Programa Conte sua História
Depoimento de Camila Batista
Entrevistada por Denise Cooke e Carolina Margiotte
São Paulo, 10 de abril de 2018.
Entrevista número PCSH_HV646
Revisado e editado por Bruno Pinho
P/1 - Oi Camila, tudo bem?
R - Tudo bem.
P/1 - Bom, você podia falar para a gente o seu nome, o local e a data do seu nascimento?
R - Meu nome é Camila, eu nasci em São Paulo e eu tenho 27 anos.
P/1 - Você sabe a história do seu nome? Por que os seus pais escolheram esse nome para você?
R - Nunca parei para pensar nisso. Mas eu tenho irmãos por parte de pai, então acho que o meu pai quis seguir: os meus irmãos têm os nomes todos com a letra C, então em mim teve essa continuidade. Mas o meu irmão, não. O meu irmão que morou comigo, mesmo pai e mesma mãe. Mas minha mãe só me conta assim, que ela tinha uma dúvida do nome, que poderia ser Renata, Valéria ou Camila, mas ficou sendo Camila.
P/1 - E você sabe alguma coisa sobre o seu nascimento? Tem alguma história para contar sobre o dia do seu nascimento?
R - Eu sei que a gravidez da minha mãe foi uma gravidez de risco porque, se eu não me engano, ela tinha um cisto no rim e na época ela não podia fazer exames para saber se era uma coisa benigna ou maligna. Os recursos naquela época não eram muito bons, então ela tinha um risco na hora do parto. O médico até chegou a pedir que ela escolhesse se precisasse quem ele optaria. E ela escolheu por mim, mas graças a Deus ambas sobrevivemos.
P/1 - E o que você lembra da sua infância? Como ela foi?
R - Olha, eu acho que eu tive uma infância muito boa porque a minha família era muito unida. Eu lembro muito de viajar com os meus pais e ter muito convívio com os meus primos, então sempre tive essa proximidade e essa troca. Então a gente sempre brincava, na minha casa costumava ter muitas festas, muitas reuniões sociais. Então os adultos estavam lá se divertindo e as crianças estavam brincando. Eu lembro muito disso.
P/1 - E quantos irmãos você tem?
R - Eu tenho um do mesmo pai e da mesma mãe e mais Cléber, Cleonice, Cláudio. E mais três e mais um que faleceu, então seriam quatro.
P/1 - E você sempre teve contato com os outros irmãos também?
R - Não, porque esses irmãos são do primeiro casamento do meu pai. Quem teve mais contato foi o meu irmão porque ele chegou a viver com eles. Quando eu nasci eles já não moravam na mesma casa, então o contato que eu tinha era em comemorações. Era o contato que eu tinha com eles, um pouco mais distante.
P/2 - E falando dos seus pais, qual é o nome deles?
R - O nome da minha mãe é Martinha e o nome do meu pai é Geraldo.
P/2 - E você sabe como eles se conheceram?
R - Não. Não, sabe por quê? Minha mãe não é uma pessoa de contar muitas histórias, você pergunta para ela e ela fala o mínimo. É muito difícil arrancar as coisas dela, então eu não sei. Eu sei por alto que minha mãe é da Bahia e o meu pai é de Minas. O meu pai veio para cá para trabalhar e minha mãe também veio e eles se conheceram. Mas as circunstâncias eu não sei, não.
P/2 - Você sabe onde eles foram morar quando eles chegaram?
R - Eu sei que eles moraram na Vila Leopoldina. Quando eles decidiram realmente ficar juntos foi lá o primeiro local onde eles moraram. E onde esses filhos do primeiro casamento do meu pai moravam com eles e minha mãe até criou eles até uma certa idade.
P/1 - E como é que era a sua casa?
R - Então, eu não tenho muita lembrança de quando eu era criança. Criança que eu digo é três anos para baixo. A minha casa, pelo que eu sei, os meus pais compraram um terreno e eles foram construindo aos poucos. Então quando eu conheci já era uma casa grande. Era uma casa bem grande, então a gente brincava muito lá de esconde-esconde. Às vezes eu e meu irmão tínhamos medo porque a casa fazia muito ruído, mas normal acho.
P/1 - E a escola? Quais são as suas primeiras lembranças da escola?
R - Da escola eu lembro um pouquinho do jardim de infância, que a escola onde eu estudava a gente tinha aquela saia que era rodadinha. Eu adorava aquela saia. Eu lembro que a gente brincava muito no pátio que tinha o escorregador e aquele gira-gira. Acho que é o melhor momento, que são as recordações que eu tenho. Da sala de aula eu não lembro muita coisa e depois eu lembro da primeira série em diante, que aí acho que foi quando eu comecei a me descobrir a me identificar. Mas não tenho assim uma memória de: “nossa, isso me marcou”.
P/2 - Eu posso voltar?
R - Pode.
P/2 - Antes de chegar na primeira série.
R - Eu tenho uma pergunta.
P/2 - Claro.
R - Eu tenho que inserir isso no contexto da dermatite ou não?
P/2 - A gente vai chegar lá. Fica tranquila. Voltando um pouquinho antes, eu queria saber ainda nessa sua infância. Seus pais trabalhavam? Com quem você ficava em casa? Como que era sua rotina de criança?
R - Meu pai sempre trabalhou fora. Ele era servidor público. Eu falo que ele era porque o meu pai é falecido. E a minha mãe sempre foi do lar, então ela sempre se dedicou a cuidar da casa e a cuidar dos filhos. E aí tinha uma moça que ajudava a minha mãe, eu lembro muito dela, a dona Maria, porque meio que ela também cuidava de mim. Ela cuidava da casa, mas acabava cuidando de mim. Eu e meu irmão pirraçávamos muito ela.
P/2 - Cami, você não falou o nome dos seus dois irmãos.
R - O meu irmão que é do meu pai e da minha mãe é o Marcelo aí os outros irmãos são Cléber, a Cleonice, o Cláudio e o Carlos é o que faleceu.
P/2 - E quem que morava na mesma casa?
R - O Marcelo.
P/2 - E tinha divisão de tarefas?
R - Mais ou menos. Eu e o meu irmão fomos criados muito independentes. A gente nunca dividiu o quarto, por exemplo. Cada um sempre teve a sua individualidade. Eu não vejo como uma divisão de tarefas. O meu irmão, por ser mais velho, começou a fazer mais as tarefas domésticas e quando eu comecei a ganhar já uma certa idade eu comecei a fazer. E ele começou a trabalhar, então ele já não fazia mais. Eu não lembro de ter um: “faça isso”. Acho que o mínimo era arrumar a cama, guardar sua roupa, mas tarefas domésticas mesmo acho que ele não fez não.
P/2 - Você é mais velha?
R - Eu sou mais nova.
P/2 - Como é ser mais nova?
R - Tem horas que é um tédio. Tem horas que é horrível, mas tem horas que é bom. Tem aquela coisa de ser mimada, protegida. Meu irmão e o meu primo judiavam muito de mim, muito. Eles me batiam e eu sempre me aproveitava fazendo drama. Às vezes eles não tinham nem batido, eles têm consciência disso, aí eu: “mãe, tio, o Paulinho e o Marcelo me bateram”. E eles apanhavam.
P/1 - E os seus avós? Você cresceu com eles? Eles foram presentes na sua vida?
R - Não, os meus avós paternos eu não conheci, mas os meus avós maternos eu cheguei a conhecer. A minha avó, quando eu nasci, já tinha muita idade, então quando eu era criança ela já veio a falecer e o meu avô morou por muito tempo na Bahia. Ele só veio para cá quando estava bem doente mesmo, então o contato que eu tive foi muito mínimo. Não tive convivência e ele também veio a falecer já faz algum tempo.
P/1 - E o seu bairro? Você tem alguma lembrança do bairro, das pessoas, dos vizinhos? Você brincava na rua?
R - Não, minha mãe nunca deixou eu brincar na rua. Era sempre no quintal. Então eu não tenho muito convívio com os vizinhos em si. Tinha alguns colegas da escola que moravam perto, então eram essas pessoas com quem eu interagia. Tinha umas vizinhas de frente que eram duas gêmeas e com elas eu estudei desde o jardim até quase que o Ensino Médio. Então com elas era com quem eu mais convivia. Se minha mãe precisava sair e não tinha com quem deixar, era na casa das meninas que eu ficava. Eu lembro disso.
P/2 - Tem uma boa história desse encontro de vocês?
R - A gente fazia várias palhaçadas. Na época do Rebelde, que era uma coisa muito da nossa época, a gente cantava o DVD inteirinho, fingia que dublava. Brincava de restaurante, era uma coisa que a gente fazia muito. Na minha casa tinha um balcão, então a gente comprava as coisas de café da tarde e fingia que era um restaurante. Ai como nós éramos em três, nós revezávamos, duas comiam e uma outra servia. Coisa de criança. Lembro disso.
P/1 - Você falou que foi na primeira série que você começou a criar uma identidade. O que você lembra desse período em diante?
R - Então, eu digo que foi na primeira série porque eu comecei a me desenvolver no corpo muito cedo. A primeira série eu acho que a gente entra com sete anos. Então com sete anos eu já estava me desenvolvendo, criando mais peso. E cabelo cacheado. Isso na época da escola não era assim normal, então cabelo sempre preso. Você olha para o amiguinho e vê que tem uma diferença entre você e ele. Então eu fui me descobrindo. Foi na escola também que eu virei mocinha e isso para mim: “e agora?”. Que estranho. Eu lembro quando eu fiquei a primeira vez, era muito estranho.
P/1 - Quantos anos você tinha?
R - 13 anos. Muito ruim. A sensação é de que todo mundo está te olhando.
P/2 - Você pode contar para a gente como foi esse dia?
