O pai dele, José Salles de Oliveira, um biologista, veio de São Paulo para Petrolândia no início da década de 30,quando o lugar ainda se chamava Jatobá de Tacaratu. Integravaa Equipe da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, chefiada pelo zoólogo gaúcho, Dr. Rodolpho Von Ihering, considerado o pai da piscicultura no Brasil. Ele era especialista em fecundação artificial de peixes e foi responsável pelo projeto piloto que tinha como objetivo o melhoramento das espécies nativas do rio São Francisco e o povoamento dos açudes da região.
Ali conheceu Laurinda Alves da Silva, nascida em Alagoas (cujo pai viera trabalhar na estrada de Ferro de Jatobá), com quem casou em 1932, fixando residência no lugar. Tiveram cinco filhos, sendo Osmar Salles de Oliveira o do meio. Antes dele, vieram Ivonilde e Armando, e depois, Carlos e Maria Iêda(Dóia).
Osmar nasceu no dia 06 de setembro de 1938, em Petrolândia e, assim como todos seus irmãos,viveu sua infância brincando nas ruas empoeiradas de lá, num tempo em que a única rua calçada era a do Funil, onde a cidade começou. Lá ficava a casa dos Menezes, do povo do Brejinho, dos Leal, dos Cruz. Ele, porém, nasceu na Av. D. Pedro II, na casa que fora de sua avó. A casa ficava em frente às Escolas Reunidas 10 de Novembro, onde se tornou amigo das letras conduzido pelas mãos competentes de D. Teresa, sua primeira professora, de quem gostava muito. Depois teve a sorte de conhecer outras excelentes professoras, como D. Fortunata Ferraz, D. Doralice Nogueira e D. Osminda, florestanas trazidas pelo DNER. Por causa delas, costuma-se dizer que Floresta ensinou Petrolândia a ler, assim como se diz ter o Professor Gilberto Menezes ensinado a cidade a contar, já que ele foi o primeiro contabilista da Petrolândia. Antes dele, o comércio era orientado por um advogado, chamado o Guarda-Livros,que vinha esporadicamente de Arcoverde,a quem os comerciantes obedeciam sem nada entender, diz ele.
Na rua,...
Continuar leituraO pai dele, José Salles de Oliveira, um biologista, veio de São Paulo para Petrolândia no início da década de 30,quando o lugar ainda se chamava Jatobá de Tacaratu. Integravaa Equipe da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, chefiada pelo zoólogo gaúcho, Dr. Rodolpho Von Ihering, considerado o pai da piscicultura no Brasil. Ele era especialista em fecundação artificial de peixes e foi responsável pelo projeto piloto que tinha como objetivo o melhoramento das espécies nativas do rio São Francisco e o povoamento dos açudes da região.
Ali conheceu Laurinda Alves da Silva, nascida em Alagoas (cujo pai viera trabalhar na estrada de Ferro de Jatobá), com quem casou em 1932, fixando residência no lugar. Tiveram cinco filhos, sendo Osmar Salles de Oliveira o do meio. Antes dele, vieram Ivonilde e Armando, e depois, Carlos e Maria Iêda(Dóia).
Osmar nasceu no dia 06 de setembro de 1938, em Petrolândia e, assim como todos seus irmãos,viveu sua infância brincando nas ruas empoeiradas de lá, num tempo em que a única rua calçada era a do Funil, onde a cidade começou. Lá ficava a casa dos Menezes, do povo do Brejinho, dos Leal, dos Cruz. Ele, porém, nasceu na Av. D. Pedro II, na casa que fora de sua avó. A casa ficava em frente às Escolas Reunidas 10 de Novembro, onde se tornou amigo das letras conduzido pelas mãos competentes de D. Teresa, sua primeira professora, de quem gostava muito. Depois teve a sorte de conhecer outras excelentes professoras, como D. Fortunata Ferraz, D. Doralice Nogueira e D. Osminda, florestanas trazidas pelo DNER. Por causa delas, costuma-se dizer que Floresta ensinou Petrolândia a ler, assim como se diz ter o Professor Gilberto Menezes ensinado a cidade a contar, já que ele foi o primeiro contabilista da Petrolândia. Antes dele, o comércio era orientado por um advogado, chamado o Guarda-Livros,que vinha esporadicamente de Arcoverde,a quem os comerciantes obedeciam sem nada entender, diz ele.
