IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Sidney Roos. Nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1950. INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei na Petrobras em 1973. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Meu primeiro trabalho foi em Belém, no final de 72. Eu, recém-formado em Geologia em Porto Alegre...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Sidney Roos. Nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1950.
INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei na Petrobras em 1973.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Meu primeiro trabalho foi em Belém, no final de 72. Eu, recém-formado em Geologia em Porto Alegre. Como naquela época tinha bastante emprego, a gente podia escolher. Foi uma época muito boa. Optei pela Petrobras. Por quê? Porque ia ser mandado para Belém e para Amazônia. Eu queria muito conhecer a Amazonia. Aí eu fui para Belém do Pará, em 73, a primeira cidade, dentro da Petrobras, onde comecei minha experiência de geologia, como estagiário. Vim para cá, Natal, alguns anos depois. Antes disso, já tinha sido transferido para outros lugares. De Belém fui para Salvador. Deixa contar uma partezinha, lá de Belém, como foi no inicio. Eu trabalhava em sondas do Amazonas ao Acre e na plataforma do Amapá. Trabalhava com jogos de poço, a gente começa em poço. A gente atendia, também, a região do Rio Grande do Norte.
O primeiro poço que acompanhei foi o Rio Grande do Norte Submarino número 2, segundo poço furado aqui na plataforma continental. Eu era o geólogo, lá do poço, porque aqui não existia uma base, para dar esse acompanhamento no ano de 73. Logo depois, também trabalhei no Submarino número 3. O terceiro poço, justamente, o descobridor do Campo de Ubarana. Eu estava lá, quando se descobriu o Campo de Ubarana, nosso maior campo marítimo. O geólogo que estava acompanhando o poço, era eu. Então, já tinha uma ligação boa com o Rio Grande do Norte.
Depois, ainda lotado em Belém, surgiu uma notícia que tinha um poço aqui no interior do Estado, em terra, na região de Carnaubais. Um poço de água, furado numa fazenda, estava saindo petróleo e o pessoal: “O que será que é isso?”. Aí, me mandaram de Belém para cá. Vim sozinho aqui para Natal, peguei o helicóptero até a cidade de Carnaubais e fui procurar o poço. Achamos, lá, uma sondinha de água pequena.
Desci e passei 20 dias numa barraca com os peões. O fazendeiro me deu apoio, para descrever as amostras e constatei, que realmente tinha óleo no poço. A avaliação na época, isso foi em 74, 75, não era comercial, era uma produção muito pequena. Hoje, a gente sabe que esse poço estava no limite, na borda de um campo nosso, aqui, chamado Campo do Estreito. Já era um prenúncio, que existia óleo nessa bacia. Então vim fazer esse serviço e voltei para Belém.
Depois disso, fui transferido, fui embora para Salvador. Trabalhei no Recôncavo, na Bacia de Campos, no Espírito Santo. Fui morar em Vitória, em Macaé e aí, no final de 79, começou a exploração mais intensiva, aqui, na parte terrestre. Por quê? Porque, lá em Mossoró, estava sendo construído um hotel, com 10 piscinas de águas térmicas, águas termais. Furaram um poço de água, para abastecer as piscinas, para o hotel começar.
Quando abriram o poço o que saiu foi óleo. Sujou todas as piscinas, esculhambou totalmente com o hotel e aí, pô, o pessoal chamou a Petrobras. “O que está acontecendo aqui?”. Eu nem estava aqui, ainda, o pessoal foi e resolveu furar um outro poço mais bem construído. Descobriu que, realmente, tinha óleo no intervalo, que o outro estava com o revestimento furado, por isso tinha vazado esse óleo e contaminado a água. O pessoal não esperava que tivesse óleo.
