P/1 – Boa tarde, Norma.
R – Boa tarde.
P/1 – Por favor, identifique-se: nome, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Norma de Almeida, nasci em São Paulo, capital, em 7 de março de 1941.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Antônio de Almeida e Zulmira Pires de Almeida.
P/1 – Eu gostaria que você falasse um pouco do seu histórico familiar e profissional, um breve histórico.
R – Foi muito tranquilo, minha casa era muito tranquila, não havia grandes brigas, grandes explosões, educação portuguesa: isso é certo, isso é errado, isso se faz, isso não se faz. Sempre gostei de estudar, acabei fazendo faculdade de História e depois disso fui dar aula, depois que eu fiz a faculdade de História, mas fui dar aula em cursinho, que para mim é algo um pouco diferente do que dar aula em colégio, e que foi muito legal, e muito interessante.
P/1 – Você ficou muito anos dando aulas em cursinho?
R – Mais ou menos, uns 6 anos dando aulas em cursinho.
P/1 – E você se formou em qual faculdade, Norma?
R – Foi na Católica no ______ (Sapiense?) que naquela época era separado da São Bento.
P/1 – E depois desse período de professora, você foi para onde, Norma?
R – Aí eu resolvi… Porque nós fechamos o cursinho, que era um grupo de professores, que tinha montado esse cursinho, nós fechamos, e eu resolvi mudar de profissão. Então, como eu tinha vários colegas, os matemáticos, os professores de matemática que eram quase todos estudantes de Engenharia, inclusive Eletrônica, eu sempre gostei muito das máquinas, eu fui fazer um curso de computador, que na época era um negócio bem novidade, e eu fiz um curso de Cobol [Common Business Oriented Language]. E aí o senhor Santos, já alguns anos antes, ele me convidava para vir trabalhar na empresa, e eu dizia que não, porque primeiro eu não entendia de supermercado; e segundo porque eu estava empregada e...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, Norma.
R – Boa tarde.
P/1 – Por favor, identifique-se: nome, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Norma de Almeida, nasci em São Paulo, capital, em 7 de março de 1941.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Antônio de Almeida e Zulmira Pires de Almeida.
P/1 – Eu gostaria que você falasse um pouco do seu histórico familiar e profissional, um breve histórico.
R – Foi muito tranquilo, minha casa era muito tranquila, não havia grandes brigas, grandes explosões, educação portuguesa: isso é certo, isso é errado, isso se faz, isso não se faz. Sempre gostei de estudar, acabei fazendo faculdade de História e depois disso fui dar aula, depois que eu fiz a faculdade de História, mas fui dar aula em cursinho, que para mim é algo um pouco diferente do que dar aula em colégio, e que foi muito legal, e muito interessante.
P/1 – Você ficou muito anos dando aulas em cursinho?
R – Mais ou menos, uns 6 anos dando aulas em cursinho.
P/1 – E você se formou em qual faculdade, Norma?
R – Foi na Católica no ______ (Sapiense?) que naquela época era separado da São Bento.
P/1 – E depois desse período de professora, você foi para onde, Norma?
R – Aí eu resolvi… Porque nós fechamos o cursinho, que era um grupo de professores, que tinha montado esse cursinho, nós fechamos, e eu resolvi mudar de profissão. Então, como eu tinha vários colegas, os matemáticos, os professores de matemática que eram quase todos estudantes de Engenharia, inclusive Eletrônica, eu sempre gostei muito das máquinas, eu fui fazer um curso de computador, que na época era um negócio bem novidade, e eu fiz um curso de Cobol [Common Business Oriented Language]. E aí o senhor Santos, já alguns anos antes, ele me convidava para vir trabalhar na empresa, e eu dizia que não, porque primeiro eu não entendia de supermercado; e segundo porque eu estava empregada e gostava muito do que eu fazia. Só que quando eu deixei de dar aulas e fui fazer esse curso de programação de computador, ele novamente me convidou, e eu novamente, eu respondi que não, porque agora eu tinha feito um curso, que eu queria trabalhar com computador de grande porte. O Pão de Açúcar não tinha computador e foi aí que ele falou que eles tinha acabado de comprar um computador. E aí eu não tive muita resposta para dar, eu acabei vindo trabalhar no Pão de Açúcar, e comecei pelo CPD, que hoje é o centro de processamento de dados, como programadora, e que eu já conhecia daí como informática.
P/1 – Que data era quando você entrou no Pão de Açúcar?
R – Eu tenho a impressão que foi finalzinho do ano de 1971, eu realmente comecei a trabalhar em 1972, porque eu acho que esse foi um dos pontos muito positivo na minha entrada, apesar de eu ir trabalhar numa área técnica, eu tive a oportunidade de fazer estágio em loja. E nesse estágio em loja, eu comecei a descobrir o mundo do varejo, inclusive as pessoas da loja, o que elas conheciam e dos processos, e isso é muito interessante, é muito vibrante; e passei também a ter um respeito muito grande pelo pessoal de loja, naquela época, início da década de 1970, a escolaridade no supermercado não era alta, quase… Você encontrava curso primário, raramente alguém com curso ginasial, mas a capacidade daquelas pessoas, o que eles conheciam, não só numa parte de conhecimento de produto, os diferentes produtos, como cuidar dos produtos e mesmo numa parte mais fiscal, que a minha faculdade não me deu isso. Eu lembro que a primeira seção que eu estagiei foi a portaria, e o que eu vi na portaria é que aquele senhor, que não me lembro o nome dele, mas era um cara sensacional, ele tinha em cima da mesa dele 13 blocos de notas fiscais, que eu nem sabia o que era uma nota fiscal, eu não distinguia um recibo de uma nota fiscal, tinha uma agenda que ele tinha que anotar toda a mercadoria que entrasse e saísse, se era devolução ou não era devolução e tudo isso acompanhado por uma nota, e conforme o tipo de mercadoria que estava saído, ele emitia um tipo de nota fiscal. Foi aí que eu descobri que tinha nota fiscal e que tinha série A, série B, um era de venda ou era de consumo outra de transferência, enfim municipal, interestadual, quando eu falo que quando passei a respeitar muito o pessoal de loja, não só pelo conhecimento que eles tinham, que não era assim, pôr só a mercadoria na gôndola, mas também o ritmo de trabalho, que realmente é um trabalho muito pesado o trabalho de loja.
