Meu nome é Jacó Bittar, nascido em 12 de outubro de 1940, em Manduri, Estado de São Paulo.
FAMÍLIA
Meu pai é sírio, falecido, é Athanásio Bittar. Minha mãe, brasileira, falecida, Jacy Rodrigues Guilherme Bittar.
Meus avós eu conheci por parte de mãe. Por parte de pai não, porque ficaram na Síria. Por parte de mãe, Isabel Castrezzi e Clodomiro Castrezzi.
Conheço muito pouco a história de meu pai, muito pouco. Mas acredito que deve ter vindo ao Brasil em 1926, por aí, que deve ter vindo para o Brasil. Cálculos que eu fiz. Ultimamente eu estou até resgatando isso com meus primos que ainda moram em Manduri, mas ainda não resgatei totalmente. Porque quando meu pai morreu, em 1950, eu tinha 10 anos de idade, para completar 10 anos de idade. Então não resgatei essas origens, essas coisas todas. E a minha mãe era filha de brasileiros, mas descendente de português, o avô. E a avó, a mãe da minha mãe, de italianos.
Meu pai era comerciante. Fazia comércio. Armarinhos, fazenda, arroz, feijão, açúcar. Vendia para os colonos do interior, e os colonos efetuavam o pagamento na colheita. Tinha uma loja. Não, o nome não me lembro, não me lembro. Mas tem até hoje lá. Foi nessa loja que eu nasci, e eu costumo passar lá.
MIGRAÇÃO
O que ocorreu foi o seguinte: quando o meu pai morreu, em 1950, nós mudamos para Santos, onde moravam meus avós, e nós todos ficamos sob a guarda dos meus avós por parte de mãe. Isso em 1950. Eu vim para o enterro do meu pai e nem voltei, e nem sequer voltei a Manduri. Vim direto para Santos, onde eu terminei o curso primário e fiz o curso industrial básico interno, me formando em mecânico de máquinas operatrizes, na Escola Industrial Escolástica Rosa de Santos.
INFÂNCIA
O tempo de Manduri para mim é muito vago. Não guardo muitas memórias. Guardo memória do quintal, que tinha um pé de manga; guardo dos vizinhos, que a gente pulava para pegar manga no vizinho. Mas muito pouco, muito pouco eu guardo de memória disso aí. Mais depois, da vida de Santos. O que eu sei é que em 1945 eu sofria de uma bronquite, e meu pai se transferiu para Santos, nos mudamos para Santos, para curar esse bronquite minha, que foi curada em 1947. Aí nós retornamos para Manduri.
FAMÍLIA
Não mantemos nenhuma tradição síria, absolutamente nada. Podia ser até, meu pai estando vivo. Fazia reuniões na casa da minha tia, servia um café que não é coado, essa coisa toda, um bate-papo. Mas pouca lembrança eu tenho sobre isso, porque meu pai morreu cedo, morreu com 47 anos, e nós tivemos que ter uma mudança radical na nossa vida.
Meu pai, veio ele e um irmão, mas já tinha uma irmã morando em Manduri. Veio ele e o irmão juntos. O irmão dele, que é Jorge Bittar, tinha um posto de gasolina na cidade de Manduri, e ele tinha loja.
INFÂNCIA
Bom, evidentemente eu não tive uma vida de infância como eu gostaria, está certo? Aos 10 anos de idade eu tive de mudar de escola. Meu avô tinha uma farmácia. Nós saíamos cedo para levar um tio meu que trabalhava nas docas, íamos para a farmácia, fazíamos a primeira limpeza da farmácia, 8h eu ia para a escola, saía meio-dia e trabalhava até as 9h na farmácia - fazendo entrega de remédio; ia buscar remédio na cidade. Tinha bonde naquela época, era uma maravilha.
EDUCAÇÃO
E depois disso, aos 12 anos, eu prestei exame na escola mais famosa de Santos, que chama-se Canadá, para fazer o ginásio. Mas não consegui passar porque não tinha preparo suficiente, estudo. Era uma escola muito difícil. Era escola pública, mas quem entrava realmente era a classe média. Eu entrei, eu prestei exame na Escola Industrial Escolástica Rosa, para fazer um curso profissional qualquer. Porque a gente faz seis meses primeiro de estágio e depois faz uma opção. Eu fiz opção por mecânico de máquinas operatrizes, que é ajustador mecânico, que é fresador mecânico, que é torneiro mecânico, que é plainador mecânico. Então tive essa formação, interno. Fiquei interno 4 anos, porque acontecia com as famílias. A escola protegia algumas famílias que não tinham muitas condições de vida. Então almoçava, jantava, dormia, e no terceiro domingo do mês é que a gente ia visitar os parentes.
Eu escolhi essa escola primeiro porque era uma escola que até que no esporte competia com o Canadá. Mas era uma escola que as pessoas mais pobres, com menos condições, está certo, que freqüentavam essa escola. Era uma escola grande, tinha tipografia, encadernação, elétrica. Era uma escola industrial de peso, e era uma escola que o mantenedor dela era o João Otávio dos Santos, falecido, que era mantenedor da Santa Casa de Santos também. Mas era uma escola com muita preparação para a vida profissional. Então eram pessoas que talvez não dessem continuidade aos estudos se tivessem que trabalhar, como foi o meu caso. E eu tive outra fatalidade na minha vida: quando eu me formei em mecânico de máquinas operatrizes, eu tinha um tio meu, solteiro, que gostava muito de mim e queria me proteger e dar continuidade a um ensino técnico, essa coisa toda, quase equivalente a engenharia, na Escola Getúlio Vargas em São Paulo. Ele faleceu em 1956. Mas aí eu entrei nas Docas de Santos, nas oficinas, como ajustador mecânico. Isso eu já estava com 17 anos, em 1957. E foi essa, mais ou menos, a minha trajetória em Santos.
LAZER
Jogava futebol, jogava basquete, cheguei no período de juvenil, mesmo trabalhando, jogava no time de basquete Vasco da Gama, que disputava o campeonato juvenil. Mas pouca coisa: futebol na escola, evidentemente. Um pouco na base do físico só, porque eu não era bom de bola não, mas ninguém passava.
Praia, praia à tarde. Gostava muito do horário de verão, porque nós trabalhávamos até cinco horas da tarde, não tinha semana inglesa ainda, nem meio expediente, então eu gostava muito do horário de verão porque dava tempo de sair do trabalho e ainda ir na praia jogar bola. E depois que tive uma vida mais regular, uma situação de não trabalhar sábado à tarde, jogávamos na praia. Montava trave, jogava futebol, fazia parte do time.
Eu torcia para o Palmeiras. Torcia, torcia. Mas assistia a muito jogo do Santos, quando o Santos tinha um time espetacular, até com o meu grande amigo que eu fiz em Santos, que é um amigo meu até hoje. O pai era santista e tinha uma cadeira cativa, e a gente freqüentava.
O ídolo do Santos era Pelé. Vi o Pelé jogar. Teve um campeonato em que eu não perdi um jogo do Santos. Eu tive a felicidade de ver um dos maiores times do mundo jogar, que é o time do Santos. E o meu ídolo na época, nesse período, era o Mazolla, do Palmeiras, que depois foi para a Itália, depois de 1958, quando foi campeão mundial, e na Itália passou a chamar-se Altafini, mas aqui era Mazolla.
TRABALHO
Eu entrei nas Docas como aprendiz, porque eu não tinha idade. Foi 1957. Então eu não poderia entrar na profissão, e esse pai desse amigo meu, ele era chefe de tráfego nas Docas, que me conseguiu esse emprego de aprendiz de ajustador. Mas eu já exercia a função, porque eu já era formado, mas por questões burocráticas eu não poderia ter um salário de um ajustador. Quando eu completei 18 anos eu já fui para ajustador “C” nas Docas de Santos e fiquei 5 anos. Quando eu prestei exame na Petrobras, eu tinha um tio meu também que era muito dedicado às Docas. Ele pediu para minha mãe fazer um almoço, a minha mãe fez o almoço: “Que loucura que você está fazendo, você está saindo de um emprego que ninguém sai!” E é verdade, você entrava nas Docas e não saía mais, porque era um emprego de estabilidade e tal. E quando eu prestei exame na Petrobras ele falou isso. Mas cinco anos depois ele falou: “Você é que estava certo!” Mas foi isso.