Em 79, tinha havido uma crise do petróleo, a segunda crise do petróleo. O preço aumentou muito e chamou a atenção da Petrobras. “Pô, esse negócio agora, mesmo que seja produção pequena, um a dois metros cúbicos por dia, cerca de seis a dez barris por dia, já é uma coisa econômica, hoje”. Quando eu tive aqui em 74, 73, não era econômico ainda. Agora passou a ser. Então, fiz uma viagem de Macaé para o Rio, em 79 - eu estava em Macaé nessa época - para apresentar umas locações da Bacia do Espírito Santo. Aí, o chefe da Divisão de Interpretação, que era o geólogo Bacocoli, me chamou no final da apresentação e disse: “Você não quer ir para Natal chefiar a Divisão de Interpretação, que a gente vai criar lá, porque está saindo óleo?”. E me contou essa história do poço de Mossoró. “Está saindo óleo lá e a gente está meio perdido. Estamos querendo furar, mas, não tem ninguém para fazer o trabalho. Estamos querendo mandar uma pessoa
para começar esse serviço. Então, você vai, pega uma equipe de geólogos, que já está em Natal, monta uma equipezinha, e vê o que pode fazer” e continuou: “Não vamos mandar nem um geofísico com você, porque lá tem muito pouco levantamento sísmico. Talvez, não seja necessário um geofísico, você vai sozinho”. Por esse motivo, vim começar essa exploração, a partir desse poço que saiu óleo na piscina, lá de Mossoró. Chegamos aqui e começamos a ver. Já tinham três campos descobertos na época, baseados em outros poços, que também tinha saído óleo. Na fazenda Belém, em Aracati, no Ceará, e mais um outro, perto de Mossoró, chamado fazenda São João. Já existiam três campinhos. Aí comecei a propor novas locações, primeiro perto desses campinhos para ir desenvolvendo. Na medida em que o tempo foi passando, o trabalho era muito interessante, a gente trabalhava muito com geologia de superfície. Método não tão convencional porque, em outras Bacias, só se usava sísmica de reflexão, para ver isso em superfície.
A gente ia para o campo com a equipe, procurava poços de água que saía gás. Tinha gente que sabia, de relatos e de pesquisa na bibliografia, e assim foi achando. Perto dessas ocorrências - que existiam no campo, a maioria reportada em relatórios perdidos - a gente ia furando sempre poços vizinhos. Também existia uma sísmica feita aqui. Mais ou menos em 74, 75, houve um levantamento sísmico, de uma equipe da Petrobras, que não tinha sido muito usado, ainda, para perfuração. Era um levantamento bem regional, não tinha densidade suficiente para você fazer uma exploração sistemática, mas eu usava essas linhas.
Então, cada linha que tinha uma indicação, que poderia ter alguma coisa de óleo, a gente resolvia furar um poço. Como os poços eram, mais ou menos, rasos e a Petrobras estava com vontade de investir, no primeiro ano que eu estive aqui acabamos furando 31 poços. Aí a coisa foi crescendo. No ano seguinte, em 82, já furamos 62 poços, o dobro do primeiro ano, de 80.
Nesse segundo ano, descobrimos um campo novo chamado Alto do Rodrigues, fruto de um trabalho feito, também, por um geofísico lá do Rio de Janeiro, chamado Bacar. Ele pegou o mapa da bacia e fez algumas indicações. Olhou todas as linhas sísmicas existentes, não eram muitas, e marcou onde poderia ter chance. Apresentou esse trabalho no Rio, aprovado pela Gerência Geral de exploração, me entregou o mapa e disse: “Leva esse mapa. Aqui tem 20 oportunidades de poços. Você pode furar todos esses. Preparem os prospectos e furem”. Dentro desse trabalho, acabamos furando 12 , e um deles foi o Alto do Rodrigues.
UNIDADE CAMPO DO ALTO DO RODRIGUES Campo do Alto do Rodrigues é um campo que, até hoje, está produzindo óleo. É situado numa região muito importante, que depois se revelou um trem petrolífero. A partir desse dado, aí sim, já em final de 82, 83, chamamos uma equipe sísmica para cá, criamos uma equipe sísmica nova, desmembrando uma que tinha na Bahia. A gente pegou uns instrumentos e cabos, mais antigos da equipe da Bahia, trouxe para cá junto com algumas pessoas, que sabiam fazer o serviço. Fizemos uma sísmica em cima desse poço que eu falei, do Alto do Rodrigues, ao longo de um trem de direção mais ou menos nordeste, que a gente imaginava ser a direção dos campos.
UNIDADE UN-RNCE Uma dessas linhas, chamada 7410, porque o nome da equipe era S74, se revelou cheia de campos de óleo. Descobrimos logo o campo de Estreito, depois Monte Alegre, São Luiz, Fazenda Pocinho, Palmeira, Guamaré, vários campos alinhados. Aí, que a bacia na verdade deslanchou, em termos de produção. Tenho orgulho de ter participado desse inicio.
