P/1 – Bom, senhor Antonio, primeiramente, muito obrigado por participar aqui do nosso projeto. Em nome da equipe do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua participação e colaboração para nós contarmos essa história tão importante. Para começar eu gostaria de perguntar para o senhor o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Eu nasci no dia um de janeiro do ano de 1950. Nasci aqui em São Paulo no Hospital e Maternidade do Brás, ali na região do Belém, Celso Garcia, antigo juizado de menores, que hoje não existe mais, posteriormente Febem. Mas nasci ali, sou paulista, meu finado pai era espanhol, minha finada mãe era portuguesa.
P/1 – O seu nome completo?
R – Antonio Pereira Garcia.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Meu pai era Ignácio Fernandes Garcia, e a mamãe era Francisca Maria Pereira Garcia.
P/1 – O senhor tem irmãos ou irmãs?
R – Tenho uma irmã, casada, Aparecida Fernandes Garcia.
P/1 – E ela é mais velha ou mais nova que o senhor?
R – Mais nova que eu.
P/1 – E qual era a atividade profissional dos seus pais?
R – A mamãe era do lar, sempre trabalhou no lar. Quando moça trabalhou em algumas firmas, Matarazzo. E o meu pai trabalhou durante 34 anos e seis meses na indústria Francisco Matarazzo, ali no Belenzinho, na Rua da Intendência, se não me falha a memória, número 177. Papai trabalhou ali por 34 anos e seis meses, ele era chefe da manutenção. Em um determinado dia ele optou por fechar os 35 anos quando garantiria a aposentadoria integral, querendo chegar nos 35 anos que era por lei. Com 30 anos chamaram ele, ofereceram para ele de 70 a 80%, mas ele era um homem cheio de vigor e saúde e falou: "Não, eu vou até o final que eu quero ganhar os 100%". Quando faltavam seis meses para ele completar esses 35 anos, um determinado domingo que ele trabalhava ali para fazer a manutenção daqueles maquinários, ele foi com vários companheiros de trabalho para fazer a manutenção para que posteriormente na segunda–feira, quando começava o trabalho normal, tudo ali estivesse preparadinho para o pessoal que trabalhava ali naquela área. E infelizmente, eles usavam algumas máscaras, era um ácido que tecia o tecido, e ele sofreu uma intoxicação ao desenroscar um daqueles registros. Já acostumado com o trabalho não colocou a máscara e aspirou. Os que estavam com máscara não tiveram o problema de intoxicação, mas ele aspirou todo aquele ácido e corrompeu o sangue do cérebro dele, a visão. E o diagnóstico médico era que, se ele chegasse a se salvar, havia possibilidade dele perder a visão e ter sequelas na sua memória. Em questão de uma semana ele veio a falecer em consequência dessa intoxicação trabalhando. Um homem sempre trabalhador, 60 anos de idade, desde moleque, veio da roça, um homem lutador e teve essa infelicidade de trabalho. Um acidente de trabalho que fez com que ele perdesse a vida.
P/1 – O senhor mencionou que ele era espanhol.
R – Espanhol.
P/1 – Nascido em que cidade, o senhor sabe?
R – Se não me falha a memória, era Almeria, Espanha. Não sei se era no sul. E mamãe era de Trás-os-Montes, portuguesa.
P/1 – O senhor sabe com que idade eles vieram para o Brasil?
R – Para dizer a verdade eu não me lembro, ele veio mocinho para cá.
(Fátima) – Ela veio com três anos.
R – A mamãe veio pequena, com três anos. E o pai deve ter vindo com os seus dez, 12 anos, garotão, um adolescente jovem. E aqui ele veio, começou a trabalhar. Ali pelos seus 20 e poucos anos de idade ele entrou nessa indústria, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Eu me lembro até hoje. Ele entrou ali e ficou 34 anos e seis meses, uma coisa difícil de vermos uma pessoa trabalhar tantos anos na mesma firma. E foi ali que ele ganhou o sustento dele, através do ordenado dele, aquilo que ele ganhava ali, onde sustentou e criou os filhos, a família. E uma das heranças que papai me passou foi me ensinar o trabalho. E lutou, teve sua casinha, viveu ali, nunca deixou faltar nada para nós. Era um homem batalhador, que não tinha vícios, não era um homem farrista, um homem dedicado mesmo à família e também a criação dos filhos, sem vício nenhum, batalhador, lutador, aonde também me deixou assim, esse exemplo dele e os conselhos que eles me passaram foram exemplos que eu segui. Eu digo para aquelas pessoas que eu conheço, se tem uma herança que papai me deixou foi logo pequeno ele me instruía a dar trabalho. As condições financeiras não davam para dar um bom estudo na época porque tudo o que se ganhava era para o sustento da nossa família, da minha irmã, da minha mãe. Mas nós agradecemos a Deus pela vida dele porque ele foi sempre um homem que lutou bastante e nos sustentou, nos deu a liberdade. Nós tivemos a liberdade, até do estudo, que foi aonde eu cheguei a concluir o Comércio Prático. Mas eu nunca tive muito dom para estudo, não. Pequenininho eu procurava engraxar um sapato. Na época, era muito comum, eu me lembro como se fosse hoje, minha irmã me levava a cadeira, a minha caixinha de engraxar, e todo dia quando eu voltava da escola eu corria até a Igreja Sagrado Coração, ali na Vila Formosa, tinha um pontinho, um comerciozinho, eu ficava na porta de uma barbearia, na porta de um bar esperando que chegassem alguns fregueses. E todo dia, extraindo ali um dinheirinho, fruto de engraxar sapatos, eu trazia para casa para ajudar papai, mamãe. E quando eu não tinha escola eu também fazia carreto na feira, hoje não se vê mais. Hoje, vemos peruas, caminhonetes, até carros particulares. Alguns supermercados se prontificam a levar as compras das pessoas que compram no supermercado, pessoas que não tem carro. E eu fazia carreto na feira. O que era fazer carreto na feira? Em determinada feira ali próximo onde nós morávamos, até Formosa, Santa Isabel, Água Rasa, a pessoa já me esperava: "Ó, tal hora, viu? Ô Toninho, tal hora eu vou estar lá te esperando". Fazia as compras, comprava–se os legumes, as coisas, colocava no carrinho e eu levava na casa da pessoa e ganhava um dinheirinho. E após as feiras, de ganhar esse dinheirinho, sempre levava para casa, levava um legume, uma fruta, levava um doce para mãe para poder ajudar os pais na manutenção do lar. E foi aí, que eu comecei também a minha vida, conhecimento. Eu morava ali na Vila Santa Isabel, Formosa, Rua Abaru, que hoje é a Rua Osvaldo Arouca, e próximo ali eu via um pessoal na rua que saía vendendo esses doces, os canudinhos. E eu fui descobrir onde fazia o doce, era um casal de italianos, eu tinha por volta de dez, 11 anos, eu descobri onde era a casa do senhor José que fazia o doce e comecei a trabalhar ali com ele. Então, eu pegava uma caixinha de uva na feira, amarrava uma cordinha, punha no pescoço, ia lá e comprava dez, uma dúzia, vendia, voltava, comprava mais uma dúzia e fui. E nesse entremeio da coisa, onde eu cheguei até esse ponto de hoje, de estar fazendo essa mercadoria caseira, esses doces caseiros que nós fazemos, eu fui ali me adaptando, aprendendo com ele. Ele gostava da minha agilidade, eu era um menino bem ativo e ajudava a fazer o doce. Então, durante a semana eu trabalhava com ele e a esposa dele, dona Ainda. Eu os ajudava a fazer os doces após a escola, no período da tarde, menino quando eu estudava, quando não tinha aula. E no final de semana, meu pagamento, ele me dava um tabuleiro com bastante doce para eu vender e usufruir do lucro daqueles doces. Foi onde nós começamos, fui aprendendo, fui me adaptando, ganhando conhecimento com outras pessoas. Fui procurando aprimorar cada vez mais, melhorar a qualidade. Sempre trabalhamos com uma mercadoria boa, nunca é uma farinha de segunda, é sempre uma farinha especial, um açúcar bom, um óleo bom, uma essência de baunilha. Aprendi a fazer um creme italiano que um confeiteiro do Restaurante Garoto, que tem até hoje ali na região do Brás, que é padaria, confeitaria. Na época, um italiano era o confeiteiro e me conhecendo me deu todas as dicas de como fazer o creme. E estamos aqui, 61 anos de vida. E me aprimorei, fiquei no doce e estou até hoje nesse ramo do doce. Gostei, tive o dom, faço com amor, fiz com amor, fui me aprimorando. Eu tinha a finada mamãe que nos ajudava, posteriormente eu conheci Fátima, que hoje é minha esposa. Ela tinha três filhos na época, era solteira. Eu também era solteiro, ali nos conhecemos. Ela tinha o Jean, que Deus levou, um filho que é falecido, a Jane, a Fábia. E Deus nos deu condição e nos colocou a Fátima no nosso caminho para também nos ajudar a fazer o doce, onde nós confeccionamos e fazemos o doce no nosso lar, na nossa cozinha. Um docinho caseiro. Não temos aquela visão de coisas grandes, fazemos o essencial do dia a dia para suprir todas as nossas necessidades. Deus tem nos abençoado. Eu agradeço sempre a Deus, todos os dias. Quando eu volto um pouquinho para traz e olho o que Deus fez na minha vida, me dando força, saúde para fazer e criar essas crianças. E hoje, com a graça de Deus, Deus me abençoando, eu vejo meus filhos. Eu criei a Jane, a Fábia, o Jean, que partiu ainda cedo, Deus depois me deu Davi, me deu Paulinho, dois filhos com a Fátima. Regularizamos a nossa situação, casamos, fomos acertando a nossa vida. Depois veio a Naiara, pequenininha, lá no Norte, que era filha de uma sobrinha da Fátima, Naiara é minha filhona que já está me dando dois netinhos. Criei a Naiara, criei a Rose, uma outra sobrinha. Tudo fruto da venda desses doces, tabuleirinho, sempre administrando e cuidando deles, não deixando faltar nada para eles, seguindo o exemplo de papai lá atrás. Hoje, eu sempre agradeço a Deus por isso, que eu sempre vi a mão de Deus. Hoje, eu sou evangélico, sigo Deus há 30 anos. Eu tinha um probleminha lá quando eu era moço, tomava umas cachacinhas, estava quase me perdendo, mas Deus nos livrou também. Então, eu glorifico o nome de Deus por isso, porque Deus me abençoou muito. E hoje, é o que eu disse para minha filha que mora no Maringá, Fábia, ela tem três netinhos maravilhosos: o Danielzinho, o Eric e a Stefani; meu genro Wilson que trabalha com negócio de balonismo. E eu falei: "Filha, se hoje Deus recolhesse o papai e o levasse, eu partiria feliz, porque hoje eu posso me considerar um homem realizado porque em tudo eu vi a mão de Deus na minha vida, eu vi Deus me ajudando, me abençoando, me dando força. E até hoje, no momento da dor, da dificuldade, da luta, nós vemos que Deus tem suprido todas as minhas necessidades, as necessidades do meu lar, da minha esposa e dos meus filhos”. Então, eu agradeço a Deus. Hoje, eu tenho uma filha maravilhosa, a Jane, que mora em Bragança Paulista, é casada com um rapaz que é pastor, também evangélico, tem quatro filhos: a Ana Carolina, a Stefani, o Felipe, a Débora, uma família maravilhosa. Ela é esteticista, entrou no ramo, nesse negócio de limpeza utilizado muito hoje por moças, senhoras. Ela tem uma estética lá em Bragança Paulista, ela já tinha aqui em São Paulo, posteriormente eles se mudaram para lá. A Fábia também se formou na área de estética, trabalhou muitos anos aqui em São Paulo, mudou–se recentemente para Maringá, Paraná. E está lá realizando também, abriu um espaço para ela ajudar o esposo. Tem o meu filho Davi, que trabalha no ramo de venda de carros, ele gosta. O Paulinho, meu outro filho, casado também com uma filha de um pastor, o pastor Ivo. Paulinho trabalha na área Gospel, trabalha com uma gravadora Gospel, Paulo César Baruk, trabalha ali. Ele entrou para esse ramo do Gospel e está se realizando. A Rose é do lar, que nós criamos; e a Naiara, juntamente com o esposo, trabalham na área de eletrônica, Cásper Líbero, trabalham nessa área de vendas de produtos eletrônicos. Então, agradeço a Deus, tudo fruto disso, tudo o que a gente faz, eu vou falar para os senhores, a gente tem que fazer com dedicação, amor, determinação. Porque eu creio que Deus dá o dom para cada um em uma determinada área. Vocês estão aí executando o trabalho de vocês, é um dom de Deus. Talvez eu não me sairia bem nessa área, e eu, no doce, me realizei. Por quê? Eu tenho 51 anos de ramo, eu trabalhei mais de 30 anos nos estádios do Morumbi, Pacaembu, Parque Antarctica. Até hoje a gente encontra pessoas na rua que falam: "Quantos doces eu comi seu lá no Tobogã, você lembra?". Tem 51 anos que eu estou em campos de várzea em São Paulo. No leste, no sul, na zona norte, zona oeste, onde tem um torneio, um festival, onde tem uma copa eu estou ali trabalhando. E foi assim também nos meados de 1970, quando eu comecei a trabalhar na Rua Javari, no campo do Clube Atlético Juventus. Ali existiam aqueles campeonatos 'Dente de Leite', na época, que era do canal 11, TV Gazeta, Peirão de Castro, Eli Coimbra. Ali eu comecei a trabalhar fazendo aquele jogo daquele... A gente sabe: todo ambulante vai em busca de onde tem um movimento para ganhar um dinheirinho. E ali fui me sucedendo e fazendo amizades, e hoje eu já vendo ali para uma terceira e quarta geração de fregueses. Hoje, eu tenho ali fregueses com 80 anos. Minha esposa também me ajuda nos dias de jogo. Eu tenho fregueses ali de 80, 85 anos que já vem em uma geração que os netos e filhos que compram o nosso doce, que é feito com muito amor, carinho, dedicação. E a gente faz com muito respeito, sabendo que a vida, o ser humano, a gente não pode fazer coisas ruins porque é muito complicado. Eu procuro sempre fazer o melhor porque em tudo eu vejo que estou sendo abençoado e cada vez mais eu tenho um retorno nessa área. Deus nos dá um retorno de estar sempre vendendo nossa mercadoria. Mas é aquilo que eu digo para vocês, sem usura, sem ganância, sem nada, vivendo cada dia, sabendo que a cada dia estamos sendo abençoados e Deus tem aberto portas. Então, eu digo que hoje eu sou uma pessoa que me sinto realizado. Faltam algumas coisas? Faltam. A gente ainda precisa de algumas coisas? Precisamos, mas sabemos que tudo tem a hora e o momento certo.
