IDENTIFICAÇÃO
Rafael Rodrigues. Nasci em São Paulo, na capital, em 16 de julho de 1940.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Eu me formei em Arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil em 1966. No entanto, comecei a trabalhar com design em 1964. Eu estava no terceiro ano da F...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Rafael Rodrigues. Nasci em São Paulo, na capital, em 16 de julho de 1940.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Eu me formei em Arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil em 1966. No entanto, comecei a trabalhar com design em 1964. Eu estava no terceiro ano da Faculdade. Nesse período foi criada a ESDI – a Escola Superior de Desenho Industrial. Eu tinha certa vocação, enfim, certa intenção de fazê-la, mas para evitar parar e perder o tempo, o que eu já tinha feito, eu acabei concluindo o curso de arquitetura. Porém, a minha atividade profissional especifica foi, a partir de 1964, no escritório Aloísio Magalhães, de designer.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Na realidade, eu fiz um primeiro trabalho, um estágio no escritório do Paulo Casé, de arquitetura mesmo. Mas, em 1964, eu entrei para o escritório de Aloísio Magalhães e estou lá até hoje. O nome do escritório era Aloísio Magalhães Programação Visual – Desenho Industrial. Pela própria intenção e interesse do Aloísio, em 1976, ele propôs tirar o nome dele, porque tinha uma equipe que já estava assumindo as responsabilidades maiores, e nós passamos a chamar PVDI – Programação Visual Desenho Industrial. Um pouco depois, como PVDI era um nome muito hermético, nós passamos a chamar PVDI Design.
ALOÍSIO MAGALHÃES
O Aloísio teve uma formação bem diferenciada. Ele era bacharel de direito, mas voltou-se ainda estudante para a área cultura, de pesquisa gráfica. Então, ele se formou, mas não exerceu em nenhum momento a profissão de advogado. Foi diretamente para o campo das artes gráficas, participou de ateliês na Europa. Em Recife, junto com uma equipe boa, ele formou o que chamou de Gráfico Amador, que era um pessoal que fazia pesquisas tipográficas. Ele era o manager dessa área de tipografia, de ensaios gráficos. Depois, ele veio para o Rio, criou o escritório Aloísio Magalhães e daí em diante tem essa história ininterrupta.
Houve uma pequena passagem anterior por um escritório que se chamava MNP - Magalhães, Noronha e Pontual – Artur Lício Pontual, o arquiteto que também já morreu. Isso foi por um período de uns seis meses. Ele se desligou desse grupo e criou o Aloísio Magalhães Programação Visual – Desenho Industrial.
Ele foi um dos fundadores da ESDI, exatamente, junto com o [Karl Heinz] Bergmiller, com o Goebel [Weyne]. A ESDI tinha uma tendência para metodologia da Bauhaus, uma metodologia alemã, muito consistente. O Aloísio entrou como um amaciador dessa tendência, com uma proposta mais brasileira, mais intuitiva. Um dos pensamentos do Aloísio, que usamos muito até hoje, era reunir a intuição com a técnica, fazer um misto de percepção para não ficar nem só intuitivo nem só técnica.
DESIGN NO BRASIL / PVDI
Era totalmente desconhecido, a não ser por muito poucas pessoas que tinham um conhecimento mais eclético. Design, na época, chama-se programação visual-desenho industrial. Era uma profissão totalmente desconhecida. O nosso escritório – eu me sinto fazendo parte dele desde lá – foi certamente um dos precursores e é o escritório em atividade mais antigo do Brasil. Outros escritórios aconteceram, mas acabaram. Às vezes voltavam, às vezes acabavam. O nosso tem um história ininterrupta de 47 anos. Ele tinha que ter um aspecto extremamente didático para mostrar o que era o design, qual era o potencial, o que poderia ser feito. O escritório sempre teve a característica de didatismo, não só com os clientes, mas com seus próprios profissionais, que também eram ainda recém saídos de escolas e não tinham uma formação acadêmica muito aprofundada.
