Nunca senti medo de andar em lugar nenhum. Subo na igreja a qualquer hora do dia, da noite. Subo, desço. Vou para qualquer canto daqui, nunca senti medo. Minha filha… meus filhos andam aqui no bairro a qualquer hora da madrugada, da noite. Nos dias… graças a Deus. Graças a Deus nunca. Eu já fui assaltada. Agora, assim, há muitos anos (...) na Baixa do Fiscal, eu estava com os meus dois filhos, eu tinha ido em Mapele, na casa de meu pai num dia de São João. Aí saltamos do ônibus e atravessamos a estrada, né? E eu morava na Liberdade, então tinha que pegar o ônibus do outro lado da linha. E apareceu um homem assim, sem mais nem menos, que pegou o meu braço e disse: “ - Me dê esse relógio”. E eu: “ - Porque o senhor quer o meu relógio?” Ele puxou, eu disse: “- Olha, solta que eu vou lhe dar”. [risos] Tirei o relógio e dei a ele. Aí ele se fingindo que estava bêbado, tanto tempo que ele ia levar aquele relógio meu, né? Um relógio peba, como a gente fala, barato, mas eu fiquei com tanta raiva daquele homem. E depois ele foi para o ponto onde eu estava com os meus filhos e querendo… fazendo que estava bêbado e eu via a… ele assim, estava assim, né? Com a faca, assim. Estava com uma faca imensa aí. E quando o… ele não conseguiu roubar ninguém, mas depois ele saiu daquele ponto e foi para detrás do muro. Aí eu falei com dois senhores que estavam no ponto, eu disse: “ - Senhor, aquele homem ali ele é safado, ele é um ladrão. Ele roubou o meu relógio”. [risos] Aí o que é que o homem fez, os dois homens fizeram? Saíram correndo atrás do homem e eu disse: “ - veja, tá vendo ele está com a mão fechada que ele ainda está com o meu relógio”. Aí o homem pegou as pedras na linha do trem e saiu correndo atrás do homem. Com a faca, atrás do homem com a faca. Quando o homem voltou, fez para mim: “ - Ah, você falou, foi? Vou cortar o seu...
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Nunca senti medo de andar em lugar nenhum. Subo na igreja a qualquer hora do dia, da noite. Subo, desço. Vou para qualquer canto daqui, nunca senti medo. Minha filha… meus filhos andam aqui no bairro a qualquer hora da madrugada, da noite. Nos dias… graças a Deus. Graças a Deus nunca. Eu já fui assaltada. Agora, assim, há muitos anos (...) na Baixa do Fiscal, eu estava com os meus dois filhos, eu tinha ido em Mapele, na casa de meu pai num dia de São João. Aí saltamos do ônibus e atravessamos a estrada, né? E eu morava na Liberdade, então tinha que pegar o ônibus do outro lado da linha. E apareceu um homem assim, sem mais nem menos, que pegou o meu braço e disse: “ - Me dê esse relógio”. E eu: “ - Porque o senhor quer o meu relógio?” Ele puxou, eu disse: “- Olha, solta que eu vou lhe dar”. [risos] Tirei o relógio e dei a ele. Aí ele se fingindo que estava bêbado, tanto tempo que ele ia levar aquele relógio meu, né? Um relógio peba, como a gente fala, barato, mas eu fiquei com tanta raiva daquele homem. E depois ele foi para o ponto onde eu estava com os meus filhos e querendo… fazendo que estava bêbado e eu via a… ele assim, estava assim, né? Com a faca, assim. Estava com uma faca imensa aí. E quando o… ele não conseguiu roubar ninguém, mas depois ele saiu daquele ponto e foi para detrás do muro. Aí eu falei com dois senhores que estavam no ponto, eu disse: “ - Senhor, aquele homem ali ele é safado, ele é um ladrão. Ele roubou o meu relógio”. [risos] Aí o que é que o homem fez, os dois homens fizeram? Saíram correndo atrás do homem e eu disse: “ - veja, tá vendo ele está com a mão fechada que ele ainda está com o meu relógio”. Aí o homem pegou as pedras na linha do trem e saiu correndo atrás do homem. Com a faca, atrás do homem com a faca. Quando o homem voltou, fez para mim: “ - Ah, você falou, foi? Vou cortar o seu pescoço agora, a tua língua, porque língua… você é linguaruda”. E aí meteu a faca bem em mim. Mas só que eu estava vindo de Mapele com os meninos, eu estava com as mochilas, né? As bolsas com roupa,e dois meninos pequenos, um de cada lado, quando ele… ele jogava a faca e eu com a bolsa e eu olhava bem no olho dele, quando ele fazia vir com a faca, eu jogava a bolsa, e a faca afiada entrava na bolsa. E nisso os meninos gritando: “ - Mãinha, Mãinha, Mãinha!” E eu: “ - Corra, corra, corra!” Quer dizer, para os meninos saírem dali. Os meninos: “ - Não, não, não!” Agarraram comigo. E eu ou bem me defendia, ou bem deixava de defender os meninos. Mas em momento algum… e ele enfrentou e os dois homens com as pedras na mão, larguei a bolsa, larguei a roupa, não faça isso e ele enfiava e ele sacudia aquela… A mão de Deus é tão presente! Ali naquele momento parou um carro, um fusca, na hora, o homem já saltou com a arma na mão. Eu vi dois homens, então um que estava na frente abriu a porta, assim: “- O que é isso, o que é isso?” E: “- Pega ele aí, ele está com a faca na mão e quer furar a moça e ela está com dois filhos. O homem: “ - Cadê, cadê?” E aí ele saiu correndo para trás do muro, o homem saiu com a arma atrás dele, né? E aí veio o outro… e tudo molhado, ainda estava chovendo. Aí entrei no ônibus com os meninos [risos] pela porta dianteira e saltei no outro ponto tremendo, com tudo molhado. Ah, bom. Quando eu cheguei em casa eu vi o estrago que estava na sacola, na mochila. [risos] (...) Eu ia estar toda furada. [risos] (...) Bom, naquela noite eu não dormi. Eu dormi só pensando, né? Eu fechava o olho eu via aquela faca enfiando na mochila, né?
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