INGRESSO NA PETROBRAS
Soube do concurso da Petrobras por jornal, prestei o concurso e passei para operador de processamento.
Eu não conhecia ninguém na Petrobras, absolutamente ninguém.
MILITÂNCIA
Deixa eu dizer uma coisa para você: eu vibrei com o lançamento do Sputnik. E são coisas que vão acontecendo. Eu via certas revistas na escola, contra o comunismo, aquelas revistinhas que passavam, eu não gostava de ver aquilo. Tinha algumas revistas de Moscou que eu... intuitivamente ia vendo essas coisas. Freqüentava as assembléias do sindicato, mas era um menino, via a ação das pessoas. Santos era uma cidade muito politizada, e os nossos discursos eram discursos classistas, evidentemente, a gente era operário, trabalhador, e a na formação natural foi acontecendo isso. Então nas Docas, evidentemente, a participação era muito distante, porque as lideranças eram grandes lideranças que em 1964 foram afastadas, foram para o navio Raul Soares. Mas tinha, eu gostava de ir e ia nas assembléias todas as vezes que tinha oportunidade e assistia as assembléias de reivindicação, de reajuste, essas coisas todas.
Chegou-se a dizer, a sofisticar tantas reivindicações, que em Santos, no porto de Santos existia salário-chuva. Chovia, tal, o cara ganhava um percentual porque choveu. Ele trabalhava mais ou menos que descoberto. E eu me lembro perfeitamente: “Daqui a pouco vai ter salário-vexame para o cara, o faxineiro que limpava as privadas e tal e coisa!” Então surgia essa coisa, havia tanta organização e tanta luta, que era efervescente o movimento, era bonito as discussões, a gente assistir, debater.
Mas ninguém da minha família estava envolvido em política, absolutamente ninguém. E se for para eu avançar um pouco mais, eu avanço a história. Em 1964 eu já estava na Petrobras havia 2 anos. Tinha casado em fevereiro e estive na iminência de ser mandado embora em 1964. Mas um supervisor que gostava muito de mim... Porque coincidentemente eu saí de férias dia 30 de março. Então teve um supervisor, que por sinal o nome dele era Fleury, gostava muito de mim, porque eu era muito dedicado profissionalmente. Ele foi e disse o seguinte: “Olha, vai lá e fala com fulano - que era o gerente da fábrica de fertilizantes -, que eu mandei você falar com ele. Não fala nada, mas você tá na iminência de ir embora!” E eu fui falar com ele. Me atendeu no portão, e eu falei: “Olha, o Fleury mandou falar com você.” “É, você está marcado, tal, porque disseram que você saiu das Docas e veio para cá por uma articulação, que seu pai era do movimento sindical, ele que trabalhou tudo isso.” Eu falei: “É um absurdo, meu pai morreu em 1950.” “Ah, está bom, então essa coisa vai se desmistificar.” E acabei, de uma maneira quase que coagida, dar um meio-dia de salário, ouro para o bem do Brasil. Não sei se você ouviu falar disso. Mas o Fleury falou: “Mas você vai ter que dar, nem que eu tenha que te pagar do meu bolso!” Eu não queria dar, mas aí o emprego fala mais alto.
IMAGENS DA PETROBRAS
Primeiro eu conheci a Petrobras já com 13, 14 anos de idade, com o suicídio de Getúlio Vargas, que assinou a Lei 2004, dia 3 de outubro de 1953. Eu já tinha alguma coisa que gostava... O “Petróleo é Nosso”, essa coisa toda, ouvia falar e discutir. E o pessoal, quando surgiu a Petrobras, o suicídio de Vargas e tal. Então, tinha muito amor pela Petrobras. Nós todos, todo o pessoal que estava lá tinha muito amor pela Petrobras.
INGRESSO NA PETROBRAS
Quando eu entrei na Petrobras foi para formar o quinto grupo. Então foi aí que abriu a possibilidade de concurso público, com o quinto grupo, porque eram quatro grupos que trabalhavam oito horas. Três grupos trabalhavam oito horas e um ficava de folga. Quando eu entrei na Petrobras passou a ser seis horas. Então ficavam quatro grupos trabalhando seis horas e um de folga. Quer dizer, depois de muito tempo se conquistou nas outras refinarias. Então, essa coisa da Petrobras, a gente tinha um grande amor pela empresa. Quando eu entrei na Petrobras, a Petrobras ia completar nove anos, isso em 1962. Então eu vivi os dez anos da Petrobras. Eu vivi e recebi medalha de dez anos, depois que eu completei na Petrobras em 1972. Mas eu queria receber a outra medalha, que o Shigeaki Ueki não me deu depois, a de 20 anos.
Eu entrei em 1962 para ser operador de processamento na fábrica de fertilizantes, na unidade de ácido nítrico. Foi aí que eu entrei na Petrobras para completar o quinto grupo. Funcionava em Cubatão. Era do lado da refinaria.
Primeiro existia um curso de formação. Você primeiro faz um curso de formação. Se vocês depois virem a minha carteira de trabalho, vê que a minha entrada é em julho, depois eles contam o tempo de formação. Você faz o curso de formação para aí ir para a refinaria ou para ir para a fábrica de fertilizantes e depois se aprimora na fábrica de fertilizantes. E aí teve o pessoal que foi para a refinaria e o pessoal que foi para a fábrica de fertilizantes. Eu fui para a fábrica de fertilizantes e fiz o curso de fertilizantes. O primeiro grupo que eu fui trabalhar foi evidentemente desse supervisor que estava dando aula, e eu não vou contar vantagem, mas todas as provas que eu fiz durante o curso na fábrica de fertilizantes, eu tirei 10, todas as provas. Então, evidentemente, o supervisor desse grupo me levou para o grupo dele. Mas por problemas com um outro rapaz do grupo 5, aí eu fui mudado para o grupo 5. Então não me lembro muito não, só me lembro quando eu estava trabalhando e nasceu meu primeiro filho. Eu estava trabalhando no horário de zero hora e parecia um bobão. É o que eu me lembro. E do trabalho, um trabalho tumultuado, muito barulho, muitos gases.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Eram cinco pessoas no grupo. Nós pegávamos amônia, que vinha da unidade de amônia, passava por um catalisador a 800 graus centígrados. A própria tela de platina não havia, a gente ativava com maçarico, depois ela permanecia por si. Aí saía o NO, que juntado com a água formava o ácido nítrico. O NO2 é um gás que se produzia lá. E esse esfriamento aproveitava para gerar vapor. Então, ou trabalhava no reator ou trabalhava lá fora em dez torres que você ia coletando. Na torre 3 é que você tirava o ácido nítrico a uma concentração de 54,5%. E tínhamos que fazer a leitura de hora em hora, ver se estava tudo normal, se as pressões estavam normais, fazer o carregamento dos caminhões que iam buscar ácido nítrico. Era esse tipo de trabalho, ou fora. Não é que ficava fora o tempo todo, mas tinha que de hora em hora correr as torres, ver o nível das torres, tal, ver se estava perdendo nível, se não estava perdendo nível. Ou então no painel, onde tinha muito barulho, barulho dos compressores, ensurdecedor. E fazia a leitura da temperatura da amônia entrando, da amônia saindo, a temperatura dos reatores. Eram quatro reatores, a 830 graus cada um, na passagem da tela de platina. Era mais ou menos um trabalho nesse sentido, que eu fiz até 1971.