Na rua, Osmar brincava de jogar castanha e bola de gude. O banho de rio no cais, onde aprendeu a nadar, era um deleite, mas a melhor diversão mesmo eram os banhos de chuva, coisa rara numa terra onde dificilmente chovia.A rua também era o lugar do futebol. Lá, num campo de terra, onde depois seriam construídas as casas de Dr. Nelson,chegou a jogar num time formado por Arlindo e outros filhos de Sr. Zé Paquina.Depois passaram a jogar noutro campo, também de terra, onde mais tarde seria construída a Maternidade.
Foi criado comendo feijão, arroz, carne de gado e de bode. Galinha, só quando alguém da família ganhava filho. A parturiente tomava as canjas e a família festejava comendo as galinhas, que normalmente eram criadas no quintal para esse fim.
Sem saber que um dia suas histórias iriam se juntar, na mesma época, numa casa da mesma rua, apenas um ano depois do nascimento de Osmar, no dia 05 de novembro de 1939 nasce Mariza.Filha de Manoel Ovidio da Silva e Maria Rosa de Oliveira Leal. Foi a penúltima filha do casal. Seu pai, nascido no Brejinho, foi um dos primeiros comerciantes de Jatobá, proprietário de muitas casas e terras. Homem muito respeitado, chegou a ser nomeado Prefeito da cidade. Sua mãe, também do Brejinho, era uma mulher à frente do seu tempo e gostava muito de ler.Foi, inclusive, uma das organizadoras da Biblioteca Barão de Mauá, à qual doou muitos livros. Organizava e mantinha também o Cordão Azul no pastoril, entre outras atividades sociais.
Num tempo em que não havia água tratada, saneamento básico ou médico, era comum que crianças morressem com pouca idade, assim sua mãe teve que lutar muito para não deixar Mariza morrer. Pois, a cada filho nascido,D. Maria Rosa via um vingar e outro não, nesta sequência: Terezinha (faleceu), Ovídio Filho (criou-se), José Ovídio (faleceu), Terezinha, a segunda(criou-se),Henrique (faleceu), Cecília (criou-se),Carlos (faleceu), Amélia (criou-se), Mariza quebrou a sequência e sobreviveu, depois veio Guiomar. Como se vê,Mariza foi uma exceção à regra. Tudo porque a mãe, já experiente, cuidou em pesquisar nos livros alguns remédios que mandava buscar na capital. Tal interesse, além de salvar a filha, fez o marido, a seu pedido, abrir uma farmácia na cidade, onde ela, com seus livros, ajudava a curar os doentes.
Mariza chegou às Escolas Reunidas 10 de Novembro aos cinco anos já alfabetizada por sua mãe e lá não demorou muito. Depois de ver sua irmã, Amelinha, ser colocada de castigo, ajoelhada sobre grãos de milho, não quis mais continuar lá. Não houve quem a fizesse. Sua mãe, que também não gostara nada do castigo, enfureceu-se com a professora, tirou as filhas de lá e colocou na Escola Particular de D. Elvira. Osmar também estudou por lá, mas eram crianças ainda.
D. Elvira criava porcos que ficavam num chiqueiro bem distante da casa, lá para as bandas do rio. Quando chegava a hora de dar comidas aos porcos, explicava a lição e passava a ordem: “Todo mundo lendo até eu voltar.” Quem era doido de desobedecer? Mariza, claro! Era uma das poucas trelosas. Subia até no telhado da escola.