R - A primeira vez, posso. Estava eu e meu irmão em casa, porque os meus pais têm uma chácara, e a minha mãe fica muito tempo nessa chácara, então eu sempre fui acostumada a ficar muito com o meu irmão sozinha em casa. Quando desceu para mim, minha mãe nunca tinha sentado comigo para conversar a respeito disso. Eu sei que eu e o meu irmão íamos sair para ir ao circo, eu entrei no banheiro, fui tomar banho e eu vi que estava sujo de sangue. E eu falei: “meu Deus o que é isso?”. Eu pensei: “vou falar para o meu irmão”. “Celo, aconteceu isso, isso e aquilo”. E ele falou: “deixa eu ver”. E eu: “não, você não vai ver”. Falei: “liga para a mãe”. E a mãe: “Ah, você virou mocinha”. Eu falei: “O que é isso?”. E nessa circunstância a minha mãe ligou para a minha vizinha, que era onde eu sempre ficava, eu fui na casa dela e ela me ensinou a usar absorvente. E eu tive o meu primeiro contato com essa vida ruim de ficar mocinha todos os meses. Foi isso.
P/1 - E me fala uma coisa. Em que momento da sua infância você se deu conta da dermatite atópica?
R - Eu tenho flashes, não tenho memórias muito longas, porque eu sempre fui muito otimista e muito alegre. Então quando eu tinha crises de dermatite na época da minha infância, quem administrava e quem cuidava era a minha mãe. Eu lembro que eu chorava quando ela passava o creme e ardia ou quando ela passava algum remédio. Eu lembro que era um saco ficar passando creme também. Eu não gostava. Então, era ela quem fazia, ficava me policiando se eu estava fazendo ou não. Era um saco. Eu lembro de uma vez que o meu braço estava bem empolado e para não coçar muito minha mãe colocou sabe esses negócios de curativo? Para que eu não viesse a coçar. Eu lembro disso. E a minha mão. A minha mão é enrugada por conta da dermatite. Na escola eu lembro de já ter escutado comentários do tipo que hoje seria considerado como bullying, mas na época só foi um comentário que não deveria ter escutado.
P/1 - De um modo geral, isso tinha um impacto muito grande na sua vida? Ou era uma coisa secundária? Como era conviver com isso numa idade tão...
R - Na época da minha infância eu não tenho traumas relacionados à dermatite. Eu não fiquei com sequelas emocionais. Eu tive sequelas emocionais depois que eu passei pela minha adolescência e eu cheguei na minha fase adulta e na fase adulta a dermatite voltou a aparecer. Aí foi o momento que eu não soube mesmo como administrar, eu não sabia aceitar e foi mais difícil, bem mais complicado. Na época da infância devem ter tido momentos difíceis, mas eu não posso falar com propriedade porque minha mãe que cuidava, ela dava toda a assistência. Eu lembro que ela levava muito no médico e levava em diferentes médicos, na verdade. A gente tentou diversos tratamentos, mas para mim era uma coisa, uma rotina, que eu fazia que era chata, mas minha mãe que cuidava, então ela que administrava toda a situação. Então não lembro assim de nada.
P/2 - Camis, mas você sabe o que fez a sua mãe te levar para as primeiras consultas médicas?
R - Pelo que a minha mãe fala eu tenho a pele seca desde que eu nasci, de acordo com ela. Então ela sempre me levou para dar um tratamento na pele seca. Até que na época o diagnóstico não era de dermatite atópica, sempre os médicos falavam: “Você tem uma pele seca, então você precisa hidratar”. Eu lembro que tinha muito desses cremes manipulados e até desses conta gotas que eu tomava, eu não lembro o que era ao certo, mas eu sei que eu tinha essa rotina. Eu saía do banho e eu passava esses cremes. Não dava certo e minha mãe passava para um outro médico: “Vamos tentar um outro médico para ver se a sua pele vai melhorar ou não”. E eu ia pulando de médico em médico, tentando associar as coisas também. Porque era tida como alergia: “Por que ela tem essa alergia? Mas por que não melhora? E essa pela seca? O que é?”. A gente sempre andou no escuro. Minha mãe preocupada e eu não tendo ciência do que era e tipo: “Ah, que saco”.
P/1 - E quando chegou a adolescência, conta desse processo para a gente. Quando você entrou na adolescência, você ficou mocinha. Fala para a gente da sua vida nessa época.
R - Em relação à dermatite eu não tive na adolescência. É normal da dermatite, ter na parte da infância, melhorar e não ter mais. No meu caso eu tive na infância, na adolescência eu não tive. Então na vida, na adolescência, eu acho que foi uma adolescência normal, com todas as dúvidas que a gente tem na vida, com todas as descobertas que a gente tem. Mas nada extremo, porque minha mãe sempre me conteve muito. Sempre me segurou muito. Hoje as coisas são muito mais liberais. Eu não lembro da época da minha adolescência de ficar saindo para shopping sozinha. Eu não tinha essa autonomia. Se eu saísse para algum lugar eu teria que sair acompanhada de algum adulto e sempre com horário para voltar. Coisas assim. Dormir na casa de alguém...
P/1 - O que você fazia para se divertir então? Como era?
R - Os meus pais viajavam muito. Eu lembro que a gente ia muito para a praia e a gente ia muito para a chácara. Então nosso tempo de diversão praticamente era isso. Até porque quando a gente ia para a praia ou ia para a chácara não ia só a nossa família, iam também alguns amigos. Então era o nosso tempo de qualidade. Quando os meus pais compraram a chácara, não tinha absolutamente nada nessa chácara, mas a gente ia todo final de semana para lá. Como eu era menor então eu tinha que ir com a minha mãe. Eu era obrigada. Mesmo o meu irmão não indo, porque ele já era maior, eu tinha que ir porque precisava cuidar de mim. Acho que para minimizar um pouco a situação minha mãe sempre me deixava levar alguém para brincar, para distrair. Eu lembro mais ou menos disso. Em casa, passatempos como andar de bicicleta, patins, assistir muita TV, alugar videocassete de final de semana, brigar com o meu irmão qual seria o filme.
P/1 - As gêmeas ainda eram suas amigas nessa época?
R - Sim, porque a gente teve uma convivência muito junto. Uma criação muito junto, na verdade. A gente tem a mesma idade, a nossa diferença de idade é de três meses. Então às vezes as pessoas até pensavam que eu era irmã delas, de uma delas, do que elas mesmas, porque elas são gêmeas de placentas separadas. Então eu e a Jussara sempre falávamos: “vocês são irmãs” e eu: “não, são elas duas”.
P/2 - Camis, ainda na época que tinha essa dependência dos seus pais, de criança, e vocês viajavam. Tem alguma lembrança de algum cuidado da sua mãe quando vocês saiam desse ambiente de casa para ir viajar? Em relação à dermatite?
R - Olha, não. Uma coisa que está associada à dermatite é a rinite. A dermatite faz parte de uma tríade e hoje eu sei disso. Eu tenho muita rinite, então dependendo do lugar que a gente ia, se tinha muito mofo, tinha muito pó, então eu tinha crises de rinite. Isso eu me recordo, mas aí minha mãe fazia o que sempre teria que fazer - administrar algum soro, o creme. Mas em relação à viagem, minha mãe sempre me deixou muito à vontade. Então, se tinha piscina para curtir ela me deixava ficar o dia inteiro na piscina, se tinha praia ela me deixava curtir o dia inteiro. Eu não lembro de ter limitação. Isso era muito bom.
P/2 - Eu queria saber dessa menina que estava crescendo. O que ela queria ser quando crescesse?
R - Que difícil. Olha, eu gosto muito de romance, então eu não visualizava muito uma carreira quando eu era criança, eu visualizava construir uma família. Era isso que eu acho que eu tinha dentro de mim. Eu não olhava: “Eu quero fazer tal coisa de profissão. Quero ser tal coisa”. Quando eu era criança eu acho que era isso. Quando eu comecei a criar já uma maturidade, eu comecei a pensar: “Poxa, eu quero ser lembrada, eu quero fazer alguma coisa que ajude as pessoas. Porque isso é bom”. E eu sempre tive um convívio muito grande dentro da igreja. Comecei primeiro na Igreja Católica e fui depois para a Igreja Cristã. Em ambas as religiões a gente sempre teve um trabalho social muito grande. Então isso dentro de mim começou já. Falei: “isso é muito bom. Eu me sinto bem fazendo”. É uma coisa que foi crescendo, mas ao mesmo tempo que eu sei que isso foi crescendo, na época eu não tomei conta disso, não tinha consciência.
P/1 - E que tipo de trabalho social você fazia na igreja ou ainda faz?
R - Na Igreja Católica a gente tinha um grupo de jovens que se chama “Movimento Escalada”, lá era um grupo de evangelismo. Então a gente tem várias localidades espalhadas pelo Brasil, a gente fazia um encontro anual. Então, a equipe se preparava o ano inteiro para poder fazer esse encontro e levar evangelismo para essas pessoas que não têm contato com a igreja. Então isso já era uma coisa que eu gostava porque não é só de fé, não é só de religião que acaba se tratando. Às vezes a pessoa tem algum problema na vida, alguma falha e às vezes ali é um momento que ela precisa para ter um start e se relacionar, se abrir e as coisas mudarem na vida dela. Na Igreja Cristã o trabalho social se tornou um pouco mais afinco, um pouco mais forte, porque lá direto a gente faz visitação em abrigo, em hospital, a gente tem um projeto social dentro da igreja mesmo com crianças que são carentes. É um trabalho maçante, desgastante, mas ele é muito maravilhoso quando você vê que tem o mínimo de retorno. Quando a gente vai no hospital, porque geralmente a gente vai no da Beneficência Portuguesa, o que a gente faz? A gente leva algumas apresentações, mas a gente vai visitar nos quartos, a gente não está lá para falar sobre a doença deles. A gente está lá para trazer um dia diferente porque eles já sofrem todos os dias. É sem igual ver o sorriso no rosto de uma criança, de uma mãe, porque você está vendo que no olhar dela tem desespero, tem tristeza, tem sofrimento e você está ali para trazer um resquício de diferencial. Não tem palavra para poder mensurar o quão grande, o quanto isso é bom.
