P/1 – Primeiro eu queria agradecer por ter tirado esse tempinho seu pra dar seu depoimento, contar sua história de vida para o projeto do AFS intercultural Brasil 60 anos e para o Museu da Pessoa também. Para começar queria que você falasse seu nome completo, o local onde você nasceu e a data...Continuar leitura
P/1 – Primeiro eu queria agradecer por ter tirado esse tempinho seu pra dar seu depoimento, contar sua história de vida para o projeto do AFS intercultural Brasil 60 anos e para o Museu da Pessoa também. Para começar queria que você falasse seu nome completo, o local onde você nasceu e a data de seu nascimento.
R – Eu sou Diogo Lourenço Cabral, nasci em Cruz Alta, Rio Grande do Sul e foi dia sete de janeiro de 1982.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – João Alberto de Ramos Cabral e Maria Nelilo Lourenço Cabral.
P/1 – E dos avós?
R – Joventina Riberio de Campos Bonaldi, Neli de Alves Lourenço Bonaldi, porque o vô tem um errinho no nome dele (risos), e Almerinda de Ramos Cabral e Arthur Alves Cabral.
P/1 – Conta um pouquinho da história da sua família.
R – Bem, de um pouquinho quanto? 1915? (risos). Meus avós paternos, eles é no interior do Rio Grande do Sul. Bem próximo a região onde eu nasci, interior de Cruz Alta. E eles eram pessoas bem simples, pessoas que viviam da terra, trabalhavam em propriedades rurais. Depois meu avô Arthur, pai do meu pai, teve uma loja, um comércio, eles viviam numa região... Era uma localidade que hoje se chama Benjamin Nott, eles chamavam uma encruzilhada na época, era uma região que era o caminho para um comércio que vinha desde Buenos Aires até São Paulo. Principalmente Sorocaba, ali eles faziam as carretas de mula. Todo um comércio que eles faziam pelo interior do sul do Brasil. Eram pessoas bem simples. Eu não conheci meu avô paterno, ele faleceu antes de eu nascer. Ele nasceu em 1913, já era bastante idoso. Minha vó sim eu tive oportunidade. A vó Almerinda, mãe do meu pai, sim, eu tive oportunidade, uma pessoa assim excepcional. Uma pessoa com uma sabedoria, uma inteligência incrível, sou muito feliz por ter tido oportunidade de conviver com ela. Tiveram os dois muitos filhos. Eles eram primos na verdade, não tinha muita diversidade naquela localidade (risos). Mas, tiveram muitos filhos, acho que foram oito, nove ao todo, a maioria sobreviveu. Naquela época, imagina, as condições eram muito precárias e também me deram tios maravilhosos. Pessoas que sempre conviveram comigo, com meus pais desde a minha infância até a fase adulta. Os meus avós maternos também pessoas muito especiais só que bem diferentes. Eles já eram, o meu avô, que a gente chamava de vô bigode, ele tinha um bigodão grande, um gringão alto, grande, com um bigodão, só que tinha um coração, assim, de criança. Era grandão até que assustava, falava alto, gritava, esbravejava, mas era muito querido. Foi muito importante, dos meus avós,
a minha vó Almerinda sempre aquele sinal de sabedoria, mas o meu avô assim foi muito importante porque eu achava muito parecido comigo no meu temperamento. Era um pessoa que me identificava bastante no meu jeito de ser, não fisicamente (risos), mas um pouco só, alguns traços, mas mais no temperamento. E a esposa dele, minha avó, Nena, só que Joventina o nome dela, também uma pessoa muito querida, ela brinca que se ela fosse conta a história da vida dela daria uma novela, de todas as idas e vindas, tudo que ela passou com os pais dela, com as irmãs, as dificuldades, ela diz que tinha praticamente uma vida de cigana porque simplesmente o pai dela construía casas, vendia sem avisar pra ninguém e dizia: “Oh, botem tudo na carroça porque nós vamos mudar hoje que eu já vendi a casa”. Ela disse que foi uma vida muito difícil, ela casou com meu avô que no início era de uma família que tinha boas condições e tudo, mas depois perderam tudo. Então, também acabou que ela novamente voltou a um processo difícil de vida, de muita luta. Tanto que meu avô mudou, bigode, pai da minha mãe, ele era de lagoa vermelha que fica na região Serrana do Rio Grande do Sul e próximo à divisa de Santa Catarina. Ele teve que sair da cidade, onde tinha toda família, pessoas que eram bastante ativas na comunidade e ir pra Cruz Alta em busca de construir a vida dele com minha avó. Também no início passaram muita dificuldade, mas foram construindo as coisas deles e tudo. E aí nasce a minha mãe. Minha mãe era a única filha de vários homens. A única menina, teve que cuidar dos irmãos, aquela situação naquela época acabava você tendo essa obrigação. Conheceu meu pai, que também lutou bastante, porque a família dele era muito simples. Ele lutou muito na vida pra conseguir ter acesso também, educação, acesso a melhores condições de vida. Se encontraram, casaram e nasceu eu e minha irmã. Nós dois, eu sou quatro anos e meio mais velho. Ela agora está grávida, esperando um filhinho, um gurizinho (risos), a gente tá na expectativa, eu sou muito família. Sempre fui, pra mim, eu brinco, que nesse sentido eu pareço muito oriental, que oriental tem uma ligação familiar muito grande. Eu tenho essa ligação com eles. Parece que eu não consigo me perceber no mundo onde eu não tenha contato com minha família. Tem um lado muito bom, mas acaba também que a gente acaba fazendo muitas concessões pela família que dificulta um pouco as vezes até a própria individualidade. Mas pra mim sempre foi muito importante, família sempre foi muito importante. Tenho muito orgulho deles, não são perfeitos, ninguém é, mas me orgulho muito deles e de tudo que fizeram, da forma como eles são.
P/1 – Como foi sua infância em Cruz Alta? Conta um pouquinho pra gente.
R – Então... (risos), minha infância, eu tive muito carinho, muito amor, da família inteira, dos meus pais, dos meus avós, dos meus tios, eu tinha um carinho muito grande. Só que eu era uma criança diferente. Em que sentido? Eu era muito introspectivo. Eu não era um criança traquina e que fizesse bagunça, eu vivia mais no meu mundinho. Isso claro trouxe um pouco de preocupação, trouxe até certos preconceitos, porque eu vivia numa comunidade na época bastante conservadora, tudo que era diferente trazia um pouco de interrogação, de questionamentos, que não eram produtivos pra uma criança. Algumas situações que hoje a gente chama de bullying, mas na época não se sabia, não se tinha noção do que era isso, eu passei, principalmente, no colégio. Situações bastante constrangedoras e bastante tristes que acabavam fazendo que eu me fechasse ainda mais. Eu era uma criança muito criativa, às vezes eu fazia, pensava, falava coisas que as pessoas não tinha muito conhecimento do que eu estava falando. Trazia um pouco de estranheza, receio, aquelas histórias "ah, tem alguma coisa errada com essa criança”, aquelas histórias. Mas, eu tive muito carinho, muito amor, isso é algo que me fazia ser uma criança feliz. No colégio eu tinha maior dificuldade por causa do bullying, mas e só por ser mais introspectivo. Por não ser uma criança tão bagunceira, de querer muitas vezes até queria organizar, cuidar dos outros, tanto que pessoal brincava dizendo que eu nasci com 90 anos, tipo o Benjamin Button, acho que esse é o nome, e como os anos foram passando eu fui ficando mais jovem, mas eles brincavam, os meus amigos, dizendo que eu nasci velho e com o tempo eu fui ficando mais jovem, pra ter uma ideia (risos) de como a criança era estranha. Mas eu fui feliz. Fui muito feliz. E principalmente por causa do carinho da minha família, dos meus avós, dos meus tios, eles me ajudaram a dar um pouco de vazão a essa criatividade, esse jeito diferente que eu tinha das outras crianças.
