Eu era a única neta dos meus avós maternos (até minha irmã nascer, quando eu completei 8 anos). Minha vó chamava-se Luzia Daguano. Era filha de Roque Daguano e Maria Pedro Longo. Os pais do meu bisavô Roque foram Vittorio Daguano e Maria Daguano. Eles nasceram em Roma. Daguano não era o sobre...Continuar leitura
Eu era a única neta dos meus avós maternos (até minha irmã nascer, quando eu completei 8 anos). Minha vó chamava-se Luzia Daguano. Era filha de Roque Daguano e Maria Pedro Longo. Os pais do meu bisavô Roque foram Vittorio Daguano e Maria Daguano. Eles nasceram em Roma. Daguano não era o sobrenome verdadeiro. Quando chegaram no Brasil, na imigração, alguém escreveu o sobrenome original errado e até hoje não sabemos de fato como era. Os avós de minha avó Luzia, pela parte materna, eram Paolo Pietroluongo e Maria Filomena Carrieri. Paolo Pietroluongo nasceu em 24/01/1883, em Carinola, vilarejo de Caserta e Maria Filomena Carrieri nasceu em 17/05/1881 em Fasano (Pezze Di Greco Brindisi), ambas cidades da Itália. O pai de Paolo chama-se Nicola Pietroluongo e a mãe, Albina Mascola. O pai de Maria Filomena Carrieri chama-se Giovanni Carrieri e a mãe, Maria Rubino. Paulo Pietrolongo e Maria Filomena casaram-se em 24 de agosto de 1901, em São Manoel. Consta na certidão que ambos contavam com 18 anos de idade. Minha avó nasceu em 14 de setembro de 1925, em Igarassu do Tietê e meu avô nasceu em 24 de agosto de 1921, em Nova Europa. Eles casaram-se em 23 de fevereiro de 1946. Ele tinha 24 anos e ela 21.
Meu avô materno chama-se Raphael Hernandes. Seus pais foram José Hernandes e Maria Marcos. Os avós de meu avô, pais de José, chamavam-se Francisco Hernandes e Candida Perez Cruz. Os avós de meu avô, pais de Maria, eram Henrique Marcos e Natalia Prado. Meus bisavós nasceram na cidade de Fuentesauco, província de Zamora, Espanha.
Agora que já contei um pouco da origem dos meus avós, vou falar sobre eles, mais especificamente sobre minha avó. Meu avô Raphael era um homem magro e sério. Andava muito rápido e tinha orgulho de se lembrar do começo da sua vida. De família de lavradores humildes, ficou órfão de mãe aos 17 anos. Sua mãe morreu no parto de um de seus irmãos. Ele carregou a tristeza pela vida toda, pois sempre tocava no assunto. Quando o fato ocorreu, logo desentendeu-se com o pai por causa de uma briga com suas irmãs Soledá e Mercedes. Foi expulso de casa, junto com seu irmão Pedro, de quem se tornou grande amigo. Os dois foram então trabalhar na lavoura, para os fazendeiros da região de Assis. Meu avô tinha 5 anos quando a família se mudou para cá. Quando conheceu minha avó não demorou para se casarem. Então o irmão Pedro foi morar com eles. Poucos anos depois Pedro conheceu Adélia e também se casou. Eles tinham outros irmãos: Antonio, Beatriz, Cândida e Eduardo. Antonio, ou tio Toninho, como o chamávamos, morreu aos 42 anos. Quando descia do ônibus, em Osasco, onde morava, foi atravessar a rua por trás do veículo. O motorista não viu e deu ré. Morreu na hora. Deixou a esposa Isaura e os filhos Fernando, Nilta, Nanci e Norma. Tio Toninho era muito querido. Nós temos bastante contato com as primas, especialmente com a Norminha, porquê ela vem sempre para Assis. As tias Cândidas e Beatriz também mudaram-se para São Paulo há muito tempo. Tia Cândida já faleceu.Era a mãe da Marlene, casada com o Francisco. Muito amiga de minha mãe. Tio Eduardo Mudou-se para Campo Mourão e os filhos vinham de vez em quanto ver os primos. Tia Soledá foi mãe da Beth, da Sueli e da Silvinha, que estudou comigo a vida inteira. Tia Mercedes casou-se com o Vitorino Gomes, amigo do meu pai. Tiveram a Dagma e a Vera Lúcia. Dagma casou-se e foi embora para Bauru. Vera, para o Mato Grosso.