P/1 – Vamos contar essa história, o senhor apresentou um panorama bem geral, vamos contar bem devagarinho agora com os detalhes.
R – Ah sim, é que eu fui no embalo (risos).
P/1 – Foi ótimo, deu um panorama bem grande, agora a gente vai seguir um panorama bem devagarinho para detalhar as historinhas. O seu pai trabalhava ali nas Indústrias Francisco Matarazzo. Como era a rua que o senhor morava com sua família nessa época?
R – Como eu disse, eu morava na região entre a Vila Formosa e Vila Santa Isabel. Era Rua Aburu na época, mas sempre, com o progresso das coisas, há uma mudança de nome. E essa rua passou a ser chamada Rua Oswaldo Arouca porque na rua onde nós morávamos tinha aquela metalúrgica Arouca, que fazia chaves, fechaduras. Muito famosa na época, acho que existe até hoje, tem até essa fechadura Arouca. Em homenagem ao dono da metalúrgica Arouca a prefeitura e os órgãos públicos passaram de Rua Aburu para Rua Oswaldo Arouca.
P/1 – E como é que foi passar a infância nessa rua? O senhor brincava ali?
R – Brincava, jogava bola com a meninada. Era muito seguro, que mãe sempre trazia a gente preso. (risos). Os filhos naquela época eram educados de uma forma diferente de hoje. A gente tinha muita obediência aos pais e tudo aquilo que os pais nos pediam a gente obedecia. Eu sou do tempo ainda, talvez vocês nem saibam disso, do 'Bença, mãe', 'Bença, pai' (risos). Vocês devem ter os seus antigos que falam isso. A gente respeitava tio, beijava, ninguém fumava um cigarro se tivesse o vício na frente de um pai, na frente de uma mãe. Havia um respeito. E quando a gente ia em alguma festinha ali por perto ou para algum lugar o pai perguntava: "Para onde você vai?" "Vou na casa de Fulano, de Cicrano, vou em tal lugar". O pai já punha uma ordem: "Olha, nove e meia, nove horas, dez horas eu quero você dentro de casa". Havia esse respeito. E na nossa escola, eu comecei a estudar o meu primário num galpão de madeira. Eu sou da época do mata–borrão, caneta tinteiro, vocês lembram disso? Caneta de pena. Para se pegar uma caneta... Hoje, nós temos essa caneta Bic, essas coisas. Na época era uma Sheaffer, uma caneta de primeira. Para começar a fazer lição com caneta, primeiro você tinha que fazer muita caligrafia. E caligrafia com lápis e também com caneta, que você molhava a pena e fazia aquela caligrafia, começava o a–e–i–o–u, algarismo romano, ia fazendo para posteriormente você passava para o caderno e pegava o mata–borrão. Não sei se vocês sem lembram da época do mata–borrão. Você punha em cima das letras e ele chupava aquela tinta que ficava, para letra ficar bonita e não manchar.
P/1 – E os amigos da escola eram os mesmos amigos da vizinhança? Ou eram turmas diferentes?
R – Era tudo ali da área, a meninada da área, era tudo conhecido, todos conheciam todos. A região ali era um começo, tudo difícil. Ali éramos bastante conhecidos, quase todos nós nos conhecíamos.
P/1 – E o senhor gostava da escola? O que o senhor gostava de fazer?
R – Gostava. Sempre respeitava. E uma coisa que me dá saudades a respeito da escola, eu me lembro, e hoje eu falo assim para os mais velhos, uma coisa que me dá uma recordação muito grande. Hoje, nós vemos notícias, tantas coisas.... Hoje, os alunos não têm mais o respeito por um professor, um diretor de escola. E eu vou dizer uma coisa para os senhores: quando nós entrávamos na escola, nós sentávamos na classe, quando a professora entrava a primeira coisa que nos colocávamos era de pé. E ali, nós orávamos o Pai Nosso, se orava ali a oração do Pai Nosso, cantava o Hino à Bandeira, o Hino Nacional, era aquele respeito, com aquela que ia começar a aula, que a gente tinha ali. Você tinha que fazer, era sagrado, antes do início da aula era aquilo: o Pai Nosso, o Hino à Bandeira, o Hino Nacional. E posteriormente se começava a aula. Qualquer desobediência ou brincadeira na classe era um giz que vinha de lá na cabeça (risos). Eu tenho saudades disso. Às vezes, a professora rodava ali pela sala, você estava conversando, ela passava, dava volta em todo lugar, chegava lá, te dava um puxãozinho de orelha. E se você não obedecesse com certeza papai e mamãe já levava no caderno e tinha que trazer assinado que você não obedeceu a professora, um diretor ou alguém. E havia respeito, sabe? Coração das crianças não tinha maldade, não tinha tantos vícios como nós vemos hoje. É o que eu digo: era outra forma de viver. A gente se contentava com um lanche, o que era o lanche? Não temos hoje como nós vemos nas escolas por aí, que você manda o filho para escola e tem que mandar um dinheirinho para ele porque hoje tem os quitutes da vida, os salgadinhos, os lanches da vida. Nós levávamos um filão de pão, a mãe cortava, embrulhava num guardanapo de pano um pão com manteiga. Muito, o toddy que se fazia e levava numa vasilhazinha fechada. Eu tenho muitas saudades disso, e eu aprendi muito. Eu aprendi, apesar de ter concluído até o ginásio ali, mas a gente fazia tudo com amor, aprendia com amor a tabuada, as lições que a professora dava. Nós éramos obedientes, tinha que ser obediente. Quem era obediente só galgava, nunca repeti nenhum ano. A gente ia devagarzinho, primeiro ano, segundo ano, terceiro ano. Quando chegava no quarto ano, hoje é diferente, eu não sei. Hoje, os nomes mudaram, mas nós tínhamos que fazer o curso Admissão. O que era Admissão? Era um ano para você começar a fazer o primeiro ginasial, ou o primeiro desse curso de Comércio Prático que eu fiz, que era equivalente. E fomos indo. Datilografia, aprender a escrever à maquina. Eram aquelas máquinas de ferro, que quando você batia demais furava até a fita dela, Remington, se não me falha a memória (risos). Era duro aquilo! Você tinha, a–s–d–f–g, vinha com a direita. Eu tenho recordações boas de escola, de infância, de crianças que brincavam comigo. Em casa, eu tenho uma outra recordação: o nosso quintal era muito grande, tinha muita goiaba, pêssego, cana, ameixa, aquelas vespas, e quando dava bastante a gente dividia com a vizinhança e também pegava ali uma vasilhazinha, uma caixinha e saía vendendo por aí. Saía vendendo a goiaba, o pêssego, limão rosa, louro, que é aquele tempero que as pessoas usam na comida. Essa foi a minha infância. E eu agradeço a Deus que foi uma infância sadia, sem maldade. As crianças brigavam entre elas ali, um jogo de bola, jogar taco. Vocês já viram? Jogar a bolinha, derrubar o negocinho, jogar bolinha de gude: tudo isso foi a minha infância. Então, a gente brigava um com o outro, mas daqui a pouco estava se abraçando, se beijando, não tinha maldade, não tinha nada. E havia um respeito entre as pessoas, as famílias, os vizinhos. Eu me lembro, tenho gravado no meu coração, se a mamãe ou o papai ficassem doentes vinha a dona Maria, dona Joana, todo mundo procurava ajudar uns aos outros, vinha lavar a roupa, limpava a casa, fazia comida, ajudava até que a pessoa ficasse boa e se recuperasse. Que saudade. Quando eu via lá quando os vizinhos chegavam, até a própria mamãe, minha mãe quando fazia um bolo de fubá, um doce de abóbora, que era muito comum naquela época, não esses bolos que nós vemos hoje aqui, né? (risos). Era muito tradicional na época um bolo de fubá, um doce de abóbora, já fazia uma quantidade a mais para dar sempre para o filho da dona Maria, para o filho da dona Joana. E assim foi a infância. E ai fomos crescendo.
P/1 – O senhor falou um pouco das brincadeiras de infância. Tinha algum lugar que vocês gostavam de se reunir, uma lanchonete, algum lugar assim?
R – Não. Nossa brincadeira era tudo na rua e próximo de casa, e perto dos pais. A exceção era quando tinha algum futebolzinho e você ia em um campinho, mas era atravessar a rua, duas ruas para cima ou duas para baixo. Mas é só na região, não íamos para fora, não. Era só ali na região.
P/1 – E nessa infância, o senhor chegou a conhecer alguma loja na vizinhança? Ou alguma loja que a sua família fazia compras?
R – Conheci. Próximo de casa tinha o mercadinho do senhor Caetano. Agora me falha o nome da esposa dele, mas até hoje tem os filhos dele lá. O mercadinho do senhor Caetano era o mercadinho onde o papai fazia compras para dentro de casa. Eu me lembro que eu levava um caderno na mão e a mãe falava assim, ela me chamava de Nene: "Nene, nenê! Vai no senhor Caetano, pega um pão, um leite, uma mortadela, uma bolacha e manda ele marcar". E o senhor Caetano ia marcando naquele caderno um café, um refrigerante. Se faltava um arroz, um feijão, comprava tudo lá. Uma mistura, uma salsicha, uma linguiça, uma carne seca, o senhor Caetano ia marcando naquele caderno. Quando chegava no dia do pagamento do papai, a primeira coisa, o pai já parava lá e falava: "Soma minha conta aí, senhor Caetano!". Então, senhor Caetano fazia, era tudo na mão (risos). Hoje tem as nossas calculadoras. E fazia aquela conta. Quando papai acabava de pagar o senhor Caetano, o mercadinho... porque ele nunca deixava faltar nada para nós, tudo o que precisasse, uma maisena, uma bolacha, um fubá, o que fosse, nunca deixou faltar. A gente tinha toda a liberdade de buscar. O senhor Caetano sempre fiava e marcava para gente, confiando, papai sempre foi um homem trabalhador e pagava ele direitinho. E eu me lembro, saudade que me dá, quando ele dava um monte de balas para nós, crianças. Ele dava uma lata de doce, aquelas marmeladas, doces quatro em um, não sei se vocês se lembram disso, tinha cidra, marmelada, goiabada, pessegada. E aquilo era uma farra pra nós. Eu tenho saudade do mercadinho do senhor Caetano. Tenho saudades também da Padaria Ideal, lá na Vila Formosa, que tem até hoje. Quando a mãe pedia para gente ir pagar uma conta de água, de luz a gente ia lá. Eu sempre pegava umas moedinhas, passava lá na padaria e comprava um sorvete da Kibon que na época já tinha. Eu gostava de ir porque na volta eu voltava chupando um sorvete de coco, de chocolate. Tinham muitos comércios ali: a farmácia do seu Nelson, farmácia do seu Júlio, que eram dois farmacêuticos bem conceituados ali no bairro, que todas as famílias, os vizinhos, qualquer um que precisava de qualquer coisinha falava: "Vamos lá no senhor Júlio, vamos no senhor Nelson". Tenho bastante saudade desses lugares do comércio. Auto–Escola Vila Santa Isabel, onde com 18 anos tirei minha primeira carta de motorista. Eu lembro muito disso. A Padaria Virgínia, ali na Vila Santa Isabel, o açougue do, me fugiu o nome dele agora, um açougue muito bom também ali na Vila Santa Isabel, me deu um branco, não me lembro do nome dele. Mas tinham muitos comércios. Tinha loja de móveis, tinha relojoaria ali na região da Vila Formosa, muitas lojas também. Então, o comércio foi. Agora o comércio está bem mais evoluído. Se você for andar ali hoje você já não conhece, mas na infância esses comércios marcaram muito na vida. O carvoeiro. Não sei se vocês se lembram do tempo do carvoeiro. Carvoeiro era o homem que vendia carvão na rua, hoje não tem. (risos). Muita gente tinha fogão à lenha, usava muito carvão para fazer comida, esquentar água. O carvoeiro, todo dia na esquina de casa, agora me falha o nome do carvoeiro. Tinha o galinheiro, que vinha vender galinha no sábado, era uma alegria para nós, todo sábado a tarde passava o galinheiro com a carroça, tempo da carroça, com o seu cavalo vendendo galinha. A mãe já falava assim para mim: "Esquenta lá", era uma lata de 20 litros de água, a gente punha aquela água para ferver, ela ia lá, pegava uma galinha, se tinha um dinheirinho a mais comprava duas galinhas do galinheiro, virava lá o pescoço, punha lá um cabo de vassoura e aquela bichinha ficava pulando (risos). Aí, ela jogava dentro do tanque, a gente vinha com aquela água quente, que já estava fervendo, jogava tudo em cima da galinha e despenava, depois punha no fogo para queimar alguma coisinha que ficava. A mãe limpava e fazia tudo para nós nos alimentarmos, era a refeição, a mistura do final de semana. O homem que vendia o bucho, o bucheiro, vendia aquele fígado, vinha com a carrocinha. O peixeiro, também me lembro do peixeirinho, era um italianão, vendia num carrinho de roda, trazia o peixe, sardinha, pescadinha, aqueles peixes, limpava em cima do carrinho. São coisas que marcaram muito a infância, a vida da gente ali no crescimento do nosso dia a dia. O sorvete! Tinha uma sorveteria perto de casa, não vai pensar que são esses sorvetes sofisticados, não. Era aquela água com açúcar mesmo (risos), limão, laranja, abacaxi, groselha, um coco. E era um sorvete gelo puro, não tinha papel, nada, ele tirava assim da forma e já dava, era redondo, eu me lembro. Aquele sorvete redondo com aquele palito e a gente... Hoje, nós temos muito daquele geladinho, tudo sofisticado, Easycut, acho que é isso mesmo, na rua, que a gente vê muitas coisas hoje que mudaram muito. Eu tenho uma saudade muito grande da minha infância. Essas coisas nos marcaram muito ali no bairro, tanto que estamos aqui até hoje, todas as pessoas nos conhecem desde criança. Ainda tenho alguns vizinhos antigos que os filhos nos conhecem porque muitos também já faleceram, vai chegando a idade, vai chegando o tempo, e vai ficando só a geração que vem sendo formada.
