P1 – Obrigado pela presença do senhor, pelo tempo.
R1 – Obrigado a você, pelo convite.
P1 – Imagina.
Você pode.
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vamos começar assim: você fala o seu nome, o local de nascimento e data, por favor?
R1 – Eu sou R1 Zacarias, nasci em Abaetetuba, sou originário do Pará e nasci em cinco de novembro de 1960.
P1 – Legal.
E o nome da sua mãe, qual que é?
R1 – Mamédea Azevedo Silva.
P1 – Da família da sua mãe, qual que é a avó e o avô?
R1 – Tudo de Abaetetuba.
Nós somos tudo originário de Abaetetuba.
É João Roberto e o nome da minha avó (risos) não estou lembrado agora.
P1 – Não tem problema.
Eles, a família da sua mãe, fazia o quê?
R1 – Eles eram moradores do interior de Abaetetuba, na verdade, né? Meu pai é pescador e eles eram naturais, mesmo, do interior.
Vivia aquela vida do interior mesmo: pesca, plantação e tal, esse negócio aqui.
Na verdade, eu fui o primeiro da família que vim morar em Abaetetuba.
P1 – Na cidade?
R1 – Na cidade de Abaetetuba.
Meu pai ficou pra lá.
Eu, na verdade, perdi a minha mãe com quatro anos, né? E eu, então, vim depois para a casa do meu tio, já começar o meu ciclo de estudo e depois papai casou de novo e depois que ele veio para Abaetetuba.
P1 – O nome do seu pai, qual é?
R1 – É João Santos Silva.
Também faleceu já, faz uns três anos atrás.
P1 – E a família do teu avô e da tua avó por parte de pai, qual que é o nome?
R1 – Cara, eu não estou muito lembrado assim.
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(risos)
P1 – Você não os conheceu?
R1 – Não, não conheci.
P1 – Teu pai era pescador no interior?
R1 – Também.
Vida normal do interior, né? Pesca, caça, pega o açaí, traz para Abaetetuba para vender e tal.
Esse negócio da vida cotidiana do interior de cinquenta anos, sessenta anos atrás.
P1 – E ele roçava o quê?
R1 – Cana de açúcar, plantava mandioca, apanhava açaí, pescava camarão.
Rapaz, na verdade, ele era mais pescador de camarão, ele e mais quatro amigos.
Eles viviam no ciclo do camarão, só que o camarão aqui tem uma época, né, muito restrita, de maio a junho, julho.
Então, o resto era subsistência normal, do interior mesmo.
P1 – Ele fazia como? Ele pegava o barco dele?
R1 – Na verdade, nesse tempo não tinha nada de barco motorizado, era quatro amigos e quatro amigas que tinham uma canoa grande.
Eles iam para um determinado local, chamado Ilha do Luar, lá perto do local lá, botava uma tapiá à noite, eles pescavam e vinham para Abaetetuba vender todo o arrimo.
O arrimo mesmo, nesse processo aí.
P1 – E dava dinheiro?
R1 – Ah, o pessoal do interior, há cinquenta anos, não passava fome, só que era preguiçoso, né, cara? Até hoje, na verdade.
Eles viviam bem.
Dinheiro não tinha.
Não adianta falar que tinha dinheiro, porque isso não.
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era troca: comia hoje.
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é o processo mesmo da vida do interior.
Que, na verdade, hoje vivem melhor, está tudo motorizado, não remam mais, não tem mais o.
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é tudo rabeta e tal, não tem o.
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papai, esses caras era um corpo atlético, remavam sete, oito horas por dia.
Mas era o momento.
A vida era assim.
P1 – Você falou que a sua mãe faleceu cedo, mas você tem alguma lembrança dela? Como ela era?
R1 – Fisicamente não, não tenho.
Não ficou.
Nem foto, nada.
P1 – Mas o teu pai?
R1 – Sim.
Sim.
Sim.
O meu pai morreu recente, agora.
Faz três anos que ele faleceu.
P1 – Como era o humor dele nessa época, quando você era criança?
R1 – Ótimo.
Muito bom.
Um cara diferenciado, né? Com todos os filhos, na verdade.
Casou, teve outra família.
Excelente.
P1 – O senhor tem quantos irmãos?
R1 – Tenho seis irmãos.
Tenho, do primeiro matrimônio, uma irmã só, mas tenho mais seis outros irmãos, do outro.
Na verdade, são sete.
P1 – Você viveu com todos esses irmãos?
R1 – Sim.
Sim.
Vivo hoje.
P1 – Com uma madrasta?
R1 – É mãe, né?
P1 – E essa mãe, qual que é o nome dela?
R1 – Maria.
Maria das Graças.
A gente chama Mariazinha.
P1 – E como é que era a sua infância?
R1 – Ótima.
Infância de cinquenta anos atrás, sessenta anos atrás, né? Muito boa.
Depois que eu já estava maior um pouco, comecei já a vir estudar em Abaetetuba por período, na casa do meu tio e chegava, eu ia passar o resto do meu tempo no interior, né? Na verdade, tem ligação com o nosso pessoal até hoje.
A gente vai lá sempre e tal.
P1- No tempo que o senhor morava no interior, então, como é que era? O senhor trabalhava com o seu pai também?
R1 – Não.
Não.
Eu comecei a trabalhar muito cedo, mas eu estava falando de dez anos, doze anos.
A gente começava a trabalhar já com quatorze, quinze anos, já.
Em algumas coisas, já.
P1 – O senhor estudava, então? Onde?
R1 – Sim, estudei.
A gente estudou em Abaetetuba.
Tinha uma escola lá, escola paroquial e era ligada aos padres, né? E depois no Colégio São Francisco de Assis, que tem lá até hoje.
Eu me formei, na verdade, eu tirei o meu segundo grau lá em Abaetetuba.
P1 – Seu pai sempre falava para vocês estudarem?
R1 – Sim, lógico.
Papai largou tudo do interior, uma vida razoavelmente boa, mas para trazer os filhos para estudar em Abaetetuba.
Ele largou tudo, pra trazer meus irmãos para estudar.
P1 – Como é que era a casa do senhor nessa época, no interior?
R1 – Era uma casa boa para os padrões de cinquenta anos, né? Não era de palha, nada.
Era uma casa boa, de madeira, dentro daquilo que a gente.
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hoje está muito mais avançado, era uma casa dentro dos padrões bons, muito bom mesmo para a época.
Madeira, lógico, coberta com telha.
Alta, por causa das marés.
Casa tradicional do interior, mas casa boa.
P1 – Era perto de um igarapé?
R1 – Perto do rio e igarapé, né? A gente.
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nosso interior é perto de Abaetetuba.
Meia hora de barco para lá.
Perto de rio.
Tinha igarapés laterais lá.
P1 – Vocês brincavam do que, naquela época?
R1 – Barco, nadar, pião, aqueles piões de corda, que hoje a gente nem vê mais, né? Bola de gude.
As brincadeiras que hoje não existem mais, né? E curtia muito a natureza: nadar, tomar banho quando a água enche, esses negócios aí.
Que hoje não sei se ainda existe, muito.
Hoje até no interior é só celular agora e tal.
P1 – E o senhor sabe, assim, dizer as origens da família do senhor? Se tem indígena? Branco? Como é que é?
R1 – Cara, a origem mesmo eu não sei.
Eu.
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nós temos o negro na família, a minha avó e bisavó eram quase albinas, por isso que tem essa geração de louros, né? Mas eu não sei de origem, mesmo.
Acho que nunca houve um estudo aprofundado disso, mas a gente tem o negro, o branco, o super branco, né? Nós temos uma geração aí na nossa família mesmo, de louros mesmo.
De pessoas louras, de olhos azuis.
Eu levei um amigo meu, mineiro, lá e quando ele chegou lá, ele ficou: “Orra, cara, parece que eu estou no Paraná, aqui e tal”.
Então, realmente tem essa mistura no nosso interior, né? Mas origens mesmo eu acho que nós nunca nos aprofundamos.
Mas nós temos todas.
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mais o negro mesmo e o branco.
P1 – E nessa época, ainda nessa infância, como que era com seus irmãos? Vocês brigavam?
R1 – Não, não, não, não.
Excelente.
A relação sempre muito boa.
Na verdade, as casas do interior de antes, a gente formava uma casa grande, que chamava de casa grande e acabava ficando todo mundo muito junto ali.
Isso era uma coisa que era tradicional do interior, né? Até hoje ainda tem.
O cara casava e ficava ali perto.
Casava e ficava ali perto.
Então era, cada um com a sua casa, lógico, né? Mas era os irmãos, os primos, tudo junto ali, numa mesma.
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tudo muito bem unido, muito bem dividido.
Mas nunca tivemos, graças a Deus, problema de briga, nada assim.
Eu não sei o que é brigar.
P1 – Ah, é? E teve alguma coisa que lhe aconteceu nessa época, que te marcou na memória, assim? Tipo um acontecimento? Uma história?
R1 – É, quando eu era criança? Na verdade, foi a perda da minha mãe, né? (choro).
P1 – Entendi.
E o senhor se emociona com isso até hoje, né?
R1 – (pausa)
P1 – Não tem problema, não.
O seu pai contava história pra você?
R1 – Sim.
P1 – Contava história do quê?
R1 – Histórias de antes, que a gente não vê mais, né? Dessas figuras do mato, né? Matinta Pereira e tal.
A gente, hoje está esquecido também.