P/1 – Você pode dar um exemplo?
R – Começa pelo horário, pelo tempo que eles trabalham. Quando você tem um movimento de lojas, tem os picos de movimentos, como os funcionários são solicitados, são duas, três pessoas pedindo, ou elogiando ou reclamando, não importa, porque eles têm que dar atenção a tudo, mas eles têm que ver tudo que está acontecendo em volta também, depois tem umas outras experiências, mas ele está conversando com você, ele está vendo quem entrou, quem está saindo, quem comprou o que. Então, tem situações muito interessantes na loja e que eu realmente não consigo fazer nenhuma delas. Por exemplo, tinha no Jumbo da Brigadeiro dois funcionários que eles apostavam qual seria a venda do dia, ver quem que acertava a venda. Então um era fiscal de caixa e o outro era o encarregado da seção de mercearia e cada um tinha um enfoque diferente: o da frente de caixa, ele ficava vendo todos os carrinhos que saíam, se eles estavam cheios e que tipo de mercadoria estava passando por ali; e o encarregado de mercearia, ele rodava a loja e via os buracos que tinham nas gôndolas da mercadoria que tinha sido comprada. E normalmente eles estavam, os dois, sempre muito próximos da venda, eu não tenho a menor noção como faz isso, eu não tenho a menor capacidade de fazer isso, também nunca tentei desenvolver, mas eu acho que é uma coisa muito… Isso mostra a perspicácia deles, o feeling e como eles conseguem perceber as coisas, então tem várias situações desse tipo.
P/1 – Isso que você percebeu foi enquanto você fez estágio na portaria?
R – O da portaria como o estágio começou por aí, foi o primeiro choque eu tive que foi desse senhor, era o porteiro, porque isso era uma das coisas que ele fazia, ele tinha que controlar o descarregamento do caminhão, ele tinha que contar mercadoria, ele antes tinha que checar se aquela mercadoria tinha sido pedida, se a quantidade (entrega?) sendo correta, e fora um caminhão estava sendo descarregado, mas tinha várias pessoas circulando pela portaria, que era a entrada e saída da loja de serviço, e ele controlava a entrada e saída de todo mundo. Por isso que eu falei, tinha três, quatro olhos na frente, nas costas, que eu percebia como eles lidavam com muita tranquilidade, e as coisas funcionavam muito bem. Eu realmente não estava acostumada com isso, talvez até pelo estudo eu sempre tive uma tensão muito mais centrada, muito mais focada, e eu percebi que era um pessoal diferente, e com muito pique para o trabalho, muita resistência inclusive para virar horas, eu realmente sempre admirei muito o pessoal de loja.
P/1 – E depois desse seu primeiro impacto, quais foram as suas próximas experiências no setor que você entrou?
R – Bom, eu fui para a área de, naquela época CPD, não informática, aí era uma atividade meio normal, eu gostava muito do que eu fazia, da programação, que eu encarava aquilo como um quebra-cabeça e um desafio, você receber um programa e ter que fazer aquele negócio funcionar, o computador funcionar, qualquer instrução que você desse errada o programa parava, fazia bobagem etc. Então eu gostei, foi muito divertido. Mas realmente essa hora que eu entrei não era a área que o senhor Santos me convidava, ele sempre me convidou para trabalhar no RH [Recursos Humanos] e eu sempre escapei, e depois teve uma série de coisas também na minha vida pessoal, e aí eu acabei saindo do CPD e fui para a área de RH, e o que eles me pediram foi exatamente a minha experiência de aula e para mim começar a trabalhar com a área de treinamento, que naquela época, 1972, já havia treinamento, mas era um treinamento meio pequeno eu diria.
P/1 – Então nesse período, eu não queria perder, como você tem uma memória visual muito boa, eu queria reportar esse 1972, quando você entrou, que loja era que você entrou e como era o Pão de Açúcar nessa época, uma geral do Pão de Açúcar?
R – Eu fui muito privilegiada, eu fui fazer o estágio na loja nove, que era o antigo Sirva-se, lá na Gabriel Monteiro da Silva, era uma loja belíssima, diria assim o que havia de mais moderno estava naquela loja. Então, isso, é difícil dizer o que é que era… É lógico, se você entra hoje numa loja de supermercado, a quantidade de mercadoria, a diversidade é tudo maior, vamos supor, a quantidade, os volumes são muito maiores, mas jogando para a época que a nossa indústria não era preparada para isso, não havia diversificação de mercadorias a loja nove era realmente uma loja maravilhosa. Eu não me recordo quando o Pão de Açúcar comprou a loja nove, acho que ele não manteve isso, mas eu tenho lembrança dessa loja na fase anterior, ela tem um tanque de água salgada e eles vendiam lagosta viva nessa loja, era uma loja que tinha quando o Pão de Açúcar comprou gerador próprio para o caso de faltar luz etc. Câmaras frigoríficas já separadas por mercadoria, então era uma loja muito bem equipada.
P/1 – Bem especial?
R – Eu não diria que é especial, era um supermercado como realmente deveria ser sempre.
P/1 – Arrojado para 1972?
R – Isso. Não, porque na realidade ele é de 1950 e pouco, ele foi inaugurado em 1954 e foi vendido para o Pão de Açúcar em 1965, então ele é quase o segundo supermercado mais antigo de São Paulo, só tem um mais antigo que ele.
P/1 – E de lá você foi para o RH?