P/1 – E desse jeito diferente com o que você gostava de brincar?
R – Eu gostava de brincar de criar histórias, de criar... Tanto que foi uma coisa que ficou muito, me levou muito, nós tivemos no colégio, criamos o clube do leitor. Era algo que ajudava muito a dar vazão a essa vontade de brincar, de imaginar, de criar. Eu gostava muito de criar brincadeiras, de criar histórias, de criar... É como eu dizia, criava um mundo mágico ao meu redor. Não era muito de brincar, por exemplo, de jogar bola, de carrinho, não... Eu até fazia, mas o que eu gostava mesmo era criar. Criar aventuras. Subia numas árvores, mas a árvore era um castelo. Andava cavalo, mas a gente estava indo, fazer alguma salvação, salvar alguém. Se tinha pedra, construía uma espaçonave para ir para outro mundo, conhecer mundos diferentes. Eu gostava, a coisa que mais me divertia era criar histórias, criar fantasias. E a leitura me ajuda a extravasar nesse sentido. Por muitos anos, quando a gente tinha intervalo, recreio do colégio, eu não ia lá brincar com as outras crianças, eu ia pra biblioteca de leitura, ler enciclopédia pra conhecer os mundos, conhecer os países, era uma criança chata (risos), bem chata. Mas era o que gostava. Por isso também parecia tão estranho pras outras crianças. Mas gostava muito disso. Eu queria conhecer um pouco de um outro mundo, um mundo que estava além daquela realidade que eu tinha, que eu conhecia. Mas era divertido. Pra mim era.
P/1 –E o que você queria ser quando crescesse?
R – Difícil essa pergunta. Na verdade eu queria ser muita coisa. Só que eram todas... Como vou dizer, eu tinha alguns ídolos, por exemplo, eu gostava muito do Silvio Santos ai eu queria ser apresentador. Não era uma ideia de chefe de televisão, eu queria poder trabalhar com as outras pessoas e poder interagir numa forma de organizar as coisas, eu tinha um ídolo que era o Silvio Santos. Eu brincava de ser apresentador de televisão, também pensei em ser professor, também era algo que eu gostava, de ensinar os outros, mas eu não tinha muito noção do que isso era quando era criança. Às vezes eu também sonhava em criar alguma coisa nova, ser inventor, por exemplo. Por muito tempo pensava em ser cientista porque eu pensava que eu ia descobrir alguma coisa nova. Ia tá lá no laboratório, trabalhando, ia descobrir alguma coisa que pudesse fazer a diferença, alguma inovação que pudesse trazer algo de especial para o mundo. Eram mais essas coisas. Uma criança estranha, em vez de querer ser bombeiro ou médico, qualquer coisa, eu tinha essa ideia de crescer e fazer algo especial. Algo que eu criasse alguma coisa diferente, que eu tivesse uma interação, mas que eu tivesse algo de especial. Tinha essa ideia, mas era muito, como vou dizer, eram períodos muito, num período pensava uma coisa, em outro pensava outro, não era uma ideia fixa, não era algo natural, que eu dissesse como vejo muitas crianças hoje que sabem que querem ser veterinários, médicos. Pra mim não tinha uma ideia natural que dissesse “vai ser tal coisa”, eram momentos de acordo com minha criatividade.
P/1 – E conforme você foi crescendo seus interesses foram direcionado pra quais matérias? Me fala um pouquinho.
R – Eu sempre fui muito exigente comigo mesmo. Parecia, Eu sentia que eu tinha que ter um nível de desempenho no colégio, tentava fazer o melhor, não sei se eu estava querendo agradar a alguém ou agradar a mim mesmo, eu sei sempre tinha um nível de exigência. E isso acho me atrapalhou um pouco. Aquelas coisas que eu achava que não era tão bom acabava desviando. Eu não me sentia tão bom em ciências, em química, física, então, por exemplo, as ideias que eu tinha de ciência caiu por terra. Porque se eu não me achava tão bom pra dominar essas matérias, biologia, química, física, matemática, então já não me achava uma pessoa boa pra ser um cientista. O que acabou aconteceu foi que eu me senti mais em áreas de história, geografia humana, propriamente português. Comecei a me interessar por línguas estrangeiras. Isso começou a apontar nessa direção mais de humanas e não tanto de exatas. Mas sempre tentando achar meu lugar no mundo. Sempre teve essa... Isso, de certa forma, me trouxe barreiras maiores que acho que geralmente as pessoas tem. A gente sabe que é complexo, mas esse sentimento, essa necessidade de buscar um lugar no mundo, me sentir aceito, confortável em algum lugar, me trouxe mais barreiras do que gostaria para decisão dos meus interesses de adulto, nessas áreas de profissão.
P/1 – Como foi essa ideia de fazer intercâmbio, como que você conheceu o AFS?
R – O AFS até hoje eu não acredito como eu aceitei fazer intercâmbio. Como eu disse eu era uma criança muito introspectiva. Eu tive uma situação que eu tive uma espécie de uma má formação na minha coluna, eu tinha uma inclinação muito grande, era uma inclinação de 60 graus. Aos 12 anos eu tive que colocar um colete que corrigisse a minha postura, na época o médico disse: “Se tu não fizer essa correção, quando tu fores adulto tu vai ter que fazer a cirurgia ou não vai aguentar com as dores que tu vai sentir”. Eu tive que colocar um colete e o colete eu tinha que usar 23 horas por dia. Então piorou, toda aquela situação de ser introspectivo piorou ainda mais, não era só uma criança quieta, que era criativa, fazia algumas brincadeiras que os outros não entendiam, tinha mais o colete que chama atenção, isso piorou. Aos 16 anos, a minha professora de inglês, que tinha feito intercâmbio, que tinha sido voluntária do AFS, estava retornando como voluntária e hoje eu fico muito feliz porque ela voltou ao AFS e é voluntária, é representante, é presidente do Comitê, da representação de Pelotas, ela apresentou essa ideia pra nós no colégio e os meus pais foram querer saber como era, como funcionava. Eu tinha minha turma que teve outros interessados. Eu de certa forma vi o intercâmbio como uma oportunidade ir em busca desse mundo que eu conhecia só pelos livros. O mundo que eu tinha visto só como expectador distante. Eu tinha muito medo. Imagina, eu morava no interior do Rio Grande do Sul, o máximo que eu tinha ido era Curitiba. Nunca tinha ido mais longe que isso. Eu tinha muito medo, com essa ligação muito forte com minha família, até uma espécie de devoção que eu sentia com minha família. Eu tinha um receio muito grande. Foi isso que gerou a circunstância de eu fazer um programa que fosse intensivo. Eu não fiz um programa escolar completo. Acho que na época foram três meses, alguma coisa assim, se não me engano. Foi um programa intensivo que me dava essa oportunidade. Ele era mais barato, não tinha o custo do programa anual nem do semestral e eu não ia ficar tanto tempo longe da minha família. E se eu me assustasse com o que eu encontrasse lá fora eu não ia demorar muito, eu ia poder voltar pra casa. Através da minha professora, ela nos passou uma segurança muito grande, tudo que o AFS ia fazer por nós, todas as orientações, todos os cuidados, todo o acompanhamento, ela nos passou uma segurança muito grande, pros meus pais também.