É um pouco difícil falar da influência do escritório, porque se vira o espelho para a nós mesmos, mas não tem como negar que o PVDI foi uma escola. Muitos profissionais importantíssimos que estão aí hoje passaram pela PVDI, aprenderam lá. Esse lado de ativos, que eu falei, serviu para formar um grupo de designers, não um grupo fechado, mas uma cadeia de designers muito importante que atua no Brasil hoje. Não vou ter a pretensão, logicamente, de dizer que todos passaram por lá, mas há um número bem significativo.
O Aloísio procurava uma adaptação da cultura brasileira, uma coisa um pouco mais intuitiva, mais solta, mas sem deixar de lado toda a parte técnica, toda a parte de metodologia, que é inerente ao próprio design. Seria até injusto negar que o escritório como um todo não tenha influência na formação da própria atividade de designer no Brasil. A história do PVDI se confunde com a história do design no Brasil, embora não seja exclusividade dela, quer dizer outros profissionais participam ou participaram, mas a influência da PVDI foi muito grande. Participamos, inclusive, da aceitação e formação de profissionais que entravam para a PVDI sem muita consistência técnica porque estavam recém saídos de faculdades, às vezes nem eram de faculdades. Pela própria natureza das nossas análises conjuntas e pela participação do Aloísio e nossa, havia muito diálogo e, com isso, um crescimento profissional contínuo.
Aconteceu o seguinte, o escritório foi criado em 1960. Em 1970, o escritório já era bem conhecido como criador de marcas, de imagens de identidade; de marcas muito importantes. Criava-se, principalmente, as marcas de bancos, como o Banco Boavista. Para toda instituição que pretendia se lançar ou se revigorar no mercado, na época, o escritório Aloísio Magalhães era uma referência muito grande. Havia um elenco grande de bancos e de empresas que estavam junto com o Brasil crescendo e querendo se lançar no mercado. O Unibanco, agora eu me lembrei, foi feito em 1964, para dar uma idéia.
MARCA BR / CRIAÇÃO
Em 1970, o escritório já tinha um prestígio muito grande em elaboração de imagens. Isso fez com que a Petrobras, através da sua Superintendência de Distribuição, nos procurasse. Ela nos procurou para quê? Porque houve uma decisão política, respaldada certamente pelos governantes da época, de fazer com que a Petrobras atuasse incisivamente no mercado de distribuição. A Petrobras sempre fez pesquisa, prospecção, refino e distribuição. Ela sempre fez todo esse percurso. No entanto, em 1970, o volume que ela operava com distribuição era mínimo. Ela só tinha 10% de toda a rede de nacional de postos. As multinacionais conhecidas dominavam 90% do mercado.
Então, como falei, houve uma clara intenção de entrar firme nesse mercado de distribuição, até porque nos outros, eles tinham o monopólio, mas na distribuição não. Quem cuidava da área de distribuição era uma superintendência, porque não existia uma subsidiária. Essa superintendência nos procurou para criar uma imagem que pudesse reverter esse quadro. Eles falaram: “Nós vamos atuar fortemente no mercado de distribuição e a marca que nós temos...” – que era aquele losango amarelo com a palavra Petrobras enclausurada dentro dele. Eles detectaram esse problema e era verdade. Ela não tinha a menor condição de competir com marcas internacionalmente famosas como a Esso, a Shell, a Texaco, marcas já consolidadas muito fortes e feitas para atingir o mercado de varejo de distribuição. Então, eles nos chamaram. A primeira visão que tivemos foi a seguinte: “Olha, dá para fazer uma marca para a superintendência, mas o ideal seria fazer uma marca para o conjunto.” Porque a superintendência era uma parte de um corpo, uma parte da mão. Você não pode fazer um dedo da mão sem fazer a mão e sem pensar no corpo. Mas, por problemas conjunturais, não se podia fazer o todo, tínhamos que fazer naquele momento a parte, a superintendência.