P/1 – O senhor tem idéia de quando esses comércios, do bucheiro, do peixeiro, pararam de funcionar ali no bairro?
R – Eu creio que foi assim.. Eu sou de 50, foi pelo ano de 61, 62. Porque começou depois serem comercializados em mercadinhos, não eram nem supermercados na época, eram mercadinhos. Tinha uma tal de Coap, que era de madeira, se fosse hoje, coitado, não tinha mais nada (risos). Ele fechava com o cadeado, vendia as coisas, era um galpão de madeira numa esquina. Então, foi surgindo o comércio de mercadinhos e essas coisas foram vindo. Mas isso tudo era tradicional na rua. Como tradicional também era a molecada que vendia o pirulito, não sei se vocês se lembram, era um pirulito com várias cores, assim enfiado, redondinho, com aquele açúcar, com palitinho de dente. O pirulito, o algodão doce. Hoje, nós vemos algodão doce de tudo quanto é cor. Mas era aquele homem que vinha com o triciclo, fazia aquela roda, você punha assim, a criança gostava e se lambuzava toda. A geléia, o quebra–queixo, principalmente as pessoas que chegavam há pouco tempo do Norte, tinham a especialidade de fazer o quebra–queixo. Isso tudo foram coisas que marcaram na vida da gente. Aqueles docinhos de açúcar, não sei se vocês já viram, a chupetinha, o galinho, era muito comum, era o doce da época, as coisas que marcaram. Vai vindo o crescimento, a evolução do comércio. Hoje, você vê em um bairro, principalmente onde nós moramos, você sai da tua porta tem um mercado (risos), vira a esquina tem outro. Mas são coisas que marcaram. A evolução, o crescimento é normal no dia a dia, a população vai crescendo, vai se mudando. Eu me lembro, era muito mato onde nós morávamos antigamente, para se chegar até em casa se passava por trilhas. Hoje, você vai ali e são prédios enormes, de muitos e muitos andares. Até a nossa propriedade que foi vendida, onde nós morávamos, hoje é um prédio. Em frente, que era um quintal grande, também é um prédio. Hoje, a área ali é tudo prédio. Eu creio que isso tudo marcou, deu saudades, foram coisas que, como eu digo, o ser humano não tinha a maldade que tem no coração, o respeito. Hoje, mudou muita coisa, o crescimento, mudou muita coisa.
P/1 – E o senhor completou o ginásio ali na escola, e depois o senhor resolveu fazer esse curso voltado à área do comércio? Na mesma escola?
R – Não. Quando eu saí do primário, que era a escola de galpão, eu terminei o quarto ano ali na escola Ana Maria e comecei a fazer esse Comércio Prático. Eu pagava, era fruto do que eu ganhava com o meu dinheirinho, a Escola Comércio Prático Dom Pedro I, Rua Cristovam Giron número 99, eu nunca esqueço. O diretor era o senhor Manuel Bella, e nunca esqueço. Meu professor de Contabilidade, que é o Héber, até hoje nós nos encontramos, eu me lembro que ele me dava aula. Foi onde eu aprendi datilografia, era uma escola particular que já começava na época. Depois dali eu não estudei mais, me dediquei ao ramo do doce, trabalhando e fui evoluindo, fui crescendo, 12, 13, 14 anos vendendo doce. São 41 anos carregando um tabuleiro, comercializando doces.
TROCA DE FITA
P/1 – Quando o senhor começou esse curso de Comércio Prático, que idade o senhor tinha?
R – Foi por volta de 15, 16 anos, não me recordo bem, mas é por aí. Logo que eu terminei, que eu entrei na escola, a gente entra com sete anos, 11, 12 anos fiz admissão, 14 anos, por aí, e fui até os 18 anos, foi quando eu me formei nesse curso de Comércio Prático.
P/1– E como é que foi essa decisão de fazer esse curso?
R – Me deu vontade, mas eu não era muito chegado em estudar. Concluí, mas eu não tinha muito dom para estudo, porque era envolvido com comércio. O meu dom mesmo sempre foi comerciar, engraxar, fazer carreto, vender as coisas, vender o doce que eu comecei. E em paralelo, como a minha esposa me lembrou agora, eu estava trabalhando um dia ali lá na região da Praça da Sé, e ali eu vi uma placa: "Precisa–se de um rapaz para trabalhar no escritório". É na Avenida Rangel Pestana número 243, em frente à Secretaria da Fazenda. E ali era um turco, um senhor árabe que trabalhava no ramo de comércio de bordados. Ele era um representante de bordados do Ceará. Eu fui lá, procurei saber como era aquele emprego e ele me deu a oportunidade. O que eu fazia? Eu saía todo dia de casa, ia trabalhar, chegava lá no escritório e eu carregava os mostruários dele. Ele queria um menino para carregar o mostruário dele e fazer a exposição dos bordados enquanto ele fazia o pedido, com o talão de pedido. Eu fazia a demonstração. Eu trabalhei ali quase um ano, um ano e meio, mais ou menos. Mas paralelo a isso, no final de semana eu pegava o meu tabuleiro de doce e ia batalhar, eu ia para os campos, Morumbi, Pacaembu, vender meu doce. E durante a semana eu fazia esse trabalho. E próximo dele tinha uma loja de disco. Então, o dia que ele tinha algum compromisso, alguma reunião, na hora do almoço, quando ia fazer um lanche ou almoçava ali no escritório, eu descia e fiz amizade com o José Scaranari Júnior, era o dono da loja: Discodélico Musical. Vendia aqueles discos, hoje é tudo CD, tudo moderno. Lembra daqueles LPs, compacto simples? Eu chegava lá e ele falava assim: "Vem cá. Ô Toninho, você não quer ganhar um dinheirinho aí na hora do almoço? Enquanto você está aí na hora do almoço, pega um pano e vai limpando". A gente tinha que limpar disco por disco, que era um plástico, para tirar poeira porque ficava exposto. E eu comecei ali, comecei a ajudar ele. Um dia ele me deu oportunidade, comecei a trabalhar com ele na loja também, aí, pedi a conta de carregar a mala desse representante de bordados e comecei a trabalhar ali com ele na loja, vendendo discos. E ele gostava, eu sempre tive dom para o comércio, eu era ativo. Você ia comprar um determinado cantor, uma determinada música, orquestra, se não tinha eu procurava sempre passar outros, eu não queria perder venda, queria vender. Ali, posteriormente ele abriu uma loja na Praça João Mendes, trabalhei com ele ali alguns anos, foi quando um dia, sem eu conhecer estava ali o diretor de uma gravadora, RCA Victor do Brasil, RGE/Fermata que era na Avenida Paulista, o escritório central. E eu não o conhecia, se não me engano o nome desse diretor era seu Rubinho. Ele me viu ali, foi buscar alguns discos em inglês, viu minha atenção, eu forçando um, forçando outro, eu queria vender. Mas ele não se identificou que ele era um diretor da gravadora. Posteriormente, alguns minutos depois que ele me viu, ele me fez um convite: "Você não quer trabalhar de vendedor lá na gravadora?". Eu fui trabalhar, trabalhei quase um ano vendendo disco, viajei o interior. Mas paralelo a isso, eu continuava vendendo meus doces. Eu sempre tinha o meu paralelo que era o doce. Até que um dia eu estava no estádio do Morumbi vendendo, domingo à tarde, Corinthians e Palmeiras, estou lá com o tabuleiro, daqui a pouco eu bato num cidadão e era o seu Rubinho e uns diretores da RCA–Victor (risos). Durante a semana eu vendia disco e eu estava lá no domingo vendendo doce no campo de futebol (risos). Fiquei ali um ano, um ano e pouco, mas não tive o dom para aquilo, não. Ganhei um dinheirinho, trabalhei muitos anos, conheci alguns artistas seculares da época, fizemos contato e eu vendi discos em paralelo também. Você vê, sempre tive o dom para o comércio. E depois eu parei com tudo, agora só vou me dedicar no trabalho na venda de doce.
P/1 – Falando nessa parte do trabalho, o senhor começou a trabalhar muito cedo?
R – Tinha de nove para dez anos de idade.
P/1 – E o que o senhor comercializava nessa época da infância?
R – Foi o que eu falei, nessa casa tinha um quintal muito grande, e tinha ali uns cinco, seis pés que davam muita goiaba, aquelas vespas, aquelas ameixas amarelas. Tinha um pé de limão cravo que aquilo dava de monte, cana. Tinha uns pés de pêssego que davam pêssego de monte. O que eu fazia? Eu catava todas as goiabas quando iam amarelando, as grandes, a pequena, eu punha numa caixa e ia para as feiras vender, para rua vender goiaba, pêssego, ameixa, louro. Eu sempre me virei. O limão que era muito, hoje temos aí, esse limão tahiti, limão galego, mas naquela época era muito procurado aquele limão rosa, que é parecido com uma mexerica. Eu saía, levava para feira e jogava duas, três folhas de papel de jornal no chão, fazia os montinhos e vendia. Foi onde eu cheguei a conhecer o homem do doce e comecei a trabalhar no comércio de doce.
P/1 – E como é que foi esse encontro, quem era esse senhor?
R – Seu José e dona Aida, eles eram moradores aqui da Rua Ana Neri, a família deles era da Mooca e eles compraram uma residência lá na Vila Carrão. E eles começaram a fazer o doce, juntamente com um irmão do seu José, que chamávamos de Pancho, não me lembro o nome dele. E começaram a fazer o doce ali, na época os canudinhos, que era como chamávamos. Os italianos antigos quando saíam, inclusive o seu José e o seu Miguel... esse doce tem uma história muito grande. É um doce de origem italiana, siciliana, esses antigos quando saíam na rua, eles usavam aquele avental branco, um boné branco na cabeça e saíam com o tabuleiro, como vocês já perceberam que eu vendo ali no estádio, aquele tabuleiro no pescoço. E para venda do doce eles faziam uma cantarola. Então, saía: "Pasticina, labaritina. Boca de anjo, beijo da moça. Cannoli. Língua da Sogra! O cannoli”! Fazia uma cantoria para vender o doce. Eu tive uma experiência agora, questão de uma semana atrás, eu estava trabalhando aqui na região da vila Carrão, um cidadão parou o carro lá, um comerciante que tem comércio aqui na Zona da Estação da Luz, na Rua José Paulino. Depois ele se identificou para mim e falou: "Eu vou te comprar uma dúzia de doces se você me falar qual é o nome desse doce!". Daí, eu falei para ele: "Olha, meu cidadão, quando eu comecei a trabalhar, que eu era moleque, eu me lembro disso, dos cidadãos que saíam na rua e falavam, "A Pasticina, labaritina. Beeeijo da moça, língua da sogra! Cannoliiii! Boca de anjo!". Ele falou: "É a pasticina labaritina, pode embrulhar uma dúzia de doces". Ele falou: "Tinha um senhorzinho que vendia lá na José Paulino, nas zonas do Bom Retiro, aquele comércio ali. E todo dia ele passava e os meus filhos, minha família, todo mundo gostava. E eu falei para ele, e ele fazia assim, ele pegava o tabuleiro e com o pega doce ele batia no tabuleiro "Pasticina labaritina!" Foi onde gravou no Bom Retiro. Você vai à região do Carrão, Vila Formosa, conhece por Língua da Sogra. Você vai para a zona da Mooca o pessoal conhece por cannoli. O cannoli tem vários tipos de recheio. Temos cannolis que são sofisticados, a base de cremes, de ricota, e esse é um doce a base de creme e de chocolate. Foi onde começou a origem desse doce. Para cada espécie de setor, zona, bairro, que tem suas tradições... Tanto que eu vou à Mooca, trabalho no campo de várzea e os caras: "É o cannoli, é o cannoli!". Eu vou lá para o Carrão, Santa Isabel, Formosa, onde eu trabalho: "Língua da Sogra!", vai para o Bom Retiro: "Pasticina Baritina" (risos). Inclusive, tem uma área no Carrão que conhece "Ticina La Baritina, Ticina La Baritina". Era o seu Miguel, quando saía vendendo ele gritava, então gravou isso aí.
P/1 – Esse senhor que fabricava o cannoli, morava perto da sua casa, como é que o senhor se aproximou dele e foi trabalhar?
R – Quando eu via o pessoal na rua trabalhando, vendendo, eu encontrava aqueles vendedores na rua e fui me informar onde vendia o doce. Eu pegava um troquinho, como a gente era criança, não tinha. Eu comecei com ele eu tinha uns dez anos de idade, dez pra 11 anos de idade. O que eu fazia para arrumar um dinheirinho? Eu saía, vendia uma goiaba, pegava um dinheirinho daquela goiaba, numa caixinha de madeira de uva, uma caixinha pequenininha, arrumava um barbante grosso assim, fazia um buraquinho, a linha amarrava, punha no pescoço, eu chegava lá e falava: "Seu Zé, dona Aida, me vende dez doces?". E eu saía vendendo os dez doces. Parava nas vendas, vendia uns papéis, comprava umas folhas de papel, cortava para embrulhar, porque o pessoal levava. Acabavam os dez doces eu voltava. Tinha dia de eu vender 70, 80, 100 doces assim, saindo. Moleque ativo, saía correndo na rua, na feira, vendia logo. Ia naqueles campos de várzea próximo de casa, até que depois eu fui indo mais longe, evoluindo, andei muito tempo de ônibus, pegava os ônibus da época, metrô, trem, bonde, para me locomover com aqueles tabuleiros. Fui muitos anos para o Morumbi, Pacaembu de ônibus, saía com aqueles tabuleiros, Parque São Jorge, o campo do Corinthians, o campo da Portuguesa, muitos campos eu ia. No próprio Juventus, eu ia de ônibus. O meu primeiro carro foi fruto do trabalho que eu fui indo. Quando eu tirei a minha carta com 18 anos foi que eu comprei um fusquinha 62, e nesse fusquinha fui indo. Foi aí o meu começo, quando eu conheci esse senhor. E ali, trabalhando, vendendo doce, um dia eu vi que ele estava em dificuldade e eu comecei a enrolar os canudinhos com a dona Aida, comecei a ajudar por nos tabuleiros para os outros vendedores, porque ia bastante gente comprar doce, que vendiam o doce. E eu comecei a ajudar. E ele viu que eu tinha uma afinidade para aquilo, eu comecei a fazer e ele gostava. Foi quando eu comecei a minha vida. Ele falou: "Você não quer fazer uma coisa comigo, Carecão?". O meu nome lá era Carecão, só me conheciam pelo apelido, não me conheciam pelo meu nome: "Ô Carecão!". Eu tinha até um pouquinho de cabelo na época, se fosse hoje (risos). Eu falei, "Tá bom, então faz o seguinte". Eu ajudava depois da escola, ia durante a semana lá fazer doces com ele até três, quatro horas da tarde. Quando chegava no sábado ele me dava uma quantidade de doces para o sábado e uma quantidade de doces para o domingo para eu vender. Não me dava dinheiro, mas em mercadoria para eu vender. Peguei gosto, fui gostando, fui me aprimorando. Cheguei um tempo, eles também já foram ficando velhinhos, a idade já não os ajudava a fazer, já não tinham muitos vendedores, então, aí foi quando um dia eu resolvi começar a fabricar o doce, eu comecei a fazer o doce na minha casa. Primeiramente, com mamãe me ajudando e posteriormente quando eu conheci a minha esposa, a Fátima, que começou também a me ajudar e tem sido uma companheira e me ajuda bastante.