R – Não, eu entrei fiz estágio nessa loja, que foi um mês, uma coisa assim, acho que foi no mês de novembro e em janeiro eu comecei a trabalhar no CPD, que eu tinha feito o meu curso de programação de Cobol etc. Depois de um ano é que eu fui para o RH para a área de treinamento, então eu tive um período de adaptação para ver o que se fazia. Quando eu entrei havia dois treinamentos: um treinamento de operadora de caixa, que era feito numa loja; e tinha também um treinamento de gerentes, e esse treinamento de gerentes era totalmente feito na loja. Quando eles entravam, eles recebiam um pequeno roteiro, assim, de que loja eles iam aprender a seção de frios e laticínios, na loja nove, aprender a seção de verduras, sei lá, na loja dois; e tinha um roteiro para cada seção que o pessoal passava. Eles voltavam ao RH, porque o gerente de RH entendia muito de operação, e ele conversava o que viu, não viu, corrigia, orientava, tal e acabava. Quando eu entrei no treinamento, eu vi que eu não saberia fazer isso, porque eu não era uma especialista de varejo e uma outra coisa que eu achava importante… E por outro lado, o treinamento de caixa era dado por uma operadora e que estava tudo na cabeça dela, então eu procurei sistematizar um pouco, o que seria sistematizar? No caso da operadora de caixa, eu assisti o treinamento e coloquei no papel, o que deveria ser ensinado, quanto tempo. A primeira vez foi mais ou menos como ela fazia, e na medida que a gente foi assistindo e vendo quais os problemas que havia na loja, a gente foi acrescentado e realmente no fim a gente tinha um programa muito bem estruturado; e no caso dos gerentes, foi mais ou menos a mesma coisa, mas eu comecei a convidar gerentes da administração central para fazer palestras para essas pessoas, porque eu, inclusive, não tinha esse conhecimento. E realmente a gente chegou num ponto, isso muitos anos depois, já em 1976, 1978 que era um programa extremamente estruturado em que a gente procurava desenvolver não só um conhecimento técnico do varejo, mas procurando desenvolver também lideranças, comunicação, porque o gerente da loja que teria que passar todas as informações para os seus funcionários. Então ficou um programa muito completo e que eu considero, eu acho que foi um excelente programa, não só pelas palestras, nós incluímos palestras de especialistas, cursos para que eles não fossem para a loja tentando descobrir tudo, a gente já procurava dar um embasamento para eles conferirem na loja como era aquilo, eles tinham que fazer relatórios para desenvolver também a escrita, foi um programa muito interessante.
P/1 – Era uma novidade no RH então?
R – Eu diria que sim, porque logo depois do primeiro ano eu fiz uma proposta de que para a gente realmente ter resultados, a gente deveria ter um centro de treinamentos, que era exatamente para poder ter um lugar para fazer essas palestras, cursos e trocar as experiências. Então eu acho que uma das coisas que o Pão de Açúcar também me propiciou, além daquele estágio, que realmente a minha entrada na empresa já foi diferente, eu entrei conhecendo o negócio, eu acho que uma outra coisa que ele me propiciou, foi esse de construir uma área e diferente daquilo que ela estava e realmente a gente fez um centro de treinamento. Eu acho que isso foi também um desafio, porque era uma novidade e mais do que o centro de treinamento, eu acho que realmente foi levar o treinamento para dentro da companhia, porque nós fizemos um caminho inverso: da operadora de caixa, nós fomos subindo, tirando o gerente que já existia e nós aprimoramos, mas o que nós fomos subindo, tinha um treinamento de operadora, mas para fazer um bom treinamento de operadora, a gente convidava o fiscal para assistir o treinamento para saber o que é que a gente estava ensinando para ele poder cobrar; só que a partir daí, ele gostava do esquema e ele também queria assistir e ver, aí o chefe dele também se interessou. Então, nós fizemos uma conquista na área de operações ao contrário, o treinamento não é que veio assim, a diretoria… Lógico, a diretoria mandou-se criar um centro de treinamento, mas ela não definiu o público que seria feito lá, então realmente foi processo de conquista e foi o de cima para baixo, quando a gente percebeu, a gente estava com programas para os diretores, então foi o caminho inverso, mas foi um caminho… Não foi muito fácil, porque a mentalidade na época não era de treinamento, a empresa era muito operacional, e que eu também era, eu gostava do lado operacional, mas ainda havia muitos preconceitos, a gente sabia que tinha muitos gerentes que dizia assim: “Bom, você veio do treinamento, agora você esquece tudo que você aprendeu, porque aqui na loja a gente funciona de forma diferente.” Mas eu acho que valeu a experiência, eu acho que nós demos uma contribuição boa para a empresa naquela época, inclusive porque foi uma fase de muita expansão da empresa. Por exemplo, na compra da Eletroradiobraz, o treinamento teve uma atividade muito forte, talvez a área de treinamento tenha sido a primeira a entrar na Eletroradiobraz, antes da assinatura de compra. E nós fomos, entramos lá através do diretor tesoureiro que o senhor Santos comentou, senhor Osvaldo Garcia, porque nos contatos que ele fazia com a Eletroradiobraz ele percebeu que o sistema deles era muito diferente, e a gente ia ter que mudar esse esquema. Então, ele chamou o treinamento, nós fomos ver o que é que tinha na Eletroradiobraz para adaptar, entender a linguagem deles, porque no dia que foi assinado o contrato, realmente toda a Eletroradiobraz passou a funcionar como o Pão de Açúcar, sistema Pão de Açúcar. O Abílio deu um depoimento hoje de manhã, ele comentou inclusive a respeito dessa compra, que a situação financeira da Eletro não era boa, e uma das coisas mais impactantes que eu tive dentro da empresa foi exatamente quando ele anunciou para todos diretores e gerentes da administração central que o Pão de Açúcar tinha acabado de comprar a Eletro. Nós tínhamos uma sala de reunião grande aqui, era uma sala quadrada com uma mesa redonda muito grande, que a gente chamava de sala redonda, então ele reuniu todo mundo nessa sala de pé, porque não cabia todo mundo e falou que nós tínhamos de acabado de comprar a Eletroradiobraz, que a situação era difícil e que o que nós tínhamos que fazer, a imagem que ele colocou foi a seguinte: era uma roda que estava girando e que nós tínhamos que parar essa roda e girar ela para trás, porque senão a gente descia ladeira junta.
P/1 – Que ano era isso?
R – Mil novecentos e setenta e seis. Eu me lembro que eu encolhi quando ele falou isso, porque eu já tinha ido a Eletro para ver os procedimentos, mas eu não sabia da situação financeira da Eletro.
P/1 – Você estava no RH?
R – Eu estava no RH na área de treinamento e por isso que eu falei da nossa atuação, nós tivemos a preparação do nosso pessoal que foi para as lojas, porque para cada gerente da Eletroradiobraz numa loja, nós colocamos um gerente nosso, e para os encarregados a mesma coisa nós encostamos, era dois homens tocando a loja, dois homens tocando a portaria, a frente de caixa. Nós primeiro treinamos essas pessoas que foram para as lojas e montamos todo o manual para o gerente da loja Eletro, o que é que ele devia fazer em que situação, se ele tivesse problema x, para quem ele telefonava, quem ele recorria, e a partir daí a gente começou a dar cursos, todos os cursos possíveis para o pessoal da Eletro para aprender os procedimentos Pão de Açúcar.
