Corriam os anos de l.945/46, com o término da Segunda Guerra Mundial as coisas começavam a melhorar, dando-nos oportunidade de respirar pelo aquecimento da economia, propiciando maior quantidade de emprego. A minha família também equilibrava-se em melhor situação já sobrando alguns trocados até para despesas bastante extravagantes. Eu, trabalhando na Light já fora promovido e prestava serviço na Divisão Transviaria, que cuidava da arrecadação das férias dos bondes camarões. Para quem não alcançou, eram bondes que corriam sobre trilhos e ligados à rede elétrica, o seu nome fora dado por ter a cor vermelha. Esses bondes continham uma caixa arrecadadora no meio do veículo onde ficava o condutor que apenas trocava o dinheiro, sendo o próprio passageiro quem colocava o pagamento da passagem na caixa. As caixas, no fim do dia eram tiradas dos bondes, na "estação", e eram despejadas em grandes sacos de couro; separadas por linha, esses sacos eram transportados em uma espécie de "bonde forte" para a sede da empresa onde a seção de contagem ficava nos porões do prédio, que dava para a Rua Formosa. Ali todo o dinheiro e passes eram separados, contados empacotados para serem guardados no cofre forte e posteriormente serem encaminhados para os bancos.
Praticamente trabalhávamos só na parte da manhã nessa contagem, quando ficava pronta, saíamos para almoçar e voltávamos para esperar chegar às quatro horas da tarde, quando o subchefe da tesouraria descia para recolher o numerário. Nesse período da tarde ficávamos entregues a nós mesmo; uns liam, outros cochilavam, cada um tinha o seu lugar predileto, uns nas cadeiras, outros embaixo das mesas, ainda outros dentro do guarda roupa. Aí surgiam as brincadeiras mais descabidas que se possa imaginar, e a imaginação ainda sem grande ciso dava asas para que se projetasse muitas coisas que a nossa pouca idade não percebia que poderiam ser funestas. Um dos colegas um dia, apareceu com um...
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Corriam os anos de l.945/46, com o término da Segunda Guerra Mundial as coisas começavam a melhorar, dando-nos oportunidade de respirar pelo aquecimento da economia, propiciando maior quantidade de emprego. A minha família também equilibrava-se em melhor situação já sobrando alguns trocados até para despesas bastante extravagantes. Eu, trabalhando na Light já fora promovido e prestava serviço na Divisão Transviaria, que cuidava da arrecadação das férias dos bondes camarões. Para quem não alcançou, eram bondes que corriam sobre trilhos e ligados à rede elétrica, o seu nome fora dado por ter a cor vermelha. Esses bondes continham uma caixa arrecadadora no meio do veículo onde ficava o condutor que apenas trocava o dinheiro, sendo o próprio passageiro quem colocava o pagamento da passagem na caixa. As caixas, no fim do dia eram tiradas dos bondes, na "estação", e eram despejadas em grandes sacos de couro; separadas por linha, esses sacos eram transportados em uma espécie de "bonde forte" para a sede da empresa onde a seção de contagem ficava nos porões do prédio, que dava para a Rua Formosa. Ali todo o dinheiro e passes eram separados, contados empacotados para serem guardados no cofre forte e posteriormente serem encaminhados para os bancos.
Praticamente trabalhávamos só na parte da manhã nessa contagem, quando ficava pronta, saíamos para almoçar e voltávamos para esperar chegar às quatro horas da tarde, quando o subchefe da tesouraria descia para recolher o numerário. Nesse período da tarde ficávamos entregues a nós mesmo; uns liam, outros cochilavam, cada um tinha o seu lugar predileto, uns nas cadeiras, outros embaixo das mesas, ainda outros dentro do guarda roupa. Aí surgiam as brincadeiras mais descabidas que se possa imaginar, e a imaginação ainda sem grande ciso dava asas para que se projetasse muitas coisas que a nossa pouca idade não percebia que poderiam ser funestas. Um dos colegas um dia, apareceu com um revólver; aquilo aguçou a imaginação fértil da garotada e não muito tempo depois cada um tinha dado um jeito de adquirir uma arma A minha era um HO/32, depois substituída por uma automática 6,35. E o que fazíamos com essas armas? O desejo era parecer gente grande, policiais, perseguindo bandidos Um colega, já com maior idade tinha um carro e em um determinado dia fomos para o Pacaembu e ali naquele lugar ermo, àquele tempo, com o carro em alta velocidade, colocávamos as mãos para fora disparando as armas, como se estivéssemos em perseguição a bandidos. Talvez de alguma casa tivessem ouvido algum estampido mas, nunca houve qualquer reclamação, porque naquele tempo, poder-se-ia dar tiros na rua sem o perigo de atingir alguém.
(José Wladimir Klein enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 06 de julho de 1998 pela página na internet, atualizada em 29 de janeiro de 1999.)
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