P/1 – Seguindo essa receita que o senhor aprendeu com a dona Aida?
R – Dona Aida, o seu José e o Pancho.
P/1 – Até hoje é a mesma receita?
R – É a mesma receita. A gente mudou um pouco mais porque hoje a gente já vai em busca de umas essências de baunilha melhores, trabalhamos com mercadoria de primeira qualidade, uma farinha boa. O nosso açúcar é União, não mudamos. O nosso óleo é um óleo bom. Tanto que hoje o meu netinho de um ano come o doce e eu tenho freguês de 80. E tem uma senhorinha de 88 anos que de 15 em 15 dias, 20 dias, ela faz a filha dela sair lá daqueles prédios da Anália Franco, sofisticados, para buscar um docinho para ela comer, e come lá um docinho, dois, com saudade, porque esse foi um dos doces que marcaram na infância das pessoas. Como eu expliquei: o algodão doce, o pirulito, todas essas coisas, a machadinha. Vocês não se lembram da machadinha, não. Machadinha... tinha os vendedores que saíam na rua, dois ou três, porque era especialidade, era rosa e branco, era numa caixinha de alumínio, um doce bem duro à base de açúcar mesmo, ele devia por groselha ali, era muito gostoso. Então, ele quebrava com a machadinha de ferro, quebrava com a espátula, cortava os pedacinhos, colocava num papel e dava. E você punha um pedacinho na boca e ficava o dia inteiro (risos) chupando aquilo e não acabava. Você arrumava um dinheirinho porque doce era a alegria da época e daquele momento que a gente vivia. Infância, coisas de infância.
P/2 – Senhor Antonio, o senhor estava falando de enrolar os canudinhos. Conta para gente como é a receita do cannoli, como o senhor prepara?
R – Olha, é coisa simples. É o que eu digo, para tudo há um dom. Eu ensinei algumas pessoas a fazerem, tudo é questão de um dom. Tem a forminha, os canudinhos que a gente mandou fazer são roliços. Então, fazemos uma massa, uma massa simples, água e sal. Mas existe o ponto da massa, que foi o tempo que nos ensinou a fazer. Aí, cortamos um pedacinho de massa, esticamos no cilindro, um cilindro manual, se corta em pedaços e se enrola. Tem que ter o dom, se não souber enrolar ela abre tudo, você estraga tudo. De vez em quando até acontece com a gente, às vezes na correria. Às vezes eu falo para Fátima que está me ajudando: "Tá abrindo, Fátima!", e ela fala: "Mas não fui eu, foi você!" (risos). "Aperta mais aí!". São segredos. O creme é um creme de água, você pode fazer ele com leite, mas é um creminho de água, é um segredo, porque o leite já requer uma coisa refrigerada para evitar de estragar, de azedar. A minha essência de baunilha, eu trabalho com essência boa. Existem coisinhas baratas que você pode usar, mas a gente procura fazer o melhor, como eu disse. Eu aprendi a fazer o creme, aprendi a fazer a massa com esse confeiteiro também que me ensinou, um confeiteiro do Restaurante Garoto. Eu adaptei um pouquinho mais do que o senhor José, porque eles têm aquela... porque fazia bastante mesmo, mas hoje, como a gente faz aquela quantidade para o dia a dia, para o consumo, não tem. É só para eu mesmo trabalhar. Então, a gente faz com muito amor, com muito carinho, muita dedicação. Dá o tempo necessário de descansar a massa, procura enrolar, vai fritar, dá o tempo de escorrimento de óleo para casquinha não ficar encharcada. Tudo são segredos daquilo que aprendemos.
P/1 – E como é que foi esse encontro com esse confeiteiro do Brás? Como o senhor o conheceu?
R – Eu tinha um amigo, eu o chamava de Paisano, ele era italiano. E o que acontecia com esse senhor Paisano? Ele morava próximo da minha casa, ali no Tatuapé. E ele vendia lanche no Morumbi e no Pacaembu. Na época, quando não tinha carro, ele me dava muita carona. Ele tinha um fusquinha e me dava carona, me levava para o campo, trazia no fusquinha dele. E o Paisano comprava os pães no Restaurante Garoto para fazer os lanches e ir para o jogo. Eu o ajudava a fazer o lanche. O lanche do jogo era o seguinte: nós cortávamos o pãozinho só até o meio, ele pegava uma mortadela, virava assim, cortava no meio, virava em dois, parecia que estava aquele volume. Então, vendia muito lanche nos estádios de futebol, Morumbi, Pacaembu. Posteriormente, se usava um presunto, um salaminho quando estava barato, mas o pão dele era todo do Restaurante Garoto, que é Restaurante, Padaria e Confeitaria Garoto. Tem até hoje na Rua Bresser, de 1930, se não me falha a memória. E como ele comprava e cortava o pão lá, eu ia ajuda–lo a fazer o lanche, cortar o pão. E viramos amigos. Posteriormente, eu tinha o meu carro, ele tinha o dele, era o ponto de encontro nosso tanto na ida para o estádio como no encontro de volta quando ele ia pagar o pão. E ali ele tinha amizade, tinha o pessoal que fatiava tudo a mortadela para ele, já deixava tudo no jeito. Foi quando um dia eu estava ali conversando e eu conheci esse senhor que era o confeiteiro, e ele viu o creme e falou: "Vou te ensinar um creme que você vai melhorar a qualidade desse canudinho". E ele me deu todas as coordenadas, me passou direitinho, eu comecei a fazer, ele falou: "E aí, aprendeu?". Apanhei muito porque até a gente chegar... e ele foi me orientando. E graças a Deus eu aprendi com ele.
P/1 – Então, hoje o seu cannoli é um aprendizado da época da dona Aída...
R – Dona Aida, seu José e desse confeiteiro que me deu umas coordenadas para fazer o creme. A massa eu procurei também. Se usava fermento na época, eu já não uso fermento. Por isso que fica uma massinha folhada, são segredos, são detalhes. A gente vai aprendendo, porque tudo é tudo, você tem que ter o óleo numa caloria boa, tudo certinho para coisa ficar gostosa (risos).
P/1 – E essa idéia de começar a frequentar os campos de várzea, como é que surgiu? Quando surgiu?
R – Próximo de casa tinham vários campos de várzea, e no sábado a tarde sempre tinha futebol. Lá na região do Carrão tinha o Sete Campos, que hoje é o Centro Educacional da Vila Manchester. Eram sete campos de futebol, trave com trave, e aquilo era um volume grande de pessoas que iam no sábado a tarde, num feriado, no domingo. Domingo era o dia todo, tinha jogo de manhã, de tarde, até a noitinha. E garoto esperto, com aquele tabuleiro de doces, eu ia encostando nos campos, o negócio foi fluindo e a gente pegando gosto. E vi que funcionava e que vendia. Os times que vinham jogar compravam e dali eu fui para outros campos. Tinha o Guilherme Jorge, tinha o Rádio, o Tes, o Flor, na Vila Formosa, o Americano, União, o Paraguaçu, campos que eu vou até hoje, campos de anos de várzea que são muito conhecidos, Sampaio Moreira, ali onde é o Centro Educacional do Tatuapé, vários campos. E eu fui pegando gosto pela várzea. Ali você vai tendo conhecimento onde tem um festival, onde tem um torneio, uma copa. Ontem mesmo eu trabalhei lá no campo do Cecília Meirelles, Magnólia, lá na Vila Maria, o campo do Lagoinha, fui lá fazer um jogo do Torneio Copa Kaiser. É um torneio que tem todos os domingos pela manhã, eu fui lá trabalhar, é um volume. Ontem tinha quase quatro mil pessoas no campo de várzea. Você vai no campo do Nacional no domingo, lá na Arena Kaiser, em frente ao CT do São Paulo, em frente ao CT do Palmeiras, ali na Barra Funda, são cinco, seis mil pessoas todo domingo de manhã. O garoto vendedor vai onde está o movimento. Então, eu peguei gosto pela várzea, eu vou para vários campos na zona Norte, Leste, trabalho na Copa do Negritude, ali na Cohab I em Itaquera. Sou muito conhecido pelo doce. É um ponto de encontro de amigos, pessoas que vão, onde aqueles veteranos de 50, 40 anos... tem aqueles torneios de veterano Master, hoje leva o nome de Master, vão lá, tem aqueles campeonatos, eles se juntam, se reúnem, e já conhecem a gente há muitos anos. E se torna tradição, quando ele vai para o campo a esposa já fala: "Olha, não esquece de me trazer o doce". A gente faz o comércio da gente quando termina o futebol, eles terminam de jogar a sua bolinha. A torcida está ali, você sempre faz uns pacotinhos para os fregueses levarem pra casa. E a várzea é uma coisa que nos abençoa muito, é um forte nosso, muito conhecido. Hoje, a várzea também não é fácil, ela é perigosa para trabalhar, mas a gente tem aquele jogo de cintura, sabe onde vai, se tem uma confusão a gente procura fugir, mas graças a Deus foi o gosto por vender nos campos de várzea, os campos de terra batida. Às vezes, você vai lá ao campo, você encontra ali o amigo que vende o sorvete, é outro que vende uma cocadinha. Foi aí que eu comecei nos campos de várzea e hoje eu sou muito conhecido na Vila Maria, Casa Verde, São Miguel, Guaianazes; Eu vou para vários lugares e nesses lugares eu tenho muito conhecimento, muitos times nos conhecem, inclusive já fizemos muitas reportagens de campos de várzea.
P/2 – O senhor também falou que ia para estádios grandes, Morumbi, Canindé...
R – Morumbi, Pacaembu, Parque Antarctica, Canindé, Parque São Jorge.
P/2 – O senhor não vai mais? Como é que era pra entrar e tudo o mais?
R – Hoje, eu não vou mais porque antigamente a gente era muito conhecido, moleque, havia algumas condições para você entrar e facilidade de entrar. Mas em tudo a gente tem respeito e ética, eu nunca gostei de forçar nada, eu sempre chegava lá, o pessoal dava uma oportunidade e a gente entrava e vendia os doces da gente. Hoje, eu sei que em cada campo tem a sua regra e eu tenho que respeitar. Tem lá as pessoas que comandam o setor de vendas, tem as pessoas que fazem lá, tem o seu trabalho e alugam o espaço para trabalhar, então, a gente tem que respeitar. Até a própria polícia hoje, ela também organiza isso para que não haja invasão de marreteiro, camelô e pessoas invadindo aqueles que têm ali o direito de trabalhar, o seu espaço para trabalhar, porque pagam. Sabendo disso hoje, que nem outro dia eu vivi uma experiência no campo do Nacional. Eu tenho autorização ali da diretoria, o pessoal da lanchonete, senhor Nelson, todos nos conhecem, quando vamos lá ninguém nos barra. Estava lá o policiamento, um policial que não nos conhecia tentou barrar. Eu falei: "Olha senhor, eu trabalho aqui, mas eu vou respeitar o senhor, se o senhor não me deixar entrar eu não vou entrar de jeito nenhum, eu vou respeitar a sua autoridade, que afinal de contas eu tenho que respeitar". Hoje, a gente já não é mais aquele moleque como antigamente, que tentava pular o muro. Fazíamos muita coisinha dessa para entrar no estádio, hoje não. E ele gostou da minha atitude e perguntou: "Mas o senhor trabalha aqui?". Eu falei: "Trabalho aqui, se o senhor procurar Fulano, pode perguntar e ligar pra ele que ele vai autorizar eu a entrar". Ele procurou lá o Carlinhos, que é um dos diretores: "Não, não, é o senhor Antonio, ele tem acesso aqui, ele pode trabalhar". Tanto que até o pessoal da lanchonete nos conhece e nunca colocou obstáculo, e assim hoje é no Juventus. Nós chegamos ali, nós temos autorização da Diretoria, tudo, para trabalhar dentro do estádio. E hoje uma coisa engraçada no Juventus, uma coisa que nos chama atenção, muitos vão no futebol também para comer e comprar o doce (risos). Virou uma história ali dentro da Rua Javaris, você entendeu? O pessoal diz: "Senhor Antonio, pelo amor de Deus, não deixa acabar que se eu chegar em casa sem doce eu não venho no próximo jogo" (risos). Virou uma história, entendeu?
P/1 – Tem alguma torcida que comprava mais o doce, desses times grandes? Talvez por seu um doce italiano, a torcida do Palmeiras, ou isso nunca aconteceu?
