P/1 – Urânia, a gente começa pedindo que, por favor, você nos diga: qual o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Urânia Brino Gôngora, nasci em São Paulo, em 21 de agosto de 1953.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe?
R – Manoel Gôngora (Capel?) e Nair Brino Gôngora
P/1 – Local de nascimento de seus pais, você sabe?
R – Meu pai nasceu na Espanha e a minha mãe é a única brasileira na família de italianos.
P/1 – Em que lugar da Espanha seu pai nasceu?
R – Meu pai nasceu em Almeria, e a família de meu nonno, por parte de minha mãe, é de Treviso, fica perto de Veneza, na Itália.
P/1 – Ela é a única filha...
R – É, brasileira, todos os irmãos são italianos. Eles vieram prá cá e ela foi... É a única que nasceu aqui. Ela foi feita lá e nasceu aqui.
P/1 – Eles vieram em que circunstância pra cá?
R – É, o meu pai, ele veio como os imigrantes, europeus, ele veio de navio mesmo, todos pequenos, e já pelo lado do meu avô materno italiano, não, ele veio porque a empresa chamou. As Linhas Correntes. Então ele veio já com um emprego aqui, de... Para trabalhar na caldeiraria, nas Linhas Correntes. Agora, meu pai, não, eles vieram realmente para tentar a sorte.
P/1 – Ele trabalhava já nas Linhas Correntes?
R – O meu avô materno, sim, na parte de caldeiraria. Aí eles se instalaram no Ipiranga, meu pai também veio, mas veio para o interior de São Paulo, e depois vieram pra cá... Então foi essa coincidência. Lá, também no Ipiranga, conheceu minha mãe.
P/1 – Eles se conheceram aqui?
R – Isso, no Ipiranga. São Paulo.
P/1 – E você tem irmãos? Quantos?
R – Sim. Tenho três irmãos homens, e uma irmã, nós somos em cinco: três homens e duas mulheres, eu sou a caçula.
P/1 – Descreve pra gente a rua, o bairro que você morou, a sua infância, a casa da sua...
Continuar leituraP/1 – Urânia, a gente começa pedindo que, por favor, você nos diga: qual o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Urânia Brino Gôngora, nasci em São Paulo, em 21 de agosto de 1953.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe?
R – Manoel Gôngora (Capel?) e Nair Brino Gôngora
P/1 – Local de nascimento de seus pais, você sabe?
R – Meu pai nasceu na Espanha e a minha mãe é a única brasileira na família de italianos.
P/1 – Em que lugar da Espanha seu pai nasceu?
R – Meu pai nasceu em Almeria, e a família de meu nonno, por parte de minha mãe, é de Treviso, fica perto de Veneza, na Itália.
P/1 – Ela é a única filha...
R – É, brasileira, todos os irmãos são italianos. Eles vieram prá cá e ela foi... É a única que nasceu aqui. Ela foi feita lá e nasceu aqui.
P/1 – Eles vieram em que circunstância pra cá?
R – É, o meu pai, ele veio como os imigrantes, europeus, ele veio de navio mesmo, todos pequenos, e já pelo lado do meu avô materno italiano, não, ele veio porque a empresa chamou. As Linhas Correntes. Então ele veio já com um emprego aqui, de... Para trabalhar na caldeiraria, nas Linhas Correntes. Agora, meu pai, não, eles vieram realmente para tentar a sorte.
P/1 – Ele trabalhava já nas Linhas Correntes?
R – O meu avô materno, sim, na parte de caldeiraria. Aí eles se instalaram no Ipiranga, meu pai também veio, mas veio para o interior de São Paulo, e depois vieram pra cá... Então foi essa coincidência. Lá, também no Ipiranga, conheceu minha mãe.
P/1 – Eles se conheceram aqui?
R – Isso, no Ipiranga. São Paulo.
P/1 – E você tem irmãos? Quantos?
R – Sim. Tenho três irmãos homens, e uma irmã, nós somos em cinco: três homens e duas mulheres, eu sou a caçula.
P/1 – Descreve pra gente a rua, o bairro que você morou, a sua infância, a casa da sua infância, você tem lembrança disso?
R – Não, eu tenho sim, e apesar de ter nascido em São Paulo mesmo, mas toda nossa vida foi em São Caetano, que é uma cidade do ABC Paulista, né? Então eu lembro que meu pai mudava muito, muito. Ele, então, teve uma situação que em quinze dias nós estávamos em duas casas diferentes. (risos) Então a minha infância foi assim: sempre mudanças, meus irmãos, sempre um cachorro acompanhando a gente, muito amigo... Então a lembrança que eu tenho mais antiga é uma casa em São Caetano mesmo, também, claro que tinha uma loja em frente e, claro, como eu era a caçula, a loja tinha meu nome, Lojas Urânia.
P/1 – Era do seu pai?
R – É, do meu pai e da minha mãe. Ela cuidava, minha mãe sempre teve algum comércio. Então essa é a casa que eu me recordo mais, assim, porque tinha a loja com meu nome, a gente tem fotos de lá.
P/1 – O que eles comercializavam na loja?
R – Roupas em geral, femininas, lingeries, de tudo um pouco, as lojas...
P/1 – Eram comerciantes?
R – É, a minha mãe sim, mas, meu pai teve já... Como todo espanhol, bom espanhol: ferro velho, tiveram restaurantes, sempre ligados ao comércio.
P/1 – E por que mudavam tanto? Assim, de casa, trabalho mesmo...
R – Não, ele era muito inquieto... Não, meu pai, realmente, foi a figura mais marcante pra todos nós, ele já faleceu, mas é uma figura marcante pra todos nós, para os meus primos, sempre ele é citado. Uma pessoa muito moderna pra época dele e muito inquieta. Nós tínhamos a possibilidade de até mudarmos para os Estados Unidos também, porque ele não tinha pátria, assim, ele era muito inquieto. Ele sempre buscava lugares novos e realmente sempre buscando essas novidades.
P/1 – Atrás de coisas melhores e novas?
R – Isso, coisas novas, melhores... Um negociante... Pessoa fantástica.
P/1 – Você citou cachorro acompanhando, quais eram as brincadeiras favoritas, dentro desse quadro inquieto?
R – É, o meu pai é uma pessoa centralizadora mesmo, assim, muito ele trazia todas as novidades. Então, eu lembro, por exemplo, ele sempre foi eletricista também, uma pessoa extremamente inteligente, autodidata. Então era aquele tio que trazia as novidades. Então, por exemplo, a primeira televisão do bairro era a nossa. Todo mundo ficava assistindo. Ele inventava as coisas, fazia as brincadeiras... O período de festa junina é muito marcante pra todos nós, comemorava muito. Então ele fazia uma brincadeira, que ainda tem uma irmã viva dele, hoje com noventa anos, e todos lembram, ele que fazia a família rir, amarrava um rabo assim, quem tentava colocar o fogo... E eram as brincadeiras dele. Sempre foi centralizado com ele. Eu me lembro muito disso. É muito marcante pra todos nós também, a minha mãe brincando com a gente. Minha mãe é aquela pessoa com quem eu pulava corda, ficava na rua... Era sempre muito amiga, muito amiga de todos nós. Então as brincadeiras eram de rua, pular corda, festa junina...
P/1 – E com os pais também...
R – Sempre, sempre minha mãe e meu pai muito presentes.
P/1 – E o dia-a-dia da sua casa, cotidiano, assim, você lembra? Qual era a lembrança mais marcante?
R – É, sempre, sempre o cotidiano nosso é muito cheio de gente, nunca uma casa vazia. Nós somos em cinco irmãos e como minha mãe e meu pai sempre foram muito receptivos, todos os amigos vinham e os primos, era a casa de todos os primos. Hoje eu tenho prima morando na Espanha e a maioria deles sempre falam que eles perderam, sempre, o segundo pai, que era meu pai, ele foi pai de todos nós, então a lembrança maior que tenho é isso: muita alegria, muita gente e...
P/1 – Casa cheia?
R – Casa cheia sempre, até hoje. (risos)
P/1 – Você lembra de alguém que você admirava pela beleza, assim, alguém que te chamava atenção pela beleza, pela vaidade? Quem era?
R – É, eu tenho uma prima que hoje mora na Espanha, ela sempre era a mais produzida, ela usava salto, ela era secretária, ela era o destaque, ela foi o meu destaque, assim, a pessoa mais bem cuidada, mais produzida.
P/1 – Como é o nome dela?
R – Sônia, hoje ele mora em Málaga, ela mora na Espanha, mas todo ano ela vem para o Brasil.