E os meus pais me disseram, principalmente a minha mãe, ela disse assim: “Olha Diogo, está nas suas mãos, eu vou sentir saudade, mas está nas tuas mãos, se tu quiser ir nós damos um jeito e tu vai”. E eu hoje pensando não imagino de onde eu tirei coragem pra... “Eu disse não, eu vou”, tinha um colega que estava indo também, o Mauro, ele é meu amigo até hoje, meu amigo de colégio. E eu disse: “Não, eu vou sim, porque eu preciso disso”. Eu dizia pra eles que precisava me certificar que aquele mundo lá fora era ou não daquela forma que eu imaginava, porque até então eu estava apenas no mundo da imaginação e eu precisava ir.
Era um período que estava tirando o colete, mas eu precisava dessa experiência na minha vida. Mas eu estava morrendo de medo porque eu era muito quieto, muito quieto mesmo. Ao ponto de até a coordenadora chamar os meus pais, aquelas reuniões de pais que as vezes os professores tem que chamar pra dizer que os filhos tão exagerando um pouco no comportamento, inquietos, dificultando o aprendizado dos outros alunos. A minha situação era o contrário. Ela chamou meus pais pra dizer o Diogo é uma múmia, ela disse. Ou seja, “estou preocupada porque ele não fala”. Foram 16 anos sem falar... Eu fiz o intercâmbio. Foi uma forma de eu me testar, de eu me abrir como pessoa, pra um mundo real e não mais o mundo imaginário da minha infância e da minha pré-adolescência, naquela época 16 anos ainda era pré-adolescência, hoje já...
P/1 – E por que você escolheu ir pra Londres, Diogo?
R – Ah, Londres... Por causa das histórias que eu lia desde criança. Histórias do rei Arthur, das Brumas de Avalon, do Merlin. Todas aquelas brincadeiras, aquelas que eu fazia, as aventuras que eu fazia eram das histórias das lendas britânicas. Claro eu já tinha estudado mais concretamente a história, sabia que as lendas eram lendas, mas eram algo que ainda me encantava. Me encantava muito. A minha primeira e acho que única opção era o Reino Unido. Hoje a gente sabe que não deve ser assim. Hoje a gente é mais aberto a qualquer tipo de experiência. Não importa onde ela seja, mas na época, até pela minhas imaturidade eu tinha a ideia de que precisava ser o Reino Unido.
P/1 – Agora conta pra gente como foi essa chegada, adaptação...
R – Contar tudo? (risos)
P/1 – O panorama geral.
R – Foi muito especial. Muito mesmo. Primeiro, porque eu nunca tinha viajado de avião. Esse foi o primeiro ponto. Nunca tinha viajado de avião. Saí de avião de Porto Alegre achando que ia morrer de medo. Adorei. Foi uma experiência muito incrível, cheguei se não me engano saímos de Porto Alegre fomos pra São Paulo, de São Paulo pro Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro pra Londres. Chegamos em Londres eu não acreditava. Eu não tinha essa noção do que era ir tão longe, ir pra algum lugar tão diferente. Tinha um pouco daquele mundo mágico que eu imaginava, mas eu comecei a perceber outras coisas da realidade mais concretas. Mas foi tudo muito especial. Nós chegamos, participamos de uma orientação por alguns dias, com toda turma. Nós éramos brasileiros e argentinos nessa orientação. Ficamos acho que uns quatro dias na orientação. Foi muito legal. Tivemos oportunidade nesse momento de conhecer algumas coisas de Londres. Eu não acreditava. Foi a primeira vez que eu vi o Big Bang, eu disse: “Meu Deus é real”, “Tô aqui mesmo”, o Rio Tâmisa, o Parlamento, o Palácio, a Torre de Londres, a ponte da Torre de Londres, eram coisas assim... Um mundo que pra mim só fazia parte de um faz de conta e eu estava ali de verdade. As pessoas eram diferentes e em Londres tinha tem gente do mundo todo, indianos... Muitos africanos de todos os lugares da África, europeus de outros lugares, parecia uma aldeia global. Foi uma coisa que eu fiquei um pouco deslumbrado no início. Aí veio o momento de ir pra casa da família hospedeira, que me dava também um medo muito grande de como eles seriam, a gente tinha recebido o material falando da família e tudo, mas eu tinha muito receio, eu tinha medo, como que vai ser, eu vou viver com essas pessoas todos os dias. Eu era muito introspectivo, como eu disse. No início foi difícil. Foi muito difícil. Foi muito difícil pela barreira da língua porque eles tinham uma dificuldade muito grande se a gente tentava falar inglês americano. Certas vezes eu sentia como se fosse um pouco de má vontade de entender porque era inglês americano. Eles queriam, faziam questão do inglês britânico. Evidentemente que, depois, eu entendi, realmente o inglês britânico é mais bonito (risos). pra mim é. Foi muito difícil no início. Os meus pais, minha mãe inglesa principalmente, ela era muito exigente. Ela queria manter uma disciplina, ela cobrava muito dentro de casa. Meu pai era um bolachão, uma pessoa muito tranquilona, muito querida. Eu tinha um irmão que vivia comigo na casa. Os outros dois irmãos viviam fora, moravam nas faculdades. Meu convívio era mais com meus pais e com esse meu irmão. Eles me mostraram, o pessoal do AFS também me ajudou, mostrando onde que seria a escola, me levaram escola. Eu conheci a Sister Collet que era uma pessoa muito querida também pra mim, na minha escola, muito importante, uma pessoa que tinha uma sensibilidade intercultural muito grande. Porque a gente passava por certas situações deles perguntarem: “Ah, tu mora em árvore? Vocês tem televisão? Vocês tem carro?”. A gente tinha umas situações muito inusitadas, do desconhecimento das pessoas. Ela não. Ela tinha uma percepção disso e ela ajudava. Até teve uma situação que eu nunca esqueci porque toda semana tinha avaliações. Nós fazíamos questionários e correção deste questionário era na frente de todo mundo. Ela perguntava pra ti, tu respondia e ela dizia se estava certa ou não. Pra que eu ganhasse um pouco mais de confiança, até perante os meus colegas, para que não ficasse como o brasileiro que não sabe, que não conhece, foi muito engraçado, ela me passou as respostas do questionário. Ela me perguntava: “Diogo, como que é a resposta tal?”, pra ter certeza que eu ia acertar e todo mundo... Isso logo no início que eu não dominava direito o idioma, eu tinha muita dificuldade no início. Ela dizia: “qual a resposta da questão tal?”. E eu dizia. E os outros “Oh, acabou de chegar o brasileiro e o brasileiro já sabe, mas que coisa”. E me perguntava de novo: “E da pergunta tal?” e o pessoal “Oh!”. A partir daquilo me deu uma confiança diferente. Foi uma vez só e depois eu me dedicava pra estudar, pra aprender, pra poder responder certinho, pra não precisar mais dessa ajuda. Mas isso no início... E ela nunca contou pra ninguém. Nem eu. Isso pra mim foi uma ajuda muito legal. A minha interação dentro do colégio também, ela foi muito especial, porque eram pessoas do mundo todo. Da mesma forma, retratava muito essa aldeia global que é Londres. Eu conviva com africanos, com asiáticos, com portugueses, com espanhóis. Era muito legal mesmo. Até as vezes o pessoal olhava e eu estava escrevendo em português e eles perguntavam “Mas que língua é essa?”