P1 – O senhor quer dar uma pausa, um pouquinho? Tomar uma água?
R1 – Pode ser, né?
P1 – É bom, né? Falar do passado é sempre assim, né?
R1 – Eu já peguei um oxigênio ali.
P1 – ‘Seu’ Zacarias, eu estava perguntando para o senhor se o seu pai contava histórias para o senhor, da região? O senhor falou que ele contava, sim.
R1 – É.
P1 – Para a gente que não é daqui, o senhor podia contar para a gente, se puder, uma dessas histórias que o seu pai contava?
R1 – As histórias mais, assim, até acho que ela levou obra de teatro, a história do boto que virava homem, né? Então, dentre essas histórias, a que mais marcou, que .
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P1 – Só pedir para o senhor contar uma das histórias que o seu pai contava.
R1 – As histórias mais que me lembro assim, é a história que tem essa lenda, sei lá, não sei se é história nossa, do interior.
É o boto que vira homem, né? Essa história que até marca a gente, todos nós da minha geração pra trás, né? Agora, é lógico que o jovem, com todas as informações, não acredita mais nisso, né? Mas essa era uma história que todo dia, toda noite quase, era contada: “Olha, o boto e tal, entra e vira homem e tal e depois ele vai embora.
” Mais ou menos, a história que eu mais me recordo, assim, é essa, mesmo.
P1 – Mas por que ele virava homem? Ele queria fazer o quê?
R1 – Queria assediar as mulheres.
Isso virou até uma peça de teatro aqui no Pará, né? O Boto Cor de Rosa e tal, essa história que ronda aí no.
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também o lobisomem, o porco também que virava, que era homem também.
Essas histórias fantasiosas mesmo, de cinquenta anos atrás, que a gente acaba, acabava acreditando, né? Alguns veem ainda que não é verdade, mas que hoje, a criança de hoje não acredita.
Não adianta falar.
Lógico que o tempo é outro, né? É outra geração, já.
São as duas histórias que eu mais me recordo.
P1 – Ele contava para vocês dormirem?
R1 – Ah, normalmente à noite, no interior, sem energia elétrica, sentava todo mundo no lugar, né? E aí essa era.
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não tinha televisão, (risos) não tinha rádio.
Rádio, tinha um rádio e tal.
Então, chegava nessa hora, na verdade, era a hora de contar as histórias, né? Ficava todo mundo numa roda ali, sentado no chão.
E os mais velhos, papai, todo mundo contando as histórias.
Meus avós, as pessoas mais idosas acabavam contando essas histórias aí, da Matinta Pereira, Lobisomem, Boto.
Era mais ou menos assim.
P1 – Você se lembra quando chega o rádio na casa do senhor, na casa de um vizinho?
R1 – Nós, quando eu já me entendi, nós já tínhamos rádio.
Tinha já os programas mais específicos que, nesse tempo, na verdade, o rádio era o meio de comunicação, né? Que eles ficavam, obrigatoriamente.
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havia um programa “Alô, Alô, Interior”.
Quando tinha um problema de alguém que ia pra Belém, através dessas mensagens que se comunicavam, né?
P1 – Como assim?
R1 – Não, porque, eu não sei se ainda existe esse programa, mas vamos supor que alguém foi para Belém, com um problema de saúde, aí o cara chegava, ia lá na rádio e aí falava: “Alô, Alô, Interior”.
Então, o pessoal estava escutando lá no interior aquela mensagem para saber a notícia, porque não tinha outro meio de comunicação.
Então, esse era um programa obrigatório de se escutar: “Alô, Alô, Interior”.
Não sei se ainda existe esse programa, porque a gente começa a trabalhar, né? Então, era “Patrulha da Cidade” e depois vinha “Alô, Alô, Interior”.
Eram os programas obrigatórios de se assistir no interior.
Na verdade, era um meio de comunicação.
P1 – A “Patrulha” era policial?
R1 – É, a “Patrulha” era um programa policial.
Era na Marajoara, na época, que tinha.
E depois tinha o “Alô, Alô, Interior”.
P1 – E, além disso, vocês ouviam música no rádio também?
R1 – Sim.
Sim.
Música.
Esporte.
Aquelas novelas que os mais velhos já tinham, aquelas novelas do rádio também.
Eu nunca fui chegado em novela, mas a mulherada lá, as moçotas lá já iam lá escutar essas novelas também, né? Mas era o normal.
O rádio ficava ligado vinte e quatro horas, né? O dia inteiro, à noite futebol, esses negócios aí.
P1 – Você gosta de futebol? Tem um time que torce?
R1 – Tenho.
Eu sou flamenguista e sou do Clube do Remo.
(risos)
P1 – E o senhor lembra de algum jogo que o senhor ouviu no rádio que ficou guardado, assim, na sua mente?
R1 – É, eu, quando o Flamengo ia disputar o campeonato carioca, né? A gente, todos flamenguistas.
Na verdade, era a maior parte, né? O meu pai era vascaíno.
Mas eu sempre fui flamenguista e a gente escutava lá.
Depois eu já comecei a vir para Abaetetuba e ficava mais tempo já na televisão, né? Poucas televisões, mas já tinha.
E toda decisão Remo e Paissandu, a gente também escutava e, no final, alguns ganhavam, como é, né, a vida, alguns ganham e outros perdem, mas é normal, né? Mas a gente escutava todo domingo, Remo e Paissandu e Flamengo e Vasco, principalmente, que estão em maior rivalidade, né?
P1 – Jogo do Brasil o senhor ouviu também?
R1 – Em 1970, eu já era menorzinho, em Abaetetuba quase não tinha, mas depois já veio televisão, já.
P1 – Nessa época que o senhor era criança, já tinha alguma coisa que o senhor falava: “Não, eu vou ser isso aqui” O senhor se lembra disso?
R1 – Cara, eu pensava que eu ia ser embaixador (risos).
Depois, quando eu vim estudar, eu pensava.
Eu ouvia falar embaixador, mas eu não sabia nem o que era.
Depois, por coincidência, eu vim estudar o segundo grau e eu fiz Comércio Exterior, que era novidade, né? Mas aí virei metalúrgico.
P1 – E o que o senhor queria? Ser diplomata? Você queria viajar?
R1 – É, era uma coisa que eu pensava que eu tinha uma tendência, né? Que era, na verdade, o que queria, né?
P1 – E na escola? Te marcou algum professor, algum dia específico? Lá em Abaetetuba.
R1 – Assim, não marcou muito, não.
Eu me lembro muito do professor Eustáquio, que era professor de Química, que era um cara que eu conversava muito e, quando eu acabei vindo para cá, foi um cara que me ajudou, né, um pouquinho.
Mas a vida da escola era só.
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tinha uns professores lá que são especiais, o Rufino e tal, mas eu lembro mais do Eustáquio, mesmo.
Que, quando eu comecei a ter curiosidade de saber alumínio, aí ele me emprestou um livro.
Isso faz o quê? Uns trinta e poucos anos atrás.
P1 – O senhor tinha que idade, nessa época?
R1 – Cara, eu vou fazer.
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trinta e cinco? Eu tinha vinte e poucos anos, vinte e três, vinte e quatro anos.
Já estava acabando os meus estudos.
P1 – O senhor foi para.
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vocês foram para Abaetetuba, para a cidade, o senhor tinha que idade?
R1 – Cara, eu vim para Abaetetuba com menos de.
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com dez anos.
Eu, né? O meu pai eu não estou lembrado a data que ele veio definitivo.
P1 – O senhor foi na frente?
R1 – Eu vim na frente para estudar.
Eu vim morar com o meu tio.
Meu pai ficou no interior um tempo.
P1 – Como é que era Abaetetuba, nessa época?
R1 – Cara, eu acho que era muito diferente de hoje, com certeza.
Abaetetuba cresceu muito depois que essa fábrica veio para cá.
Ela acabou desenvolvendo mais do que a própria Barcarena, né? Abaetetuba cresceu muito mesmo, porque era muito fácil o acesso lá, porque aqui não tinha ligação direta com Barcarena.
Era muito longe, né? E Abaetetuba acabava sendo.
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a cidade já era melhor, o município era desenvolvido, então cresceu muito.
Mas, nessa época, Abaetetuba era muito, eu acho que era muito até melhor do que é hoje.
Abaetetuba é uma cidade excelente, mas era muito bom, eu gosto muito de lá.
P1 – O senhor gosta de que lugares mais de lá, que o senhor gosta de ir?
R1 – Cara, eu gosto de onde eu moro, né? E da minha família que está lá.
Não tem um lugar específico em Abaetetuba.
P1 – Agora, na época, a infraestrutura dali não era igual a de hoje?
R1 – Ah não, não.
Não era, não.
Era cidadezinha do interior, mesmo.
Abaetetuba era um pouco maior do que a Vila de Beja, hoje.
Algumas ruas, a Pedro Rodrigues ali, a principal.
E pouca, pouquíssimas casas ainda, né? Poucos carros.
Muita carroça ainda.
Agora, Abaetetuba é uma cidade grande, já.
Evoluiu muito nesses trinta e poucos anos aí.
P1 – E tem porto lá também?
R1 – Tem.
P1 – E o senhor foi estudar o primeiro grau e fez o segundo também lá?
R1 – Lá.
Fiz tudo lá.
Fiz curso técnico depois pra cá, já.
Depois que eu me empreguei aqui.
Eu fiz o primeiro e o segundo grau lá em Abaetetuba.