P/1 – A família tem uma ligação com a Espanha bastante intensa até hoje?
R – Sim, sim, porque essa minha prima mudou pra lá, então a gente está sempre em contato, através de e-mail, e ela vem todo ano. É uma ligação, ainda, bastante presente pra gente.
P/1 – Seu estado civil?
R – Solteira.
P/1 – Quando você iniciou seus estudos? Você tem como descrever escola onde você estudava, na sua infância?
R – Tá, tenho, tenho sim, é... Tem um colégio que está até hoje, lá em São Caetano, o Bartolomeu, que é o mais marcante pra mim, que é o primário. Então eu tenho muita lembrança de lá, que eu ia a pé, minha mãe me levava, bem próximo. São Caetano é uma cidade muito pequena, são quinze quilômetros, então tudo é muito próximo e a gente podia fazer a pé, tranquilo e tal, eu tenho muita lembrança dessa escola, que é o Bartolomeu. Depois de lá, na época, tinha uma coisa que hoje não tem mais, é admissão ao ginásio, é um fato muito interessante que este quinto ano fui fazer numa empresa lá da região ZF do Brasil, e depois de muito tempo vim trabalhar para esta empresa e eu fiz a quinta série lá, que era admissão ao ginásio. Aí, depois, eu fui para um colégio, como não tinha vaga, na época, eu tenho uma lembrança muito boa, um agradecimento até hoje, é que um de meus irmãos, ele... Como não conseguia fazer o ginásio, não conseguia vaga, ele falou: “Não, eu te pago uma escola particular.” Então, já na época, ele trabalhava com carros, com funilaria, pintura, muito jovem e ele... Eu tenho essa dívida, assim, de coração com ele, foram quatro anos que pagou o ginásio pra mim, aí consegui ir para uma escola estadual fazer o colégio e por conta disso tive muita vontade de ir estudando e tal, fui buscar escola de inglês, outras escolas.
P/1 – Você é irmã mais nova?
R – Mais nova.
P/1 – Perdão. Mais Nova. Esse irmão era o mais velho?
R – Não. Ele é o terceiro.
P/1 – Esse é o que você tinha maior ligação?
R – Não. Claro, acho que todos... É interessante que tem períodos na minha vida que eu lembro, quando era bem menor, a ligação com meu irmão mais velho, depois, assim, vem a ligação com minha irmã mais velha, apesar de ter, assim, mais cinco anos de diferença, tal, aí tem períodos na minha vida que fui me ligando com um ou outro, mas sempre com todos, em geral, assim...
P/1 – Uma fase com cada um?
R – É, é, uma fase com cada um. (risos)
P/1 – Qual é a lembrança que você tem desse período de escola, assim, a mais forte que você tem? Uma coisa que você não esqueceu mais?
R – Mais de que? De qualquer fase? Primário ou....
P/1 – De qualquer fase da escola, uma lembrança que você tenha do seu período escolar, uma lembrança desse período?
R – É... Tenho... Bom, claro, o que mais fica são, realmente, os amigos, eu tenho amigos até hoje. É, a gente ainda conseguiu fazer encontros, a gente conseguiu, depois de muito tempo, encontrar o pessoal do colegial, do ginásio, mesmo de faculdade, depois que terminou. Então a lembrança que eu mais tenho, mesmo, são dois amigos, mas um caso específico, assim...
P/1 – Você... Os amigos permaneceram daquela época?
R – Permaneceram sim. Eu tenho uma amiga que até hoje, realmente, é muito presente.
P/1 – Certo. Você fez um curso superior, você se formou?
R – Isso. Eu fiz um curso justamente com essa amiga também. Nós, do colegial saímos juntas, eu fui fazer Psicologia, eu não atuei, mas concluí o curso superior.
P/1 – Você não chegou exercer a profissão?
R – Não, não.
P/1 – Que idade você tinha quando começou a trabalhar?
R – Trabalhar, assim, oficial, porque a gente tem aqueles trabalhinhos extras, é...
P/1 – Quais eram esses trabalhos extras?
R – Porque é assim... Nessa trajetória toda, minha mãe tem cinco filhos, tal. Meu pai teve um problema que mudou muito nossa vida, que era uma pessoa ativa, autodidata, super inteligente. Ele teve uma um problema no cérebro, que é cisticercose cerebral, devido a carne do porco, tal. Então isso se alojou no cérebro, isso fez com que o nervo óptico dele ficasse ‘opacizado’, não enxergava. Ele ficou cego. Então a lembrança, a última lembrança que ele tem de mim, assim, eu tinha cinco anos, mas mesmo assim ele continuou sendo aquela figura fantástica, ele ficou cego até morrer, ficou por uns vinte anos, uns vinte e poucos anos até morrer cego. Então toda aquela dificuldade da minha mãe, cinco filhos, tal, e ele com aquela deficiência visual, então todos nós fomos fazer pequenos trabalhos. Lembro de ajudar nas casas das pessoas, trabalho mesmo de limpeza.
P/1 – Novinha?
R – Nova, nova de tudo, eu tinha muito…
P/1 – Com quantos anos, mais ou menos?
R – Ah, acredito que na fase dos nove, dez anos, então tinha algumas casa de senhoras que eu fazia a limpeza, tal, junto com meu outro irmão que é mais próximo, ele fazia a parte de jardinagem, aí o outro já foi trabalhar na parte de funilaria e pintura, todo mundo tinha que trabalhar um pouquinho.
P/1 – Os cinco saíram se virando?
R – Os cinco, os cinco saíram se virando. A minha mãe continuava com uma loja, com comércio. Teve trabalho... Eu tinha um trabalho que até… Estranho, assim, porque tinha uma família que tinha posses e a mãe pagava para eu levar a garota para escola, que também eu era uma garota, mas eu tinha que levar a mochila dela, eu era paga para levar a mochila dela, mas... Realmente, não tem mágoa, não tem trauma, não tem nada disso, tanto que...
P/1 – Mas você ia lá fazer o seu trabalho...
R – Eu ia, eu fazia o meu trabalho, então era a casa dessas pessoas, eu era... Carregar a mochila de um, fazia trabalhos de jardinagem, sempre teve assim. Teve um pouco de trabalho de manicura, algumas coisas desse tipo, mas aí até ingressar numa empresa mesmo.
P/1 – E o que você recebia nesta época era para ajudar a sua mãe?
R – Isso, isso. Isso todos nós, assim, recolhíamos...
P/1 – Comprava alguma coisa pra você?
R – Isso... Não, até que sim, minha mãe sempre comentava isso: “Olha, não, faz aquilo que você quer.” Eu lembro de uma coisa que é sagrada, o disco do Roberto Carlos. Tinha que ter aquele lá. Então isso eu lembro. Eu lembro de algumas roupas, comprei, comprei, lembro de algumas roupas também, então era esse tipo de coisa.
P/1 – Esse disco de Roberto Carlos deixou alguma memória?
R – Sim, o Roberto Carlos acompanhou muito, foi a trilha sonora de boa parte da minha história, foi o Roberto Carlos. Inclusive a minha irmã é também... Tenho essa lembrança que ele fez questão, me levou para assistir a Jovem Guarda, então isso é muito forte. No auge, a gente foi nos estúdios, tal, a gente foi assistir o programa. E ele marcou essa trajetória toda, a trilha sonora foi Roberto Carlos. (risos)
P/1 – Tinha essa coisa boa, você fazia as suas coisinhas com o seu dinheiro?
R – Sim, minha mãe foi aquela pessoa que sempre incentivou muito, é. Eu, muito preocupada em guardar dinheiro, tal, ela falava: “Não, faz um agrado, compra um tipo de roupa que você quer”, então...
P/1 – Você gostava de guardar dinheiro?
R – Sempre, sempre eu controlei bem, eu guardei bastante, guardei bastante.
P/1 – Conseguia guardar o dinheiro?
R – É, sempre controlada, eu sempre fui bastante controlada, porque eu tinha um objetivo muito grande que era viajar. Eu queria muito viajar bastante e ter minha casa própria, um esquema, tal.
P/1 – Você já pensava nisso?