P/1 – Quanto tempo você ficou no RH, Norma?
R – Muito tempo, vinte anos, mais ou menos.
P/1 – Depois do RH você foi para onde?
R – Bom, dentro do RH teve mudanças. Nós tivemos um primeiro centro de treinamento, que foi aqui na Cincinato Braga, muito pequenininho, eu acho que não deu certo este centro de treinamento, que foi montado um outro centro de treinamento no Jumbo Aeroporto, com nove salas de aulas, com uma mini loja, e depois que era muito mais um treinamento operacional. Depois a gente já começou a fazer uma divisão, eu fiquei só com a parte do treinamento dos administradores e os programadores que fariam os programas, tudo isso já significa um novo desafio, pegar o treinamento do administrador, de fazer programas e não só para São Paulo, porque nós ajudamos a implantar o treinamento nas regionais também; e isso foi até 1990 quando nós tivemos a grande virada do Pão de Açúcar e nessa hora eu fiquei meio no ___ um certo tempo, fiquei até com centro administrativo da Bandeirantes até que ele fechou, e depois disso eu fui para o Projeto Memória.
P/1 – Como foi o começo com o Projeto Memória, como é que ele surgiu dentro da história da empresa?
R – Olha, um pouquinho pior do que foi o de treinamento, porque quando eu cheguei no treinamento foi um novo desafio e uma nova oportunidade, porque quando eu cheguei no treinamento havia pessoas que mexia com isso, era o chefe da seleção, era também o chefe do treinamento e já havia dois treinamentos. O Projeto Memória quando eu peguei era assim, era eu e uma mesa só, eu não tinha um papel, não tinha estante, não tinha nada e saí pela empresa buscando alguma coisa. Na mudança, quando se fechou a Berrini todo mundo jogou tudo fora, eu tentei sair, que até foi uma dica da Ana, porque foi a Ana Diniz que criou o Projeto Memória, peguei um gravador tentando entrevistar os antigos, mas a nossa memória nunca é muito boa, então uma das entrevistas, uma das primeiras entrevistas que eu fiz, a conversa era até engraçada por ele dizia assim… Então começou a contar fatos etc: “Naquela época que a gente comprou a Eletroradiobraz, que ano que foi mesmo, Norma?” Eu disse “Não lembro.” E nenhum dos dois lembrava, a gente sabia as histórias, mas não sabia o que tinha vindo antes e o que vinha depois, a gente sabia que a gente tinha realizado, tinha feito. Depois de entrevistar duas ou três pessoas, eu via que eu precisaria saber um pouco mais da história, porque daqueles depoimentos eu nunca conseguiria casar com nada e foi realmente quando eu saí pela empresa batalhando muito para conseguir um documento, um papel.
P/1 – E como ele foi constituindo para chegar o que é hoje?
R – Olha, uma parte eu sabia onde estava, que eram álbuns de fotos da diretoria, fotos das lojas, que estavam na biblioteca.
(Troca de fita)
R – Então, quando eu comecei a fazer as entrevistas que eu vi que eu não lembrava, eu não conseguia encaixar os fatos, encadear os fatos com as entrevistas, realmente eu fui atrás de alguma história mais escrita, através de papel de comunicações, de manuais, inclusive manuais de integração, que eu sabia que existiam, porque eram do treinamento; e uma das coisas, que eu acho talvez o acervo mais antigo que nós temos, que é o de fotos, que eu sabia onde estava este acervo. Ele era as fotos das lojas, eram da biblioteca da diretoria que estava guardado lá no centro administrativo, e como eu participei do fechamento da sede, eu havia enviado isso, o melhor embalado possível, eu mandei para um dos nossos depósitos. Então, quando eu peguei o Projeto Memória eu fui diretamente nesse depósito e eu consegui resgatar as fotos, então o começo foi por aí. Mas foi difícil, porque como o Pão de Açúcar estava também passando por uma fase difícil, ele estava muito mais voltado para o hoje, para amanhã, e eu aparecia perguntando umas coisas de 1948, que ninguém tinha muita paciência ou lembrança para me contar. Então, eu acabei realmente fazendo um trabalho muito solitário de busca, sempre tendo algumas pessoas simpáticas que vinham me trazer alguma coisa e trabalhando sozinha também. Cada vez que eu recebia algum material eu levava muito tempo para conseguir destrinchar tudo aquilo que eu estava recebendo. Eu não sei, foi sempre buscando, sempre procurando e alguns doadores passando isso para mim. Mas até hoje isso não é muito claro na empresa, eu acho que novamente eu passo por uma situação mais ou menos como a do treinamento, sabendo a importância do trabalho, como deve ser preservado, mas que ainda não está difundido na empresa, que todos nós que estamos construindo essa história, que ajuda a construir, deveriam cuidar para que ela fosse preservada. Eu acho que uma boa forma de você preservar é tentar centralizar a informação em algum lugar, que não é só da história que a gente… Que eu gostaria de preservar, era não só a história da empresa, que eu acho que é uma história muito bonita, de luta, de garra, de realizações, de inovações, é uma empresa muito atual. Por isso quando você me pergunta, como que era o supermercado em 1970 e é hoje, eu diria que era um supermercado muito bom, porque era muito atual, uma loja aberta 24 horas por dia em 1969, ela não podia ser, era muito mais que atual, era única no Brasil. Então, eu acho que isso é até um orgulho da gente ter tido oportunidade de participar dessa história, não foi eu quem abriu a loja, não fui eu que toquei a loja 24 horas, mas é muito bom saber que a empresa tem essa ideia e trabalha para isso, para ser essa loja o melhor possível sempre e dar alguma coisa a mais para o seu cliente, então eu não gosto muito de comparações, porque…
P/1 – … Está sempre inovando?
R – Não só inovando, se renovando que, às vezes, é algo mais difícil.
P/1 – Atual mesmo.
R – Então, quando eu falo da parte da memória da empresa, eu vejo não só preservar a história, que eu acho que é uma história que deve dar orgulho para quem está nessa empresa, mas ao mesmo tempo preservar o know how da empresa, que eu acho que nós perdemos muito, que fica na cabeça das pessoas que, às vezes, ela não tem a oportunidade de passar para frente. O varejo é muito ágil, muito rápido e não tem, assim, aqueles planos que você fica planejando um ano para implantar não sei quando, então com essa agilidade a gente perde muita coisa.
