Projeto Morro dos Prazeres - Esse Morro tem História
Realização Museu da Pessoa
Entrevista de Cristiane Lucas da Silva
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 07 de Julho de 2002
Código: MP_CB022
Transcrito por: -
Revisado por Gabriele Maciel
P/1- Bom dia Cristiane.
R – B...Continuar leitura
Projeto Morro dos Prazeres
- Esse Morro tem História
Realização Museu da Pessoa
Entrevista de Cristiane Lucas da Silva
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 07 de Julho de 2002
Código: MP_CB022
Transcrito por: -
Revisado por Gabriele Maciel
P/1- Bom dia Cristiane.
R – Bom dia.
P/1- Como é o seu nome completo, a sua data de nascimento e onde você nasceu?
R – Meu nome é Cristiane Lucas da Silva. Eu nasci no dia 24 de novembro de 1988. Onde? Eu não sei.
P/1- A sua família morava aqui no Morro dos Prazeres quando você nasceu?
R – Já.
P/1 – Você conhece um pouquinho da história do seu pai e da sua mãe? Eles são nascidos no Rio? São de outra cidade? Você sabe?
R – Não.
P/1- Você está na escola? Você frequenta a escola Júlia Lopes?
R – Eu estudo lá.
P/1- Está em que série?
R – Terceira.
P/1- Terceira série. Em relação ao Casarão. Você frequenta o Casarão? Faz aulas aqui no Casarão?
R – Faço aula de circo. Só.
P/1- Mas você já fez aula de pintura, não foi?
R - Foi.
P/1- Como é que era essa aula?
R – A gente tinha que..., o corpo pra passar para o papel. Tudo o que a gente sentia aqui no coração, na nossa vida, tinha que passar para o papel. Fazia o possível pra passar no papel.
P/1- O que você costumava botar no papel? O que você sentia de bacana dentro de você pra você botar no papel? O que você gostava de pintar?
R - Pão de Açúcar, o mar, o Cristo, o morro, as pessoas, porque se não tivesse as pessoas, não seria aqui. Botava só isso. Botava pássaro, borboleta, não só os animais.
P/1- Era colorido?
R – Era. Tudo tinha que ser colorido, senão não teria graça.
P/1 – Tinha nome aquele quadro?
R - Eu botava: “O que a Cristiane sente”. Mas às vezes eu apagava.
Eu não achava que combinava. Aí, eu escrevia de novo.
P/1- Você gosta de morar aqui, você gosta dos amigos, você gosta dessa vista.
R - Gosto. Até porque se, por exemplo, um estrangeiro quiser assim: “Como é que foi feito esse Casarão?”. A gente vem aqui pra falar, pra mostrar os grafites, aqui dentro. Porque sempre vem um procurando. Fica perdido. Pra encontrar esse Casarão.
E esse Casarão é tudo. Tudo o que tem de bom. Entrevista, passeio, projetos, um montão de coisas tem aqui. Então por isso eu não quero sair daqui nunca.
P/1 – E o que você acha legal, por exemplo, quando vem um estrangeiro aqui, o que você acha legal mostrar?
R – Os quadros. Adoro quadro. Adoro. As paisagens do Pão de Açúcar, mas lá de cima que dá pra ver. Daqui não dá direito. O Cristo, o mar. Ponte. Tudo muito legal.
P/1- Qual dessas vistas que você curte mais? É possível? Tudo tão bonito não?
R – É, mas o mais bonito que eu acho é o Cristo Redentor, porque lá... Eu fui lá, é a maior emoção cara. Ele é um gigante, muito grande mesmo. Os braços dele, cara. Muito legal. O meu sonho é ir ao Pão de Açúcar. Nunca fui lá. A minha mãe sempre fala: “Vamos Cristiane. Ah não. Tenho medo de altura. Não vamos não.” Aí eu falei: “Mãe, o que é que tem? Lá está tudo seguro. Lá não tem como cair”. E aí ela: “Mas, lembra de que o último acidente que teve em que o carrinho do Pão de Açúcar caiu?”. Eu falei: “Mãe, já passou”, ainda não a convenci pra ela ir, mas ela não gosta. Medo de altura. Eu vou convencê-la pra ela ir lá.
P/1 – E agora a sua aula de circo. O que você curte no circo, alguma daquelas... Bolinha...
R – Malabarismo.
P/1 – Você curte? Você gosta de fazer?
R – Minhas primeiras foram tantas bolas no chão e agora eu sei jogar com duas. Agora com as três, todas caem. (risos)
P/1- O que você acha do que o Casarão faz aqui, de vários projetos pra crianças, pra jovens?
R – Eu acho super legal porque isso já faz direto pro trabalho. Por exemplo, uma patroa diz: ‘”O que você gostaria de fazer? O que gostaria de aprender?”.
Aí, fala assim: “O que você aprendeu lá onde você vivia?”. Eu tinha que passar tudinho pra lá. Tinha que levar..., se isso aí dá certo ou não. Mas aí tudo o que eu aprendi aqui no Casarão, na minha casa, tudo, mostro pra ela. Mas eu não faço parte do Casarão.
Faço ali na igreja, aula de inglês e computação. Estou no projeto Casa do Murilo. Já ouviu falar?
P/1- Não.
R – Eu estou. Minha família está. Ganha todo mês uma cesta básica, toda reunião tem um passeio. Eu adoro quando é Casa do Murilo. Esse é um projeto maravilhoso que aconteceu na minha vida. Lá na Casa do Murilo tem passeios, tem aula de computação, tem outras coisas pra gente fazer. Não tem só aula de inglês e aula de computação. Eu não sei direito. Pra mim ela falou assim: “Cristiane, o que você quer ser assim, projeto de trabalho?”. Aí eu falei: “Deixa pensar. Tantas coisas... Ah. Não. O que eu gosto mais é ser modelo e manequim.” Aí ela falou assim: “Ih, vai ser difícil”. “Mas eu vou conseguir isso.” Aí, você conhece a Fernanda? Ela está planejando uma rádio novela. E eu já estou nessa.
Só que vai ser muito difícil. Vai demorar muito pra vir essa rádio novela. Mas ela já está lançando.
P/1- Cristiane, o que significa o Morro dos Prazeres pra você?
R – Paz, harmonia, amor, carinho. Violência, amigos, só.
P/1 – O que você acha? A gente está fazendo esse projeto de memória, recuperando histórias com uma porção de gente da comunidade. Histórias antigas. O que você acha desse projeto de memória? O que você acha de dar um depoimento para um projeto, pra gente preservar um pouco da história da comunidade?
R – Eu acho super legal, porque assim a gente sabe mais coisas do Casarão, do morro... E o que eu não soube quando pequena e eu posso saber agora. Eu acho super legal, por isso eu dou essa entrevista com o maior prazer, para aprender mais sobre a comunidade e tudo.
P/1 – Então super obrigada Cristiane. Foi muito legal.Recolher