SEGURANÇA NO TRABALHO
Nós éramos muito bem preparados. A Petrobras sempre se primou por uma dedicação, por uma segurança muito grande, então nós trabalhávamos com muita segurança, nós tínhamos muita formação de segurança. O ácido nítrico se te tocar na pele te queima. Se você vai com meia de nylon, se respingar queima a meia inteirinha. Mas nós éramos bem preparados para isso. Havia curso de segurança, curso de combate a incêndio. A Petrobras era uma empresa modelo, uma empresa que os trabalhadores da Petrobras, da refinaria, da fábrica de fertilizantes tinham muito amor pela empresa.
RECURSOS HUMANOS
Bom, primeiramente que naquela época já tinha 30 dias de férias, e em dobro. Esse era o sentido. Isso é que levou em muitos momentos ao corporativismo dentro da Petrobras. Talvez a gente vá avançar isso quando falarmos do movimento sindical, mas tinha participação nos lucros, tinha, se não me engano, 15 salários por ano, e umas condições dignas de trabalho. Que com o correr do tempo, muito tempo depois houve uma queda na qualidade de tratamento, essa coisa toda.
RELAÇÕES DE TRABALHO
A vida social era a vida dos próprios colegas de trabalho, ou do pessoal do laboratório. Então, quando a gente estava de folga se reunia na praia, ou se reunia na minha casa. Fazíamos as coisas e as pessoas sentavam, bebiam juntas, conversavam juntas. A vida era essa. Porque é difícil você se encaixar em outro sistema, porque era um sistema de pessoas... Tinha dia que eu estava numa festa: “Eu vou trabalhar meia-noite.” O pessoal não acreditava, está entendendo? Isso é Natal, Carnaval, Ano Novo, não tem essa. O turno está indicado, coincidiu, você vai lá. O máximo que poderia acontecer é um turno sair uma hora mais cedo para o outro entrar uma hora mais cedo, para ele passar a passagem do ano, senão os dois perdiam a passagem do ano. Então a vida social era essa.
FAMÍLIA
Minha ex-mulher se chama Terezinha de Jesus Cabral Bittar.
Eu sou divorciado atualmente. Eu conheci ela, eu acho que em 1961, 1962. Em 1962 eu entrei na Petrobras, e me casei em 1964. Praticamente teve dois anos de namoro. Ela não trabalhava fora. Em Santos, em 1964, já tivemos um filho, que chama-se Calil. Em 1968, em Santos, tivemos outro filho, que chama-se Fernando, e depois fomos ter uma outra filha em Campinas, já em 1976. Só vou citar uma coincidência: os três são de ano bissexto, e eu também.
O nome Calil é uma homenagem a um tio meu, a um tio meu que era muito forte. Não é esse tio que gostava de mim, não. Muito forte, um sujeito que tinha uma força descomunal, então em homenagem a ele eu pus o nome de Calil.
MILITÂNCIA
O operador-chefe do Grupo 1 era um sujeito com formação de esquerda. Não era militante, mas tinha toda formação de esquerda. Quando a unidade estava parada a gente podia dormir. Por exemplo, parou a unidade para manutenção, a gente podia dormir, e eu ficava jogando xadrez com ele e trocando idéias. E eu sempre fui tendo esse discurso. Não sei se foi porque foi acontecendo na minha vida, a ruptura com a morte do meu pai, eu com 10 anos, ter um tipo de vida, depois ter um outro tipo de vida. Mas não tinha nada de estudo, de leitura, essa coisa toda, nesse sentido. Eu acho que eu tinha uma revolta natural na minha vida, e tinha discurso em defesa da União Soviética, em defesa do socialismo, em defesa da luta dos trabalhadores, das injustiças cometidas, sempre, mesmo estando na Petrobras. E o sindicato da Petrobras era um sindicato politicamente atuante, fazia parte dos contatos diretos com João Goulart, essa coisa toda, e a gente acompanhou um pouco isso. Agora, em 1971, quando privatizaram a fábrica de fertilizantes, que estava para privatizar e nós fomos quase que obrigados - quase não -, ou transferidos para a refinaria de Cubatão, ali mesmo, ou então para Paulínia, que ia entrar em operação em 1972, a maior refinaria do Brasil, a refinaria de Paulínia. E eu fiz a opção de ser transferido para lá. Mas no primeiro momento, lá o sistema de trabalho já era de oito horas. Nós passamos a ganhar mais, mas o valor-hora foi reduzido. Então eu comecei a reivindicar aquilo, lutar por aquilo, e pedi para voltar porque eu não queria mais ficar lá. Mas mesmo assim partiu a refinaria.
SINDIPETRO CUBATÃO / SANTOS / SÃO SEBASTIÃO
Em 1972 o sindicato de Cubatão ganhou extensão de base para todo o território do Estado de São Paulo, e eu fui ser delegado sindical, fui indicado como delegado sindical, tendo em vista que eu era de um grupo que foi para lá e não me preocupei em subir, em continuar subindo, passar para operador 2, operador 3, que era quem buscou a transferência nesse sentido, mas no retorno, porque eu me senti injustiçado pelo valor-hora ter sido reduzido. E nesses debates, nessas coisas todas, o sindicato me colocou como extensão de base. Isso foi em março. Em outubro o sindicato perdeu a extensão de base, o ministro tirou. E aí à Petrobras não interessava que outro sindicato dos químicos tomasse conta, que fizessem parte da base os trabalhadores da refinaria, dos químicos e farmacêuticos. Inclusive chegaram a incentivar a formação do sindicato. Basta dizer que a primeira assembléia da formação da associação foi no refeitório da Petrobras. Em 1973 foi reconhecido o sindicato, e eu fui presidente do sindicato em 1973.
Em Cubatão eu tinha pouca participação no Sindicato, pouca coisa, porque eram figuras muito importantes do movimento, entende? Você se sentia até alegre quando eles iam conversar com você na base, tal.
Silvino, eu não me lembro o nome completo dele, Silvino. Mas tinha figuras que se eu me lembrar o nome, depois eu até passo para vocês, que são figuras importantes. E eu me comprometo a fazer um esforço para lembrar o nome das pessoas, telefonando para outras pessoas, para indicarem os nomes. Eram figuras importantes. Esse Silvino mandava na refinaria. E em 1964, quando houve o golpe, houve essa situação toda, a invasão da refinaria, chegou a paralisar. Mas voltando a 1971, voltando à formação do sindicato, eu não tinha participação, era até difícil você se manifestar nesse meio, havia uma certa inibição, entende, as pessoas todas articuladas, essa coisa toda. A gente ia lá para bater palma e votar a favor das coisas do sindicato. Bom, e aí fomos para a vida sindical.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO / REGIONAL CAMPINAS
Em Paulínia, este ponto fundamental do valor-hora foi o que me jogou, me lançou e me colocou num patamar de pessoa que reivindicava. Os outros não, os outros se acomodaram no processo de subir dentro da empresa. Quer dizer, eles não lutavam por aquilo. Como o salário aumentou, está certo, em compensação você trabalhava duas horas a mais por dia. Mas se você dividisse o salário por 240 e o de Cubatão por 180, então o valor-hora de Cubatão era maior. Era essa a minha reivindicação, entendeu? E isso me colocou em contato com o sindicato. Me colocou em contato e aí eu fui indicado delegado sindical. Mas mesmo assim eu continuei na base a pedido do pessoal, da chefia, porque precisávamos partir a refinaria, dar partida na refinaria, iniciar a refinaria, iniciar o processo de produção da refinaria. Então eu fiquei, mesmo podendo ser liberado como delegado sindical, eu fiquei trabalhando até ela entrar num ritmo normal.