P1 – E o senhor fez Comércio Exterior? Foi isso?
R1 – Comecei Comércio Exterior no segundo grau, né? Acabei isso aí.
Me formei, era segundo grau, né? Era um curso mais específico, mas a linha era essa aí.
Depois eu vim para cá e fiz curso técnico em metalurgia.
P1 – Aqui em Barcarena?
R1 – É.
Já pela Albras.
P1 – O senhor se lembra como foi a chegada da Albras aqui? Como é que foram as notícias? O que se falava?
R1 – É, começou a se falar lá pelos anos 1980, já, em Albras.
Era a fábrica de alumínio.
Na verdade, muito genérico.
E a gente já sabia que era algo grandioso, pelo número de pessoas que vinham trabalhar, de lá para cá.
Então, já tinha aquele enfoque muito grande, que ia ser realmente uma fábrica de grande potencial.
Mas para nós era uma fábrica de alumínio.
A gente não tinha ideia de que era essa proporção aí.
Era só o que se falava lá.
E começou a movimentar o comércio, devido o pessoal da construtora, a maioria morava lá.
Na própria construção, já, da fábrica.
P1 – Lá em Abaetetuba?
R1 – Muitas pessoas já moravam lá.
As empreiteiras vinham e traziam todo o pessoal de lá para cá.
P1 – E quando foi que o senhor se interessou, então, a participar desse processo?
R1 – Da Albras?
P1 – É?
R1 – Em 1984, no final de 1984, foi um caminhão lá de uma construtora, eu já trabalhava em uma fábrica de compensado, que já era de Abaetetuba.
Comecei a trabalhar, era um espanhol e um italiano que estavam em Abaetetuba e eu comecei a trabalhar com eles.
Eu ainda estava estudando, na verdade, em 1977.
P1 – Foi o primeiro emprego?
R1 – Meu primeiro emprego de carteira assinada.
Já tinha trabalhado antes em uma padaria, com um amigo meu lá que me deu, pra ajudar o meu pai, já.
Eu trabalhava à noite, eu pegava às quatro horas da manhã e tinha de estudar intermediário, porque eu era muito novo e não podia estudar à noite, na época, né? Aí comecei a trabalhar com o cara, depois eu fui para essa fábrica de compensado.
A gente fazia lâminas de compensado.
E aí, um dia, foi um caminhão aqui da (SAD? 23:14), que era dona do consórcio, pegar o compensado, que já era para bater estaca aqui na Albras.
Uns compensados grossos assim, que a gente fez lá para eles.
E eu operava a empilhadeira e o cara lá disse, me viu operando a empilhadeira: “Estou precisando de operador de empilhadeira lá.
Tu é muito bom.
Bora pra lá”.
Aí eu falei: “Oh, rapaz, quanto é que tu paga lá e quanto é que tu ganha?” Ele falou: “Eu ganho mil.
Eu te dou dois mil” “Pô, o negócio deve ser bom lá, né?”.
Eu falei com papai e ele vinha visitar a (SAD? 23:46) aí, né? Foi a primeira vez que eu vim aqui no projeto, em 1984.
Em dezembro de 1984.
P1 – O projeto que você diz, estava construindo a fábrica?
R1 – Estaca construindo a Albras.
Tinha um canteiro de obra muito grande aí.
Aí eu vim aí, realmente eles estavam interessados em operador de empilhadeira, ainda não tinha aqui no mercado, na época.
Aí eu disse, eu falei com o papai que eu vinha, eu vim aqui com o cara, o cara me trouxe, me levou até em Abaetetuba lá, ficou até meu amigo depois, essa cara.
Aí eu já resolvi não mais vir para a (SAD? 24:24).
Eu disse: “Eu vou entrar na Albras”.
Entendeu? Aí eu deixei a (SAD? 24:29) de lado.
Apesar deles me ofereceram, eu falei que eu ganhava mil, era uma referência, né? Aí me ofereceram quase quatro vezes o que eu ganhava, mas aí eu ia acabar o meu segundo grau e tal, e eu disse: “Quando eu for, eu vou definitivo para a Albras.
Não vou fazer ponte”.
P1 – A (SAD? 24:47) foi contratada para construir a fábrica?
R1 – É.
Era uma das donas do consórcio aí.
Aí os caras não tinham telefone para perturbar.
E aí o cara foi lá: “E aí, cara, tu vai ou não vai?” “Pô, eu vou falar com papai ainda”.
Eu já tinha falado com papai que eu não vinha.
“Obrigado.
Se eu resolver, eu vou na tua casa”.
Aí eu não vim para a (SAD? 25:09), eu esperei o momento certo para vir para a Albras, já.
P1 – O senhor ficou quanto tempo construindo a fábrica? Quanto tempo foi?
R1 – No caso, eu?
P1 – É.
Que você ficou na empilhadeira, nesse processo?
R1 – Não.
Eu não vim.
Eu não vim para a (SAD? 25:25).
Eu resolvi não vir para a (SAD? 25:27).
Eu desisti.
Eu vim direto para a Albras, já.
Era 1984, na época a minha prima fez um currículo para mim naquelas máquinas, né? E ela mandou para cá, para um cara que era do consórcio e eu acabei sendo chamado para a Albras, devido a minha idade e ter segundo grau, na época, que era.
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isso em 1984, em 1985 eu já entrei na Albras já, direto.
Eu estou na Albras desde 1985.
P1 – O senhor entrou trabalhando no que, na Albras? Do quê?
R1 – Eu entrei trabalhando na área de redução, que eu estou até hoje.
Eu entrei para partir a fábrica.
Eu era da equipe de partida da Albras, da área de redução.
P1 – O que é área de redução?
R1 – A área de redução é onde acontece a transformação da alumina em alumínio.
Então, a Albras tem cinco grandes processos, né? Tem a área do carbono, a subestação, redução, tratamento de gases.
Então, todos esses processos trabalham em função da área de redução.
Então, na redução é que acontece o sistema de eletrólise: eu pego a alumina e transformo em alumínio.
Então, eu já entrei direto na área de redução.
P1 – Mas nessa época que você ficou, pegou os livros de Química para ler?
R1 – Na verdade, o livro de Química entra na história porque, quando eu vim em 1984 aqui, quando eu vi a imensidão, eu disse: “Pô, eu vou entrar, ver se eu entro na Albras direto”.
Aí, só que eu não sabia nada de alumínio.
Então, eu fui com o cara e o cara me deu um livro: “Olha, tá aqui o que é alumínio”.
Através daquele livro, quando eu vim para uma entrevista, eu já tinha algumas teorias, que eu não sabia nem o que era, mas a teoria eu já tinha e o cara que me entrevistou lá: “Pô, tu já conhece?” Eu disse: “Não.
Dei uma estudada e tal”.
Eu acho até que ajudou, na época, lá.
P1 – Entendi.
Agora, o senhor acompanhou, assim, até que de perto, antes de trabalhar na Albras, o senhor acompanhou a construção da indústria lá, não foi?
R1 – Quando eu vim a primeira vez, já estava bastante adiantado, mas não tinha nada pronto.
Já acompanhamos a construção da fábrica já vindo para a Albras todo dia.
Não tinha nada pronto ainda.
A primeira fase da Albras.
A segunda fase já veio a gente trabalhando aí já.
Nós tínhamos duas reduções: redução um e dois, tinha uma cerca lá.
Depois, a segunda fase inaugurou em 1990.
Então, nós já trabalhamos, partimos da primeira fase e já vimos a construção da segunda fase da Albras.
Trabalhando já.
Mas não tinha nada pronto na fábrica ainda, não tinha nada.
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P1 – O senhor passou cinco anos ajudando na construção, então? É isso?
R1 – Não.
Nós entramos direto, específico na área, já.
Em 1985 nós entramos, não tinha nada pronto.
Nós entramos específico para estudar e para trabalhar na área já, específica, nossa.
Na verdade, nós partimos o primeiro forno, a primeira cuba, que a gente chama, em seis de julho de 1985.
Não estava pronto, mas estava em construção.
P1 – Dava para fazer, mesmo assim?
R1 – É, foi.
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porque uma sala de cuba tem cento e vinte cubas.
Então, foram liberando para nós lotes de seções, que a gente chama de trinta cubas.
Liberou o primeiro lote, os dois primeiros lotes e nós fomos já partindo esses lotes, essas cubas.
Então, à medida que ia liberando, a gente já ia partindo, entendeu? Não estava tudo pronto a fábrica.
Tinha a área do carbono pronta, porque a gente precisa de carbono.
A fundição estava pronta, porque ia sair o metal para lingotar e as reduções foram liberando e a gente começou a partir.
O processo é prolongado.
Uma cuba, para partir, uma cuba a gente leva sessenta e quatro horas a preparando, para partir.
Aquecimento, montagem, entendeu? Então, a gente vai partindo devagar, a gente não parte de uma vez.
P1 – Agora, conta para mim esse dia que o senhor falou, essa data que o senhor falou, o que aconteceu? Como é que foi essa data aí?
R1 – Seis de julho?
P1 – Exatamente.
R1 – É, foi a data que nós.
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que foi preparada para partir, para começar, na verdade, a história.
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(choro).
Seis de julho, na verdade, foi o dia que foi escolhido para começar a história do alumínio em Barcarena.
Preparamos tudo e, nesse dia, foi o dia que nós partimos a primeira cuba da Albras.
Então, foi essa data.
