P/1 – Érica, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Érica Januza da Trindade Gomes, eu nasci no dia 7 de maio de 1985, em Contagem, Minas Gerais.
P/1 – Os seus pais são de Contagem?
R – Minha mãe é de Esmeraldas, que é uma cidade do lado de Contagem e ...Continuar leitura
P/1 – Érica, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Érica Januza da Trindade Gomes, eu nasci no dia 7 de maio de 1985, em Contagem, Minas Gerais.
P/1 – Os seus pais são de Contagem?
R – Minha mãe é de Esmeraldas, que é uma cidade do lado de Contagem e o meu pai também.
P/1 – E os seus avós maternos e paternos, você sabe a história deles, da onde eles são?
R – O meu avô paterno eu não conheço, a minha avó materna foi, a minha avó paterna eu conheço, é viva ainda.
P/1 – É da onde, de lá também?
R – É de lá, minha família toda é de Minas, contagem, não tem ninguém fora, assim.
P/1 – Nem avós maternos também?
R – Não, os dois são falecidos já, mas era todo mundo de Esmeraldas também, mas a minha avó paterna é viva ainda.
P/1 – A materna também não?
R – Não.
P/1 – E o que os seus avós faziam, você sabe?
R – Nossa, eu não sei, a minha avó materna, que eu convivi, que é que eu fui criada com ela também, ela era dona de casa e o meu avô, ele faleceu eu era muito nova, então eu não lembro qual era a profissão dele e o meu avô paterno eu não conheci, eu não sei nem o nome dele.
P/1 – E os seus pais, você sabe um pouco a história, como é o nome dos seus pais?
R – Minha mãe é Ernestina e o meu Edson, o meu pai já é falecido também.
P/1 – É?
R – Seis anos.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Ai, não sei não, faz uns seis anos.
P/1 – E você sabe como o seu pai e a sua mãe se conheceram?
R – Como se conheceram? Ai, não sei, você acredita?
Não sei, mas sei que aí eu surgi e eles se casaram, o casamento deles tem fotos e tudo, minha mãe com o barrigão assim, então eu participei do casamento , eu tava lá também no casamento.
P/1 – E eles foram morar em Contagem por quê?
R – É, não, na verdade a minha mãe já tinha ido morar em Contagem, a minha família toda, porque é cidade vizinha e eles se conheceram em Contagem e aí se casaram e continuaram vivendo lá, a gente sempre morou lá.
P/1 – Tiveram outros filhos?
R – Não, sou filha única.
P/1 – E como é que era esse lugar, como é que era essa sua casa de infância lá em Contagem?
R – Ai, minha casa de infância, era uma casa grande num quarteirão, um quintal muito, muito grande, tinha uns 11 cachorros, um monte de cachorro dava filhote, ficava aquele monte de cachorro espalhado, meu pai tinha uma oficina que ele era mecânico, aí era a oficina misturada com a casa, mas era um lugar assim que o meu pai tomava conta e ao mesmo tempo tinha a oficina dele lá, então era uma coisa meia assim, sabe?
P/1 – E com quem que você brincava, como eram as suas brincadeiras?
R – Ah, eu brincava muito na rua, brincava de queimada, de amarelinha, essas coisas que hoje em dia a gente quase não vê mas brincava muito assim em rua de terra, mais isso, queimada, eu gostava muito de queimada, boneca, eu adorava brincar de boneca, minha avó falava que eu dançava, ficava dançando com as bonecas, ela chegava lá em casa, eu chamava ela pra dançar junto, sabe, dançava com comercial de televisão e as bonecas, sempre gostei de dançar, desde pequena.
P/1 – E fala uma coisa, em que bairro, era um bairro ou era afastado, onde é que ficava a casa?
R – Que eu morava? Era no Petrolândia, Petrolândia é lá mesmo, é um bairro de Contagem, mas é grande, Contagem não é cidade pequena, não, é uma cidade bem grande, é na região metropolitana de BH.
P/1 – E sua mãe fazia o quê?
R – Minha mãe sempre foi doméstica ou trabalhou em casa de família, hoje em dia ela trabalha em escola, a mesma que eu trabalhava antes de ta aqui.
P/1 – A sua mãe, ela era doméstica?
R – É.
P/1 – E quando ela ia trabalhar, o seu pai ia pra oficina, você ficava com quem?
R – Na verdade nessa época a minha mãe não trabalhava fora, ela ficava lá e o meu pai, a oficina era no quintal de casa, então a gente tava sempre em casa, aí depois a minha mãe separou do meu pai, que eu fui morar com a minha avó e minha mãe e aí minha mãe saía pra trabalhar e eu ficava com a minha avó, então eu passei grande parte da minha infância e adolescência atrás da minha avó, minha mãe saía, ficava eu e ela.
P/1 – E com quantos anos você entrou na escola?
R – Escola, ai, pequenininha, prézinho, tudo direitinho, não lembro da idade, mas era aquela idade de pré, eu entrei na idade certinha.
P/1 – E como é que era ir pra escola, o que você gostava de fazer na escola?
R – Ah, eu gostava de tudo, sempre gostei muito de estudar, sempre gostei de ser disciplinadinha, sabe, minhas coisas eram todas coloridas, até mais velha mesmo os cadernos era tudo colorido igual de criança, sempre gostei dessas coisinhas de escola.
P/1 – De que matéria você gostava mais?
R – Matéria? Sempre gostei de Português, depois, com o passar do tempo, Biologia, essas coisas mais assim, estudos da vida.
P/1 – Tem alguma professora que tenha te marcado mais?
R – Professora? Decíola, da época de terceira, quarta série e Inês também, que depois virou bibliotecária, eu só vivia na biblioteca atrás dela, olhando livro, essas duas marcaram.
P/1 – Você lembra de algum livro que tenha te marcado nessa época?
R – Da época de infância? “Lúcia, já vou indo”, já ouviu falar?
P/1 – Qual que era a história?
R – Era livro de criança, é um livrinho que era uma lesma que queria se arrumar pra uma festa, mas era tão devagar, eu acho que ela perdia a festa, não sei, porque ela demorou demais pra arrumar, é meio eu, eu sou mole pra arrumar, demoro às vezes, mas isso eu era pequena, mas hoje eu ainda sou assim, ando meio correndo pra poder arrumar.
P/1 – E quantos anos você tinha quando os seus pais se separaram?
R – Ai, acredito que uns oito, nove, eu era criança.
P/1 – Mas como é que era a convivência na sua casa, quem que exercia a autoridade, o seu pai ou sua mãe?
R – Quando a gente morava juntos? Ah, os dois, não tenho essa lembrança assim muito de autoridade, não, acho que a coisa era bem compartilhada, não tinha essa coisa, mais um manda e o outro, era só nós três então um cuidava da parte doméstica, o outro cuidava, não tinha uma coisa muito autoritária.
P/1 – Essa época você não morava com a sua avó ainda?
R – Não, não, morava só eu, minha mãe e meu pai, e aí que eles se separaram que eu fui morar com a minha avó, minha mãe também foi, só que aí quando a minha avó, a minha avó era a chefe da casa, minha mãe tem oito irmãos, mas ela era a chefona.
P/1 – E você gostava de dançar, você entrou em algum curso, fazer alguma aula?
R – Não, nunca fiz curso de nada, as minhas danças são todas no sentimento.
P/1 – Como você aprendeu?
R - Todo dia eu olhava, dono de dança de salão de me puxar pra dançar e eu ir pegando, eu nunca parei mesmo, só um tempo atrás eu fiz uma aula de forró quando o forró começou, há muito tempo eu fiz umas aulas de forró, que ninguém sabia dançar, eu fiz e aí então acaba que o forró é uma base pra muita coisa aí eu fiz aula de forró, mas foi só, o resto, samba, zuca, essas coisas todas, todas de dançando na prática vai pegando.
P/1 – Você via os outros, você imitava, via na televisão, como você fazia?
R – É, eu sempre gostei de imitar comercial de televisão, fazia a propaganda sozinha, Xuxa, eu adorava imitar paquita, colocava, sabe, toalha, meu cabelo era curto, colocava toalha na cabeça pra fazer que era o cabelo grande
e imitar, sabe, e sempre assim, imitando coisa de televisão, ouvindo música no rádio, dançando, eu sempre fui muito de dança e minha família até que não é, o povo não é muito de dançar, essa coisa é minha mesmo, meu pai, minha mãe, minhas tias, ninguém é de, assim, de dançar, eu que vim com isso.
P/1 – E aí na adolescência você passou, assim, a sua avó que, você ficou a maior parte do tempo com a sua avó?
R – É.
P/1 – Como que você se divertia, o que você aprontava na adolescência?
R – Ah, eu saía, mas só que eu não tinha muito essas coisas de matinê, eu ficava mais era em casa de amiga, ficava, gostava muito de ficar na rua conversando, minha mãe ter que chamar toda hora: “Vem pra dentro, menina”, essas coisas, sabe, muito na rua assim, não é como hoje, essas boates, esse negócio não tinha muito na época, não, eu demorei pra começar a sair, mas nunca me barraram, nada não, que eu sempre fui assim, responsável, então quando eu tinha que sair eles confiavam em deixar.