. Asiáticos ou africanos que não eram da colonização ibérica, que nunca tinham visto, não tinham conhecimento do idioma. Foi muito especial. Era muito engraçado essa coisa... Mas eu sempre muito introspectivo. Só que isso me deu já um pouco mais de confiança. Pra eu começar a tentar conversar, interagir, o errar, porque a gente erra muito e geralmente a gente diz pros estudantes que eles não tem que ter vergonha de errar. Não tem que ter vergonha de falar bobagem. E eu falei muita bobagem. Até às vezes de coisas que eu não sabia que eu estava falando e podia ter uma interpretação negativa. Um palavrão. E eu não sabia que aquilo que estava falado podia ser interpretado como um palavrão pela forma como eu estava falando ou da forma que eu estava pronunciando. O pessoal só dava uma risadinha, mas relevava. Outras coisas que eu trocava uma palavra por outro e o pessoal dava risada porque era uma coisa nada a ver. E situações engraçadas também que eu passei. Eu me perdi. Tinha que pedir ajuda pros voluntários, já me perdi algumas vezes em Londres e eu morria de vergonha de isso acontecer. Ainda bem que sempre consegui ajuda. Me perdi indo pra escola. No subúrbio de Londres é muito parecido, aquelas casinhas iguaizinhas, uma colada na outra. Eu desci antes da minha parada. Foi muito especial porque eu fui pedir informação e ele disse “Mas onde é que tu estuda?”, “Ah, tal lugar”, “ah, Sister Collet?”, eu disse “Sim”, ele disse “Não te preocupa, eu vou ligar pra ela”. Ligou pra ela, ela veio me buscar. Sabe, então, foi assim, cada vez um aprendizado. Todo dia eu tinha algo novo aprendendo. Morrendo de vergonha porque eu fazia umas coisas assim... Com essa situação de eu ser uma criança um pouco mais séria que as pessoas brincavam que eu tinha nascido velho e ficando um pouco mais novo, eu achava que eu era maduro. “Ah eu sou maduro, tenho um comportamento diferente das outras crianças”. No intercâmbio, eu vi que eu não era maduro (risos). Que eu era um baita de um criança, eu não tinha o preparo, a maturidade necessária até mesmo pra me comportar em certas situações. Eu tinha muita vergonha de tudo. Como era um mundo diferente, se eu não pedia ajuda, se eu não expressava o meu desejo eu acaba fazendo bobagem. São coisas como eu emagreci muito no início. Eu já tinha uma tendência pra emagrecer então as primeiras semanas eu perdi quatro quilos e fui perdendo, perdendo, perdendo. Eu comprava comida chocolate essas coisas só que eu não falava pros meus pais que eu estava precisando, que eu queria ajuda pra fazer comida, porque eu não sabia fazer essas coisas, eu não sabia cozinhar, porque pro meu pai, é engraçado essas coisas, meu pai ele dizia assim: “Um homem não tem que tá na cozinha”. Naquela época, hoje ele é praticamente um mestre cuca. Ele que cozinha, ele que faz todas as comidas. Mas naquela época... “Não, não tem que aprender a cozinhar”. Eu não sabia fazer nada. Não sabia limpar, não sabia cozinhar, não sabia fazer nada. Claro, eu sempre arrumava meu quarto em casa, mas não sabia fazer nada. Essas coisas geravam um constrangimento porque lá a lógica já era diferente. Lá não se tinha ninguém pra ajudar a fazer. Se tu não fizesse, ficava sem, minha família não tinha uma tradição de comer, de fazer as refeições juntas. Cada um pegava seu prato e ia pra frente da televisão. Como eu não sabia fazer nada, muitas vezes eles me esperavam, eu não fazia, eles achavam que eu não estava com fome, que eu já tinha comido, eu não comi. Eu tinha vergonha de dizer: “Olha, eu não comi, eu não sei fazer”, “Não sei fazer comida, não sei fazer nada”. Vergonha de assumir que eu não sabia fazer nada. Aí, eles entraram em contato com o AFS e o AFS explicou: “Não, é que Brasil geralmente não se tem essa cultura, os jovens, os homens pelo menos, não era natural pela cultura brasileira, principalmente interior”, aí, eles começaram a fazer umas refeições comigo. E me ensinaram. Disseram: “Olha, tu vai ter que aprender, porque, né, a gente não tá em casa. Quando tu não tiver na escola, fazendo refeição na escola, e nós não tivermos em casa no horário tu vai ter que fazer tua comida”. Isso foi muito bom porque eu aprendi muita coisa. Eu era organizado, eu sabia, digamos assim, sabia limpar, varrer, essas coisas, mas, comida, lavar minha roupas, essas coisas eu não sabia. Foi um aprendizado muito grande. E bobagens também. Por exemplo, chegar e usar o sistema de metrô de Londres. Eu ficar esperando que passasse no letreiro a estação que eu queria, não passava nunca, eu ficar lá 40 minutos, uma hora. Eu subo e pergunto pra ele: “Qual o trem que eu pego pra ir pra tal estação?”. Ele disse: “Qualquer uma, é a principal, ele vai passar lá”. Coisas assim. Chegar no supermercado começar perguntar pra moça “onde é que eu deixo as minhas coisas?”. Ela dizia: “Como assim deixar tuas coisas?”. “Eu vou entrar no mercado, eu quero deixar essas coisas, onde é que eu deixo?”. E ela: “Mas são tuas coisas, leva junto”. E eu: “Não, mas eu quero entrar pra fazer...” porque em Cruz Alta não existia o sistema de que hoje tu vai entrar com tudo porque se pegar algum produto ele apita. Na época não tinha. Cruz Alta tinha aqueles guarda volume. Pra tu entrar no mercado tinha que deixar no guarda volume. Tudo a gente deixava no guarda volume. E a pessoa: “Mas é teu, leva, deixar com quem?”. Achou que eu era louco. “É louco”. E eu com aquela cara: “Oh, não tem guarda volume”. Um monte de gente me pedia informação. Senhorinhas, crianças, e eu não entendia direito o sotaque no início. Eu passava como fosse maluco. No início era muito engraçado. E situações também que eu desconhecia. Como eu disse, minha família, meus pais, minha mãe era muito durona, minha mãe inglesa. Eu nunca tinha visto ela assim sorrir, ficar relaxada. Meu pai sim, tomava a garrafa de vinho dele todo dia, ficava lá relaxadão, bem tranquilão, mas ela eu não via. E no Natal ela se soltou! Se soltou! Eu fiquei apavorado. Apavorado. Não passei nenhum momento, eu não estive inseguro. Estava em total segurança. Fomos passar o natal no norte de Gales, em um hotel, eles tinham uma tradição familiar de ir pra um hotel. Porque ai vinha a mãe, a avó inglesa, a mãe do meu pai, vinha irmã do meu pai, o marido dela, os primos, os irmãos, iam todos passar nesse hotel no norte de Gales pra comemorar o Natal. E eu, aquela imagem, no Natal eles beberem, eu não bebia, eu fiquei olhando. Pessoal diz que geralmente se tu não está bebendo, tu olha os outros que tão bebendo tu até apavora. Imagina uma pessoa que eu nunca tinha visto sorris, nunca tinha visto. Fizeram horrores. Nada que não tivesse segurança. Fiquei apavorado. Entrei em contato com os voluntários e disse: “Olha não sei o que aconteceu, acho que minha mãe é maluca”. Eles disseram: “Não, nós vamos te explicar. O inglês geralmente ele é muito focado, muito compenetrado o ano todo. E o final do ano é o momento que ele tem pra extravasar. Tudo aquilo que ele queria fazer durante o ano e ele não poder, ele vai fazer no final de ano. Mas não te preocupa que não vai acontecer nada de ruim contigo, eles não vão fazer nada de ruim contigo. Tu está com contato com a gente, qualquer coisa tu fala. Porque não vai acontecer nada de ruim”. E eu disse: “Tá e que o eu faço?”