O todo seria a Petrobras, que já existia como um conjunto, eles já faziam pesquisa, prospecção, quer dizer, não tinham a configuração que o sistema Petrobras tem hoje. A Petrobras não era só distribuição. Até as outras áreas eram mais expressivas que a Distribuição. Como tínhamos que nos ater ao projeto específico para superintendência, nós fizemos isso: “Vamos tentar convencê-los de uma outra forma”. Aí, sim, nós com bastante calma e contundência, examinamos a questão com profundidade e vimos que, realmente, embora não se quisesse oficializar um trabalho que viesse de cima para baixo, do todo para a parte, devíamos assumir isso. Por isso, fizemos o BR inserido na palavra Petrobras.
O nosso sonho em 1970 era que um dia iriam perceber que não era BR Petrobras, era Petrobras BR, o que veio acontecer realmente em 1995 – mas não foi por acaso, foi por intenção nossa, nós nem insistimos. Apresentamos o trabalho. Como o trabalho também atendia às necessidades da Superintendência de Distribuição, ele foi aceito. Logicamente, ele foi levado à Presidência da Petrobras para ter um aval e teve, mas não se mexia dizendo: “Essa daqui vai ser a marca da Petrobras no futuro.” Não se falava nisso. Nós sabíamos que isso aconteceria pela própria abordagem que demos ao projeto.
IMPLANTAÇÃO DA MARCA BR
O trabalho foi apresentado para a Superintendência de Distribuição. Ainda não existia a BR Distribuidora. Esse trabalho ficou dois anos sendo feito e implantado; a rede nova acabou em 1970. O nosso trabalho – a criação BR, do verde, amarelo e azul e todo o sistema gráfico – levou três meses sendo feito, o que hoje seria um prazo quase que inviável, porque a agilidade do mercado não permite isso. O trabalho levou três meses e a implantação levou no total dois anos, exatamente, o período entre 1970 e 1972. Não era um prazo pré-estabelecido. Foi o prazo natural que a Petrobras teve para ir implantando aos poucos nos postos; ocorreu em dois anos. Nós entregamos o design entre o início e meio de 1970.
Eu acho que o superintendente da Distribuidora era o Carlos Sant’Anna, não tenho absoluta certeza, mas o pedido foi feito pelo superintendente. Ele achou ótima a idéia, aprovou o projeto, mas por um problema de estrutura interna, esse projeto foi submetido à Petrobras. A Superintendência não podia também aprovar um projeto sem o conhecimento da Petrobras. Então, ele também foi referendado, só que não tinha explicita citação: “Esse projeto é da superintendência, mas é para Companhia”, não se falava nisso.
Era um pedido para que fosse feita uma marca, quer dizer uma imagem maior que uma marca, adequada ao perfil da Superintendência e da Petrobras onde ela estava inserida e que pudesse ser competitiva no mercado de distribuição. Esse foi o pedido. Não se pediu para fazer verde e amarelo. O BR foi invenção nossa, nós criamos o uso da sigla BR. Não teve: “Vamos fazer um trabalho baseado em BR”. No nosso estudo de projeto, na avaliação, nós chegamos à conclusão que a maneira mais forte de caracterizar um núcleo, um dedo de uma mão era a través do BR que, muito mais do que o losango amarelo – antiga marca da Petrobras, que pretendia ser o losango da bandeira, não era totalmente preservado, porque tinha uma série de marcas que usavam o losango, inclusive marcas internacionais: Gilete, Dow Chemical. Demonstramos que se usássemos o BR como síntese do projeto, BR era uma sigla consagrada internacionalmente e aceita. Então, não teria como o BR não ser Petrobras, que é Petróleo Brasileiro.