Não foi a data da inauguração, tá? Foi a data da partida.
Então, dia seis de julho, foi o dia que começou a história, na verdade.
A primeira cuba da Albras partimos, em torno de oito horas da manhã.
Nós preparamos, lógico, treinamento e tal, ninguém tinha visto isso antes, né? Tinha uma estrutura muito grande, os japoneses estavam aí, né? Que a Albras é do Japão, Hydro hoje, né? Uma estrutura muito grande, eles dando a estrutura para nós, que a gente nunca tinha visto, só em sala de aula.
Então, esse foi o dia que nós começamos, de verdade, a história do alumínio aqui.
Dia seis de julho.
P1 -O senhor viu isso e pensou o quê? Sentiu o que, nessa hora que o senhor viu?
R1 – É, quando a gente chegou já, depois de alguns meses de treinamento, a gente já tinha certeza do que era, né? Então, para nós, eu, quando nós partimos a primeira fase e acabou a partida, a gente não imaginou que a gente ia chegar ao que a gente é hoje, né? Eu nunca imaginei.
A gente pensou que ia chegar, ficar ali, né, a Albras, naquelas.
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eram duas reduções só.
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então, a gente não imaginou.
Hoje, depois de tanto tempo, que a gente dá mais importância do que na época.
Na época era partir uma cuba e começar a história do alumínio, né? E hoje, quando a gente vê a proporção que se tornou a Albras, depois veio a Alunorte, né? Para juntar o ciclo aí, né? É que a gente entende melhor, né? Mas, na época, era uma partida de um forno e era o início de uma história, né? E hoje, a gente, depois de trinta e cinco anos.
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(choro).
P1 – É bastante história, né?
R1 – É.
(choro)
P1 – O senhor, como era a relação que o senhor tinha com as pessoas ali, na época?
R1 – Sempre ótima.
Nunca tive problema com ninguém.
Muito boa.
P1 – E o senhor, quando começou esse primeiro ano, o senhor morava onde?
R1 – Eu morava em Abaetetuba, mas vim, em outubro eu já me mudei para cá, em outubro de 1985, já.
P1 – Para Barcarena?
R1 – Para a vila.
P1 – Vila dos Cabanos.
R1 – Já moramos para lá.
As primeiras casas que foram liberando na vila, que a Albras construiu uma vila aqui, foram para as pessoas que trabalhavam já no turno e nas partidas, que a gente precisava estar perto da fábrica.
Problema de transporte, na época, né? Aí eu já me mudei para cá em outubro, já.
P1 – Outubro de 1985?
R1 – 1985.
P1 – Como é que era a Vila dos Cabanos, na época?
R1 – Cara, era um paraíso.
É muito bom ainda, mas era um paraíso.
Muita.
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pouquíssimas coisas.
Tinha o clube, mas não com toda essa estrutura.
Aquele prédio onde é a Yamada hoje ali e tal.
Poucas, pouquíssimas, muito verde, ou seja, uma abertura no meio de uma selva, construir uma vila.
Fantástico, era muito bonito.
Praia, praia perto.
P1 – Lá do Caripi?
R1 – É.
Pertinho de onde a gente morava.
A gente ia de bicicleta, não tinha carro, na época.
Era algo fantástico, mesmo.
É muito bom ainda, né? Mas não tinha nada também, praticamente nada.
Tinha um supermercado, uma padaria que dava suporte.
Farmácia era numa casa da Albras, que tinha.
Então, tudo a gente trazia de fora, a gente tinha de ir em Belém sempre, mas era fantástico, muito bom.
P1 – O senhor foi morar em que rua, quando o senhor chegou?
R1 – Cara, eu morei numa rua, eu não estou lembrado o nome agora, uma casa provisória, porque as casas, tinha uns seis, sete tipos de casa, né? Então, liberaram um lote para nós, da partida.
Nós éramos quatorze pessoas lá na partida.
Aí moramos lá e depois foram liberando as nossas casas.
Eu, na verdade, em outubro.
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em janeiro eu já mudei para a minha rua, que é definitiva, que eu estou até hoje lá, na Lourenço Gonçalves.
Nós mudamos para lá e eu fiquei lá até hoje.
P1 – A casinha veio como?
R1 – A casa da Albras? Eram padrões, padrões de casa.
Depois a Albras vendeu as casas, eu comprei a minha.
A minha era três quartos.
Todo um padrão cem por cento, mesmo.
Alto padrão mesmo, para nós aqui, com laje, muito boa.
O terreno só demarcado com pontalete de madeira.
Hoje tem muro de dois metros, né? Mas era muito bom.
Fantástico, mesmo.
P1 – O senhor se lembra da Rua da Lama?
R1 – Sim.
A Rua da Lama era logo lá atrás, né? A Rua da Lama era porque estava em processo de asfalto, né? Na época tinha poucas ruas asfaltadas e lá, começou a asfaltar e aí veio a chuva, né? E aí ficou a Rua da Lama, porque ninguém conseguia passar naquela rua lá.
Tentava com a bicicleta.
E aí ficou famosa a Rua da Lama, por causa da própria pavimentação dela na época, né? Era de ponta a ponta.
P1 – O mercado vocês faziam no Yamada, é isso?
R1 – Não.
Mercado, tinha o mercado lá onde é a Fisiocenter hoje ali, perto do.
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era o ‘seu’ Naldo, que era o dono do panifício.
Tinha um mercado e uma padaria pequena lá.
Depois que veio esse prédio, botaram uma cooperativa aí e tal, apoiado pela Aban aí, mas o supermercado nosso base era lá no ‘seu’ Naldo.
Na verdade, não era o ‘seu’ Naldo, era o pessoal de Barcarena, o Furtado, que era o Zézinho, que até já faleceu, que tinha um supermercado lá e lá dentro tinha o ‘seu’ Naldo, com uma padaria lá dentro, que dava suporte.
Depois virou panifício Cabana, se separou e o Zézinho montou outro supermercado na vila, espalhou mais.
E hoje o prédio lá é a Fisiocenter, é um hospital lá.
P1 – Esse ‘seu’ Naldo, você ia todo dia lá?
R1 – Sim.
Só tinha lá, todo mundo ia lá todo dia.
(risos) Aí a base a gente trazia de Belém a Abaetetuba, né?
P1 – E vocês montaram a igreja? A praça? Como é que foi?
R1 – É, e aí foi se construindo, né, cara? Foi construindo as coisas.
Depois veio a igreja, pequena, depois veio a construção dela.
As praças.
Depois foi tomando forma as coisas, né? Devagar.
Depois, com a expansão da Albras, aí começou a vir mais gente.
A Albras aumentou o número de casas.
Aí começa a aparecer os caras que vêm, também, para acompanhar, a evolução normal do comércio, as oportunidades, né? Muita gente não acreditava, era tão perto de Belém, né? “Agora vou montar um negócio aqui”.
Então ficava.
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era muito fácil em Abaeté e Belém, mas depois começou a .
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aí vem outras empresas e o progresso vai chegando.
Inevitável, né? Começa a melhorar.
P1 – O senhor se lembra do dia que começaram a construir a igreja? Começaram a construir a praça?
R1 – Ah, sim.
A gente sempre passava lá, né, cara? Apesar que, nessa época, trabalhava de turno, a gente sempre passava lá, via toda aquela movimentação.
Acompanhamos tudo isso aí: a construção, as igrejas.
Chega, vai lá no dia do Círio do São Francisco e tal.
A gente se lembra de tudo isso aí.
P1 – Para deixar, para o senhor deixar registrado aqui para a gente, qual era o nome dos seus companheiros nessa época? Seus primeiros companheiros, que estavam na partida.
R1 – Cara, tem o Antônio Rosa, que era nosso.
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que, na época, era encarregado, hoje seria supervisor, né? Tinha Salvador, Pantoja, eu, Laércio, Arnaldo, Roraima.
Eram sete pessoas de Macapá, que eles já tinham história de indústria, né? E tinha dois de Belém e eu de Abaetetuba, né? Nós éramos em doze pessoas, que trabalhavam efetivamente na partida.
E esse Antônio Rosa era mineiro, até faleceu também, teve um problema aí de uma doença, já se foi.
Éramos doze pessoas.
Então, eles pegaram uma equipe - como eu já tinha experiência de fábrica de compensado e empilhadeira - de pessoas experientes, para formar essa equipe de partida, né? Eles vieram de uma fábrica de manganês, que tinha uma fábrica lá e aí juntou essa equipe, para partir essa fábrica aí.
P1 – Foi a primeira equipe?
R1 – Primeira equipe de partida.
Até hoje nós temos equipes de partidas dedicada, para partir, porque a nossa cuba dura cinco anos, seis anos, então ainda exige um processo natural de reforma dessas cubas.
Então, todo dia eu dou partida numa cuba, todo dia eu desligo cuba e todo dia a gente corta alumínio para vender.
É um processo que não para.
Até hoje a gente tem uma equipe de partida, que só faz partida de cuba.
A gente chama de cuba, mas é forno, tá? Então, até hoje existe equipe dedicada de partida de cuba na Albras.
P1 – E quem eram as primeiras famílias que estavam com você aqui, na Vila dos Cabanos? Você se lembra?
R1 – Olha, cara, veio a minha e veio.
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quase todas.
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os engenheiros estavam aqui, na época o Nelsindo, o Gonzales, que depois se transformou em diretor.
É da Vale.