P/1 - Você já viajou com esses trabalhos? Já saiu de São Paulo para fazer isso?
R - Não. Tem um outro que se assemelha também a esse projeto de coisas sociais que foi o que eu comecei a fazer uns vídeos no Youtube por conta da dermatite. Se eu não me engano, foi em 2013 ou em 2014. Eu estava em um momento de muitas crises, muitos questionamentos, que eu estava indignada de que eu tinha isso e que nenhum médico conseguia me trazer uma melhora. E eu falei: “Não é possível que só eu tenha essa alergia”. Na época eu pensava que era alergia. Eu pensei: “na internet todo mundo lança alguma coisa e viraliza, por que eu não tento fazer isso?”. Eu tentei, mas achando que não ia dar retorno nenhum. Lancei o vídeo falando que eu tinha dermatite e eu queria lançar um desafio para as pessoas não se esconderem, para que elas falassem a respeito do problema delas. Os vídeos as pessoas não fizeram, acho que tiveram umas duas ou três que fizeram, mas esse vídeo viralizou. Teve uma dimensão que eu falei: “Meu Deus, caramba”.
P/1 - Que idade você tinha nessa época?
R - Eu acho que foi em 2014. Hoje é 2018. Eu sou péssima em conta.
P/1 - Quatro anos atrás? Você tinha o quê? 23?
R - Acho que é alguma coisa assim. Eu sou péssima em conta.
P/1 - Eu também.
R - E viralizou. A partir disso algumas pessoas entraram em contato comigo pessoas que eu nem conhecia. Eu falei: “Meu Deus” e eles: “Olha, o que você tem é isso e isso, existe um grupo assim no face que fala disso”, e aí que eu fui começar: “Caramba, eu tenho dermatite atópica. Tem um monte de gente que tem a mesma coisa”. Aí eu conheci outras pessoas, porque até então eu não conheci ninguém, eu me sentia como uma aberração. Eu falei: “Não é possível, tem 10 milhões de pessoas no mundo, eu sou a zicada que tem essa doença”. E eu não entendia nem o porquê de eu ter. Será que veio alguma coisa da minha família? Eu não sabia nada. E olha que eu já tinha passado por muitos e muitos médicos. Ninguém, nenhum médico parou para me explicar: “Olha, você tem isso, isso e isso, por conta disso, disso e disso”. Eu nunca entendi, e aí através desse vídeo que eu comecei a conhecer o grupo e eu falei: “Poxa, está vendo? Não sou só eu que preciso dessas palavras. Essas pessoas também precisam”. E eu comecei a fazer com coisas que eu me sentia mal a respeito da dermatite e me fez muito bem falar, e aí foi que eu comecei a melhorar. Nisso eu encontrei também o retorno das pessoas: “isso mesmo, faz, a gente não vê coisas a esse respeito na internet”. Eu falei: “é verdade”. E eu continuei fazendo.
P/1 - Então quer dizer, o agravamento também tem um componente emocional. A partir do momento que você ficou mais tranquila com relação à dermatite os sintomas também começaram a ficar mais suaves. É isso?
R - Sim, a dermatite tem vários fatores que podem potencializar. No meu caso o emocional contribui quase que 100%. No meu caso. Existem alguns alimentos também que se eu comer vão fazer com que eu me ataque, que é amendoim, castanha, então eu tento evitar. Roupas também, lã não posso ter contato direto na minha pele porque vai dar uma dermatite de contato. Tem coisas que eu preciso evitar. Banho quente é para todo mundo. Ninguém que tem dermatite é legal tomar banho quente porque a água vai esquentar a sua pele e vai dar vontade de coçar. Tem uma série de coisas, mas o emocional é o que me pega. E o que acontecia? Por eu não conhecer ninguém que tinha o mesmo problema, eu me retia muito em mim, eu não falava a respeito. A minha mãe é uma pessoa extremamente preocupada. Eu me coçava muito, se eu tivesse aqui eu estaria tentando me coçar e a minha mãe ficava preocupada. Então o que eu fazia? Eu me coçava escondido dela, tentava, para ela não ficar preocupada porque eu não gostava de ver ela preocupada. Eu nunca gostei de ser o centro das atenções. Você está naquela reunião familiar: “como está a Camila?”. De novo falando de mim. A doente. Eu não gostava disso, então eu não falava. Eu não falava até porque mesmo se eu falasse: “mãe, estou me sentindo assim ou assado”. Ela como mãe falaria: “olha filha, não precisa ficar assim, vai passar”. Na verdade não era o que eu queria ouvir, eu só queria me lamentar. Me lamentar e colocar para fora. Eu não conseguia verbalizar isso para ela, eu conseguia verbalizar nos vídeos porque eu estava falando comigo mesma, mas outras pessoas que tinham o mesmo problema começaram a ouvir. E aí eu comecei a entender. Eu falei: “caramba, eu preciso realmente falar”. E junto com isso eu comecei também a fazer terapia, porque eu estava muito triste, eu não queria sair de casa. Eu não queria ter convívio com as outras pessoas. Estava me entregando.
P/1 - Pegando esse gancho, o que você diria então para os pais de outras pessoas com dermatite - porque eu imagino também que a reação dos pais pode agravar ou potencializar a questão - como é que você acha que um pai de um filho com dermatite deveria agir para...
R - ...tentar amenizar?
P/1 - É.
R - Olha, eu acho muito complicado porque eu falo das minhas queixas em relação à minha mãe, mas eu entendo ela, porque ela é mãe, ela se preocupa. Eu acho que a pessoa vai se preocupar, ela vai tentar cuidar, mas ela tem que dosar, ela tem que dosar e tentar ter um diálogo com o filho. Deixar ele falar: “filho, como você se sente, me fala”. Sem falar nada, deixa ele falar. Depois que ele falar e se abrir é que você vai entrar com as palavras certas, não simplesmente falar: “você vai melhorar”. Porque essa é a palavra que a gente mais escuta e não é efetivamente, às vezes, o que acontece. E a gente já não entende a complexidade da nossa doença e aí quando vem uma pessoa que fala assim para você: “você vai melhorar”, parece que ela está me dando uma falsa esperança. É muito ruim. E quando os pais se preocupam demais e eles colocam essa preocupação em cima da gente gera uma sobrecarga também. Parece que a gente tem essa responsabilidade, pelo menos é como eu me sinto. Não sei se é no geral. Eu acho que eles têm que aprender a se segurar e seria interessante se eles conversassem mais com os filhos, conversassem não para trazer palavras de conforto, mas para poder entender como eles se sentem e talvez, eu indico isso para todo mundo depois que eu fiz, fazer terapia. Fazer terapia em conjunto porque infelizmente não é mágica que vai fazer com que a gente melhore. A gente vai caminhar muito, vai tropeçar muito até descobrir o que é o nosso fator que gera a dermatite para depois sanar. Uma coisa que minha mãe fazia muito e isso me irritava muito: “fulano de tal viu que banho de não sei do que dá certo”. Ela ia lá e me fazia tomar banho dos negócios. Podia ser o que for, e eu não gostava. Eu falei: “não quero me submeter a fazer isso, vamos no médico, se o médico falar…”. Tudo bem que chegou uma época que eu não queria fazer tratamento, todos os médicos que eu vou falam a mesma coisa e nada dá certo, então não quero mais. Mas era um saco. Minha mãe ouvia que água de coco era bom, então ela me entupia disso e ela me entupia de uma maneira que era chato, por que ela ficava: “você já tomou? Você já passou? Você já fez não sei o quê? ”. Um saco. Juntava duas coisas, a doença e mais o controle emocional, o peso.
P/2 - E como você foi trabalhando esse amadurecimento com a sua mãe?
R - Na verdade eu não sei dizer, porque minha mãe sempre teve muito perto, mas com quem eu conversava mais era o meu irmão. Com o meu irmão às vezes eu conseguia me abrir, com a minha mãe não porque eu não queria trazer essa preocupação para ela. Eu falei: “minha mãe já está preocupada se eu estou me coçando ou não”. Minha mãe até hoje, se eu estou fazendo assim, ela: “você está se coçando?”. “Calma mãe, a gente se coça, eu não estou atacada”. O meu irmão não, muitas vezes ele me escutava e falava que entendia. Ele já era mais calmo para receber, então eu acho que eu conversava mais com ela e ela se reportava a ele. Mas quando eu comecei a fazer os vídeos e descobrir as outras pessoas que tinham isso, também trouxe conforto para a minha mãe, porque ela falou: “olha Mi, você não é a única que tem”. Então foi uma coisa conjunta mais ou menos.
P/1 - E quando você sofria bullying na escola você conversava em casa sobre isso? Como isso te afetou?
R - Da dermatite na escola eu não sofri bullying ou então eu não identifiquei. A respeito da mão, minha mão é enrugada, então eu já recebi comentários de que: “sua mão é mão de velha”. Mas não bateu, não senti nada, porque não valia a pena. Não foi uma coisa que me impactou. Mas quando eu já estava maior, teve na verdade alguns momentos no trabalho que eu tinha a face muito vermelha, parecia que a pele estava um pouco queimada e alguns lugares inchados, e eu já tive que ouvir comentários de que: “nossa, você parece um pimentão”. Já tive que ouvir comentários de que meu rosto parecia uma carne moída sangrando e isso eu não esqueço. Tudo que acontece comigo eu paro para pensar e eu tento me colocar no lugar da outra pessoa e aí eu chego à conclusão: “eu jamais faria um comentário de qualquer tipo desse para uma outra pessoa, mas será que essa pessoa não tem essa consciência, que pena”. Eu prefiro pensar dessa maneira e não ficar com raiva porque também a raiva vai fazer ruim para mim, então eu tento absorver da melhor forma. O que não quer dizer que na hora isso não tenha me batido e não tenha me chateado porque me chateou muito. Mas eu tento filtrar as coisas e absorver da melhor forma para mim.