P/1 – E namorado, qual foi o seu primeiro namorado, primeiro beijo?
R – Primeiro namorado eu tinha 15 anos, namora sério mesmo, eu acho que durou uns dois anos, eu tinha 15 anos.
P/1 – Como que você conheceu ele?
R – Como? Na minha rua mesmo, ele era amigo, ele era irmão de uma vizinha, isso ano 2000, eu tinha 15 anos e aí durou dois anos o namoro, o primeiro namorado, o primeiro beijo, ah, foi mais ou menos aí, acho que foi antes dele um pouquinho, 14, 15 anos.
P/1 – E aí você namorou com esse menino e você ia em bailinho, festa, você falou que você não ia muito em matinê?
R – Não, não ia, ia,assim, em festa quando tinha em casa de alguém, essas coisas, mas de boate, esses negócios, não, era muito raro.
P/1 – Em casa de amigo rolava festinha?
R – É, tinha.
P/1 – O que tocava?
R – Na época funk, esse funk agora que a gente vai ver na série e muito axé, aqueles axés do, era Gera Samba e aquelas coisas de dançar todo mundo igual de passinho, sabe, e aí eu sabia as coreografias todas, assistindo televisão, eu sabia tudo, aí eu ficava na frente, todo mundo copiava, que eu sabia, eu sempre sabia as coreografias das músicas do momento, sabe, sempre fiquei ligada nas danças.
P/1 – E você gostava de funk?
R – Sempre gostei de funk daquela época, eu gosto de tudo, só não gosto muito de rock, mas o resto tudo.
P/1 – Tem algum funk que você lembra a letra?
R – Funk que eu lembro a letra? Ai, tem um monte, mas agora, como a gente também ta relembrando mas todos que eu ouvia eu passei a ouvir agora de novo, aí um flashback, muito bom, rap da felicidade, rap do Silva, rap do piranha, todos esses funks.
P/1 – Sabe algum pra falar pra gente?
R – O que, a letra de algum?
P/1 – É.
R – O do Silva passava no rádio toda hora: “Era só mais um Silva que a estrela não brilha, ele era funkeiro, mas era pai de família, era só mais um Silva que a estrela não brilha, ele era funkeiro, mas era pai de família” , essa era boa, agora os funks tão assim, meio mudados a letra ta meio assim, nessa época a letra tinha história tinha umas coisas que a gente ficava pensando.
P/1 – Você pensava nas coisas?
R – Pensava essa, por exemplo, o rap do Silva, é uma história super triste tinha, era uma música que contava uma história, as músicas tinham, assim, um fundo pra te fazer pensar, as românticas, então eu sempre gostei muito de música romântica, eu acho que porque meu pai ouvia essas músicas de, essas músicas internacionais antigas, até hoje o meu ritmo preferido, assim, essas músicas, flashback anos 80, rocksteady, sabe, essas músicas, eu adoro, escuto todo dia.
P/1 – Música romântica você gosta?
R – Adoro, eu adoro, escuto todo dia.
P/1 – Roberto Carlos você escutava?
R – Não, eu não escutava muito, eu escutava por tabela porque minhas tias são muito fãs, muito mesmo e aí todo mundo ouvia muito e eu acabava ouvindo e aprendi a cantar tudo muito por tabela, sabe?
P/1 – Você lembra de alguma música do Roberto dessa época?
R – Roberto Carlos, ai, eu gosto de “Café da manhã”: “Amanhã de manhã vou pedir um café pra nós dois”, eu gosto de música romântica, eu sou muito romântica.
P/1 – E no colegial, você foi pro colegial?
R – Fui, fiz tudo direitinho.
P/1 – E no colegial, tinha alguma matéria, alguma coisa que te chamava atenção na escola, você falava: “Quando eu me formar vou ser tal coisa, vou seguir alguma carreira”?
R – Não, eu sempre quis ser veterinária porque eu gosto muito de bicho, sabe, só que depois com o passar do tempo a cabeça da gente vai mudando, as coisas vão acontecendo, aí eu comecei a trabalhar, bem mais pra frente, trabalhar com advogados, aí: “Eu quero fazer isso”, porque eu gosto mais dessa área, assim, Português, de ler as leis, eu gostava, sabe, acabou que a vida foi tomando outros rumos, outros rumos e acabei não fazendo nada.
P/1 – Mas você já trabalhava com quantos anos, qual foi seu primeiro trabalho?
R – Eu trabalhava, eu sempre trabalhei como secretária ou recepcionista, sempre coisas assim, eu acho que...
P/1 – Mas qual foi o seu primeiro trabalho?
R – Trabalhava como recepcionista numa marcenaria, acho que isso foi em 2001.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Ai, eu era menor é, gente, como é que foi isso? Não sei, porque 2002 morreu, era 2001 isso, eu tinha 16 anos, é, nem era carteira assinada, nada, era só uma coisa, acho que meio aprendiz, sabe, e aí daí fui pra empresa, sempre assim, secretária, recepcionista, sempre essa área, assim, de escritório.
P/1 – E você ajudava em casa com o dinheiro?
R – Ajudava, só que eu, acaba que eu quase não ficava em casa, fala em ajudar nesse sentido?
P/1 – Ajudar financeiramente.
R – É, acabava que o pessoal da minha família: “Não, não precisa, não”, a gente sempre teve uma divisão de ajudar com alguma coisa aqui, outra ali, mas sempre ajudei, não ajudava muito no sentido de serviços em casa porque eu nunca tava em casa, eu sempre chegava, saí pra trabalhar cedo e voltava tarde, voltava no anoitecer eu estudava à noite e eu ia pra escola, eu estudava à noite.
P/1 – E continuava dançando?
R – Sim, mas sempre dancei por hobby nessa época eu dançava por hobby, dançar pra me relaxar, só colocar uma música pra dançar aqui que muda tudo pra mim, relaxa muito.
P/1 – E desses empregos de recepcionista, secretária, qual foi o que mais te marcou?
R – O que mais me marcou foi nesse escritório de advocacia, que eles eram patrões, mas eram muito amigos também, era todo mundo gente boa, a gente trabalhava, mas divertia muito, eles eram, nossa, até hoje eu tenho amizade com todos eles, pessoas ótimas, eu aprendi muita coisa lá, eu fiquei lá uns quatro anos.
P/1 – E você nessa época ou em algum momento você falava assim: “Ah, quando eu, quero ser atriz, quero aparecer na televisão”?
R – Ah, desde criança, sempre tive isso, acho que até de imitar na televisão, imitar as coisas da televisão, eu fazia que tava lá e tudo, mas coisa da cabeça nunca um dia imaginei que era possível, mas depois, com o passar do tempo, eu comecei a fazer desfile, uma coisa aqui, outra ali, apesar de ser baixinha eu fazia uma coisinha aqui, outra ali, mas sempre com o sonho de televisão, mas nunca pensei, nunca mesmo, sonhava, mas não imaginava assim tão real, sabe?
P/1 – E desfile com quantos anos você começou a fazer?
R – Acho que uns 15 também, uns 15, 16 anos.
P/1 – Quem te convidou a primeira vez pra desfilar?
R – Acho que ninguém me convidou, eu que fui atrás, eu que fui tentar, querer saber como é, aí eu comecei a participar de concurso, sabe, esses concursos de cidade, garota não sei o que, garota isso, garota aquilo e aí fui e aí todo o concurso que eu achava na reta eu entrava.
P/1 – Você ganhou algum?
R – Ganhei alguns.
P/1 – Qual foi o primeiro concurso que você ganhou?
R – O primeiro foi Garota Contagem, que era o concurso da cidade lá que tinha, que as meninas todas entravam querendo concorrer, tudo, e aí e era uma coisa meio difícil essa coisa por ser negra, não era muito fácil, não, sabe, às vezes a pessoa falava que tinha chance, não sei o que e aí, mas eu sempre sentir que o fator da cor dava uma atrapalhada às vezes, senti muito isso, na infância também passei por umas coisas.
P/1 – É mesmo?
R – É.
P/1 – Que cena de preconceito você lembra, assim, na infância?
R – Ai, o que eu sofria muito era com coisa de cabelo, nossa, mas eu ia pra casa chorando muitas vezes, de falar do cabelo, de puxar cabelo: “Cabelo ruim, cabelo feio, cabelo não sei o que” e aí eu tinha o maior complexo com o cabelo, sabe, nessa época era terrível: “Neguinha do não sei o que”, não, era muito ruim.
P/1 – Na escola você escutava isso?
R – Muito, muito, muito, a infância cheia, se fosse hoje em dia ia falar que era bullying, naquela época ainda não tinha isso, aí deixavam, a professora: “Não, não liga, não, faz isso não, fulano”, era uma coisa meio assim, hoje em dia ainda é assim, mas eu acho que naquela época era pior, assim, era meio sem controle.
