizinha e vou até o ponto de ônibus. Pego o ônibus, chegou aqui, vou me trocar, fico estudando, até dar a hora de iniciar o expediente.
P/1 - Que horas é?
R - Sete e meia. Trabalho até às 17h. Encerrando o expediente, vou para o vestiário, tomo banho, me troco, venho jantar e daqui vou para a faculdade. Aí chegou (...)
P/1 - Chega em casa que horas?
R - Chego onze e vinte, onze e meia, já aconteceu de chegar quinze para a meia-noite.
P/1 - E ele já está dormindo?
R - Ele já está dormindo. E todos os dias eu vou ao quarto dele dar o beijo, ver se ele está descoberto. Porque eu só o vejo na parte da manhã, quando eu o acordo. Acordo, dou bom dia, dou aquele abração nele e levou para a casa da vizinha.
P/1 - E o trabalho de casa, como é?
R - O trabalho de casa é bem dividido entre mim e meu marido. A gente divide, mesmo porque quando eu fui, quando eu comecei a me relacionar com ele, a gente já(...) A gente tem um relacionamento muito aberto. Eu conversei com ele, ele é quase oito anos mais novo que eu, já começou a se relacionar comigo sabendo que eu tinha um filho, e ele é irmão da minha cunhada. A irmã dele é casada com o meu irmão. A gente mora na casa de baixo, eles moram na casa de cima, no mesmo terreno. Então, quando a gente se conheceu, ele falou assim: “Você vai levar um compromisso sério?” Eu falei para ele, que eu já tinha um filho(...) você fica meio insegura. Mas eu vi que ele, apesar de quase oito anos mais novo que eu, ele tem uma maturidade incrível. Aí eu falei com ele: “Vamos tentar, né?” Já estamos há quase três anos juntos, eu o conheço há muito tempo. Inclusive, teve uma época que meu filho estava com um ano e quatro meses, ele sofreu um acidente. A gente estava em casa cozinhando, eu morava com esse irmão, que atualmente é casado com a irmã dele, e o meu filho abriu a tampa do fogão, subiu na tampa do fogão, o fogão veio em cima dele com a panela de óleo, com água quente, tudo. Então ele sofreu queimadura de primeiro, segundo e terceiro grau, ele teve que fazer enxerto, ele ficou(...) E quando aconteceu isso, eu liguei desesperada para a casa do sogro do meu irmão para pedir uma ajuda, porque eu não tinha carro, pedi para alguém levar para o hospital. E ele que atendeu. Ele atendeu e fez uma brincadeira, porque ele pensou que fosse a irmã dele. E eu chorando do outro lado, desesperada. Aí desliguei o telefone. Aí dali a pouco, ele ligou: “Desculpa. Eu brinquei, mas eu pensei que fosse a minha irmã.” Aí ele viu meu desespero, pegaram o carro, foi todo mundo para a hospital comigo. E meu filho se debatia de tanta dor. Porque queimadura é uma coisa terrível, só sabe quem já sentiu. E de terceiro grau, numa criança de um ano e quatro meses, ele se debatia. Então, ele ficou segurando-o no colo. Imagina! Naquela época ninguém nem pensava nisso, há um tempão atrás. Então, ele que ajudou. Hoje a gente se lembra disso, até ri, depois de ter passado tanto sufoco. Mas então, ele tinha uma namorada, terminou o namoro, e ele começou a ir na casa da irmã dele. Como ele tinha namorada, de final de semana ia para a casa da namorada, não ia lá na casa do meu irmão e da irmã dele. Aí começou a ir e com o tempo começamos a conversar, fomos a um baile, num clube conhecer o Frank Aguiar, que a gente gosta de música sertaneja, e lá a gente começou a namorar. E estamos até hoje.
P/1 - Como ele chama?