R – Sempre, sempre pensei. Em situações, assim, que... Por exemplo, eu lembro de um irmão meu que dizia: “Não, eu vou e vou passear.” Eles faziam muito tipo de excursão, claro que eu não podia ir, porque excursão não era pra garota. Aí ele saindo pra excursão, eu pedia pra ele me levar, ele falou: “Não, não pode, não sei o quê…” “Um dia vou viajar tanto, tanto…” E hoje eu brinco com ele, eu falo: “Tá vendo? Eu viajei bastante por conta disso.” (risos) Então tenho essas lembranças e eu tinha esse objetivo de viajar, de ter meu próprio apartamento, custear meus estudos, porque não tinha e não ia ter como da família, da mãe, não teria jeito. Nós sempre moramos de aluguel e depois que meu pai ficou doente, então, você tinha esse objetivo de ter sua casa própria e de ter uma trajetória, e sempre se subsidiava, sempre. Não vinha o recurso do outro lado, não, era próprio.
P/1 – O seu primeiro emprego, então, oficial qual foi? Com quantos anos?
R – Foi... É, então... Até lembro disso, desses trabalhos, então, fiz trabalhos... Eu tentei fazer curso de taquigrafia e tudo que era curso, assim, eu lembro de uma história interessante que queria fazer inglês e não tinha como pagar a escola de inglês. E, no auge, também tinha Escolas Fisk lá, tal, eu falei: “Poxa, eu tenho que dar um jeito de negociar, eu quero fazer isso.” Aí fui na escola, tal, eu... De certa forma, hoje fico pensando e falo: “Poxa vida, eu usei a doença de meu pai.” Então falava: “Olha, quero estudar, mas eu não posso, meu pai é deficiente visual, ele não tem condições.” E eles se comoveram lá, e falou assim: “Olha, tudo bem, você pode fazer o curso de inglês, mas você vai ter que fazer um trabalho de divulgar a escola.” Então eu concordei, eu coloquei faixa da escola em frente de casa e tal. Por conta disso eu fiz inglês, então, porque não tinha outro recurso e a gente... E aí também eu ajudava umas amigas que estavam indo mal na escola, então eu acabava ajudando no inglês, tal, ganhava um presentinho. \tinha a parte de redação, eu gostava muito de escrever, então tenho uma amiga até... Há pouco tempo eu consegui falar com ela, porque ela mora em São Paulo, ela falou: “Olha, Urânia, eu sempre conto essa história para os meus filhos, encomendava a redação de você.” Ela não gostava de escrever, então ela falava: “Olha, Urânia, faz uma redação assim, com tema tal.” Então essas coisinhas sempre geravam um presentinho, alguma coisa assim.
P/1 – Você prestava serviços?
R – É, de certa forma, eu era prestadora de serviços, (risos) e aí eu fui para... Eu tenho um primo, hoje esse primo que mora na Espanha, também, casado com minha prima, ele estava trabalhando na Ericsson como telecomunicação, essa empresa toda trabalha com telefonia. Ele falou: “Olha, tem vaga lá, o que você acha? Para começar, escritório…” “Não, tudo bem, vamos lá.” Fiz o teste, só que é assim, era complicado, porque eu lembro que cinco horas da manhã já estava pegando o trem, porque a Ericsson era na Rua da Coroa, na Vila Guilherme, então eu pegava o trem bem cedinho, tal, ia prá lá, e então eu fiquei por dois anos e meio lá. Aí começou essa área nova, que é o CPD, processamentos de dados, e tinha a chance de você fazer um curso de perfuração, na época, que o interessante era que era meio período. Como eu perdia muito tempo no trânsito, condução pra vir para São Caetano, então eu falei: “Não, eu vou fazer esse curso.” Só que não tinha como pagar, aí também foi um tio queridíssimo meu, que já faleceu, ele falou: “Não, tudo bem, eu te empresto, você faz o curso, quando começar a trabalhar você me paga.” Eu gostei que ele quis negociar isso comigo. Eu falei: “Não, eu faço o curso”, tal, aí lembro quando paguei para ele de volta o curso, e eu consegui emprego nessa área. Então comecei lá na área de compras e depois teve essa de trabalhar meio período como perfuradora, então fiquei lá por dois anos e meio.
P/1 – Esse foi o primeiro?
R – Foi o primeiro. Isso deve ser em 1972, 1973... Fiquei dois anos e meio lá.
P/1 – Você tem lembranças de chefes, colegas?
R – Tenho, tenho muito, muito...
P/1 – Fez muitos amigos lá?
R – Fiz muitos, muitos amigos. Tenho lembranças, assim, de chefes que tinham lá, o italiano, Senhor Carpinelli, uma pessoa queridíssima, ele me adotou, assim, um italiano muito fino, então ele acabou me adotando, porque, na época, ele tinha perdido uma filha e ele teve sempre muito carinho por mim. E tinha um outro chefe que era o Senhor Pires, que era da Seção de Compras também. Os dois, na verdade, acabavam disputando a minha amizade, tal, era muito legal. Eu tenho essas lembranças de lá.
P/1 – Bom, você diz que tem curso superior, mas não trabalha na área e nem exerceu?
R – Não. Então, porque como eu queria estudar, realmente, por isso que fui buscar o meio período e foquei nisso para pagar os estudos. Então eu fui ficando nas áreas diferentes, mas com objetivo de pagar o curso, e no fim acabei não exercendo. Aí o segundo, que eu viria para São Caetano mesmo, na ZF do Brasil, que eu fiquei maior tempo lá.
P/1 – Esse foi o que você ficou mais tempo mesmo, e como foi esse trabalho?
R – Quando eu saí da Ericsson, que tinha todo esse problema de distância, de condução, aí eu vim. Tinha uma empresa em São Caetano, uma empresa metalúrgica que era fabricante de autopeças, maior cliente dela era a Mercedes Benz do Brasil, e também teve essa área nova que era o CPD e a digitação, perfuração, tinha uma vaga pra ser perfuradora lá, para mim era tudo de bom, porque era na minha cidade mesmo, eu podia ir a pé trabalhar, então prestei lá e tal, consegui entrar e nela fiquei vinte anos. De perfuradora, eu passei a encarregada de setor, justamente, porque talvez eu tivesse feito psicologia e era um setor que tinha três turnos e precisava muito de alguém que coordenasse. Tinha muitos conflitos nesse setor. Era muitas mulheres, também tinha os rapazes, aí fiquei gerenciando esse setor. E daí eu também concorri a uma vaga para programadora de sistemas e foi indo, cheguei a analista de sistemas.
P/1 – O curso acabou ajudando, então, nessa fase de trabalho?
R – É, foi essa entrada, e no fim acabei ficando e terminei como analista de sistemas. Mas foi um período muito marcante, porque em 1975 estava começando a história toda do PT, Partido dos Trabalhadores. A gente estava no foco, foi muito marcante tudo isso.
P/1 – É uma empresa de metalurgia, como você acompanhou o movimento?
R – É, isso é muito marcante pra mim. Acompanhei porque nós tínhamos todo o movimento, então o Lula vinha direto na ZF do Brasil fazer todo o trabalho dele, ele conta isso, que São Caetano foi muito importante porque lá está a General Motors, lá estavam as empresas de autopeças, então a gente acompanhou todo esse movimento forte do PT, do movimento do Partido dos Trabalhadores, e a gente, como funcionários da empresa metalúrgica, era sindicalizado, então tudo isso é muito próximo da minha história: ZF e o Partido dos Trabalhadores.
P/1 – E todo aquele movimento, você participou? Tinha informação?
R – Sim. A gente participava direto, o nosso setor era um setor muito importante, porque era toda a área de processamento de dados, então, quando eles falavam assim: “Bom, a fábrica para…” Tinha aquele comando de parar para reivindicar onde estava, por exemplo, não ia sair o pagamento, não ia sair alguma coisa e, realmente, a pessoa que também trabalhava nesse processamento de dados, ela fazia parar a folha de pagamento, a gente ficava junto com o pessoal, e como a área que eu cuidava era direto ligada a produção, a fábrica, eu tinha muita afinidade com eles, então tem momentos, para mim, muito fortes, muito fortes. Tem situação... A gente tinha o clube, então jogava com o pessoal da produção, eu era mais ligada ao pessoal de produção da empresa mesmo, do que o pessoal administrativo, por conta da área que eu trabalhava, por conta da gente frequentar o clube juntos, então teve situações que, por exemplo, a parte administrativa não parava, eles chamavam de cordelinho e o pessoal da fábrica era o mais forte e isso me fazia muito mal, porque eu falava: “Poxa, eles brigam por melhoria salarial, por melhoria de condição, por um turno menor de trabalho, e eu estou aqui, quietinha no meu canto, não fazendo nada, e depois, é isso, favorece.” Disso, tenho muitos amigos, que é marcante, eles falavam: “Ah, deixa lá eles se matarem e depois a gente leva também o reajuste.” Isso me fazia muito mal. Teve situação que eu tive que passar pela fábrica, eles estavam todos parados, em protestos, e eu tive que passar e eles começaram a fazer mé, mé, de cordeirinho, aquilo... É uma das coisas mais marcantes pra mim, e eu chorei muito. E assim que eu tinha chance, eu parava também. Me fazia muito mal eu ter que… É, ter um salário aumentado, uma condição de vida melhor e eu não ter lutado por isso, é muito, muito forte.