P/1 – O que é que você sugeriria então para o Projeto Memória e Espaço que você trabalha, porque ele ganhou essas duas salas, o espaço da exposição e a área que você atua. Você pode contar um pouco das suas atividades e o que é que você tem guardado lá, o que é que te chama a atenção, fala alguma coisa, Norma, o que é que você acha?
R – O acervo… Por isso que eu fiz a comparação com o treinamento que é um desafio, porque cada dia que passa eu estou aprendendo também, assim como eu aprendi no CPD, porque eu fiz um curso, mas eu vi realmente praticar aqui no treinamento. Eu dei aula em cursinho, mas o treinamento de empresa é diferente, eu tive que estudar, eu tive que adaptar para dentro da empresa e a mesma coisa eu estou fazendo no Projeto Memória. Eu fiz uma faculdade de História, mas contar a história da empresa, e principalmente hoje, é diferente daquela aula que a gente contava quem descobriu o Brasil. Então, é um constante aprendizado, o acervo realmente para mim é um desafio, porque eu nunca sei o que vai chegar, eu tenho peças com dois centímetros de tamanho, nem isso, menos de um centímetro, que é um botão de lapela ou um alfinete de lapela, muito pequenininho, e tenho um troféu, por exemplo, eu não sei quanto que tem, mas deve ter uns 80 centímetros de altura mais ou menos, eu tenho papel, eu tenho fotos. Cada um desses materiais eu sei que tem que ser preservado de uma forma diferente para ele não se deteriorar, não se estragar, então a gente está sempre tentando descobrir qual é a melhor forma de guardar tudo isso. O acervo realmente para mim é um grande desafio, e na parte da história, isso graças ao avanço da tecnologia, eu sei que eu vou colocar tudo em computador, tirando sempre os backups para não correr o risco de perdê-los, que é a forma mais fácil realmente da gente guardar essa história, que é muito papel, é muita história para ser contada, isso em termos, assim, do que eu tenho lá dentro, agora você fez um outra pergunta que seria…
P/1 – … O espaço que você tem…
R – … As atividades do dia a dia. Então, das atividades assim é uma constante pesquisa, não só do passado, porque eu não levantei tudo, mas uma pesquisa também do hoje, porque o hoje para mim é muito importante, porque o hoje é a história de amanhã, é muito mais fácil guardar o que está acontecendo hoje do que tentar descobrir daqui a alguns anos o que aconteceu hoje, e essa informação não vem assim… As pessoas não entregam uma folha na minha mão, eu pesquiso muito no nosso site e notícias através das pessoas que trabalham aqui, sempre que eu encontro com alguém estou perguntando que está se fazendo, o que é interessante, pedindo material para registrar aquele fato, mas nós temos também um outro… Depois tudo isso tem que ser trabalhado. Nós temos um outro lado que nós somos procurados, principalmente, por estudante, principalmente, universitários que fazendo o trabalho para a escola, para faculdade, TCC [Trabalho de Conclusão de Curso], mestrado, etc. pedem informações, que a gente acaba tendo um contato muito grande com eles. E hoje está se tornando um trabalho muito desgastante, eu tenho uma pessoa praticamente tempo integral para conseguir responder a essas pessoas que nos procuram. Apesar de que já tive coisas interessantes também. Eu já tive um jornalista da Veja que ele queria escrever uma matéria sobre como o paulistano se alimentava na década de 1960 e uma parte do levantamento dele foi vendo as nossas fotos para ver os produtos que eram vendidos no supermercado naquela época, inclusive os litros de leite que ainda existiam na década de 1960. Então, essa é uma forma da gente poder usar esse nosso acervo e esse material. Por outro lado, dentro da própria empresa a gente já deu subsídio para algumas de nossas áreas atuarem, então, por exemplo, a própria loja da Gabriel Monteiro da Silva, quando ela foi reformada na década de 1990, que não conseguiu o alvará da Prefeitura, porque ia ser reformada e a Prefeitura dizia que ia descaracterizar o bairro, e foi uma foto do acervo Projeto Memória que mostrou que a loja seria totalmente reformulada, mas ela não ia descaracterizar, porque ela ia continuar com a mesma altura, mais ou menos, com a mesma fachada e foi assim que eles conseguiram aprovação. Então, esse acervo ele pode dar, assim, vazão para muitas visões, muitas interpretações e muitos levantamentos, e esse lado é muito gratificante para nós.
P/1 – E tem uma grande gama de documentação não só pessoal da família Diniz, como…
R – … Eu não tenho, da família Diniz não é realmente o acervo, posso ter alguma ou outra foto, mas comparado o que eu tenho mesmo é um acervo da companhia, não tenho acervo pessoal.
P/1 – Por aí pode se ver um pouco da história da companhia com o material que você tem?
R – Dá, alguma coisa se vislumbra por ali, mas é muito pouco e é muito pobre, pelas realizações que eu sei que essa empresa já fez, das quais, inclusive, eu até já presenciei ou participei.
P/1 – Se você acha que é pobre, o que você acha que faltaria para enriquecer o acervo?
R – Não, o pobre que eu falo é no sentido, assim, vamos supor, até que eu tenho um razoável acervo de fotos da década de 1960, mas eu não tenho nada da década de 1980 ou tenho pouco da década de 1990, isso para falar em fotos ou mesmo em termos de história. É difícil levantar determinados dados ou entender o porquê de alguma coisa da história por eu não ter material escrito de algumas épocas da nossa trajetória.
P/1 – E o que você sugere para receber esse material talvez faltante dentro da companhia?
R – É divulgar. E, veja, passado, hoje, está mais difícil a gente resgatar, às vezes, a gente tem que ir em fontes externas, inclusive, que seriam jornais e revistas da época, mas o que eu deixaria aqui gravado e que é importante é preservar o hoje, não descuidar do passado. Nós vamos estar sempre procurando descobrir o nosso passado, sempre que tiver oportunidade eu estou sempre incluindo dados no nosso banco, tanto que uma das nossas dificuldades que eu tenho é: que dia é hoje? Porque, às vezes, eu estou digitando a data de 1971, outras vezes é de 1959 depois eu pulo para 1980, e quando você me pergunta que dia é hoje eu não sei nem em que ano eu estou. Então a gente está sempre mexendo nisso, mas pelo menos o hoje a gente já preservar para ter uma história muito bonita e poder ilustrar essa história daqui nos próximos 50 anos, que eu acredito que essa empresa chega lá.