P/2 - Nessas relações de trabalho que você comentou e deu esses dois exemplos tinha alguma conversa que você fazia com a equipe ou com os seus colegas de trabalho?
R - Não, tem duas pessoas dentro do meu trabalho que tinham uma proximidade maior comigo, então elas já sabiam de todo o meu quadro. E como eu disse, eu não era muito de expor, de conversar, então no meu convívio social tinham muitas pessoas que não sabiam que eu tinha dermatite, elas ficaram sabendo depois que eu fiz o vídeo: “poxa, você tem isso?” e eu falei: “tenho”. Porque para mim é uma coisa muito evidente se eu tiver algum lugar do meu corpo atacado parece que você está me olhando e você está vendo. É essa sensação que eu sinto, mas não é aparente para o outro, é aparente para mim. Então foi até uma surpresa para mim: “nossa, você tem?” eu falei: “tenho, você não sabia? Por isso eu estou sempre com o rosto vermelho, por isso que eu estou sempre com o olho inchado, por isso que a minha pele sempre está descamando”. Uma coisa também que eu sempre escutei é se eu fiz peeling porque o meu rosto descama. Aí tem pessoas que eu até falo que fiz, não vou perder tempo.
P/1 - Só abrindo um parênteses, você falou que era muito romântica, não sei se ainda é. Como é que foi o seu primeiro romance? Se foi na adolescência, você quer contar para a gente?
R - Eu nunca tive nenhum namorado, nunca namorei, mas já me relacionei com pessoas. Então, nessas épocas que eu me relacionava com essas pessoas foram relacionamentos duradouros, mas não foram namoro, não foi algo que eu levei para a frente. Eu acho que na época que era realmente para começar a namorar e me deslanchar, que foi na minha fase adulta, que eu comecei a ter uns ataques, de 17 anos em diante, e eu me fechei muito. Então eu tinha muita vergonha, não me relacionava com ninguém. À medida que eu ia ficando atacada eu me excluía muito, eu não gostava de ter nenhum contato com ninguém. Se a pessoa viesse me abraçar eu não gostava, porque eu achava que ela ia abraçar, ela ia sentir a minha pele seca e ela ia fazer um comentário e esse comentário ia me chatear, então eu evitava. Então eu não tenho muitos relacionamentos. Essa parte amorosa eu não tenho para contar, porque eu não tive essa vivência porque eu mesma não me permiti e eu não sabia lidar com a situação.
P/2 - Você falou que foi aos 17 anos que voltou a ter a crise de dermatite. Você pode contar para a gente como foi esse período?
R - Posso. Hoje eu sei identificar porque eu tive o retorno da dermatite. Foi uma época que eu estava para entrar na faculdade. Eu entrei na faculdade, mas não cheguei a concluir. Me trouxe um fardo muito grande porque eu comecei a fazer o curso, mas eu não gostava e queria desistir. Eu cheguei até a falar para a minha família: “eu vou desistir, não quero fazer isso”. Minha mãe ficava: “tem certeza?”. Eu me senti pressionada e eu continuei levando para a frente e isso me fazendo muito mal, só que na época eu não sabia identificar. Eu achava que a dermatite voltou porque voltou. Mas eu ficava com umas crises enormes e na época da faculdade o meu pai faleceu. Como eu já não sou uma pessoa de reportar nada, de falar, em vez de eu falar que estava triste, eu retrai tudo para mim. Então eu retrai a questão da faculdade e retrai a morte do meu pai. Foram as duas coisas que ficaram dentro de mim que eu não falava e que saia através da dermatite. Eu não identificava que era isso.
P/1 - Esse curso era de quê?
R - Direito.
P/1 - E você foi pressionada a fazer Direito? Não era uma coisa que você queria fazer?
R - Na verdade eu mesma me pressionei porque eu poderia muito bem desistir, poderia largar e fazer um outro curso. Mas eu me senti pressionada. Minha mãe falou assim: “olha, Mi. Eu quero que você tenha uma faculdade, o seu irmão está formado”. Então eu me senti pressionada, mas ela me deu autonomia de falar que se eu quisesse eu faria, mas aquela palavra: “eu preferia que você continuasse, que você concluísse” gerou um peso em mim. Mas é que eu me deixei influenciar.
P/1 - Mas o que te levou ao Direito em primeiro lugar? Por que essa escolha?
R - Em relação às causas sociais. Porque eu tinha a finalidade de prestar assistência jurídica de graça ou então talvez até ter uma ONG. Era essa a minha finalidade. No decorrer do curso eu fui vendo que a faculdade não era assim tão linda e maravilhosa como eu achava que era, era muito pelo contrário. E aí eu fui: “nossa, não é isso que eu quero. Não quero ficar presa em um escritório sem ter contato com as pessoas”. Mas aí eu fui levando e não terminei.
P/2 - Cami, se você se sentir à vontade, você pode contar sobre o falecimento do seu pai como foi?
R - Meus pais eram separados, então eu não tinha um convívio muito grande com o meu pai depois que eles se separaram. O meu pai vem de uma criação que é muito fria, então o meu pai não era muito afetivo, ele não era de vir abraçar, de dar carinho, de expor os sentimentos dele. Então acho que isso puxei dele. Total na verdade eu acho. Na época que ele faleceu eles já estavam separados há algum tempo, ele já estava casado com uma outra mulher e a nossa relação era muito conflitante. Por quê? O meu pai traiu a minha mãe e isso na infância trouxe uma sobrecarga em mim e no meu irmão. Era mais uma das coisas que eu não falava, que eu só retraia. Aconteciam as brigas em casa, era uma coisa que eu absorvia, eu olhava e tal, mas não falava com ninguém. Até que chegou o momento em que eles se separaram, só que aí sempre tinham as queixas da minha mãe: “porque o seu pai isso, porque não se o quê” e eu e o meu irmão no meio, então o nosso contato não era muito próximo. Mas existia amor, porque é meu pai. Eu lembro que um ano antes de ele falecer a gente chegou a ter um encontro, a gente estava brigado por essas circunstâncias de família, de discordar, de achar que ele deveria ter feito essa coisa e não fez, e a gente se reconciliou. Graças a Deus que a gente se reconciliou.
P/2 - Como que foi essa reconciliação?
R - Ele chamou a gente para ir na casa dele, a gente conversou. Ele teve uma boa relação, então para mim foi uma reconciliação, não tipo: “estamos de bem”. Foi uma coisa incomum, conversamos, interagimos, foi ok. Porque a gente não tinha uma boa relação com a mulher dele, então isso afastava, querendo ou não. E ele optou por ficar com ela. Ele traiu minha mãe, mas ao mesmo tempo parece que ele traiu a família. Ele ficou doente e começou a piorar o quadro. Nessa época ele estava no interior de São Paulo, em Lucélia, então não tinha como ter esse contato constante. Eu lembro que, e foi uma coisa também que me trouxe um grande peso, meu irmão e minha irmã foram para Lucélia visitar ele e eles falaram: “a gente vai porque o pai está mal, mas ele vai sair”. Eu estava em época de prova na faculdade, eu queria ter ido, mas na época eles me seguraram: “não, o pai vai voltar, está tudo bem. A gente só vai lá para poder ver certinho”. Eles foram e foi a última vez que eles o viram. E eu fui essa vez anterior. Quando de fato aconteceu eu lembro da minha mãe entrando no quarto, na hora que ela entrou no quarto eu já sabia, eu falei: “o pai morreu”. E aí eu falei: “não acredito, vocês não me deixaram ir, lógico que eu largava tudo”. E me veio aquela de por que eu não bati o pé de novo e falei: “eu vou, não quero saber”. Mas não adianta, aí foi uma coisa mal administrada para mim. Você para pra pensar em todos os momentos que perdeu com a pessoa. Você começa a se questionar porque não teve mais tempo. Porque mesmo o meu pai sendo distante afetivamente em relação à criação, ele nunca deixou nada faltar para mim e para o meu irmão. Do jeito dele, ele foi o melhor pai. Do jeito seco, enfim. E foi triste, ruim.
P/2 - E hoje quando você fala dele, que lembrança que vem na cabeça?
R - Como eu sou uma pessoa muito reflexiva eu me prendo aos momentos bons, porque graças a Deus tiveram muitos. Como eu falei, a gente viajava muito quando era criança, então o jeito afetivo do meu pai era: “vamos no mar” e ele levava. “Quer tal coisa? Vou lá pegar para você”. Andar de cavalinho nele, eu lembro dessas coisas. Me enterrando na areia da praia. São essas memórias que eu prefiro ter comigo. As brigas aconteceram, as desavenças aconteceram, mas hoje elas são experiências. Para uma próxima pessoa que passar pela mesma situação falar: “não faz isso porque eu já estive em uma situação assim e não é legal”. Tudo é experiência.
P/1 - Nesse momento você abandonou o seu curso? Como é que foi?
R - Eu cheguei a fazer os cinco anos.
P/1 - Mas você não se formou?
R - Não me formei. Que aí eu comecei a criar aquela autoridade: “para que eu vou terminar? Eu não vou seguir aqui”. Mas eu tinha feito cinco anos e tem gente que fala: “nossa, mas você fez os cinco anos” e eu falo: “deixa eu ter essa autonomia de dizer que eu não quero”. Me incomoda muito a opinião alheia das pessoas e de elas não respeitarem o que de fato você quer. Tudo bem, eu fiz os cinco anos, mas eu escolhi não me formar. É uma escolha minha, tudo bem que você não entende, mas é uma escolha minha. E eu não quero, não é uma coisa que vai me satisfazer, eu não vou seguir, para que que eu vou fazer? “Mas você perdeu cinco anos”. Não, para mim foram cinco anos de experiência, cinco anos que eu vou poder falar para uma outra pessoa: “olha, veja bem o curso que você quer fazer, quer desistir? Que você desista umas 500 vezes até você achar a certa”. Para mim é aprendizado, não vejo como tempo perdido, não vejo como dinheiro perdido, como às vezes minha mãe me fala: “você perdeu dinheiro”. Eu estou de boa em relação a isso.