P/1 – Mas você, no momento, não tinha muita opção?
R – Então, não tinha, mas eu lembro de histórias, assim, por exemplo, todo mundo parado no pátio, e aqui algum amigo, amigo, não, colega puxa-saco, fotografando pra ver quem estava no movimento, quem não tava, gente tentando se esconder no banheiro. Eu não. Sempre que podia, eu estava junto com eles. Não achava justo e era marcante, muito, muito forte. E é interessante que eu tinha, assim, um amigo alemão, de dois metros e quinze, que dizia: “Poxa, eu nem gosto de ficar no meio, porque uma que sou muito alto e chamo a atenção…”, e outra, ele comentava: “Mas é normal isso lá na Europa, acontece muito esse movimento, é normal um empregado lá na Alemanha de macacão, ele tem todo direito de entrar na sala do presidente.” E ele falou: “Poxa, e esse movimento é normal no Brasil. E tem que acontecer.” Então ele, alemão, dizia que é normal na Europa, que já tem o movimento de trabalhadores e tem uma voz muito mais ativa. Ele é mais participativo, ele reivindica e a gente imagina o que é ter acesso à sala de um presidente, aqui ele não tinha. E por que na ZF da Alemanha tinha acesso à sala do presidente? Então era um período muito marcante para mim. A formação desse partido, esse movimento todo.
P1 – Esse tumulto todo na cidade, que era pequena, como era para as famílias?
R – Existia uma preocupação, aquela coisa de sair... Eu li um comentário de uma senhora que o filho trabalhava na General Motors e eles estavam lá, não podiam sair e ela viu o Lula entrando e disse: “Poxa, eu preciso me tranquilizar, eu tenho que ver meu filho.” E o Lula saiu e fez isso: ele foi buscar o rapaz. Então tinha muita preocupação da família em dizer: “Ah, não se envolve, não se envolve com isso.” Mas movimentava muito a cidade. Eram os jornais, a cidade parava e você ficava naquela conquista, expectativa, queria saber o que vai acontecer com a negociação. Era muito forte tudo isso.
P/1 – Como e em que ano você começou a trabalhar na Natura?
R – A Natura está sempre na minha vida. Mesmo nesta empresa, a ZF, eu comecei a vender Natura, porque a minha irmã começou a vender e eu falei: “Não, eu vendo junto.” E quando fui ver, eu estava vendendo bem e aí ela falou: “Então fica com você.” E como é a Natura? É uma venda por relacionamento. Era uma empresa grande, com três mil e duzentos funcionários, e eu tinha muitos amigos e então eu vendia lá dentro a Natura. Claro que não atrapalhava o trabalho, era uma coisa muito discreta que a gente fazia na hora do almoço, no final do expediente. E tem umas histórias, porque tudo tinha que ser muito discreto, e então eu entrava com os produtos, mas tinha que ser com uma mochila, e aí o guarda na portaria sabia e falava: “Ah, vai ter ginástica hoje?” De Natura, esses foram os primeiros momentos vendendo dentro dessa empresa. E a família toda, mas a venda maior era dentro dessa empresa.
P/1 – Tem parentes que trabalhavam com a Natura?
R – A minha irmã, ela começou, eu comecei ajudando, e no fim ela disse: “Fica você que está vendendo mais que eu”, e aí passou o cadastro a ser em meu nome. E se ela tinha alguém com interesse, ela passava pra mim. E foi o período que eu consegui até ser ranqueada, que são as melhores de vendas do setor e como eu vendia bastante lá dentro, eu participava das festas de final de ano como ranqueada.
P/1 – Que hoje são as destaques de venda?
R – É, são as melhores do ranking de cada setor.
P/1 – Naquele momento, por que ser consultora da Natura? Para complementar orçamento?
R – Não, você sabe que não? Era aquele fascínio da cosmética mesmo e a facilitação. Porque dentro da empresa, o pessoal não tinha muito horário para comprar um presentinho, um produto, então você acaba lá dentro facilitando a vida de todo mundo. Mas eu mesma já era pelo que a Natura representava, pela qualidade do produto. Cheirinho gostoso e tudo isso. E qual foi o primeiro pensamento? Se eu gosto de usar e eu vou ter a oportunidade de ter esses produtos e se eu consigo vender bem, eu consigo ter pra mim também.
P/1 – E quais os produtos que marcaram sua história com a Natura?
R – Eu acho que o Erva Doce, marca muito. Linha Botânica, Linha Séve, quando começa um tratamento pro rosto também. Mas, assim, o Erva Doce mesmo.
P/1 – Um produto que tenha a sua cara hoje?
R – Eu acho que é o Chronos mesmo. Não sei se por força das circunstâncias, da idade, mas é o Chronos.
P/1 – Um produto que seja a cara da Natura?
R – Ekos. Linha Ekos, eu acho.
P/1 – Por que?
R – Porque Ekos é Brasil. Natura é tão Brasil para mim, e Ekos tem toda esta parte do Guaraná, Castanha, Meio Ambiente, pra mim é Ekos. Também tem assim uma coisa: como eu trabalhava numa empresa alemã, tinha muito aquela coisa de: “Ah, produtos europeus!” Então quando veio a Natura... Eu sou muito brasileira, eu sempre quis viajar, mas primeiro eu quis conhecer o Brasil para depois ir pra fora. Então acho que também essa coisa de uma linha brasileira poder entrar e concorrer, pra mim já era um orgulho. Eu nunca fui muito disso de... Nem nomes estrangeiros, produtos estrangeiros, importados. Eu não tinha esse fascínio, não, não tinha. Eu sempre fui muito brasileira e então tinha esse lado da Natura que sempre me chamou a atenção, que me prendeu.
P/1 – Quais são os produtos mais conhecidos e os mais vendidos?
R – Assim, a perfumaria é muito forte. Acho que ela representa quarenta por cento da Natura, e o que deve vir... O produto que mais aparece na mídia agora acho que está sendo Ekos, muito forte com todo esse movimento de Brasil. E a Linha Chronos, que ficou muito forte como tratamento, os anti-sinais.
P/1 – Quais os produtos mais conhecidos e que fizeram a Natura?
R – O Erva Doce, o Séve, o Erva Doce e tem uma colônia que está até hoje aí, que é o Tarot, com uma embalagem diferenciada. Um saquinho de juta, bem diferenciada, dessa época. Signorini também é muito marcante.
P/1 – Essa questão de vender o refil, a questão do meio ambiente, isso facilita a venda?
R – Facilita. A princípio eu acho que o cliente vai pelo preço, pela redução. Tem uns que até falam que até querem comprar só o refil e não tem onde colocar a embalagem. A gente orienta que não. A princípio ele vai pelo custo, mas depois que sabe o que está por trás disso, também favorece muito, agrada o pessoal.
P/1 – Como você vê o conceito de um produto, de uma linha?
R – É... Eu sempre gostei muito. Até quando a gente ia nos encontros, tem uma fita de vídeo que eles passam e às vezes eu ficava meio chateada, porque mulherada conversa muito nos encontros e eu queria prestar atenção primeiro na parte de comunicação, de como é feito esse vídeo, mas eu queria saber o que estava por trás. Como é que se dá um nome para um perfume? O que ele vai ter? Ou um creme, a textura, a embalagem, tudo isso eu sempre gostei muito de assistir, eu valorizava muito, mas as minhas colegas, às vezes, nem tanto, então eu falava: “Pô, deixa...”, que eu gosto de escutar, então eu gosto do que está por trás disso. Porque no fundo, o conceito todo é personalidade do produto. Por que ele foi gerado, o que acontece, por que este nome? E eu acho que precisa de tudo isso, claro, ele precisa de uma personalidade. Eu sempre gostei muito disso. Sempre gostei muito disso. Eu sempre falo que é muito fácil vender Natura. Ela vende sozinha, porque você não tem que explicar: "Olha, é uma empresa que está chegando...” Houve uma época em que a gente tinha que fazer isso, e então teve uma época em que a Natura não era tão conhecida e ela tinha que concorrer e mostrar que era melhor ter um perfume Natura do que um importado. E a gente que trabalhava numa empresa multinacional era muito comum. Ah, aquele produto importado, aquela colônia... E então você tinha que fazer um trabalho de cultura mesmo. Ô gente, é daqui, é brasileira e tão bom quanto.