Todos eles já estavam aqui, localizados.
Os engenheiros, os diretores, porque a fábrica precisava de suporte.
E as primeiras equipes que chegaram aqui, na verdade, foi a nossa.
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foi o pessoal de Macapá, lógico, que moravam em hotel e era muita gente de Macapá, dessa minha equipe.
E depois vieram o pessoal aqui de perto, de Barcarena e de Abaetetuba, porque.
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então, as primeiras pessoas que vieram foram os mineiros, Antônio Rosa e tal, saindo do hotel e indo para as casas, para trazer a família, né? Então, toda essa estrutura começou a ser montada assim e depois veio o pessoal.
Eu ia para Abaetetuba todo dia e voltava, depois foi começando a trazer o pessoal daqui de mais de perto, para morar aí.
Então, a nossa equipe de partida, a gente se encontrava todo dia, porque a gente morava muito perto ali, né? Mas eu fui o último que vim para morar na vila.
Então, todo mundo já veio.
Então, tinha gente da.
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muito macapaense aqui e muito mineiro.
Paulistas, cariocas, mas mais, mesmo, macapaenses, porque tinha muita gente experiente lá, para poder trazer, para somar aqui, né?
P1 – Como é que era essa mistura de pessoas, assim? As pessoas se davam bem? Eram diferentes?
R1 – Cara, eu acho que só tem a se ganhar, né, cara? Acho que enriquece.
A gente sempre se deu bem, não vejo problemas assim, pelo contrário.
P1 – O senhor lembra do seu Abenadal e da Dona Irene?
R1 – Lembro.
Claro! Abenadal trabalhou na Sespa, né? Dona Irene, Dona Irene foi colega de faculdade da minha esposa.
Trabalharam junto muito tempo.
P1 – O senhor se casou por essa época também?
R1 – É, na verdade, quando eu vim para cá, eu já namorava com a minha esposa e depois acabei logo casando, porque eu vim para cá e já viemos juntos para cá.
P1 – O senhor tinha quantos anos?
R1 – Vinte e quatro, vinte e cinco anos.
P1 – Bem novo.
R1 – Novo.
Tudo rápido.
(risos)
P1 – Qual é o nome da sua esposa?
R1 – É Maria do Socorro.
Socorro Negrão.
P1 – E vocês moravam aqui e já tinham filhos? Ou era só os dois?
R1 – Não.
Só eu com ela, depois é que veio os filhos.
Dois filhos.
Uma menina e o Gabriel.
Alessandra e Gabriel.
A minha esposa estudou aqui, se formou aqui no Anglo, era o colégio aqui, para cá.
Se formou aí, ela veio, estava estudando.
Acabou, estudou, se formou aqui, professora, depois fez curso de Psicopedagogia.
Hoje ela é coordenadora do colégio.
Trabalha na área de Educação.
P1 – Até hoje?
R1 – Até hoje.
Então, trabalhou com a Irene, com esse pessoal aí.
Ela conhece.
Todos se conhecem.
P1 – E como é que era o dia a dia nessa época? Você saía para trabalhar e ela ficava? Como é que você ia pra lá?
R1 – Na verdade, eu ia trabalhar, lógico, todo dia, eu era de turno, na época, tinha até mais folga, né? E ela já, depois que ela se formou, automaticamente no estágio já ficou empregada, então ela acabou já também, com pouco, três anos, começando a trabalhar também.
Depois passou na faculdade, começou a fazer, a trabalhar de dia e fazer faculdade em Abaetetuba, à noite.
Então, era uma rotina legal, bom assim, muito bem sincronizado.
P1 - E você trabalhava de turno, como era o turno do senhor?
R1 – Nós tivemos várias escalas de turno e normal, trabalhar seis e folgar três, folgar quatro.
Trabalha-se dois dias em cada horário.
Dois de manhã, dois de quinze, dois de vinte três horas.
Sai de manhã e já sai de folga.
Hoje a nossa escala é seis por quatro.
Trabalha dois dias em cada horário e folga quatro dias.
Quando trabalha a última noite, de manhã já sai, já sai de folga.
Sempre nessa média de trabalho de turno, sempre.
As nossas escadas sempre foram assim.
P1 – O que o seu pai, sua família, pensava do senhor já nessa época, trabalhando aqui, morando na Vila dos Cabanos? Como é que era?
R1 – É, na verdade tudo começou, eu sempre fui o primeiro.
O primeiro que eu vim do interior para estudar, né? Eu fui o primeiro que desgarrei também.
O povo ficava muito feliz, né? (choro).
P1 – Era um orgulho para o seu pai?
R1 – Sim.
P1 - O senhor, quando está contando essa história, o senhor lembra muito dele?
R1 – (pausa longa).
P1 – Seu Benê, a gente estava perguntando, então, eu queria saber como o senhor ia para a fábrica? Ia de carro? De ônibus?
R1 – Não, não.
A Albras sempre teve transporte específico.
Transporte exclusivo para empregados.
Então, poucas vezes eu vou de carro, eu vou no transporte da empresa.
P1 - Demorava quanto tempo, nessa época?
R1 – Ah, uns vinte minutos, vinte e cinco, da vila pra lá.
Vinte minutos, quinze minutos.
P1 – Nessa época o senhor quis conhecer a Barcarena sede também, Vila do Conde? O senhor.
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R1 – A gente ia, sempre foi lá muito, principalmente depois que fizeram a ponte aqui.
Porque antes a gente tinha de ir para Barcarena de barco, como era também fonte de suprimento aqui para a gente comprar alguma coisa, a gente acabava indo de barco.
A gente vinha até o São Francisco e atravessava de barco para lá.
P1 – Não tinha ponte aqui?
R1 – Não tinha a ponte ligando ainda.
A ponte veio depois, ligando Barcarena.
Ia para Barcarena, mas tinha de ir lá por fora, lá por Arapari, era muito longe, não era viável, né? Então, a gente pegava o barquinho aqui e atravessava, né?
P1 – Essas pontes aqui, também até Belém, vieram quando?
R1 – A data específica eu não estou lembrado, né? Ligando a alça viária, tudo, isso facilitou muito.
Não estou lembrando a data, mesmo, só sei que foi no governo do Almir Gabriel, né? Que tinha um hiper, mega projeto e fez a construção da .
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ligou o sul do Pará com Belém, né? Porém, a data específica eu não estou lembrado.
Eu me lembro da inauguração.
Eu não sou muito bom de gravar data, assim, dia específico, sabe?
P1 – Mas o momento.
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R1 – Sim.
Sim.
Está claro, está claro.
P1 – Agora, como que era Barcarena sede nessa época, quando o senhor veio para cá?
R1 – Barcarena sede, eu vejo que era uma cidade, assim, que não tinha muita coisa, sabe? Não tinha muito.
Tinha o mercado também e tal, mas a nível de Abaetetuba sempre, talvez, devido a eu ser de Abaetetuba, né, é uma diferença muito grande da própria feira, né? A quantidade de ofertas de coisas, assim.
É uma cidade legal.
Eu tenho muitos amigos lá.
Depois a minha esposa começou a trabalhar lá, depois da ponte já lá, né, também.
Eu tenho muitos amigos lá.
É uma cidade mesmo do interior, né? Específica de interior: a feira, os pescadores lá trazendo peixe de manhã, açaí.
É uma cidade típica do interior, mesmo.
P1 – E nessa época o senhor já ouvia falar lá daquele casarão do Cafezal?
R1 – Sim.
Sim.
A gente ia lá.
Nas primeiras viagens de Belém, na verdade era pelo Cafezal.
Não tinha Arapari, na época.
Arapari surgiu depois.
Toda viagem era por Nossa Senhora do Tempo, na verdade, depois virou Cafezal, que era um atalho lá.
Então, tinha o casarão lá, das histórias das trezentas e poucas janelas que tinha lá.
P1 – Você chegou a visitar as ruinas, lá?
R1 – Não.
Não cheguei a entrar.
A gente ia lá próximo, mas como a gente sempre estava em trânsito, só ia por lá quando ia para Belém, a gente só olhava mesmo, eu não cheguei a visitar mesmo.
Eu não, nunca fui lá.
P1 – Mas, para quem não conhece, quais histórias tem lá?
R1 – Heim?
P1 – Para quem não conhece, que histórias que tem lá, que contam?
R1 – É que era algo relacionado ao tempo da escravatura, né? Que era algo nesse sentido.
Que era ainda daquela época da escravatura e tal, dos senhores.
Essa história que passavam pra gente sobre esse casarão, lá.
P1 – Que era uma casa grande?
R1 – Era uma casa grande.
Tinha trezentas e sessenta e cinco janelas, parece.
Tinha um calabouço lá, quando o cara era rebarbado, jogava ele lá e ele não conseguia sair, porque a água enchia e matava o cara.
Mas eu nunca visitei, não.
P1 – Entendi.
Então, era mais difícil a locomoção, em geral?
R1 – Era.
Era.
No início era difícil a locomoção.
Para eu ir para Abaetetuba, não tinha viagem específica.
Às vezes eu tinha de ir para Barcarena pra, de lá, ir para Abaetetuba, mais difícil.
Belém era mais fácil, porque a gente pegava o barquinho no São Francisco, a gente chamava de “popopo”, na época e ia para Belém, sem problema.
E, como tinha um trânsito muito grande dos funcionários, então oito horas tinha uma viagem para Belém, que era um barco maior.
Depois era só “popopo”.
