Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Marco Antônio Duarte de Resende Paiva
Entrevistado por Tatiana Dias
Entrevista MCE_CB026
Realização Museu Da Pessoa
Belo Horizonte, 18 de Abril de 2005
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P1 - Eu gostaria de começar pe...Continuar leitura
Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Marco Antônio Duarte de Resende Paiva
Entrevistado por Tatiana Dias
Entrevista MCE_CB026
Realização Museu Da Pessoa
Belo Horizonte, 18 de Abril de 2005
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P1 - Eu gostaria de começar pedindo para você dizer seu nome, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Marco Antônio Duarte de Resende Paiva, nasci em 23 de setembro de 1946, em Três Pontas.
P – Marco Antônio, me conta como você conheceu o Bituca?
R – Bom, a minha casa e a casa do Bituca, o fundo das duas casas, a horta, que é como fala lá do interior, era uma de costas para outra. Então a gente se conheceu quando tinha quatro ou cinco anos, três anos de idade, sei lá, porque a gente roubava jabuticaba na casa de um e manga na casa do outro, então foi quando a gente se conheceu.
P – E você sempre morou em Três Pontas, ou você chegou a sair de lá?
R – Não, eu morei em Três Pontas até 1961, depois eu fui para São Paulo estudar, foi quando o Bituca também saiu e foi para Belo Horizonte e a gente passou a se encontrar só nos feriados prolongados e nas férias.
P – E como foi ver o Bituca começar a fazer sucesso? Como foi isso para você?
R – Foi muito bom. Primeiro, porque a gente participou, quando o Bituca começou a ensaiar seus passos na música, a gente era muito chegado já. A minha esposa Regina também era muito amiga do Bituca e a gente frequentava as mesmas casas, onde o pessoal todo tinha uma afinidade com a música e a gente sabia que um dia o Bituca ia tocar alguma coisa, cantar, a gente não imaginava, porque ele não era de cantar, ele gostava muito do “lalalalala”, mas ele não cantava, ele gostava mais era de tocar. Tocava piano, tocava violão, contrabaixo, mas cantar realmente eu vi muito poucas vezes. E quando cantava era aquelas músicas antigas. Isso foi no início dos Beatles e ele não cantava Beatles, Beatles ainda era uma coisa nova para gente, então ele cantava mais aquelas músicas antigas da época de Emilinha Borba, esses cantores antigos da década de 1950.
P1 – A primeira vez que o Márcio Borges foi a Três Pontas com o Bituca você estava lá?
R – Estava. Quando o Marcinho foi a Três Pontas, o Bituca ligou e avisou: “Olha, estou levando um amigo meu de Belo Horizonte que me hospedou e que me recebeu como da família. Ele está indo”. Aí eu, a Regina e o Dida, outro amigo nosso, inclusive foi diretor do Santos Futebol Clube e deve participar da entrevista futuramente, fomos nós três para rodoviária e ficamos aguardando a chegada do Marcinho à Três Pontas.
P – E algum caso desta ida dele à Três Pontas, você acha importante registrar?
R – Eu tenho caso para gente ficar aqui dia e noite, tenho muito caso. É, a gente jovem, gostava da vida noturna, da boemia, então a gente vivia tomando uns gorós. Mas das coisas interessantes daquela época, é que a gente vivia duro, éramos todos estudantes e tal, não tinha grana. O pai não dava dinheiro para gente beber, então tinha de criar uma maneira de beber e pagar o tira-gosto. Então o que nós fazíamos? Nós pulávamos o muro em frente o Tonel que era o bar que a gente frequentava e lá era a casa paroquial, então nós roubávamos quatro ou cinco galinhas do padre, vivas, e ia no Tonel e trocava a troco de uma pronta, o dono do bar pegava as cinco galinhas vivas e dava uma pronta para gente tirar o gosto das pingas que a gente ia tomar. Então tem muito caso dessa época que a gente era moleque ainda e estávamos começando a vida.
P – Como foi o impacto de ouvir a primeira vez o primeiro Clube da Esquina?
R – Foi muito bom, foi maravilhoso como foi ouvir o primeiro disco do Milton. Foi uma coisa muito agradável. Eu convivi muito na época com o pessoal da família dos Borges. Eu primeiro fui amigo do Marilton, não sei se vocês conhecem, conhecem não é? E a gente começou a conhecer e saber do potencial de todos eles, e quando a gente teve oportunidade de ter em mãos e ouvir aquela coisa lá foi realmente sensacional, foi muito bom, parece que eu participei daquilo, entendeu? Eu me sentia assim, como um dos participantes do Clube da Esquina.
P – Marco Antônio, teve um festival que foi muito famoso que aconteceu em Três Pontas que foi o Festival Sentinela. Você estava lá, você participou?