Olha, a primeira diretoria era uma diretoria que o que eu diria, muito patronal, está certo? Imaginava talvez, a Petrobras, que o meu comportamento fosse o mesmo. A gente foi mudando, foi mudando, fomos integrando, tirando... O sindicato - havia, se não me engano, oito refinarias ou nove refinarias, não me lembro bem, mas havia 10 ou 12 sindicatos que se reuniam anualmente, mas eram totalmente fora da luta da classe trabalhadora. Porque todas as vantagens que já se tinha, os trabalhadores não tinham. Em 1974, com a reposição salarial, a gente começou a se integrar com outros sindicatos, que eram o chamado sindicalismo autêntico. Havia a Unidade Sindical e havia esse grupo de sindicalistas, que o Lula fazia parte. A gente conseguiu ganhar uma eleição no Dieese, que é o Fundo Diretor do Dieese. Enfim, nós fomos - a partir do Sindicato do Petróleo de Campinas, foi mudando o comportamento do movimento sindical do petróleo, e se integrando no processo do movimento não ligado à Unidade Sindical, mas ligado ao sindicalismo autêntico, que deu no surgimento da CUT em 1983.
CENTRAL SINDICAL
FORMAÇÃO
Onde o sindicalista podia se reunir era no Dieese, Departamento Intersindical. Nós não podíamos fazer nenhuma reunião com outros sindicatos, que imediatamente o Delegado Regional do Trabalho chamava a gente lá e já cortava de cara, com ameaças ou coisas parecidas. Nós aproveitávamos então as posses de sindicato para fazer as respectivas reuniões e tirar documentos reivindicativos, problemas de salário mínimo real unificado, essas coisas mais comuns de todas as categorias. E foi a partir do sindicato de Paulínia que a gente foi mexendo com o movimento sindical. E de repente, o que eu cito por responsabilidade com o cargo, mas nenhuma formação política, coisa parecida, a gente trabalhava a mobilização da classe trabalhadora, está certo, e conseguia se destacar até nos meios sindicais, principalmente no Sindicato do Petróleo, que eram muito acomodados. Eu não estou dizendo que a história é a partir da gente, não - teve muita gente que lutou no passado, mas naquele momento estava se vivendo isso. Era o que a Petrobras mais queria, a Petrobras não queria que nós estivéssemos integrados nem à Petrobras e nem ao próprio governo. Então, na década de 70, foi um período inclusive que eu cursei, fiz o curso de direito à noite, de 1973 a 1976 ou 1977. Quando eu me formei, eu fiz um curso na Itália pela CNPI, de 3 meses, na Itália. Um curso de sindicalista, e lá tinha gente de direita e gente de esquerda, e a gente se reunia com o pessoal de esquerda, o pessoal da Nicarágua, principalmente. Então ajudou. Isso foi em 1977. Quando eu voltei, aí já estava eclodindo o movimento mais arrojado, mais avançado. A gente já tirava documentos. Os sindicatos do petróleo faziam um congresso anual, a gente reunia todos os sindicatos.
Fiz o curso de direito, mas quando terminei o curso não prestei exame na ordem e fiquei no movimento sindical.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Como sindicalista eu era liberado, eu e mais duas pessoas, pela Petrobras, já não trabalhava na base. Eu era pago pela Petrobras, isso foi desde final de 1973. E não voltei mais para trabalhar na refinaria. Nós tínhamos três dirigentes sindicais liberados, que era secretário geral, tesoureiro e presidente. Isso desde mil novecentos e qualquer coisa.
GREVE de 1983
Eu fiquei até 1983, quando fizemos a greve de Paulínia. É engraçado que eu tenho um documento aí, que a minha filha está pedindo a minha anistia agora - só agora eu estou pedindo anistia. O governo nos afastou do sindicato antes da refinaria paralisar. O decreto. À noite é que eles vieram. Entro nessa parte da greve?
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO / REGIONAL CAMPINAS
Eu tinha uma fama de um grande negociador da Petrobras. Nós tínhamos um... que discutia, conversava e negociava, chamava-se coronel Darcy Siqueira, que era o que sentava na mesa de negociação. E eu me lembro que nós fizemos uma campanha, mas uma campanha muito firme, de seis meses de licença-mulher, para amamentar a criança. E me lembro até perfeitamente que teve um dia em que nenhuma mulher foi trabalhar de calça comprida, e foram todas de saia. Até a Esterzinha, que nunca tinha colocado saia na vida. E foi tão firme o movimento, tão consciente, que esse coronel Darcy Siqueira, ele chegou e disse o seguinte: “Jacó, não me perturba com isso, ano que vem nós discutimos isso. Não me perturba! Você já levou a vantagem em tudo.” Mostrei por A mais B, que a longo prazo, a médio prazo, o que poderia ser aquilo no custo para o Brasil e não para a Petrobras, e nada ia custar para a Petrobras. E os movimentos, nós tínhamos muita comunicação com a base, de boletins quase que diários, entende, e uma capacidade de mobilização grande, que foi mobilizando, mobilizando. Basta dizer o seguinte: uma greve numa refinaria, se 20 pessoas furarem acaba a greve. Na operação, na operação. Tanto é que a nossa greve teve um nível de organização... foi uma greve consciente, muito consciente. Depois o pessoal foi perdendo a consciência, 153 demitidos. Isso provocou uma reação familiar muito grande, emprego na Petrobras, essa coisa toda. Mas então nós conseguimos, e conseguimos nos integrar. Por exemplo, fundos de greve que nós coletamos para a greve do ABC, a mobilização dos trabalhadores lá. Criamos, não me lembro em valores, mas foram valores altos, o pessoal participando. E esse novo sindicalismo, se contrapondo à Unidade Sindical, porque a Unidade Sindical tinha uma postura mais conciliatória. E conviviam com a gente, tanto é que o Conclat, em 1981, foi feito junto com todos os sindicatos. Era para acontecer o Conclat em 1982, adiaram por causa das eleições, e depois aconteceu a CUT em 1983, quando nós fizemos a ruptura.
A campanha da amamentação se perdeu, se perdeu. Se perdeu, porque eu acho que foi próximo de movimentos mais fortes, que se pegou no breu, e não se conseguiu a amamentação para seis meses, mas se conseguiu a mobilização em si. E as nossas assembléias eram muito concorridas. Por exemplo, nós tínhamos 1.200 empregados na refinaria de Paulínia; nas assembléias iam 900 pessoas.
A participação das mulheres era muito grande, muito grande. Na última diretoria nós tínhamos, se eu não me engano, três mulheres fazendo parte. Que é a Vanda Conte, a Esterzinha, e me parece que a Sandra também fazia parte. Mas tinha uma participação muito grande.
GREVE de 1983
Nós estávamos integrados ao processo do movimento sindical da greve geral. Então eu tinha por compromisso e por obrigação a mobilização dos trabalhadores da refinaria para a greve geral, que aparentemente estava marcada para o dia 25, ou coisa parecida, de julho. E nós começamos a mobilizar. Só que ela chegou num ponto que eu chamei o pessoal no Rio de Janeiro, todos os sindicatos, e disse o seguinte: “Não há mais como segurar a greve, o pessoal está no ponto de fazer a greve”. E você vai ver pelos recortes todos que depois várias categorias se integraram no processo da greve em Paulínia. Na reunião com os sindicatos eu falei: “Nós vamos fazer greve, lá nós estamos na iminência de fazer greve”. O entendimento que o pessoal tinha é que era um blefe, mas não era, a categoria estava ansiosa. A nossa reivindicação era estabilidade no emprego, e existiam uns decretos-lei, que eu não me lembro o número mais, que a gente combatia e que depois da nossa greve foi o primeiro decreto que nós conseguimos derrubar no Congresso Nacional. E nós não fazíamos uma reivindicação... Nós sabemos, olha, empresa não pode perder, ou melhor, não quer perder o poder de mando, então o que nós propusemos: “Vocês vão manter a mesma rotatividade dos últimos dez anos.” Quer dizer, então ela ficava com a faca e o queijo na mão para poder admitir. Quer dizer, a estabilidade absoluta é o que eles não querem, o poder de mando. E o pessoal não acreditava que a greve fosse sair. Os metalúrgicos estavam num congresso em Piracicaba e na passagem eles passaram por Campinas e passaram no sindicato. Estava quase toda a categoria no sindicato. Quando ia acontecer a greve aqui. Aí discursaram, tal. Então, no dia 5 eu fui a Brasília para conversar com o ministro Murilo Macedo, e ficamos de voltar a conversar.