Era moleca. No Natal defendia o cordão azul dançando noPastoril organizado por sua mãee, no dia-a-dia, gostava de subir em árvore, tomar banho de rio às escondidas com as irmãs,brincar na rua, jogar bola e brincar nas casas. Não tinha uma em Petrolândia que ela não conhecesse por dentro, em todas tinha uma amiga. Vez por outra, D. Maria Rosa pegava o “reio” do cavalo do Sr. Manoel Ovídio. Quando isso acontecia era perna pra que te quero! A mãe nunca conseguiu alcançá-la. Talvez porque não quisesse mesmo...
Mas nem só de trela vivia a menina Mariza, era boa aluna e adorava assistir aos filmes trazidos nos dia de feira por Renato Serafim, de Tacaratu. Quem queria assistir, levava sua própria cadeira,e o salão cedido por Seu Manoel Ovidio, ao lado do Barracão, sua casa comercial, se enchia. Num tempo em que não havia TV, aquilo era de uma magia sem tamanho.
Chegado o tempo de cursar o Ginásio, tanto Osmar(que na época morava em Lima Campos-CE, em função do trabalho do pai) como Mariza precisaram estudar fora, já que naquela cidade só havia escola primária, assim como em Petrolândia. Dona Laurinda preparou o enxoval de Osmar e seu irmão Armando, o mais velho, e, junto com seu José Salles, foi levar os filhos em Missão Velha-CE, onde havia um colégio Marista. Na entrevista de admissão, quando perguntados sobre a vontade de um dia se tornarem irmãos maristas, Armando sem nem pestanejar responde: “Deus me livre, quero lá negócio com Padre!” Pronto. Tiveram suas matrículas recusadas. O pai ficou bravo e reclamou muito, mas cochichou com Dona Laurinda e decidiram: sem escola é que não iam ficar. Então, na mesma viagem, levaram os filhos para Cajazeiras-PB e lá os matricularam no Colégio Salesiano, que também funcionava em regime de internato.
Quase ao mesmo tempo, Mariza, era enviada para Arcoverde, pois lá morava Waldemar, o irmão mais velho, já casado com Eliete Menezes, também petrolandense. Fez o exame de admissão e foi aprovada como aluna no Ginásio Cardeal Arcoverde. Lá estudou o primeiro ano ginasial, mas depois quis cursar Odontologia em Recife, onde morava o irmão Ovidinho, e também se cogitou mandá-la para Vitóriade Santo Antão, onde Amelinha e Cecília, suas irmãs, haviam estudado. Terminou, porém, escolhendo o Colégio do Sagrado Coração de Jesus, das freiras beneditinas em Caruaru, onde as amigas Zita Rodrigues, Leonor Menezes e Elza Marcos estavam estudando. Lá ficou por seis anos, até a formatura, quando foi oradora da turma. Aprendeu pintura em tela, organizava peça de teatro, apresentações de dança, saraus literários e muitos outros eventos, sempre liderando esses movimentos. Tirava nota máxima em todas as matérias, menos em comportamento: aprontava muito para os padrões rígidos das freiras. Até que um dia resolveu provar que tirar nota máxima em comportamento era muito fácil. Por um semestre seguiu à risca as normas do internato. Suas colegas morriam de rir ao ver seu empenho, mas ela conseguiu. Tirou nota máxima. Pronto, provou. Agora podia ser a mesma serelepe de sempre.
Durante esses anos, ela e as amigas conterrâneas vinham em casa apenas nas férias ou em feriados mais prolongados. Mas nos finais de semana, durante o período de aulas, as três juntas tinham permissão de visitar um parente de Leonor, que na época era Prefeito de Caruaru. Lá conheceu Teresinha, a irmã do Prefeito, de quem ficou amiga. Ela era solteira, culta, independente e viajava muito. Uma pessoa amabilíssima. Mariza tinha uma grande admiração por ela: queria ser assim um dia; casar nunca fora seu plano. As beneditinas viviam tentando convencê-la a ser freira, mas ela nunca cogitou essa possibilidade. Não pretendia ser freira, nem tampouco dona de casa: sonhava ser livre e conhecer o mundo.
