Embora tenha convivido bastante com quase todos os meus tios foram dois que me marcaram bastante, são eles o Tio Amâncio e Tia Benedita, esta que era minha madrinha de batismo e que nem tratava de tia mas simplesmente pelo seu apelido "Negra".
Tia Negra era bem filha de Honorata, tinha o mesmo te...Continuar leitura
Embora tenha convivido bastante com quase todos os meus tios foram dois que me marcaram bastante, são eles o Tio Amâncio e Tia Benedita, esta que era minha madrinha de batismo e que nem tratava de tia mas simplesmente pelo seu apelido "Negra".
Tia Negra era bem filha de Honorata, tinha o mesmo temperamento e sua casa era de portas aberta onde todos entravam e saiam à vontade, o que lhe rendia um largo circulo de amizades. Quando eu era bem pequeno fui acometido de uma moléstia e quase morri, ela fez uma promessa à Santa Rita de me levar carregado em uma procissão. O tempo passou, eu cresci e a promessa não foi cumprida e era uma preocupação constante a cada vez que ela me encontrava. Em um determinado dia eu a levei em uma capela de Santa Rita que havia na estrada entre Socorro e Interlagos, dei como cumprida a sua promessa para alívio de seu espírito.
Meu tio Amâncio, a primeira lembrança que tenho dele foi quando foi ajudar meu pai a levantar um muro em frente à nossa casa; na verdade meu pai é que o ajudava porque era ele o pedreiro. Já no final do trabalho, quando era preparada a grade de madeira meu pai serrava a madeira e saía meio torta e ele dizia: "Sabe qual é o erro do serrador? É a pressa" Meu pai dizia que era, "também" carpinteiro (porque meu pai andava perseguindo várias oportunidades de trabalho) ao que ele respondia: "Homem de muitos ofícios, senhor de nenhum" Eu sempre guardei comigo essa frase Eu era bem pequeno, para ver como aquilo que falamos e fazemos servem de exemplo, principalmente para as crianças que passam a nos imitar. Aliás, a educação é processada por imitação. Jamais teremos o direito de contestar os jovens pelos seus desatinos sem antes fazer uma verificação se não fomos nós os causadores de suas atitudes.
Meu pai freqüentava a Igreja Adventista de Santo Amaro, não tenho certeza se ele chegou a ser batizado, creio que sim, pois ele fazia questão que nós seguíssemos os seus passos, embora em um casamento misto era difícil trilhar um caminho visto que minha mãe sendo de origem católica influía também; cheguei a fazer a primeira comunhão escondido de meu pai que não aceitava isso. A minha situação era difícil Era meu tio, entretanto, quem era mais arraigado aos princípios oriundos do pai. Era assíduo freqüentador dos cultos em sua igreja e fazia questão de transmitir os ensinos de Cristo para que os seus parentes pudessem tomar uma decisão ao lado de Cristo e poderem gozar das promessas de salvação e de vida eterna. Ele era fiel a Deus, cheguei a presenciar em seu sitio que, quando algum menino ia comprar umas varas de cana ou um punhado de amendoim, ele separava de imediato, o dízimo do Senhor. Era, meu tio, o interlocutor da família, procurando a cada um, de tempos em tempos, para que houvesse uma ligação. Pelo menos uma vez por mês, até estar em idade avançada, ia a minha casa e na de todos os sobrinhos, sendo que muitos residiam bem distante. Nessas visitas ele sempre pegava a bíblia e fazia algum estudo conosco para que nos aproximássemos da Palavra de Deus; orava conosco agradecendo o alimento, dando-nos momentos de paz e inspiração que devem ter influído muito para que, também, tomássemos o caminho que nos levaria a tomar uma decisão ao lado de Cristo. Quando Santo Amaro ainda era um bairro incipiente ele vendeu sua casa situada na Rua Barão do Rio Branco e comprou um sítio na Vila das Belezas, quando naquele lugar não havia praticamente nada. Ali ele prosperou, os filhos casaram-se, o bairro cresceu e o seu sítio ficou rodeado do progresso. Acabou loteando o sítio, ocasião que doou terrenos para os filhos, e não esqueceu-se de sua igreja à qual doou o terreno onde foi construído o templo naquele bairro.
Hoje existe uma rua com o seu nome, que já foi dado quando ele ainda em vida.
(José Wladimir Klein enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 06 de julho de 1998 pela página na internet, atualizada em 29 de janeiro de 1999.)Recolher