R - Marcelo. Na parte, assim, de casa, como eu havia falado, a gente, antes de ir morar junto, de resolver morar junto(...) que no caso a decisão foi dele, ele perguntou: “O que você acha de eu vir morar(...)” Que ele estava assim: três dias ficava lá em casa, três dias ia para a casa do pai dele. Aí ele falou: “O que você acha de eu vir para cá definitivamente?” Eu falei: “Bem, para você vir, eu vou ser muito sincera. Eu não gosto de homem que fica esperando tudo pela mulher. Então as coisas têm que ser muito bem divididas, você tem que me ajudar com o serviço de casa. Aí você vê o que é melhor para você. Porque você é livre, você é jovem, então, de repente, você vai ter uma mudança radical. As coisas que você não tem que fazer na sua casa, você vai vir para cá, você vai ter que fazer.” E aí ele topou. E, graças a Deus, estamos muito bem, porque a gente tem uma relação bem franca. Vamos supor, se a gente não está gostando de alguma coisa, está meio de cara virada, a gente não tem o costume de dormir sem antes conversar. Porque o diálogo é o principal. Se não houver diálogo, a gente não vai dormir um zangado com o outro. Se tem algum problema, a gente tenta resolver naquele mesmo dia. Não deixe para o dia seguinte, não deixa ir acumulando, porque isso mata o relacionamento, acaba com qualquer relacionamento. Então a gente conversa sobre tudo. E as tarefas de casa são bem divididas. Ele me ajuda a lavar a louça, ele dá banho no meu filho. Quem dá banho no meu filho durante a semana é ele, porque eu vou direto daqui para a faculdade. Ele que dá banho, que escova os dentes dele, troca a roupinha, põe ele para dormir. Ele acorda para ir trabalhar às duas e meia da manhã. Ele acorda o meu filho, põe o meu filho para fazer xixi, para que ele não faça xixi na cama. E depois pega o meu filho, tira do quarto dele e põe na cama junto comigo. Então, a gente tem uma relação de muita cumplicidade.
P/1 - Você mora hoje onde?
R - No Jardim Presidente Dutra.
P/1 - Naquele terreno que você comprou com o seu irmão?
R - Isso, naquele mesmo. Agora, no início do ano, nós compramos outro terreno na Paes de Barros, aonde meu pai morou, a primeira casa que nós tivemos aqui em São Paulo, a primeira e única, na época em que a gente morava com o meu pai. Então, no mesmo bairro a gente comprou, com a ajuda de toda a família. Na realidade, a gente estava juntando dinheiro para comprar um carro. A gente estava pensando em comprar um carro, surgiu a oportunidade desse terreno, e a gente queria mudar de lá. Porque onde a gente mora não tem asfalto. Então a gente quer vir para um lugar melhor. O ser humano sempre está em busca de algo melhor, né? Então apareceu a oportunidade de comprar esse terreno. E logo em seguida, quando teve esse reajuste de salário, de verificar os cargos, quem não estava compatível com o mercado lá fora, aí o meu salário teve um aumento. Já aproveitando esse aumento e essa oportunidade do terreno, eu conversei com ele, liguei para a minha mãe na Bahia, pedi para ela verificar com quem ela poderia conseguir dinheiro lá. Tomei dinheiro emprestado com um pessoal lá na Bahia, minha mãe, meu cunhado e a minha irmã, e peguei dinheiro emprestado aqui no banco e consegui comprar esse terreno. Então a gente vai pagando, vamos ver se até o final do ano a gente consegue terminar de pagar.
P/1 - E quantos da sua família estão aqui em São Paulo, dos seus irmãos?
R - Somos em cinco.
P/1 - Mas estão todos aqui em Guarulhos, agora?
R - Estamos aqui.
P/1 - E quais são seus sonhos para o futuro, Graciene?
R – Estudar. Estudar sempre, para buscar algo melhor, para a família, mas principalmente para o meu filho. Porque o mercado que está aí fora está muito exigente. Então eu tenho que buscar sempre melhorias e pensando sempre no meu filho, porque se o mercado está hoje do jeito que está, imagine daqui alguns anos. Então eu já quero prepará-lo desde cedo na parte de informática, na parte de cursos de língua estrangeira, porque está sendo muito solicitado. Eu quero prepará-lo bem e para isso eu também tenho que estar bem preparada.
P/1 – E, por fim, eu queria saber o que você achou de ter contado um pouco da sua história.
R - Muito legal, você faz uma retrospectiva, então é muito legal. E partilhar um pouco da história com as pessoas. Foi muito gratificante.
P/1 - Muito obrigada.
R - Obrigada.
---FIM DA ENTREVISTA---
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