Mas o destino tinha outros planos para ela. Osmar não pôde concluir o ginásio em Cajazeiras, seu pai havia adoecido do coração e por isso teve a aposentadoria antecipada aos 49 anos. Sendo assim, preferiu voltar a morar em Petrolândia, onde se sentia de fato em sua terra. Reformaram a casa que fora de sua avó e fizeram a mudança de volta. “Seu” José Salles providenciou para que Osmar continuasse os estudos, a 3ª e 4ª série, no Colégio Salesiano de Recife. Ele permaneceria em regime de internato, só indo para casa nos meses de Junho e Janeiro.
Foi numa dessas idas e vindas que ele se apaixonou por Mariza. Ela, linda, pele alva, cabelos longos pretos, cheia de atitude. Ele, pinta de galã, inteligente, bem humorado. A paixão foi recíproca e o flerte começou.Pegavam juntos “a sopa”, uma espécie de ônibus que levava os estudantes até Arcoverde. De lá pegavam o trem até Caruaru, onde ela ficava e ele seguia até Recife. Passavam o ano namorando por cartas, enquanto esperavam as férias em Petrolândia.Ela dava um jeito de fazer suas cartas chegarem a ele sem passar pelas freiras, que liam todas. Esperta, pedia a uma colega que morava fora do internato para levar as cartas escondidas dentro da capa coberta de um livro. Assim, conseguia que elas chegassem ao namorado, livres dos olhares censores das freiras.
Durante o período de aulas, aqui e acolá ele vinha de Recife assistir a missa do domingo na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Caruaru. Ficava no fundo da igreja esperando uma chance de se aproximar ao final da missa, sem que as freiras notassem.
Mas era as férias o tempo mais aguardado. Estar em Petrolândia, juntos e rodeados dos amigos era uma felicidade maior. Na cidade não havia clube, ainda estava em construção, mas animação não faltava. Na casa de Osmar, ele, as irmãs e os amigos organizavam “assustados”, festinhas animadas pela vitrola do Sr. José Salles, com os discos de vinil trazidos do Recife. Na frente da casa, brincavam do jogo das cadeiras enquanto aguardavam a liberação da sala, que só acontecia depois de Dona Laurinda terminar de ouvir no rádio a novela “O Direito de Nascer”. Nas datas especiais,como formatura, os bailes aconteciam no salão da Estação Ferroviária. Nessa época, também era comum que os jovens se organizassem para ir à festa do Moxotó. Liderados por Osmar, que era afilhado de Raimundo Lima, responsável pela estação, e amigo desde criança do Sr. Manuel Pereira, chefe de estação de Piranhas, a quem a equipe de Petrolândia era subordinada, conseguiram por duas vezes a liberação do trem à noite, fora do horário regular. Passavam a noite na festa e na volta, de madrugada, todos com fome, convenciam o maquinista camarada a parar no meio do caminho, a fim de chuparem umbus dos umbuzeiros existentes à beira da linha do trem.
Em 1961, Mariza terminou o colegial e voltou para Petrolândia, onde começou a ensinar. Fez concurso pelo Estado e, a princípio, substituía as professoras em licença-maternidade. Depois ficou atuando como uma espécie de supervisora das escolas do município. Resolvia todos os problemas junto à Delegacia Regional de Educação (DERE), e também respondia pela direção da Escola Delmiro Gouveia, nas ausências de Dona Menininha, a diretora efetiva.
