No ano de mil novecentos e sessenta e quatro nasceu na cidade de Piedade, interior do estado de São Paulo a menina que recebeu o nome de Cristina Santos, e com apenas três anos de idade seu pai veio a falecer deixando sua esposa grávida da segunda filha do casal. Logo após a morte de seu pai, Cr...Continuar leitura
No ano de mil novecentos e sessenta e quatro nasceu na cidade de Piedade, interior do estado de São Paulo a menina que recebeu o nome de Cristina Santos, e com apenas três anos de idade seu pai veio a falecer deixando sua esposa grávida da segunda filha do casal. Logo após a morte de seu pai, Cristina e sua mãe grávida de cinco meses saíram da cidade de Piedade para ir morar com seus avós maternos na cidade de Barra do Turvo que também fica no estado de São Paulo. A infância de Cristina foi muito divertida, uma das razões era porque seu avô contava muitas histórias, umas engraçadas e outras assustadoras para ela, sua irmã e suas amigas que eram vizinhas. Quando ia se deitar ficava lembrando das histórias assustadoras, então dormia com o lampião a querosene aceso e acordava com o seu nariz todo pretinho. Uma outra razão era que ela gostava de brincar em um rio que havia perto de sua e quando sentia fome passava correndo entre os gansos que ficavam no terreno perto da casa da Dona Maria.Ao chegar, ela pedia arroz e alface passado no óleo que até hoje lembra - se com muito carinho. Foram essas e outras brincadeiras como boneca, casinha, cozinhadinha, passeios pela natureza que divertiram sua infância, pois já tinha doze anos quando conheceu uma televisão e mesmo assim não ficava muito tempo em frente a ela preferindo se divertir com as amigas.
Nessa mesma época Cristina que já estava na quarta série, começa a sofrer o que ela chama de intimidação e que hoje chamamos de bullying. Por ter as bochechas coradas e por ser tímida, quando ia ler ficava vermelha, então alguns alunos a chamavam de tomatinho.Na hora do recreio também sofria, pois eles passavam correndo para derrubar seu lanche e com isso ela passou a fingir que ia à escola para ficar brincando no rio até que parou de vez de freqüentar as aulas fazendo com que ela não fosse aprovada, no outro ano voltou a estudar e mesmo com os problemas ainda existindo conseguiu concluir a quarta série. Antes de vir definitivamente para Apiaí, Cristina gostava de visitar sua tia, porque ficava na janela observando a paisagem esbranquiçada pela neblina, pois na sua cidade todo dia fazia sol. Até que um dia, quando estava com seis anos sua mãe a convidou para vir passar férias em Apiaí e ela não aceitou preferindo ficar com seus avós e primos que lá estavam, no outro dia acordou com saudade de sua mãe e passou a perturbar seu avô pedindo para que ele a trouxesse. Então seu avô arrumou um motorista que a trouxe de jipe num dia de muita chuva em que a estrada por ser de terra estava cheia de lama. Ao chegar foi à farmácia de sua tia procurar sua mãe e ficou sabendo que ela estava em uma agência bancária, como não conhecia muito bem a cidade uma funcionária a levou.Chegando lá sua mãe assustada jogou o óculos no chão não acreditando no que via, e então se abraçaram. Após demonstrar resistência em freqüentar a escola na Barra do Turvo, Cristina, sua mãe, irmã e avós mudaram-se para Apiaí indo morar em casa na rua primeiro de maio onde hoje é a Papelaria Arco Íris. Nesta cidade ela voltou a estudar na Escola Gonçalves Dias, onde hoje é a Diretoria de Ensino, sem sofrer o bullying tendo um único problema, dar uma volta para chegar até a escola, pois o caminho mais curto era uma subida com muito barro que a deixava escorregadia. Quando saia da escola ia com suas amigas pegar peras plantadas perto de onde hoje se localiza a praça central da cidade. Além dessas e outras travessuras ela gostava de brincar de salão de beleza com suas amigas e primas.Numa dessas brincadeiras Cristina fez uma trança na franja de sua prima e cortou-a bem na raiz, deixando-a muito triste com a falha no cabelo. Certo dia estava assistindo televisão e viu duas propagandas uma de sabonete cremoso em que o ator virava o frasco e escorria bem bonito, o que chamou sua atenção e outra de chocolate galak em que o ator conseguia encher um copo. Então se dirigiu ao antigo Supermercado Takiguchi
que ficava onde hoje se localiza a Loja Imperial e fez com que o funcionário chacoalhasse bastante a caixa de sabonete
e a abrisse para ver se ele estava cremoso e depois foi comprar o chocolate galak