P/1 - E esses cinco anos na faculdade como foram? Apesar de você não ter gostado do curso você tem alguma história alguma experiência interessante que você gostaria de compartilhar? Da sua turma?
R - Na época faculdade eu faltava muito por causa da dermatite. Era uma semana que eu estava muito atacada e eu não queria ir porque eu não queria que as pessoas soubessem que eu tinha então não ia. Na época da faculdade eu tive muitas boas amizades, tem amizades que eu levo até hoje. Uma coisa que acontece comigo é que eu acho que tenho o dom de atrair pessoas problemáticas. Não é possível. Porque os piores da sala eram os meus amigos. Eu falei: “não é possível, eu acho que eu estou aqui por conta disso, é esse o propósito”. As meninas que... não vou falar nomes, que se relacionavam com professor. E eu falei: “meu Deus”, e eu só ouvindo, porque eu também sempre fui uma pessoa de ouvir muito. Então falavam: “não Camila, está acontecendo isso. O que você acha?” e eu falei: “gente, eu acho que estou aqui para fazer o equilíbrio. Não é certo, não faça isso”.
P/1 - De certa forma você já estava fazendo um trabalho social...
R - Já.
P/1 - ...sem nem perceber.
R - Sem nem perceber. Minha assistência foi grande lá.
P/1 - Agora uma coisa, você falou que sua mãe te prendeu muito na adolescência, você era superprotegida. Na faculdade você teve mais liberdade, você se soltou mais? Como é que foi esse período?
R - Não. Eu tive um problema da minha mãe de me soltar um pouquinho porque com 18 anos, 19 anos eu: “agora eu já sou adulta, eu vou poder fazer o que eu quiser”. Não, minha mãe foi sempre de barrar: “você não vai, você tem tal horário para chegar”. Até que chegou um momento que eu falei: “mãe, eu tenho tantos anos, está na hora de cortar”. Na faculdade a galera saia muito para barzinho, tinha o barzinho na rua da faculdade. Às vezes eu ia, mas particularmente não é o ambiente que eu gosto. Balada eu já saí também algumas vezes. Eu vou porque eu gosto de dançar, mas o contexto em que a balada e o bar estão inseridos eu não gosto, desse clima de pegação. Eu não gosto. Eu prefiro ir em uma festa ou então fazer uma reunião de amigos, a gente coloca uma música, a gente dança, se diverte, dá risada, do que essa coisa de balada. Então eu não sofri muito não de não ir. A minha saída era mais para ir em shopping, ir no cinema e quanto a isso minha mãe nunca me bloqueou.
P/2 - Cami, você contou para a gente que você dança.
R - Danço.
P/2 - Como que a dança entrou na sua vida?
R - Na época que meus pais estavam separados minha mãe procurou alguma coisa para poder me distrair e eu sempre, desde criança, dançava. Na época do É o Tchan todas as músicas eu dançava e rebolava e a família sempre: “ai que bonitinho, ela dança”. Uma amiga minha abriu uma escola. Na verdade uma amiga do meu irmão. E falou assim: “por que você não põe a Camila? A Camila gosta de dançar” e aí eu comecei a fazer balé. Acho que na verdade eu comecei com uns 11 anos. Já é tarde para quem começa a dançar. E eu comecei a gostar: “nossa, que gostoso fazer isso”. Porque você tem que se concentrar, tem a questão do equilíbrio, você se testa, se autoconhece. Pelo mínimo você está ali chorando: “meu Deus, eu não sabia que ia me sentir tão pressionada e ia chorar porque, sei lá, não consigo ficar na ponta, porque eu não consigo colocar uma perna para cima”. Foi muito bom.
P/2 - Você lembra da primeira aula que você teve?
R - Não, não lembro.
P/1 - E vocês faziam apresentações de balé, de dança?
R - Fazia. Sempre no final do ano tinha o espetáculo. Tinha um tema e a gente fazia. Em situações que eu fico nervosa eu descobri que eu não sabia me administrar. Eu lembro de uma apresentação em que eu esqueci da coreografia, porque eu fiquei nervosa e eu sai do palco. Que idiota. Eu podia, sei lá, ter fingido que eu sabia, inventar uns passos, porque eu era sozinha. Era um solo. Eu podia ter inventado, mas não, o que eu fiz? Sai.
P/2 - E aí?
R - E aí que a minha professora falou: “entra” e eu “não vou entrar”, porque aí já acabou comigo: “não vou, eu não quero”.
P/2 - Muito bom.
P1. Você ainda dança?
R - Danço. Como eu disse, minha igreja tem um projeto social e também tem um projeto de artes, e eu participo do ministério de dança. E lá tem o quê? Todo mundo que participa de um ministério tem uma aula na área que está atuando, eu faço jazz já tem uns dois anos, faço de sábado e é muito bom.
P/1 - Você diria que a dança te ajudou a lidar com a separação dos seus pais?
R - Eu acredito que sim, porque minha mente não estava ali sem nada, não estava desocupada. Eu estava me ocupando com a dança. Então eu tirei uma coisa de foco, tanto porque na minha adolescência eu não tinha crise de dermatite e era a época que eu estava ali ocupada. Na época que eu comecei a entrar na faculdade, que eu comecei a me preocupar, não soube administrar, que foi quando ela começou a aparecer. Hoje eu percebo, mas na época eu não tinha essa análise.
P/2 - Mas lá no ministério da dança que você participa, você é professora ou você é aluna?
R - Eu sou aluna, é que a gente tem um sistema que... não sei se vocês já foram na igreja ou alguma coisa do tipo, tem o louvor e a gente dança junto com o louvor. A gente ministra junto com eles. É uma coisa que é espontânea ou pode ser coreografada. Então a gente tem a aula do jazz para aprender a técnica para na hora a gente conseguir fazer lá.
P/1 - Então durante o culto tem um grupo que dança?
R - Isso.
P/1 - Eu nunca vi isso.
R - É muito legal, tem umas igrejas que fazem coreografia mesmo, elas têm a coreografia pronta, outras não, é uma pessoa que puxa. No nosso grupo isso é muito... o Júnior até participa.
P/2 - Que legal.
R - O nosso grupo é muito assim, todo mundo fica à vontade. Se eu quiser puxar eu vou, se minha amiga quiser puxar ela vai e assim vai. A pessoa vai estar ali na frente, ela vai estar fazendo os movimentos e as outras pessoas copiando. É bem gostoso.
P/2 - No que você pensa enquanto você está dançando?
R - É muito gostoso, não sei exatamente no que eu penso. Eu me sinto feliz, alegre, porque é parte de uma espontaneidade. Primeiro porque a gente fica nervosa porque quando tem gente na Igreja você fica: “as pessoas estão me olhando”, então dá uma vergonha, uma coisa de “e se eu errar? e se eu fizer ruim?”. Mas depois você se concentra e pensa: “é a minha dança”, então, é você escutar a música, absorver e deixar isso fluir e vai.
P/2 - Nunca mais precisou abandonar o palco?
R - Não. Hoje em dia quando eu erro eu dou risada. E é nítido que eu errei.
P/1 - Me fala uma coisa, essa mudança da Igreja Católica, é uma Igreja Neopentecostal que você frequenta agora?
R - Cristã.
P/1 - Essa mudança veio da sua família ou foi você que quis?
R - Na verdade foi influência, mas eu. Porque eu comecei a ir na Igreja Católica sozinha. Eu comecei a fazer catequese, fiz crisma. Eu fiquei muito inserida na Igreja Católica.
P/1 - Então não veio de casa, não foi a sua mãe que te levou...
R - Não.
P/1 - ...para a igreja. Você tomou essa iniciativa sozinha?
R - Sim. Na verdade, o que acontece? Minha vizinha, essa que tinha as irmãs gêmeas, falava: “a gente tem que fazer catequese porque mais para frente se você for casar você precisa”. Umas coisas da igreja católica. Sei lá. A gente era Católica por tabela. Minha mãe não era praticante. Eu falei: “então vamos fazer a catequese”. Através da catequese a gente começou a ter um contato maior e eu falei: “olha, tem missa, vamos vir”. Aí começamos a ir. Eu fui coroinha, eu quis participar e aí comecei a ocupar o meu tempo também fazendo isso. Comecei assim: “olha, tem grupo de jovens, vou participar também”. Então totalmente inserida na Igreja Católica, todos esses feriados católicos que tinha eu estava totalmente na programação. Ai o meu irmão começou a ir na Igreja Cristã também por conta de uns amigos dele. Ele ia e sempre me chamava e eu: “não, Celo, não quero, que chato. O povo fica gritando, nada a ver”. Teve umas vezes que eu ia, porque eles faziam umas viagens em carnaval. Eu fui uma vez e achei estranho porque a maneira deles de reger um culto é bem diferente. Na verdade eu fiquei com medo de umas coisas que eu vi. Passou um tempo e fui de novo em outro, comecei a ter um contato com as pessoas de lá, mas nada. Até que teve um acampamento que não era para eu ir, só que era perto de casa e na época o meu irmão coordenava os jogos que tinha e ele falou: “Mi, eu tive que vir aqui em casa para buscar algumas coisas, você não quer ir com a gente passar o dia? Qualquer coisa eu te trago”. Eu falei: “tá bom”. Nisso que eu fui eu me diverti para caramba. E eu falei que foi tão gostoso que eu queria ficar.