Enquanto isso, Osmar continuava em Recife. Agora morava em uma pensão e estudava no Colégio Padre Felix, que ficava na esquina da Av. Conde da Boa Vista com a R. da Soledade, onde foi secretário do diretório acadêmico e tinha especial aval do próprio dono do colégio. Impulsionado pelo comentário do irmão mais velho de Mariza, que soube, havia dito a ela que desistisse do namoro porque ele não tinha futuro, Osmar resolveu buscar sua independência financeira. Largou o colégio, fez um curso de datilografia na Hemington e foi à procura de emprego. Começou a trabalhar na Mesbla, onde ficou por seis anos. Ganhando razoavelmente bem,resolveu que estava na hora de casar. O plano era trazer Mariza para Recife, mas o Sr. José Salles, seu pai, faleceu em casa, em Olinda, onde moravam. Muito apegado ao pai, ficou bastante abalado com a perda, e teve que esperar mais um pouco, apesar do namoro já durar cinco anos. O Sr. Manoel Ovídio, seu futuro sogro, sabendo da experiência dele na Mesbla, convidou-o para trabalhar em sua loja. Osmar pensou na mãe, agora viúva, e na oportunidade de voltar a morar em sua terra natal. Então decide aceitar o convite, voltar para Petrolândia, casar e estabelecer-se por lá. Fez um acordo para ser demitido do seu emprego no Recife, combinou o casamento e voltou já com a maioria dos móveis comprados com desconto de funcionário da Mesbla.
Casaram em outubro de 1963, na Igreja Matriz de Petrolândia. Era o casal mais admirado da cidade. Sempre muito participativos. Ele foi presidente do Grêmio Lítero Recreativo por aproximadamente cinco anos, onde organizou muitas festas, construiu quadra de vôlei e formou time desse esporte, até então pouco conhecido na cidade. Na sua gestão, as tardes no Grêmio eram movimentadas. Além do vôlei, jogava-se ping-pong, dama, baralho e os jovens frequentavam a biblioteca. Nos finais de semana, o salão de piso de madeira encerado era o palco onde, à noite, os casais dançavam ao som de radiola. Mariza estava sempre, participando de tudo. Ela envolvia-se também nos trabalhos da Igreja. Foi uma das fundadoras do Clube das Mães Cristãs, onde costumava dar palestras sobre higiene, saúde e promover campanhas de confecção de enxoval para os recém-nascidos mais pobres. Com a chegada dos dois primeiros filhos, o trabalho aumentou e as despesas também, eles se viravam como podiam. Ela chegou a criar uma escolinha de alfabetização, em casa. Ele fazia viagens fretadas para Recife, levando gente que precisava resolver alguma coisa na Capital. Durante muito tempo, teve seu carro fretado por Valmir, dono do Cine São Francisco, para entregar e trazer novos rolos de filme a serem exibidos em Petrolândia. Todo esse trabalho era enfrentado com muito bom humor. Nada a reclamar. Eram jovens,dispostos e animados. Foi um tempo bom, segundo eles. Os banhos de rio na croa, verdadeira praia de areia clarinha e fofa,era o lazer em família preferido. Eles se divertiam muito e as crianças também, em um tempo em que era incomum essa prática entre as famílias de Petrolândia. O rio, como diversão, geralmente era usado apenas pelos rapazes.
Com a criação do Colégio Comercial São Francisco, Osmar volta a estudar. Ele que havia interrompido o colegial no segundo ano em Recife, agora tinha a oportunidade de concluir o segundo grau. Inscreveu-se e fez parte da primeira turma do Curso de Contabilidade, em 1965. Por conselho do Prof. Gilberto Menezes, mesmo sem ser exigido, repetiu o segundo ano para ter acesso à disciplina DIREITO DAS COISAS, pois segundo o professor a matéria seria muito útil para vida, como de fato reconhece que foi.
Ainda não tinha terminado o curso de Contabilidade quando o prefeito José Araújo o convidou a assumir a Direção do Curso Preparatório para Professores, antigo Pedagógico, que estava para ser criado. Aconselhado pelo sogro, topou o desafio. Trabalhava pela manhã no comércio e dava expediente no Colégio no turno vespertino e noturno, ao mesmo tempo em que estudava.
