Santa Cruz do Rio Pardo - Todo lugar tem uma história para contar
Depoente Sirley Adriana dos Santos
Entrevistador Alexandre Simão, Lia Cristina Lotito Paraventi
16 de outubro de 2018
SCRP HV 004
P/1 - Qual que é o seu nome, o local onde que você nasceu e a sua data de nascimento?
R - O meu no...Continuar leitura
Santa Cruz do Rio Pardo - Todo lugar tem uma história para contar
Depoente Sirley Adriana dos Santos
Entrevistador Alexandre Simão, Lia Cristina Lotito Paraventi
16 de outubro de 2018
SCRP HV 004
P/1 - Qual que é o seu nome, o local onde que você nasceu e a sua data de nascimento?
R - O meu nome é Sirley Adriana dos Santos, eu nasci em Ipaussu, minha data de nascimento é 23 de fevereiro de 1977, eu tenho quarenta e um anos.
P/1 - E qual que é o nome dos seus pais?
R - Meu pai chama-se João dos Santos e a minha mãe Maria Aparecida dos Santos.
P/1 - E o que os seus pais faziam?
R - O meu pai trabalhador rural e a minha mãe trabalhava de servente, merendeira.
P/1 - Em Santa Cruz mesmo?
R - Em Santa Cruz.
P/1 - E como é que você descreveria o seu pai e a sua mãe?
R - O meu pai, assim, uma pessoa trabalhadora, mas assim quieto, fica sempre na dele. A minha já era mais assim extrovertida, gostava mais de alegria, festa, de diversão mesmo, meu pai sempre no cantinho dele.
P/2 - Eles estão vivos?
R - A minha mãe já faleceu, faz dezessete anos e o pai é vivo ainda.
P/2 - E você nasceu em Ipaussu.
R - Em Ipaussu.
P/2 - E você passou a infância lá? Como que foi?
R - Não, eu passei a infância no sítio e quando eu estava com uns três, quatro anos nós viemos para Santa Cruz, aí já passei a infância aqui.
P/2 - A infância aqui.
R - É.
P/2 - Lá provavelmente você não lembra?
R - Não, não lembro.
P/1 - E a sua família, assim, tinha algum costume, alguma coisa que eles sempre gostavam de fazer juntos?
R - Sempre gostava de almoçar junto, reuniam os tios, os irmãos, os netos, sempre gostava de reunir, ficar em família.
P/1 - Quando você era um pouco menor assim, criança, você gostava de ouvir histórias? O pessoal contava história para você?
R - Não, não era muito de contar não, porque eles mais trabalhavam, a gente foi criada, assim, mais em creche.
P/1 - Com avós, alguma coisa assim?
R - Não.
P/1 - Eles não tinham esse (inint) [00:02:54]?
R - Não, que os nossos avós já eram bem de idade, então já não tinha muito aquela convivência.
P/2 - E você foi para a creche? Aqui em Santa Cruz você não morava em sítio ou morava?
R - A gente morava na Mombuquinha, nós moramos em um sítio.
P/2 - É um sítio?
R - É um sítio. Aí depois que a gente veio para cá para Santa Cruz.
P/2 - Mas a creche era onde, lá ou aqui em Santa Cruz?
R - Não, aqui em Santa Cruz, lá na Firmino (Maiane) [00:03:27] que nós íamos.
P/2 - Mambuquinha você fala muito desse sítio, na cidade, você teve sua infância lá? Você lembra alguma coisa lá?
R - Eu vim para cá com uns três para quatro anos. Lembro assim que eles falam, que a gente ia assim passear, então eles contavam alguma coisa, então...
P/2 - Mas você mesmo não lembra?
R - Muito pouca coisa.
P/2 - E que parte que você lembra assim da sua infância? Que brincava, ia para a roça trabalhar junto, não?
R - Não, a gente ficava mais para cá mesmo. Assim, a avó e os tios moravam lá até a gente ficar moço, então nós íamos lá nas férias passar uns dias lá, mas logo retornava para cá, que ninguém aguentava não.
P/2 - Conta para a gente essa história de a sua mãe colocar o armário para fora, os móveis.
R - Quando a gente era criança, a gente morava de aluguel aí o dono da casa pediu a casa para os meus pais, só que não tinha para onde a gente arrumar uma casa de imediato, aí a minha mãe, como era muito explosiva, pegou os móveis, colocou tudo para fora no quintal e eu e a minha irmã fomos para a casa da vizinha, o meu pai e o meu irmão foram para a casa dos meus avós, aí ela foi trabalhar fora. Quando conseguiram encontrar uma casa, aí reuniu toda a família novamente, mas deu trabalho.
P/2 - Você lembra o que você sentiu nessa hora assim? Você lembra o que passou na sua cabeça? O que...
R - Assim, eu senti abandono, porque a gente era criança, então a gente não tinha o hábito de viver assim para a casa dos outros, no começo foi duro.
P/1 - E quantos meses ou tempo que você ficou morando ali, com a sua irmã, na vizinha?
R - Nós ficamos mais de meses, que até encontrar uma casa. Aí foi, encontrou, assim, não era nem casa, eram dois cômodos e era, tipo assim, um cortiço, um monte de gente junto para viver.
P/2 - E vocês foram para esse lugar?