Conversamos, mostrando para ele que não era nada absurdo o que nós estávamos pedindo, está certo? Nós estávamos simplesmente reivindicando uma estabilidade no emprego, melhores condições de trabalho e tal, e que isso a Petrobras podia dar. Aí nós fomos, e o ministro Murilo Macedo ficou de ligar de volta. Ele ia fazer uma intervenção na Petrobras, fazer um acordo com a Petrobras. Só que não houve retorno. Então o que nós fizemos? Nós pegamos o grupo que ia entrar meia-noite, nós chamamos todos eles para o sindicato, e foram todos do grupo para o sindicato, o grupo que ia entrar meia-noite, em todas as unidades. E nós dissemos o seguinte: “Estamos aqui, não estamos em greve, e vamos negociar. Esse grupo só volta a trabalhar se houver um atendimento ou se houver negociação!” E nada de vir notícia de negociação, nada. Aí o Shigeaki Ueki, que era o presidente da Petrobras, começou a radicalizar, para dar exemplo. Começou a radicalizar. E até uma jornalista falou o seguinte: “Mas eles podem dizer que vão negociar e você põe outro grupo lá dentro e fica com dois grupos, aí não pára mais a refinaria.” Mas eu falei: “Não, a rendição vai ser feita no sindicato, de cinco em cinco pessoas.”
Isso significava que eu punha cinco lá dentro e tirava cinco dentro da refinaria. Porque se eu mando um grupo de uma vez só, eles seguravam os dois grupos, descansava um e partia a refinaria. E o pessoal continuou. A rendição ia ser feita no sindicato. A rendição do grupo que passou no sindicato, que ia entrar às sete horas da manhã, ou oito horas da manhã, veio para o sindicato, e nós dispensamos o pessoal para ir para casa. Quando foi às três horas da tarde, isso já no dia 6, houve uma queda de tensão, coisa muito difícil de acontecer, combinado com a Paulista de Força e Luz, e o Caravante estava dentro da refinaria. “Jacó, caiu a refinaria, o que é que faz?” “Segura.” E todo pessoal pegou e fez a refinaria partir novamente, não deixaram cair a refinaria com a queda de tensão. Vinte minutos depois veio ordem para paralisar a refinaria. Deles. Não foi uma ordem nossa, foi deles; eles paralisaram a refinaria.
Nós queríamos ter o poder, o controle da produção, isso é que nos interessava, não interessava parar a refinaria. E o poder nós obtivemos. Tanto é que nós obtivemos, que eles tiveram que paralisar a refinaria. E tiveram que usar um subterfúgio para paralisar a refinaria, que era a queda de tensão da Paulista de Força e Luz: “Ah, caiu por uma queda” E a palavra de ordem que nós demos lá dentro: “Não, segura a refinaria”. Nesse dia mesmo já houve a intervenção no sindicato, à noite houve a intervenção, chegou o interventor. E a partir dessa data nós começamos a comandar o processo fora do sindicato, o sindicato estava com interventor. Foi aí que saíram aquelas fotografias que você viu lá no Teatro de Arena, depois no Parque Taquaral.
A greve durou seis dias. E eu pedia para o movimento sindical decretar a greve para o dia 15. Aí o movimento sindical decretou a greve geral para o dia 21. Ninguém agüenta uma refinaria paralisada mais do que 10 dias. Aí paralisou a de Mataripe.
As duas refinarias que paralisaram. Outras decretaram a paralisação, mas recuaram. Houve muito recuo das refinarias que decretaram. Naquelas pastas que vocês vão ver depois, eu não tenho toda lembrança, mas você tem todas as informações, todos os detalhes. E eu achei que foi um erro decretar a greve geral para o dia 21. E a greve tinha um cunho político, claro. A campanha das Diretas, essa coisa todo, esse troço todo, tinha um cunho político. Evidentemente que não se admitia isso na época, de jeito nenhum. O pessoal da refinaria ganhando o que ganhava, tendo a quantidade de salário que ganhava, fazendo uma greve para manter uma mesma rotatividade. Era para desafiar mesmo, era um pouco de.... pôr a liderança para fora, porque aproveitava o momento... Eu considero que foram os grandes movimentos do ABC que aceleraram o processo de abertura no Brasil, a luta dos trabalhadores. Depois a elite política puxou para si. Mas essa é que é a verdade, essa é que é a verdade. Aí imediatamente se abriu um inquérito para apurar justa causa, afastou os 24 diretores. Os 24 diretores foram afastados com processo de justa causa. E nós criamos uma Associação dos Demitidos e um Centro de Estudos para dar um pouco de sustentação à estrutura que passava por fora do sindicato.
Não teve mobilização dentro da refinaria, o pessoal estava fora, estava fora, quase todo o pessoal. Você vê, pela quantidade de gente que você tem ali e pelo número de pessoas que trabalham numa refinaria, aí a grande parte que estava ali é a parte da operação, não é a parte da administração. Mas começou uma guerra pela imprensa. A Rádio Bandeirante foi obrigada a sair do ar por uma entrevista que eu dei. Quer dizer, só se noticiavam coisas que o Shigeaki Ueki falava. A mobilização era o dia-a-dia. A gente se reunia, eu dava as palavras de ordem, essa coisa toda, e saía fora, porque senão me prendiam. A primeira noite eu não dormi em casa, a primeira noite andaram me procurando, mas eu fui dormir no melhor hotel de Campinas e lá não me procuraram. Naquela época era o melhor hotel, o Vila Nova.
Em Campinas a gente se reunia no Teatro de Arena. Depois, quando nós passamos para o Ginásio Taquaral, as pessoas... porque a pressão era muito grande, a pressão era na família, entende? Telegramas, comunicados. Forjaram passar vapor por uma torre, foram lá filmar para dizer que a refinaria estava partindo, entende? Não estava, a gente tinha todo o controle da refinaria. E tem mais: a greve acabou numa assembléia, não se esvaziou a greve, a greve acabou numa assembléia.
Aquela fotografia com todo mundo dando as mãos, e que o Caravante está com cara de choro, se você observar bem você verifica isso. E terminou. E aí continuou o processo de luta.
MILITÂNCIA
Tem um dado, não sei se interessa, em 1982 eu já tinha disputado o Senado pelo PT, e em 1982 tivemos um milhão e 200 mil votos. O Lula foi candidato ao governo do Estado, e eu fui candidato ao Senado. E em agosto saiu a CUT. Fui Relações Internacionais da CUT até 1987. Fiz com os países do Leste Europeu, mais Cuba, e juntei a CGT brasileira, COB, da Bolívia, PIT e CNT do Uruguai, e nós quatro conseguimos fazer uma Conferência da Dívida Externa, que foi uma grande conferência, quando eu era Relações Internacionais da CUT. Não veio nenhum país que não fosse do Leste Europeu, porque houve um boicote por parte das COS.
Aí nós começamos, iniciamos um processo de reintegração. Criou-se uma associação. Foram demitidos 153 em Campinas e 200 na Bahia. Mas nós iniciamos um processo. E nessa parte, dessa parte da associação, da criação de um Centro de Estudos, tal...