Só que a gente só voltava três horas da tarde, na época.
P1 – Belém era como, nessa época, também?
R1 – Belém não mudou muito.
Lógico, vai evoluindo mais, mas eu acho que era muito mais tranquila, não tinha muita violência, como tem hoje.
A gente, todo mês, ia fazer compra lá e era mais tranquilo.
A gente andava mais em Belém, curtia mais.
Eu ia para Belém antes, eu dificilmente pegava um táxi ou ônibus, eu gostava de andar.
Hoje eu saio do barco, táxi ou Uber, já com medo de assalto, esse negócio.
Era muito mais tranquilo.
Acho que era mais hospitaleira, menos violência.
Mas não é só lá em Belém, é em todo lugar, né? Mas era tranquilo, eu ia muito em Belém na época.
Hoje eu vou menos vezes.
Já tem muita coisa aqui, né? Mas Belém era muito legal, muito.
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finais de semana, ia para Belém, ficava o dia ali.
Hoje a gente tem mais medo é da violência, na verdade, né?
P1 – O senhor ia visitar gente lá, passear?
R1 – É.
Passear.
Estava de folga, ia lá fazer compra, passear e tal.
Pegava o carro, atravessava, ia lá no shopping, já começou a ter o shopping, era novidade para nós também, que não tinha.
Ia mais em Belém, dificilmente.
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nas folgas, todas as vezes, todas as folgas, eu ia um dia em Belém.
Ou junto com a família, sábado ou domingo.
P1 – Agora eu queria fazer umas perguntas um pouco mais técnicas para o senhor.
A fábrica é naquele lugar por quê? Aquela posição ali.
R1 – Devido.
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a fábrica foi montada estrategicamente por logística, principalmente de porto.
Então, quando ela foi montada aqui em Barcarena, vários outros pontos foram averiguados.
Inclusive em Abaetetuba.
Então, ela foi colocada aí por causa do porto, da profundidade para navio, estrategicamente, por causa da posição do oceano.
Diminuir espaço de logística, de custo.
Então, tecnicamente ela foi montada aí, estudada para montar ali.
Acho que poucas áreas, fábricas de alumínio no mundo tem a logística que a Albras tem.
Alumina ali na frente, né? Só atravessar a rua.
O porto lá próximo, porque precisa vir os insumos, né? Coque e piche.
Energia vem por linhão.
Então, ela foi estudada para logística, né? Perto do oceano aqui.
Então, está tudo perto para ela.
Então, aí foi o local escolhido para a logística, para isso mesmo.
Foi estudado ser em Abaetetuba, o porto não oferecia as condições de profundidade e tal, para atender essa questão aí.
P1 – Como é que funciona? O minério vem de onde? Você sabe?
R1 – Vem praticamente de Paragominas, né? Para cá.
O processo começa, na verdade, na mina de bauxita.
Vem.
Na verdade, é todo só um processo: começa na mina de bauxita, vem para a Alunorte, faz uma segunda etapa do processo.
A Alunorte só separa a alumina dos outros contaminantes e a gente, nós entramos já com a alumina, separada desse processo.
É um hiper, mega processo, dividido em três, entendeu? Então, a Albras está no meio desse processo aí.
Depois a Albras, o que a gente faz? A gente eletrolisa esse.
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a alumina é alumínio e oxigênio, a gente só faz separar esses dois elementos.
Depois da Albras ainda tem um mundo pra frente, em cima desse alumínio aí.
É verticalização, né, desse produto aí.
P1 – Você transforma alumina em alumínio?
R1 – Alumínio.
Nossa função é essa.
O nosso produto é esse.
Então, são três mega processos.
Nós estamos no meio ainda do processo.
P1 – Depois a pessoa pega esse alumínio e faz o quê?
R1 – Faz o que quiser, você mistura, você transforma, você viaja nele.
Você mexe, coloca.
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a Alubar pega o nosso alumínio e faz cabo de cobre.
Então, a Alubar hoje.
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por que a Alubar montou ali? Porque ela pega o alumínio líquido nosso, faz a liga e já sai o cabo.
Se a Alubar fosse em Barcarena, ela ia pegar o alumínio, ela ia ter de fundir esse alumínio, entendeu? Então, ela ia ter que.
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então, a Alubar, estrategicamente se montou ali, ela tem uma estrada que pega o alumínio pronto.
Ela não precisa fundir esse alumínio, entendeu? Para ela fundir isso daí, ela teria de elevar esse cara a setecentos graus, que é o ponto de fusão do alumínio.
Entendeu? Então, aí você viaja.
Faz cabos, faz liga, faz perfil.
Esses filmes que têm dentro dessas caixas de alimentos, isso é alumínio.
Então, é um filme de alumínio que tem lá dentro.
A Hydro tem uma fábrica aqui no Brasil, acho que é em São Paulo, que faz isso aí.
Aí você, depois ali, faz o que quiser com ele: ligas leve, motor e tal.
Alumínio que recicla cem por cento dele também, não volta para a natureza mais.
Você o aproveita cem por cento.
P1 – E os fundadores da Albras, quem que foi? É público? Privado? Como é que é?
R1 – Não, foi uma.
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foi a Naac, no Japão.
Foi uma parceria Japão Brasil.
É um pool de empresas japonesas, junto com o governo brasileiro.
Através da Vale, na época.
Que se juntaram para desenvolver esse projeto aqui.
P1 – E vocês viam, assim, às vezes, visitas de autoridades? Do governo?
R1 – Sim.
Sim.
Agora menos, né? Mas quando era.
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porque hoje ela é privada, né? Hoje ela é Hydro e Japão.
Mas sempre tem ainda.
Mas antes tinha muito mais.
Antes, quando era pública, que era da Vale, que a Vale não estava privatizada, a gente tinha muitas visitas aí, do pessoal de Minas e Energia e tal.
Mas hoje está.
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vem ainda, mas de maneira mais rara.
P1 – Já veio algum político que você viu?
R1 – Já.
Já.
De primeiro veio.
Na inauguração da Albras veio o Sarney, na época.
O pessoal vinha.
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governador já esteve aí.
Vem político, aí, sim.
P1 – E me conta, então, como é um dia de trabalho do senhor, normal.
O senhor chega lá que horas? Vai fazer o quê?
R1 – Hoje eu? Hoje?
P1 – Na época.
R1 – Na época eu.
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a gente tem, nós temos rotinas definidas, né? Na época eu era operador de cuba.
A gente tem a operação de cuba, então chega lá, vestiário, ônibus, área, na época DDS, reunião de segurança, quinze minutos, entendeu? Depois fluxo de atividades totalmente definido, para as oito horas, né? O passo a passo da atividade, intervalo de almoço, volta, área, ônibus, vestiário e casa.
Essa é a rotina, que hoje ainda é empregada na fábrica, né? Cada um dentro da sua função.
Tudo bem definido, horário para tudo.
P1 – Como é que é o trabalho do operador de cuba?
R1 – O operador de cuba tem função definida.
Nós temos equipe dedicada hoje, nós temos, na nossa área tem trinta e poucas atividades definidas.
Cada um sabe o que vai fazer, na hora que vai fazer.
As principais atividades são: troca de anodo, corrida de metal, abastecimento de cuba.
São as atividades-chefe de um turno de oito horas.
Então, tudo bem definido, cada um chega e vai para a sua área lá.
Então, na verdade, ele mantém o forno funcionando.
A atividade dele é essa: troca de anodo, colocar anodo lá, correr metal e tirar o metal, levar para a fundição.
Operadores que medem a temperatura.
São trinta e poucas atividades, todas girando em turnos de vinte e quatro horas, sem parar.
Tudo bem definido, bem descrito.
P1 – Essa pessoa tem de ter bastante atenção?
R1 – Tem.
A nossa empresa é grau de risco quatro.
Mas ela está treinada e preparada para o que ela faz.
Ela passa por todo um processo de treinamento, não temos problemas com isso.
Mas tem, lógico, ela tem de saber onde ela está, né, cara? (risos) Não adianta.
Ela está treinada para isso.
P1 – Quantos graus de risco tem?
R1 – O nosso grau de risco é máximo.
Nós temos mais de .
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temos nossos riscos principais todos catalogados, todas as medidas de controle, todas descritas.
Por que que não acontece acidente? Conhecer o risco é aplicar medida de controle.
Se você vai passar, vai ter acidente.
Anda de moto, se não andar com capacete, anda um ano, um dia tu vai, pode cair (risos) e pode ficar lá, né? É o mesmo princípio, não pode passar.
P1 – Vai de zero a quatro, então?
R1 – É.
As categorias vão de zero a quatro.
Nós estamos grau máximo.
A nossa empresa, a Albras, a Alunorte, tudo é grau quatro de criticidade de trabalho.
P1 – Mas já aconteceu acidente? Você pode falar sobre isso?
R1 – Já.
Já aconteceu.
Já tivemos acidentes sérios, que a gente considera sérios.
Hoje a gente está muito, muito bem.
A Albras está muito bem, a nível de controle, mas nós temos, infelizmente, tem.
E o que interessa? Que, quando a gente vai analisar, normalmente é um desvio de comportamento.
Essa é que é.
Que apesar de tudo o que a gente já conhece, já escreveu, a gente ainda tem.
A gente vai lá, bate lá, desvio, né? Uma quebra de uma barreira.
E relacionado aos riscos maiores que a gente tem, que a gente já conhece, vai quebrar uma barreira, né? Mas infelizmente a gente ainda tem acidentes.