P/1 – E no concurso você sentia preconceito por parte de quem?
R – Ai, eu acho que no caso de critério de julgar ou de participar, se era um concurso com 30 tinha três negras e o resto branquinha, essas coisas, sabe, então eu sempre achei que tinha um preconceito assim, às vezes acontecer de ganhar algum concurso, as pessoas ficarem insatisfeitas, eu sentia que tinha relação ou de, até mesmo de às vezes não classificar, alguma coisa assim, não porque eu tinha que ter classificado, mas por comentários, assim, eu sentia algumas coisas relacionadas, sabe?
P/1 – E esse concurso de Contagem o que era, como é que você tinha que ir, como é que aparecia, como é que foi o concurso?
R – Ai, tinha eliminatórias, aí entrava um monte, tinha os desfiles com eliminatórias.
P/1 – Entrava de quê?
R – Não, quem quisesse podia se inscrever, aí tinha o primeiro concurso, eliminava: “Fulano passou”.
P/1 – Vocês tinham que fazer o que, desfilar na passarela?
R – Desfilar na passarela, é.
P/1 – Mas o que, de roupa, maiô?
R – Tinha roupa, tinha maiô, essas performances que tira a canga, sabe, essas coisas, aí fiz, aí tinha eliminatória, eu passei na eliminatória, fui passando e aí ganhei, enfim, ia entrando em outros.
P/1 – Quando você ganhou o primeiro como foi, quem tava te assistindo?
R – Ah, minha família toda porque até então era um dos primeiros depois eles nem iam mais, o povo até parou de ir de tanto que eu gostava de entrar, mas esse primeiro foi importante, acho que foi um dos primeiros concursos que o meu pai viu.
P/1 – Tava o seu pai, sua mãe?
R – Meu pai, minha mãe, minha avó, minha avó paterna só, minha avó materna já tinha falecido, minhas tias, minha madrasta, não, muita gente importante, amigas.
P/1 – Aí quando falaram que você foi a vencedora?
R – Nossa, chorei horrores, muito bom porque a pessoa ta ali cheia de sonhos, aí acha que aquilo ali vai transformar a vida e aí, nossa, foi uma época muito importante.
P/1 – Depois de quantos concursos mais você participou?
R – Ih, nem sei, muitos, mas aí eu sempre ficava, assim, em segundo ou em terceiro, sempre assim, às vezes primeiro, mas sempre ficava segundo, terceiro ou primeiro.
P/1 – É mesmo, sempre?
R – É, sortuda .
P/1 – E qual outro concurso que você ganhou ou que você ficou em segundo, terceiro, que tenha te marcado?
R – Me marcado? Ah, de um jornal que teve um concurso que foi assim, à nível acho que de Minas, sabe e aí eu fiquei em segundo lugar, mas eu fui pra uma viagem linda.
P/1 – Pra onde?
R – Eu fui pra Ilhéus e aí foi muito gratificante, assim, fiquei.
P/1 – Você foi com quem pra Ilhéus?
R – Na época eu fui com um namorado que eu tinha, eu fiquei sete dias, foi uma coisa boa, aí tinha coisa desse jornal, eu saía no jornal, não sei o que, aquela coisa toda.
P/1 – Você nunca tinha saído no jornal?
R – Já, porque esses concursos da cidade sempre tinha alguma coisa, primeiro eu me inscrevo, assim, depois: “Ah, fulano e sicrano passaram na eliminatória”, então era uma coisa que acabava, todo mundo ficava sabendo na cidade, sabe, era uma coia meio divulgada, e aí eu lembro que nessa época foi uma das poucas vezes também que o meu pai teve chance de ver, que saiu foto no jornal, ele ficava todo orgulhoso com o jornal, rodando o bairro todo mostrando a fotinho desse tamanhozinho assim, mostrando pra todo mundo a foto no jornal, sabe, foi uma das poucas vezes que ele...
P/1 – Você disse que foi uma das poucas vezes que o seu pai foi te ver.
R – É, porque logo depois ele faleceu então quando eu comecei a fazer as outras coisas, assim, que apareciam mais, ele não teve chance de ver.
P/1 – E esses concursos que você participava era sempre em Contagem, isso do jornal já abrangia Minas Gerais, teve algum que era fora da cidade?
R – Teve um concurso uma vez de uma emissora que era, aí era concurso de negras, eu mandei uma foto, aí eu consegui chegar até a etapa de ta lá no programa e tudo, mas era muita mulher, muita mulher e aí eu cheguei a ir, tudo, mas não classifiquei, mas foi importante também porque foi no nível nacional, mas tirando isso foi tudo mais interno mesmo.
P/1 – E você tinha vontade de sair da sua cidade?
R – Tinha, mas eu sempre fui, sei lá, eu ficava imaginando as coisas, mas não colocava em prática, sabe, ficava correndo atrás ali dentro achando que talvez ali dentro eu conseguisse alguma coisa, mas dentro de Contagem, Belo Horizonte eu sempre tava atrás de um contato, atrás de pessoas, uma coisa, indicação e sempre fiquei assim, acaba que eu, mas eu não saí de Minas, cheguei a ir a São Paulo uma vez pra ir atrás de agências, essas coisas, mas nunca tive sorte com agência, nunca tive sorte com isso.
P/1 – Como foi, quem te falou pra vir pra cá?
R – Porque todo mundo falou: “Se você quiser alguma coisa não adianta ficar aqui não, minha filha, vai rodar” e aí eu fui uma vez pra São Paulo, aí a gente ia em agências, aí ficava um negócio muito estranho, ficava aquele monte de pessoas lá parada e aí olhava assim pra mim querendo fazer uma seleção, uma coisa muito fria, sabe, não sei, eu também nunca me dei bem com agência, assim, nunca.
P/1 – Você nunca tinha ido pra São Paulo?
R – Pra São Paulo eu fui nessa coisa do programa, desse concurso, foi a única vez, nem deu pra rodar também, eu fui participar e fui embora.
P/1 – Você lembra da cidade quando você chegou lá, achou diferente?
R – Achei porque eu fui numa parte que era bem fechada, era um, eu nem lembro muito bem qual a região, mas era assim, muito prédio, mas os prédios são muito pichados, era na parte que não tava muito bonita, não, aí eu fiquei com uma impressão meio estranha e nunca mais voltei lá, voltei, mas conheci, assim, interior, conheci Caçapava, Taubaté, essas cidadezinhas assim, mas o centro de São Paulo eu não conheço.
P/1 – Porque você foi pra essas cidades, Caçapava?
R – Porque eu tinha um namorado que morava lá, namorava à distância e aí eu ia lá pra visitar e acabei conhecendo essas cidades.
P/1 – Você teve namorado à distância?
R – É.
P/1 – Como que você conheceu?
R – Mas ele era de lá, mas era do exército, então ficava rodando, então pra gente se ver aí ou eu tinha que ir ou ele vinha, aí nessas idas que eu conheci.
P/1 – E o Rio de Janeiro, você já tinha ido?
R – Tinha vindo uma vez, eu vim aqui pra conhecer, vim num passeio também, vim com a vontade de conhecer um baile funk carioca, sempre tive vontade e queria conhecer o Projac, aí eu vim, chegou aqui procurei no Google, fiz mapinha e tudo mais pra poder saber o caminho do Projac e fui num baile funk também, eu era louca pra conhecer.
P/1 – Mas você veio pro Rio, você ficou hospedada aonde?
R – Era esse caso também, namorado que ficava de lá pra cá, aí ele tava aqui.
P/1 – Era o mesmo namorado?
R – É, aí ele veio pra cá, eu falei: “Ah, é agora que eu conheço o Projac”, aí eu vim pra cá.
P/1 – Você queria conhecer o Projac por que você queria ser atriz já ou não?
R – Porque eu sempre falei: “Um dia eu ainda entro nesse lugar”, uma amiga minha, quando isso tudo aconteceu, ela até mandou uma mensagem pra mim: “E aí, Lica, você lembra que a gente falava que um dia a gente ia entrar no Projac, você realizando um sonho seu”, você tem que ver as coisas do destino, assim, as coincidências, sabe, do que ta acontecendo hoje com as coisas que a gente falava, que eu brincava, assim, meio que o que eu falava ta acontecendo tudo hoje, sabe, muita loucura.
P/1 – Mas aí você chegou no Projac, como é que você conseguiu entrar?