. Ela disse: “Ah, se tu te sentir mal, ficar com receio, vai pro quarto, mas não te preocupa. Já passou, é só no Natal. O resto do ano eles são muito compenetrados. Muito focados. Eles não vão te assustar”. Mas foi muito porque eu era pré-adolescente de 16 pra 17 anos, hoje a gente fala adolescente mas na época eu vejo que pela minha falta de maturidade era muito infantil pra certas coisas. E foi falta de maturidade mesmo, de vivência que me fez me assustar de ver ela tão descontraída sendo que eu tinha visto ela com outra cara o período todo que eu estava lá. Eram essas certas coisas que eu não entendia o porquê e fui entendendo ao longo da experiência que eu tive lá. Começar entender essas facetas das pessoas. Até mesmo aquela coisa que o que parecer ser não é o que é. A gente tem que respeitar. O respeito... Ah, eu não tinha nada a ver, eles eram os adultos, eles tinham o controle das suas ações. Eu não tinha que me preocupar, eu estava seguro, estava bem. Mas, situações assim que eu fico constrangido porque às vezes eu não entendia direito o que eles estavam me pedindo. Teve situações que eles dizem que me avisaram que a gente ia pra uma viagem. Isso dentro do intercâmbio, a gente escuta rápido e ai diz sim. Concorda. A pessoa acha que tu entendeu, mas tu não entendeu. Eu lembro também de uma vez que eu fui acordado com interfone da casa porque minha casa era daquelas casas do subúrbio, a base é muito estreita e a casa geralmente tem três pisos mas bastante estreitos. E por o meu pai ser muito grande, muito pesado, pra ele não ficar subindo e descendo escada pra falar, tinha um interfone dentro da casa. O telefone tocou, eu estava dormindo e minha mãe disse assim: “Diogo, nós estamos saindo em cinco minutos”, “Mas, nós estamos saindo pra onde?”, “Eu te falei, te avisei que a gente ia buscar teu irmão. Vamos ou tu vai ficar em casa sozinho?”, “Tá, mas vocês vão voltar quando?”, “Daqui dois dias” (risos), “Eu estou indo, não vou ficar sozinho”. Claro, ela falou aquilo pra mim, tipo, “Vai ficar em casa sozinho, vai passar necessidade”. Ela não ia me deixar sozinho em casa, mas, ela quis fazer assim pra me dar um chacoalhão. E aí claro, eu que era uma pessoa que sempre demorava de 40 minutos a 1 hora pra me ajeitar, pra sair da cama e tudo mais, em cinco minutos eu me ajeitei e desci. Pra passar dois dias, não sabia nem o que que eu tinha que levar. Mas em cinco minutos eu estava lá em baixo. Morrendo de vergonha. E situações também assim, passeando no carro, estava tocando uma música e eu comecei a cantar a música. Eu vi que os dois estavam dando risada. Ela disse assim: “Diogo, tu sabe o que tu tá cantando?” (risos) “Não”, “É? Eu vou te explicar o que tu tá cantando”. Me explicou a música e eu estava falando um monte de bobagem. Um monte de bobagem! Claro, fiquei muito constrangido, morri de vergonha, mas acho que eu passei tanta vergonha no meu intercâmbio, de fazer as coisas, mas não fazer as coisas por maldade. No Natal eu ganhei um relógio dos meus pais. Eu fiquei tão constrangido de ter ganhado um relógio que eu achava que era uma coisa tão cara que chegou no dia do meu aniversário, que eram semanas depois do Natal e eu achava que eles soubessem o dia do meu aniversário. Só que eles não sabiam. Eu não falei pra ninguém. Eu fiquei pensando “se eu falar eles vão achar que eu estou querendo mais presente”. Sabe, as coisas que passam na nossa cabeça. Eles já me deram presente tão caro, me levaram pra ir pro hotel, tudo. Me deram todo o Natal, o que a gente passou e fez juntos. Não falei nada. Fiquei um pouco chateado, foi o primeiro aniversário que eu passei longe da minha família e o primeiro aniversário que eu não comemorei nada. Só que não foi isso que me deixou mais triste, o que me deixou mais triste foi que logo depois que eu voltei eles descobriram que meu aniversário era naquele dia e que eu não tinha falado nada. Eles ficaram muito chateados comigo porque eu não tinha falado. Aí, eu comecei a pensar, dessa experiência, eu comecei a pensar assim “mais vale a gente passar vergonha e constrangimento fazendo, do que não fazer nada e acabar passando vergonha e constrangimento do mesmo jeito”.
P/1 – Diogo, agora como a gente não tem muito tempo, a gente precisa entrar na tua trajetória, na tua carreira como voluntário. Porque tem tanta coisa bacana, só porque é muito importante até pra história do AFS, essa parte da sua trajetória como voluntário. Eu queria que você contasse pra gente desse retorno e já engrenasse nesse teu envolvimento, nos passos que construíram esse teu espaço como voluntário.
R – Isso é um pouquinho do resquício dos 16 anos sem falar, que eu brinco, eu digo que por 16 anos eu não falei, fui pro meu intercâmbio, fiquei 16 anos falando sem parar e agora tento buscar um ponto de equilíbrio. Às vezes eu consigo, as vezes não. (risos). Mas, antes mesmo de eu ir fazer o intercâmbio, a nossa professora de inglês já pedia nossa ajuda. Eu já me tornei voluntário na verdade antes de viajar. Nós recebemos a primeira estudante de intercâmbio pelo AFS em Cruz Alta foi uma turca. A Ozgue. Eu lembro da Ozgue até hoje, tenho contato dela até hoje. Também já tinha sido uma experiência muito legal. Mas eu não tinha muita profundidade na época, nesse sentido, de como fazer as coisas. Aí eu fiz minha experiência, voltei pra casa, continuei como voluntário. No início, esse amigo que também foi e eu. Nós continuamos trabalhando como conselheiros, nós tentávamos fazer divulgação pras pessoas viajarem. Só que essa professora que foi, que me enviou, que foi a Presidente do comitê Cruz Alta, a primeira Presidente, ela teve problemas familiares e ela teve que ir embora da cidade. Ela retornou pra casa da família dela, dos pais dela em Pelotas. Ela me disse: “Olha, Diogo, tu tem que assumir a presidência do comitê. Se tu não assumir o comitê fecha e a gente acabou de abrir o comitê”. Ela já tinha tentado com os outros voluntários e ninguém sentia coragem de assumir. É um projeto que tinha começado e a gente precisava saber tanto ainda sobre isso. Eu disse: “Não, eu assumo então”. Só que isso eu tinha acho que 19 ou 20 anos, alguma coisa assim, eu era muito novo, tinha começado esse processo, o intercâmbio tinha me dado muitas coisas, nesse tempo que tinha sido voluntário eu tinha crescido muito como pessoa, mas eu ainda era muito inexperiente pra muita coisa. Ainda estava aprendendo essa coisa de falar e de me relacionar de forma mais aberta, de forma mais não tão introspectiva com as outras pessoas. E eu assumi esse desafio e novamente foi um constrangimento atrás do outro. Porque eu fazia tudo errado. Tudo errado. Eu não sabia fazer direito os processos, eu errava as datas, eu recebia, a gente chama os applications que é o material pra fazer a colocação dos estudantes estrangeiros. Eu achava que aquela data que chama deadline era que eu podia esperar até a deadline pra devolver aqui pra Secretaria Executiva esse material. O que não era. Aquela deadline era data que tinha que fazer a colocação completa daquele estudante, mas eu não sabia disso. Porque a gente não tinha um sistema, na época, formal de treinamento, um sistema forma de capacitação. Nós tínhamos aquela coisa da experiência de um voluntário que passa pro outro. Claro a professora tentou me preparar, só que era muuuita informação! E muita informação, pode até passar as coisas corretamente, mas tu não consegue absorver tudo. Eu fiz muuita bobagem no início! Assim, nada grave, graças a Deus, mas fiz essas coisinhas assim que depois acabava me constrangendo. Aí, nós tivemos na região Extremo Sul que é relativa ao estado do Rio Grande do Sul, nós tivemos uma Diretora Regional que assumiu, a Giovana, que ela disse assim pro Lucas Welter: “Eu preciso desesperadamente de um projeto de capacitação. Porque nós temos muitos voluntários novos, eu era um deles, que tão com as informações equivocadas e a gente precisa capacitar esse pessoal”. E ele criou o AFS 101. Eu brinco que nós fomos as cobaias do primeiro AFS 101 que existiu. Foi algo incrível pra nós, porque eu passei por toda capacitação, eu tive condições de interagir melhor na minha cidade, eu tinha mais segurança pra ir fazer as palestras nos colégios, eu tinha mais segurança pra conversar com as famílias interessadas em enviar e receber, eu tinha mais confiança pra passar as informações pra qualquer público que quisesse na minha cidade. Foi um período em que a gente teve um crescimento bastante grande no comitê. Nós tivemos um recebimento bastante forte numa cidade pequena. Nós tivemos uma, eu lembro um ano que nós estávamos com sete estudantes na cidade. Era um acontecimento. A cidade era um acontecimento. Todo mundo perguntando “ah, tu viu o alemão”, “tu