Projeto Correios 350 Anos
Depoimento de Júlia Gomes da Silva Nascimento
Entrevistada por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 23/11/2013
Realização Museu da Pessoa
BRA_CB024_Júlia Gomes da Silva Nascimento
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
P/1 – Oi, Júlia, boa tarde.
R – Olá, ...Continuar leitura
Projeto Correios 350 Anos
Depoimento de Júlia Gomes da Silva Nascimento
Entrevistada por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 23/11/2013
Realização Museu da Pessoa
BRA_CB024_Júlia Gomes da Silva Nascimento
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
P/1 – Oi, Júlia, boa tarde.
R – Olá, boa tarde.
P/1 – Eu gostaria de começar pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Júlia Gomes da Silva Nascimento, eu tenho 16 anos de idade e eu moro no Rio de Janeiro, estado, município e em Irajá, o bairro.
P/1 – Mas você nasceu aqui?
R – Sim.
P/1 – Data de nascimento.
R – Dezesseis de janeiro de 1997.
P/1 – Dezesseis anos, ainda é uma menina, né? Júlia, me diga, você cresceu em Irajá também?
R – Mais ou menos, assim, eu sempre fui aqui do Rio, mas a minha família, ela é do nordeste, do Maranhão, então com seis, sete anos eu fui morar lá no Maranhão porque a minha avó conseguiu uma, como é que se diz? Uma transferência e aí foi a minha família toda, no caso eu, minha mãe e meus irmãos, fomos morar lá, moramos por nove meses, minha mãe não gostava mais de lá, a gente voltou e então desde então eu continuo em Irajá.
P/1 – A sua avó mora aqui também?
R – Voltou.
P/1 – A sua avó trabalha aonde? Você falou que ela conseguiu uma transferência.
R – Ela trabalha nos Correios, mas aqui em Cidade Nova.
P/1 – Ela já trabalha há muito tempo nos Correios?
R – Já, há 30 anos.
P/1 – Trinta anos?
R – Isso.
P/1 – Foi a sua avó que autorizou a filmagem?
R – Isso.
P/1 – E a sua mãe? Você me disse também que ela trabalha nos Correios.
R – Trabalha, ela trabalha agora no TECA de Benfica, mas ela trabalha o quê? Há 12 anos também, desde que o meu irmão menor nasceu.
P/1 – E aí vocês, mas essa ida pro Maranhão tem pouco tempo?
R – É, então, é quando eu tinha uns sete anos.
P/1 – Ah, então já tem bastante tempo. Júlia, o que você tá estudando?
R – Eu faço o ensino médio e o curso técnico na Instituição CEFET de ensino, eu faço Segurança do Trabalho.
P/1 – O que te fez escolher essa?
R – Eu simpatizo com a área técnica, de no caso na área mais voltada pra medicina, só que como eu não tinha muito, muita afeição com enfermagem porque lida muito mais com a pessoa, de tirar sangue, essas coisas, e nem com análises clínicas, que é mais essa parte mesmo de tirar sangue, recolher resíduo das pessoas, eu não quis muito. Mas Segurança do Trabalho também envolve a parte médica, mas não tão diretamente, é mais pra parte de análise de risco das pessoas, mais de proteção mesmo à vida das pessoas, e eu me identifiquei assim quando eu li sobre pra poder fazer o concurso.
P/1 – Você passou por um concurso lá no CEFET?
R – Foi, foi na segunda tentativa na verdade e entrar nesse colégio porque ele é muito concorrido, então eu tive que fazer um preparatório pra poder entrar e tudo, foi até um preparatório popular, vamos dizer assim, que foi com muito menos custo e eu consegui passar por causa disso, entendeu? Eu tentei sozinha e não consegui, quando eu fui pra esse preparatório mais, assim, com o povão, eu consegui.
P/1 – Como é que é o nome desse preparatório?
R – Se chama Projeto do Bruninho, é porque é o nome do professor e, vamos dizer, fundador do projeto, é um projeto comunitário, vamos dizer assim, porque a gente quase não paga e é todos dias, todos os dias não, são três dias na semana. E, enfim, a gente aprendia e era preparado justamente pra esses concursos, que no caso são as escolas técnicas do Rio de Janeiro, tanto estaduais quanto federais, mas o nosso foco do curso era passar pra federal e foi o que eu consegui.
P/1 – É lá em Irajá também a Escola do Bruninho?
R – É.
P/1 – Foi eficiente, né?
R – Foi.
P/1 – Você tá gostando do curso? É o que, o primeiro ano que você tá fazendo?
R – Eu to no, são seis períodos, eu to no terceiro período e, assim, a gente se identifica com mais matérias do que outras, claro, eu gosto das áreas médicas, eu vou me identificar com as áreas médicas, mas é, tem matérias de Direito, de Engenharia Civil e na parte que envolve Matemática, que é a parte de Engenharia Civil, eu não gosto muito. Mas nada que não de pra levar porque eu tenho que ter algum,eu também acho assim, a gente tem que pensar no nosso currículo e ter um técnico no currículo faz a diferença.
P/1 – Você já tá procurando trabalho ou não?
R – Assim, eu prefiro terminar o médio porque eu vou terminar o médio antes de terminar o técnico, então eu terminando o médio eu vou ter tempo pra fazer estágio, aí daí do estágio eu vou conseguir, tipo, sei lá, algum pé de meia, sabe?