R – O estádio de futebol era muito bom para trabalhar antigamente porque as torcidas se misturavam, não tinha tanto conflito como tem hoje. Hoje, nós vemos que é difícil. Eu cheguei a vender 300 doces no Morumbi em coisa de dez minutos, chegar, entrar no intervalo e vender tudo. As pessoas colocavam: "Ai seu Antonio, peguei dois, peguei três, peguei quatro". Hoje, já não é assim, hoje existe muita violência nos estádios, está difícil trabalhar nos estádios. Por isso eu agradeço a Deus, o campo do Juventus é um campo tranquilo, que tem ordem, onde as pessoas te conhecem. Um campo que todas as torcidas gostam de ir assistir a um jogo, seja são paulino, palmeirense, corintiano. Vocês já tiveram oportunidade de ir lá, viram que é família, têm crianças, mulheres grávidas, senhoras de idade, tem moças que vão assistir ao jogo, isso é tranquilo. Esses são ambientes bons para se trabalhar. Hoje, é difícil trabalhar em um estádio de futebol, eu já vendi em estádio do Morumbi com 113 mil pessoas, 100 mil, 80 mil, hoje nós vemos clássicos aí com 25, 30 mil. Tivemos recentemente um jogo do São Paulo no Morumbi, Rogério Ceni com mil jogos ali, 60 mil pessoas. Mas não se vê falar mais isso, e é no Brasil todo, o máximo são 30, 40 mil pessoas. Por quê? Muita violência, muita briga, muita confusão. E isso afastou muita gente dos estádios. A falta de respeito com as autoridades, com policiamento. São coisas que hoje é difícil ir nesses lugares e eu procuro ser mais reservado. E eu tenho esse meu cantinho ali, eu agradeço a essa porta ali que o Juventus nos deixa ali, trabalhar, porque é um clube família, é um clube que você tem tranquilidade, que você sabe que você vai fazer um negocinho e ganhar o seu dinheirinho sossegadinho. Se vocês tiveram oportunidade de ver algum jogo ali você vê que não existe confusão, existe se perde, um ou outro que fica mais eufórico, mas fica naquilo, um palavrão, xingar, ofender, chutar uma parede, mas não se vê violência. Então, é isso, futebol é isso hoje. Futebol é meio difícil para as coisas. Mas tudo isso é o tempo, o tempo nos levou. Hoje, também a gente mudou, a idade chega, o tempo chega, a gente já não tem mais aquele... então, trabalhamos dentro de uma normalidade.
P/2 – E hoje em dia o senhor trabalha em outros locais também ou só em estádios?
R – Trabalho na várzea, trabalho em feiras, vou em algumas festas de igrejas. Eu tenho um roteiro de trabalho, tenho freguesia em algumas igrejas que eu vou. Eu tenho um pontinho lá no Assai do Carrão à tarde. Trabalho na zona cerealista ali do Brás, Gasômetro, Zona Madeireira, Caetano Pinto, que é onde o doce é muito conhecido. Eu divido, dois dias vou para um lado, dois dias vou para o outro. Vou para a Rua da Mooca, Rua dos Trilhos, faço feira da Mooca, faço uma feira do Belém, outro dia faço no Carrão, outro dia faço na Vila Formosa. A gente divide assim o espaço, um pouquinho para cada lado, mas isso já é uma janela de muitos anos de trabalho. É uma semente que a gente plantou lá atrás e você vai buscar hoje.
P/1 – O senhor sente uma diferença no público, ou de faturamento, de vender na feira e vender no estádio? É muito diferente?
R – O futebol é um pouquinho diferente porque, no meu caso, às vezes você vende de um a um, dois a dois, cinco, cinco, dez. Na feira geralmente a mulher compra: "Ô seu Antonio, meia dúzia, me dá um chorinho". Coração mole, às vezes você dá um, dois a mais. No valor do faturamento muda. Às vezes chega criança, não tem dinheiro, leva. "Seu Antonio, só tenho cinco reais, dá para fazer um pacotinho aí?". E o coração é mole, a gente dá. Eu não nego nada para ninguém, com dinheiro, sem dinheiro, vai comer o meu docinho. Me comprou um pacotinho vai levar um, vai levar dois, vai levar três a mais. Nunca você vai levar um real, você me compra dez doces, vai sempre dois, três a mais. No final das contas, se você for ver, aquele doce que você levou nunca é, aquele x da coisa, que sempre vai dar uma defasada. Você abençoa um com um pacotinho, abençoa outro com o pacotinho. Eu sou assim, a gente abençoa tudo. Abençoa as pessoas que estão ali no campo, a gente sempre dá um pacotinho para as pessoas. Para todos, enfim, é o porteiro que está ali. A gente tem aquelas amizades, aqueles velhinhos que vão lá, já sabem que com cinco reais vão levar um pacotinho, vai levar a mais do que o valor real do doce, são essas coisas que a gente tem que ter, esse jogo de cintura para as pessoas que atende. Mas na questão de faturamento, ele nunca chega a ser real porque sempre dá essa quebra, essa defasagem. Outro dia uma jovem fez uma entrevista, ela até pôs na matéria. "Engraçado que a gente vai lá e compra cinco, quando vai olhar o pacotinho tem seis, sete, oito". Você põe isso no final, a gente já faz uma quantidadezinha a mais porque sabe que sempre vai abençoar um com um pouquinho a mais. E uma coisa eu vou dizer para vocês, como ser humano que somos, e tudo o que nós aprendemos, como eu disse, eu agradeço a Deus por isso. Eu aprendi uma coisa: você fazer alguém feliz é uma coisa muito importante. Eu tenho vivido muitas experiências no meu dia a dia e eu me alegro trabalhando nesse ramo de doces. Um dia eu estava trabalhando ali na região da Vila Formosa e uma senhorinha, uma vó, com os dois netinhos, e ela passou e o garotinho queria um doce, e do meu lado tinha uma loja de 1,99 que vende aquele sorvete de massa, aquele na casquinha, um real também. Olha a situação da senhorinha, coitada. A menina queria o sorvete, o menino queria o doce e ela ficou ali no jogo. Eu ali, "ou eu compro o doce ou o sorvete". Aí, eu cheguei, chamei a senhorinha, precisa ver a felicidade deles. Eu falei: "O que ele quer?" "Ele quer o sorvete" "E você?" "Eu queria um doce". Peguei um doce e dei para senhorinha, dei um doce para o menino, dei um doce para a menininha e falei: "Vai lá e agora compra o sorvete com o um real". Precisava ver a alegria! Saíram todos sorrindo! Acabou o choro, acabou tudo. Não é gostoso você ver isso? Outro dia uma jovem senhora falou: "O senhor lembra de mim?". Eu falei: "Eu não tenho recordação, mas acho que você trabalhou aqui no Assai" "Trabalhei. O senhor lembra quando eu estava grávida da minha filhinha?", falei: "Lembro". Ela virou e falou para mim: "Eu agradeço a Deus pelo senhor, muitas das vezes o senhor matou minha fome me dando dois, três docinhos para comer porque eu não tinha o dinheiro". Isso é gratificante. Hoje, eu encontro moços na rua, homens casados que me param, isso é uma história de vida que eu estou contando para vocês que é uma realidade. Eu passo e eles falam: "Olha, eu era criança, era menino, passava perto dele 'Ô tio, dá um docinho', ele nunca negou um docinho. Eu estava com meus amiguinhos e ele nunca negou para os meus amiguinhos". Só que hoje eu não vou te pedir, eu vou comprar para os meus filhos. A esposa está junto e ele fala: "Esse senhor aqui”. Eu trabalhei muitos anos ali na zona do Mercadão da Cantareira, Rua 25 de março, Galeria Pajé, aquela zona central. Hoje, não vou mais porque está difícil trabalhar ali porque temos que respeitar as leis, a prefeitura: não pode, não pode, chega um momento que não pode, então... E tinha aquele prédio que foi demolido recentemente, o treme–treme, quando eu parava o meu carrinho ali naquela praça, descia com o meu tabuleiro, só via aquelas crianças já descendo correndo do prédio atrás de mim: "O tiozinho, tem jeito?" "Tem". Eu vou nos campos de várzea por aí, às vezes, o Fulano não tem dinheiro, come, come, come e depois vem lá: "Olha, peguei um, peguei outro, te devo dois, três". Você fazer alguém feliz é muito importante, e com uma coisa simples, com um docinho simples você vê a felicidade das pessoas. E isso alegra o nosso coração e, graças a Deus, não tem faltado nada.
P/1 – Com essa proximidade da Copa do Mundo, como o senhor pensa que vai ser o seu faturamento? Pessoas de vários países vindo para São Paulo...
R – É o que eu digo, para cada tempo é um tempo. Muitos que vem para cá não conhecem ainda a mercadoria, esse é um doce tradição, um doce família, de bairros históricos, Pari, Mooca, Água Rasa, Belém. Pode até ser de outras pessoas, mas aí já envolve um monte de coisa, trabalhar nos estádios por aí. Pode ser que se abra alguma exceção, em algum campo de futebol e você pagando lá, dando uma comissão você trabalhe. Mas eu ainda acho que vou continuar na minha, quietinho, no meu dia a dia (riso). O meu pão de cada dia Deus dá. Porque você já tem que montar uma equipe grande, a história muda as coisas, e às vezes não vai fluir. Eu creio que sempre do pouco vira muito para gente suprir as nossas necessidades, os nossos compromissos.
P/1 – Quando foi que o senhor parou de trabalhar nesses estádios dos grandes times?
R – Já faz uns 25 para 30 anos que parei, não vou mais. Nem na Portuguesa que eu gostava de ir eu também não vou mais. Eu trabalho ali no Nacional, no Juventus e os campos de várzea. Eu me sinto mais seguro hoje. Mais segurança, mais à vontade, com mais liberdade. Hoje, eu não tenho a liberdade que eu tinha quando eu tinha meus 20, 25 anos. E trabalhei 30 anos nesse campo aí, desde pequenininho até os 35, 40 anos. Hoje, já estou com 61 anos, já não dá para correr, não dá para enfrentar. É o dia a dia, o pique também, a gente já vai mais devagarzinho.
P/2 – E o senhor trabalha todos os dias? Tem dias que o senhor fica só fazendo doce, outros dias só vende, como é que é?
R – Esse é o segredo da coisa: o doce é feito todo no dia. Cinco e meia, seis horas da manhã estamos de pé. Eu não aprendi ainda a fazer uma quantidade para vender posteriormente. De vez em quando eu adianto um pouquinho que dá trabalho de fazer os canudinhos, as casquinhas. É um dia só também, um dia antes eu não vou trabalhar para rua, adianto um pouquinho para me dar as condições de levar a quantia que eu quero levar. Mas o segredo é: todo dia eu ponho a mão na massa. E tem uma outra coisa: se sobrar doce eu dou para os vizinhos. Eu já venho na rua dando um pacotinho para cada um, para os guardadores de carro, aquele pessoalzinho que fica ali na praça para onde eu vou, eu não vendo doce de um dia para o outro. Não consigo.
TROCA DE FITA
P/1 – Senhor Antonio, quantas pessoas te ajudam a fabricar o cannoli, hoje? Quantas pessoas ajudam a comercializar? Quem te ajuda?
R – Hoje, quem me ajuda é a minha esposa. Às vezes um filho quando não está trabalhando, quando eu preciso, que ele vê que estamos necessitando. Tem o Davi, tem o Paulinho, a Fábia, que me ajudava também, mas hoje ela está morando lá em Maringá. Vem em casa e vê eu e a mãe naquela correria. Eu tenho também a Rose, que criamos, a Naiara. Hoje, ela está esperando neném, está naqueles dias e não tem mais aquele pique. Mas eu sempre tive o auxílio dos meninos que me ajudam em casa Mas hoje a minha companheira é minha esposa, ela que me ajuda. Eu e ela que pegamos ali e vamos à luta.
P/1 – O senhor mencionou que chegou a tentar ensinar algumas pessoas a fazer. Quem o senhor tentou ensinar?
R – Às vezes as pessoas me perguntam assim: "Senhor Antonio, o senhor me passa a receita?" "Passo" "Mas o que acontece que não dá certo, não acerto isso". Eu falo: "Tudo é o dom". Eu já fui em casa de pessoas, mostrei como faz, tudo, depois a pessoa vai e não consegue. Teve um, hoje ele é um pastor evangélico, pastor Luiz, que está lá em Itaquaquecetuba, da nossa Igreja Cristã Evangélica Presbiteriana. Homem profissional, formado, torneiro mecânico de primeira qualidade. Chegou um momento na vida dele que ele passou uma dificuldade. Homem que Deus restaurou a vida, ele veio do mundo errado, fazia muita coisinha errada lá fora, mas se consertou, se regenerou, teve a vida transformada. E chegou um momento da vida dele que ele passou muita necessidade. E um dia ele conversou comigo, falou assim: "O senhor não quer me dar uma ajuda?" "Vem para casa, vem para cá". E eu digo para você, durante muitos meses, muito tempo, ele ia lá trabalhar comigo, fazer o doce, eu pegava, não queria nada. Eu falava: "Luiz, vai para rua, vai vender, vai resolver as tuas coisas". Ele foi, aprendeu, ajudou. Esse pegou a coisa com amor e por muitos anos ele conseguiu suprir as necessidades dele, dos três filhos que ele tem, da esposa. E hoje, graças a Deus, Deus o abençoou e hoje ele está a frente de um trabalho evangélico, está com 11 igrejas! Cresceu muito, ali no campo de Itaquaquecetuba. E eu o levei para trabalhar na minha freguesia. Não que eu o soltei para os outros lugares, eu falei: "Eu não posso ir para determinado lugar, você vem para cá". E fazia todo o setor comigo: Caetano Pinto, Piratininga, no Brás. Inclusive, todo mundo o conhece como meu irmão! (risos). Nas feiras livres. Eu fico feliz por isso porque ele aprendeu. Mas é aquilo, às vezes a pessoa ou não tem paciência, é tudo questão de você... E eu ensinei muitas pessoas. Às vezes, as pessoas querem mudar um pouquinho e se você mudar a coisa já fica diferente. É como a mamãe faz o arroz e feijão, ela tem um segredinho, uma pitadinha de sal a mais, um pedacinho de alho a mais, já muda, outra pessoa vai fazer e não consegue fazer. Minha companheira é a minha esposa que me ajuda, quando eu estou ali eu dou um grito lá: "Ô Davi!", ele vem, Ou algum outro, eu dou um alô e eles vêm e me ajudam. Eu estou amparado, somos uma família e eu sempre vou zelar pelos meus filhos. O que eu puder fazer pelos meus filhos, o tempo de vida que Deus me dar, eu não vou deixar de fazer, isso eu carrego comigo. Estão todos casados, mas estou ali [estala o dedo], lado a lado deles. Em todos os momentos da vida deles, naquilo que eles precisarem, eu estou ali. Eu divido aquilo que é meu, que Deus me dá. E uma coisa eu aprendi, e hoje eu vejo a resposta: quando eu preciso de qualquer coisa eu dou um gritinho [estala os dedos], eles também chegam junto.