R – Não, eu nem entrei, aí eu cheguei toda, arrumei pra poder tirar foto, tal, aí quando chegou na porta o segurança: “Não pode tirar foto aqui, não”, eu fui embora tão derrotada, tão triste, eu peguei o mapa, fiz o mapa no Google, peguei assim o trajeto pra ir lá tirar foto, o cara falou: “Não pode tirar foto aqui”, eu fui embora numa tristeza, aí eu tirei em cima do passeio, assim, com as bandeirinhas que tem na entrada, na portaria, lá atrás, então quem vê as bandeirinhas no fundo e conhece sabe que é, aí eu tirei a foto no passeio assim com as bandeirinhas no fundo, falei: “Gente, é aqui ó, aquela bandeirinha lá no fundo é a entrada, não deu pra entrar, mas é lá” e mostrava a foto, tudo, isso não faz muito tempo, tem o quê? Uns quatro, cinco anos, porque até então eu não conhecia o Rio, não tinha vindo, então o Projac era só de nome e a coisa de baile funk também sempre quis vir num baile carioca.
P/1 – E aí em qual baile funk você foi?
R – Era, o nome do lugar West Show, era um negócio do Furacão 2000, eu queria ir no Furacão 2000.
P/1 – Mas onde é que era?
R – O West Show acho que é Campo Grande, acho que é Campo Grande que fica o West Show, aí fui, conheci o baile, tinha os DVDs da Furacão e tudo mais e eu assistia aquelas, tinha aquelas caixas de som e tudo: “Eu tenho que ir nesse lugar um dia”, eu fui, aí fui no Projac, fui, esse passeios turísticos do Rio, mas no meio tinha isso, Projac e baile funk e aí fiz, mas nem imaginava voltar aqui assim.
P/1 – Mas o Projac tinha por que, porque você queria conhecer só?
R – Porque eu queria conhecer e eu falava que um dia ia trabalhar lá: “Não, um dia eu ainda vou trabalhar lá” e falava: “Não, quando eu chegar”, falando mesmo assim, como se fosse essas brincadeiras de adolescente que você brinca mesmo, fala: “Não, quando você tiver lá na minha casa, sei lá aonde, no Rio, você vai lá, eu te levo lá no meu trabalho no Projac, não sei o que”, sabe essa brincadeiras de, brincava assim, sabe, mas nunca achava que um dia isso fosse realmente acontecer, sabe, então eu fui tirar uma foto super informal, eu não imaginava que...
P/1 – Aí depois que você fez esse passeio você voltou pra BH e o que aconteceu, pra Contagem?
R – Não voltei, foi só um passeio, então mostrei a foto, mostrei, fiquei triste que eu não pude entrar no Projac, não sei o que, contei pra todo mundo do baile funk, ótimo, adorei o Rio desde a primeira vez que eu vim, tudo lindo, agora eu to conhecendo mais ainda conhecendo, to praticamente fazendo um tour subúrbio carioca.
P/1 – Aí você voltou pra Contagem e como que você foi tocar a vida, tava trabalhando em quê?
R – Essa época? Essa época eu trabalhava em escritório de advogados ainda, eu acho, é, escritório de advogados e depois disso eu fui trabalhar numa loja, desfilava pra uma loja, era modelo, vestia roupa pros clientes, sabe, aí o cliente queria ver como ficava a roupa eu vestia, fiquei um tempo nessa loja e depois disso fui trabalhar na escola, foi, depois disso fui pra escola, que era a escola que eu tava trabalhando até hoje.
P/1 – Que escola?
R – Instituto Novos Tempos, lá em Contagem mesmo.
P/1 – Você fazia o que, faz o quê?
R – Eu comecei lá, eu olhava as crianças quando comecei, aí depois eu fui pra recepção, depois eu fui trabalhar na secretaria e tava na secretaria quando eu saí, quem trabalhava lá era a minha mãe, que me indicou, aí eu passei a trabalhar lá também.
P/1 – E continuava com esse namorado, esse do Caçapava?
R – Foi, é.
P/1 – Você namora ele ainda?
R – Não, não.
P/1 – Quando que vocês se separaram?
R – Ai, no início do ano, no início do ano, é isso aí.
P/1 – Aí você tava na escola, trabalhando lá e aí?
R – E aí eu já nem tava muito correndo atrás dessas coisas, mais desfile, concurso, que eu já tava achando que, ah, não era pra ser, tanto não na vida, tanto teste, tanto não, sabe, eu: “Ai, meu Deus, vou parar com isso”.
P/1 – Teste pra que você já tinha feito?
R – Pra comercial só, teste pra comercial, fiz coisa de figurante, essas coisas assim, mas uma coisa grande mesmo nunca tinha feito, fazia foto, uma coisa, aí eu já não, aí tinha, as pessoas sempre me mandavam email com indicação de alguma coisa: “Ah, vai ter teste pra isso, teste pra comercial, tal”, e aí eu já nem abria mais, já nem tava vendo os emails mais que eu já tava meio largando pra lá, eu falei: “Vou caçar, arrumar um serviço de verdade porque já vi que esse negócio não vai dar pra mim não” e aí tinha deixado pra lá, aí um dia eu resolvi, eu nem tava abrindo mais email, já tava deletando tudo, aí um dia eu resolvi abrir um de uma menina que sempre me manda, a Paula, aí abri, era: “Precisa-se de negras da idade entre 18 e 24 anos pra uma campanha publicitária”, nem falou o que que é, aí eu falei: “Ah, só uma foto, não custa nada, né”, aí mandei uma foto de rosto, uma foto de corpo, peguei umas fotos assim que eu tinha e mandei telefone, email, esses dados assim pessoais, mas nem fazia ideia do que era.
P/1 – Nem pra qual agência?
R – Não, não era coisa de agência, eu acho, quando era assim, vem assim, um pessoal que fica correndo atrás de trabalho, um vai indicando o outro, aí ela só manda o email do responsável, aí eu mandei o email com foto, aí o rapaz me ligou e falou pra mim: “Olha, o pessoal gostou da sua foto, você pode ir na Praça da Liberdade, tal dia, tal hora?”, aí: “Vou”.
P/1 – Praça da Liberdade em?
R – É em Belo Horizonte, é a praça principal lá de BH.
P/1 – Quanto tempo é Contagem de BH, você ta em contagem.
R – Vinte minutos.
P/1 – Vinte minutos.
R – É do lado, eu moro em Contagem e aí eu fui, era um sábado, aí eu fui, fui lá.
P/1 – Você não sabia até então o que era?
R – Falou e nem tava dentro da faixa etária porque eu já tenho 27 anos, não, eu tava com 26 e era 18 a 24, eu falei: “Ai, esse negócio não ta nem na minha idade mais, mas quem sabe?”, mandei e fui pro teste, aí chegou lá tava o Nelson, o Nelson Fonseca, só que eu nem conhecia ele também, ele tava super informal e tudo, com uma camerazinha assim normal e aí eu não cheguei a ver as outras meninas, que eu cheguei antes do horário combinado, então eu não vi as outras também que apareceram depois, aí o Nelsinho tava lá com uma camerazinha assim, ele falou: “Ah, então eu vou conversar com você de uma vez já que você ta aqui”, aí perguntou o meu nome, o que que eu fazia, se eu gostava de funk, aí eu contei essas histórias todas do Projac e que eu vim pro Rio pra conhecer um baile funk, as minhas coisas mesmo e perguntou se eu gostava de dançar, o que que eu dançava, aí na época eu dançava samba e tudo tem na história, sabe, foi, assim, muita coincidência junta, aí ele perguntou as coisas da minha vida mesmo, falou: “Então ta, obrigada, então ta, tchau” e aí eu fui embora.
P/1 – Não sabia pra que que era?
R – Não, aí depois que eu tinha conversado ele desligou e falou assim: “O projeto é uma série, tal, da Globo”, eu nem tava botando fé, nem acreditei.
P/1 – Quando ele falou que era uma série da Globo como é que você ficou?
R – Ah, eu fiquei assim, eu fiquei pensando se era verdade ou não porque eu já tinha ido em tanta coisa furada, então eu falei: “Ai, mais um doido que vem com essas conversas”, mas quando ele falou eu falei: “Ta” e fui embora, cheguei, nem fiquei muito empolgada, não, que eu achei que, sei lá, eu achei que o negócio nem era sério porque não tinha ninguém, porque eu cheguei mais cedo, não tinha ninguém, um negócio no meio de uma praça assim, foi super informal e fui embora, eu tinha que trabalhar no dia, fui trabalhar normal, nem fiquei pensando nisso.
P/1 – Na escola?
R – Não, aí eu dançava, era um sábado, aí eu tinha apresentação pra fazer.
P/1 – Onde você dançava?
R – Porque, voltando.
P/1 – Volta.
