As lembranças da infância de meu pai,
Atualmente é que percebo,
Sempre tiveram muita influência em minha vida.
Não poderia ser diferente, está certo.
Porém, há detalhes, pequenos detalhes, que marcaram a minha vida.
As marcas que deixaram,
Esses detalhes,
Não têm nada de pequenas.
Drumm...Continuar leitura
As lembranças da infância de meu pai,
Atualmente é que percebo,
Sempre tiveram muita influência em minha vida.
Não poderia ser diferente, está certo.
Porém, há detalhes, pequenos detalhes, que marcaram a minha vida.
As marcas que deixaram,
Esses detalhes,
Não têm nada de pequenas.
Drummond com mais do que razão,
Talvez com emoção - que combina muito mais com poesia, escreveu que
"...de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no de tua filha. De teu áspero silêncio..." em "Resíduo".
Felizmente,
Para mim não ficou somente um pouco,
Ficou um pouco
E também muito de meu pai em mim.
Ficou, e ainda fica, muito de meu pai em mim.
Foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta,
Apesar de ele mesmo não ter aprendido,
Por conta de um tombo que tomou quando criança.
Disso ficou em mim muito mais do que o andar de bicicleta.
Ficou disso o amor de meu pai por mim,
Ao não me deixar cair,
Ao não permitir traumas,
Ou ao ensinar que, apesar deles,
Ainda assim é necessário que eu tente,
Senão acabaria por não aprender a andar de bicicleta tal como ele.
Sim, porque ele também me ensinou, na vida há trauma.
Até ouço ele dizendo: é inevitável.
Acho engraçado que, para o meu pai, há coisas que são fatais, intangíveis, inevitáveis.
Luto para que, pelo menos, isso não tenha ficado em mim, mesmo sabendo que é em vão, pois certamente, um pouco, ainda que muito pouco, ficou.
Busco o existencialismo.
Ele é essencialista.
Classificações filosóficas, para esse poema, contudo, pouco importam.
Até porque sei que classificações para o existencialismo não são aconselháveis.
Meu pai me ensinou a andar de bicicleta com palavras, às vezes, confesso, aos gritos.
Ficaram em mim as lições,
Que acredito,
Não serviram só para as aulas de bicicleta,
Mas para a vida:
Equilíbrio,
Firmeza e
Foco
("Olha para frente, guria").
Só que meu foco é amplo demais.
Por isso, às vezes me perco.
É que meu pai mostrou-me muito do mundo: livros, músicas, viagens, estudos, filosofia e delicadeza.
Penso que meu querido pai, embora seja duro, é doce.
Isso enche meus olhos de lágrimas, porque me emociono.
Meu pai me ensinou a ser doce.
Foi ele quem me estimulou a escrever.
Ele me viciou na escrita.
Até no meu número da sorte meu pai influenciou.
Mais ainda no de minha irmã.
Conta ele que,
Quando aluno da segunda série do ensino fundamental,
Ganhou uma caixa de giz em um sorteio na sala de aula.
- A caixa de giz estava vazia.
Hoje ele percebe que a professora queria perder um tempo da aula com aquele sorteio,
Por fim, fez mais, deu-lhe um número da sorte.
O número era quatro. O meu é dois. O de minha irmã é quatro também.
Como foi ele quem me ensinou tabuada,
Com certeza, o meu número da sorte multiplicado por outro dois, que dá quatro,
É resultado do número da sorte de meu pai.
Há quem diga que não.
Como penso que Drummond tinha razão, para mim sim, até disso ficou um pouco.
De tudo fica...Recolher