P/2 – Senhor Antonio, o senhor falou que faz os doces todos os dias.
R – Todos os dias.
P/2 – Como é que funciona a compra dos ingredientes? O senhor compra onde, quem vai fazer essa compra?
R – Essa compra sou eu mesmo que faço. Eu saio para rua, vou vender meu docinho, no final da noite entro no carro lá e falo "Vendi tanto". Toda vez que eu saio de casa de manhã eu falo: "O que falta, Fátima?" "É o arroz, traz um café, traz um Melita" "Tem mistura?" "Tem". O fruto do trabalho eu divido para o suprimento do lar. Liga para filha, liga para o filho: "Falta alguma coisa?" "Davi, Paulinho, Naiara". Eu já vou citando o nome de todos e pergunto: "Falta alguma coisa?". Aí, eu pego... uma conta de luz, uma conta de água, os compromissos do dia a dia que todo cidadão tem, um imposto, um telefone, uma recarga de celular. Quando sobra eu paro lá ou vou em um supermercado do bairro. O meu forte é comprar no Assai que é um atacado, tem dois lá perto, tem ali no setor onde eu trabalho no Carrão e tem um próximo de casa. Eu vou lá, compro cinco quilos de farinha, cinco de açúcar, três latinhas de óleo, e começo outro dia a minha vida novamente. O comprador sou eu, o vendedor sou eu (risos) e o administrador das coisas sou eu (risos). A gente procura administrar: entrou 50? Vamos administrar os 50, entrou cem? Vamos administrar os cem. Fruto daquilo a gente administra no dia a dia. Então, falta uma baunilha, falta uma coisa, eu já tenho as fontes onde eu vou buscar, é o papel pra trabalhar, a gente divide tudo direitinho.
P/1 – O senhor atende encomenda? Por exemplo, alguém na Rua Javari pede para o senhor fazer 10, 20, 30 cannolis para o domingo que vem, o senhor atende?
R – Atendo. Inclusive hoje a Fátima disse: "Antonio, mas de sábado tem jogo". Um senhor me ligou cedo, eu estava no trânsito dirigindo, estava levando–a no metrô que ela ia levar a menina, que ela tá dando uma ajuda, lá no advogado. Daí ela falou: "Quem é?" "É Luiz português, fala para o seu Antonio que é o Luis português!". Ela falou: "Você não pode ligar daqui a pouco que ele está no trânsito?", porque eu não pego celular no volante. Ele me ligou depois, às onze horas, e falou: "Preciso de 75 doces para meio–dia, meio–dia e meia" justamente sábado. Eu falei: "Ó Luiz, eu vou tentar correr para te levar aí, porque eu também vou para o futebol. Mas eu sei que eu vou conseguir e vou levar". E eu tenho encomenda, sim. Eu tenho bastante encomenda. Ainda outro dia um escritório ali na Rua Mendes Caldeira, no Brás, o senhor Valdemar já falou: "De 20 em 20 dias você vem aqui". Eu vou. E me ligou um lá, levou 30. Ele tem vários funcionários, me manda fazer um pacotinho de quatro, meia dúzia para cada um, para os funcionários da casa dele, para as filhas. E quando a gente vai ali é uma encomendinha de cem doces, 120 doces. Outros que ligam quando vão fazer uma festa, um churrasco: "Senhor Antonio, o senhor me traz 30, me traz 50?". Eu vou lá, levo, não importa a distância, eu vou lá e levo. Inclusive, só quando acontece alguma coisa de última hora que não dá e eu ligo para pessoa, pego o telefone e falo. Que nem outro dia, um amigo queria os doces, mas não deu, não trabalhei, tive uma corridazinha. Às vezes, você programa para trabalhar, mas tem alguns imprevistos no dia a dia que não permitem. Eu ligo, peço desculpas e fica para outro dia. Mas eu aceito sim, levo. Inclusive minha filha agora me fez uns cartõezinhos, depois de tantos anos: 'O cannoli do seu Antonio', com telefone, Fátima, Antonio. Agora ela vai, dá um cartãozinho para um, para outro, passamos o telefone. Eu vou, atendo, se me pedir dez eu vou. Já cheguei em casa para levar meia dúzia de doces, eu vou. Minha esposa fala: "Antonio, mas você...". Eu vou, vou com prazer. É uma semente. Hoje você vende meia dúzia, amanhã te levam uma dúzia, depois te pedem 20, 30. Outro gosta, pede, outro informa o outro.
P/1 – E é o senhor mesmo que entrega ou tem alguém que entrega para o senhor?
R – Eu mesmo. Tudo sou eu e minha esposa.
P/1 – O senhor já pensou em ter uma loja fixa?
R – Rapaz, eu já até pensei. Mas o que falta são pessoas para chegar junto. Já até pensei com os meus filhos, mas nenhum leva o dom (risos), ninguém gosta de trabalhar com doce, rapaz. E você sabe, em tudo você tem que ter uma mão de obra, não é fácil. Você tem que ter o dom, a dedicação. Tem que ter aquele carisma com as pessoas. Mas eu creio que se for vontade de Deus, logo, logo a gente pode até pensar nisso. É uma idéia boa.
P/1 – O senhor já pensou em conversor com a diretoria do Juventus ou do Nacional, para disponibilizarem um espaço dentro do estádio, uma cozinha?
R – Sempre tem promessa disso. Inclusive, um amigo que faz parte do conselho do Juventus falou: "Se eu chegar lá vou fazer um quiosque para você, isso vamos mandar fazer para você". Mas eu quero dizer uma coisa para você: às vezes, os grandes segredos dos grandes negócios, o sucesso dos negócios está nas pequenas coisinhas. Uma mesinha lá, um tabuleirinho, uma banquinha (risos). Isso eu aprendi, 50 anos com humildade. É aquilo que eu falei para vocês, não tem aquela visão de... mas é bom, sim. Não vou dizer que se surgir oportunidade, a gente quer mesmo. Você tem mais liberdade ainda, mais aconchego.
P/1 – E no caso do senhor ter o apoio para abrir uma loja, onde o senhor gostaria de ter essa loja?
R – Você tem que trabalhar em um bairro, em um setor onde a mercadoria é conhecida. No caso ali da redondeza, Carrão, Mooca. Apesar de que o doce em si é um doce de tradição antiga, eu creio que em qualquer lugar que você for sempre tem sucesso. Porque já fomos em tanto lugar difícil e conseguimos fazer boas vendas. Eu creio que se um dia eu tivesse oportunidade eu vou ser bem sucedido nessa área. Meu filho Paulinho sempre pega no meu pé: "Meu pai pensa sempre pequeno", ele fala. "Meu pai não tem a mania de fazer, por as pessoas para vender, por as pessoas na rua para isso". Mas a gente precisa ir com cautela, com calma, com determinação, não é de qualquer jeito também.
P/1 – Depois desses anos todos no comércio de doces, qual foi o período que o senhor lembra que teve mais dificuldade? Qualquer tipo de dificuldade, de venda, ou outro tipo de dificuldade?
R – Olha, problemas, dificuldades, a gente enfrenta muitas vezes. Mas como eu digo, hoje eu agradeço a Deus porque tem ventos que às vezes abalam sua estrutura. Nós somos normais, somos seres humanos normais, e, às vezes, a gente sente dificuldade, lutas, problemas. É uma enfermidade, uma coisa de um ente querido, muitas coisas a gente enfrenta no dia a dia, até por trabalho. Já chegou dia de eu sair, essa semana mesmo que passou, três, quatro dias eu trouxe quase todo o doce de volta, com toda a experiência que eu tenho. Tem dias que é difícil você vender o doce. Tem dias que nem todo mundo tem um real para comprar um docinho, ou dois reais. A gente volta com toda aquela mercadoria, você fala: "Olha, tantas horinhas de trabalho". Mas eu digo assim: "Seja feita a vontade de Deus, não tem problema, amanhã é outro dia, amanhã pertence a Deus". Mas uma coisa que eu tenho experiência, com todas as dificuldades, todas as lutas, problemas que eu já enfrentei com 61 anos de idade, só estou de pé porque Deus me sustentou. Eu já enfrentei muitos problemas, muitas lutas mesmo. Luta para desistir, luta para desanimar, luta para parar, mas eu nunca entreguei os pontos. Uma coisa eu carrego comigo e digo, eu sempre fui guerreiro. Às vezes eu estou ali, mas vou, me levanto e vou a batalha novamente. Não entrego os pontos, não. Se eu fosse desanimar, já chegou o dia de eu voltar e não ter dinheiro nem para comprar mercadoria. O pouquinho que você tem de mercadoria e começar novamente a atividade. São experiências que a gente já passou, mas Deus sustentou, Deus abençoou, Deus dá toda a estratégia, dá direção. E hoje, o que é muito importante, que era bom que todo ser humano pudesse ter é muita paz no coração. Com paz no coração você consegue discernir, ter entendimento, quando momento está difícil, quando a luta está difícil, aí, você vai e pede à Deus direção, orientação, e Deus começa a te dar a estratégia, por onde sair, por onde começar, como suportar. Hoje, não é fácil lidar com o ser humano, mas você tem que ter sabedoria. Até as pessoas que te odeiam, nós vamos encontrar no nosso caminho pessoas que não gostam da gente, não querem ver o nosso bem, não querem ver o nosso sucesso. Pessoas que muitas vezes se puderem ver você lá no fundo do poço... Mas aí, você vai com jeitinho, com amor, com carinho, com humildade, você contorna a situação, passa por aquele momento e vai em frente. Já passei por muitos momentos difíceis mesmo. Momentos de olhar para frente e não ver saída, olhar para o lado e não ver saída, olhar para traz e não ver saída, olhar para um lado e não ver um ombro amigo, não ter uma palavra de ânimo, de força. Mas graças a Deus, tudo isso eu superei, em tudo isso venci. Então, eu glorifico a Deus. Se hoje eu sou o que eu sou com humildade, eu agradeço a Deus, que mudou muito a minha vida, meu ser, minha maneira de agir. Eu glorifico a Deus por isso. Eu só tenho que agradecer. Deus tem sido tudo para mim, e meu amanhã não é meu, é d'Ele. E sempre, na mão d'Ele eu tenho um escape, uma saída.
P/2 – Qual é a sensação que muitos desses clientes se tornaram seus amigos e hoje levam os filhos, os netos para comprar. Como o senhor se sente, como é que é?
R – É o carinho e o carisma de tratamento com as pessoas. Comprou, "Deus te abençoe", não comprou, "Deus te abençoe". "Não vai levar nada?" "Não, estou sem condições" "Leva". Você vai plantando sementes, conquistando amigos, tratando bem o ser humano. "Senhor Antonio, eu estou com vontade, dá para o senhor me dar um docinho? Eu não tenho dinheiro" "Come, leva três, leva quatro" (risos). "Dá para mandar um para mamãe, para vovó?" "Leva". É saber lidar com o ser humano. Eu vou dizer uma coisa para vocês, eu lido com muitas pessoas difíceis em muitos campos de várzea. Pessoas mesmo de... Mas eu não deixo de passar ali, cumprimentá–los, dar a mão, falar uma palavra de conforto. Muitas vezes estão ali na droga, na bebida, mas sempre vou lá, cumprimento e vou ganhando amigos. Conselho para as pessoas que estão no caminho errado. Quantos conselhos? A gente vai ali. Você vai formando amigos. Que nem você vê, você pega um velhinho que fala assim. Outro dia a Fátima estava trabalhando comigo ali na saída do estádio após o jogo, um senhorzinho, 80 e poucos anos estava com o filho dele e falou para uma mulher policial que estava do lado: "A senhora sabe há quantos anos eu compro doce desse homem aqui? Eu era moço, 50 anos eu compro doce com ele", que são 51 anos de ramo. Cinquenta anos eu compro doce dele! Não é bonito? Quer dizer, nesses 50 anos, eu acho que alguma coisa que eu me expressei, a forma de se dirigir, a forma de tratamento com as pessoas, o carisma, você vai conquistando, vai ganhando essas pessoas. Até aquela pessoa que tem uma índole de maldade você acaba ganhando. Outro dia, eu estava trabalhando em um campo aqui na Vila Formosa e tinha um moço revoltado. Ele estava com um copo de bebida, caipirinha, muito grande na mão, do lado. Um cigarro de maconha que dava até medo na mão, discutindo, brigando com os companheiros dele e algumas moças que estavam ali, uma confusão bem acirrada. E eu tive a direção de dar uma palavra para aquele moço. Eu passei, eu estava com o meu netinho que hoje está no Paraná, o Eric. Eu falei: "Filho, fica aqui do lado do vô". Passei, parei perto dele e falei: "Filho, posso te dizer uma palavra? Abre o teu coração, descubra o valor que você tem dentro de você. Você tem valor para Deus". E comecei aquilo que eu recebi de Deus, falar pra aquele moço. Aquele moço virou para mim e falou: "Meu senhor, para, você está me quebrando todinho". Pegou lá, apagou o cigarro de maconha dele, ficou me ouvindo, começou a chorar. O maior respeito pela pessoa, me abraçou. Peguei um doce e falei: "Filho, pega esse doce, eu vou te dar esse doce de presente, come esse doce" "Não, eu tenho dinheiro, eu quero te pagar aqui". Queria me dar cinco, dez, vinte. Eu falei: "Não, não quero. Esse eu estou te dando de presente. Depois, lá na frente, se você quiser você me procura e me compra um docinho". Mas eu expressei palavras para vida daquele moço. Eu falei um dia, "Abre o teu coração para Deus, você vai ver o que Deus vai fazer na tua vida. Eu disse, às vezes, nós precisamos dizer não a muitas coisas que nos impede, nos rouba. Nós somos vidas preciosas para Deus". Então, é o dia a dia do meu trabalho, de lidar com essas vidas, lidar com essas pessoas no meu trabalho. E respondendo a tua pergunta, como é que a gente conquista? Esse moço lá na frente, se, um dia se encontrar e não ter nenhuma transformação, ele vai lembrar daquilo, aquilo vai ficar gravado no coração dele, ele vai vir me abraçar, como já aconteceu com muitos. Tratar bem o ser humano, saber conquistar, saber respeitar, seja quem for, o pior dos piores. Se você tiver uma palavra boa aquilo vai mexer com a pessoa, você vai ganhá–la. O segredo da minha venda de doce é isso, respondendo a tua pergunta, meu amado, é isso. Essa conquista é isso, é saber, é tratar. "Senhor Antonio, embrulha meia dúzia". Ele chega lá, como eu falei, já dei um docinho a mais. "Senhor Antonio, tem um chorinho? Vai fazer uma diferença". Ou, "Senhor Antonio, estou com cinco, preciso levar sete, oito doces" "Leva" "Eu vou..." "Não, não tem nada disso, filho. Deus dá o pão de hoje, amanhã Deus tem um outro pão preparado para gente". Você está entendendo, querido? A gente vai conquistando, fazendo amizades, ganhando o moço, ganhando a moça, ganhando aquele que, às vezes, o coração está com muita maldade. Não importa, são vidas preciosas. São pessoas que são vidas preciosas. E você passa a ter respeito e as pessoas têm aquele conceito com você. Hoje, eu vou aos campos de várzea vender doce, se um dia você tiver oportunidade me acompanha meia hora, passa lá. "Senhor Antonio, um guaraná, uma coca, uma fanta, uma água? Come um salgadinho, quer que eu traga um lanche?". Ninguém me oferece um copo de cerveja, um copo de bebida, ninguém me oferece um cigarro. Por quê? Testemunham, vêem como eu ajo. Esse é o segredo da venda dos doces, esse é o segredo do nosso dia a dia. Se um dia eu tiver que subir na vida, eu subo porque Deus me abençoou, não prejudicando ninguém. Sabe por quê? Porque eu quero chegar na minha casa, depois de um dia de trabalho, por minha cabeça no travesseiro e dormir em paz. Sempre dar um bom exemplo. Se eu agir errado, o que eu vou dizer para o meu neto? O que eu vou dizer para uma pessoa que me conhece há anos se eu estiver maltratando alguém, ofendendo alguém, agindo errado, negando um doce para alguém, ofendendo. Não, querido. Eu procuro me expressar da melhor forma para ganhar a pessoa, para ganhar a vida. É o nosso testemunho de vida, e isso aprendi nesses 30 anos que eu estou servindo a Deus. Vocês me deram a liberdade de falar, eu quero expressar aquilo que está saindo do meu coração, tá bom, filho?
