Meu nome é Gilney. Eu sou 100% nordestino. Moro no mesmo local, onde passei a infância, até hoje, e costumo dizer que é devido à classe social não muito favorecida. Cresci em meios a dificuldades e com problemas sociais pelo local onde moro, mas minha família é tranquila. Meu avô faleceu de...Continuar leitura
Meu nome é Gilney. Eu sou 100% nordestino. Moro no mesmo local, onde passei a infância, até hoje, e costumo dizer que é devido à classe social não muito favorecida. Cresci em meios a dificuldades e com problemas sociais pelo local onde moro, mas minha família é tranquila. Meu avô faleceu devido ao álcool, e existe um problema de alcoolismo da parte de minha mãe. Essa localização complica a inserção no mercado de trabalho, você acaba tendo outros meios mais fáceis de ganhar dinheiro, caminhos mais rápidos. A oportunidade de se envolver com drogas, tráfico, prostituição e roubo torna o caminho mais fácil.
Eu passei por essas situações. O uso de drogas na adolescência, tráfico moderado e prostituição. Eu era um pouco mais jovem, adolescente, com dezessete anos, e comecei pelo desejo de conseguir as coisas, acreditava que era mais fácil. Maconha, depois cocaína. Na verdade, experimentei diversas. Eu lembro muito bem, acreditava que na criminalidade existia um respeito, um respeito perante a sociedade, de ser poderoso. Você acha que as pessoas querem seu respeito pois estão com medo, já que você está envolvido com drogas. Era ter o poder do tráfico, o respeito da sociedade e o poder aquisitivo. Então era no que eu acreditava mais novo.
Meu pai, por viajar muito, ficava um pouco à parte, então não sabia. Já minha mãe, sabia melhor do que acontecia, mas ela não perguntava porque era uma fase de transição, eu já trabalhava. Sempre trabalhei. Desde quando comecei a usar, sempre tinha na cabeça que eu tinha que comprar com o meu dinheiro, então trabalhava em diversos lugares, lavava carro, grampeava jornal... Eu tive uma evolução no trabalho. Quando eu tinha mais de quinze anos, tive a oportunidade de ser jovem aprendiz. Tornei-me auxiliar administrativo e eles pagaram o curso.
Fui trabalhar numa empresa como técnico de informática há muito tempo também, antes dessa experiência. Logo depois fui estagiário do Tribunal de Justiça. Saindo, ingressei na Marinha Mudou, que minha postura com a sociedade, respeito ao próximo, com o nível hierárquico. Passei um ano. Nesta empresa que trabalho, decidi fazer um curso mais rápido, que é da área que eu atuo, decidi fazer um investimento. Passei esses dois anos no curso de Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos e sou recém-formado. Trabalho agora no setor de Recursos Humanos no Departamento Pessoal e faço essa parceria aqui com esse pessoal do Projeto ViraVida. Faço entrevista, seleciono os jovens... Estou no lado oposto agora dessa situação.
Para os jovens que vêm de uma situação de vida mais delicada, saber que o Projeto tem o intuito de se desenvolver com eles, dar uma oportunidade... Eu os recebo dando continuidade, buscando ao máximo desenvolver o potencial de cada um, pois trabalhando você consegue, dando alimento você consegue uma produção de cada jovem. Eu os vejo como uma semente que não foi regada, à que não foi dada atenção, que não tomou sol, que não germinou. Então, como já vim de uma experiência de vida e profissional, como eu sou responsável, é com a maior gratidão que eu os recebo. Transpareço e mostro os caminhos a serem seguidos, as possibilidades a serem criadas. Eu rego aquela sementinha.
Tive uma formação melhor por causa da minha família. Até hoje eu moro com meus pais, tenho uma estrutura e me dou melhor com eles hoje em dia. Quando você tem um entendimento melhor, você já passa a ter um relacionamento melhor. Muitos deles são as primeiras pessoas na família a ter uma carteira profissional, um registro por ser inserido no mercado de trabalho. Eu os procuro por um lado muito básico, um intelectual ainda não muito desenvolvido. Em muitas atividades dá para medir a capacidade de desenvolvimento, de crescimento, de atenção.
A reação deles é positiva, eu vejo muito interesse. Converso um pouco sobre a vida, sobre o que se espera. Você vê a força de vontade de estar ali buscando uma instrução, uma continuidade na vida profissional, uma qualidade de vida. Muitos já são pais e tem uma família, você sabe que eles estão ali não somente em busca de um crescimento profissional, mas também pessoal.
Eu me vejo super grato por ser o mínimo que eu posso fazer para ajudar as pessoas envolvidas, quanto mais numa situação dessas, delicada. Eu fico muito agradecido e isso me motiva muito mais a ir em busca dos meus ideais, dos meus objetivos nessa formação que eu tenho agora. E procuro, sempre que eu posso, fazer com que eles evoluam, com que eles cresçam a todo instante. O meu sonho é que eles sejam bem sucedidos profissionalmente e pessoalmente. E que um dia eu possa encontrar um deles na rua ou estar vendo na televisão, estar vendo eles inseridos numa atividade, em um programa, num cargo político, onde quer que seja. Numa atuação mais de nível oposto da de onde eles vieram. Eu me senti muito grato e realizado de ter dado oportunidade a um jovem, que muitos enxergam de incapacitado mas não deram oportunidade, não procuraram entender o nível social no qual eles estavam inseridos. A gente pode fazer o avesso de jovens, alimentar uma semente que não tá sendo alimentada, que não está sendo regada. Cabe aos tem o poder nas mãos ter esse trabalho de regar uma vez por dia e ver os frutos que essa árvore pode dar, né?Recolher