EQUIPE E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
A direção dessa época era do próprio Aloísio Magalhães. Tínhamos uma equipe de designers, talvez uns seis, mais toda a equipe de produção, de apoio. Éramos entre seis e oito designers. Era uma equipe boa para a época. Como falei, levamos três meses fazendo o trabalho. Fizemos com bastante calma; mais do que calma, com muita profundidade para que não se errasse no projeto.
O pedido da Superintendência não era só a marca, eles queriam uma imagem. Uma imagem pode até ser focada numa marca, mas ela tem que ter mais elementos que a configurem. Então, não apresentamos só a marca, apresentamos uma imagem que tinha as marcas, tinha as cores, tinha o uso em uniformes, o uso em postos, o uso nas bombas, o uso nas embalagens. Tinha toda uma perspectiva de identidade visual. Isso é que faria com que a Petrobras pudesse atuar no mercado concorrente com as multinacionais que tinha, logicamente, uma identidade visual formada e feita dessa maneira, de uma maneira bem abrangente, bem ampla. O nosso trabalho foi feito com essa característica.
Era um grande trabalho da programação de identidade visual.
Fizemos um tipo de pintura para as bombas, um tipo de pintura para as testeiras de postos, um tipo de uniforme, mas do sistema de cobertura que tinha na época, dos três modelos de bombas que tinham, fizemos caracterizações de identificação gráfica. Mas não interferimos nem no posto, nem na cobertura, nem nas embalagens, nem nas bombas. Era só uma aplicação gráfica da imagem, da identidade visual nesses elementos.
Para que isso fosse implantado, foram feitos manuais de implantação de identidade visual, que mostravam como deviam ser pintadas as testeiras de postos, como deviam ser pintados os escritórios dos postos, como deviam ser identificadas e pintadas as bombas, como deviam ser os uniformes. Então, tinha todo um caderno, os normativos, os manuais que davam orientação de como fazer isso. Isso foi feito por um período de cerca de dez anos, de 1970 a 1980, mais ou menos. A implantação só não, mas a implantação e consolidação para toda a rede foi feita em torno de dez anos. Com esse trabalho que foi feito e, logicamente, com a intenção da Petrobras de mergulhar fundo no mercado de distribuição, ela teve apoio para passar de dez por cento de participação no mercado para quase 90 %, de inverter. Nesses dez anos ela cresceu; quer dizer, o nosso projeto permitiu que ela aparecesse firme e ela teve uma evolução muito significativa, invertendo o quadro que ela tinha inicialmente de dez por cento do mercado.
UMA LONGA PARCERIA
Na realidade, nesses 37 anos, nós mantivemos contato com a Petrobras. Não um contrato contínuo, mas sempre com alguns projetos específicos, algumas novas empresas que são criadas. Nesse caso específico, acompanhamos de perto a evolução desses primeiros dez anos. Estávamos sempre junto com eles, havia uma interlocução muito grande.
REVITALIZAÇÃO DA MARCA BR/ 1982
Agora, dando continuidade a isso, aconteceu o seguinte: a Petrobras, que tinha uma pequena participação, nesse período de dez anos, foi crescendo, crescendo, crescendo, chegou à liderança e, mais ou menos, ficou estável um tempo. Os concorrentes sentiram o impacto da imagem da Petrobras, no começo ficaram meio atordoados. A Petrobras continuou a crescer. Nesse período de dez anos, os concorrentes levaram um susto, mas também começaram a se motivar e criar condições de imagem mais competitivas. Isso fez com que em 1982, a Petrobras nos chamasse e dissesse: “Temos que reorganizar a imagem, não porque estamos perdendo a liderança, mas porque é importante revigorar essa liderança.” Aí, em 1982, havia um briefing muito particular que era: “a empresa verde-e-amarela que deu certo”. Isso foi um dado muito importante.