R – É porque eu, ano passado eu entrei num concurso pra corte do carnaval de Belo Horizonte, igual tem corte do Rio, tem rei, rainha, princesa, essas coisas, aí um cara me viu, perguntou se eu sabia dançar, me viu, ele me viu num concurso, num desses concursos que eu participei, aí eu falei: “Ah, sei”, “Você sabe sambar?”, eu falei: “Sei”, “Ah, tem um concurso da prefeitura, por que que você não entra?”, aí eu perguntava como que era, isso era tipo meio do ano, o negócio ainda era pro início do outro ano, 2010 pra 2011, aí ele falou assim: “Ah, pega o telefone da prefeitura, no início do ano você liga”, aí eu me inscrevi e tudo mais, nunca tinha sambado nada assim, samba de escola de samba eu nunca tinha feito nada do tipo. Aí me inscrevi e fui e participei lá no meio das outras todas que já tavam acostumadas, aí tinha coisa à fantasia, como eu nunca tinha participado eu não sabia que tinha que ter fantasia e aí eu fui com um negócio, roupa mais normal, fui com um biquíni normal e no outro dia que era a final eu mesma bordei um biquíni, eu mesma costurei as pedras no biquíni pra poder dançar e cheguei lá as outras cheias de adereços, eu falei: “Nossa, meu Deus, o que que eu to fazendo aqui?”, fiquei até, assim, envergonhada, sabe, porque tava se sentindo fora do negócio e aí fui e aí lá e era tipo aquela coisa do Luciano Huck, fiquei lá fora, naquele musa do carnaval, que vai aquela passarela e vai dançando, tal, era daquele jeito, aí eu fui, aí tinha eliminatória e na eliminatória eu passei e já fiquei assim, né: “Nossa”, aí no outro dia que era a final, aí fui lá e aquela coisa de sambar devagarzinho, tal, e depois sambão mais pesado, fui e dancei primeira vez na vida e aí ganhei e fiquei na corte do carnaval, princesa da corte do carnaval. E aí ficou todo mundo assim também: “Quem é essa menina, nunca participou de nada, vem aqui” e tinha muitas meninas que participavam sempre, eu, gente, mas não tinha nada, eu não conhecia o cara, o cara me viu num lugar e falou: “Vai lá e participa” porque me viu, nem nunca tinha me visto dançar e na mesma época eu entrei num outro concurso de musa do carnaval também, tudo junto e ganhei o concurso também, foi um monte de eliminatória, aí ao mesmo tempo que eu ganhei a corte do carnaval eu ganhei musa do carnaval, tudo em BH, tudo em 2011, aí apareceu na televisão, tudo mais, aí as pessoas tinham que ligar, votar e tudo, então aí o povo me via, falava: “Ah, eu liguei pra votar em você, não sei o que”, aí ficou meio que assim um mês esse processo de seleção, aí eu ganhei os dois concursos e fiquei rodando com a prefeitura, fazendo eventos de carnaval na cidade, nas regionais.
P/1 – Você recebia?
R – Recebia, tinha um prêmio, aí depois disso, que eu fiz isso, que eu nunca tinha feito, as baterias de BH começaram a me ligar, mas na verdade uma menina que já dançava há mais tempo, tem um pessoal já do samba de BH, começou a me indicar e aí por indicação eu fui dançando em uma, me indicando pra outra, aí eu comecei a dançar com a maioria das baterias de BH, fiquei fixa mais tempo com o Mestre Linguinha, com, eu fiquei com Bateria Nota Dez, fiquei fixa com umas assim e aí começaram a me contratar e todo final de semana eu tinha evento.
P/1 – Você ia na escola?
R – Durante a semana eu trabalhava na escola e fim de semana eu dançava com a bateria.
P/1 – Você tinha parado de estudar já, você fez faculdade?
R – Não, isso foi ano passado.
P/1 – Ah, ta.
R – É, isso é super recente, foi assim: eu ganhei o concurso e comecei a dançar, um ano, nunca tinha feito, dançado isso antes.
P/1 – O estudo você parou no colegial?
R – É, eu completei o ensino médio, não fiz faculdade.
P/1 – O colegial.
R – É, agora já ensino médio, antes era segundo grau, agora já é ensino médio, eu completei o ensino médio, e aí ficava aquela coisa de fazer faculdade, mas acabou que eu nunca fiz, mas ainda é tempo.
P/1 – Mas você dançava aos finais de semana?
R – Dançava fim de semana, às vezes quando tinha evento no meio da semana também, eu saía do trabalho, ia pra casa arrumar, vinha dançar e ficava assim, fazendo apresentações.
P/1 – Aí você foi na praça, fez esse teste.
R – É, aí fui pra minha apresentação, tudo mais, nem comentei mais com ninguém, falei com a minha mãe só, aí passou umas duas semanas, umas duas semanas, o Anderson Casemiro, que é o produtor de BH, me ligou e falou assim: “Ah, o pessoal gostou de você e tal, eles deve te ligar pra você ir pro Rio”, eu: “Pro Rio?”, ele: “É”, ai eu falei: “Ih, não sei, não”, aí ele falou: “O cara vai te ligar” e nisso pro cara me ligar demorou um tempão e aí eu nem tava acreditando nele, falei com a minha mãe, falei: “Mãe, o cara falou que eles vão ligar”, eu falei: “Ah, não sei, não”, ela: “Espera porque esse negócio pode ser furada”, aí passou mais umas duas semanas, aí o Nelsinho me ligou, ele falou assim: “Ó, Érica, o pessoal gostou do seu perfil, tal, você pode vir pra cá pra poder fazer um teste? Eu vou te mandar uns textos e aí você lê, decora direitinho, você vai vir pra cá pra fazer o teste com o diretor e tudo”, aí eu comecei a acreditar. Aí eu falei: “Só vou acreditar quando o pessoal me mandar essa passagem”
e eu achando que o negócio era mentira, to: “Mãe do céu, será?”, aí ele mandou a passagem e foi no dia 12 de maio, não, foi dia 9 de maio, o meu teste ia ser no dia 12 e aí foi tudo tão assim que eu fiquei sentindo que era um presente de Deus, sabe, porque o meu aniversário foi sete de maio e esse processo todo foi assim, foi tudo assim, fim de abril, aí início de maio e aí sete de maio, foi numa segunda-feira, ele me ligou pra eu ir viajar na quarta-feira, aí eu viajei, cheguei lá na quarta-feira, aqui na quarta-feira pra, aí quem me recebeu foi o Antônio Carnevalli, que ficou me ajudando esse tempo todo, nunca fiz nada na vida de atuar, né.
P/1 – Mas daí eles mandaram o texto pra você decorar?
R – Mandaram uns textos assim, eu: “Meu Deus, o que que eu vou arrumar com esse texto, como é que eu vou falar isso?”, aí ficava lendo aquilo: “Meu Deus, como é que eu vou fazer pra falar esse negócio?”, pra decorar a minha memória sempre foi péssima, nossa, aí eu falei: “Gente, eu vou ter que me virar”, aí vim pra cá e aí o Antônio me ajudava e tudo, ia me passando umas coisas, fez muito trabalho de corpo, uma coisa que eu nunca fiz na vida.
P/1 – Mas e o teste, como é que foi?
R – É, isso foi tudo antes do teste, preparação pro teste, aí no dia do teste, aí veio o povo pra caracterizar cabelo, maquiagem, não sei o que e eu achando tudo lindo eu falei: “Ai, meu Deus do céu, o negócio é sério”, aí tava lá preparadinha, esperando porque tinha que esperar o diretor chegar pra fazer o teste, aí quando ele vem chegando, todo mundo tenso: “Meu Deus do céu, o povo ta tenso, eu vou ficar também o homem chegando, o povo ta ficando desse jeito”, aí eu fiquei assim, eu tava, até então eu tava calma, aí ele chegou: “Oi, tudo bem?”, eu: “Tudo bem”, nervosa demais, aí acho que ele viu que eu tava até assim meio paralisada, aí ele veio conversar comigo primeiro: “Ta feliz, não sei o que, te trataram direitinho?”, todo preocupado, tudo, conversou um pouquinho comigo antes, aí eu relaxei, eu: “Ah, então vamos lá, então”, aí era numa casa, eles estavam fazendo os ensaios numa casa, aí eu fui e falei o texto que eu tinha decorado, falei: “Nossa, foi uma porcaria”, eu fiquei pensando.
P/1 – Você lembra do texto?
R – Lembro porque inclusive é falas.
P/1 – Como é que é, fala um pedacinho pra gente?
R – Tinha até uma cena de estupro, pensa bem, uma cena de estupro logo no teste e eu lá sozinha arrancando a minha própria roupa, eu pensei, né: “O que eu vou fazer sozinha nesse teste?”, mas, ai, eu vou lembrar agora, peraí, você quer que eu fale? .
P/1 – Por favor.
R – É uma passagem que ela meio que acho que ela fica analisando a vida o que que ela, ela chegou no Rio, o que que ela vai fazer e tudo mais, aí fala assim: “Eu sempre achei que eu ia ser doméstica, mesmo no começo, mas agora é só me matricular na escola aqui do bairro, nossa, eu to louca pra poder aprender a ler as placas na rua, ler os anúncios das revistas, poder pegar ônibus sem pedir ajuda pra ninguém, nossa” e agora eu esqueci o resto .
P/1 – Muito bom, muito bom.