A abreviação do Centro de Estudos é Cefes. E um pessoal mais intelectual tomava conta, se conseguiam algumas verbas, tal. Eu tive muita atuação na Anampos para formação da CUT, essa coisa toda. E se montou uma estrutura paralela, tal. O sindicato aí já estava com outro tipo de interventor, da base mesmo. E começamos a discutir. E essa mobilização desse pessoal, cada momento que eu via a oportunidade tinha manifestação para falar com fulano, falar com os políticos todos, mas uma revelação que eu vou fazer aqui, eu me preservava muito porque eu era vice-presidente do PT. Deixei de ser secretário geral em 1983 para ser Relações Internacionais da CUT.
GREVE de 1983
Numa conversa em que estava eu, o Lula, Weffort e mais algum outro companheiro que eu não me lembro o nome, na Granja do Torto, com o Tancredo Neves, uma das exigências que eu fiz para apoio total daquela coisa toda, daquele movimento todo, foi a reintegração dos 353 demitidos. Eu me lembro que o Tancredo falou para mim o seguinte: “Mas também vocês foram fazer aquela greve absurda” Eu falei: “Presidente, não vou entrar no mérito, só quero o seu compromisso” Discutir se a greve era legítima... “Então tem o meu compromisso” E quase que roda, porque ele morreu antes de assumir. Mas aí continuou, a coisa evidentemente se colocou claramente para as outras pessoas que já tinham tomado conhecimento de que havia o compromisso dele da reintegração do pessoal. Bom, nessas alturas nós já começamos a discutir praticamente com o novo governo, com o novo ministério. O presidente da Petrobras indicado foi o Hélio Beltrão. E o autoritarismo da Petrobras era tão grande que eu fiquei dez anos como presidente do sindicato, um dos sindicatos mais importantes do petróleo, e eu nunca tinha falado com um diretor. O primeiro diretor que eu fui falar, foi com o presidente da Petrobras, o Hélio Beltrão, que depois eu falei com todos eles. Foi aí que foi colocada a situação, que era ponto de honra da Petrobras, nem eu e nem o Germínio. Não me lembrava o nome dele, o Germínio, que era o presidente do sindicato da Bahia. Nós não poderíamos retornar à Petrobras. Eu falei: “Presidente, economicamente, para mim não acontece nada porque eu já tenho direito à aposentadoria, mas o Germínio é um rapaz novo.” “Não, mas na Petrobras ele não volta!” “Então por favor o senhor nos coloque aí numa subsidiária!” E ele concordou, mas nem sei se o Germínio aceitou, não me lembro. Então foi isso o que aconteceu. Todos foram reintegrados, absolutamente os 353 foram reintegrados. Teve uma discussão que levou tempo, foi até novembro de 1995, eu fazia parte da comissão que discutia. O Caravante, na comissão, na comissão ele falou: “Se você encontrar um lugar para mim na Petrobras, você põe!” Porque nós não conseguimos mais. E aí eu fui falar com o Barros Munhoz, que era chefe do escritório de São Paulo. Ele falou: “Claro, Jacó, como não, claro que eu ponho ele aqui!” E pôs ele lá no escritório de São Paulo.
APOSENTADORIA
Politicamente para mim não era vantajoso me aposentar, apesar de ter o direito, o tempo de aposentadoria. E eu sou um dos defensores, sou um dos primeiros a falar que eu acho que a aposentadoria precoce traz a velhice precoce também. Porque toda pessoa fica na expectativa da aposentadoria, e a aposentadoria é o pico da vida, e quando se aposenta vem a velhice precoce. Basta dizer para você que eu poderia ter me aposentado em 83, com 43 anos de idade. Quem paga isso? A sociedade, é a sociedade. Então eu achava o seguinte: como eu tive uma conversa do presidente da Petrobras comigo, presidente do sindicato, cassado... Você sabe que eu posso ser candidato a tudo, mas não posso ser candidato, ainda, pela legislação, a um cargo sindical, né? Porque não pode, a legislação não permite, por ter sido cassado na greve.
Então eu arquei com as conseqüências. Hoje não, hoje inclusive saiu uma lei que eu poderia... O fato de eu ter que me aposentar até mesmo para proteger outros elementos, criou uma ruptura na minha carreira dentro da Petrobras. Mesmo estando no sindicato, tinha determinadas regras. Por exemplo, o dirigente sindical: a Petrobras tinha promoções de 12, 18 e 24 meses, então para o dirigente sindical era 18 meses, não tinha 12. Tudo bem, acho que até é um critério que ela tem. Então automaticamente, no próprio sindicato continuariam as promoções. Então, é isso que hoje, até por aconselhamento das pessoas, eu estou reivindicando, eu estava no nível 42 quando me aposentei, podia hoje estar no nível 56 dentro da Petrobras. Tem a lei aí, vamos ver o que ocorre. Mas eu não me sentia bem. Por isso é que todo mundo pediu anistia na época, mas eu não me sentia muito bem porque eu tinha discutido isso com o presidente da Petrobras, entende?
CULTURA PETROBRAS
Por outro lado, eu quero deixar claro que nós nunca fizemos greve contra a Petrobras, nós fizemos greve contra o autoritarismo da Petrobras. Porque o amor que as pessoas tinham e têm pela Petrobras, hoje um pouco menos, porque com as terceirizações, tal, e os salários menores. Hoje está se perdendo o ‘élan’ da... Eu tinha, por exemplo, tudo da Petrobras, principalmente quando eu trabalhava, era uma continuidade da minha casa, está certo, eu vivia isso. Então nós éramos contra o autoritarismo, contra a ditadura, contra essa coisa toda, mas nunca contra a Petrobras. A gente preservava. Me parece que nós tiramos um boletim apoiando o Ueki em uma determinada condição que ele colocou em defesa da Petrobras. Nós tiramos um boletim e colocamos na área, um boletim de área. Então não havia esse desgaste, a gente querer desgastar. Tanto é que a própria paralisação na greve, a gente não queria paralisar a refinaria, nós queríamos é negociar, discutir o assunto. O que se levou à paralisação foram eles mesmos. E acho que a Petrobras - e eu volto a falar que, quando entrei na Petrobras, a Petrobras ia completar 9 anos, hoje vai completar 50 anos, meio século. E a Petrobras, ela foi crescendo de tal maneira que hoje ela é uma empresa de fama internacional, de porte internacional, uma empresa que tem o domínio da tecnologia, um consenso, desenvolveu um trabalho, criou as condições, ela não foi somente um instrumento para o desenvolvimento, ela se desenvolveu também, além de ser um insumo para o desenvolvimento. Eu cheguei em um dado momento a dizer que a Petrobras não precisava mais do monopólio, da proteção do Estado, porque a proteção do Estado muitas vezes criava condições de inibição em outros Estados para ela fazer prospecção de petróleo em outros países, ou atuar em outros países. Enfim, eu acho que o amor que nós sentimos pela Petrobras, e que eu sinto pela Petrobras, e que nós sentimos pela Petrobras, era uma relação que também ajudava a criar as condições de desenvolvimento e de proteção da tecnologia da Petrobras, essa coisa toda, o amor... e que a gente sentia isso nos trabalhadores da Petrobras. E não era por questões salariais não, que eram boas, chegou um momento a ter 15 salários por ano, participação nos lucros, essa coisa toda, mas era a dedicação que se tinha pela empresa.