P/1 – E nesse tempo todo de trabalho, o senhor tem alguma história engraçada ou curiosa que o senhor queira contar pra gente de algum cliente seu?
R – Tenho. Eu trabalhei muitos anos na Rua 25 de Março, como eu já me referi a vocês, na zona cerealista. E aconteceu que na tarde de um dia teve um atropelamento na Avenida Mercúrio, e foi atropelado um vendedor ambulante com uma caixinha vendendo doce, vendendo acho que drops, umas coisas. E o atropelamento causou a morte desse rapaz. Por via das dúvidas, falaram que era eu que tinha sido atropelado e morto ali, o Resgate levou. E coincidentemente, um dos camelôs que me conhecia há muitos anos ali na Rua 25 de Março, ligou para casa da irmã dela e falou: "Olha, está tudo bem com o teu esposo, o senhor Antonio? Fátima, está tudo bem?". Eu não tinha chegado ainda, foi um dia que eu cheguei um pouquinho tarde, mas só que eu estava no outro setor e não fui ali para aquela região da 25 de março. E eu fiquei quase 15 dias, duas semanas, sem ir porque eu estava na Vila Formosa, Carrão, Tatuapé, eu estava nos outros lugares e fiquei 15 dias sem ninguém me ver ali. E quando esse telefonema chegou na casa da irmã dela o sobrinho dela falou: "Tia, fala a verdade. Tia, pelo amor de Deus, fala a verdade. Aconteceu alguma coisa com o tio?". Porque chegou a notícia que eu tinha sido atropelado e morto. Passados 15 dias, quase 20 dias, eu estou estacionando meu carro ali na Rua do Lucas, já vieram aqueles policiais seguranças: "Mas vem cá, não foi você?" A notícia correu, toda a zona cerealista estava me dando como morto. A história que surgiu foi que fui eu. Não tinha um dia que eu passasse ali na Rua 25 de março, no Mercado, nas ruas ali na Galeria Pajé. "Mas senhor! Olha o homem aí, quem falou que o homem morreu?". E o que foi mais engraçado, era finalzinho de tarde quando eu ia voltando, mas não teve um que não perguntasse, comerciantes, amigos, fregueses, pessoas na rua que me conheciam: "Não foi o senhor que foi atropelado?" "Não, não foi, estou aqui". Até aqueles seguranças que são policiais, todos vieram ao meu encontro. No final da tarde, quando eu voltava para buscar o carro, passei em frente a um barzinho, tinha uns senhores de cor que trabalham ali, são trabalhadores braçais e trabalham naquele negócio de arroz, feijão, em cima de caminhão, para os armazéns. O rapaz, um morenão forte, estava com um copo de cerveja e me viu, estalou os olhos e ficou me olhando (risos), ele quis correr. Ele falou: "Não, não acredito!". Parou, e ele levou um estalo ali. Ele falou: "Mas o senhor não morreu? Eu me assustei!". Eu falei: "Não, filho, a notícia foi outra. Infelizmente, a gente não quer isso, mas foi uma outra pessoa". Isso aí marcou muito na região. E essa história correu. E vocês querem rir mais um pouquinho? Até nos campos de várzea, tem uma partida de futebol no Jardim Elba, onde jogam alguns times que me conhecem, fizeram um minuto de silêncio antes do jogo porque me deram como morto (risos). São histórias do dia a dia da gente, fizeram um minuto de silêncio (risos). O cara falou: "Pô, nós fizemos um minuto de silêncio porque a história era que o senhor tinha morrido" (risos). São coisas assim que marcaram, tem muitas coisinhas. Essa é uma que a gente lembrou. Mas graças a Deus, sempre respeitei fiscalização, prefeitura, tanto que até hoje muitos amigos fiscais de prefeitura, por onde eu vou, ninguém mexia comigo. "Seu Antonio, dá uma saidinha, nós vamos passar". Chefes de fiscalização passavam e falavam: "Não mexe com ele, só dá um alozinho". Para não atrapalhar o trabalho deles, a apreensão deles, são coisas assim que eu agradeço a Deus. A gente tem histórias, essa foi uma das histórias. Desci aquelas velhinhas dos prédios que me conhecem: "É verdade? Não aconteceu com o senhor? Todos nós estávamos preocupados porque o senhor não tinha vindo mais aqui, todos esses dias o senhor não veio, e era o senhor mesmo". Você vê como às vezes uma notícia corre, uma coisa.
P/1 – E o que o senhor acha que mais mudou nesse tempo de trabalho, desde que o senhor começou a comercializar os doces? O que mudou de lá pra cá nessa atividade?
R – Muita coisa. Porque hoje, infelizmente, existem os bons, existem aqueles que trabalham honestamente, existem aqueles que trabalham desordenadamente, com coisas erradas. A gente vê tanta coisa hoje. É como eu falei, hoje está difícil de ir à rua, até para sair na rua, se você não tem aquele conhecimento de anos se torna difícil porque existem muitas pessoas que agem de forma errada. Não só no dia a dia do ambulante, do camelô, em todos os setores da vida a gente vê que a índole do coração do ser humano parte muito mais para o lado errado, pela facilidade das coisas. Muitas vezes não quer se sacrificar, ser um lutador. Talvez prejudicar alguém para subir na vida. Mudou muito, está difícil hoje. O viver hoje está difícil em todas as áreas da vida. Onde eu sempre digo e falo, é onde o homem precisa ter um encontro com Deus para mudar muita coisa. Quando o ser humano tem o encontro com Deus, só Deus para mudar mesmo as coisas. Mudou muita coisa: o respeito, hoje você anda na rua e não sabe mais quem é quem, você anda no trânsito e não conhece mais quem é quem. Você vai com o seu veículo, às vezes, sem maldade, você comete alguma falha, ou deu uma fechadinha em alguém e já é motivo para confusão, briga, e a gente vê quantas coisas ruins acontecem por aí. A gente vê que hoje mudou e os dias estão difíceis. Que bom seria voltar lá no passado, coisas boas que os nossos antepassados nos passaram. Hoje o filho não respeita mais o pai, o pai não respeita mais o filho. O pai é quadrado, é redondo, está por fora (risos), não está com nada. O linguajar da coisa. Às vezes você quer passar uma coisa boa para o teu filho, mas ele não entende. As companhias, as influências. Hoje, os jovens, você vê quantas influências. A gente vê que o que dá mais Ibope é notícia ruim. Humanamente falando, como servo de Deus que eu sou, hoje o que dá mais Ibope é isso. Quantos pais, quantas mães choram hoje, filhas que estão no caminho errado, filhos que estão pagando um preço de uma coisa errada. Filho que às vezes têm tudo dentro de casa, mas uma influência o levou a trilhar um caminho errado. Mudou muita coisa. Até na atividade, no dia a dia do trabalho, a gente encontra muita maldade por aí. Está difícil.
P/1 – O senhor já chegou a participar de algum sindicato, alguma entidade trabalhista?
R – Quando mais jovem tinha o Sindicato dos Ambulantes, eu era sócio, mas também não resolvia muita coisinha para você. Mas eu fui sócio do Sindicato dos Ambulantes. Era na Avenida Rangel Pestana, só não me lembro do número do prédio.
P/1 – E o senhor já se desfiliou? Em que época que foi?
R – Ahhhh sim, a muitos anos atrás.
P/1 – O senhor sentiu alguma diferença na prática entre ser filiado e não ser filiado?
R – Não resolvia nada, uma taxinha que a gente pagava anualmente, a cada dois, três meses, mas não tinha muita influência não. Porque as coisas hoje do dia a dia do ambulante... você vê as leis hoje, elas favorecem mais as pessoas com deficiência física, idade, o que eu acho certo também, e concordo que deve dar prioridade para quem necessita. Como eu falei, hoje a rua está difícil, está difícil o dia a dia, tanto que eu não aconselho o meu filho a ir para rua fazer o que eu faço. Não aconselho ninguém, você tem que ter uma cabeça firme. O mundo oferece muita coisa boa aos olhos da pessoa, mas são coisas que muitas vezes não são aquilo que vão resolver o seus problemas. Pode até resolver de momento, mas pode te trazer consequências também. Eu digo isso com experiência, que na rua já vivi muitas experiências de muitas coisas fáceis de chegar à mão, mas graças a Deus eu nunca quis. Eu prefiro com luta, com sacrifício, determinação, trabalhando, conquistar o meu espaço, o meu dia a dia, aquilo que eu preciso sem que precise usar de uma outra forma, de uma forma errada. Eu acho, e uma coisa eu aprendi, a moral é tudo. Hoje, a moral do ser humano é tudo. Hoje, você deu uma mancadinha, fez uma coisa errada, você se manchou para o resto da sua vida, você vai carregar aquela marca. E a gente tem uma história de vida e enquanto Deus me der vida eu quero conservar essa história de vida que desde pequeno eu aprendi e estou até hoje. Eu sempre digo para as pessoas: a vida da gente, queridos, é um livro com várias páginas. Eu vi que bonita a exposição de vocês contando histórias de outras pessoas, de vida. Eu vi lá naquele espaço que vocês têm, aquilo é bonito, são histórias de vida de pessoas, pessoas que viveram, pessoas que participaram, pessoas que fizeram a sua história. Eu procuro levar a minha história de vida como um livro, e cada página eu procuro deixar uma coisinha boa registrada. Uma coisinha que alguém um dia vai se lembrar, vai dar saudade. Eu não quero manchar essas páginas. Com 61 anos de idade, que Deus me concedeu até hoje, eu não quero. Porque eu digo, é tão gostoso, tão bonito você ter uma história de vida, uma história que você possa pegar o teu neto lá na frente e quando ele casar, ele mostrar para o seu bisneto lá: "Ó, esse era o vovô, olha o que o vovô fazia, o que ele vendia, olha como o vovô agia". E aquilo que você investe em um filho, um filho nunca vai esquecer. Outro dia, uma mãe conversando comigo falou para mim: "O que vai ser da minha vida agora?". A menina, filha, gravidez, deu um passo errado, e a mãe desesperada, a vergonha, através do erro da filha. A Fátima estava comigo, minha esposa, e eu disse para essa pessoa: "E daí?", ela se espantou até (risos). "E daí que isso aconteceu? Agora que você tem que amar mais a tua filha, agora que você tem que amar e dar amor para aquele que está sendo gerado no ventre dela. Agora que ela vai precisar do seu ombro amigo e da tua mão pra ajudá–la". Hoje, a filha é uma benção, a filha é uma pessoa, está bem, superou. Quando você está caído, machucado, ferido, quando você errou é fácil chegar e jogar uma pedra, te acusar. Te julgar é fácil, mas estender a mão é difícil. É isso que tá faltando hoje no dia a dia, no coração do ser humano. Errou, falhou? Perdoa. É a lição que nós aprendemos. Chega junto, no que eu posso te ajudar? Vamos lá, conta comigo. Pisou na bola? Esquece, vamos em frente, vamos lutar, vamos batalhar. É isso aí.
P/2 – Senhor Antonio, eu queria que o senhor dissesse quais são as principais vantagens e desvantagens de ser um comerciante ambulante.