R - Aí depois a gente foi para esse lugar. Aí o meu pai, sempre assim, batalhando para dar alguma coisa melhor para a gente. Aí a gente conseguiu sair desses dois cômodos e fomos morar na vila mais acima, e chegando lá era, assim, parede meia, também deu trabalho, porque um vizinho com outro. E quando tem criança, as coisas só pioram. Aí depois ficamos um tempo nessa casa, aí a minha irmã mais velha, que estava no Mato Grosso, ela veio embora para morar com a gente, aí não deu certo lá nessa casa também, aí nós fomos morar na Vila Sidéria. Aí o pai encontrou uma casa lá, lá nós ficamos, assim, fomos criados, aí, graças a Deus, deu para o meu irmão comprar um terreno no Itaipu. Aí final de semana a gente vinha, construía um pouquinho, e assim fomos, aí construiu dois cômodos e um banheiro e a gente entrou, até terminar tudo. Ainda até agora, não é aquela grande coisa, mas dá para morar.
P/2 - E o seu pai está lá ainda?
R - É, o meu pai continua. Aí tem o meu irmão que é casado, a minha irmã, que é casada, só ficou ele mesmo, ele com a esposa dele, que aí a minha mãe faleceu.
P/2 - Ela faleceu e ele casou de novo?
R - É, aí ele arrumou outra de novo, mas assim, a única que mora perto sou eu, eu que cuido dele.
P/2 - Você que cuida?
R - Eu que cuido.
P/2 - Quando ele casou de novo vocês já eram maiorzinhos?
R - Já, está com uns três anos que ele casou, cada um já tinha seus filhos.
P/2 - E como é que ele chegou contando? Como é que foi?
R - Ele escondeu um pouco de nós.
P/2 - Namorava escondido?
R - A gente descobriu por acaso. Ele escondeu bem, sabe? Aí, de repente, ele arrumou uma casa, foi morar de aluguel com a mulher, aí passou um tempo ficou só o meu irmão na casa, aí o meu irmão inventou de ir embora e aí, para a casa não ficar sozinha, ele voltou para cá com ela e está até agora.
P/2 - E você estudou onde? Você ia na creche, depois você fez o primário.
R - Eu fui bem picadinha, eu estudei no Maria José Rios, estudei no...
P/2 - É escola grande assim? É daqui da região?
R - É, daqui mesmo. Depois eu estudei naquela da Vila Sau, eu acho que é Zilda, no Zilda, depois a gente veio para o Sinharinha, aí do Sinharinha ela colocou a gente no Educandário. A minha mãe colocou a gente no Educandário, porque ela ia trabalhar e não tinha onde a gente ficar, aí nós ficamos no Educandário lá com as irmãs e ia para escola à tarde, aí a noite voltava para a casa. Aí depois do Sinharinha eu vim estudar aqui no Sesi, que era aqui na estação, aí eu parei um tempo.
P/2 - E aí você estava em que ano já?
R - Já tinha terminado a oitava quando eu parei, aí eu fiquei um tempo parada, depois eu voltei no colegial, aí eu fiz o supletivo.
P/2 - Aí (inint) [00:09:37] supletivo?
R - É, aí eu voltei lá no Boa Morte, aí eu terminei lá.
P/1 - Lá que você fez o supletivo?
R - É, lá eu fiz o supletivo.
P/1 - E nessa época dessas mudanças de escola para lá e para cá, o que é que te marcou, assim, nessas épocas?
R - Era bem assim, nessa época a gente não pensava muito na vida assim, sabe, mas assim, que a gente tinha que trabalhar para ajudar a sustentar a casa, então era mais assim difícil você focar nos estudos, você pensar em uma faculdade, então você ficava meio que bagunçado.
P/1 - E você achava que você era boa aluna?
R - Aí, eu nunca fui boa aluna não. Eu apanhava muito em matemática, eu gostava de português, mas matemática.
P/1 - Tinha alguma outra matéria que você gostava assim?
R - Eu gostava muito de geografia, eu vou me (inint) [00:10:45]. Eu gostava muito de geografia, assim, português, mas a danada da matemática dava trabalho.
P/1 - E teve algum professor que te marcou, assim, nessa época de fundamental, dois, oitava, sétima, depois lá para o ensino médio?
R - De matemática eu gostava muito do Senhor Nico, Nico Mardegan, então ele pegava muito no pé da gente, porque ele queria o bem, sempre o bem da gente e a gente só queria brincar, nessa época. E essa professa, a Dona Ana Maria Mardegan, que marcou muito, que ela que me ajudou a ir para frente. Aí, quando eu estava, assim, acho que na quarta série, aí tinha um professora assim que fazia meio que bullying com a gente, então essa também marcou um pouco.
P/1 - Como que era esse bullying, assim? O que ela fazia?
R - Porque a gente era criança, então gostava de correr, aí a gente chegava na classe toda suada, aí ela separava a gente dos outros, os que estavam mais cheirosinho, aí ela falava que a gente cheirava a cachorro molhado. Então isso marcou muito, sabe, porque a gente pensava “Poxa, não é para correr”, a gente brincava muito no recreio. Essa professora era a Dona Cidinha, eu nem sei se ela está viva.
P/2 - E você tinha bastante amigos da na escola, assim, não?
R - Era de poucos amigos.
P/2 - De poucos amigos.
R - De poucos amigos. Tinha uma colega, assim, que marcava muito, que ela era, assim, quase que vizinha, então a gente ficava o tempo todo junto, aí depois que a gente mudou, ela casou, foi cada um para um canto, a gente se viu agora a pouco tempo.