1969, o Prefeito José Araújo o convoca novamente a assumir a direção do Ginásio Municipal de Petrolândia, em substituição a José Soares. Sem experiência em administração Escolar, foi aconselhar-se com os padres salesianos sobre o que fazer para mudar o jeito militar e sisudo instalado no Ginásio pelos que lhe antecederam. Não teve dificuldade. Procurou tratar alunos e professores com leveza, numa relação de igualdade.Atleta durante toda sua vida escolar, nas aulas comandadas pelo amigo Itamar, incentivou a prática de diversas modalidades esportivas pouco conhecidas na cidade, como vôlei e futebol americano. Conseguiu recurso com o prefeito e construiu duas quadras no Ginásio. Como professor de Moral e Cívica, trazia para a sala de aula importantes discussões sobre os assuntos da atualidade, de filmes a notícias dos jornais. Fazia uma aula onde caderno e caneta eram dispensáveis.Foi diretor do Ginásio até 1978. Era tão querido por seus alunos que mais tarde até o elegeram vereador.
Em uma ocasião, durante sua gestão, com a devida autorização do Prefeito José Gomes de Avelar, cedeu as dependências do Ginásio, que ficou sem aula por uma semana, para atender ao pedido do Batalhão do Exército de Garanhuns que precisava realizar uma operação na região. Em função disso, fez amizade com o alto comando do batalhão e até recebeu um certificado de Amigo do Exército.
Enquanto estava na direção do Ginásio, buscou aperfeiçoar-se. Terminado o curso Técnico em Contabilidade, era professor no mesmo curso e também no Ginásio. A Secretaria de Educação também começava a cobrar a graduação dos professores. Assim, ele, Mariza e outros colegas professores inscreveram-se na Faculdade de Formação de Professores de Caruaru,para onde se deslocavam semanalmente para aulas de sexta a domingo. Estudava e também ganhava o frete da viagem. Depois fez Administração pela Fundação Joaquim Nabuco, pós-graduação em Administração Escolar, Supervisão Escolar, Orientação Educacional e Recursos Humanos pela UPE. Mariza fez Licenciatura em Matemática pela UFPE.
Entre livros, filhos, amigos, viagens, festas no clube e jogos de vôlei a vida em Petrolândia seguia. Um dia seu cunhado Wilson, que trabalhava na SUDENE, chega com a notícia de que haviam recebido um comunicado avisando que nenhum investimento poderia mais ser feito no Projeto Barreiras, pois o governo iria construir uma barragem na cachoeira de Itaparica. Nenhum comunicado oficial chegou ao Ginásio, mas meses depois já se podia ver caminhonetas com a logomarca da empresa Hidroservice circulando pela cidade. Chegavam para os primeiros levantamentos. Quando questionado por algum aluno sobre o significado daquela presença na cidade, Osmar explicava sobre a grandiosa obra e as consequências que ela poderia trazer.
Em meados dos anos 70, por divergências políticas, o prefeitoo afasta da direção do Ginásio, onde passa a cumprir apenas a carga horária de professor. A essas alturas, ele e Mariza também já eram funcionários concursados pela Secretaria Estadual de Educação.
No fim dos anos 70, Osmar e seu amigo Itamar são eleitos vereadores e passam a representar a primeira oposição,na Câmara,ao Poder Executivo da cidade. Esse posicionamento custou a Osmar muitas pressões. Mariza, temendo o clima político violento na época, o convence a sair de Petrolândia. Então ele licencia-se da Câmara, de onde se despede na sessão de 31.01.79, e vai para Recife, onde já tinha casa. Ele matricula no Ginásio Pernambucano os filhos Rosy e José Salles Neto,coloca os outros dois, Manoel e Laury, no Colégio Dom Bosco, enquanto ele e Mariza foram nomeados como professores em Jaboatão dos Guararapes através do Secretário de Educação do Estado,com quem também tinha bom relacionamento. A essa altura, o novo prefeito já tinha conseguido demiti-lo da Prefeitura, o que mais tarde se transformaria numa questão judicial.