Hoje muito menor, muito.
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nada sério hoje, assim, mas o risco está lá.
P1 – Você diz desvio de comportamento humano?
R1 – É.
Que é o maior contribuinte para o acidente de trabalho.
É o desvio do comportamento humano.
Não adianta ter as barreiras e você não cumprir as barreiras, né?
P1 – E essas questões ambientais que a gente sabe que já aconteceu, tem relação com isso? Você acha?
R1 – Não.
Nós temos, a indústria do alumínio é uma indústria que mais impacta o meio ambiente, desde a extração do minério, até chegar o alumínio no pátio.
Ela tem as normas e você tem de estar cumprindo as normas.
Nós sabemos que tem um impacto.
Aquele equipamento que teve na Alunorte, houve um problema? Eu não sei.
Houve um problema ambiental e houve as ações lá.
Então, acho que cabe aos órgãos conhecer e cumprir que as empresas cumpram as normas, né? Mas tem impacto.
Tem que ter a legislação, não pode descumprir a legislação, né, cara? Não podemos deixar processos críticos na mão de pessoas.
Tem de ter controle, tem de ter sistema para controlar.
E fiscalizar, né?
P1 – E você observou, acompanhou esses processos de deslocamento de populações? Você viu isso acontecendo também?
R1 – Sim, cara.
Esse processo de deslocamento aconteceu porque tinha a vila.
A vila quando, nesse tempo aqui, até porque vem, vem.
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a Alunorte ficou parada, veio.
E veio aquela enxurrada de gente, né? (risos).
Depois já vem a ferrovia, falaram.
Aí encheu de gente isso aqui, né? E tal.
Aí não veio a ferrovia, né? Mas aqui é um polo industrial hoje já, né? Então, houve esse deslocamento para cá.
A Vila dos Cabanos hoje eu comparo que, no futuro, pode ser tipo o Rio de Janeiro, né? A cidade no meio e cercada.
Não tenho nada contra invasão, quanto ao processo desordenado, mas é um modelo que deve ser seguido daqui a vinte anos.
É a vila e cercado.
Não estou dizendo que lá tem bandido e tal e que vai sair tiroteio, mas é uma coisa que vai ser inevitável, né? Então, esse deslocamento, é porque o cara quer emprego, onde tem emprego ele vem, pô.
(risos).
O cara vai, não tem jeito.
Isso é um processo natural que existe e que sempre vai existir.
Onde tem emprego, o cara vai pra lá.
Basta que fale, que o cara vai.
P1 – E eu digo também esses processos que teve de tirar a pessoa de um lugar.
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R1 – É, houve.
Na verdade, essa área aqui era uma área ocupada, né? Não teve, não tinha como não ser, né? Isso aqui eram pessoas que moravam aqui e houve processos.
Construíram o laranjal aqui, que era para alocar algumas pessoas para lá.
Aí depois teve aqueles comentários de que não foi cumprido, na época.
Que a cidade não foi aquilo.
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só tirar dos caras.
Sei lá, né? Eu não cheguei a acompanhar muito isso.
Quando eu vim para cá, a fábrica já estava sendo instalada.
Esse processo aconteceu lá atrás ainda, quando houve as negociações de tirar as pessoas daquela área da fábrica, porque tinha de construir a fábrica.
Mas isso houve.
Esse processo de retirar.
Isso aqui era uma área que era habitada aqui por dentro.
Não era definida, mas estava cheia de gente por aqui, que eram os cabanos, né? Que até o nome da vila é uma homenagem a essas pessoas que viviam por aí.
P1 – E quando estava começando aqui, você falava que tinha uma diferença entre a vila e a Barcarena velha?
R1 – Como?
P1 – Comentavam assim que tinha uma rivalidade.
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R1 – Não vou dizer tanto uma rivalidade, né? Acho que houve, existia, na verdade, existe até hoje, (risos) uma preocupação, acho, da sede de Barcarena ver uma emancipação dessa vila aqui.
Porque quem gera valor é a vila, né? O emprego está aqui, né? Mas vamos dizer que existir, existe rivalidade entre aspas, dessas coisas que eu até desprezo, mas acho que existe uma preocupação de falar: “Pô, se esses caras se tornarem independentes, entre aspas, isso aqui vai acabar”.
E não deixa de ser uma verdade, né, cara? E eu não vejo por que emancipar, né, cara? Não tem sentido, eu acho que tem de contribuir com todo mundo, né? Acho que essa que eu vejo, assim, que é uma preocupação, né? A vila, hoje, pode viver só ela.
Barcarena vai viver só ela? Não sei.
Então, eu vejo desse lado aí, entendeu?
P1 – Deixa eu perguntar uma coisa para o senhor: você lembra de algum dia, nessa época, no começo, que foi especial para o senhor, que você lembra?
R1 – Cara, todos, todos (risos) impressionante, né? Que assim, todo dia é especial, né? Mas a partida da fábrica foi um dia muito especial, né? E a gente teve a oportunidade agora, tem até.
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nós fizemos um filme para a Hydro.
Se não me engano, com vinte e cinco anos, não sei se foi vinte e cinco anos, a cuba que nós partimos primeiro estava desligada, no dia que nós a ligamos.
Na verdade, ligamos a cuba.
Fizemos todo aquele negócio de vinte e cinco anos.
Então, isso é uma coisa.
Agora, como teve um acidente na Redução I, ano passado, que nós perdemos a Redução I, nós fomos ligar agora, aí eu fui ligar a cuba de novo, entendeu? Então, essa data.
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(choro).
Essa data é boa até.
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(choro).
P1 – A cuba é diferente do que é a de hoje? Você consegue olhar para ela e falar: olha.
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R1 – Não.
Não.
Não.
A cuba praticamente é a mesma.
A gente fez algumas melhorias de tecnologia dela.
A gente fala em cuba, né? Existe melhoria, mas o processo é o mesmo, não muda.
Eu tenho até a foto desse dia, agora daqui, depois eu te mostro aí.
Mas não muda.
O processo é o mesmo, entendeu? A cuba, em si.
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melhorias técnicas nela já houve.
A cuba que a gente fala é uma carcaça, né? Já houve melhorias nela.
Mas é a mesma coisa.
O processo é o mesmo, só se aperfeiçoa, mas não muda.
É a mesma essência, a essência é a mesma.
P1 – Para quem não sabe, o senhor pode dizer, mais ou menos, como que funciona esse processo de passar alumina para alumínio?
R1 – Posso, sem problemas.
Bem, a obtenção do alumínio é dado a uma cuba, que a gente chama cuba eletrolítica.
Então, os estudos mostraram que, economicamente, só fazendo a eletrólise dessa alumina e separando através da energia.
Então, como é que é? A gente pega um forno, tem o polo positivo e o negativo e, dentro dessa cuba, tem um produto que eles chamam de banho, são sais fundidos que estão dentro dessa cuba, que a gente adiciona alumina nele.
Então, o principal componente desse banho é a criolito.
Então, a gente pega, coloca os anodos na cuba e ejeta, coloca energia, fica energizada, esse banho fica energizado e então a gente ejeta essa alumina nesse banho.
Ela entra em contato com a energia, ela separa em dois produtos, a eletrólise.
A gente eletrolisa esse produto, tá? Então, o alumínio, automaticamente, vai para o fundo da cuba, esse oxigênio que separou reage, com o que a gente chama de anodo, que é o carbono, vira CO2.
Então, essa é a síntese do negócio, entendeu? Então, é um processo contínuo.
Nós temos, numa linha de cubas, sessenta cubas ligadas umas nas outras.
A corrente entra numa e passa para outra, em sentido contínuo, não entra, entendeu? Então, é isso.
É a ejeção do alumínio em um banho de sais fundido, onde o principal componente é a criolito.
O alumínio deposita no fundo da cuba e o oxigênio reage com o carbono e vira CO2.
Essa é a síntese.
E, a cada período, tira esse alumínio de lá e leva para o processo seguinte.
Que, no nosso caso, é o linguatamento.
P1 – Isso tudo ele está em alto.
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R1 – Temperatura média de uma cuba ideal é novecentos e sessenta graus celsius.
A temperatura de sonho nosso, de trabalho, né? Varia.
O forno chega a mil e poucos graus.
Ele é todo fechado, tem tampa e tal.
A gente só abre para ter atividade e fecha de novo.
Ele varia a temperatura, entendeu? Mas a temperatura de sonho nossa é de novecentos e sessenta graus, está lindo para nós.
(risos).
P1 – Aí ele sai e depois vocês o resfriam?
R1 – É, quando a gente tira de lá, leva para a fundição, no caso, que é um outro processo, joga em um outro forno, um forno de espera, onde ele vai fazer a composição química de venda desse produto, para ver a pureza dele, né? O que é que o cliente quer.
Aí depois, lingota esse processo.
Ele lingota e quando ele vai lingotando, lá no lingote lá, ele vai esfriando.
Quando ele chega no final do processo, ele está totalmente solidificado.
Não está frio.
Ele solidifica aí, ele pode estar com quatrocentos graus ainda.
P1 – Não vai encostar naquilo?
R1 – Não pode.
Todo processo é automático.
Aí vai lá, passa pelo resfriamento e vai para o pátio de estocagem lá.
Que já é o processo final, a pilha do lingote, lá no final lá.
P1 – Tem cheiro? Tem barulho? Como é que é isso lá?