P/2 - E como é que foi esse reencontro?
R - Foi no médico.
P/2 - Mas não foi marcado?
R - Não, não foi marcado, mas foi muito bom a gente se encontrar, porque fazia tempo que a gente não se via.
P/1 - E lembraram de algumas épocas lá?
R - Aí a gente começou a lembrar dos amigos, aí ela começou a falar dos amigos que já faleceram, alguns já faleceram, que estudou com a gente, mas foi legal o encontro com ela. Aí a gente tem agora, assim, amizade no Facebook, para não perder o contato.
P/1 - Você comentou comigo do trabalho, que desde pequena que você estava trabalhando e tudo, essa questão do dinheiro como é que você fazia assim? Você sempre dava para o pessoal da sua família ou você guardava um pouco para você?
R - A gente trabalhava e a mãe pegava muito, era, assim, era muito difícil de a gente ficar com alguma coisa, sempre pegava, para ajudar na renda da família. Aí de vez em quando comprava uma coisa aqui, comprava uma coisinha ali, mas assim, a gente foi mais de ganhar, comprar assim já era mais difícil quando a gente era adolescente. Aí para comprar mesmo foi assim depois dos vinte anos que a gente já começou a entender, aí eles deixavam a gente ficar com alguma coisa.
P/2 - Você é casada?
R - Eu sou casada, mas só na igreja, eu não casei no civil.
P/2 - E como é que você conhece ele?
R - Eu conheci meu esposo? Eu conheci ele, que eu trabalhei em uma usina de servente de limpeza, aí ele veio para cá, do Nordeste, para trabalhar, aí a gente se encontrou, pegamos amizade, aí começamos a namorar, logo já fomos morar juntos, aí nós ficamos três anos juntos aí depois a gente casou, está com dez anos que nos casamos.
P/2 - E treze que está junto?
R - É.
P/2 - E porque isso assim, você falou: “Eu sou casada, mas só na igreja”, era um desejo seu?
R - É.
P/2 - Entrar de noiva? Fazer...
R - Isso. Falar a verdade assim não era muito aquele sonho, sabe, porque como eu tenho uma menina, eu tenho uma moça de dezesseis anos, então o meu sonho era, assim, era pegar as minhas filhas e morar na minha casinha, não era assim casar, mas assim, já que aconteceu de a gente ficar junto.
P/1 - E lembra do casamento, como foi?
R - Foi uma correria. O meu casamento era para ser comunitário, que chegaram uns padres aqui mexicanos, aí eles iam fazer o casamento comunitário, aí na época que eu ia casar eu fiquei doente, aí eu não pude casar junto com os outros, eu casei depois. Aí foi aquela correria, porque, assim, eu ia casar simples, dá licença, eu ia casar simples, roupa normal, aí os meus irmãos: “Não, porque nunca casou e tal, vamos lá alugar um vestido”. Aí fomos alugar um vestido e tal, aí ele alugou o terno, aí como eu tinha as duas meninas, eu deixei de pôr a minha grinalda e aluguei só o vestido para poder alugar o vestido da mais velha para entrar junto comigo. Aí foi a mais velha, a minha sobrinha e a minha menininha, tenho uma de nove anos, na época era pequeninha, aí nós fomos, ficamos nós quatro tudo juntas. E cada um deu alguma coisa, aí a gente fez um almoço, um conseguiu alugar o salão, todo mundo ajudou. Aí fizemos um almoço e foi muito bom, muito divertido, porque cada um ajudou.
P/2 - E quem teve a ideia de resolver casar naquela época? Foi você ou ele?
R - Nenhum dos dois, foi a minha madrinha de crisma que incentivou, na verdade ela nem perguntou nada, ela inscreveu a gente, aí nós fomos fazer o cursinho. Aí fomos acompanhando, gostamos da ideia, vamos casar então, aí casamos.
P/2 - Então você tem uma filhinha que não é dele?
R - Isso.
P/2 - Era uma filhinha antes que você teve?
R - É, que é a minha mais velha, de dezesseis anos.
P/2 - Quer falar um pouquinho do nascimento dela?
R - Da mais velha foi bem perturbado. É que assim, na verdade o da mais velha, o pai dela, assim, ele não aceitava, sabe? Ele escutava muita conversa dos outros, então foi meio que turbulenta a nossa relação.
P/2 - Mas você namora com ele?
R - É, a gente namorava.
P/2 - (Inint) [00:18:28] ou teve um caso (inint) [00:18:29]?
R - Não, a gente ficava junto, a gente namorava, só que assim, depois que eu engravidei ele já não quis assumir mais, aí ele falava que não era dele, aí foi aquela, foi tudo assim, sabe, foi em juiz, essas coisas, teve que fazer exame, que ele batia o pé que não era dele. Mas agora, assim, depois de muito tempo aí ele aceitou, sabe, ele aceita, só que assim, na verdade, ele tem três meninas, a minha está no meio, é a minha é a caçula. E das três assim, que ele tem mais conivência, é com a minha, que aí ele já viveu junto, que as outras duas já são... Ele só teve as meninas, também não quis assumir, e só com a Júlia assim, que a Júlia tem mais contato com a família dele, até hoje assim.
P/2 - Aí depois que fez o exame ele se convenceu e aí ele mudou?