Nós tínhamos tanto amor pela empresa que queriam o mudar o logotipo do losango para um outro cubo, mais ou menos. Aquilo se transformou numa batalha, mas evidentemente prevaleceu quem tinha força e quem tinha autoritarismo, não autoridade. Mas a gente lutava. Eu me lembro que quando se completava 10 anos, 20 anos você ganhava, eu tinha o losango da Petrobras. Extraviou, tal, mas... E a gente achava que a mudança, e àquele tempo a gente era muito favorável ao monopólio estatal do petróleo. A Brasília do sindicato, o carro do sindicato, nosso sindicato, a chapa era 2004, que é a lei que criou a Petrobras, em 3 de outubro de 1953. Então tinha essa relação de amor pela empresa. Mas eu acho que muitas vezes a coerência, ela é uma desrespeitadora do semelhante, quando você tem uma coerência rígida, entende? E você tem que a cada dia que se passa, com as novas informações que você vai recebendo, você pode mudar o seu pensamento, e passa a respeitar outras pessoas que não pensam como você, está certo? Se você levar a ferro e fogo o processo da linha de coerência... Tem um discurso do Fernando Pessoa sobre isso, muito interessante, dizendo o seguinte - e eu tenho uma frase para isso: “Meus pais me fizeram cristão, a esquerda me fez ateu, e a vida me levou a Deus.” Está entendendo, quer dizer, eu, quando estive na prefeitura - fui prefeito de Campinas -, nos momentos de crise, de incompreensão, entende, eu orei, eu orei. E acho, quando eu falo que a Petrobras hoje não precisa da proteção do Estado, é porque ela é uma empresa sólida, consolidada. O que nós não podemos é criar as condições de desmando da Petrobras. Nós temos que tratar a empresa Petrobras como uma empresa de porte, empresa que vai atuar em outros países. Evitar ao máximo, vamos dizer, o processo político de uso da empresa como a Petrobras, e deixar que ela realmente vá ser uma sustentação natural da nação brasileira.
APOSENTADORIA
Acho que a data da minha saída da Petrobras é novembro. Ela não saiu nunca de dentro de mim, está certo? Eu saí da Petrobras.
Minha aposentadoria foi compulsória, em novembro de 1985.
MILITÂNCIA
Olha, em 1983 eu fui cassado, afastado do sindicato, mas já havia o sindicato de conquista, que a CUT foi uma conquista dos trabalhadores. Fui Relações Internacionais da CUT por quatro anos, de 1983 até 1987. Em 1988 eu disputei as eleições em Campinas e ganhei as eleições. Mas em 1986 também disputei o Senado pelo PT, tive um milhão e 800 mil votos. Quando eu disputei o Senado em 1982, eu achava que no maior Estado da Federação tinha que ter dois trabalhadores candidatos ao cargo majoritário. E o Lula teve um milhão e 250 mil votos, e eu tive um milhão e 200 mil votos. Quer dizer, um metalúrgico e um petroleiro. E em 1986 a mesma coisa. Em 1986 não tinha nenhum candidato majoritário da linha sindical. Era o Suplicy, o Hélio Bicudo e talvez a Marilena Chauí, se eu não fosse disputar a eleição. Eu também achei que naquele momento eu deveria disputar a eleição do Senado, sabendo perfeitamente que não ia ganhar, porque os candidatos eram Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, com todo o peso que tinham. E em 1982 muito menos, que o voto era vinculado de cabo a rabo, você votava no governador, votava até no vereador do mesmo partido, senão o voto era anulado. E foi essa a minha trajetória. Cumpri o mandato de 1989 a 1992 como prefeito de Campinas, que me adicionou muitas coisas. Havia ainda uma inexperiência por parte do Partido do Trabalhadores, de como lidar com essa coisa de poder e governo. E eu sempre, não sei se isso interessa a vocês ou não, mas eu sempre defendi que você tem que ter uma proposta, um programa de partido e um programa de governo, e uma coisa não pode destruir a outra, está certo? Eu tenho a convicção de que você tem que ter um programa de partido, mesmo que ele seja radicalizado, mas fazer que esse radicalismo seja transmitido à sociedade e que ela se radicalize também, se for a intenção do partido. E ela transforma a própria sociedade; não é o partido que vai transformar.
Eu acho que as eleições são um fator de desorganização da classe trabalhadora. A eleição traz uma ilusão, uma expectativa. Está aí, dois meses de governo, nada pode-se fazer, a popularidade cai assim sem o menor sentido. Porque se gera a expectativa ainda de salvadores da pátria. Eu acho que a candidatura do Lula, a eleição do Lula foi um grande avanço, e a relação que vai ser estabelecida com a sociedade não vai ser em coisas pontuais, vai ser a relação com a sociedade, a nova maneira. Quer dizer, qual é a diferença entre o conservador e o progressista no processo, a capacidade de decisão, a coragem da decisão. Porque o conservador, ele tem medo de tomar as decisões, ele não toma as decisões com a velocidade necessária como o momento exige. Então eu acho que vai haver uma mudança muito grande, já está havendo uma mudança na relação, e isso é muito importante. Agora, o que eu sinto é que o partido, nas suas posições diferenciadas daquilo que o governo tem que fazer, tem que discutir dentro do partido, não fora do partido. Têm que não ser condenadas as forças, vamos dizer, mais radicais, mas desde que isso aconteça dentro do partido, por um convencimento dentro do partido. Porque o que eu estou assistindo é o seguinte: é que nada pode ser público, contrariando o próprio poder que é o partido. Agora,, nada impede de você, dentro do partido, discutir as questões fundamentais e os pontos, por mais radicais que elas sejam. Para não perder o que é a necessidade de levar outro convencimento à sociedade que não o convencimento da expectativa de salvador da pátria. Para ser uma sociedade mais participativa e menos reivindicativa. Então isso precisa existir. Não tem solução para sociedade se não for colocada por ela mesma. Então eu acho que - e eu me lembro perfeitamente que essas coisas evoluíram dentro do PT. Hoje você percebe que tomam-se medidas que são obrigadas a se tomar, para dar uma continuidade a um processo de desenvolvimento, porque você tem uma economia indexada internacionalmente, mas nem por causa disso o Lula perdeu seus princípios, ou perdeu suas origens, ou perdeu suas condições de se relacionar de forma diferente com a sociedade. Eu me lembro perfeitamente que essa evolução foi acontecendo. Em 1988, 1989 não acontecia isso, acontecia que ninguém entendia como uma função tática do dirigente, do executivo. Você, dentro de uma proposta partidária, você tem a direção partidária, que é responsável política pelo partido, pelas posições partidárias, e você tem a militância partidária. E muitas vezes você tem uma militância partidária num movimento sindical, e ela é muito mais radicalizada, evidentemente, do que a direção do partido. Por outro lado você tem uma direção mais radicalizada do que um executivo do partido. Então essas coisas todas são um aprendizado. Eu me lembro que - não sei se foi em 1994 -, quando o Lula estava disputando a eleição ou ia disputar a eleição, surgiu a discussão do aborto e o homossexualismo. Mas não tem nada a ver com as eleições, mas isso não quer dizer que o partido não discuta, o partido tem que discutir, são princípios do partido. Aí tiraram ele fora para poder levar um programa do partido, que não se discutia homossexualismo nem aborto, que não é o que a sociedade quer. Então, esse problema de querer cobrar coerência das pessoas, está certo? “Ah, você nasceu assim...” O tempo todo, pô, é querer cobrar a involução, não é?
Não é possível. E dados novos são colocados, e posturas novas são aceitas. Eu acho que vai existir um momento de muita dificuldade, porque a gente vê um pouquinho do modelo econômico internacionalizado se esgotando. Quer dizer, fosse quem fosse, vai ter que enfrentar essa situação. E estão sabendo enfrentar com coragem. E o tempo vai dizer que vai mudar o Brasil. Vai mudar o Brasil, muito. Tomara que a gente consiga levar uma mensagem para a sociedade de tal maneira que ela seja participativa no processo. E eu tenho escutado os discursos do Lula, tenho visto, e governar com as forças produtivas do país, está certo, é alterar a relação entre empresariado e Estado, e fazer com que haja criatividade, e que haja proteção também ao empresariado nacional. Eu não digo empresariado nacional, digo todas as empresas que estão aqui, tem que ter a proteção do Estado, pelo menos momentaneamente, para se colocar no campo da criatividade e da competitividade, coisa que não aconteceu. Nós tivemos, desde 1964, dois momentos: um momento de proteção ao empresariado nacional, com paternalismo; depois a abertura total, desprotegendo totalmente o empresariado nacional, como se ele tivesse as condições dadas para poder ter criatividade e competitividade. Então eu sempre defendi que deveria ter uma proteção, não paternalista como foi a da ditadura militar, mas uma proteção até que pudessem se restabelecer as condições de produtividade do empresariado nacional.