R – Mas era grande, eu falei: “Meu Deus, como é que eu vou fazer pra decorar isso tudo?” e foi muito rápido de segunda a quarta-feira, assim, aliás, ele me mandou acho que era tipo na terça pra eu decorar, eu nunca decorei nada na vida, não consigo decorar nem número de telefone e aí eu fiquei apavorada e tudo e fiz o teste, falei tudo direitinho, aí: “Fala agora assim mais feliz, agora fala mais triste, agora fala mais assim”, aí falei tudo, aí depois que acabou ele falou assim: “Você pode ficar mais uma semana?”, “Eu posso” e o meu serviço lá eu falei: “Ô, gente, peraí, eu vou voltar, né” porque eu pedi pra sair esses dias, aí eu fiquei mais uma semana.
P/1 – Ficou direto, você nem voltou pra casa?
R – Não, aí eu liguei: “Mãe”.
P/1 – O que você fez com roupa?
R – Não, eu acho que eu tinha até uma mala grande porque mulher eu, onde eu vou uma semana, que seja um final de semana, a mala é pra um mês, aí, mas a única coisa que eu não tava preocupando era com roupa.
P/1 – Você ficou em hotel?
R – É, hotel, tudo direitinho.
P/1 – Você nunca tinha ficado tanto tempo assim no Rio?
R – Não, tinha, mas a passeio, pra trabalho nunca, nunca vim na vida pra trabalho.
P/1 – Costumava vim no Rio depois daquela do Projac?
R – É, não, umas duas vezes só, não tinha muito hábito, não, eu conheci as mesmas coisas, os mesmo lugares, aí fiquei aqui, mas eu não fiquei, fiquei mais concentrada mesmo, que eu tava nervosa porque ia vim mais um teste, eu fiquei mais uma semana pra mais um teste e aí foi quando eu entrei no Projac, porque esse teste, tudo, não era dentro do Projac aí eles falaram: “Então você vai pra fazer uns testes de cabelo e figurino lá no Projac”, aí eu: “Ah”, aí eu liguei pra minha mãe: “Mãe, eu vou entrar no Projac”, aí marcaram comigo, eu fui, quando eu cheguei lá, assim, é como se fosse sei lá, que loucura, bobagem todo mundo entra lá todo dia, só de falar eu fico assim, que pra mim era, sabe, nossa, é a fábrica de sonhos, sabe, e aí eu ficava querendo entrar naquilo, aí eu liguei pra minha mãe: “Mãe, eu vou entrar no Projac e agora?”, coisa louca é uma empresa mas pra mim foi muito importante, aí fui, ai, aí fazendo teste de cabelo, roupa, tudo, ai, ai, não da nem pra explicar (choro), a vida inteira sonhar com uma coisa, você nunca imagina que vai acontecer, sabe, (choro), ai. Aí provava roupa, provava tudo e ficou uma semana nesse processo até chegar o dia do outro teste, aí no dia do outro teste aí já era um outro cabelo, uma outra coisa, aí eu tinha que dançar e era numa sala lá dentro assim que prepararam e eu morrendo de vergonha, que vergonha que eu tinha, nossa, quanta gente, eu ficava morrendo de vergonha, eu já tava assim querendo esconder, eu ficava assim: “Não, a hora é agora, eu nãoposso ficar com vergonha aqui agora”, aí chegou de novo o diretor e falou comigo: “Ta tudo bem, tudo certo?”, tal, aí aquele monte de gente, meu Deus, que vergonha, aquele monte de gente, aí mandou eu dançar, aí colocava uma música, aí colocou funk, eu dancei com uma roupa curta, um short curto e eu tentando abaixar o short, o short abaixava tudo de tão curto que era, aí, mas aí eu falei: “Não posso ficar com isso aqui agora”, aí dancei, falei o que tinha que falar, fiz tudo que ele pediu, do jeito que eu acho que eu conseguiria, fiz.
P/1 – Quem tava nesse segundo teste?
R – Aí já, não, tava tudo, as pessoas do primeiro e mais gente ainda, né.
P/1 – Tava o diretor?
R – O Luís Fernando tava, Luís Fernando, Bárbara do cabelo, Fabíola, um monte de gente, um monte assim atrás e aí eu dançava assim, vergonha, tremia, dançando e tremendo, sabe, aí acabou o teste, fiz tudo que ele pediu, acabou o teste, aí ele falou: “Então ta, obrigada”, eu pensei: “Então ta, brigada, ai”, “Qualquer coisa a gente te liga”, aí eu: “Ai, ta bom”, aí no outro dia eu vim embora e fiquei: “Qualquer coisa a gente te liga” e fui embora assim pensando: “Ai, meu Deus, será que eu cheguei até aqui”. Pra mim eu cheguei o mais longe que eu cheguei, pelo menos eu entrei pra quem foi barrada na porta pra tirar foto, pelo menos eu entrei, aí eu vi artista passando no corredor, fulano, fulano, fulano, querendo gritar e, meu Deus, ciclano: “Mãe, você não sabe quem eu to vendo aqui, fulano ta aqui, mãe”, vendo porque a minha família sempre foi noveleira, tudo que é novela, que é programa de televisão da Globo, a gente assiste tudo, saber que ator faz o que, que ator fez o que, foi pra onde, sabe tudo, então sempre tive essa vida de assistir televisão, assistir novela, aí imaginava as coisas, como seria, sabe, como que era feito, aí pra mim, nossa, aquilo ali era o porta mágico, sabe. Aí fui embora, o rapaz: “Vai, qualquer coisa a gente liga” e eu sofrendo, sofrendo, o dia todo esperando uma resposta, nem que fosse negativa: “Ô, meu Deus, alguém me liga, pelo menos pra falar que não pra parar com esse tormento” e voltei pro serviço e não tava conseguindo concentrar, aí comecei a emagrecer e não tava fazendo os negócios direito e ficava só voando e não conseguia pensar em nada, não dormia, querendo pelo menos que alguém falasse: “Não, não passou”, pra eu tirar o negócio da cabeça aí passou acho que quase um mês, não, foi fim de maio, aí o Nelsinho me ligou, toda vez que eu via ligação do Rio eu corria pro telefone desesperada pra atender, aí: “Ah, não, só pra saber se você ta bem”, eu: “Ah, to bem”.
P/1 – Quem queria saber se você tava bem?
R – Não, o Antônio ligava muito pra saber se eu tava bem, se tava tudo certo, aí um dia o Nelson me liga, eu tava trabalhando, o Nelson me ligou: “Oi, Érica, é o Nelson que ta falando, é porque me pediram pra te ligar, eu fiquei com essa responsabilidade de te dar a resposta e eu queria te informar que você é a nova protagonista da minissérie da Globo”, ai (choro), ai, nossa, ai, não sei nem te explicar (choro), ai, não sei te explicar (choro), ai, é muito louco isso, ai (choro), muito louco, sabe.
P/1 – Você quase desmaiou.