R - Mais ou menos, é porque aí vem todo aqueles trâmites, pensão, essas coisas, mas assim a gente até tinha amizade, mas depois que eu casei e tudo, aí ele arrumou outra mulher, então a gente se afastou, para não ter complicação.
P/2 - Aí quando você conheceu o seu marido agora, a menininha já estava com três anos, mais ou menos?
R - A Júlia, cinco para seis, já estava mais velhinha já.
P/2 - E ela gosta dele? Ela ficava...
R - Ela gosta, de vez quando tem os treleles deles, mas é coisa de adolescente. Só que assim, ela nunca chamou ele de pai, que ela sabe que o pai dela é o outro, mas assim, tem uma convivência muito boa, de respeito, tudo.
P/2 - E vocês se dão bem?
R - A gente se dá. Só que assim, eu não conheço a família dele, só por foto, a mãe dele, quando eu tive a Ana, a Ana que é a filha dele, estava com dois meses, aí ela veio para cá para conhecer, que eles moram em Pernambuco, então eles já são bem assim de idade e as condições financeiras para ir para lá já é mais difícil, então se comunica assim mais pela internet, por foto.
P/1 - E você gostaria de ir lá conhecer a cidade deles?
R - Eu não tenho vontade não, eu falo assim devido as dificuldades, assim, diz que lá é bem precário, sabe, e a minha saúde, assim, também já não é aquela grande coisa, para ir fazer uma viagem muito longa, aí já é mais duro.
P/2 - E sua segunda gravidez, como foi?
R - A minha segunda gravidez foi normal, assim, aí a gente já estava junto, eu e ele já estávamos junto, aí a...
P/1 - Foi planejada?
R - É, a gente até queria, só que quando eu descobri que já não podia ter filho, já estava nascendo. Mas assim, na gravidez foi tudo bem, ocorreu tudo bem, aí depois quando ela nasceu, que a gente descobriu, que ela já nasceu com probleminha, aí começamos as lutas. Aí eu como eu trabalhava na época, eu tive que parar de trabalhar para ficar junto com ela.
P/1 - E que probleminha que era esse que ela teve?
R - No começo assim foi difícil descobrir, aí ela ficou um tempo aqui em Santa Cruz, com dois meses ela foi para Marilia, foi no Hospital Escola lá em Marília, aí começou a investigação do que estaria causando, que ela teve desnutrição de terceiro grau. E, na verdade, ela não tinha força para sugar, ela foi emagrecendo e tudo, aí chegou lá em Marília pele e osso. Aí os médicos internaram eu e ela, nós ficamos lá e eles investigando, sabe, aí foram descobrindo, devagar, que ela tinha um probleminha no coração, foram descobrir que ela tinha uma dilatação no rim e, com o tempo, para ela sair de lá de Marilia, ela teve que usar sonda nasogastrica. Aí ela saiu para ganhar peso, ela veio para cá para Santa Cruz do Rio Pardo e sempre acompanhando lá em Marília, aí foi descoberto. Agora está com uns três anos que ela deu uma síndrome, é rara, mas ela tem e ela acompanha em Ribeirão Preto, que a síndrome dela afeta a face, o coração e a estrutura, ela não desenvolve no crescimento. E nós estamos lutando, aí a gente vai um pouco em Marília e um pouco em Ribeirão Preto, só que agora a gente já sabe o que é, porque no começo foi duto a gente aceitar, porque ela correu risco de morrer mesmo, então ela não podia pegar nada. Mas era só eu que corria atrás, que o meu marido trabalhava, então não dava para ele ir. E ela ficou bem debilitada, a gente ficou lá em Marília e tal, toda semana, praticamente, a gente ia para lá para acompanhar ela, aí quando os médicos viram que ela estava melhor, pegou e tirou a sonda. Aí ela começou a se alimentar, mas assim, só coisas líquidas, aí batia sopa, essas coisas tudo, e ela não comia, ela não deglutia, na época, aí a gente começava a dar na colherzinha e tal até que ela aprendeu a engolir, aí já foi mais fácil, a primeira parte. Aí depois, assim, devagarzinho a gente foi descobrindo os probleminhas dela. Aí quando foi para entrar na escolinha, a gente descobriu que ela tinha um atraso, aí ela não acompanhou na escola o ensino fundamental normal, aí foi passado com uma equipe de psicólogos e a gente foi recomendado para ela ir para APAE e, no começo, a gente não aceitava, que a gente não conhecia a APAE. Aí nós fomos, fomos lá conhecer, eu, porque tudo é a mãe. Aí eu fui lá, conheci, conversei, aí quando foi para ela entrar, eu fui, ia, fiquei uma semana indo com ela, aí ela se adaptou super bem, aí eu parei de ir, aí ela agora vai sozinha, ela gosta de ir.
P/1 - Está com quantos anos que ela entrou lá na APAE?
R - Ela estava com sete anos, que aí no caso ela já ia para o primeiro, primeiro aninho.
P/2 - Ela está com nove agora?
R - É, em novembro ela faz dez.
P/1 - E essa adaptação para ela foi tranquilo e para vocês também foi tranquilo? Como que foi?
R - No começo ela começou, assim, com os hábitos de lá, mas aí a gente foi conversando com ela e ela se adaptou super bem, e a gente também, porque a gente via que ela ia feliz, sabe, ela gosta de ir. Então, para a gente, aonde o filho da gente está bem a gente também se sente bem. E lá elas são super amorosas, carinhosas, e ela gosta, nossa, quando não tem ela fica perguntando.
