Quero falar de uma lição com a qual preciso lidar quase que cotidianamente. Supero, extrapolo, mas quando olho para o lado, olha ela ali à espreita, me esperando para me fazer ressenti-la e ressenti-la por vezes e vezes ao longo da minha vida.
Foi assim como a mãe, irmãos, pai, até com minha f...Continuar leitura
Quero falar de uma lição com a qual preciso lidar quase que cotidianamente. Supero, extrapolo, mas quando olho para o lado, olha ela ali à espreita, me esperando para me fazer ressenti-la e ressenti-la por vezes e vezes ao longo da minha vida.
Foi assim como a mãe, irmãos, pai, até com minha filha no período da adolescência. O interessante é que quando minha existência não é rejeitada, é gigantescamente libertadora, pois alcanço o inalcançável, surpreendo, extrapolo e surpreendo-me.
Minha profissão é, por circunstância, retirar, expelir, tirar fora dos processos e quando ocorre comigo, embora processe muito bem, intriga-me o motivo por que alguns filhos são tão amoráveis e outros tão descartáveis. Alguns alunos são tão queridos e outros tão dispensáveis. Uns tão convidados, outros tão esquecidos? Interrogações que me levam a observar e reflexionar sobre onde falta a cola, o amálgama? Talvez o que digo que cola as relações: a confiança.
E viajo na minha história para perscrutar o quanto essa confiança acontece, qual a dimensão, a disposição, a profundidade. As respostas borbulham, mas vejo que o pé atrás, é um elemento que não abandono.
Desprego-me antes que me despreguem. Largo antes que me larguem. Sigo antes que me soltem. Abandono antes que me abandonem. Vomito antes que me vomitem.
Olhando esse texto, parece que sou solitária. Não, não sou, também não me enquadro no perfil depressivo de ser. Em mim reside uma saudade de algo que cola e faz permanecer. Não sinto essa substância na minha vida.
Sou descolada, desapegada e digo não sentir saudade.Mentira! Sinto sim. Mas não é uma saudade dona, de propriedade, de cerceamento. É uma saudade do ter, saborear e deixar ir.
Saudade do colo e abraço do meu pai. Do sorriso escandaloso da minha mãe, saudade dos meus irmãos que vi bebês e hoje não se percebe nenhum rastro de vínculos, de desejo de estar perto, saudade de uma relação verdadeira, reta e direta. Tenho uma relação, mas não sei se com esses atributos.
Saudade de uma Universidade que ainda não consegui ingressar como doutoranda, apesar das inúmeras horas de estudo em detrimento de viver o azul do céu, o verde do mar, a brisa no rosto, o calor do sol, o frio e o som da chuva com o qual me divirto e me encanto.
Saudade de alguém que poderia estar em melhores condições de aceitabilidade se ainda criança não tivesse vivido rupturas drásticas do deixar para trás, tal como o filme Esqueceram de mim. Saudade de algo que sei que tenho, mas não dou conta de usar, a cola que une pessoas, pois esperando o descolamento, prefiro não colar.
Assim, vou vivendo um sentimento de cada vez, escolhendo o que viver, como que catando feijão, separando as pedrinhas, as cascas, os feijões quebrados, para colocar na panela apenas o que acredito me fará bem.
Duras escolhas, afastamento, acautelamento, buscas para dentro e enfim...vida que segue caminhando vagarosamente em direção ao sorriso do viver.Recolher