Em Recife, tomou conhecimento pelo jornal, de um concurso aberto para uma vaga de Diretor de uma escola particular. Ele e Mariza se inscreveram. Os dois foram aprovados. Na entrevista, ele foi escolhido e, surpreso, descobre que a escola onde deveria atuar ficava na cidade de Tucuruí, que ele nem sabia onde ficava. Explicaram que seu trabalho seria assessorar a Prefeitura na organização e implantação de várias escolas pela empresa Camargo Correia, responsável pela construção de uma barragem naquela região do Pará. Para isso, teria um salário maior do que ganhava no Estado, casa, carro e motorista à disposição. Conversa com Mariza, consegue que o Estado o coloque à disposição da Prefeitura de Tucuruí e segue para o novo desafio.
Mas foi sozinho, Mariza fica em Recife com os filhos.Lá em Tucuruí- PA, instalado em um hotel, começa a trabalhar e tomar as primeiras providências para dar início a instalação das escolas. Com quinze dias lá, recebe a notícia do falecimento de Dona Maria Rosa, sua sogra. Imediatamente, cuidou em comprar passagem de volta, pois queria estar com Mariza nessa hora. Além disso, só precisou desses quinze dias para saber que não ia conseguir ficar longe dela e dos filhos. Entrou no escritório da empresa Camargo Correia e avisou: “Estou indo para Recife e não volto mais.” A pessoa responsável ponderou: “O senhor não pode fazer isso. Tem contrato de um ano conosco.” E ele, sem pestanejar, avisa: “Vou e pronto.” Então o chefe o chamou para conversar e combinaram: ele receberia as passagens de ida e volta, e contratariam Mariza, que também havia sido aprovada no teste de seleção. A escola estava garantida para os filhos e ele teria uma semana para providenciar a mudança.Assim fez. Levou a família e passou 5 anos em Tucuruí, onde deixou 23 escolas implantadas, em pleno funcionamento,e grandes amizades por lá. O que ganharam por lá, investiram numa fazenda às margens do Rio Moxotó, em Delmiro Gouveia, que acabou desapropriada pelo governo estadual de Alagoas para a construção do Canal do Sertão, um projeto de irrigação com águas do São Francisco.
De volta, de posse de uma carta de recomendação da Prefeitura de Tucuruí, uma enorme experiência em gestão e dono de um currículo invejável, ele é nomeado vice-diretor da Escola Ana Cândida Maciel, em Jaboatão, onde passou a residir. Em seguida, foi designado para implantar outra escola no mesmo município, que por sua sugestão recebeu o nome de Epitácio André Dias, um zelador da DERE muito querido por lá. Por fim, próximo a completar o tempo de aposentadoria, é lotado na Diretoria da Região Sul da DERE.
Morando em frente ao mar de Candeias, Jaboatão do Guararapes, num apartamento decorado com quadros que reproduzem paisagens de Petrolândia, pintados por Mariza, eles continuam sempre juntos numa cumplicidade enternecedora. Quando ela esquece alguma coisa durante as conversas, olha para ele pedindo socorro: “Me ajuda, meu velho!” Beirando os oitenta anos, eles já não visitam a terra natal com a frequência que gostariam, mas não a esquecem. Gostam de falar sobre a velha cidade, lembrar como era boa a vida lá... Concordam que foram bem indenizados pela CHESF, no que se refere à casa que tinham. Mas costumam dizer que o fato de não poder levar seus netos a conhecer a Igreja onde se casaram, a casa onde nasceram e outros lugares marcantes na história de vida da família, isso a empresa continua “devendo”.
Dizem que gostariam de ter voltado a morar em Petrolândia, mas quando a aposentadoria chegou,os netos também chegaram e não conseguiram sair de perto deles.
Brincalhão e sorridente como sempre, ao final da entrevista, convidado a olhar para trás na sua linha do tempo e percebendo o quanto realizou, Osmar diz sorrindo: “É, Paulinha, fiquei velho muito a contragosto!“, como quem mesmo reconhecendo o peso da idade, não esconde o espírito jovem e irreverente de sempre.
Recife , 12 de junho de 2018.
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