R – Aí eu fiquei parada, não respondia nada, aí ele: “Você ta me ouvindo?” (choro), aí eu no telefone: “Ahã” (choro), “Você ta ouvindo o que eu to falando?”, eu: “Você ta falando sério?” (choro) e aí tinha cheio de gente pra atender na secretaria da escola, aí o povo acho que achou que alguém tinha morrido que eu cheguei assim, ainda ninguém sabia porque eu fui fazer o teste, eu não contei pra ninguém, quem sabia era só a minha mãe e minha chefe porque ela tinha que me liberar se não eu ia perder o emprego, aí eu cheguei, peguei o celular, fui andando assim, aí eu subi a escada e fui até lá na sala da dona da escola, aí o Nelson falou um tanto de coisa, eu nem sei o que ele falou, aí eu falei: “Nelson, depois eu te ligo, nem to entendendo o que você ta falando”, aí eu desliguei, aí eu tava lá na sala da diretora, ela ta: “O que que foi, Érica, o que que foi?”, aí eu: “Eu passei no teste”, aí ela: “Ahn?”, “Eu passei no teste, (choro) ela me abraçava e chorava, chorava, chama fulano, chama cicrano. Porque, nossa, eles me liberavam pra tanta coisa, todo mundo, todos os empregos que eu passei, todo mundo sabia que eu ficava correndo atrás dessas coisas, às vezes era uma coisinha boba, um teste pra não sei o que, não dava em nada, sabe, teste pra figurante de não sei o que, umas coisinhas que não dava em nada, eu pedia, morria de vergonha de pedir pra sair cedo, nossa, pra mim era o fim da picada pedir pra sair cedo, pedir pra faltar, eu morria de vergonha, aí eu chegava: “Ô, fulano, será que você podia deixar eu sair mais cedo porque, pra um teste pra isso, um teste praquilo, tal, pode ser importante e tal”, mas aí de tanto eu pedir pra sair cedo e as coisas não dar em nada, aí eu fui desistindo disso e aí, nossa, uma coisa muito doida que eu apagava todos os emails, apagava tudo e justo esse email eu não apaguei, sabe, era pra ser mais um que eu ia jogar fora e justo esse, sabe, eu não apaguei. Aí eu peguei, minha mãe também trabalha na escola, aí eu saí da sala da diretora, desci, tava no meio do recreio, minha mãe tava ocupada, eu chamando: “Mãe, mãe, mãe”, quando eu olho pra minha mãe: “Mãe, eu passei no teste”, aí minha mãe começou a chorar, aí nós duas abraçadas no meio do pátio (choro), abraçadas, pulando no meio do pátio, aí ela: “Você ta falando sério?”, aí eu: “To falando sério”, aí eu pulava, pulava, gritava e ninguém entendia nada porque ninguém sabia, aí é uma choradeira, choradeira, choradeira, chorando sem parar. E aí eu continuei trabalhando normal na escola porque eu tinha responsabilidade, tudo, trabalhei até o último dia, tinha até um sábado que tinha uma festa junina que eu tinha que trabalhar, trabalhei tudo direitinho, que eles sempre foram, nossa, me ajudaram muito, sempre que eu pedia pra sair cedo não é todo chefe que faz isso, aí a Keila, a diretora: “Não, Érica, vai, pode ir” e quando eu voltava no outro dia: “Como é que foi?”, “Ah, não deu certo, não, ah, não, ficaram de ligar” e aí eu vim, sabe, aí quando eu entrei no avião pra vir de vez, entrei no avião com o pé direito, entrei no avião com o pé direito, aí desci tudo com o pé direito, sabe, e cheguei no aeroporto aqui chorando, chorando, chorando. Eu agradeci tanto a Deus, tanto, tanto a Deus, Deus já não tava me aguentando mais de tanto que eu falava na cabeça dele e tudo assim, tão, tanta coincidência, que eu tava indo na igreja antes de tudo isso, eu nem sabia, eu tava indo na igreja e aí o pastor falou comigo assim um dia, eu nem acreditava nessas coisas, aí o pastor, uma amiga minha me convidou pra ir nessa igreja, aí o pastor falou comigo assim: “Deus ta me mostrando uma viagem na sua vida, vai mudar tudo”, aí eu nem tinha feito o teste ainda, isso foi no início de abril, aí eu falei: “Viagem, eu não tenho programado pra viajar pra lugar nenhum”, ele falou assim: “Não sei, mas Deus ta me mostrando uma viagem na sua vida que vai mudar muita coisa” e aí depois quando apareceu o teste, a coisa de vir pro Rio, tudo, aí foi, sabe, juntando aquele monte de coisa e eu falava: “Ai, Deus, se for pra ser bom pra mim, que essa porta seja aberta, se não for também, tira isso logo da minha cabeça de vez, que eu vou esquecer logo essa história de correr atrás desses negócios”, aí fui juntando tudo, sabe, e as coincidências que eu falava e brincava de um dia e as pessoas me falavam: “Não, Érica, um dia a gente vai te ver na televisão”, “Ih, gente, arruma um contato lá e me passa que eu quero ir mesmo”, todo mundo, tanto é que quando eu passei, que as pessoas ficaram sabendo, todo mundo falou: “Eu te falava, eu te falava”, se você entrar no meu Facebook, por exemplo, tem um monte de gente falando: “Eu te falava”, sabe, porque era uma coisa, todo mundo me falava e eu falava: “Ai, gente, é muito difícil, não é assim, não, tem que estudar, não sei o que, nunca fiz nada, tem que ter alguém pra indicar”. Sabe, eu nunca achava possível um negócio desses, sabe, eu nunca fiz nada na vida, nunca atuei com nada pra conseguir na vida ser a protagonista de uma (choro), é uma loucura e aí pra começar a gravar, teve um monte de ensaio, tudo, aprendi muita coisa, aí (choro) no primeiro dia de gravação eu nem falei nada na minha primeira cena, foi assim, nossa, ai, nem sei te falar, a experiência, sabe, nem sei explicar e aí to aqui, já gravei um monte de coisa, aprendi um monte de coisa, achei que eu não ia dar conta e todo mundo falando: “Não, Deus não da nada que a gente não consiga carregar”, eu com medo, minha memória nunca foi muito boa, eu falei: “Eu não vou conseguir decorar nada disso”, ai, eu fico preocupada, sabe, todo dia eu leio, leio, leio,leio, leio, leio, com medo de esquecer, sabe, assim, porque, nossa, é muito importante pra mim, muito mais do que um trabalho, de ta aqui fazendo um trabalho, é muito mais, muito mais, sabe. E muita coincidência da história, da história da Conceição, da personagem, com a minha vida, sabe, da história de baile funk, de concurso, tem uma história de, quando eu vim pro Rio, aí eu tava lá na plateia dançando, aí a mulher me chamou, aí eu lá embaixo, aí sabe esses negócios quando tem assim no palco: “Ah, agora vamos chamar aqui em cima as meninas pra dançar”, aí era no baile carioca e aí eu lá embaixo dançando, a mulher me chamou e mais um monte de carioca lá, aí colocou, acho que era no show do MC Marcinho, aí dancei no palco e tal: “Ah, agora vamos gritar, quem foi melhor vai ganhar isso e não sei o que”, aí na hora o povo gritou mais pra mim, que tinha dançado lá no meio das funkeiras cariocas, aí: “É, ela, tal, tal”.
P/1 – Igual a história.
R – É, ai a mulher veio me falar: “Ah, você é de onde?”, “Ah, sou de Minas”, aí ficou todo mundo assim: “De Minas, como assim? Você dança igual carioca, que não sei o que, dança funk e tal”, aí tem isso, a coisa do Projac que eu nunca pude entrar, que eu queria entrar e não podia, ai, nossa, e a coisa de rainha de bateria, meu sonho é pisar na Sapucaí, sempre a Sapucaí pra mim é outro portal mágico, assim, que eu nem sei, até hoje eu não sei onde é, que eu nunca passei nem em frente, nossa, eu vejo assim a bateria, sempre assistindo escola de samba até de madrugada, sabe, sempre imaginei: “Ai, meu Deus, um dia eu ainda vou nesse lugar” e nunca soube como fazer pra poder vir, tal nunca. Aí vendo a história, ela vira rainha de bateria, a história toda, eu leio a história, chorando, chorando: “Nossa, isso aqui é igual ao meu, isso aqui”, sabe, um monte de coisa assim acontecendo igual a minha vida, sabe, muita loucura e a coisa de, ela tem, ela fala que ela quer namorar, casar, namorar, noivar, casar, pra depois ter filho, tudo, e é justamente o jeito que eu penso, que eu quero namorar, quero ficar noiva, tudo bonitinho, casar, pra depois ter filho, sabe, meu sonho é casar de branco na igreja, eu sonho com tudo isso e é a mesma coisa, assim, que ela fala, sabe, e eu ia lendo a história toda e: “Meu Deus, isso aqui”, sabe, a mistura da minha vida com a vida da personagem, então, sabe, tudo assim, eu lia o texto chorando. Teve uma vez, que a gente ta falando igual uma louca teve uma vez que a gente foi ler o texto, assim, primeira vez que juntou, assim, os personagens e tava o Luís, o Antônio, assim, a gente foi ler o texto todo e aí a gente ficou a noite, acho que a gente acabou era umas duas e meia da manhã, que a gente pegou do capítulo um até o sete, onde tinha e aí chegou numa, num determinado ponto da história que tava todo mundo chorando, a mesa inteira chorando, porque cada um lia a sua fala aí tava lá o que o Fabrício, que vai fazer o meu pai, a Vera, que é a principal, que é a minha irmã, tudo assim, e aí cada um ia lendo e no fim das contas tava todo mundo chorando, todo mundo chorando, chorando de lágrima e trazer água e lenço, sabe, só numa leitura e aí chegou num ponto da história que eu chorava tanto, mas tanto, que eu não conseguia falar mais, eu tinha que parar, eu chorava e tinha que esperar eu recuperar de tanto que eu chorava quando eu leio as coisas, sabe, porque é como se eu tivesse lendo as minhas coisas, nossa, não da pra explicar, nó, não da, foi, nó, muito lindo, a história é linda, a história é muito linda, é de chorar mesmo e aí todo mundo chorando, todo mundo chorando e aí o Luís perguntou: “Vocês querem parar, a gente continua depois”, porque eu fiquei assim passando mal de tanto chorar, aí me deram água, eu parei e tudo, assim, aí eu: “Não, vamos continuar, vamos continuar” e aí já não dava pra entender nada que eu falava mais, que eu ficava só chorando, só lendo e chorando, chorando, chorando, assim, mas foi uma noite que saiu todo mundo assim, meio passado, até no outro dia a gente voltou, ainda no ensaio todo mundo assim, meio, nossa, um negócio sobrenatural, você tem que ver, tudo mundo lindo.
P/1 – Como é que foi essa relação com pessoas já atores profissionais, outros igual a você, que tinham a primeira oportunidade, como é que é contracenar com essas pessoas, com esse outros atores?