AVALIAÇÃO
Hoje estou um pouco cansado. Um pouco cansado, porque eu gostaria de ver as teses desenvolvidas partidariamente, elas continuarem com as posturas e não deixar que o poder e o processo eleitoral engulam esse processo, as convicções, os princípios, entende? Mas não ouso abrir uma discussão sobre isso. Eu não tenho o direito, não tenho o direito mais, entende, está certo? Eu sou obrigado a falar sobre o partido, não tem como. Eu saí do PT, mas nunca saí do campo do PT. Eu saí de um PT que, por incrível que pareça, o Lula perdeu a prévia em Campinas para o Suplicy. Para você ver como que é... E são posições que eu respeito. Agora, eu acho que o processo, a elite política, o comportamento, os calendários, eles são muito ilusórios, entende, traz e te leva para um campo que não é o campo da mobilização, é o campo do voto, é o campo - que eu não sou contra - da democracia indireta. Mas desorganiza, desorganiza. Também eu acho que a gente não pode fazer dos nossos princípios, das nossas teses, guetos de radicalização, porque não leva absolutamente a nada. Porque é aqui que nós vivemos, não é no paraíso que a gente imagina. E diante desses fatos a gente tem que ceder. Mas gostaria imensamente que houvesse um grande debate, uma grande discussão de como envolver a sociedade para ela criar as condições das transformações e de se tornar uma sociedade mais justa, mais igualitária, com melhor distribuição de renda. Tudo isso eu acho que a gente deveria ter. Criar um campo de discussão disso, e que não seja um campo para envolver a política, a atuação do governo, que vai mudar mesmo, eu tenho certeza absoluta. Mas, enfim, eu acho que o PT é um partido de oposição, de respeito, é o maior partido, é um partido nacional, mais do que qualquer outro, tem estrutura para isso. Mas isso eu não posso ficar dando palpite, porque eu sou do PSB.
Olha, eu tenho um pouco de dificuldades de conviver tradicionalmente na relação partidária. Eu gostaria mesmo, hoje, de poder estar discutindo e estar integrado num processo partidário como o PT. Então eu tenho um pouco de desilusão. Eu já fiz parte da direção nacional do PSB, depois vim para a estadual, agora já não quero fazer mais parte de mais nada. E quase que fazer um momento de reflexão, e não vejo um espaço que eu pudesse estar dentro para ter uma participação mais efetiva do que eu estou fazendo atualmente.
O meu dia hoje é um vazio. É um vazio, porque o campo de discussão e o campo das coisas, não tenho. Eu vejo na política - na política eu não tenho a menor vontade de disputar um processo eleitoral, não tenho. Eu sinto que falta discurso, entende, para levar uma mensagem, de como eu discursava. Ficou fora de época. Então, não sei, o meu dia-a-dia é, vou dizer: acordo cedo, há algum tempo eu perdi o ritmo de academia, mas, ia para a academia, ia para a produtora do meu filho, conversava com eles. E tento manter um grupo que me acompanhou, articulado em Campinas, propondo apoio à prefeita, independente de qualquer colocação, mas sempre tem os interesses de Câmara, tal, que um partido tem, aí fica difícil.
FAMÍLIA
Meu filho Calil, que tem uma produtora junto com o Fernando. A Priscila, que é advogada. Advoga para sindicato e para trabalhadores. É isso.
O Calil fazia desenhos para o boletim do sindicato. Ele chegou com poucos anos, com 14 ou 13 anos, eu acho, a trabalhar à noite num jornal de Campinas, só fazendo charge no jornal. Mas depois largou isso também. Agora a loucura dele é com essas coisas aí de televisão, de computação gráfica, tal. E o Fernando está junto com ele.
AVALIAÇÃO
Eu tinha que ser um pouco mais, eu teria que ser um pouco mais articulado, eu teria que ter um pouco mais de paciência, eu teria que suportar um pouco mais reuniões. Eu era muito independente, e sempre fui independente. No próprio PT eu não assinei o 113, não fazia parte da Articulação e não era de grupo nenhum. Chamavam isso de personalismo. Não sei se é. Eu gostaria de poder ter tido... Talvez fosse a vida que me trouxe um pouco disso, a ruptura com a morte do meu pai e depois outras rupturas que houve, entende? Foi muita intensa, muito intensa, e eu perdi um pouco a paciência. Não é que eu perdi a paciência, eu achava que as coisas tinham que ser resolvidas de uma maneira mais prática, mais determinada, mais imediata, e na política não é assim.
SONHO
Olha, o que eu sonho, não pessoal, eu sonho e tenho esperança e espero que esse governo dê certo.
ENTREVISTA
Eu acho que tudo o que você traga para a memória é de fundamental importância, principalmente para você levar uma mensagem de que a história não começa a partir de você, a história é a história. E há um equívoco em nosso país, e há raros casos, mas o comportamento das forças que vão acontecendo, acha que a história começa a partir dele. Então acho de fundamental importância que essas coisas sejam resgatadas, e mais coisas ainda, para a importância, para a contribuição que isso possa dar, para não começar tudo de novo, para você ter... As experiências necessariamente não têm que ser copiadas, mas têm que ser aproveitadas. Então eu sinto que eu fiquei sabendo do projeto muito recentemente. O Oswaldo Barros me procurou e falou para mim do projeto. Falei: “Ah!” E acho que a importância da divulgação é que vai ser mais importante do que se ficar simplesmente nos arquivos. O processo de divulgação. E tirando as coisas, aproveitando as coisas boas, evitando as coisas ruins, para a contribuição para esse novo momento que o Brasil está vivendo, que eu acho que é um momento feliz. 50 anos de Petrobras, tá certo, que eu ligo a Petrobras ao suicídio do Getúlio Vargas. Eu ligo a Petrobras, são coisas que me lembram. Então acho muito importante o que vocês estão fazendo, de uma suma importância. Agora, que não fique guardado, que tenha, o que é a parte de maior dificuldade, como divulgar isso, como levar isso, como comunicar isso. Agora, parabéns para vocês aí, para quem defendeu, não sei de quem é o projeto, quem falou, tal. Agora, tem momentos muito importantes ainda a ser colocados no processo. Têm coisas que quando você vê um metalúrgico presidente da República do Brasil, governo, quanta coisa não aconteceu nos bastidores, nessas coisas todas, da gente conversar, da gente imaginar, da gente pensar. Eu, até um certo tempo, dava a impressão, com as dificuldades que se criavam e que o Lula nessa eleição pegou pela frente, parecia que o PT não queria chegar ao poder. Dava a impressão, para mim passava essa imagem. Tinha tanta coisa óbvia, de conquistas pequenas, assim, de eleitorado, que você precisava avançar, conquistar uma camada que não é Lula juramentado. E o Lula soube enfrentar em momentos com muitas dificuldades para poder pôr ali um PL como vice. Por isso é que eu estou dizendo, nós vamos amadurecendo.
Eu precisava falar em algum lugar. Eu fico feliz, eu fico feliz em poder falar, em poder dizer e contar algumas coisas, está certo? Eu já tenho uma certa idade, e já tinha uma certa idade quando os outros ainda estavam novos, e fazia algumas coisas, taticamente, que muitas vezes não eram compreendidas pelas pessoas que estavam ao redor. Eu fui prefeito com 48 anos, até 52 anos, e já é uma idade. E eu digo para vocês o seguinte: para não dizer muito a minha idade, eu só soube dos meus 40 quando eu cheguei aos 50. E os 30 quando cheguei aos 40. Então foi muito bom para mim, foi muito gratificante eu poder dar depoimento aqui com vocês.
Recolher