Sempre sonhei em ser uma Contabilista. Em 1951 descobri que era isto que queria ser, mais nesta época a função se chamava "Guarda Livros". Estudava eu em um Colégio de Freiras, Externato São José de Vila Matilde, e bem em frente tinha uma linda placa escrito "GUARDA LIVROS".
O tempo passou e n...Continuar leitura
Sempre sonhei em ser uma Contabilista. Em 1951 descobri que era isto que queria ser, mais nesta época a função se chamava "Guarda Livros". Estudava eu em um Colégio de Freiras, Externato São José de Vila Matilde, e bem em frente tinha uma linda placa escrito "GUARDA LIVROS".
O tempo passou e não consegui terminar os estudos, pois tive que ir para o mercado de trabalho. Conclui o Ginásio depois de alguns anos através de um curso supletivo. Fiz um bom curso de Datilografia, o que me deu condições para logo encontrar trabalho como Auxiliar de Escritório. Não posso reclamar, pois tive diversas oportunidades, trabalhei em boas empresas e sempre fui muita valorizada, apesar de que na época em escritórios a sua maioria eram homens.
Em 1968 passei a freqüentar o Curso de Técnico de Contabilidade e nesta profissão cresci e fui bem sucedida. Sempre trabalhado no mercado capitalista. Em 1994 me aposentei e meu marido queria morar em uma cidade do interior. Depois de muitas conversas, acertamos tudo. E saímos da cidade de São Paulo para a cidade de São Carlos (SP). A cidade é muito conhecida por suas universidades e clima. Mas para mim foi muito difícil a adaptação. Pois além de ser pequena, não tinha nem parentes, nem amigos.
Todo o dia tinha vontade de pegar um ônibus e voltar para a Capital. Mas caminhava a pé para conhecer a cidade e descobrir o que dava para fazer. Por sorte do destino as 54 anos voltei para o mercado de trabalho, como Contadora de uma construtora, o que me deu animo para continuar na cidade. Depois de dois anos, parei e comecei a procurar novamente alguma coisa que não me deixasse entrar em depressão.
Conheci algumas pessoas, fiz algumas amizades, escutava muitas histórias. Entre as pessoas conhecidas, algumas trabalhavam com artesanato, mas a cidade não oferecia oportunidade para este setor. Assim, comecei a ir aos diversos departamentos municipais para ver o que dava para fazer. No ano de 2003 conheci um grande conhecedor e ativista do “MOVIMENTO DA ECONOMIA SOLIDARIA”, que vendo meu currículo, me convidou para dar Assessoria aos Empreendimentos de Economia Solidária que estavam sendo constituídos na cidade.
E, assim, fiquei dando assessoria, mas também me envolvendo cada vez mais com o “Movimento”, que nunca nem tinha ouvido falar, pois fui criada para o mundo capitalista. Esta pessoa me deu muito material sobre o movimento e assim fui me aprofundando. Em 2009 constitui, junto com outras companheiras, uma Associação de Artesãos e Artistas dentro dos princípios da Economia Solidária.
Isto rende muitas reuniões, muitas viagens longas de ônibus, mas muita alegria também. O empreendimento hoje é bem reconhecido na cidade pelo seu trabalho, que gera emprego e renda para homens e mulheres que acreditam nesta forma de trabalho. Temos conquistados alguns prêmios com projetos voltados para esta área. Participo ativamente nas reuniões do Fórum e do Conselho. Conseguimos há um ano autorização por decreto para usar aos domingos a melhor praça da cidade para a realização de uma “Feira de Economia Solidária”. "Artesanato e Arte" e esta arte está gerando ou complementado renda de muitas pessoas. Eu que sou uma forasteira na cidade, hoje sou recebida pelo Prefeito, Primeira Dama e Vereadores que reconhecem minhas atividades.
“Aquele meu sonho de ser ‘GUARDA LIVROS”. Hoje ele é executado a custo zero para aqueles empreendedores que não tem como pagar uma profissional. Este trabalho neste seguimento tem que ter conhecimento, mas também sensibilidade. Não é para qualquer profissional. Esta é a minha maior mudança de hábitos. Antigamente trabalhava em escritórios luxuosos na Avenida Faria Lima, Avenida Paulista, Rua Libero Badaró, Avenida Ipiranga. Hoje, este trabalho e feito nas periferias com gente que mal sabe escrever. Mas que tem sonhos. De ter o mínimo para ser feliz.Recolher