P/1 – Você é desta época? Você colocava isso?
R – Sim, sempre coloquei que era empresa brasileira, nossa, mas você tinha essa certa dificuldade. Hoje não, hoje não, hoje acho que acontece o inverso. A publicidade é muito bem feita, a empresa está muito conceituada e agora já inverte. As pessoas buscam Natura. Está muito fácil falar de Natura. Até as pessoas falam, poxa, nem preciso mostrar o catálogo. As pessoas falam: “Olha, quero a colônia Kriska. Olha, quero o Chronos, tal, quero o filtro solar.” Acontece muito isso. Muito, muito, já procura direto, não precisa nem oferecer.
P/1 – Qual sua trajetória na Natura? Como você faz sua entrega de produtos, você fazia e faz ainda hoje? Meio de transporte?
R – Não... Como eu vendi muito na empresa, então, claro, chega aquele momento gostoso de chegar a caixa.
P/1 – Você lembra da primeira?
R – Ah, lembro, lembro! Isso é marcante, porque o perfume... Era aquele pedido básico, porque você não está arriscando muito, porque é o primeiro. Mas o primeiro tinha um perfume que invade a casa e claro que vem se passando pelos facilitadores. Fazer um pedido era meio complicado. Conseguir a linha, ligar... Hoje, ultimamente, eu vinha passando pela internet, que mudou tudo, você nem precisa... Tem os atendentes, mas você passa o pedido pela internet, então você vem passando todas as dificuldades, até de passar o pedido. Era assim, eu recebia a caixa em casa, preparava lá pra cada um a notinha e tal e colocava naquela mochila de ginástica e eu entregava na empresa e em cada setor que eu passava, assim, eu deixava lá. Era tudo muito discreto. Todos nós tínhamos conta no mesmo banco e então eu nem precisava pegar o dinheiro, todo mundo já pegava, depositava, e essa coisa maravilhosa da venda por relacionamento. Durante dezessete anos que eu vendi Natura, eu nunca levei um calote. Porque eu vendi pro meu relacionamento.
P/1 – O que você chama de venda por relacionamento? Pessoas de família?
R – Pessoas de meu conhecimento. Isso. Eu não vendia de porta em porta, eu vendia pra meus conhecidos, eu não eu vendia para amigos de escola. Na empresa, que eram meus conhecidos, que era meu forte, e para meus familiares, e então não tinha como levar um calote e nunca levei, realmente. Eu nunca vendi para um estranho, nunca. É a venda por relacionamento.
P/1 – E depois essa venda se ampliava?
R – Sim, porque de repente vinha uma fulana que falava: “Olha, minha tia viu e também quer.” Então eu trazia pra ela e ela se responsabilizava e me trazia o pagamento e então nunca teve muito assim de eu sair pra vender e perder um tempo. Eu vendia dentro do meu espaço, garantida, não atrapalhava as outras atividades.
P/1 – E isso ajudava no seu orçamento?
R – É, então... Hoje eu comento essa história, que hoje é outra... Eu sou promotora de vendas, que depois eu conto também, mas aí eu cometi um erro. Hoje eu falo pro pessoal: “Não faça o que eu fiz”, porque eu não abri uma conta específica para por o dinheiro da Natura. Eu não fiz planilha de cálculo e, então, o dinheiro que entrava, eu misturava com o outro dinheiro... Então eu não sabia o que a Natura me trazia realmente. Mas hoje eu mudei muito. Nestes vinte anos que eu trabalhava nesta empresa, todo ano eu tirava férias e viajava, que era um objetivo que eu tinha muito traçado, e hoje eu falo que com certeza a Natura me pagou muitas viagens. Só que eu não calculei, mas é que, primeiro, assim, eu falava: “Ah, eu primeiro vou tirar meus produtos para mim, meus presentes…” Eu tirava daí.
P/1 – E você fazia isso de presentear constantemente? Gostava de presentear e presenteava com Natura?
R – Sim. E, assim, como eu não tive filhos, que não casei, tenho meus sobrinhos e minha paixão por eles. E, então, tem um que hoje tem quatorze anos e ele era bem pequenininho e eu dei todo o kit Mamãe e Bebê, e aí quando alguém perguntava, ele: “Eu só uso produtos ‘natural’.” Ele falava natural, não falava Natura. Tem minha sobrinha que hoje mora em Florianópolis também, quando ela fez trinta anos eu dei um Chronos e eu escrevi pra ela: “Bem-vinda à maturidade.” Então todos eles têm lembranças de perfume que eu dei. A história de cada um. Aquela tia que chega com presente cheiroso.
P/1 – E tem aquela história de quem presenteia com presentes da Natura acaba tendo indicação, porque o presenteado passou a informação para outro. Isso acontece?
R – Isso acontece, porque, por exemplo, com a minha sobrinha, eu dei o primeiro, foi o start. Falei: “Quem ganha... Nunca mais você vai esquecer o Chronos.” E, então, ela passou usar também realmente, claro, as colônias, os shampoos... Isto acontece mesmo.
P/1 – Tem mais consultores na família?
R – Então, o que acontece? Depois que eu saí dessa empresa, da ZF, que fiquei por vinte anos, que ela saiu, foi pra Sorocaba, e aí um amigo montou uma agência pequena também e eu fui trabalhar com ele em São Caetano e fiquei por dez anos com ele e continuei consultora da Natura, sempre, sempre. E aí, neste ano que passou, 2004, essa agência que eu estava com ele trabalhou por um ano todo a campanha de um candidato a prefeito da região, foi uma outra virada, uma outra experiência muito interessante, e quando chega outubro, esse candidato não ganhou, e aí esse amigo ficou falando: “Bom, a gente tem que repensar, porque a gente ficou só em cima desse trabalho e a gente tem que ver o que a gente vai fazer de outubro pra frente agora.” É uma empresa que faz site. E aí falei: “Tudo bem, vou tirar uns dias, e não sei o quê, e fico aqui.” E eu tinha visto um comunicado da Natura pra quem quisesse concorrer a um cargo de promotora. Aí eu falei: "Ah, quer saber? Faz tempo que eu não estou no mercado concorrendo..." Então é um outro lado, assim, que a Natura, de novo, me deu uma lição de vida. É sempre a Natura na minha vida. Até já escrevi isso, já. Sempre continuando com consultora.