P/2 - E ela tem uma relação boa com seu marido, o pai?
R - Tem, tem com a outra mais velha também. A outra mais velha, nossa, é o xodozinho dela, elas se dão super bem, uma cuida da outra, onde uma vai a outra está atrás.
P/2 - E o motivo de você ter tirado habilitação, ter corrido atrás do seu veículo próprio já foi em questão dela?
R - Já.
P/2 - E era um sonho seu ter a sua habilitação também?
R - Na verdade eu já tinha, só que aí eu fiquei um tempo parado, porque eu sofri um acidente, aí o carro deu perda total. Aí eu parei de dirigir, aí quando a Ana nasceu aí a gente viu que tinha uma necessidade, porque ela precisava de fisioterapia, ir em posto, de fono, todas essas coisas, sabe? Então cada atividade era em um lugar e, assim, na época, a circular ainda corria no horário que dava para a gente ir, aí depois com tempo parou, aí a gente resolveu, o meu pai ajudou a gente a comprar o carro, aí a gente comprou o carro para ficar mais fácil para estar levando ela nos lugares, para não depender tanto de transporte.
P/2 - E você tirou carta quando?
R - Eu estava grávida da Júlia quando eu tirei, só que aí ninguém sabia. Aí eu tirei acho que em 2002 eu consegui tirar. Aí eu fui fazer exame, tudo grávida, mas ninguém sabia, aí eu, para não ficar muito nervosa, aí eu cheguei e contei, que naquela época não podia tirar cartar assim na gravidez, aí só que já estava com a gravidez de cinco, seis meses já, aí eu tive que contar. Aí foi tranquilo também, o perito me ajudou bem.
P/2 - Na primeira você já passou?
R - Não, eu repeti.
P/2 - Repetiu?
R - Porque eu não conseguia engatar a terceira e reduzir para a segunda, aí eu repeti. Mas assim, da segunda vez foi tranquilo, que eu consegui passar.
P/2 - Você falou duas vezes que você tem um problema de saúde. Não é a questão do acidente?
R - Não, eu tenho diabetes.
P/2 -Você trata o diabetes?
R - É, eu trato o diabetes, mas assim, essa diabetes foi desenvolvida em mim devido a esse corre-corre mesmo com a Ana Clara, que foi através de o organismo ficar fraco, porque era muita coisa em cima.
P/2 - Você tentando acudir a saúde dela, você veio a prejudicar a sua.
R - É, acabei prejudicando a minha, só que demorou para descobrir, sabe? Aí um dia eu comentei com o meu irmão, falei: “Nossa, estou com uma sede, eu tomo, tomo água e não acalma a sede”, aí ele pegou e falou assiP/1 - “Vai fazer exame, você deve estar com diabetes”, porque ele já tem, “Aí ele falou: “Você deve estar com diabetes”, aí eu fui fazer e já estava altíssima. Aí comecei a tomar remédio e tudo para controlar, agora tem que fazer exercício físico.
P/2 - E você frequenta aqui o CRAS?
R - Eu frequento.
P/2 - Como é que você veio para cá?
R - Assim, eu conheci quando eu recebia o Renda Cidadã, aí a gente vinha participar da reunião, aí parou, porque eu acho que são três anos, aí parou. Aí depois não vim mais, aí devido a correria com a Ana Clara, eu, como eu ia muito para Marília, então não dava para pensar mais em nada. Aí um dia eu decidi, eu falei: “A minha menina já está bem, já dá para ela ficar nos lugares, assim, sem eu, não precisa fica em cima”, aí eu vim, eu vim aqui e conversei com a, acho que é a Vanessa na época, que eu estava aqui. Aí eu vim e conversei com a psicóloga, falei assiP/1 - “Pelo amor de Deus, me arruma um lugar”, assim, mais para mim ocupar a cabeça, porque a gente só ficava em médico, aí ela falou assiP/1 - “Não”, porque aqui é, assim, mais para as pessoas vulneráveis, eu falei: “Não, pelo amor de Deus, vê se você vê uma vaguinha?”. Aí passou um tempo ela arrumou uma vaga para mim, aí a Alexandra me ligou e aí eu comecei a frequentar.
P/2 - O grupo de mulheres?
R - O grupo de mulheres.
P/1 - E como que é para você estar participando assim do grupo de mulheres?
R - Eu gosto, porque assim, a gente sai um pouco da rotina, a gente vem, conversa com as outras integrantes, a gente tem bastante amizade, assim, se uma tem um problema, talvez o da outra é menor do que aquela uma. E assim, é uma convivência, é muito bom a gente estar aqui junto com ela.
P/2 - Faz tempo que você está aqui?
R - Acho que vai fazer um ano em novembro, acho que vai fazer um ano. Aí a gente vem uma vez na semana.
P/2 - E o seu marido o que acha de você vir?
R - Ele não liga não, ele trabalha a semana inteira, então ele fala assim que é um jeito de eu escapar um pouco também, que a gente fica a semana inteira dentro de casa, faz uma coisa, faz outra, então dia de segunda-feira é uma hora que a gente vem aqui então é para conversar, aliviar a cabeça um pouco, se divertir, porque a gente dá bastante risada aqui.
P/2 - É? O que vocês conversam?