P/1 – Com certeza. Norma, com a sua experiência de vida dentro do grupo o que é que te marcou ou o que você gostaria de falar desses anos trabalhando junto ao grupo?
R – Talvez em termos de fatos marcantes realmente para mim, foi aquele que eu citei dessa reunião em que o Abílio dizia que nós ao comprar a Eletroradiobraz: nós tínhamos uma roda girando em direção ao abismo, e que nós tínhamos que parar a roda e girar para trás. Isso em termos de marcar, de ser um choque, quando eu vi o tamanho da encrenca que a gente estava entrando, porque o trabalho foi muito, mas isso realmente não é o que pesa mais, porque a gente fazia tudo com muito entusiasmo, mas tem alguns detalhes da nossa história que eu tenho lembranças boas e que eu gosto muito, e essas que eu gostaria de colocar.
P/1 – Por exemplo?
(Troca de fita)
R – As memórias que eu tenho do Pão de Açúcar são antes de eu trabalhar no Pão de Açúcar e quando eu era pequena, porque no início da década de 1950 eu vim morar aqui na Brigadeiro Luís Antônio, exatamente em cima, ou melhor, em cima da doceira, no prédio de apartamentos que existia em cima da doceira. Então eu tenho lembranças da doceira desse início da década de 1950, eu me lembro que eu gostava muito, eu achava muito bonito, hoje eu sei o que é que eu via lá: era uma loja muito atual, se a gente lembrar o mobiliário da época, da década de 1950, todos os móveis da doceira e as estantes todas da loja era de pau-marfim, tudo muito claro; o piso era de pastilhas branca e bege, tudo muito suave, com vidro jateado na parte superior da vitrinas e as linhas dos móveis era uma linha moderna, e conserva alguma coisa do passado que era uma pequena mesa de centro, que seria de uma sala de visita, por exemplo, onde os clientes poderiam sentar, que era estilo Luís XV, era o antigo e o moderno. Por isso que eu falo dessa empresa ser atual, realmente eram móveis maravilhosos. Lembro dos bolos que eles faziam, porque eu estava sempre rodando em volta daquela doceira, e tinham coisas realmente muito bonitas que eles faziam e o senhor Osvaldo Garcia, inclusive que trabalhou lá, inclusive ele comentava: “Olha, você pedia o que você quisesse que a gente dava um jeito e a gente fazia o bolo.” E tem foto realmente de bolos muito diferentes e muitos bonitos. Ainda da lembrança da doceira que eu tenho, eu não ligo muito para doce, não gosto muito de doce, mas o quindim da doceira Pão de Açúcar, as poucas vezes que eu comi um doce lá, porque eu não gostava de doce, eu era do salgado, eu nunca mais comi nada parecido, então realmente era… Para quem não gosta de doce e gostar de um específico é porque era muito bom, a doceira era muito conhecida e ganhou prêmios, inclusive de preferência pública e assim por diante, essa é minha primeira lembrança lá nos meus 8 anos de idade ou algo desse tipo. E uma outra lembrança que eu tenho, já não morava mais nesse prédio, mas é da loja um, que eu vejo que as pessoas esqueceram um pouco disso da parte da loja um, e eu queria até frisar para corrigir um painel que foi pintado na… Eu estou falando da loja um quando não é da loja um, é da doceira ainda, a loja um quando foi reformada agora no ano 2000, foi pintado um painel dando toda a trajetória do senhor Santos e lá pintaram um caminhão da doceira Pão de Açúcar, como sendo verde escrito em letras brancas. E esse caminhão da doceira que eu tenho lembrança, sempre me chamou atenção, porque não eram cores muito usuais, esse caminhão era de uma cor laranja, mas um laranja cenoura, que é aquele laranja mais apagado e era escrito em azul e azul claro, não era um azul forte índico, era um azul mais… Não um azul bebê, mais um azul claro e dava um conjunto muito interessante. Então isso era a visão, assim, de uma garota que olhava e não sabia muito o que significava aquilo, mas que não eram cores usuais e eu não sei de onde veio aquilo, mas que eu achava bonito, essa é uma das lembranças. A outra lembrança que eu tenho e que foi muito forte, a gente tinha muito prazer de ver, de participar, de frequentar foi o Jumbo, hoje, como Projeto Memória, eu digo que nós fomos os pioneiros etc., mas nem foi com o Jumbo de Santo André, era o Jumbo do Aeroporto, ele realmente marcou época aqui em São Paulo. Era uma loja deliciosa, era uma loja maravilhosa, um hipermercado com todo o modelo europeu, mas que foi adaptado ao Brasil e que realmente era uma loja sensacional, toda uma ala de serviços e tinha um supervisor daquela loja, que também faz uma parte muito grande da nossa história, que era o senhor Nestor Baena que eu gostaria deixar registrado, isso era na década de 1970 e na década de 1980, algumas coisas marcaram. A empresa cresceu muito na década de 1970 e na década de 1980 ela tentou um pouco se reorganizar ou se renovar, apesar de continuar ainda inovando, que foi logo no ano de 1970 era lançar um produto marca própria, que era um detergente em pó e biodegradável, que eu achei aquilo sensacional dentro dessa atualidade da empresa. Porque a primeira conferência internacional de defesa do meio ambiente só foi realizada em 1972 e nós já tínhamos um produto biodegradável; essa marca própria trouxe também alguma coisa mais nova para nós anos depois, que foi a criação de um laboratório para controlar a qualidade dos produtos, porque a marca própria se desenvolveu muito, a quantidade de produtos que a gente tinha era muito grande; e nós tínhamos um laboratório e não éramos nós que fabricávamos; então, havia um laboratório só para testar a qualidade do produto que estava sendo trazido para nós. E um dos projetos que eu também tive a felicidade de participar (aquelas coisas, assim, que quando a gente participa a gente vive mais e se torna mais importante) foi exatamente numa renovação das nossas lojas, quando foi lançado, em 1985, o Pão de Açúcar Especial e realmente na época se falava que esse era o supermercado de segunda geração. E uma das coisas que eu gostava desse supermercado é que ele tinha um conceito muito claro e muito definido, e objetivos de qualidades a serem perseguidos. Então, o primeiro conceito do qual se estruturava todo esse supermercado especial é