R – Não, isso aí não foi o Festival Sentinela, não. Isso aí, na época o Paulo Pila, o empresário do Milton, eu tinha uma firma de engenharia, eu e mais dois colegas lá em Três Pontas e nós resolvemos fazer um show do Bituca. E nisso nós nos aliamos ao Nelsinho Motta, que foi quem fez toda a parte de marketing. E nós começamos a convidar através do Paulo Pila que na época era famoso e tal e ele começou a convidar as pessoas para participar. Isso, aliás, foi um problema sério, porque o Paulo na época prometeu que a gente organizaria a parte básica do show, que seria palco, iluminação, banheiros e que ele ficaria, por exemplo, com a parte de água, refrigerantes, sorvetes, porque bebida alcóolica não poderia entrar. E tudo o que ele ficou de arrumar e prometeu não cumpriu nada. Essa foi a primeira decepção que o Bituca teve com o Paulo Pila e depois ele deixou de ser empresário do Milton. Mas foi um show inesquecível. Eu tenho inclusive, eu estou passando agora para DVD, eu tenho três horas deste show gravado, duas horas com fundo musical em super oito, eu tenho todo esse show. Então vocês vão ter a oportunidade de ver o Chico e o Fernando Brant dançando de rosto colado, são coisas assim que normalmente não se vê em show. Foi um show, inclusive, que quem assistiu nunca mais vai esquecer. Estavam Fafá de Belém, Clementina de Jesus, Grupo Água do Chile, estava o Chico, estava o Gonzaguinha que foi quem fez mais ainda no show, porque estava menos bêbado, foi quem mais cantou. Estava o Bituca, Fernando Brant, os Borges e muito mais gente. Foi uma coisa sensacional que o sul de Minas nunca mais vai esquecer. E, aliás, nós estamos tentando programar alguma coisa parecida para estes próximos dois anos.
P – Você estava lá neste Museu Vivo que teve lá agora recentemente? Como que foi?
R – Estava, foi muito bom. O negócio aconteceu junto porque o Marcinho foi receber o título de cidadão trespontano e posteriormente teve o show que eles fizeram no teatro do Centro Cultural Milton Nascimento que teve inclusive a participação do Milton também e do coro de artistas trespontanos que hoje estão acompanhando o Milton em vários de seus shows, foi muito bonito. Realmente a gente que é trespontano, a gente se acha melhor do que os outros, tudo que acontece lá a gente acha que é a melhor coisa do mundo.
P – Marco Antônio, tem alguma outra história que você acha importante deixar registrada aqui?
R – É, da amizade da gente, no início a gente foi muito ligado, tanto é que, eu não sei se você sabe que o Bituca foi casado, e eu fui padrinho dele e depois ele foi meu padrinho de casamento também. Eu sou casado há trinta e dois anos e namorei dez anos a minha esposa, então são quarenta e dois anos que a gente praticamente viveu junto com o Milton. Então foi e é uma amizade muito grande, uma coisa muito bonita, é uma coisa de irmão.
P – Marco Antônio, o que você está achando desta iniciativa de ter um museu do Clube da Esquina?
R – Eu acho que é uma iniciativa muito boa. Aliás, eu fui assistir ao museu do Ayrton Senna em São Paulo, não sei se vocês tiveram a oportunidade de ver e acho que vocês vão até superar as expectativas. Porque pelo que a Claudinha e o pessoal que está trabalhando nesse projeto, eles me contaram, vocês estão fazendo um trabalho que em Minas Gerais é sem precedentes. Então eu acho que vai ser uma coisa muito boa para a história ainda mais que, não sei se você viu uma entrevista que o governador Aécio Neves deu semana passada, onde ele diz que Três Pontas é a capital da música no Brasil. Então isso aí vem coroar mais ainda esse trabalho musical que começou praticamente em Três Pontas e hoje o Clube da Esquina está pelo mundo inteiro.
P – Marco Antônio, e esta iniciativa para você particularmente, que significado ela tem?
R – Você sabe que isso massageia meu ego também. Porque é coisa que você vem desde criança participando junto, de uma forma ou de outra, com uma palavra de carinho, ou com um relacionamento de amizade, com um copo de cerveja, com uma convivência muito boa. Então isso aí faz parte da gente, isso me massageia o ego também.
P – Tem mais alguma coisa...
R – Não, só queria agradecer a oportunidade de ter participado, estou muito satisfeito e espero ter outras oportunidades. Muito obrigado.
P – Eu quero agradecer em nome da Associação dos Amigos do Museu do Clube da Esquina. Muito Obrigado.
(Fim da Entrevista)Recolher