R - A gente conversa sobre os assuntos da família, rotineiro, do dia a dia, o que é que uma fez, o que a outra não fez. Assim, tem o Alexandre que dá bastante explicações, aí tem palestras também, a gente aprende muito nas palestras, saúde, sobre exames, essas coisas tudo, muito bom.
P/1 - Você tem mais alguma coisa hoje, atualmente, que você acha que é importante para você assim? O que é que você pensa? Um sonho ainda, talvez, de realizar? Que você acha que agora as coisas estão um pouco mais tranquilas.
R - Eu tenho o sonho da casa própria, que, assim, eu vou batalhar para a gente conseguir o sonho da casa própria mesmo. O meu marido já não liga muito, mas eu já tenho esse sonho, porque quando a gente era pequeno, então falou isso para a gente, como eu contei que cada um foi para um canto, então eu penso assim, se um dia eu chegar a faltar, as minhas filhas têm onde ficar. E assim, vai para a casa dos outros e não é a mesma coisa da casa da gente.
P/2 - Você tem contato com essas pessoas que você morou? Que você...
R - Assim, de vem em quando a gente se vê, de vez em quando. Que nem esses tempos atrás, tem uma... Essas mulher mesmo que a gente ficou na casa dela, ela faz tratamento lá no AME, então a gente se encontrou também. Mas assim, de ir na casa delas assim eu tenho muito contato. Que aí os filhos delas cresceram também, então cada um está para um lado.
P/2 - Você falou que ficou lá uns meses.
R - É.
P/2 - E você lembra da casa? De alguma coisa de lá?
R - Eu lembro que ela cuidou muito bem de nós, ela cuidava da gente como se fosse os filhos dela mesmo, era tudo limpinho, dava comida, banho, a cara era tudo em ordem, deixava a gente assistir televisão, que criança gosta de televisão. Então, assim, nunca implicava com a gente.
P/1 - Ela tinha filhos, não?
R - Ela tinha, na época ela tinha duas meninas.
P/1 - E se davam bem?
R - Assim, eu já não lembro mais das meninas pequenas, eu lembro mais assim mais mocinha, mas acho que a gente não brigava não, que ela tratava a gente bem.
P/2 - E foi lá que você viu pela primeira vez a televisão ou não? Você já tinha visto?
R - Não, a gente já tinha em casa, que na verdade a minha madrinha tinha dado uma bem antiga mesmo, aí ela tinha dado uma para a gente.
P/2 -E o retorno com seus pais?
R - Na época?
P/2 - Como foi voltar com os pais?
R - Foi muito bom, que a gente sentia falta, que aí como o pai trabalhava a semana inteira, aí final de semana ele vinha buscar a gente para ficar lá na casa da avó, aí depois retornava no domingo para cá. Mas quando se juntou tudo mesmo, nossa, não queria mais separar.
P/1 - Nessa época a sua mãe ela estava junto ainda?
R - Ela estava.
P/1 - Como que foi a perda dela assim? Como é que...
R - Você fala agora a pouco tempo?
P/1 - É, como que você sentiu tudo isso?
R - Quando ela veio a falecer, assim, ninguém aceita a morte, mas a gente achou melhor, porque como ela era uma pessoa muito agitada, ela gostava de cozinhar, trabalhar e a doença dela debilitou bem ela, ela ia ficar na cama, o médico conversou com a gente, que ela já não estava mais falando, já não tinha força para a nada, aí o médico conversou com a gente, falou que ela já não ia aguentar mesmo. Aí, no começo assim, foi difícil sabe, mas assim, no final, depois de muitas conversas, a gente acabou aceitando um pouco, mas a gente acha falta ainda, principalmente quando é época de festa, essas coisas, que ela era a primeira a levantar “Não, eu vou fazer isso, eu vou fazer aquilo”, ela gostava, assim, de mexer com as panelas mesmo e a gente acha falta disso. Porque assim eu mesmo não gosto, dia das mães, Natal, essas coisas eu já não gosto, eu me fechei um pouco, porque eu lembro dela e a mulher que está com meu pai ela já não faz nada. E agora, assim, para juntar os irmãos dá trabalho, que aí cada um mora num canto, que aí a minha irmã de Bauru fala assiP/1 - “Não, vamos juntar as panelas e tal, vamos fazer alguma coisa”, que a mãe gostava de alegria, não era cada um para um canto, aí a gente faz uma forcinha e junta, aí devagarzinho a gente vai indo, mas acho falta dela ainda.
P/1 - E tem essa festa assim, é sempre o final do ano que vocês ainda costumam se reunir?
R - É mais assim, porque é assim, como tem a minha irmã que é casada, ela passa o Natal com a sogra dela, o ano novo com meu pai e vice-versa, aí a minha irmã de Bauru vem e aí a gente tenta juntar, assim, sempre no final do ano mesmo. Assim, ou quando é dia dos pais, assim, quando é aniversário, que a Júlia faz aniversário justo no dia das mães, aí a gente tenta juntar.
P/2 - Essa alegria, essa festa, como era? Descreve para a gente essa alegria, essa festa da sua mãe, que ela gostava.
R - A mãe gostava assim, tinha nós mais os vizinhos e quem chegava para comer, aí fazia aquela mesona ali, tinha comida o dia inteiro. Aí ela gostava assim que tinham os amigos do meu irmão, que era mocinho e tudo, aí ia lá e tal, aí ela não ficava sem nada, sempre tinha alguma coisa para comer. E assim, os vizinhos da gente, que agora já são mãe e pai, eles lembram dela com essa alegria.