Nessa época, a Distribuidora já era uma subsidiária. Quer, dizer, o contrato inicial em 1970 foi com a Superintendência. Quando o mercado de distribuição começou a ter expressividade, a Superintendência virou uma subsidiária. Eu não sei exatamente o período, mas foi exatamente por isso, porque ela criou corpo. Eles nos deram esse briefing “uma empresa verde e amarela que deu certo” para fazermos a revitalização da imagem; para ir adiante: “queremos algo novo”. Aqui eu faço um elogio a Petrobras, porque ela é sempre muito ciosa do seu papel de liderança e de pioneirismo em todas as áreas, não é só na área de design, em todas as áreas, em pesquisa, no Cenpes e tudo. Ela está sempre à frente do mercado, está sempre inovando, sempre criando situações novas, seja institucionais, mercadológicas ou de comunicação.
Então, eles falaram: “Vamos revigorar, revitalizar esse projeto, caracterizando essa idéia de empresa verde-e-amarela que deu certo”. Por que isso? Porque nessa época, a expressão verde e amarela, as cores verde e amarela não eram muito bem vistas. Não que fossem mal vistas, mas não se usava muito. Considerava-se meio cafona usar verde e amarelo. Essas cores eram restritas às fitinhas de inauguração, quer dizer, não se tinha o conceito, a liberdade que se tem hoje de usar o verde e amarelo com bastante força, com bastante pujança. Então, eles quiseram exatamente sobrepor isso: “É uma empresa verde e amarela que deu certo.”
Eles queriam também inovar o mercado com uma feição nova para os postos. O Cenpes tinha pesquisado e ia lançar uma bomba eletrônica – as bombas até o momento eram todas mecânicas. E, no bojo desse projeto, revitalizamos a imagem não só da parte gráfica, com o redesenho do próprio BR, mas também da parte física. Aí, sim, entramos na configuração do posto como o ambiente, com a cobertura. Criamos uma cobertura em asa, que não existia, foi pioneira também. Criamos o desenho da bomba eletrônica cilíndrica, que tinha um bombeamento à distância criado pelo Cenpes. Quer dizer, a bomba eletrônica foi elaborada pelo Cenpes, e a bomba cilíndrica, nós é que demos a forma. Então, aí sim, criou-se a bomba, embalagens, novos uniformes. Foi feita uma integração de design para toda a imagem diferentemente de 1970, que só aplicava a imagem nas bombas existentes, nas coberturas e testeiras existentes. Esse projeto foi o que se chama de Integrado e Design – fez tanto a parte gráfica, como a parte física de desenho industrial de uma forma integrada, resultando numa imagem bastante ampla..
REDESENHO DA MARCA BR - 1982
O primeiro projeto em 1970, quando se criou o BR, criou-se um retângulo com as cores verde amarela e azul. Inclusive, respondendo ao sentimento do mercado na época, não se usou um verde amarelo convencional, que se usa para fitinha. Nós usamos cores de verde, amarelo e azul particularizadas. Se você comparar com a amostra de um amarelo normal, ela não era amarela, era mais alaranjada. O verde, também, era mais escuro, mas no contexto do verde amarelo e azul, ela ficava brasileira. Havia um receio daquele verde e amarelo não ser bem aceito.
Já na segunda parte do projeto, em 1982, o uso do verde e amarelo ficou mais cotidiano, mais humano, enfim, mais coloquial. Então, o que a se fez? Nós assumimos a conotação verde e amarela no seu significado mais simples, verde e amarelo mesmo. Tinha um eixo azul e a parte verde embaixo, suprimimos o azul, porque no conceito de “empresa verde e amarela que deu certo” o azul não tinha muito sentido. Então, sintetizou o BR novo com um BR branco escrito num campo verde, um BR vazado em branco, sobrealinhado por uma faixa amarela e a sobrelinha do BR branca ficava integrada ao BR. Quer dizer, tinha o BR, uma linha branca e a tarja amarela. Isso ficou muito mais síntese e permitiu um ganho de leitura muito maior em relação ao BR antigo. Isto é, o BR novo cresceu uns 40 % de tamanho em visibilidade, o que para a leitura do poste emblema – que são os balizadores de postes em estradas e cidades – era uma performance de leitura muito melhor. Nesse período também, nós inclinamos as letras BR da primeira versão, conotando a idéia de dinamismo da Petrobras.