Meu avô tinha orgulho de contar que trabalhou muito na roça. Primeiro para os outros e depois comprou seu pedacinho de terra, na região de Florínea. Minha mãe nasceu um ano após meus avós se casarem. A vida deles era difícil. Aos 5 anos minha mãe já ajudava na roça. Plantavam frutas e verduras. Meu avô enchia uma carroça e vinha vender na cidade. Nas geadas, minha mãe ajudava na lavoura, descalça. Não tinha sapatos. Meus avós foram prosperando e compraram outra propriedade na Água do Cervo, que existe até hoje. Construíram uma casa com varanda, uma mangueira para os bois e também compraram um Jeep Willians. Minha mãe e meu pai casaram-se nessa época.
Desde que me entendo por gente, era grudada na minha vó. Ela era alegre, pra cima. Além de sempre estar sorrindo e falando coisas bacanas, ela me agradava. Uma vez por ano eu passava parte das férias de final de ano na casa dela. A véspera do Natal era inesquecível. Minha avó passava a noite recheando frangos, assando pernil e essas comidas típicas. Eu tentava com todas as minhas forças permanecer acordada para ver Papai Noel colocando o presente no meu sapato. Uma vez consegui. Que decepção foi ver minha avó colocando um pacote sobre os meus tamanquinhos plataforma! Pior ainda foi abrir o presente de manhã. Eu sonhava com um fogãozinho da Atma, mas ganhei foi um fogão de plástico mesmo. Nossos natais eram almoços. Então meus pais chegavam, meu tio Rubens (irmão da minha mãe), com sua família, meu tio Dirceu que ainda era adolescente e algum parente com a família. Quando todos sentavam-se à mesa, minha vó dizia: "Viva o menino Jesus!"Aí todo mundo se servia. Depois do almoço minha vó e minha mãe colocavam a mesa de doces e castanhas. Sempre tinha nozes, pêssegos e figos em calda, pudins e a famosa rosquinha de pinga que é tradição na minha família. E mantecal.
Minha avó não gostava de gatos. Contava que matava todos que nasciam quando ela era pequena, jogando os filhotinhos no rio. Credo! Que crueldade! Imagino se ela fosse adolescente hoje em dia e postasse essa confissão no Facebook. Ia ser processada! Ela gostava era de pássaros. Quanto mais barulhentos, melhor. Sempre teve papagaios. Não me lembro o nome do papagaio da minha infância, mas lembro que ele falava: "Louro quer café!"; "Dirceu, vem almoçar!"; "Luzia! Louro quer comer!" Uma vez minha vó arrumou uma gralha. Quando ela resolvia "cantar" chegava a doer o ouvido da gente.
A vó Luzia tinha esse nome por causa de uma tia. Contava que a tia Luzia, irmã de seu pai, foi vista conversando com um moço na praça. Quando chegou em casa, levou uma surra do pai. Apanhou demais. Em seguida, ela entrou no quarto e nunca mais saiu. Não quis mais comer. Foi ficando fraca e morreu. De tristeza.
Minha avó era apegada aos pais e aos irmãos. Logo que ela se casou, eles se mudaram para a cidade de Iepê. Quando criança e mocinha, seu pai tinha um armazém e era bem de vida. Porém bebia muito e faliu. Minha vó, sendo a filha mais velha, sentia-se responsável por todos. Minha bisavó Maria teve câncer no útero. Íamos visitá-la muitas vezes. Ela não resistiu e veio a falecer. Meu bisavô passou um mês levando flores ao cemitério todos os dias. Então, faleceu também. De tristeza.
Teve uma vez que meu avô Raphael inventou de ir para a Argentina e Paraguai. De Jeep. Levou minha vó e meus tios, que ainda eram solteiros. Acho que ele queria ouvir as pessoas falando espanhol. Ele se orgulhava de ter ascendência espanhola. Não lembro quantos dias foi essa viagem, mas minha mãe conta que eu fiquei doente. De saudade da minha vó. Eu devia ter uns 4 ou 5 anos.Recolher