P/2 - Música tocando na casa?
R - Não, mais falação mesmo. Eles contavam da vida deles, o que eles já tinham passado.
P/2 - E mesa farta, mesa cheia?
R - É, sempre foi. E a gente procura fazer assim igual ela fazia, mas nunca é igual.
P/2 - Você é sempre sorridente assim?
R - Sou, meu marido fica, assim, ele fica um pouco bravo.
P/2 - Porque você sorri?
R - Mas a família inteira é assim, a família inteira, a gente pode ter as nossas tristezas, mas procura estar sempre de cabeça erguida, muito difícil deixar assim abalar.
P/2 - É uma característica sua e você contando a história eu estou imaginado a sua mãe sorrindo assim também.
R - É, ela também bem sorridente, assim, o pai já é mais fechadão, mas ela não, ela já era mais sorridente.
P/2 - Vocês conversam bastante? Você e seu pai?
R - Conversa, assim, que nem como eu moro perto, então eu estou sempre lá na casa dele. Aí as meninas também, as minhas meninas também estão sempre lá. Assim, de todos os filhos, eu sou a que tem mais contato, porque como mora perto a gente se vê sempre.
P/2 - Ele está com quantos anos?
R - Está com sessenta e nove.
P/2 - E o que ele falava dessa alegria da sua mãe? Ele gostava também da casa cheia, da mesa farta?
R - Ele gostava, mas assim, sempre no canto dele, ele era mais reservado, mas assim, ele nunca implicou com ela, que ela sempre levava ele para frente, que ela já era meio cabisbaixão assim, e ela não, ela era daquela pessoa assim, se ela queria aquilo, ela ia atrás, ela batalhava, ela conseguia mesmo, e ela já, mais assim, paradão. Aí ele ficava bravo com ela: “Mas você é muito teimosa e tal”, “Não”, aí eu puxei esse lado também.
P/1 - E atualmente você mora no Itaipu?
R - Oi?
P/1 - É lá no Itaipu que você mora?
R - Lá no Itaipu.
P/1 - Como que é a sua relação com os vizinhos, com o pessoal á assim?
R - Muito bom, eu gosto dos meus vizinhos, os meus vizinhos, assim, são todos tranquilos, ninguém mexe com a vida de ninguém, cada um na sua, assim, quando conversa e tal, mas nunca teve briga, nada.
P/1 - Eles frequentam a sua casa? Você frequenta a casa deles? Como que é?
R - Não, já não somos assim de frequentar a casa, é cada um na sua casa mesmo, muito difícil assim, mas assim, quando sai assim para varrer a calçada, jogar uma água, a gente conversa, mas assim, cada um sempre na sua, que a maioria trabalhar e tudo, então só se vê no final de semana.
P/1 - Você gosta daqui do bairro?
R - Daqui de cima? Eu gosto.
P/1 - O que é que te chama atenção?
R - Que nem aonde que eu moro, assim, é um sossego, ninguém mexe com ninguém, super tranquilo, assim, não tem esse negócio de barulho, as ruas sossegadas, as crianças podem brincar, tem parquinho, área de lazer, as crianças podem ficar numa boa, eu gosto de lá onde eu moro.
P/2 - Sua filhinha, a Júlia, ela tem quantos anos agora?
R - A Júlia tem dezesseis.
P/2 - Ela leva amiguinha em casa? (inint) [00:46:14]?
R - Não, ela não é assim também não, ela é mais caseirona também. Ela não é assim de ter amiguinha para levar não e na escola também, sabe? Tranquilona também, só agora que a professora diz que eles estão fazendo bagunça, mas assim, conversando.
P/2 - Em que ano que ela está agora?
R - Ela está no segundo.
P/2 - No segundo do segundo grau?
R - É, do segundo grau, só que aí já, assim, já se encontrou mais com os alunos, mais assim, digamos mais bagunceiros, aí eles... Que nem a classe dela já não gosta muito de, não tem muito compromisso, diz que eles são assim pessoas excelentes, eles são educados, respeitam as professoras, não é de responder, só que assim, eles conversam muito e ela entrou no meio.
P/2 - Mas ela já está inserida em algum curso fora da escola assim também, para estar profissionalizando?
R - Ela fez informática.
P/2 - Você foi atrás desse conhecimento para ela?
R - Isso, eu fui atrás, aí eu matriculei ela na época, aí ela fez, terminou, agora a gente está tentando enfiar alguma coisa na cabecinha dela, mas assim, que nem ela quer fazer curso de enfermagem, mas ela tem que esperar terminar o terceiro grau para fazer, mas enquanto isso vai indo, está esperando.
P/2 - Ela já está definida? Ela já pensou em uma carreira?
R - É, ela quer enfermagem.
P/2 - Você pretende voltar a trabalhar um dia ou não?
R - Eu pretendo, porque eu quero ter as minhas coisas.
P/2 - Você falou da casa.
R - É, aí eu quero dar alguma coisa assim para as minhas filhas, alguma coisa de melhor. Que a Júlia também, dependendo assim, se eu voltar a trabalhar a Júlia possa estudar a noite e dar uma mão para mim, porque agora ela já está mais, assim, adolescente e tudo. E a Ana, assim, dá para ficar com a Júlia.
P/2 - A Ana fica um período só na escola?
R - É, ela só fica na parte da manhã.
P/2 - E agora ela está com quem?