que o seu conceito era do fresh, do light e do ___, eram os produtos frescos, saudáveis e leves, então daí foi dado uma grande ênfase numa seção de frutas e verduras. Foi incluída definitivamente a peixaria, para ser um Pão de Açúcar Especial a loja tinha que ter peixaria, mas muitas coisas foram feitas em 1985. Pela primeira vez se mudou o layout da loja, a seção de frutas e verduras que sempre ficou no fundo da loja, ela é trazida para a frente da loja, como sendo assim um grande cartão de visitas e uma porta de entrada para o consumidor, que passava e via todo aquele colorido de verdes, vermelhos e laranjas, e também na frente da loja estava a padaria. Essa loja trouxe não só conceitos novos, mas trouxe tecnologia, que foi os conceitos novos não só do tipo da linha de produto que seria dar ênfase, mas o layout da loja. A introdução da padaria que trouxe tecnologia, porque nós tínhamos uma panificação central e que distribuía para as lojas especiais o pão resfriado, que foi feito um estudo se ele seria resfriado ou seria congelado. Então havia possibilidade de você ter pão frescos nas lojas de hora em hora, porque a massa estava pronta resfriada em geladeiras e eles iam colocando no forno para poder dar as fornadas, que inclusive era marcado. Tinha um relógio perto da padaria dizendo: “próxima fornada quatro horas da tarde” ou “seis horas da tarde”, eles marcavam lá no relógio, essa era uma das sessões. Uma outra seção, que também foi um sucesso na época, foi dentro de frutas e verduras, um balcão que chamavam de salad bar que era a tua salada pronta. Então era um grande balcão frigorífico com gelo picado, e sobre esse gelo cubas de acrílico que você já tinha o seu tomate limpo, lavado, picado, a suas alfaces, os cogumelos, enfim todos os produtos que você pudesse imaginar, que você pegava uma bandeja, você pegava duas folhas de alfaces, uma sei lá, uma colher de cenoura, outra de cogumelo. Enfim, você fazia a sua salada, pesada, era vendida por peso, e você ia para a sua casa e você tinha a sua salada pronta. Isso também porque já se estudava que a população em São Paulo, pessoas que moravam sozinhas, o número de pessoas que moravam sozinha aumentava muito, então ou eram as pessoas de idade, mas com outro espírito, que não moravam mais com os filhos e permaneciam sozinhos, eram os casados, os desquitados e mesmo solteiros que não queriam morar mais com os pais, e essa loja era um prato cheio, principalmente…
P/1 – … Para os olhos?
R – Não só para os olhos, mas para esse segmento de consumidor. Então teve muita tecnologia atrás também dessa loja e dessas inovações, eu acho, infelizmente como a gente teve lá todas aquelas conturbações no final da década, muito desse conceito foi perdido e nós renascemos agora com conceito muito semelhante em termos de layout, de qualidade, melhor do que o que tinha em 1985 com uma tecnologia muito mais avançada. Por isso que eu falo que é um pouco difícil fazer a comparação, então foi inovador na época, foi um sucesso; e é o que eu falei: não era só uma questão de como você arrumava a mercadoria, até as sessões mudaram de nome, “peixaria” chamava “rios e mares”, as sessões de frutas e verduras, o FLV [Frutas, Legumes e Verduras] de hoje, era “horta e pomar”, e tinha uns cartazes indicando, era um negócio muito bonito, e com toda essa tecnologia que eu falei aí atrás e dentro dessa tecnologia. Isso me remete a um outro tipo de loja, também que se desenvolveu muito na década de 1970, que foram os mini box. Eram lojas muito despojadas, com aparelhagem muito simples, sem nenhum serviço para o consumidor, mas que tinha também uma tecnologia também atrás, e principalmente, uma logística muito grande. Lendo os relatórios da diretoria naquela época que falavam que esse tipo de loja, o mini box, tinha dado a resposta para a empresa, para a diretoria de como atender a comunidade da periferia, porque eram lojas de pequeno porte preparadas para uma grande venda. Elas eram despojadas, não ofereciam serviço, mas ofereciam preço muito bom, mas a gente só conseguia manter essas lojas funcionando pelo esquema de logística do nosso depósito central, para abastecer as lojas pelo volume de vendas que elas tinham, e isso já mostrava esse outro lado social da empresa, que criava uma loja como o Pão de Açúcar Especial, mas também não descuidava dessa população da periferia, que era uma população mais carente. Era uma loja que me tocava muito, e era uma satisfação muito grande treinar o pessoal dessa loja. Então são alguns dos fatos aí que marcou, e que eu entrei com muito entusiasmo. Hoje estou muito afastada dessa parte de operação da loja e do varejo, que eu sempre gostei, mas procuro acompanhar, o que tem sido feito e até registrar, e realmente eu continuo muito encantada.
P/1 – E você vive intensamente?
R – Vivo. E lembrando a minha origem na Informática, eu acho que naquela eu nunca poderia imaginar o salto que a Informática daria. Quando a gente consegue hoje interligar o nosso depósito, a nossa loja e não só a nossa empresa, mas ela está ligada ao fornecedor com pedidos automáticos, eu acho isso, assim, um mundo sensacional. E sempre vendo esse lado da qualidade, hoje muito claramente dando esse foco, que o nosso foco é o cliente, o nosso foco é a qualidade do produto e a qualidade do serviço, que talvez décadas passadas pelo nosso crescimento extraordinário nem sempre isso ficava muito claro, que a gente via que a empresa crescia, crescia muito e a gente sempre tentando consertar alguma coisa em volta. E hoje eu acho que está muito claro para todo mundo esse foco do cliente e esse foco da qualidade de atendimento, de serviço, de produto, porque qualidade e atendimento é tudo, não é só uma parte; e para mim é uma satisfação imensa ver tudo isso se realizando, que eram coisas que a gente já queria que tivesse acontecido há mais tempo.
P/1 – Eu gostei muito da forma como você conduziu as suas lembranças…
R – … E esqueci muitas, né?
P/1 – Com certeza você é uma fonte imensa de história desse grupo, eu gostaria muito mais de prolongar e quem sabe outras oportunidades…
R – … Mas eu extrapolei o tempo já.