P/1 – Claro. Você tem irmãos?
R – Eu tenho dois irmãos que moram comigo, que são por parte de mãe, mas eu tenho irmãos por parte de pai também, mas como eu não tenho muito contato então eu não os conheço muito bem.
P/1 – Os que moram com você como é que se chamam?
R – Miguel e Gustavo.
P/1 – São menores?
R – São, eu sou a mais velha, só que não tem muita diferença, o Gustavo, foi até o que me viu ali, ele tem 12 anos, e o Miguel tem 14, vai fazer 15 agora.
P/1 – Ser a filha mais velha, é mais cobrada?
R – Mais ou menos, é porque na verdade eu, como filha mais velha, sempre tive, assim, minha mãe costuma dizer: “Cada um com as suas necessidades”, então minha mãe sempre teve que trabalhar pra sustentar a gente, até porque minha avó também é sozinha, vamos dizer assim, sozinha, no caso não tem marido, por isso minha mãe tinha que ajudar a gente, ela tem três filhos. Então eu sempre ajudei muito minha mãe, tanto a tomar conta dos meus irmãos enquanto minha avó não chegava do trabalho, esses negócios assim, eu sempre ajudei muito minha mãe, então talvez eu não tenha dado tanto trabalho e por isso não seja tão cobrada, mas agora todo mundo já tá mais crescidinho, acho que a gente se vira um pouco mais sozinho.
P/1 – E, assim, nos Correios também você pensa em trabalhar?
R – Penso se for com o meu técnico, assim, na minha área técnica, eu acho assim, quando você faz concurso público a gente tem que pensar que é bom porque a gente vai ter uma segurança financeira porque você não pode ser demitida, então é mais uma estabilidade que você procura no emprego, não que você vá se estabilizar pra sempre, porque eu talvez não me satisfaça com aquilo pro resto da vida. Minha avó, ela trabalha lá há 30 anos, mas minha mãe, ela trabalha com pessoas que entram lá novinhas pra poder conseguir pagar a faculdade pra poder sair de lá, pra poder entrar no mercado de trabalho como alguém maior, assim, entendeu, e talvez esse seja um plano pra mim também, até porque eu quero, eu gosto mesmo é da área militar.
P/1 – Ah, é?
R – Eu sei lá, eu sempre tive esse gosto assim, em casa sempre eu fui muito de regras assim, sabe, e eu nunca me, nunca me incomodei e cumpri, sabe, minha mãe mandava, eu cumpria e é assim desde sempre, minha avó também fazia isso com a minha mãe, então é meio que de família. Ninguém da família, que eu saiba, tem essa veia militar, vamos dizer assim, mas eu sempre gostei, talvez quando eu entre eu veja que é a realidade e talvez não goste mais, mas, assim, é um objetivo. Eu sei que é mais difícil entrar só com o técnico, até porque eu sou mulher, então pra poder entrar eu preciso ou de um nível médio ou entrar num outro concurso pra fazer o médio lá e então eu tenho que, minto, tenho que fazer o nível superior pra poder entrar e era um dos meus planos, assim, entrar lá com algum superior. Aí o meu amigo tinha me falado, minha mãe falou que a Medicina é muito difícil de entrar e talvez ela não conseguisse pagar uma faculdade particular e aí meu amigo falou: “Veterinária talvez
seja mais fácil, então você gosta da área médica, tenta Veterinária que lá você entra também”. Então são coisas a pensar, eu acho que ainda tem tempo.
P/1 – Tem tempo, né? Júlia, você ainda é muito nova, mas você já mandou alguma carta na sua vida?
R – Já, assim que eu voltei do Maranhão, minha vizinha era muito amiga minha, então a gente chegou a trocar umas duas, três cartas, cartinha de amor quando eu era pequena, essas coisinhas, que até a professora incentivava, né, pra gente aprender a fazer uma carta. Então era aquelas cartinhas bobinhas, mas também tinha aquele bilhetinhos e essas coisas, pra amiguinha e tal, até bilhete de dia dos amigos, aí todo mundo trocava bilhetes, e aniversário, essas coisas. Minha mãe também é muito assim, de tudo manual, ela dá mais valor pro emocional do que pro material, então eu acho que isso faz muita diferença.
P/1 – Enorme, que bom. Quais são seus sonhos, Júlia?
R – Ter um emprego que eu possa me estabilizar financeiramente e que seja algo que eu goste, eu te falei que eu gosto de área médica e eu queria muito ser uma médica, e uma família, eu acho que como eu sou acostumada com muita gente em casa e ter sempre os meus irmãos perto de mim, eu acho que esse é um dos meus sonhos, formar uma família.
P/1 – Tá certo, Júlia. Tem alguma coisa que você gostaria de deixar registrado?
R – Não, não, acho que não.
P/1 – Você chegou a me dizer o nome da sua avó e da sua mãe, né?
R – O da minha mãe não.
P/1 – Então me diga o nome da sua mãe.
R – Daniele Gomes da Silva.
P/1 – Então tá, obrigada, Júlia, por você ter colaborado com a gente, boa sorte pra você.
R – Obrigada vocês.
FINAL DA ENTREVISTARecolher