R – A vantagem é que no seu dia a dia você conquista pessoas, conquista amigos. Existe a desvantagem que muitas vezes as pessoas não te valorizam, não dão crédito. Você vem com tabuleiro. Vocês querem ver uma coisa engraçada? Eu estava uma vez andando lá na região da Rua 25 de Março, passou um casal de velhos e falou: "Você tem um corpo bom para te levar lá para minha fazenda para você roçar cana!". Eu achei estranho aquilo. Eu falei: "Oh filho, Deus o abençoe. Isso aqui eu faço com muito amor, muito carinho, sustentei minha família, tenho minha família, tenho meu lar". Assim, a pessoa se desfazendo, como quem diz: "Um corpo desse carregando um tabuleiro de doce desse podia estar numa outra profissão". E a vantagem, coisa que enche o nosso coração: um dia, eu não conhecia, um senhor com muitas indústrias, muitas lojas de tecido ali na região também da Rua 25 de Março, que ali é comércio. Ele virou e olhando a maneira, essa é a vantagem da gente viver e ter mais amor por aquilo que a gente faz, como tem pessoas que desfazem; a vantagem é que ele olhou e falou assim: "Eu queria saber só uma coisa. Eu olho no seu semblante, vejo dificuldade no seu andar, muitas vezes o senhor está se arrastando, mas eu vejo no seu semblante sempre alegria, o senhor fazendo isso com amor, dedicação. Se a pessoa compra o doce o senhor fala 'Deus o abençoe', se não compra, o senhor fala 'Deus o abençoe' da mesma forma. Eu tenho observado o senhor muitos anos aqui. E ele falou para mim: "Eu não consigo isso, sou dono de empresa, tenho casas, tenho fazenda, tenho um monte de funcionário, tenho loja e não consigo ser como o senhor é. E aí, com esse tabuleirinho, vendendo doce, o senhor transmite tanta coisa boa, tanta coisa que eu não tenho. Eu carrego comigo tanta coisa e eu não consigo ser feliz, não sou um homem realizado. E posso ver”. As nossas atitudes, os nossos gestos, essas são as vantagens de você ser feliz. De pessoas que às vezes estão olhando para você e notam em você uma diferença de outra pessoa. A desvantagem a gente sempre vai encontrar, sempre a gente vai encontrar aqueles que falam, aqueles que xingam. Às vezes, você está saindo: "Eu não vou comprar essa porcaria!" "Deus o abençoe" "Isso aí não presta" "Deus o abençoe". A pessoa nem provou, não comeu o doce, a gente sempre vai encontrar alguém assim. A vantagem é que você sempre encontra coisas boas no caminho. A desvantagem a gente sempre vai ter. Pessoas que muitas vezes não se realizaram na vida, não conseguiram seu objetivo e não querem ver também a sua vitória.
TROCA DE FITA
P/1 – Senhor Antonio, como é o seu dia a dia hoje? Descreve para gente como é um dia normal para o senhor.
R – Um dia normal: levantar pela manhã, agradecer a Deus pelo dia que ele nos deu, a noite que ele nos concedeu, ver as necessidades da casa, comprar o meu pão, o meu leite. Ser motorista da minha esposa e levá–la na escola, depois de 50 anos começou a aprender a estudar, começou a aprender a estudar na bíblia, e agora está se esforçando para ter mais conhecimento. Sou o motorista escolar dela (risos). Nove e meia, quinze para as dez, às vezes ela me dá uma colher de chá e entra um pouquinho mais cedo para eu começar o meu dia a dia, o meu doce. Aí, vou buscar ela meio–dia, meio–dia e meia, quando estou um pouquinho atrasado eu falo: "Vem andando aí". Fazer meus doces. Ir para rua vender meus doces. Ligar para os filhos para ver se precisam de alguma coisa, se está tudo bem, se comunicar com tudo e com todos: a que está em Bragança, ligar no celular, a que está em Maringá perguntando o dia a dia, os próximos dali levando um pãozinho para um, paro outro, um pão doce para os netinhos. Às vezes, até os netinhos cobram no dia a dia: "Vovô! Já faz dois, três dias que não vem trazer meu pãozinho doce". Às vezes pelo corre–corre, mas eles lembram a gente, eles gravam isso. Chegar de noite perguntar se estão todos bem, agradecer a Deus pelo dia de trabalho, pelo que Deus deu, ir para casa de Deus, cultuá–lo, agradecê–lo, louvá–lo, nos dias dos nossos compromissos com Deus. Às vezes um trabalho ou outro a gente se ausenta um pouquinho, mas nunca deixando de estar na casa de Deus. E continuar o dia a dia, na normalidade, sabendo que o amanhã pertence a Deus. E sempre procurar viver feliz. Às vezes, a gente se entristece um pouquinho, passa a chateação. Às vezes, o semblante muda um pouquinho porque é normal, a gente sente quando alguma coisa não está bem, mas isso é tudo dentro do normal, esse é o dia a dia da gente. E procurar nunca dizer não para as pessoas, mesmo que quem precisar e bater na porta de casa, como muitos fazem, uma palavra, ir buscar uma oração, resolver um problema, a gente está pronto pra ajudar as pessoas. Esse é o meu dia a dia, então agradeço. Como eu falei, pela manhã já fiz o meu corre–corre, não sei dizer não para ninguém. E a Fátima, minha esposa, conhece. Se alguém precisar de alguma coisa, bate na porta. Se não tiver para dar para pessoa, divide o que tem na panela e vamos, que no final do dia Deus manda outra porção!
P/1 – E na hora do lazer, o que o senhor gosta de fazer?
R– Lazer, rapaz! Eu estou envolvido com os trabalhos de Deus, a igreja, o dia a dia, até a gente sabe que lazer é o corre–corre, é o que a gente está precisando. O lazer fica um pouquinho devendo nisso. Ainda bem que a companheira não exige muito, não, não tem muita cobrança. De vez em quando a gente dá a saidinha da gente, vai comer um lanche, uma pizza, um almocinho fora. Não é sempre, não, mas no dia a dia é isso. O lazer a gente... está um pouquinho difícil porque a vida é bem corrida, sabe filho. Mas não vai faltar oportunidade, eu sei que ainda vou desfrutar desses dias de lazer, com certeza.
P/1 – Tirando essas compras para fabricação dos cannolis, as compras de casa, o senhor gosta de fazer compras, passear no shopping?
R – Rapaz, é difícil. Eu vou te falar, eu agradeço a Deus pela vida dela porque até para comprar as coisas para mim, se não for ela, eu não vou. A minha esposa gosta, mas no dia a dia eu sou meio, sabe? Até que nos últimos dias eu tenho até ido ao Shopping Aricanduva, tenho dado umas voltinhas por lá.
P/1 – Tem alguma coisa que o senhor gosta de comprar?
R – Eu não sou muito vaidoso não, viu? Eu me contento com tudo o que eu tenho. Até agora recentemente eu estava numa dificuldade de sapato, chegou o Dia dos Pais e ganhei dois, um tá aqui, o outro está lá em casa. Um não serviu, aí, eu fui até o shopping para trocar. Mas é assim, o dia a dia. Eu me contento, não tem vaidade, para mim tudo está bem. Eu estando bem e meus filhos estando bem, minha família estando bem, para mim é a maior felicidade da minha vida. Coisas materiais, eu vou ser bem sincero e honesto com vocês, eu não sou muito, não tenho muita ousadia nessas coisas não. (risos). Andei com um carrinho Voyage por oito anos, para cima e para baixo, mas nunca fiquei na mão. Quando dava um problema, ligava e já vinha o socorro (risos).
P/1 – E com quem o senhor mora hoje?
R – Eu moro com a minha esposa e com um filho casado que mora conosco, que precisou, passou uma situaçãozinha e está morando conosco. O nosso sobradinho é grande. Tinha um outro filho, mas o outro, para ajudar esse falou: "Não, eu vou pra tal lugar", e a gente divide a casa da gente com os filhos. Eu moro com minha esposa e um filho casado.
P/1 – Só uma perguntinha voltando, como é que o senhor conheceu a sua esposa, como é que foi esse casamento? Quando é que foi?
R – Rapaz, tem uma história... Eu morava na Vila Santa Isabel e ela morava numa casa no fundo, que tinha uma sapataria na frente. E era época que eu gostava de tomar uma cachacinha. E eu guardava o meu carro num estacionamento próximo da minha casa e próximo de onde ela morava, que nós não tínhamos garagem em casa. Então, para não deixar o carro na rua, evitar roubo, eu guardava lá. E todo dia que eu descia após o dia de trabalho, que eu fazia o doce em casa, vendia meu doce, ela estava lá na porta da sapataria. Ela, a Jane, minha filha, a Fabinha, o Jean. E eu acho que Deus tem seus planos, a gente não entende. Como é que um rapaz solteiro vai se apaixonar por uma mulher que já veio de uma vida que não foi muito feliz, com três filhos, passou suas dificuldades, lutando, ela trabalhando? Aí, olhei, começamos a fazer amizade no dia a dia, olhava para as crianças e já mexeu com meu coração, já pegava as crianças e levava na padaria, comprava sorvete, doce. E levava à noite para comer um lanche, uma coisa. Foi começando aí e até hoje estamos aqui. Deus sabe de todas as coisas. Fui o pai que eles não tiveram, ela foi a mãe e o pai que eles também não tiveram, e agradeço a Deus, porque Deus sabe de todas as coisa. E através da vida dela eu também cheguei ao Evangelho. Eu também estava no caminho errado do álcool, um homem que muitas vezes pela manhã levantava tremendo de tanto álcool que tomava no dia a dia. Muita oração, muitos pedidos a Deus, Deus transformou a minha vida e eu pude ser benção na vida dela e benção também na vida dos meus filhos. Com certeza eu carrego isso dentro do meu coração.
TROCA DE FITA
P/1 – O senhor estava contando como conheceu a sua esposa, eu queria também perguntar dos filhos. Você mencionou que alguns filhos já são comerciantes; Era o que o senhor desejava para eles ou o senhor preferiria que eles tivessem alguma outra profissão?
R – Eu sempre desejei o melhor para eles e que cada um se achasse e se encontrasse, que fizesse o que gostasse dentro da área deles, né? A minha vontade é que tivesse alguém para dar uma continuidade e chegar no meu ramo do comércio, mas nenhum deles teve o dom. Tanto que as meninas gostaram do ramos de Estética, as duas. O meu Davi, 24 anos, desde pequeno mexeu com venda de carros e esta aí, hoje ele toma conta de uma loja e trabalha como vendedor de carros. Ele tem uma noção muito grande, ele sabe comprar, avaliar. E todas as firmas que ele trabalha gostam dele porque ele é bem ativo e tem bom conhecimento nessa área. O que a gente procura é desejar que cada um seja feliz naquilo que escolheu. Às vezes, você quer algo para um filho, mas não é aquilo. Cada um está no seu trabalho, ganhando o seu dia a dia. E eu desejo de coração que Deus abençoe a todos, que todos sejam felizes. Esse é o meu desejo do coração, que todos sejam felizes e realizados.
P/1 – O senhor tem algum sonho, algum plano futuro? O que o senhor deseja para o seu futuro agora?
R – Ô filho, meu futuro, eu disse, está tudo na mão de Deus. Eu acho que chegar onde eu cheguei eu só tenho a agradecer a Deus. E aquilo que Deus trouxer nas nossas mãos, com certeza eu vou agradecer a Deus. Hoje eu não tenho aquela coisa, o meu sonho é que eu possa ser a benção na vida de alguém, sempre fazer algo para o meu semelhante, esse é o meu sonho, eu vou carregar isso comigo sempre, você entendeu? Isso eu não tiro do meu coração, como eu disse, coisas materiais não mexem com a minha cabeça, não. Eu nunca quero entrar por essa área. O que eu desejo e peço a Deus é que se eu puder fazer alguma coisa para quem for, independente de cor, religião eu quero ser uma benção na vida de quem quer que seja.
P/1 – O que o senhor achou de ter participado da entrevista? Passar esse tempo aqui com a gente?
R – Ô filho, foi muito importante, eu agradeço a Deus. Você vê que eu não pus obstáculos, só falei: "Me dá um tempo, uns dias", porque como vocês estão vendo agora, como eu estou expressando nessa entrevista, a vida é corrida. Às vezes é um horário, a gente lembra de uma coisa ou outra. Mas eu estou aqui muito alegre, contente, louvo a Deus pelas vossas vidas também. E que Deus possa fazer vocês prosperarem dentro daquilo que é o ideal de vocês. Que Deus venha conceder na vida de vocês tudo aquilo que vocês almejam. Vocês são jovens, eu sei que vocês têm sonhos, projetos, que Deus venha iluminar o projeto de cada um. Esse moço que está ali, é uma arte. Vocês que estão aqui e têm feito esses trabalhos, que Deus os faça prosperar. Estou aqui, estuo feliz, contente. E que vocês possam desfrutar disso que vocês desejam no vosso coração cada vez mais, que Deus abençoe todas as áreas das vossas vidas, vossas famílias, vossos pais. Se tiver esposa, esposa, filhos. Que Deus abençoe a todos. Estou fazendo isso com muita alegria, muita alegria mesmo no meu coração, vim aqui com muita alegria. Vim conhecer um pedaço, andei na Linha Azul, na Linha Verde, na Linha Amarela para chegar aqui (risos), mas chegamos! Com alegria. E que Deus abençoe vocês em toda área de vossas vidas. Existe um versículo bíblico que eu gosto muito, que se encontra no Livro de Jó, capítulo 22, versículo 28: "Determinando tu", existe uma outra versão que diz "Projetando tu algum negócio, sentir–se–á com firmeza e a luz brilhará em teus caminhos". Em tudo o que vocês fizerem, seus projetos, façam com determinação, firmeza, com certeza a luz de Deus vai brilhar nos vossos caminhos. E eu tenho a certeza, eu quero agradecer a Deus por esse momento, que é muito difícil. Às vezes, a gente sabe a dificuldade hoje, como evangélico, vocês abriram esse espaço, e um bom tempo eu me expressei e passei a minha identidade, que vocês possam abrir o coração para Deus e com certeza, vocês serão bem prósperos, bem sucedidos em tudo aquilo que vocês almejaram, a luz vai brilhar, tá filho? Aqueles projetos, aqueles planos, vocês vão ver a vitória de vocês. Não vai faltar luta, dificuldade, obstáculo, mas que em meio a um obstáculo, a uma luta, a uma dificuldade vocês possam superar, passo a passo e chegar naquilo que vocês querem chegar. E com certeza vai ser uma vida de sucesso e de vitória, e alegria da vossa família. E se alguma coisa que eu passei para vocês serviu, guardem no coração de vocês que é bom. O respeito, o amor, mesmo quando for ligar com pessoas difíceis, aquele jogo de cintura, saiba lidar, saiba passar a rama porque hoje não está fácil, mas Deus dá graça para gente.
P/1 – Em nome da equipe do Museu da Pessoa a gente agradece muito a sua participação, muito obrigado.
R – Amém. E que Deus abençoe vocês grandemente em todas as áreas de vocês, agradeço de coração. E sempre que precisar estou à disposição de vocês, tá bom? E quando forem lá na Rua Javari, vai lá pegar um pacotinho de doce para cada um, quero dar para vocês, traz um para o menino também, tá bom? Vai ter sempre um pacotinho de doces pra vocês.
P/1 – Muito obrigado.
P/2 – Obrigado.
R – Amém.
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