viu o italiano”, eram pessoas todas muito diferentes pra cidade. Ali eu senti que o AFS era um pouquinho do meu lugar no mundo, ou seja um lugar que eu poderia fazer a diferença. Eu estava fazendo com que pessoas de uma comunidade que eram mais conservadoras, eu estava tentando criar um ambiente que elas pudessem abrir um pouco mais a cabeça delas ao diferente. Não seria só aquilo que elas viam com maus olhos, o diferente elas começariam a ver com olhos de interesse. Isso, de certa forma, já me realizou. Eu brinco também que a nossa Diretora Regional, a Giovana, também era muito querida e muito bonita. Eu brinco que eu dizia pra ela, nós todos adolescentes tardios ainda e ela dizia: “Vamos colocar mais?”, “Vaaamos”. Tipo assim, vamos satisfazer pra ficar bem com a Giovana (risos). Mas a gente dá risada até hoje dessas histórias. Mas me realizava muito eu saber que eu estava possibilitando, eu e os outros voluntários, claro, conseguir movimentar o comitê. Eu fui buscar colegas de aula, eu fui buscar família, fui buscar amigos da minha família, fui buscar outras pessoas que não tinham tido a experiência de intercâmbio, ou que depois resolveram, sentido a segurança e acompanhando, resolveram receber em casa, resolveram mandar os filhos. Mas até então elas não tinha tido a experiência, consegui trazê-las pra dentro do comitê. Quando eu senti que o comitê estava andando, estava tranquilo, eu também disse pros meus pais: “Eu tenho que buscar outras oportunidades também”. Eu resolvi ir pra Porto Alegre. Quando eu fui morar em Porto Alegre, nós tínhamos um processo de renovação de lideranças dentro da região Extremo Sul. Nesse processo de renovação, eles começaram a avaliar todos aqueles voluntários novos que tinham feito, que tinham conseguido realizar coisas interessantes dentro da organização. E eu fui um deles. Eles nos convidaram pra que a gente se candidatasse ao cargo de Diretor Regional, na época, era a pessoa que era gestora, coordenadora do AFS dentro da região. Nós tivemos uma equipe muito boa, muito legal. Essa equipe nós construímos com novas lideranças, na época era eu, era o Cícero, era o Odir, eram lideranças novas que a gente deu uma nova roupagem ao AFS na nossa região. Nós pensamos: “Nós precisamos investir em capacitação”. Foi um passo, junto com Lucas, que acabou assumindo a função de Treinador Regional na nossa região, na época. Ele começou a criar e desenvolver outros tipos de treinamento, outros tipos de capacitação. Nós organizamos o orçamento da região pra que a gente conseguisse fazer esse investimento em treinamento porque na época o AFS Brasil não tinha ainda essas verbas de treinamento. Nós alocávamos o orçamento da própria região pra fazer isso. Isso deu um resultado incrível porque nós conseguimos crescer gradativamente, a gente conseguiu crescer todos os anos, sendo que nós fomos a região que mais recebeu naquele período, a região que mais recebia estudantes no Brasil e nós éramos a segunda que mais enviava. Nós tínhamos uma equipe legal, uma equipe capacitada, uma equipe que tinha conhecimento e que tinha comprometimento, o que foi muito bom. Aí, passou esse período como Diretor Regional, eu fui buscar também outros desafios. Como eu tinha gostando muito dessa área de capacitação, o investimento que nós tínhamos participado pra isso, nós fomos criando um grupo de desenvolvimento pro AFS Brasil, ou seja, um grupo de voluntários que contribuísse com a Secretaria Executiva, que contribuísse com a AFS Brasil como um todo, algumas estratégias de desenvolvimento. A gente gostaria de levar essa ideia que começou lá na região para outras regiões do Brasil. Para que a gente não ficasse refém só do boca a boca, só da percepção de um voluntário pra passar. E assim que a gente tivesse material mesmo. Que a gente pudesse ter o mesmo conhecimento, que todos pudessem ter o mínimo desse conhecimento. E aí cada região ia agregando valores e agregando conhecimento extras. Então, nós fizemos todos, ajudamos, passamos, acompanhei todas... Também nunca me afastei da região, continuei ajudando os diretores regionais que vieram depois de mim todos esses anos. Sempre tentando dar suporte pra aquilo que eles precisavam, eu participei de orientações regionais, participava de orientações locais, eu era conselheiro local, eu fiz aconselhamentos regionais também. Eu só não trabalhei com a Área Financeira dentro do AFS. Mas todas as outras funções, o que a gente chamava de cargo antigamente, todas essas outras funções eu participei, ajudei dentro da região e comecei a ter esse alcance dentro do AFS Brasil. Depois disso, nós passamos, infelizmente, por alguns processo de instabilidade política e financeira na organização. Nós passamos por um período de crise. Nós nos organizamos pra que a gente começasse fazer a renovação das lideranças nacionais, que a gente começasse a ter um novo mote, uma nova visão. Porque é necessário, é sempre necessária a alternância de poder, de direção. Porque algumas vezes um grupo de pessoas é muito bom pra ajudar um aspecto, mas outro grupo pode ajudar muito mais em outros aspectos. Isso que foi nossa tentativa. A gente começou a fazer um movimento de renovação. E o que foi feito com muito sucesso, com muito êxito. Nós conseguimos fazer um processo de renovação, a gente tentou manter tudo de bom e todas as conquistas que já tinham sido feitas dentro da organização, mas a gente começou a fazer alguns outros investimentos em algumas áreas que a gente achava que precisava. E a gente tem conseguido um bom retorno disso. Tanto que o próprio AFS Internacional, as avaliações que temos tido é de recuperação da organização. E hoje o AFS Brasil, a gente pode dizer que é uma organização em progresso. Mesmo em anos de crise que a gente tem do Brasil, infelizmente, a gente está passando por um período de crise econômica, o AFS consegue ter sua recuperação financeira, consegue crescer com a ajuda de todos. Isso é uma coisa que eu sempre falava. As pessoas perguntavam: “Ah de que forma a gente pode motivar as pessoas?”. E eu dizia assim: “A gente não consegue motivar a outra pessoa, o que a gente consegue, eu acho que o que a gente deve fazer dentro do AFS Brasil é criar um ambiente propício a motivação”. A gente tem que fazer com que o AFS se torne uma organização que incentive essa motivação, porque a motivação vai partir de cada um de nós. Mas se a organização for uma organização empreendedora, se for uma organização que investe no seu voluntário, que investe nos valores, nos princípios que a nossa organização traz, com certeza a pessoa vai se sentir motivada. Se nós conseguirmos ter esse carinho, essa atenção com o voluntário, porque é o voluntário que faz as coisas acontecer, é o voluntário de base que faz tudo acontecer. A gente não consegue, a direção da organização não faz nada acontecer sozinha. Mas a gente precisava ouvir, a gente precisava absorver essa necessidades deles e tentar trabalhar colaborativamente no sentido de atender essas necessidades e criar esse ambiente propício a essa motivação. Ainda falta muita coisa e com certeza não serei eu, o Ulysses, nosso presidente que tá saindo, mas, o que eu quero dizer é não seremos nós aqui que conseguiremos atender todas as necessidades e sim os que virão depois de nós. O que eu fico muito feliz, muito feliz mesmo, é ter podido contribuir pra isso. Eu não vou conseguir vencer essa minha etapa na organização, fazendo tudo que eu gostaria, mas eu sei que a gente está construindo esse ambiente. Os outros que virão poderão dar continuidade, poderão fazer com que o AFS cresça cada vez mais. Ainda bem que os primeiros sinais disso já estão acontecendo.