Tem uma história engraçada em Mossoró. Logo no início, fui para o campo junto com um colega, para procurar algum lugar, dentro da cidade de Mossoró, que pudesse furar outros poços. Porque, como tinha dado óleo no poço do hotel, a gente queria ver se aquilo lá tinha extensão, se era um campo grande ou não. Só que era dentro da cidade. O que a gente podia fazer? Não podia, daqui, escolher um lugar para furar. Eu tinha que ir lá, ver onde era possível. Então, encontrava um campo de futebol, “aqui dá para furar”. Encontrava uma praça, “talvez aqui caiba uma sonda para ser furada”. Dessa maneira, a gente conseguiu uma meia dúzia de locações dentro da cidade, lugares bem escolhidos. Assim, foi se furando e os poços foram dando a resposta, foi dando óleo. Então, tem umas peculiaridades muito grandes da nossa Bacia. Na verdade, tinha um outro departamento da Petrobras que cuidava disso, mas o pessoal era muito receptivo. Eu lembro que, na primeira vez que eu fui a Mossoró, fazer esse tipo de trabalho, eu tinha visitado a Escola Superior de Agronomia que existe lá. Tinha um professor chamado Vantan Rosado, o nome dele é francês, tem uma família inteira, que é só nome de números -19, 18, 17, 20, 21, ele é o Vantan. É um professor, diretor da Escola de Agronomia, e criador de uma coleção de livros, uma coleção mossoroense. Ele edita e publica vários tipos de livros, sobre a região nordeste, principalmente Mossoró. Ele já havia feito vários livros escritos, compilados também de outros autores, sobre petróleo, porque acreditava, desde muito cedo, que Mossoró tinha petróleo.
Criança, ele já tinha visto aparecer um oleozinho ali num poço de água, aqui, acolá. Então, quando ele soube que eu estava na cidade, junto com um colega, procurando área para furar, me procurou à noite no hotel, com um mapa na mão e disse: “Pelo amor de Deus, fure um poço aqui no terreno da EZAN, da nossa escola de agronomia, porque se der petróleo vou ficar muito contente. É isso que eu quero, mas se não der a gente vai usar o poço para água, porque a EZAN precisa de um poço de água, também”. Achei até interessante. Ele era uma autoridade muito grande da cidade. Estava muito entusiasmado com o trabalho da Petrobras, porque acreditava naquilo. A gente tinha chegado lá, para executar aquilo que ele acreditava. Que lá tinha petróleo e, hoje em dia, a gente sabe que tem realmente muito, vários campos. Durante muito tempo, os poços eram abandonados: “Ah, isso tá contaminado com óleo, vamos fechar”, cimentavam o poço. A gente, fazendo um trabalho mais específico, consegue isolar o intervalo do óleo e o intervalo da água. Você pode usar só a água, desde que esteja isolado o óleo. Então foi um trabalho de interação, bom para todo mundo. A gente sempre foi bem recebido, inclusive, quando a gente furou um poço dentro de uma praça, lá de Mossoró. Entre duas caixas d’água da cidade, a gente conseguiu botar uma sonda e furar um poço. Naquela época, a sonda trabalhava até à noite. Acredito, que a população tenha ficado incomodada. Mas, o pessoal que estava no poço dizia que não, que era uma festa, o pessoal passava a noite olhando aquele negócio trabalhando, tudo iluminado.
Hoje os tempos são diferentes, existe o controle do meio ambiente, você não iria furar dentro de uma cidade, à noite, teria que parar. Mas isso aí, na década de 70, era um pouco diferente. Teve bastante aventura no meio da história, houve uma coisa interessante por volta de 82. Foi a autorização de se fazer concessões de contrato de risco aqui, na nossa bacia, principalmente na parte terrestre. Foram feitos no mar, também, alguns. O presidente Geisel, na época, promoveu essa abertura, ele disse: “Bom, a Petrobras vai tomar conta disso. Ela vai gerenciar, mas nós vamos abrir as bacias, para as outras empresas também furarem”. Na idéia dele, quanto mais empresa, mais dinheiro é investido, melhor para o País.
Então foram abertas áreas aqui e a regra foi a seguinte. As áreas, que a Petrobras já tinha produção de óleo, ou que já existia algum poço programado, para serem perfurados, ficariam com a Petrobras. Tudo em bloco, assim, de 50 quilômetros cada. O resto da bacia ficaria aberto para o contrato em risco. Houve empresas tipo Azevedo Travassos e outras companhias de engenharia. A Camargo Corrêa foi outra empresa que veio. Eles pegaram áreas aqui, furaram alguns poços, fizeram levantamento, mas eles não acharam, praticamente, nada. A Azevedo Travassos achou quatro acumulações pequenas.
