P - Eu queria que você dissesse seu nome, data e local de nascimento. R - Rafael Cruz Lima, São Paulo, 31 de março de 1984. P - O que você faz? Por que você está aqui no fórum? P - Eu estou estagiando. Na verdade eu estou num choque cultural comigo mesmo, uma coisa meio que freudiana, ...Continuar leitura
P -
Eu queria que você dissesse seu nome, data e local de nascimento.
R - Rafael Cruz Lima, São Paulo, 31 de março de 1984.
P -
O que você faz? Por que você está aqui no fórum?
P -
Eu estou estagiando. Na verdade eu estou num choque cultural comigo mesmo, uma coisa meio que freudiana, procurando me encontrar. Eu acho que através do fórum eu tenho uma possibilidade maior, através de uma outra cultura poder abrir a minha mente, basicamente é por isso que eu estou nesse fórum.
P -
Você trabalha com alguma coisa ligada a esta área de cultura?
R - De cultura não.
P -
Você trabalha com o quê?
R - Trabalho com estágio, papel, burocracia, uma coisa maçante e muito chata.
P -
Talvez um pouco por isso que você esteja buscando...
R - Talvez seja por isso, é uma coisa assim que eu não sei, eu sempre comento com as pessoas e outras também sempre dão uma dica. Falam: "Você não tem a ver com isso daí." E realmente acho que não tenho mesmo, na verdade você está ali, às vezes você está mexendo com um papel, você está trabalhando no estado, mas dentro de um aspecto burocrático é uma coisa que te limita muito a pensar, você fica um mecânico, você vira uma máquina, uma máquina humana. Então isso é uma coisa que, como eu já tinha dito anteriormente, eu estou aqui para isso, tentar mudar um pouco.
P -
Você conhece algum trabalho vinculado à memória? Algum tipo de projeto?
R - Profundamente não conheço, conheço, assim, sei de algumas coisas em museu; em Mairiporã, onde meu pais moram, tem um trabalho de resgate histórico da cidade, junto com os indígenas. Uma análise da cidade, que apesar de estar vinculada à metrópole, São Paulo, interligada, é uma cidade que até hoje tem uma raiz oligárquica, tem um trabalho em biblioteca.
P -
O que você conhece da história da cidade?
R - A cidade, Mairiporã, que significa aldeia pitoresca, ela foi na verdade colonizada, como vários lugares do Brasil, por terra de indígenas, mas conforme o passar do tempo e conforme a história nos mostra foi sendo colonizada e tirou um pouco os indígenas de cena. Foi interessante que foram surgindo famílias, então em Mairiporã, se um dia você tiver a oportunidade de visitar, você vai ver que tem família Fagundes, família Oliveira e que até hoje - passaram não sei quantos anos, porque eu tenho problema de memória, não me lembro quantos anos tem a cidade -, mas até hoje, se você perguntar: "Qual é o seu nome?" "Meu nome é João Fagundes." Você pode ter certeza de que se você perguntar ele vai discorrer um pouco, porque tem uma carga histórica muito grande oligárquica. A cidade em si começou
a se constituir politicamente por essas famílias e começou a dominar e dominam até hoje.
P -
Você sabe se você tem alguma ascendência indígena?
R - Tenho, eu não sei a minha... Porque lá em Mairiporã é o seguinte: não era terra de uma tribo, de um tipo de tribo indígena, eram vários, e eu nunca fiz um resgate antropológico para saber qual que era a minha, mas a minha bisavó era índia.
P -
Mas é Tupi?
R - É mais ou menos como Tupi.
P -
Parte de pai ou de mãe?
R - Parte de pai.
P -
E do lado da sua mãe?
R - Voltando só o do meu pai por causa de raciocínio, meu pai é o seguinte: minha bisavó é indígena, os pais da minha avó um era índio e o outro era italiano, e minha avó nasceu branca. O meu avô já era descendente de africano, moreno. E por parte da minha mãe meus avós são nordestinos, mas têm uma origem holandesa na família, porque João Pessoa, na época Paraíba foi colonizada; e português, só da minha avó é português somente.
P -
Uma mistura tipicamente brasileira.
R - Total.(riso)
P -
Na sua trajetória de vida, na sua história, da sua família, tem alguma coisa marcante?
R - Tem esses percursos, não digo comigo, mas uma coisa que me marcou, assim, bastante - que sempre ficam as impressões -, foi que eu perdi o meu avô com quatro ou cinco anos, era muito apegado, na seqüência eu perdi minha avó, e logo na seqüência meu pai sofreu um acidente gravíssimo, então foi uma coisa meio que dá um baque. É difícil lembrar de algumas coisa que eu fiz durante a infância, mas lembro, é uma coisa que me marcou.
P -
Será que você não lembra de uma coisa boa?
R - Boa...
P -
Sua infância você passou em Mairiporã?
R - Em Mairiporã, fiz muita coisa. Uma coisa que me marca, que dos sete aos doze anos eu fui meio que pela minha madrinha, que ela tem uma descendência japonesa, brasileira, mas os avós são japoneses. E para não deixar a molecada em casa eu sempre ficava com os filhos dela, colocou para ir numa escola de japonês e eu passei dos sete aos doze anos freqüentando a cultura japonesa. É uma coisa que hoje, eu parando para analisar, foi uma coisa que acrescentou demais, então é uma coisa que me marcou bastante.
P -
Você tem alguma outra experiência com alguma outra étnia, nacionalidade? Porque é uma mistura...
R - É uma mistura, é uma salada. Não tenho, que eu lembre, assim, eu não tenho, mas da cultura japonesa foi um negócio, assim, porque eu, com os costumes dos meus pais em casa, e você passar boa parte... Porque meus pais também, com essa sociedade moderna, pouco tempo com os filhos. E quando tinha o final de semana eu ia para esta escola de japonês, então era uma coisa muito diferente, mas é só.
P -
O que você acha deste projeto do museu, de memória?
R - Muito interessante. Particularmente eu conheci ontem por um amigo meu que está comigo. Ele falou: "Tem um negócio, tal, do museu, vamos dar uma olhada, fica na memória, fica na net digitalizado..." Aí falei: "Vamos." Aí eu vim.
P -
E tem mais alguma coisa que você queria falar? Alguma história para contar?
R - Historia tem, mas aí fica aqui uma hora, duas horas, e os outros batendo ali, tem bastante, mas acho que basicamente é isso daí.
P -
Muito obrigado pelo seu depoimento.
R - Obrigado.Recolher