P/1 – Diogo, então, conta um pouco dos seus atuais desafios, suas atuais funções, do cenário de hoje.
R – Deixa eu ver se eu não vou esquecer de nada. Hoje eu sou membro do Conselho Diretor. Estou como Vice-presidente da organização. E estou como membro do grupo desenvolvimento também, aquele grupo que a gente fundou anos atrás, que a gente passou vários anos de muita dificuldade, mas que hoje em dia é um grupo consolidado. Eu fico totalmente tranquilo em deixar ele em muitas boas mãos. Sei que as pessoas que estiveram lá vão continuar dando fruto muito legais. E a nossa maior, acho que o maior desafio agora é conseguir dar continuidade a esse processo que foi iniciado pelo Ulysses. Ulysses, que é o Presidente atual, que está saindo, tudo aquilo que a gente começou, que nós fizemos muitas mudanças e a gente sabe que as mudanças elas são muito difíceis de serem aceitas. Foram feitas muitas propostas de mudanças. Nós conseguimos consolidar algumas dessas mudanças, principalmente com relação a comunicação, a metodologia de trabalho, a desenvolvimento organizacional, até questões mesmo da relação do Conselho Diretor com a base. Todo esse tipo de coisa nós fizemos várias tentativas no sentido de tentar melhorar, de tentar aproximar essas esferas da organização. Só que elas estão num processo de maturação, da gente poder ver aquilo que a gente de fato está conseguindo e aquilo que vai precisar mudar e aquilo que vai precisar implementar. A visão que eu tenho das coisas é que nós começamos a tomar várias iniciativas dentro da organização que são vários pontinhos. São iniciativas. Essas iniciativas foram crescendo, estão crescendo, estão crescendo, estão crescendo... Como se fosse uma célula, crescendo, crescendo, crescendo... O que falta agora, é o nosso desafio, é o que estamos tentando fazer é conectar tudo isso, ou seja, conectar tudo isso, fazer com que ela se encaixa perfeitamente e que a organização possa ser mais produtiva. Possa ser cada vez mais integradora, mais colaborativa e que as pessoas tenham mais clareza daquilo que a organização precisa e nós do que elas precisam. Isso é um desafio hoje. Encaixar tudo isso e fazer com que tudo colaborativamente, tudo em cooperação, faça a organização continuar crescendo. Eu também não quero desviar da minha participação no comitê, da minha participação na região, quero continuar também, acho que isso muito importante. Todos os voluntários que estão em função de direção acho que a gente tem que continuar também fazendo nosso trabalho de base, isso é importante pra gente estar no dia a dia, pra não perder o vínculo, não perder a noção da realidade. Isso é uma coisa que eu quero continuar fazendo, quero me dedicar também esse ano. Mas o desafio maior, acredito que vai ser esse: conseguir fazer as coisas se encaixarem de uma forma que fique clara, que fique tranquila, que fique produtiva pra toda organização, pra todos os voluntários, pro staff, pra comunidade, pra todo mundo.
P/1 – Diogo, eu vou te fazer umas perguntinhas finais que a gente não tem muito tempo, infelizmente, mas eu queria que você falasse só rapidinho pra gente, essa questão da premiação, dos voluntários, tem o Prêmio Gallati, se puder, falar só um tiquinho pra gente.
R – O Prêmio Galatti eu tive indicação também do AFS Brasil, que foi algo também que foi uma surpresa muito grande pra mim porque geralmente o Prêmio Gallati ele é, digamos assim, ele reconhece voluntários, não só com tempo de organização, mas também com muitos anos de experiência de vida, digamos assim. E eu, quando eu fui indicado, eu acho que eu recém tinha feito 30 anos e eu me achei muito novo pra receber uma indicação dessas. Pra mim foi uma alegria muito grande ter esse tipo de reconhecimento. Às vezes a gente não tem a noção do carinho das pessoas pela gente ou do conhecimento daquilo que a gente fez pras pessoas. Eu realmente, eu não tinha essa noção e a homenagem foi muito bonita, foi até uma Convenção Nacional em Porto Alegre. Eu não sabia que ia ser feita essa homenagem, me chamaram, nós recebemos um... (emocionado). Veio da França, um uniforme de um motorista de ambulância, motorista de ambulância do AFS! Eu fico todo arrepiado! Veio um uniforme daquela pessoa, que fez toda aquela diferença, que contribuiu, viu toda aquela coisa da guerra, que contribuiu pra criação da organização. Uma organização centenária, mas que como organização de intercâmbio aqui no Brasil a gente tá completando 60 anos ano que vem. Todo aquele peso, eu vi aquele manequim com aquele uniforme, “o que é isso?”, aí me chamaram. E me vestiram com o uniforme e disseram que era um reconhecimento pela minha dedicação, pelo meu trabalho na organização por tantos anos. E não só pelos anos, mas pela dedicação mesmo, eles sabiam que eu me devotava a organização. E que aqueles que eram os fundadores, eu estava colocando também... Eu merecia estar vestindo aquele uniforme. Claro que eu não acho que eu merecia (risos)! Aquilo é um peso muito grande! Imagina tudo que aquelas pessoas passaram! Imagina o medo e tudo aquilo de salvar tantas vidas. Mas aquilo fez eu pensar depois quando as pessoas diziam: “Não, mas tu merece, porque de certa forma vocês também salvam vidas. Vocês não salvam vidas diretamente, vidas de guerras, mas vocês fazem com que a liderança do mundo, eles tenham uma compreensão diferente, eles tenham uma visão diferente. Quando essas pessoas estiverem em funções privilegiadas no mundo, quando elas forem tomar uma decisão, elas vão tomar decisão pela paz, elas não vão tomar uma decisão pela guerra. Elas não vão achar que o conflito é a forma mais fácil de se resolver a coisa, elas não vão achar que a forma de se defender é o ataque. Se ela tiver feito AFS, se ela tiver viajado pelo AFS ou se ela tiver recebido pelo AFS, se ela tiver tido na sua escola alguém do AFS, ela vai entender que isso não é solução pra nada. Que na guerra, no conflito ambos perdem. Perdem sempre. Eles vão saber que o diálogo é sempre mais importante, a diplomacia é mais importante. Existem outras formas de entendimento que são muito mais importantes pra se resolver os conflitos do ser humano. De certa forma, vocês estão sim salvando vidas”. Foi uma homenagem muito bonita, eu fiquei muito emocionado. Passa um filme pela cabeça da gente, de tudo aquilo que a gente fez. Mas, como que eu vou dizer, eu, sinceramente, eu acho que a organização não me deve nada, o AFS não me deve nada, eu que na verdade ainda me sinto um pouco devedor para ela, pelo que ela fez na minha vida, já são 17 anos de trabalho voluntário. Isso às vezes até fez com que eu fizesse algumas escolhas até difíceis pra eu poder estar com a organização. A gente sabe que trabalhar com gente também é um conflito muito grande, o relacionamento, a cooperação, isso é muito... É um desafio muito grande. Mas eu aprendi muito com isso. Eu sei que eu talvez, se não fosse o AFS, ele não tivesse me dado coragem pra que eu me inserisse em outros grupos, pra que me inserisse em outros desafios e talvez eu ainda fosse aquela criança que vivia no seu mundo encantado. Eu me sinto ainda em dívida com a organização.