(interrupção)
R – Então, aí, eu estava nessa agência em outubro, eu comecei a entrar no site e falei: “Vou tentar concorrer.” Eu fui bem sem compromisso, realmente pra me testar, pra ver como é que estava o mercado, porque eu já sou aposentada. Com cinquenta anos, você fala: “Imagina as empresas, não vai ter espaço pra mim. Ou eu monto um negócio próprio ou trabalho com alguém de meu relacionamento.” Aí eu comecei a fazer esses testes, tinha uma parte que era on-line e tal, e aí eles mandaram um e-mail falando: “Olha, você pode vir pra uma dinâmica de grupo.” E eu falei: “Tudo bem, eu vou.” Mas realmente acho que essa tranquilidade com que eu fui acabou me favorecendo, porque aí eu fui muito descompromissada, falando: “Imagina, vai chegar num ponto que ela vai me barrar, porque eu já tenho cinquenta anos e eu já sou aposentada.” E aí eu cheguei lá em Cajamar, eu já conhecia Cajamar dos eventos de final de ano que.... Como eu já fui uma consultora vip, com quinze anos... Com quinze anos você é uma consultora vip e foram três dias que eu fiquei num hotel, então eu já conhecia Cajamar e quando eu cheguei na recepção, assim, eu falei: “Nossa!” Tinha dezoito mulheres. Todas mais novas que eu, e pensei: “Dancei. Mas estou aqui, e já que estamos, vamos…” Eu soube que de manhã tinham passado 24 para concorrer ao cargo. Então já tinha feito uma parte de currículo e a Natura tem umas exigências para concorrer a este cargo: que você tenha um curso superior, que você acesse a parte de microinformática, que você tenha um carro e tal. Falei: “Bom, vou tentar, mas claro que a vaga não é minha.” Então foi preconceito da minha parte e isto foi mais uma lição que eu tive e até passo para minhas amigas e falo que a gente que está com preconceito pra concorrer no mercado. Existem empresas que ainda dão esse espaço e eu acredito muito, porque acho que você pode viver mais tempo e na mesma carreira. E fui pra dinâmica de grupo das duas às oito da noite e, então, das dezoito, tinha três gerentes, gerentes de RH, e eles tem um processo que vão te colocando em atividades e as situações para ir testando liderança, jogo de cintura, aí foi indo e foi indo, e das dezoito ficam doze, e eu ficando, estava feliz, das doze ficam quatro, e eu falando: “Nossa, é tudo que eu queria. Quatro? Está bom demais, pode parar por aí.” Ela disse: “Olha, se você puder aguentar mais uma entrevista individual, e aí, dessas quatro aí, a gente entra em contato.” Bom, cheguei em casa e, é claro, sempre meus sobrinhos participando muito da minha vida, e eles na expectativa, torcendo muito pela tia, comemorando e falando: “Não, já ficar entre as quatro está bom demais.” Depois ficaram de ligar, dali há algum tempo e eles falando: “Liga, liga…” Eu recebi um e-mail. Muito rápido aconteceu tudo e ele disse: “Urânia, trás seu documento aqui em Itapecerica.” Eu falei: “Nossa, meus documentos…” E pensei: “Nossa, acho que não falei que era aposentada, acho que eles não admitem se é aposentada.” Aí liguei para um contador amigo e ele disse: “Não, Urânia, aposentada por tempo de serviço, você pode concorrer no mercado, tal.” Aí corri para Itapecerica e foi muito engraçado, porque a pessoa de RH já pegou meus documentos e falou: “Urânia, você já está admitida, vai pro exame médico.” O médico foi uma outra pessoa marcante e falou: “Poxa, as pessoas reclamam que não acham emprego e você, com essa idade, trabalhando.” Eu falei: “Bom, não sei se foi elogio ou o quê, mas foi esse processo todo.” Hoje eu estou há cinco meses promotora de vendas. Então, é, funcionária da Natura. Colaboradora, como eles chamam. E, então, esse amigo me falou: “Olha, vai vendo esse processo que de repente você trabalha lá e aqui…” Eu não sabia como era esse processo e o que eu ia ser e o quanto de... E aí, depois, eu fui lá falei: “Não dá.” E aí me desliguei e tal, e aí tem um período forte de treinamento. Na verdade, eu fiquei uma semana em treinamento num hotel, com promotoras do Brasil inteiro, novas. Depois, eu fiquei em campo com uma madrinha, como eles chamam, mais antiga, que você fica acompanhando o processo. Aí, depois, eu voltei com mais uma semana, com o básico um, e agora, em março, eu devo ter o básico dois. Mais uma semana de treinamento. Mas, na verdade, já estou em campo, meu setor está sendo formado na região do ABC e já estou trabalhando como promotora.
P/1 – Você passou de consultora para promotora?
R – É. Aí eu não posso mais vender Natura. Eu tenho que gerenciar esse grupo de consultoras. Eu deixo de ser consultora. Eu senti muito. Leva um tempo pra trocar o chip.
P/1 – Você, até enquanto trabalhava na agência, era consultora. Você tinha estoque? Tinha pronta entrega?
R – Tinha. Claro que eu vendia bem na ZF, que era meu forte. Eu vendia bem lá, mas a agência era menor e começou, realmente... Porque a ZF foi para Sorocaba, meus amigos mudaram, mas aí eu comecei realmente a vender bem pouco. Mas mesmo assim, eu tirava os produtos pra mim e eu tirava um lucrinho. E nunca me desliguei, nunca vou conseguir me desligar. Sou consumidora e vendi até outubro. Aí eles cortam... Dá até uma dor assim. Eles cortam meu código, não podia mais fazer pedido.
P/1 – Com essa evolução profissional que aconteceu, como ficaram seus clientes e seus relacionamentos? Como consultora e agora com promotoras colegas, como fica essa relação?
R – Ainda é meio confuso, porque ligam pra minha casa e dizem: “Eu preciso disso.” E aí eu digo: “Vou te indicar.” Minha irmã voltou a vender, tenho uma prima minha que é da região de São Bernardo, então você passa pra esse pessoal e fala: “Olha, pessoal, não posso mais vender, mas eu indico e tal.” Então está ainda meio confuso isso. Tenho uma cunhada também. E agora, o que acontece? A Natura tem um serviço Snac, que eles indicam a pessoa que quer ser consultora Natura e, dependendo do CEP, eles indicam para minha região. A maior parte realmente vem de indicação, você faz um trabalhinho de panfletagem também, você tenta... Trabalhar em salão de beleza pra falar: “Olha, você quer ser consultora?” E tal... E aí vai formando seu grupo.
P/1 – Esses seus clientes ficaram para sua irmã, prima…
R – Ficaram, eu não posso mais atender. Eu indico outra consultora. Às vezes me perguntam de tal produto e, assim, eu falo e tal, mas eu não tenho mais acesso de como entrar no sistema e comprar, fazer um pedido. Não tenho mais. A forma de atuação é outra, e aí tem aquilo que você falou, como é meu relacionamento agora com minha antiga promotora, e ontem estivemos numa reunião juntas, e aí você muda de lado.
P/1 – E, então, como é isso?
R – É curioso, muito curioso, porque eu mudei de lado e, então, você começa a entender ela... Coisa que eu olho nela e: “Hum… Agora entendo o porquê isso, porquê aquilo.” Você gerenciar um grupo de quinhentas, seiscentas mulheres, é gestão de pessoas, assim, de quinhentas pessoas, é complicado. Tem toda uma estrutura, um aparato, tem... Leva um tempo, uns três, quatro anos, sei lá.
P/1 – Para lembrar: enquanto consultora, você tinha estratégia, alguma coisa marcante sua? Uma tática de venda?
R – A minha tática era o telefone. Eu usava muito o telefone, porque eu sabia, assim, o que cada um usava, e então eu ligava e avisava: “Olha, aquele produto que você usa está em promoção, está bom.” As vendas melhores eram assim, no final de ano, dia das mães. Isso eles procuravam muito mesmo, queriam presentes. Minha tática mesmo era o telefone. À noite, eu chegava em casa, eu ligava pro pessoal, falava das promoções.
P/1 – E você tinha cadastro de todo mundo?
R – Sim, com certeza, a Natura até tem, faz parte de um quite, um caderno, que eu aconselho muito o pessoal a usar, que se cadastre o seu pessoal, que produtos que ele usa, o tipo de pele e cabelo, isto é muito interessante, que tipo de pele, o cabelo… Um perfil. Uma análise mesmo do cliente, você faz e vai ajudando, acabou esse produto, entrou em promoção. Este cadastro existe sim.
P/1 – Com a internet você chegou a trabalhar um pouco enquanto consultora?
R – Sim. Eu passava alguns e-mails e falava: “Fulano, produto tá em promoção…” Usava e-mails e internet… Hoje a Natura vem mudando, dá pra usar bem o site pro pessoal fazer isso. A Natura tem isso, ela nunca para, ela está sempre com inovações. Sempre, o atendimento, a forma de divulgar os produtos e o material impresso que vem, e hoje, estando lá, sendo uma colaboradora Natura... Primeiro, esta coisa fantástica que a Natura me deu, esta lição. Junto comigo, tinha um rapaz fazendo também, que era deficiente auditivo. Tem deficiente visual, auditivo. Pessoas com cinquenta anos, não importa... Tem negro, oriental. A Natura também mostra que aceita sugestões. Na verdade, nós fazemos a Natura mesmo. Se o marketing faz um impresso de alguma coisa você pode chegar lá e dar palpite, eles te escutam. E as promotoras, as consultoras, é a força da Natura que fica externo, e eles tentam trazer os departamentos para próximo da gente, a serviço da gente. A Natura tem essa preocupação de não ficar distante. Como é que a área médica da Natura está acompanhando? Como é que o RH está acompanhando? Hoje o site está ajudando bastante.
P/1 – O trabalho de consultores, é importante estar na rua?
R – É a vida da Natura, é o que está na rua, e por outro lado, somos nós preparando esse pessoal, esta é nossa função: motivar esse canal, preparar esse canal, mas a força da Natura está nas consultoras, com certeza, nos consultores. Eles é que estão na rua e levando a Natura.
P/1 – Quando você era consultora já tinha essa noção? Ou isso veio a se fortalecer agora com isto de ser promotora?