P/2 - Que você encontrou lá?
R - Como tinha gincanas para mim, estava super divertido brincar. Adorei.
P/1 - Você tinha que idade?
R - Uns 16 anos, 15 anos. Por volta dessa idade. E eu falei: “quero ficar” e à noite tinha o culto. Só que no culto eu comecei a olhar, porque eu também sempre fui muito de observar e o pastor falou assim: “ora, fecha o olho, se concentra, ora. Pede para Deus”. E dentro de mim eu falei: “Senhor, se o Senhor está aqui mesmo, então fala comigo isso” sem falar em voz alta. E nisso veio uma moça e orou no meu ouvido exatamente o que eu falei. E eu falei: “quê? Acho que Deus está aqui”. E foi a certeza que eu precisava, no outro dia teve o batismo e eu senti de me batizar, eu fui e falei: “Celo, quero me batizar”, e me batizei. Quando eu cheguei em casa e contei para a minha mãe, minha mãe falou: “eu não acredito, o pastor fez uma lavagem cerebral em você. Vou lá agora falar com ele”. E eu falei: “não, fui eu. Eu que tive a iniciativa. Eu que quis”. Era uma certeza que eu tinha dentro de mim que era absoluta. E desde então eu não saí da Igreja Cristã. E fui me envolvendo cada vez mais também.
P/1 - E a sua vida social também está na igreja? Como é?
R - Sim. A maioria dos meus amigos estão inseridos dentro da igreja. Eu tenho algumas relações da faculdade, alguns contatos. Tenho da outra igreja, mas bem pouco. A maior parte está na igreja cristã.
P/1 - E lá você conversa sobre a dermatite com eles? Eles te confortam? Eles te acolhem?
R - Eu tenho essa característica de ter dificuldade para falar. Aliás, eu falo, sobre qualquer assunto que você me perguntar eu posso falar, mas eu não tenho essa característica de chegar e me abrir, falar assim: “olha, estou me sentindo mal, eu não estou aguentando”. Quando acontecia isso, era porque eu realmente estava no limite. E aí minha forma às vezes de explodir era chorando, e aí não saia palavra, só saia lagrimas. Com quem eu me abria muito era a Sheila, que é uma amiga bem próxima minha e ela era o tipo de pessoa que eu conseguia me lamentar sem ouvir nada de conselho. E o meu irmão. O resto das pessoas em algum momento eu falava: “ai, estou cansada” e vinha aquela coisa: “não, você precisa ter paciência”. Quando a pessoa falava isso eu já me fechava “não vou falar porque vou escutar as mesmas coisas que estou cansada de ouvir”. Eu ia administrando eu com Deus e tudo certo.
P/2 - Camis, ainda dentro da igreja, você ainda participa dos projetos sociais de visita?
R - Sim. A gente tem um calendário de visitações que a gente faz. Como tem vários ministérios, cada ministério na verdade deveria fazer um projeto de evangelismo, aí esses projetos podem ser um evento dentro da igreja ou uma visitação, se o meu grupo resolveu fazer um evento, mas o outro grupo quer participar, eles podem vir sem problema nenhum. Da mesma forma se outro grupo de louvor vai fazer uma visitação em um asilo e eu quiser ir, eu posso ir.
P/2 - Eu queria que você contasse alguma experiência que tenha sido marcante. Alguma visita que você fez com o grupo que te fez pensar: “Nossa, ainda bem que eu vim, ainda bem que eu participo disso”.
R - Na verdade eu acho que tem duas situações, uma do hospital da Beneficência Portuguesa, que acho que foi uma das primeiras vezes que a gente foi e eu estava bem sensível em relação à dermatite e eu fiquei muito impressionada de ver aquelas crianças em uma situação muito pior e muitas delas risonhas. Isso foi de cortar o coração. “Como que eu estou reclamando da vida, sendo que, por mais que eu tenha um problema de pele, eu sei que isso me limita muitas vezes, que isso me dá às vezes uma prisão muito mais emocional do que física e essas crianças estão aqui, com problemas que elas estão entre a vida e a morte e elas estão risonhas”. Isso para mim foi muito divisor de mares. Eu fiquei muito impactada e era uma das coisas que me estimulava a pensar diferente a ser otimista e a não desistir de mim mesma, porque sempre é uma luta diária também. E uma outra situação é com as crianças porque no caso dessas crianças que vão na nossa igreja, elas vêm de uma situação muito crítica. A princípio você olha para elas e elas são mal-educadas, elas falam palavrão, elas batem, são agressivas, mas é porque foi isso que elas aprenderam dentro do lar delas. Elas não tiveram amor, elas não tiveram carinho, elas não tiveram cuidado. E a primeiro momento que você olha, você fica com raiva: “meu Deus, que criança mal-educada”. Mas quando você começa a ter um convívio com elas e começa a ver que elas são tão carentes e aí você vai quebrando essa armadura delas e vai se aproximando isso para mim é maravilhoso. E a maioria delas tem esse contato. Hoje quando a gente chega é: ”oi tia” e abraça “tia você vai vir amanhã? Tia você vai não sei para onde? A gente vai”. Essa proximidade de algumas virem até a gente e conversarem sobre os problemas que elas têm para mim é impactante. E aí você pensa que não tem nem problema comparado a isso, não.
P/2 - Teve algum problema que uma criança já chegou para compartilhar com você e você teve que ajudá-la naquela situação?
R - Tem muitas crianças lá que sofrem abuso. Abuso de diversas formas, não só sexual. Abuso até de poder, ou então os pais que só colocaram no mundo e não criam. Então elas abrem muito isso, porque isso é o que mais fere elas. E elas chegam: “porque minha mãe não cuida de mim, ela não está nem aí”. E como você vai falar para essa criança que não é assim, que ela tem que ser forte? Porque é uma criança, os pais que deveriam estar cuidando, estar construindo essa personalidade dela e eles não estão fazendo. A gente às vezes está muito mais presente do que eles.
P/2 - E como você se prepara para esses encontros?
R - Eu sou uma pessoa muito, não é religiosa, espiritual, talvez. Eu converso muito com Deus, então eu acho que isso é um dos grandes, não é comando, é o que eu acho que faz com que eu não tenha desistido de nada porque todas as decisões que eu tomei, tudo o que eu fiz, para mim foi Deus quem preparou, eu acredito muito nisso. Eu não falei, mas na época que eu fui fazer o vídeo, antes de fazer o vídeo eu orei a Deus e falei: “Senhor, se for para que alguma coisa aconteça, o Senhor me direcione, então que isso aconteça”. Fiz, três anos depois a Sanofi me convidou para fazer a campanha. E eu comecei a tomar a dimensão: “caramba, eu fiz uma oração falando a respeito disso, que eu queria ser usada, que eu queria chegar em outras pessoas. Então isso aconteceu. E aí aconteceram outras coisas, que eu fui para o Bem Estar, hoje eu estou aqui. E as coisas foram acontecendo. Eu falei: “Deus, eu fiz aquela oração”. E eu acredito que é na mesma coisa com as crianças que no momento em que elas vierem falar comigo, em qualquer situação, que eu tenha sabedoria para poder trazer a melhor palavra para elas. Às vezes nem a palavras, às vezes o abraço, às vezes o carinho. Às vezes a atitude.
P/2 - Uma pergunta que deveria ficar para o final, mas eu vou fazer, tudo bem, Dê? Você foi contatada já várias vezes para falar da sua história de vida, eu não sabia dessa parte do Bem Estar, por que você acha que existem esses convites? Por que você? Por que para falar sobre esse assunto? Como que você avalia esses contatos, esses convites?
R - Quando eu tive o contato com a Sanofi, a Thaís, que foi a pessoa que intermediou tudo, falou: “é difícil as pessoas que têm dermatite quererem se expor”. Para mim, isso não é tão alarmante porque para mim não é uma dificuldade de me expor, mas eu sei que já foi. Então eu falei: “eu me sinto com o dever de falar a respeito do assunto porque eu sei que tem muitas pessoas que hoje estão dentro de casa e não saem. Elas não vivem. Eu falei: “poxa, eu estou conseguindo lidar bem com essa doença então eu preciso falar porque eu preciso representar essas pessoas”. Então eu acho que é por conta disso, de eu não ter, talvez, vergonha de falar. Talvez por isso a Thaís me indique para fazer essas coisas. E para mim é uma honra.
P/1 - Mas fala um pouco mais desse seu ativismo. Hoje em dia o que você está fazendo com relação a essa conscientização sobre a dermatite?
R - Como eu disse, eu tenho o canal no youtube, onde eu tenho vários vídeos. Eu não tenho produzido vídeos porque eu tenho passado por um período que eu quero absorver realmente o que eu quero, ver o que eu quero seguir, mas eu tenho uma página também no facebook, onde eu tento veicular informações a respeito de dermatite e posts que eu acho que as pessoas vão se identificar a respeito da causa. Mais ou menos é isso que eu tenho feito.
P/1 - E como é que tem sido a receptividade disso? O que você sentiu por parte das pessoas? Como é?
R - É sempre uma surpresa. Tem o grupo de dermatite no facebook que é fechado. O que eu identifiquei lá? Ele é um grupo que ajuda? Ele ajuda, mas ele gira muito em torno das mesmas coisas. As pessoas sofrem, as pessoas sofrem e as pessoas sofrem. Elas não têm a melhora lá. Ali elas só buscam quando estão muito péssimas. Eu tento puxar as coisas para o lado do otimismo. Então na minha página eu tento fazer isso. Sei lá, hoje tem uma mensagem legal, até no grupo eu posto algumas coisas de otimismo. Tanto que eu criei um quadro na minha página que se chama: “ela/ele conta”, que todo mês eu tento dar a oportunidade para uma pessoa partilhar a história dela. E eu procuro escolher pessoas que são otimistas porque elas vão falar: “olha, eu chorei, eu não sabia lidar com a situação, mas hoje olho e decido sair mesmo, fazer mesmo. Não estou nem aí”. Porque esse é o tipo de atitude que a gente precisa. Minha mãe fala que a dermatite já judia demais da gente, e é verdade, porque a dermatite está judiando de você e você também está se judiando não se permitindo fazer as coisas. Então é isso que eu tento passar - otimismo.