P/1 – Você tem muito que contar, porque você vivencia isso e trabalha com Projeto Memória, Espaço Memória, e você tem uma memória visual que é muito rica. Eu realmente gostei da forma como você conduziu, mas para finalizar o que é que você poderia nos dizer do senhor Santos e do Abílio?
R – Olha, o senhor Santos eu conheço um pouco mais, até porque ele gosta, sempre gostou muito de conversar e eu acho ele uma pessoa sensacional. Ele realmente é um empreendedor, uma grande visão, ele é um autodidata, ele não tem uma formação formal, mas realmente é autodidata, é uma pessoa que gosta de ler muito e é também uma pessoa muito carismática. Eu lembro ainda na época do treinamento, que quando ele entrava, porque ele sempre visitou as lojas, ele nunca se afastou das lojas, quando ele visitava, ele ia visitar o Jumbo Aeroporto, eu não sei como a notícia conseguia… Porque o centro de treinamento era dentro do Jumbo, mas era sala fechada; eu não sei como notícia corria, que de repente eu via assim um burburinho no corredor, eu ia ver o que acontecia, os treinando que tinham acabado de entrar na empresa, tinha um, dois dias de empresa, eles estavam no corredor, que eles queriam conhecer o senhor Santos, porque disseram para eles que ele estava na loja. Então, eu não sei como aquela notícia corria e ele realmente era uma figura muito carismática, e talvez por isso, ele visitava as lojas, ele procurava conversar com todo mundo, sempre com uma palavra de incentivo, sempre com elogio e nunca foi uma pessoa de chamar a atenção, de brigar, ele procurava sempre ver um lado positivo e sempre dar um incentivo para a pessoa quando ela tinha que corrigir alguma coisa: “Muito bonita a sua loja. Veja aquela gôndola.” Não falava o que é que era para ver, provavelmente alguma coisa errada, mas eu nunca vi ele falando, sempre simpático e sempre também dando uma orientação. Eu acho que ele realmente é ele uma pessoa, assim, fora de série, não é sempre que se encontra uma pessoa como ele. O Abílio eu sempre tive menos contato, até um pouco do que contaram, que eles eram uma dupla invencível, o Abílio sempre teve a fama de ser mais duro numa negociação ou numa conversa, exatamente o oposto do senhor Santos, por isso que falavam que era uma dupla invencível. Então vinha o senhor Santos numa conversa muito agradável, o que não quisesse dizer que ele ia ceder, porque se ele tivesse feito isso, ele não construía o império que ele construiu, ele sabia muito bem onde queria ir, onde chegar, e até onde se poderia se fazer um acordo e um negócio, mas quando se conseguisse passar pelo senhor Santos encontrava o Abílio aí o negócio ou ia ou não ia, ou podia havia um caminho inverso, porque os dois realmente sempre fizeram uma boa dupla. Todo aquele feeling do senhor Santos de ver qual era o negócio, para onde se expandir… Ele sempre gostou de coisas diferentes, que dizer, o português normalmente começa com a sua mercearia, com a sua padaria e ele teve isso, mas num determinado momento ele passou para uma doceira, e em outro determinado momento ele decidiu ir para o supermercado. Então é uma pessoa que tinha visão, ele conseguia tudo que fosse no varejo enxergar mais longe, eu acho que isso perdura na companhia, e o Abílio também tem essa visão; e o que os diretores comentavam, sempre pego antes da década de 1990 que eu estava mais junto a operação, que ele era imbatível para dar uma meta de venda e conseguir definir ou vislumbrar resultados da empresa, nunca ninguém ver isso melhor do que ele, mas eu acho que realmente foi uma grande dupla para construir essa empresa.
P/1 – Você gostaria de acrescentar alguma coisa?
R – Olha, o que eu gostaria, até puxando um pouco para a minha área e para o meu trabalho, e até pelo que eu falei, pela admiração e pelos pontos positivos que eu vejo nessa empresa, eu gostaria realmente muito de conseguir preservar essa história, e que ela pudesse ser contada amanhã, amanhã que eu digo não sou eu quem vai contar, outras pessoas, que eu falei daqui a 50 anos.
P/1 – Perpetuar.
R – Perpetuar realmente, não só a companhia, mas perpetuar a história e como ela foi se colocando ao longo do tempo. E quando eu falo da admiração por hoje, não é só pelas lojas que ela tem, que são lojas belíssima, e principalmente, o atendimento que o cliente tem nessas lojas, eu acho que hoje está muito mais aberto, assim, muito mais clara a atuação do Pão de Açúcar a sua atuação social, que antes… O Pão de Açúcar sempre de alguma forma, sempre ajudou alguém, mas não de uma forma sistemática, não de uma forma tão concreta.
P/1 – Abrangente.
R – Tão abrangente, e hoje isso está muito claro, que eu acho que novamente é uma empresa do seu tempo, é uma empresa jovem, inovadora, que se renova e que está constantemente no seu tempo e essa é a ____. É lógico que ela tem uma linha condutora que vem desde o início, que já tende para isso, e que hoje se desenvolve muito mais, que também essa história teria que ser preservada, a sua participação, a sua atuação junto a sociedade. E a mensagem que eu digo é isso, venham contar as suas história para no Espaço Memória, porque é uma empresa que vale ser relembrada e pode ser exemplo anos a fio, não só como está sendo hoje.
P/1 – Muito boa essa sua colocação, e o que é que você acha por ter participado dessa entrevista?
R – Olha, mais do que eu ter participado, essas entrevistas terem se realizado e da diretoria da área, no caso o Paulo, que começo a fazer todos os contatos, e que isso se repita muito, porque eu sendo da área, o que eu sei, se eu não estou falando estou procurando registrar e estou escrevendo, mas é muito importante todo mundo vir aqui dar o seu depoimento, mas eu adorei, pena que tenha acabado, porque eu acho que tem muito mais história para contar.
P/1 – É uma pena, porque você realmente é uma fonte…
R – … E sugiro que se faça, não uma mesa redonda que é muito frio, mas assim confortáveis poltronas, de uma forma informal que cada um vá contando sua história, porque uma história puxa a outra e muita coisa vai ser lembrada, eu acho que seria muito bom.
P/1 – Com certeza, muito obrigada, gostei muito.
R – Obrigada vocês pela oportunidade.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
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