Não havia a solicitação da Petrobras, mas nós sentimos que para representar o dinamismo da Petrobras, essa inclinação era importante e, por outro lado, ele não feria nada o BR anterior, você continuava a ler BR, quer dizer, não era uma modificação traumática, ninguém ia deixar de ler o BR se ele estivesse reto ou inclinado.
Então, foi mais uma adaptação para uma situação institucional nova, mas sem causar nenhum prejuízo para a imagem que já estava consolidada.
Isso é um fato muito importante. Ao se revigorar imagens, temos feito muito isso e o mercado em geral também. É preciso ter cuidado para não jogar fora o que se tem de bom. Inclusive, no escritório, no PVDI, temos muito o princípio de, por exemplo, se um cliente pede para revitalizarmos a sua marca, nunca temos a veleidade de jogar fora e fazer outra, porque não precisamos disso. Vemos o que tem bom na marca dele, mantemos o máximo possível, por quê? Porque com isso você está aproveitando toda uma veiculação que já foi feita para trás. Por que jogar fora e começar tudo de novo? Esse custo de veiculação é altíssimo e, no caso da Petrobras, tínhamos a certeza de que a mudança do inclinado para o reto, com a saída do azul, ia-se continuar a ler o BR tranquilamente nas duas situações. Quer dizer, a síntese dos dois projetos era BR.
A questão de implantação desse novo projeto era muito maior. Não era só a aplicação gráfica, tinha o desenho da bomba, fizemos vitrines para lubrificantes, as embalagens, as coberturas novas, então o projeto aprofundou muito. Nós fizemos manuais para implantar tudo isso. Foi um processo bem longo. Para uma linha de embalagem para o Lubrax. Nós fizemos toda linha de embalagem, mas do ponto de vista de rótulo, não de forma física. Eram embalagens existentes no mercado. De toda a linha Lubrax.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Tem até um fato curioso, não sei se interessa falar aqui, que representa um pouco isso. Quando fizemos o segundo projeto, na apresentação, resolvemos fazer um poste-emblema. Poste-emblema é o poste que caracteriza o posto. Só que não íamos fazer um poste-emblema imenso, porque seria até difícil transportá-lo. Queríamos fazer um poste emblema para fotografá-lo ao vivo na rua e iluminado à noite para mostrar à diretoria da Subsidiária da BR qual era o potencial daquele projeto, qual era a leitura que ele teria. Escolhemos um lugarzinho, um canto lá em Santa Tereza, e botamos um poste-emblema de uns três metros de altura, quer dizer, baixo porque geralmente eles têm cinco ou seis. Isso em 1982, já com o BR novo.
Aí, foi interessantíssimo, nós nos sentimos orgulhosos e falamos: “O projeto vai ser aprovado”. Por quê? Porque enquanto estávamos lá fotografando – não era filmagem, era fotografia – passou um indivíduo totalmente bêbado, olhou – ele possivelmente, conhecia só o BR do posto antigo – e falou: “Ih, aqui vai ter um posto BR” Então, ali nós sentimos que estávamos no caminho certo, porque se um sujeito bêbado identificava uma forma nova de caracterizar o BR, é porque estávamos certos.
INCORPORAÇÃO DA MARCA BR
Não sugerimos nada para a holding, porque não queríamos contradizer o que tínhamos pensado em 1970 e criar uma marca que não fosse aquela. Mas tínhamos uma intuição, um feeling que ela seria usada uma vez. O que aconteceu foi interessante. A holding Petrobras tinha uma marca que era um hexágono, que representava a notação química do benzeno – ela fazia uma referência ao losango inicial da marca –, mas era usado muito internamente, às vezes em refinarias, em alguns tanques ou no capacete de algumas pessoas. Ela tinha uma veiculação externa muito pequena. Nós, inclusive, achávamos que era um desperdício, se eles tinham o BR, para que iam entrar com um losango, junto com o BR, meio que competindo com ele. Mas não nos cabia emitir opinião sobre isso, porque não nos perguntaram.