R1 – Temos barulho na área.
Usa abafador.
Tem gases.
Usamos máscaras, é lógico.
Vários componentes.
Temos uma planta de tratamento de gases, interligada a cuba.
Para tratar os gases, em geral, de dentro do processo.
Onde o tratamento básico desse gás é feito com a própria alumina.
Então, quando a alumina chega, ela primeiro passa pela planta de tratamento de gases, depois é que vai para a gente, para colocar na cuba, para fazer alumínio.
Os principais componentes, os principais contaminantes do processo de alumínio, são tratados com a própria alumina.
Ela absorve as principais impurezas e volta para o processo.
Então, aí a gente não está emitindo, a gente está recuperando.
Isso é tudo controlado.
Então, quando a alumina entra, ela entra primeiro pela planta de tratamento de gases.
P1 – Essa coisa de máscara o senhor está acostumado, então?
R1 – Vinte e quatro horas.
Até em casa, às vezes (risos).
Mas lá tem de estar com máscara própria para o nosso maior contaminante, que é o HF, que é ácido fluorídrico.
P1 – Hoje, então, para quem não conhece, tem todo um ciclo ali, já está em várias fábricas, né?
R1 – Sim.
Tudo definido.
Tudo com horas.
Tudo com ciclo definido.
Temos tudo.
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o processo todo definido.
O que cada um faz, o quê.
Processos críticos bem acompanhados, né? Senão, não tem controle.
P1 – Então, hoje, você lista para a gente? Vem com a bauxita? Só para retomar.
R1 – A bauxita entra no processo __________ (1:13:15) que é da Alunorte.
De lá separa a lama vermelha da alumina, né? A alumina entra direto para a sala de cuba, passa pelo sistema de tratamento de gases, primeiro, para recuperar o principal componente, o principal contaminante, que é o HF e lá entra na sala de cuba, onde a gente vai ejetar isso nas cubas, para poder eletrolisar, poder separar o alumínio do oxigênio.
Separou, a cada período, eu vou numa cuba a cada quarenta e oito horas, tiro essa produção.
Mando para a fundição, jogo em um forno de espera, de lá lingota e vai para o pátio, para levar pro nosso cliente, pra quem está comprando.
No nosso caso é a Hydro e a NAAC.
Eles já vendem esse produto aí.
P1 – E aí entra em um navio e vai embora?
R1 – Vai embora.
Parte da produção a gente vende para a Alubar também, que ela faz o cabo de cobre dela.
Os produtos dela lá.
P1 – Agora, o senhor trabalhou muito tempo na cuba? Como é que o senhor foi se movendo, dentro da Albras?
R1 – Eu entrei como operador, eu era da partida.
Depois virei operador de cuba.
Faz acho que uns quinze anos atrás, eu comecei.
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necessidade de treinamento, aí: “Oh, vem dar uns treinamentos aqui uns dois meses e tal”.
Eu sempre fui um cara que gostei muito da parte didática do negócio, para entender mesmo, né? Aí eu fiquei dois meses, saí de férias, voltei e fiquei no ADM: “Você vai ficar aí”.
Então, hoje eu estou em uma função, praticamente eu trabalho.
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nós temos quatro reduções, quatro GAs, que são os nossos chefes, e, na verdade, eu sou tipo um assessor desses caras, né? Na verdade, eu sou tipo (risos), quase um embaixador.
Eu sou o cara da interface da nossa área, antes do GA.
Além de treinamentos, que eu participo das nossas partes de treinamentos.
P1 – GA é o quê? É o gerente?
R1 – É o gerente de área nosso.
Então, na verdade eu sou uma interface deles.
Antes de chegar na nossa área, passa o filtro por mim, vamos dizer assim.
Tudo o que tem interesses passa por mim.
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P1 – O que é o GA?
R1 – É o gerente de área de redução.
Tem o GG, que é o gerente geral e os gerentes de área.
Então, na verdade, hoje eu trabalho diretamente com eles, entendeu? Então, esse é o meu principal trabalho.
Nós temos, na verdade, cinco GA´s.
Então aí, hoje de manhã eu não ia, eu ia ficar na vila, eu tinha reuniões dessas interfaces e tal.
Aí já está filtrado, para depois eu tratar com eles.
O que não tiver para eu resolver, né? Se tiver algo que precisa de ajuste, eu vou lá pontuar: “Cara, é o seguinte: é isso aqui e tal.
Tá tranquilo?” “Tá” “Então, pode tocar”.
Senão a gente vê a oportunidade.
Então, foi através de treinamento e tal, de vir, de estudar a fundo os processos críticos e tal e eu já estou aí há uns quinze anos nesse negócio aí, né?
P1 – E como que é ensinar para outras pessoas?
R1 – Rapaz, acho que ensinar é a melhor coisa que tem, do sistema.
Acho que conhecimento só vale quando é disseminado.
Quando você sabe para você, não adianta.
Mas quando você consegue transmitir, aí você tem o conhecimento, né? Essa é a minha opinião.
P1 – Então, não adianta só saber fazer?
R1 – Não.
Você tem de disseminar.
Tudo o que é conhecimento tem de espalhar, criar conhecimento para todo mundo.
Tem uns que vão absorver, tem outros que não.
Faz parte do processo, né? Mas você tem de ensinar.
Não adianta você saber tudo e ficar com você.
Eu acho que tem de ser disseminado.
P1 – E você gosta de fazer isso?
R1 – Gosto.
Gosto muito.
P1 – Você trabalha ainda hoje com alguns alunos seus?
R1 – Trabalho.
Normalmente.
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hoje nós estamos até montando um sistema mais estruturado, né? Mas é normal toda semana, todo mês, ter uma equipe de pessoas para dar um reforço, os novos que chegam, para dar um treinamento.
Às vezes a agenda está um pouco lotada, mas a gente dá um jeito.
Eu não tenho nenhuma dificuldade quanto a isso.
P1 – Sei.
E como é que é para você sempre chegar um aluno novo, assim? O que você pensa, assim?
R1 – Cara, eu acho que é sempre motivador, né? Transformar depois esse cara em um profissional.
Poder colaborar, né? (choro)
P1 – O senhor queria deixar registrado alguma coisa, antes da gente ir terminando aqui? Alguma história, alguma palavra que o senhor queira dar?
R1 – Cara, não é fácil, né? (choro) Falar de trinta e cinco anos, assim.
Vamos deixar para daqui a um minuto?
P1 – Vamos.
Vamos.
Vamos.
Quer cortar um pouquinho?
R1 – É.
Porque falar de trinta e cinco anos .
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P1 – O senhor falou que são trinta e cinco anos, não é fácil, né? Agora, como é que o senhor vê, assim, o seu futuro, o futuro da empresa, de Barcarena? O que o senhor pensa? O que o senhor pensa e o que o senhor deseja?
R1 – Cara, eu, falando de mim, eu não tenho muitas preocupações com o futuro.
(risos) Se eu planejasse não ia dar certo, todo esse tempo aí.
Às vezes os caras me chamam: “E aí?” “Calma”.
Eu não estou preocupado com trinta e cinco anos, eu me preocupava quando eu tinha cinco, né? Tinha cinco anos, eu queria ficar dez.
Eu tenho trinta e cinco, eu não tenho que me preocupar agora.
Eu sei que eu vou ter de sair da empresa.
Isso, para mim, está claro.
Quando é, eu não estou preocupado com isso, né? Enquanto eu, como profissional, né? Então, eu não tenho preocupação.
Ser for agora, é agora.
Eu estou preparado para isso.
Se for amanhã, é amanhã.
Se for daqui há três anos, é daqui há três anos, né? A não ser que a empresa não me queira mais, é outra história, né? Então, eu não me contamino, eu não me preocupo, né? O futuro da empresa está tranquilo.
Empresa é consolidada.
Acho que a Albras é uma empresa consolidada.
Passou um momento difícil, mas está tranquila, está muito bem estruturada.
Vejo aí mais cinquenta, cem anos, sem problema nenhum.
A não ser que algo de extraordinário aconteça, né? Que eu não acredito, né? Hoje, nessas crises que houve aí, a Albras está bem.
Sobreviveu até hoje, ela compete com empresa mais moderna, mas está vivendo.
Então, vai viver.
Porque empresas são pessoas, né? Empresas são pessoas e as pessoas que estão aí são boas.
Então, não vejo problemas.
O que eu espero, cara, é que continue, que isso não pare.
Que a gente possa, daqui, ver outras gerações.
Estar reafirmando, consolidando essa história (choro).
É isso.
P1 – E os filhos, você tem? Como é que está?
R1 – Tenho dois filhos.
Minha filha está formada.
Tenho dois netos, já, também.
E o meu filho está estudando também, quer ser advogado, está estudando Direito.
Está tranquilo.
P1 – Como é que foi contar um pouco da sua história hoje, aqui?
R1 – Foi formidável.
Ótimo.
Que bom que tem essa oportunidade! O problema é a emoção.
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(choro), mas normal.
Isso, para mim, é totalmente normal, né?
P1 – Obrigado pela oportunidade de ouvir o senhor, viu?
R1 – Obrigado a você pelo convite, também.
P1 – Foi um prazer.
R1 – Falou.
P1 – Obrigado, seu Benedito!
R1 – Falou.
Obrigado aí.
Vai desculpando alguma coisa aí.
P1 – Imagina.
Imagina.
Foi ótimo! Foi ótimo!
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