P/1 – E, Diogo, fala pra gente quais são os seus sonhos principais?
R – Ai meu deus... (suspiro). Pra variar, uma coisa de criança eu não perdi. É aquela vontade de querer fazer de tudo um pouco. Eu trabalho com meu pai dentro de um projeto familiar, uma propriedade rural que nós temos. Uma das minhas iniciativas é conseguir ajudar meu pai a consolidar e realmente ele poder ficar feliz com esse projeto familiar. Ele poder ficar mais tranquilo. Algo que é a minha paixão também que é História. Eu também, hoje, estou me tornando Tecnólogo em Projetos Gerenciais, é algo que eu sempre gostei de trabalhar que é gestão de pessoas. Eu quero aliar a algo dentro de projetos que possam beneficiar questões com turismo. Isso é uma das propostas, dos projetos que eu estou trabalhando pra desenvolver, que são coisas que eu vou poder alinhar, tudo aquilo que eu aprendi com o AFS, com outros grupos que eu participei, que o AFS me tirou o medo de participar, eu vou poder aliar esse conhecimento de gestão de pessoas, conhecimento de processos, de organização de gerência, com a História também que eu gosto tanto. Tenho algumas ideias bem interessantes que eu pretendo colocar agora em prática, conseguir me desvencilhar desse projeto e conseguir ajudar o consolidar e deixar o pai tranquilo, trabalhando. Mas eu consegui consolidar essas outras propostas. Isso dentro da área de trabalho. Também esse ano eu quero noivar, (risos) que também foi um presente que a organização me deu que é a minha namorada é do AFS, é voluntaria do AFS. Hoje ela está fazendo o doutorado sanduíche em Portugal, a Priscila. Nós nos conhecemos em um treinamento do AFS. Eu estava como treinador e ela foi sendo treinada. Não fiz nada no treinamento! Tenho ética! (risos). Mas depois nós continuamos conversando e acabamos namorando. Estamos juntos. Ela mora comigo em Porto Alegre. Se Deus quiser, vou noivar. Se tudo der certo, casamento vem logo em seguida. E dentro do AFS, eu pretendo, esse ano de 2016, como eu disse, tentar consolidar como membro do Conselho Diretor, tentar consolidar essas iniciativas que nós iniciamos. E, se o conselho desejar, assim quiser, eu me coloco a disposição também para assumir a presidência do Conselho da organização pelo ano de 2016. Nós vamos ter muito trabalho. É o ano dos nossos 60 anos! É o ano também que nós vamos receber o Congresso Mundial do AFS. É o ano que nós vamos ter uma pesado investimento em desenvolvimento organizacional. Nós vamos ter muitos eventos nacionais. Nós vamos reunir os voluntários em todos os lugares do Brasil. É o ano que nós também estamos aliando e fomentando esses grupos. Os grupos de participação específicos dos voluntários que nos ajudam, nos apoiam, tanto ao Conselho Diretor quanto a Secretária Executiva também. Estamos com propostas novas de Estatuto. Estamos com propostas novas de Código de Ética. Tem muita coisa. Esse ano de 2016 tem muita coisa, mas eu tenho muita confiança na equipe. Muita confiança na equipe da Secretária Executiva, na equipe do Conselho Diretor, na equipe dos voluntários das regiões, dos comitês. Eu tenho muita confiança. Eu acredito que o ano, eu espero, de 2016 seja o coroamento da minha dedicação, da minha vida, como AFSer. Que eu consiga realizar o sonho de contribuir pra que a organização esteja sólida, forte, estimulante, criativa, colaborativa e que todos os voluntários se sintam felizes de fazer parte dela. Eu sei que é muita coisa, mas vamos tentar.
P/1 – Pra encerrar, fala o que que você acha dessa iniciativa da gente gravar, tentar conta a história do AFS através das história de vida de vocês. E como foi pra você contar um trechinho da sua história pra gente.
R – (suspiro) Eu achei maravilhosa a iniciativa. Acho isso uma ideia incrível, mesmo. Isso é uma coisa que a gente diz também no AFS “Ah, a gente não consegue materializar a paz mundial”. Acho que se nós entendermos um pouquinho da história dessas pessoas, a gente consegue sim se aproximar dessa materialização. A gente consegue tentar trazer pra esse âmbito concreto o que a organização faz na vida das pessoas. E o que as pessoas fazem pelo AFS. Acho isso uma coisa incrível, uma coisa muito especial mesmo, porque é tu colocar as coisas de uma forma visível, real e tu mostrar, é uma forma de tu realmente contabilizar aquilo que a organização fez e aquilo que as pessoas também fizeram pela organização. Eu acho isso também realmente uma ideia maravilhosa. É, pra mim, falar de mim é sempre complicado. Eu acho, aquelas coisas... Ainda são resquícios daquele constrangimento dos 16 anos (risos). Pra mim é sempre um pouco difícil, mas, eu me sinto muito lisonjeado de ter sido indicado pra fazer parte desse projeto. Me senti muito especial mesmo. As pessoas acharem que a minha história é significativa pra história da organização, que ela é interessante, é como eu digo às vezes eu me sinto ainda um pouco daquela criança chata. Às vezes eu acho “ah as pessoas não devem achar tão engraçado, tão interessante o que eu tenho pra dizer”. Eu me sinto muito lisonjeado, muito feliz das pessoas me indicarem e terem esse interesse. Acharem que eu sou, que eu posso falar algo que possa contribuir. Eu fico realmente muito feliz. E vocês estão de parabéns pela ideia, pela iniciativa, é uma ideia fantástica mesmo. Espero que eu tenha contribuído com a ideia.
P/1 – A gente super agradece, parabéns pela tua história, Diogo.
R – Obrigadão, gente.
P/1 – E boa sorte nesse próximo ano aí.
R – Amém!Recolher