R - Agora ela fica com Júlia, está com a Júlia em casa, dizem que ia dormir.
P/2 - Você contou para elas que vinha aqui?
R - Ela pensa no Alexandre, que o Alexandre vai lá na APAE, ela fala assiP/1 - “Mãe, você vai ver o Alexandre?”.
P/2 - A APAE para você então foi uma tranquilidade a mais?
R - Foi, e através da APAE e através da doença da Ana também eu aprendi muita coisa, eu aprendi a dar valor na vida, porque o tempo que a Ana ficou internada foi o tempo, assim, mais difícil e a gente conheceu muitas mães que deixaram seus filhos lá e eu trouxe a minha. Aí foi um momento assim de superação, que a gente olhou para trás e podia estar todo mundo junto e, assim, do quarto que ela ficou internada só ela voltou. E eu aprendi muita coisa. A partir do momento que eu fiquei lá em Marília, que eu ia no ambulatória, eu via assim, que a minha filha foi um milagre mesmo. E hoje ela, assim, tem as limitações dela, mas em vista do que ela já passou, ela está bem, está bem melhor. E que assim, eu nunca medi esforço, sempre lutei para ir atrás de tudo, pedi a Deus, que Deus iluminasse, abrisse as portas, que eu ia lutar pela minha filha, se fosse da vontade dele que ela estivesse viva e ela está. Aí a gente vai lá na APAE, eu acho muito bonito as festas deles, que eles incluem todo mundo, ninguém fica de lado, é todo mundo junto e os que não andam, que ficam na cadeira de roda, eles vão, eles levam, eles colocam para dançar junto, eles incluem mesmo as crianças, as pessoas com deficiência, eles não abandonam. E eu aprendi muito lá na APAE, muito. E, assim, através disso eu pude ajudar também muitas mães que não aceitavam os filhos quando nascia com problema, a gente conversava, tentava encaminhar assim para médico, conversar, aí devagarzinho foram aceitando também, que na verdade eles não são diferentes, a gente que é diferente, eles são todos iguais. E eu aprendi muito, em todos os lugares que eu vou, até hoje, sabe? Porque não é fácil você aceitar, mas a gente conseguiu aceitar. E ela, é assim, ela passou o amor dela para a gente, que ela é uma criança amorosa, ela tem os limites dela, de vez em quando ela fala assiP/1 - “Não, não, não”, que ela não gosta muito que agarra ela, mas assim, ela é uma criança muito feliz e a gente vendo a felicidade dela e ela passa para outras crianças. E a gente, assim, nós lutamos para que ela fosse assim e, se Deus quiser, no que depender de mim, para ajudar outras mães a superar as dificuldades também dos filhos.
P/2 - Você quer acrescentar alguma coisa nessa sua entrevista, dessa sua trajetória de vida?
P/1 - Ou contar para nós como foi contar a sua história?
R - Assim, foi muito bom, porque na verdade eu sempre lutei sozinha, tem apoio sim do meu marido, mas quem sempre correu atrás das coisas, sempre, digamos assim, que escutou as coisas que eu não queria ter escutado, sempre foi eu. Então foi um desabafo.
P/2 - E você recebia as notícias dela e ele não estava junto?
R - Isso.
P/2 - Você recebia e transmitia para ele.
R - Só que ele também não aceitava ela ser assim especial e foi duro também, aí com o tempo ele foi aceitando. E quando a gente ia para o médico assim, aquelas pessoas assim que nem “Como foi lá e tal?”, nem perguntava, “Você foi e tal?”. A gente saía de madrugada, voltava à noite, fica o dia inteiro lá, a gente vai de transporte da prefeitura, então quando o último não sai a gente não vem embora, então você tem que ficar lá e eu já passei, assim, muitos pererecos também, quando ela era pequena já não podia deixar na mão de qualquer um, que assim, cidade que a gente não conhece ninguém, tudo que ia fazer era tudo com dificuldade. Então eu falo assim, eu venci, hoje eu olho para trás, que nem ela vai fazer dez anos, eu olho assim e eu falo assiP/1 - “Nem eu acredito que eu consegui passar por tudo isso”, aí eu falo assiP/1 - “Eu venci, graças a Deus”.
P/2 - Que bom. Você já conhecia o Alexandre?
R - Eu conheci aqui.
P/2 - Sim, mas você já conhecia antes? Estou dizendo, eu você não conhecia.
R - Não.
P/2 - Nem o Paulo? Ela também?
R - Não, ninguém.
P/2 - E aí você contou uma história linda para pessoas desconhecidas, a gente fez perguntas, você respondeu. Isso é tranquilo? Foi tranquilo para você?
R - Foi, foi sim.
P/2 - Você quer acrescentar mais alguma coisa?
R - Quero agradecer a vocês.
P/2 - Agradecer por quê? Porque você agradeceria a gente?
R - Por eu poder contar um pouco da minha história, que muita gente acho que não sabia o que eu já passei, porque assim, vê a gente sorrindo, mas não sabe o que a gente já passou e foi muito bom.
P/2 - Bom, a gente é que aprendeu muito bom a sua história, a gente ouvindo sempre tem, a gente sente essa força mesmo, sabe? Esse sorriso assim eu não vou esquecer mais. Que bom, mais alguma coisa meninas?
P/1 - Acho que não, tranquilo.
P/2 - Tem? Tem alguma coisa, não?
R - Estão está bom, terminamos.
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