P/1 - E quantos seguidores você tem tanto no youtube quanto no facebook, você sabe?
R - Não, mas não é muito não. Não é muito, porque infelizmente... eu tenho uma amiga que tem um canal de urticária e as pessoas só procuram quando estão na fase do problema, então não é um público que é permanente. É um público que só passa. Estou em crise e vou ver no youtube se tem alguma coisa. Viu e ajudou, beleza, não precisa mais. Então não são pessoas fiéis. Mas para mim também números não têm importância.
P/2 - Como as pessoas te encontram nessas redes sociais?
R - Por Camis Batista. Você está falando o nome?
P/2 - Isso.
R - Por Camis Batista. Tudo eu coloquei o meu nome para ficar padronizado.
P/2 - E eu queria que você contasse um pouco como é, você não está fazendo agora, mas você disse que tem bastante produção em vídeo. Como era o preparo? Como você levantava as pautas? O que falar, o que te motivava a falar aquele dia?
R - Acho que eu sou muito louca, porque eu deveria ser uma pessoa organizada e fazer os temas, mas não. Teve uma época que eu até fiz, mas surgia um tema e eu: “vou falar de sabonete porque é uma dificuldade que eu tenho e vou falar disso”. Então os temas iam surgindo aleatoriamente e eu sei que se eu escrever alguma coisa vou ficar lendo, então eu pensava mais ou menos: “tenho que falar isso”. Se eu não gostava eu deletava e fazia outro. Era assim.
P/2 - Você consegue fazer para a gente como era você começar os vídeos?
R - É sério?
P/2 - É sério, tenta.
R - Agora deu vergonha.
P/1 - Falou até agora.
R - Sou tagarela, mas eu tenho vergonha.
P/2 - Só quando começam os vídeos.
R - Olá pessoal, tudo bem com vocês? Eu espero que sim. É assim mais ou menos.
P/1 - E aí você dá dicas, ou você fala “ontem aconteceu tal e tal coisa comigo, mas eu achei tal e tal solução”. Como é? Uma coisa assim?
R - É, eu peguei as experiências que eu tive em relação à dermatite. Eu sempre enfatizei isso nos vídeos: eu estou falando de acordo com a minha experiência. Sei lá, um medicamento que eu usei, comigo ele foi assim, antes de você testar, não faça isso. Eu sempre tive essa consciência, porque eu não sou médica. Eu sou apenas uma paciente que tem uma experiência na doença, mas ainda assim a minha experiência é diferente da sua. Então eu sempre tive essa consciência, mas se você olhar os meus vídeos você vai ver que eu sempre tento trazer uma palavra de conforto, porque eu acho que isso está dentro de mim. Você está triste, está cabisbaixo? Você não pode ficar assim. Tentando ser otimista, até porque uma coisa que eu falei no vídeo da Sanofi: é diferente você falar para uma pessoa que tem dermatite para uma pessoa que não tem, porque se eu falar de uma pessoa atópica para atópica: “tenha paciência”, ele vai ouvir com propriedade. Agora se eu falar para uma pessoa que não tem... É diferente.
P/1 - Deixa eu te perguntar uma coisa. Você saiu da faculdade e o que você fez depois disso?
R - Eu não fiz nada. Na verdade eu fiz um curso de Publicidade e Propaganda de três meses para ver se eu me encontrava. Não, não era o que eu queria. Então eu estou nesse período. Eu estou trabalhando, estou bem.
P/1 - O que você faz hoje?
R - Hoje eu trabalho como analista de legislação. No caso é a legislação de meio ambiente, a gente é prestador de serviço. Tem sete anos que eu estou nisso.
P/1 - Explica para a gente o que é isso.
R - As empresas têm uma certificação na ISO 14001 e em uma IOS de saúde e segurança que eu acho que é a 18001, salvo engano. Então elas precisam fazer essa seleção de legislação para poder apontar que elas estão seguindo as leis. A gente faz esse levantamento. Bem resumidamente. A gente faz esse levantamento e aponta que ela está adequada com o meio ambiente, com a responsabilidade social, com a saúde e segurança do trabalhador para que ela não venha a sofrer prejuízos, infrações, multas. A gente tenta fazer esse trabalho.
P/1 - Você gosta disso? Você diria que você se encontrou de alguma maneira ou você ainda está buscando alguma coisa?
R - Não, eu ainda estou buscando. É igual eu já falei algumas outras vezes, eu sei fazer o que eu faço, eu sei produzir o meu trabalho, mas eu sei que isso não é uma coisa que me satisfaz. Mas, por outro lado, eu não sei o que me satisfaz. Na verdade eu sei, que é a coisa da questão social. E tenho tentado desenvolver um projeto com duas amigas que eu descobri nesse período de dermatite que é a Valéria que tem urticária e a Thaís que tem psoríase. A gente está tentando montar um projeto, mas é algo que está bem no rascunho. Então se der certo é isso que a gente vai tocar as nossas vidas. Mas se não der, a gente tenta no nosso trabalho. E tem alguns contatos também que a Thaís me passou referente à dermatite, então eu estou aqui e tem vários caminhos, mas eu ainda não sei para onde eu vou. Então não tem nada certo.
P/1 - Mas você acha que provavelmente você vai seguir nesse caminho de algum tipo de ativismo relacionado a...
R - Eu acredito que sim. O que eu penso: hoje sozinha eu acho que não tenho essa força para poder atingir isso. Eu preciso de ajuda. Então eu acho que à medida que essas pessoas colaboradoras vão me apoiar, acho que eu vou conseguir cumprir com essa finalidade.
P/1 - E como está a sua vida hoje em dia em relação à dermatite? Como é que está sendo?
R - Eu digo que hoje eu estou controlada com alguns momentos de crise, mas não são crises grandes. Porque quando eu tinha crises elas eram contínuas e eu só ficava bem quando eu tomava remédio. Eu vivia a base de corticoide. Hoje eu tenho pontos que eu me coço e isso eu sempre vou ter, na região dos braços e das pernas, mas não é nada que me limite, não é nada que me impeça. Em períodos maiores, se minha perna tivesse empolada, ela estaria inflamada e eu precisaria tomar um antibiótico. E andar estaria sendo desconfortável porque a pele estaria repuxando, a pele passa por vários processos. Mas hoje não. Tem momentos que eu até chego a me coçar que eu paro e penso: “tem uma coisa errada” o que eu não estou sabendo absorver, o que eu não estou sabendo filtrar porque o meu corpo está falando.
P/1 - Ou seja o autoconhecimento é fundamental para você administrar...
R - Total.
P/1 - ...a dermatite.
R - Total. Porque eu posso ter a causa do alimento que é o amendoim se eu comer vai me deixar atacada, mas tem o fator psicológico. Porque se eu começar a me coçar, logo eu vou ficar triste e preocupada porque eu estou me coçando. Essa tristeza e essa preocupação podem fazer com que potencializem. Então se eu ficar dentro disso, o que é muito difícil sair e é fácil falar, eu vou ficar cada vez pior. Porque “estou desesperada, e eu cocei aqui, está saindo sangue e agora? O que eu vou fazer?”. Você passa o creme e ainda não está adiantando, porque você ainda está coçando. e você: “ai meu Deus, está continuando assim, está ficando feio”. Isso vai crescendo e isso vai piorando o quadro. O ideal é como você vai extravasar? Você tem que falar. Se você não consegue falar, escreve. Vou lá fazer um documento de doc, vou começar a falar como eu estou me sentindo, como foi o meu dia hoje, para você começar a identificar, será que eu tive algum pico de stress hoje? Será que alguma coisa me deixou triste? Alguma coisa me deixou nervosa? Porque talvez no dia a dia você não consiga analisar. Aí você para pra ver que tal coisa aconteceu e não tinha parado para pensar. E é legal que você para pra refletir sobre o que você tem feito, sobre o que você tem vivido e aí você consegue dar uma ajuda.
P/1 - Você frisa essa questão nos seus vídeos e na sua página do facebook.
R - Sim.
P/1 - Porque você falou que anos atrás você não se dava conta porque você estava tendo aquelas crises, mas hoje em dia você percebe: “é porque eu estava assim”. E você fala isso para as pessoas?
R - Falo. Tem até uns temas que eu falo sobre a importância de se abrir. Ele é muito forte, muito importante não só para a dermatite. Tem uma psicóloga que falava assim: “quando você não fala, o seu corpo fala”. E é o que acontecia muito comigo. Então, sei lá, se eu não me sinto à vontade para conversar com você, é natural, mas você tem que encontrar alguém, você tem que encontrar uma maneira de colocar isso para fora. Porque faz muito mal reter isso sobre qualquer coisa, sobre qualquer problema que você vive, então escreve. Já que você não tem alguém com quem conversar, que você não se sinta à vontade porque eu ouvia isso muito das pessoas: “tal pessoa não me entende. Não gosto de conversar com tal pessoa porque ela vem sempre com as mesma coisas ou então ela acha que é frescura”. Acho que as pessoas têm dificuldades de serem compreendidas, então escreve porque se você escrever é você com você mesmo. Você está ali se entendendo, está ali colocando o que você quer para fora e você está falando. Você precisa falar a respeito porque reter é tão ruim quanto qualquer outra coisa que possa causar a doença.
P/2 - Camis, a gente vai começar uma parte mais avaliativa agora da nossa conversa e a primeira pergunta é: teve algum aprendizado que você colheu sendo portadora de dermatite atópica?