Mas, o que eu queria contar é o seguinte. O nosso maior campo em terra, se chama Canto do Amaro, e estava na área aberta. Uma companhia dessas, pegou uma parte dessa área, mas não chegou a furar, devolveram sem encontrar o óleo. Isso foi entre 82, 83, nessa faixa. Até 84, eles trabalharam nisso. Aí, em 85, fomos lá com um geofísico daqui,
hoje está trabalhando em Macaé, que propôs uma locação chamado Canto do Amaro 1 e descobriu um campo. Ele achava que tinha 3 quilômetros e meio de área e, à medida que a gente foi furando para estender o campo, chegamos à conclusão, que o campo tem 60 quilômetros de área. É o maior campo do Brasil em terra, equiparado talvez ao campo de Carmópolis, em Sergipe, que é equivalente, mas acho que a produção aqui, talvez, seja maior. Lá tem mais óleo de reserva, mas a produção em si é menor. Então, a gente correu o risco de outra companhia achar esse campo e eles acabaram não achando, apesar de ter a chance. Isso foi um marco muito grande, também, na nossa história da exploração, principalmente terrestre, Apesar, de ter acompanhado o primeiro poço no mar que deu óleo, eu vivi, mais, nessa parte terrestre. Foram 4 anos de muito trabalho. Um trabalho muito intenso. A gente não tinha dia, não tinha noite, nem fim de semana, mas gostava do que fazia. Foi muito bom. Depois fui embora. Em 85, surgiu uma oportunidade de ir para Angola. Estava explorando um bloco e tinha um geofísico, lá do Rio, que ia e me convidou. “Você não quer ir comigo?”. Estava precisando de um geólogo. A gente vai fazer uma exploração de 2 anos, na parte marítima de Angola, pela Braspetro. Saí daqui e fui lá, uma nova aventura. Foi um trabalho bom, uma experiência de vida muito grande. Um pouco diferente, porque o país estava em guerra, Mas, o fato de ter trabalhado na Braspetro, também, foi uma coisa muito boa na minha vida. Passei esses 2 anos lá. Aqui já tinha muito mais gente, tinha geofísico... nós tínhamos trazido várias equipes sísmicas, o trabalho foi engrenando e a bacia se desenvolveu e produziu. Em 86, quando voltei, tinha até pessoas, colegas, que queriam que eu ficasse no Rio, na Bacia de Campos, aí eu disse: “Não. Gosto muito da Bacia Potiguar. Deixa, eu passar um tempo lá”. Eles concordaram: “Está bem, você fez um trabalho bom lá. Pode voltar, depois a gente conversa”. Até hoje estou aqui. O pessoal, não sei se me esqueceu ou ficou ressentido de me tirar daqui, um lugar que eu trabalho há muito tempo, 23 anos, praticamente. Gosto muito daqui e sempre me lembro do início, o chefe, o Bacocoli, me chamou e disse: “olha, você vai lá, pode ir sozinho, tenta, vê se lá dá alguma coisa. Se não der em nada a gente fecha”. Deu nisso tudo. Hoje, a gente descobre cada vez mais, está produzindo bem e ajudou muito, no desenvolvimento desse Estado, dessa região.
ENTREVISTA Achei uma iniciativa boa. Já faz alguns meses, que ouvi sobre esse projeto. Aí fiquei pensando, “olha, vou participar”. Várias pessoas, que trabalharam comigo nessa época, hoje, estão aposentados ou trabalham na Agência do Petróleo lá no Rio de Janeiro, me falaram. A semana passada, mesmo, estive em Saltlet City num congresso da PG, nos Estados Unidos. Encontrei um colega, o Araripe, que trabalhou muito comigo, só que ele no Rio e eu aqui, mas na mesma área, ele disse: “pô, você tem que escrever para isso. Daqui a pouco você se aposenta. Tem que escrever essa história. Tudo aquilo que a gente viveu lá, ninguém sabe, escreva”. E eu digo: “tá bom”. Realmente, quando a gente começa parar, para escrever e lembrar a sua memória, é hora de se aposentar. Por enquanto, ainda estou trabalhando, descobrindo óleo. O dia que eu achar que devo parar, um meio ano antes, começo a escrever. Então, já que eu estava com essa idéia, esse projeto se encaixou muito bem. Não estou escrevendo, mas, pelo menos, falando durante uma meia hora, contando alguma coisinha. Já é um passo bom para a gente se entusiasmar e, talvez, no futuro, escrever até um pequeno livro. Tem, sim, muita coisa. Tem muita gente que participou comigo. No início eu era o chefe dessa divisão, mas sempre com uma equipe, ninguém faz nada sozinho.Recolher