Posteriormente, a Petrobras nos procurou numa situação interessante, o que nos deixou bastante orgulhosos. Eles fizeram uma pesquisa habitual, para saber como estava a marca Petrobras, como o público via o mercado e, inclusive, colocaram essa marca losangular do benzeno. Se não me engano, apenas um por cento das pessoas reconheceu essa marca como Petrobras e, não digo que 100 %, mas uma quantidade imensa, mais de 90 % das pessoas – aí houve uma grande modificação – identificaram o BR não como a marca da Distribuidora, mas como a marca da Petrobras – do poço até o posto. Quer dizer, todo mundo achava que aquilo não era só a marca da Distribuidora. Na realidade, legalmente, ela era só da Distribuidora. Nessa pesquisa eles detectaram que o público via essa marca como a Petrobras holding, no sentido mais amplo, do poço até o posto, e não como da Distribuidora. Isso foi em 1995. Aí, eles nos chamaram: “Olha, descobrimos isso aqui, vamos incorporar a marca da Distribuidora como marca do Sistema Petrobras para todas as suas subsidiárias. Queremos que vocês desenvolvam um manual sistematizando, normalizando todo esse uso.” Fizemos um manual de 400 páginas, que é um dos manuais mais densos feitos no Brasil, abordando todos os itens de veiculação do Sistema Petrobras, seja impresso, seja sinalização – a sinalização aqui do Edihb está nesse manual – seja uniformes, sinalização de terminais, de tanques. Quer dizer: em tudo o que o Sistema Petrobras e suas subsidiárias entram em contato com o público é contemplado nesse manual. Então, o reconhecimento do nosso trabalho feito em 1970, consolidou-se aí.
É algo raro de acontecer, mas eu acho também que – brincando um pouco – criamos uma armadilha, porque era impossível não usar. Era tão enraizado que não seria lógico, seria contraproducente fazer uma marca para a Petrobras holding, se ela já estava pronta, se o público já a reconhecia. Quem tinha que reconhecer? Era o público. Se ele já reconhecia, pra que fazer uma outra?
Em 1995, não fizemos alterações, só adaptações para situações de assinatura de subsidiárias que tinham configurações diferentes. Tinha com uma linha, com duas linhas, assinatura composta verticalmente, composta horizontalmente. Eram mais adaptações às necessidades, mas o BR ficou exatamente o mesmo. Modificação do ponto de vista estrutural, formal, não teve nenhuma.
Agregou-se a palavra Petrobras ao BR, porque a holding tinha que ser BR Petrobras. Era uma situação nova. Antes, já existia BR Distribuidora, BR Petrobras Distribuidora. Agora havia uma situação nova, que era a BR Petrobras, que era a própria causa de se fazer tudo isso.
Esse processo da elaboração do manual durou pelo menos uns seis, oito meses. Foi um processo longo, porque era um manual muito denso. Para dar uma idéia: são dois volumes de 200 páginas cada um. Ele é bem completo e é usado até hoje. Foi feito em 1995 e é usado para tudo: sinalização de campo, sinalização nas refinarias, nas bases, na fábrica de lubrificantes, quer dizer, em todo o sistema operacional da Petrobras, nos terminais, nos tanques, nos tanques de aeroportos, nos tanques de refinarias. Foi feito amplamente e está em vigor até hoje.
MUDANÇAS E ATUALIZAÇÕES
Eu acho que há uma necessidade de uma atualização, mas acho que é muito perigoso, ela tem que ser feita com muito cuidado para exatamente não se jogar fora o que se fez. Não podemos chegar: “Ah, não tem que ser feita mudança nenhuma.” Nós mesmos fizemos uma atualização, mas eu acho que qualquer mudança a ser feita, tem que ter muito cuidado para conseguir realmente ir adiante, sem jogar o tem para trás fora.