R – Ah, é ótimo e eu fiquei com medo, sempre com medo, eu sou uma medrosa: “Ah, mas será que eu vou dar conta, eu nunca fiz nada, como é que eu vou fazer, não sei o que”, e todo mundo chegava perto de mim: “Ai, você era de qual grupo de teatro, mas o que você já fez?”, eu: “Nada”, “Você era de qual grupo?”, “Nenhum, uai, nada, nenhum, eu nunca fiz nada”, aí ficava todo mundo me olhando assim: “Mas como assim?” e muita gente de Nós do Morro, muita gente que já faz teatro, um monte de coisa e eu: “Ai, gente, nunca fiz nada, não, mas vamos lá” e aí ta indo, to amando, to aprendendo um monte de coisa, cada dia, tudo que todo mundo fala, assim, eu to igual esponja, sabe, eu to absorvendo tudo, pegando todas as informações, to tentando.
P/1 – Deixa eu te mostrar um desenho, teve uma atividade que vocês tinham que desenhar o personagem, você lembra dessa atividade?
R – Lembro.
P/1 – Como é que você representou, o que você pensou?
R – Então, nesse dia a gente fez um trabalho de, no início do dia colocou umas músicas e tudo e falou: “Coloque aí você como personagem como você ta se sentindo agora” e aí eu me vi como ela, que tem o cabelo assim blackzinho e aí sempre com uma maquiagenzinha, assim, que ela é vaidosa e retratei aqui ela sorrindo porque apesar de tudo, que ela passa um monte de perrengue, nossa, meu Deus, ô menina que sofre, só chora, nem tem lágrima mais, aí apesar do monte de coisa que ela passa, um monte de tragédia, ela é feliz, ela corre atrás, ela luta, ela não desiste, a coisa deu errado, não desiste, vai atrás, então eu coloquei esse raiozinho aqui do desenho animado, a coisa vai dando errado, a pessoa tem um raiozinho, uma nuvenzinha com um raio, assim, e música, porque ela adora dançar, mesma coisa que eu, dança desde criança, tem uma fala que ela diz isso, que dança desde criança, eu: “Como assim, eu que falo isso”, então música, coração porque ela é romântica e eu também sou, isso aqui é um caderninho porque ela quer aprender a escrever, que ela não sabe e música coração e aqui a estrada, o trenzinho de Minas Gerais pro Rio, que também sou eu de Minas pro Rio e o trem porque ela vai embora fugida num trem e aqui um céu assim lindo porque é as nuvens se abrindo pra uma vida nova.
P/1 – Aí você passou pra esse aqui.
R – É, porque aí, depois ela colocou umas músicas assim meio pesadas, assim, um clima de, não sei, uma coisa mais violenta, sabe, e aí isso aqui é pra ser uma cara assustada, que ela ta assim meio, a boca aberta, cansada, cansada de tanto lutar, cansada de tanto sofrer, cansada de, sabe assim, suor, cansada de passar por tanta coisa, tanto desespero, sabe, mas aqui nessa cabeça toda aqui nunca desiste, sempre corre atrás, sempre sonha, da mesma forma que eu, desenhar ela é quase que me desenhar e foi isso.
P/1 – Conceição, vamos caminha r agora chegando um pouquinho pro final, quais são as suas perspectivas a partir de agora?
R – Ai.
P/1 – Perspectivas assim no sentido de sonho mesmo.
R – Sonho? Vou te falar que esse é o sonho, sabe, muito mais, Deus me deu muito mais do que eu podia imaginar nessa vida, sabe, mas o que eu mais quero agora é que todo mundo goste não adianta tudo lindo, me esforcei aqui, mas o negócio tem que ficar bom então tomara que todo mundo goste de como foi, que é um registro pra minha vida registro do primeiro trabalho assim e com certeza o mais importante porque abriu a porta assim, nó, abriu a porta pra nova vida mesmo, assim, uma vida, eu digo, não sei, de realização pessoal, sabe, então eu amei e to amando fazer tudo, sabe, às vezes corre, não tem tempo: “Vai lá, não sei o que”, mas eu não ligo pra nada, pra mim ta tudo lindo, tudo ótimo, ta atrasado, ficar até tarde, ta com fome, não entra nada, pra mim ta tudo bem, to longe de casa, to feliz. Então, ai, o que eu mais quero é que dê tudo certo, sabe, e que eu consiga continuar na carreira porque to amando assim, ah, muito bom, sabe, você sai da sua vida e vai viver uma outra vida por alguns momentos, nesse caso é quase que eu to vivendo a minha própria vida, mas assim, o seu tempo de parar e pensar como você vai fazer aquilo, sabe, eu to amando, quero muito continuar, espero, quero me preparar e tudo pra ta preparada e aberta pra, se Deus abençoar, surgiram outras oportunidades pra continuar a carreira, continuar o sonho, que a vida enfim é um sonho que você tem correr atrás todo dia, todo mundo busca o melhor todo dia e que isso continue, não é, e eu, acho que eu vou encarar como sonho essa profissão sempre porque, nossa, eu nunca imaginei que eu fosse conseguir e eu tenho só que agradecer a Deus, não reclamar de nada, só agradecer a Deus, tem muita gente que sofre na vida, passa tanta coisa ruim, fica reclamando, muita gente fica reclamando de barriga cheia, eu agradeço e não peço nada pra Deus, eu só agradeço todo dia, que eu to no céu.
P/1 – Você tem formação religiosa, você continua indo na igreja?
R – Ai, to sentindo falta de ir à igreja, que eu não to conseguindo fazer nada, mas eu sinto falta.
P/1 – Que igreja você vai?
R – Eu sou católica, minha família toda é muito católica, sempre acompanhei minha avó, ia em igreja, novena, terço, tudo, mais uma coisa dela também religiosa na série, mas aí eu tava nessa coisa da revelação do pastor, a minha amiga me levou numa igreja evangélica, que eu fui, não tenho essa coisa de preconceito com nada assim de religião, sabe, mas a, eu fui à igreja evangélica, quando eu fui adorei, até to sentindo falta aqui de ir lá, que eu me sentia bem, mas eu gosto é de ta perto de Deus e mesmo rezando em casa, tudo, eu sinto falta de igreja, eu sinto falta de ir, eu acredito em Deus totalmente, se não fosse ele eu não tava aqui.
P/1 – E quando, você pretende voltar pra Contagem, ficar no Rio de Janeiro, você já pensou sobre isso?
R – Eu não quero voltar pra Contagem, não , mas eu falo assim porque, nossa, eu demorei 27 anos pra chegar aqui, então eu quero ir, nossa, mas o futuro a Deus pertence, eu não sei como vai ser, mas eu não sei, não sei de nada ainda, mas quero muito ficar aqui pra trabalhar porque a minha raiz, minha vida toda lá, quando acabar vou lá ver todo mundo, contar pra todo mundo como é que foi, falar tudo, mas não sei, eu pretendo continuar aqui, pretendo uma nova vida aqui, se Deus quiser.
P/1 – Você ta namorando atualmente?
R –
To, to.
P/1 – Um rapaz do Rio ou de Contagem?
R – Do Rio , então uma nova vida se formando aqui.
P/1 – O que você achou da experiência de contar a sua história de vida pro Museu da Pessoa?
R – Ai, é muito bom, é um registro pra vida, isso vai ficar mostrar pros meus filhos, meus netos e é legal essa coisa de compartilhar a sua experiência com outras pessoas, saber da vida de outras pessoas, que às vezes você vê uma pessoa, por exemplo, na televisão, falar assim é até estranho, me ver na televisão, nem eu nunca me vi, então você acha que a vida dela é um sonho que ela nasceu na televisão você vê um ator, uma atriz, acha que ávida dela é totalmente diferente de qualquer outra pessoa do planeta é como se fosse um extraterrestre, mas é uma vida normal, a pessoa já passou por coisas normais, ela passa por coisas normais e todo mundo tem uma história assim bonita pra contar e o Museu eu acho que da essa abertura de mostrar pros outros essa vida interna, porque acaba que a gente vai soltando as coisas e aí você pode conhecer um pouquinho do interior das outras pessoas, tanta história que a gente nem imagina que tem por aí e aí até já dei uma olhada numas histórias lindas e eu to feliz de fazer parte dela, quem diria que um dia eu estaria no Museu da Pessoa, que eu estaria contando uma história dessa.
P/1 – Pro Museu da Pessoa você pode convidar até seus parentes, todo mundo faz parte da história.
R – É, qualquer pessoa pode estar e tem tanta história, nossa, incrível que tanta gente tem, é muito lindo essa ideia, adorei, quando me contaram, antes de vocês chegarem me falaram, quando me contaram eu já tava: “Nossa, que ideia legal”, tudo e eu contei pra um monte de gente, que eu achei lindo, eu não sabia que tinha, achei lindo.
P/1 – Nossa, a gente queria agradecer em nome do Museu você ter compartilhado a sua história tão bonita, obrigada.
R – Ai, obrigada, eu que agradeço.Recolher