em um bar e quando chegou em casa foi logo virá-lo em um copo para ver se o enchia sem saber que deveria colocar leite. Com o passar dos anos Cristina foi trabalhar na farmácia de sua tia, até que um dia chegou um rapaz para tomar uma injeção que necessitava de teste para verificar se ele era alérgico. Após realizar o teste e para dar tempo de reação ela foi até o balcão e quando voltou ele não estava mais lá.Como a cidade era pequena e a mãe do rapaz era bem conhecida Cristina conseguiu entrar em contato com ele pedindo que voltasse para tomar a injeção, ele achou que ela estava paquerando-o e quando chegou na farmácia
para enfim tomar a injeção disse que iria casar-se com ela o que a deixou assustada. Algum tempo depois se conheceram melhor e passaram a namorar, ficaram noivos e se casaram. Seu marido não queria que ela trabalhasse fora, então foi ajudar sua amiga no salão de beleza e percebeu que gostava e queria fazer, podendo trabalhar em sua casa.Nessa época ela já tinha um filho, então transformou o quarto dele em salão de beleza,fez cursos e aí passou a atender algumas pessoas. Na sua segunda gravidez atendeu um menino que estava com rubéola que lhe transmitiu a doença, indo ao médico foi aconselhada a fazer um aborto por não saber o que iria causar ao bebê e por um tempo ficou com trauma de pessoas de branco. Após os nove meses nasceu sua filha saudável que não apresentava problema algum, mas houve um fato que fez com que ela descobrisse que sua filha era surda, foi quando ao estourar uma bexiga seu filho mais velho chorou de susto e a menina que já estava com onze meses não esboçou nenhuma reação.Após descobrir o problema de sua filha resolveu mudar-se para Sorocaba para aprender mais sobre o assunto e poder ajudar sua filha, ficando lá por cinco anos. Um dos momentos marcantes entre mãe e filha foi quando a menina estava vendo televisão e perguntou em libras se a voz da Sandy era bonita e outro fato foi de que a garotinha queria mudar de religião por não entender o que o padre dizia isso fez com que Cristina se tornasse intérprete da missa para os surdos, realizando sua primeira tradução num dia muito especial o Dia das Mães, e uma parte da missa era destinada as mães de crianças especiais. Depois de morar alguns anos em Sorocaba soube que em Apiaí foi inaugurada uma escola, com o nome de CEMAE especializada em atender pessoas com deficiência, então elas retornaram por saber que sua filha teria um local apropriado para estudar. Cristina foi convidada para participar de uma reunião no Rotary onde iria falar sobre sua experiência em estar grávida e com rubéola, então todos os participantes, inclusive de outras cidades decidiram fazer uma campanha de vacinação contra essa doença. Com os trabalhos da escola e da tradução na igreja Cristina, os profissionais do CEMAE e os surdos faziam muitas viagens para se encontrarem com pessoas na mesma situação, para verem que não eram os únicos deficientes auditivos. Nessas viagens conheceram muitas histórias interessantes como a de casais surdos com filhos ouvintes que desde bebês se comunicavam com os pais em libras. Desde que veio morar definitivamente em Apiaí ocorreram muitas mudanças na cidade, apenas a rua do centro era asfaltada; a prefeitura ficava no alto em frente onde hoje está as Casas Pernambucanas; havia um parquinho muito bem cuidado por um senhor onde hoje estão construindo um postinho de saúde, perto do campo; em frente onde hoje se encontra a padaria Filão de Ouro havia uma ponte, pois ali tinha um rio que ia até a atual quadra coberta. Em seu trabalho emprega uma pessoa surda como sua ajudante mostrando que qualquer um tem condições de trabalhar. Um fato engraçado do seu trabalho aconteceu quando ao arrumar uma noiva que depois de pronta foi embora, uma hora mais tarde aparece algumas pessoas a procura da moça que não havia ido ao casamento, fazendo com que Cristina tivesse que arrumá-la novamente para enfim casar.Hoje em dia Cristina já não consegue atender muitas pessoas por causa de um problema que surgiu em seu braço devido a exercícios repetidos. Em sua trajetória de vida Cristina tem sonho de que todas as crianças se sintam seguras em suas casas e recomenda a todos para que tomem a vacina contra a rubéola. E assim pudemos conhecer um pouco da história dessa pessoa que muito contribuiu com a nossa sociedade. Depoente: Cristina Santos Leme
Apiaí EMEIEF “ALA” 4 ª série A Profª RitaRecolher