R - Sim. Eu me tornei uma pessoa muito mais compassiva. Isso com certeza. Qualquer pessoa que sentar comigo e contar o problema, que seja o mínimo possível,“hoje eu tive um stress para vir aqui porque o carro bateu”, eu vou parar para ouvir. E eu vou tentar entender essa pessoa, coisa que talvez eu não faria antes porque eu entendo que aquilo é um problema para a pessoa, eu entendo que aquilo tem uma importância para ela porque eu já passei por um momento em que as pessoas não me escutavam, então o que eu mais faço é ouvir e tentar entender pelo que o outro está passando. Eu comecei a me colocar muito no lugar dos outros.
P/2 - Você já falou um pouquinho ao longo dessa conversa, mas para a gente fazer uma resposta só: qual é o maior desafio de ter dermatite atópica?
R - Eu tenho uma frase que eu falo para todo mundo: “você não é a sua pele”. Eu acho que essa frase para mim é perfeita. Você é pele, mas você não é só pele. Acho que seria isso.
P/2 - E pensando a doença. Pode falar doença?
R - Pode. É uma doença.
P/2 - Existe alguma expectativa de tratamento novo?
R - Eu não sei se vocês sabe por que a dermatite acontece. Isso é interessante falar. A dermatite faz parte de uma tríade. A dermatite vem da rinite, da asma e tem a dermatite atópica. É um gene genético que vem de família, é hereditário. A minha mãe tinha asma, então eu vim tendo rinite e dermatite. Uma pessoa pode ter as três coisas, como ela pode ter só uma das coisas ou duas das coisas. No meu caso eu tenho a rinite e a dermatite. Antigamente, a gente não sabia das pessoas que tinham dermatite porque o diagnóstico não era preciso, então pode ser que os meus avós também tinham. É por isso que eu tenho. E ela não tem cura, ela tem melhora e estabilidade. Então o que acontece é que a nossa pele... agora eu vou explicar tudo.
P/1 - Pode explicar, por favor.
R - A pele de um atópico é seca, então pensa em um muro que tem cimento. Quando esse cimento está lá ele veda tudo o que entra. Quando ele não tem esse cimento qualquer coisa entra, o ar entra, a chuva entra, o sol entra. Quando alguma coisa entra e o seu corpo não está protegido, logo isso vai inflamar e quando inflama dá essa vermelhidão, dá a coceira. É isso que acontece com a pele de um atópico. A gente, por ter uma pele seca, não tem a barreira de proteção, então tudo que entra inflama. É isso que acontece. O natural seria passar o creme e essa ser a barreira que você precisaria criar, mas aí entram outros fatores, da rinite, de coisas que estão dentro, de dentro para fora, o alimento, que são os outros fatores que também podem fazer com que a dermatite aconteça. Na questão do tratamento é muito singular, de pessoa para pessoa. Tem pessoas que vão ter dermatite de contato, então se ela identificou que eu não posso ter contato com produto de limpeza, então pronto, ali está sanado, eu sei que não posso ter contato com produto de limpeza. Se eu sei que eu não posso comer frutos do mar, então ali está sanado, a pessoa só precisa identificar. Só que nessa questão podem ser uma causa ou várias causas. É um trabalho cansativo, minucioso e em relação à medicina. A Sanofi acho que estava desenvolvendo um medicamento que promete, talvez, trazer uma melhora, mas não é cura, é uma melhora. E aí vai depender de organismo para organismo.
P/1 - Com base nessa trajetória toda, quem é a Camila hoje?
R - Caramba, que perguntas difíceis. A Camila é uma garota extrovertida, alegre, otimista, que teve os seus percursos de vida difíceis, mas que tentou extrair o melhor de cada situação. E, como eu costumo dizer, eu sou good vibes.
P/1 - E como é a relação com o seu corpo hoje em dia?
R - Hoje eu me aceito muito melhor em relação a tudo, eu não tenho vergonha nenhuma. Se eu tiver que sair de vestido e tiver com a pele toda empolada, de primeiro momento eu vou me incomodar, mas eu saio, não estou nem aí, não me limito. Se tiver que ir à praia, colocar um biquíni, as pessoas verem as manchas, as feridas no meu corpo, porque eu tenho muita mancha no corpo, eu vou. Isso não é problema para mim, já foi, mas não é. Eu vou de boa e eu incentivo as outras pessoas a irem, a curtirem a vida e a não ligarem para que os outros vão pensar. As pessoas são curiosas, elas vão olhar e elas vão perguntar e cabe a você responder ou não. O que eu também sempre falo: às vezes o outro não conhece, então cabe a você gerar informação para o outro, não ser grosso. Mas é claro que tem pessoas que são inconvenientes, mas aí você vai filtrando.
P/2 - Como que você avalia a realização desse projeto com base na memória oral dos portadores de dermatite atópica?
R - Desculpa, não entendi.
P/2 - Como você avalia esse projeto que a gente está fazendo, que a gente está começando por você inclusive, que é conversar sobre a história de vida dos portadores de dermatite atópica.
R - Eu acho maravilhoso porque a dermatite atópica não é um assunto muito falado, tanto que tem pessoas que nem conhecem. Então quanto mais visibilidade isso ganhar, melhor, porque a gente precisa gerar informação, a gente precisa gerar conteúdo. Até para que as pessoas que têm a mesma doença e hoje elas não conseguem ter uma vida normal, elas olhem talvez para mim ou então para outra pessoa que esteja bem e pense: “olha ela está bem, então quer dizer que eu também posso ficar bem. Então eu tenho que caminhar para isso”. É uma esperança talvez.
P/1 - E com relação aos médicos que você falou, que você passou a infância inteira indo em médicos que não conseguiram te diagnosticar. Qual é sua posição em relação aos médicos? O que você diria?
R - Olha, eu acho que em relação ao médico tem que melhorar muito a postura do médico. Nenhum dos médicos que eu passei me explicou porque eu tinha, qual era a causa. Eu fui entender isso quando eu fui fazer a campanha com a Sanofi, que lá a gente teve uma palestra e a doutora parou para explicar para a gente. E eu falei: “olha, eu deveria saber disso, não é uma coisa que eu sei”. E isso é totalmente novo talvez para qualquer atópico, então os médicos deveriam explicar para a gente: “ você tem isso por conta disso e você precisa fazer tal coisa”. A gente precisa entender os processos que a gente precisa fazer, não apenas “passa creme”. Porque se falam para eu passar creme, eu passo creme e beleza, estou passando, mas não está resolvendo. Então, o que é? Eu sou mutante? Precisa melhorar a postura. E tem muitos médicos que acho que infelizmente eles ganham pelo número de consultas, então é aquela consulta que às vezes ele nem te olha, ele nem te examina: “você tem dermatite? Então usa tal creme”. E é dinheiro que a gente gasta, é tempo que a gente gasta e às vezes não dá certo.
P/2 - Tem alguma coisa que você queria ter dito e a gente não te estimulou a dizer?
R - Não, acho que eu falei para caramba.
P/1 - Só vamos terminar em qual é o teu sonho? O que você vê no teu futuro?
R - Eu não sonho para mim, na verdade. Eu me identifico muito com essa causa de dermatite atópica, por mais que os médicos digam que não tem cura, eu sonho com a cura. Por mais que eles digam, não é o que eu acredito na verdade, tem cura até para o câncer, por que não vai ter para uma pele seca? Então, seria a cura o meu sonho. As pessoas terem essa estabilidade emocional, terem qualidade de vida e não só para a dermatite, mas para outras doenças de pele que as pessoas são bem judiadas.
P/2 - Camis, eu vou judiar de você agora. Prometo que é a última coisa. Você está no seu canal do youtube, conta para a gente apresentando como foi essa experiência hoje.
R - Ai que vergonha.
P/2 - Pode ser rapidinho. Eu falei que eu ia judiar.
R - Como se eu tivesse no canal?
P/2 - Começando o canal e contando o que você veio fazer aqui hoje.
R - Tipo uma apresentação? Deixa eu pensar.
P/2 - Se quiser a gente fica assim.
R - Mas eu tenho que olhar para vocês ou para lá?
P/2 - Pode olhar para a câmera. Do jeito que você quiser.
P/1 - Finge que a gente não está aqui, pronto.
R - Deixa eu beber uma água.
P/1 - Isso.
P/2 - Pode pensar, não tem problema. Se quiser olhar para a gente pode olhar, o jeito que você preferir.
R - Vou olhar para vocês. Oi pessoal, tudo bem com vocês? Eu espero que sim. Estou de volta e hoje o assunto do vídeo de hoje é sobre a história da minha vida. Não sei se vocês conhecem ou não o Museu da Pessoa, eu não conhecia, mas eu fui convidada por eles para compartilhar a minha história a respeito da dermatite atópica. Então, se você quer conhecer, quer saber, dá uma acessada lá no site, no canal deles, para que vocês venham conhecer a minha história e também a de outras pessoas. Que eu tenho certeza que vocês vão encontrar algumas coisas que se identificam com a sua. Está bom?
P/2 - Muito bem.
P/1 - Garota propaganda do museu. Pronto, perfeito.
P/2 - Só engatando nessa apresentação sua, última pergunta mesmo, de verdade agora: como você se sentiu contando a sua história hoje?
R - Me senti confortável, foi bom falar. Como eu falei eu não sou de sentar e contar, mas se você me perguntar eu respondo qualquer coisa, então eu acho bom compartilhar. Me senti confortável, bem.
P/2 - Então em nome do Museu da Pessoa, muito obrigada.
P/1 - Obrigada, foi incrível. Para quem não gosta de se abrir, foi incrível. Maravilhoso.
R - Eu falei para caramba.
P/1 - Foi ótimo. Ainda bem, já pensou sentar aí e não falar nada?
R - Acabou?
P/2 - Foi?
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