O registro de como transpus o Romance Macunaíma em versos: são 17 Capítulos mais o Epílogo, introduzidos por 18 Décimas (mais um verso de remate), o texto central redundou em 1.546 sextilhas, mais as cantigas folclóricas originais. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Quando botei nas mãos o romance Macunaíma, de Mário de Andrade, já estava um marmanjo de 45 anos de idade. Posso dizer que foi uma idade boa pra ler, porque já tinha percorrido muitos caminhos. Como leitor pude, desde o primeiro contato, tirar todo o sabor e prazer da rapsódia de Mário de Andrade. Poucos livros me trouxeram alegria logo na primeira leitura como Macunaíma e Dom Quixote. Em seguida vem O mentecapto, de Fernando Sabino e Meu tio Atahualpa, de Paulo de Carvalho Neto. Depois da leitura de Macunaíma virei fã de carteirinha do velho Mário. é bem verdade que o romance Macunaíma foi gestado em 1927 e publicado no ano seguinte, mas é, ainda, fruto da ebulição que os marmanjos de 22 provocaram e ainda espelham nos dias de hoje. Comecei a querer abarcar todas as leituras de Mário de Andrade, tudo que fosse de seu tempo, tudo que a ele tivesse relação. De Macunaíma vi o filme, li o livro, assisti à peça. Nessa época eu estava também envolvido com os poetas de cordel da Feira de São Cristóvão e a conexão com a poesia popular foi imediata. Larguei o livro e comecei a transpor para versos populares a história de Macunaíma. Quando já estava com cerca de 300 estrofes de seis versos produzidas (algumas delas publicadas no jornal D. O. Leitura, São Paulo 6 (63) ago. 1987), de repente me deu um estalo. O que eu estava fazendo era transpor minha interpretação pessoal de Macunaíma e não o romance Macunaíma. Essa linha não pareceu correta, porque certamente a minha memória falharia e não sairia um trabalho de gosto. ...
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O registro de como transpus o Romance Macunaíma em versos: são 17 Capítulos mais o Epílogo, introduzidos por 18 Décimas (mais um verso de remate), o texto central redundou em 1.546 sextilhas, mais as cantigas folclóricas originais. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Quando botei nas mãos o romance Macunaíma, de Mário de Andrade, já estava um marmanjo de 45 anos de idade. Posso dizer que foi uma idade boa pra ler, porque já tinha percorrido muitos caminhos. Como leitor pude, desde o primeiro contato, tirar todo o sabor e prazer da rapsódia de Mário de Andrade. Poucos livros me trouxeram alegria logo na primeira leitura como Macunaíma e Dom Quixote. Em seguida vem O mentecapto, de Fernando Sabino e Meu tio Atahualpa, de Paulo de Carvalho Neto. Depois da leitura de Macunaíma virei fã de carteirinha do velho Mário. é bem verdade que o romance Macunaíma foi gestado em 1927 e publicado no ano seguinte, mas é, ainda, fruto da ebulição que os marmanjos de 22 provocaram e ainda espelham nos dias de hoje. Comecei a querer abarcar todas as leituras de Mário de Andrade, tudo que fosse de seu tempo, tudo que a ele tivesse relação. De Macunaíma vi o filme, li o livro, assisti à peça. Nessa época eu estava também envolvido com os poetas de cordel da Feira de São Cristóvão e a conexão com a poesia popular foi imediata. Larguei o livro e comecei a transpor para versos populares a história de Macunaíma. Quando já estava com cerca de 300 estrofes de seis versos produzidas (algumas delas publicadas no jornal D. O. Leitura, São Paulo 6 (63) ago. 1987), de repente me deu um estalo. O que eu estava fazendo era transpor minha interpretação pessoal de Macunaíma e não o romance Macunaíma. Essa linha não pareceu correta, porque certamente a minha memória falharia e não sairia um trabalho de gosto.
Parei tudo e comecei de novo. Desta vez com o objetivo de transpor, de fato e o mais literal possível, escrevendo os versos com o romance de lado. E desta vez, já com o acréscimo de tudo que foi assimilado com a leitura de Roteiro de Macunaíma, de M. Cavalcante Proença (livro para o qual eu tinha uma continuação sonhada, mas improvável) e Moronguetá, Um Decamerão indígena, de Nunes Pereira. Livros recomendados para quem leu ou vai ler Macunaíma. Bom, foi assim que tudo saiu. Mantendo o livro de Mário de Andrade colado, aproveitando ao máximo suas próprias palavras e expressões, como também o roteiro dos capítulos. Fácil? Não! Fácil não foi. Principalmente porque acabou se me assenhoreando todo o tempo, além de se mostrar um trabalho pesadíssimo, para o qual me faltou tempo e paciência para rever tudo com o devido cuidado. Por isso quase desisti (com escritores amadores acontece isso).
Agora tive outro trabalho pesado: digitar para um e-Livro (e-book) virtual. Foi duro, mas consegui! Para a introdução de cada capítulo tomei o exemplo de Bocage, que iniciava poemas (principalmente os juntados em Poesias eróticas, burlescas e satíricas), com um resumo que ele chamou toda a história numa décima. Aqui também tentei fazer assim. Por outro lado, não posso dizer porque me faltam condições e autocrítica se o trabalho saiu a contento. Se cumpri bem a missão, mesmo porque agora já estou muito distante do texto e ele de mim. Agrava qualquer tipo de análise o fato de que não costumo reler o que escrevo. Assim, não posso fazer qualquer avaliação. Quando termino um trabalho, Deus me livre dele! Pronto já é do mundo!
Ademais, para se saber se uma transposição dessa magnitude deu certo, é preciso que muita gente leia, para ouvir desses leitores o depoimento de que o texto foi coerente, que dele consegui tirar proveito e alegria como o romance de Mário de Andrade nos traz. Felizmente esse fato somente os leitores podem constatar.
Por fim quero dizer que quem fez a transposição de Macunaíma para a Literatura de Cordel foi realmente o poeta popular Sá de João Pessoa, que a esta altura já abandonou a poesia, mas deixou uma dezena de folhetos de cordel espalhados por aí para nos alegrar.
Resulta que agora em 2022, no Centenário da Semana de Arte Moderna, tenho a alegria de ver que inúmeras outras obras baseadas em Macunaíma saem a lume. Folhetos, livros, músicas, teatro alguns com o espírito do cordel estão pipocando por todo lugar. Mário de Andrade é claro está todo se rindo feliz, deitado na mesma rede no Sítio Sapucaia, do amigo Pio Lourenço Corrêa, onde gestou as aventuras de Macunaíma, herói sem caráter... Agora quado a Semana de Arte Moderna completa 100 anos, publiquei o texto completo nos blogs, ou seja, todos os 17 Capítulos e um Epílogo que formam a obra de Mário de Andrade, sempre pensando em não desvirtuar, em seguir de perto o mestre, com as limitações que um escritor menor carrega consigo.
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