Você pode perfeitamente ver o potencial do teu trabalho – não estou nem falando da Petrobras em si, estou falando como uma tese – você deve analisar o potencial base que tem. Quer dizer, o que você tem, o que é extremamente significativo que você eventualmente não precisa mexer. Se mexer, é um detalhe pequeno, o que está defasado. Eu dou até um exemplo mais específico, pode ser até para a Petrobras: houve de 1995 para cá, uma grande mudança nos meios de representação, inclusive, de veiculação do próprio projeto internamente. Então, tudo o que foi feito até agora poderia passar por essa mudança não de cerne, mas de adaptação às novas tecnologias. Por exemplo, hoje em dia, há materiais diferentes para a sinalização. Por que as novas que vão ser feitas não podem ser modificadas? Tem maneiras novas de se reproduzir originais, porque não usar isso? Mas eu sou realmente cauteloso em mudar algo que está dando certo, só pela veleidade de mudar, entendeu? A não ser que se análise e se diga que não está dando certo. Aí é um dado irrefutável. Se tiver uma contestação que algo, em qualquer cliente não está dando certo, cabe ao designer ajustar aquilo ali. A imagem é feita pelo conjunto e ela tem um cerne, um foco que é a sua marca. Você pode, eventualmente, manter a marca e trabalhar nesse cerne, dando modernidade a esse conjunto, sem ferir o cerne, o núcleo do projeto.
O VALOR DA MARCA
Eu não posso nem dizer que leigamente, porque não sou leigo no assunto e também não fico restrito a só ver a marca aqui no Rio, eu tenho viajado a trabalho pelo Brasil inteiro, para alguns lugares no exterior, para Portugal, para a África. Eu sinto que a marca é o cerne, a marca é extremamente enraizada na população, no público em geral. Nem só no público consumidor da Petrobras, mas na comunidade brasileira. Eu a vejo como um patrimônio. Parafraseando o briefing de 1970 que era “uma empresa brasileira que deu certo”; eu posso dizer e me permito dizer que é uma marca brasileira que deu certo.
Tenho visto, inclusive, que a marca da Petrobras está bem posicionada no ranking. Quer dizer, o último conhecimento que eu tenho é de 2006, ela estava em sexto lugar no mercado, em termos de patrimônio, a marca como valor patrimonial. É até uma nova forma de se atribuir um valor à marca como ela sendo um patrimônio de uma empresa.
IMAGEM PETROBRAS
Eu só queria registrar que temos muito orgulho desse trabalho, de ter o reconhecimento nacional e dele ter resistido esses 37 anos. Eu acho que isso não acontece por acaso. Certamente não é por acaso. Como eu participei do processo desde o seu primeiro dia, e espero continuar participando ainda por algum tempo, eu sinto muito orgulho de ter acontecido isso, até por causa do design brasileiro, não pelo nosso escritório em si, mas pelo fato de o design brasileiro ter projetos com essa envergadura, com essa consistência e com essa qualidade.
Foi a primeira marca de âmbito nacional feita pelo escritório. Tiveram outras marcas que também são importantes: o Banco Nacional, o Unibanco. Elas são até anteriores. A marca de Furnas é nossa também e é mais ou menos da época da Petrobras. Mas a que teve uma implantação em nível nacional, uma configuração realmente nacional foi a Petrobras. Isso também veio, mais uma vez, mostrar o pioneirismo da Petrobras, de chamar para si a responsabilidade de adotar um projeto consistente e que pudesse ser usado por um período bem longo, bem extenso, que é uma característica da atividade de designer institucional, que não é efêmera, quanto mais aprofundada, mais consistente ela for, mais ela vai durar.Recolher