R – O que aconteceu? Como eu trabalhava e estudava, eu não participava dos encontros, eu tinha essa distância, porque dava pra passar os pedidos. Aí eu comecei a participar e achei muito bom. Aí falei: “Nossa, faço parte da Natura.” Se você não participa desses encontros, você fica meio distante, mas quando participa, você passa a ter os catálogos, você fala: “Nossa, eu faço parte da Natura.” Porque é complicado isso, você é um empregado, mas é autônomo. Quer dizer, na verdade, você não tem vínculo empregatício. Este momento, eu lembro direitinho como que aconteceu comigo, porque eu fui nos primeiros encontros e tal e falei: “Poxa, eu faço parte da Natura, não é só a ZF na minha vida.” E é isso que a gente tenta trazer para as consultoras. A Natura está lá em Cajamar, mas, na verdade, você tem que trazer a Natura pra cá. A Natura está nos produtos ___ direto.
P/1 – E neste tempo de consultora, tem alguma história pitoresca, engraçada?
R – Essa entrega do produto era muito engraçada, porque São Caetano era pequeno, meu irmão me dava carona e o porteiro comprava Natura. Ele comprava Signorini, e eu tinha que entrar, muito pesado, e meu irmão falava: “Não quero nem ver, porque qualquer dia vão abrir…” E o porteiro brincava comigo. “Ô, tem ginástica hoje…” E eu entrava disfarçando, com aquilo pesando. Então tem toda essa história da entrega, de chegar com o produto.
P/1 – Você tinha entrega semanal?
R – Com certeza, pelo menos dois pedidos a cada ciclo eu atendia. Eu conseguia atender. Final de ano era uma loucura, porque tinha os estojos, e aí o volume era maior.
P/1 – Quais foram os maiores desafios e sonhos alcançados?
R – É realmente essa trajetória aí que tinha essa dificuldade de infância, a doença de meu pai, e então o meu objetivo era viajar, ter um trabalho e ter minha própria casa. A gente acabou com essa dificuldade toda morando de aluguel e depois disso, adulto, eu e mais outro irmão, não consegui comprar sozinha, mas a gente, em três, ter conseguido comprar foi muito marcante pra gente. Depois fizemos isso com uma chácara que nós temos e se não dá para comprar sozinho, vamos comprar em três. Então esses sonhos, essa trajetória das viagens que eu quis fazer e fiz. E outro dia eu encontrei uma senhora que eu limpei a casa dela e falei assim: “Caramba.” Mostrando fotos, e você fala: “Poxa, consegui viajar para a Europa, eu consegui estudar e eu trabalhei na casa dela.” Então esses sonhos da casa própria, das minhas viagens... A Natura participou disso direto. Isso que eu falo, eu acho que tem muita viagem por aí que a Natura pagou.
P/1 – Quais os três irmãos que mais participaram?
R – Não, cada um tem uma característica. Tenho um irmão que negocia carro. Então carro sempre pra gente foi um negócio. Então tinha um irmão que eu ia viajar e quando chegava, ele tinha negociado o carro. E o pessoal falava: “Nossa, você deixa…” Eu falava: “Não, ele entende disso.” E ele tinha liberdade de vender, mexer no meu capital, fazíamos isso juntos.
P/1 – Quais os prêmios mais marcantes? Já recebeu algum? Você quis receber algum, recebeu?
R – Tem o prêmio dos jantares da Natura, de você estar lá e tal, ser destaque, e tem também o tempo que você tem com a Natura. Este reconhecimento: o primeiro foi de cinco anos, um broche de prata. O segundo foi com dez anos, um broche de ouro, eu lembro, foi numa casa de chá em são Paulo e nesse período são promotoras diferentes, via mudando. E o último, que foi de quinze anos de Natura. E este, quando eu recebi, eu já estava com dezessete, já. Foi do Brasil todo e quando eu recebi o telefonema, assim, eu falei: “Nossa... Três dias.” E ele começou tentando me convencer, porque tem mulher com marido e filhos e que às vezes o marido não deixa, e ele começou tentando me convencer falando: “Não, Urânia...” Falei: “Meu amigo, eu estou dentro. Eu vou, claro.” Três dias num hotel, não tinha problema nenhum e foi muito legal. Era uma torre de babel, comigo tinham consultoras do Brasil inteiro, sotaques... Nós ficamos no Meliá, em São Paulo. E então você via o que era a Natura. Gente do Brasil inteiro, cada um com uma história, uma dificuldade. E aí foram três dias de conhecer Cajamar, o jantar para receber o broche com brilhante, jantar de gala, maravilhoso. O pessoal com violino recebendo a gente e até tinham dois consultores, um de Minas e outro de Florianópolis, e aí, quando nós estávamos voltando deste jantar de gala, todo mundo desmontado de tanto brincar. E a tarde, a Natura fechou um salão de beleza para todo mundo se produzir. E aí todo mundo voltando já às duas da manhã e ele: “Mulherada, vou virar um sapo já”, porque parecia um conto de fadas, realmente. Este evento de consultora vip são três dias de palestra, mostram a Natura, o Senhor Luiz Seabra vem falar com a gente. Ele, sempre presente. Você ganha um relógio, um broche. Então são esses presentes aí por ter esse tempo de casa.
P/1 – O que mudou depois que você começou a trabalhar na Natura? Mudou muita coisa na tua vida?
R – Muda, porque a Natura trabalha muito isso de autoestima, de se cuidar um pouco e eu venho de uma mãe e uma irmã que não eram muito ligadas nisso e a Natura faz isso. Te fala de cosméticos, de se cuidar. Como eu disse, eu tinha uma prima... A Natura faz isso. Olha um pouco pra você. Começa a se cuidar, dar um creme pra você. Sempre fui meio desligada, sei lá, sempre fui mais do jeans, mais esportiva, mas ela te traz isso. Olha para você, se cuida, se dê um cheirinho bom, um tratamento.
P/1 – Isso muda, inclusive, na questão do relacionamento pessoal? Na vida social, familiar, financeira, mudou bastante?
R – É, sempre alguém fala assim: "Poxa, o que você tá usando? Você tá bonita hoje. Se maquiou.” Até tem uma tia que morreu e falo, assim, é duro perder as tias. Essa minha tia falava: “Que pele de pêssego.” E falava: “Olha, a pele de pêssego chegou.” E então essas coisas te marcam e é claro que foi a Natura.
P/1 – Um grande sonho não realizado, qual foi?
R – Olha, até essa pergunta foi feita lá na Natura, no processo seletivo para promotora. Eu tinha muito o sonho de viajar e ter minha casa própria e tudo isso eu fui conseguindo e eu sonho sempre poder estar na ativa. Essa saúde mental e saúde física para nunca precisar parar. Eu gosto muito de estar no jogo. Tanto eu com cinquenta anos, já aposentada, estou correndo, porque gosto muito de estar no jogo e continuar fazendo o que sempre fiz: trabalhando, viajando, se possível mudar de casa, vai em lugares que não foi ainda. É estar na ativa, falar de igual com os meus sobrinhos, entendo o que eles falam e procurando participar também. Sempre buscando algo melhor, sempre, sempre.
P/1 – Qual, agora, o significado de ser uma promotora? Qual era o de ser consultora e agora de ser promotora?
R – O mais marcante nisso, volto a falar, é a Natura ter dado essa chance de voltar ao mercado deste jeito. Então o significado maior, com certeza, é esse de falar: “Poxa, você pode voltar a trabalhar e essa empresa está dando essa oportunidade mesmo aos cinquenta anos e de estar aposentada.” Agora, estar lá é muito diferente, administrar essas pessoas é diferente, você entra na casa das pessoas. Elas são muito diferentes umas das outras. Cada uma é um universo. Na verdade, antes, sendo consultora, você orientava o melhor produto, entregava, pronto. Hoje eu tenho que passar esse trabalho pra elas de como deve ser feito. Elas também fazem do jeito delas, cada uma tem suas características, mas o mais marcante, pra mim, agora, está sendo isso. Entrar na casa das pessoas, conhecer pessoas diferentes, porque é uma cidade muito grande, São Bernardo, perto de São Caetano, e, também, eu saí daquele mundo de São Caetano e estou conhecendo outras comunidades. Este é um grande marco por enquanto. Apesar que para eu poder avaliar esse marco de ser promotora, tem que passar pelo menos um ano, porque eu ainda não entrei nesta fase de dar curso e dar encontro, que deve dar uma outra avaliação.
P/1 – De consultora, que é o que você foi até agora, era um orgulho ser consultora da Natura?
R – Sempre foi. Primeiro isso, por incrível que pareça, eu tinha muito essa coisa de brasilidade. Eu não me daria bem vendendo produto importado. Então eu tinha muito prazer de vender Natura por ser brasileira. E também, o que tem de... Porque, às vezes, era a falta do produto, porque demorava ou faltava o produto. Mas quanto a qualidade do produto, eu nunca tive queixa nenhuma. Então, vender a Natura por ser consultora é porque, assim, geralmente o pessoal tinha sempre muita satisfação. Pediam sempre o produto. Não é que compravam naquele momento. A maioria era fiel, porque isso trazia um benefício. É você trazer um benefício e as pessoas falarem: “Não, eu fiquei satisfeita. Ganhei um presente ‘x’ da Natura.” Foi bom e é gostoso.
P/1 – O que você acha bonito em uma pessoa? O que você destaca de bonito em pessoas de sua região, por exemplo?
R – O que eu acho bonito é, assim, a alegria. Apesar de eu ser uma pessoa quieta... Eu tenho uma amiga, irmã, que mora em Goiânia e ela é assim, uma pessoa alta, ela é extremamente expressiva e alegre e muito espiritualista e amiga. Então isso é uma coisa bonita pra mim, ter essa pessoa do teu lado. Ela passa essa beleza.
P/1 – Como você vê essa coisa muito falada da “beleza da mulher brasileira”?
R – Eu acho que essa beleza, acima de tudo, é naturalidade, porque também já tive oportunidade de viajar, e esse chinelinho de dedo na praia e não vai sem maquiagem na praia. Diferente da europeia, por exemplo. Hoje minha prima mora em Málaga e ela fala: “É diferente, a brasileira é solta, é natural.” Ela é alegre e tem esse gingado todo, mas principalmente essa naturalidade. Essa espontaneidade e a naturalidade é o que marca.
P/1 – Enquanto consultora da Natura, o que você conhece dos valores dela? Das causas que ela defende, dos valores, da sustentabilidade?
R – O que eu conheço são os projetos ligados à educação, tanto que tem uma linha ver pra crer de embalagens, tudo vai para as escolas e toda essa preocupação com a pessoa, com o ser humano, e hoje ela está ligada à alfabetização, ao EJA, ensino fundamental, e que setenta milhões de brasileiros não tem essa educação fundamental e, então, ela está tentando... Porque se a gente for pensar qual, é a ideia da Natura? São milhares de consultoras por esse Brasil todo e essas consultoras estão entrando nas casas dessas pessoas e, então, se elas puderem levar conceitos de proteção ao planeta, de crescimento como pessoa... A Natura quer formar essa rede, tem essa ideia, que essas consultoras, além de levar esses produtos, levem também esses conceitos de proteção de meio ambiente, de recolher o material que pode ser reciclado, de economizar uma água, de voltar a estudar.
P/1 – Enquanto consultora, você sempre trabalhou isso?
R – Sim, eu nunca me engajei em um projeto, mas sempre sabia da região. O trabalho que é feito no Hospital do Câncer de você tentar levantar a autoestima das pessoas, então a Natura tem esse projeto, Novos Olhares. Tem promotoras que se revezam, consultoras que se revezam tanto para maquiar seus familiares como outros, tem consultoras que se revezam. Esse projeto é muito interessante e, agora, como foi regionalizado, a gente está tentando levar esse projeto também pro Hospital do ABC pra ter esse projeto lá. Então ela é aberta, completamente aberta, a projetos que visam a evolução da pessoa, a qualidade de vida. Sempre que a Natura tem esses projetos lá... Agora vai fazer parte de seu trabalho. Sim, agora se está gestando as pessoas e levando esses conceitos do universo da Natura, porque a gente fica falando: “Você conhece alguém que não estudou, você não quer voltar a estudar?”
P/1 – De que forma esses conceitos da Natura participam mais de sua vida?
R – Essa parte dos reciclados já é muito forte. Quando você está lá em Cajamar, em Itapecerica, lá é tudo muito forte, mas é lá. Vamos separar o que é plástico, o que é lixo. Tudo em volta da Natura está com essa preocupação, então é forte, mesmo que eu não consigo mais. É fechar a torneira, apesar que na ZF eu fazia isso também, e falava: “Nossa, a empresa é minha também, vem cá vamos apagar a luz, vamos fechar a torneira.” Até teve uma situação que um colega falava quando eu ia viajar pra Europa: “Olha, cuidado por lá, não é Brasil, não vá fazer isso nem aquilo…” Eu falava: “Meu amigo, eu nem aqui no Brasil, principalmente, eu não faço isso.” E isso me deixou mal com ele, porque eu sempre tive esse conceito de cidadania e brasilidade. Agora sim, um orgulho tremendo com essa loja de Paris. A Natura me traz muito isso de brasilidade. É uma das coisas mais fortes.
P/1 – Você lembra da sensação de venda, de quando vendia, isto de passar beleza e verdade da Natura, como é?
R – A linha Mamãe e Bebê, a sensação do cheiro Natura é uma coisa que vem primeiro. O cheiro Natura é uma sensação. Do bem estar. Ele te leva assim. O meu cantinho na ZF era o mais perfumado. O cheiro da Natura é muito marcante. Porque depois de um creme, de alguma coisa, vem os benefícios, mas quando entregava uma sacolinha, era um cheiro peculiar de Natura.
P/1 – A consultora tem uma memória primeira, assim, olfativa?
R – Com certeza, pra mim, pelo menos, é a primeira, imediata, de frente. Para mim, pelo menos, é a memória olfativa.
P1 – De que forma a Natura alterou ou acrescentou a sua visão de mundo?
R – Alterou bastante, como eu falei, por ser sempre aquela empresa preocupada com o meio ambiente e com o ser humano e mudou muito minha visão agora que eu estava com preconceito muito grande de enfrentar o mercado. E volto a insistir nisso, ela mudou muito. Ela continua alterando até aí e me mostrou que eu posso concorrer e que estou na ativa, este é o mais recente aprendizado. Sempre o aprendizado do bem estar e de você se olhar um pouquinho e se dar um luxo e o prazer de usar um creminho, fazer uma massagem. Este benefício que vem por trás de um produto de qualidade. E o orgulho de brasilidade. De ser essa empresa brasileira.
P/1 – Uma dica para uma futura consultora, qual seria?
R – Bom, como é assim, a Natura não tem as lojas, então eu encaro que eu sou uma lojinha. Então é assim, encara como um negócio acima de tudo. Então tem aquela que vai dizer: “Bom, eu vou usar, eu sou uma consumidora” e tal. Mas se você encarar como um negócio, você pode ter seu próprio negócio e você vai fazer seu salário. Então o conselho que eu daria, primeiro: não fazer aquilo que eu fiz, que eu não enxerguei o que eu ganhei com a Natura e tratar esses clientes... Quando eu mostro minha carteira de clientes... No mundo dos negócios, tem gente pagando muito caro por essa carteira de clientes. Como eu fiquei muito tempo na empresa e lá tinha muitos funcionários, eu tinha muito... Eu não atingia todo mundo, mas a parte administrativa eu atingia bem, e depois eu tinha uma carteira de, sei lá, cinquenta fixos. Respeite muito sua carteira de clientes. Tenta ter essa pronta entrega. Ter o mais rápido possível, senão, de repente, ele sai e vai no mercado ou vai... Hoje a Natura tem um catálogo para todos os gostos e todos os bolsos. Antes falava-se que a Natura é muito cara. Hoje, não, a Natura tem um portfólio muito grande. Tem a pronta entrega, respeite seu cliente. Conserve seu cadastro, cuide bem dele e atenda rápido para eles não ficarem sem.
P/1 – Faça um auto retrato de sua pessoa?
R – Olha, eu gosto muito da minha história, eu nunca teria mudado nada. A gente sempre comenta isso. É muito forte nossa família e a gente conseguiu passar isso para os meus sobrinhos. Ainda hoje é aquele domingo na casa da avó, da mama, todos lá reunidos. Então eu gosto muito de toda minha história. Eu gosto do que eu fiz, a trajetória, falar: “Ah, você mudaria, você tem arrependimentos?” Não. Meu auto retrato é assim, eu tracei coisas e cheguei lá e gosto muito de minha história escrita assim.
P/1 – O que você achou de participar desta entrevista?
R – De novo, a Natura me proporcionando isso. Isso de fazer entrevista, ser fotografada, só a Natura para me fazer isso mesmo. Acho muito interessante, a gente precisa fazer isso. Levantar, fazer esta avaliação e acho que foi muito importante e gostei muito.
P/1 – Nós agradecemos também em nome da Natura e do Museu da Pessoa.
R – Eu também agradeço muito à Natura por mais esta oportunidade.
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