P - Para começar eu pediria para você dizer o teu nome completo, data e local de nascimento. R - Bom, o meu nome é Luis Antonio de Cácio, eu nasci no dia 13/6/1956. Por isso é que meu nome é Luis Antonio. Dia de Santo Antonio, né? Eu nasci em um bairro chamado Marechal Hermes, no subúrbio d...Continuar leitura
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Para começar eu pediria para você dizer o teu nome completo, data e local de nascimento. R - Bom, o meu nome é Luis Antonio de Cácio, eu nasci no dia 13/6/1956. Por isso é que meu nome é Luis Antonio. Dia de Santo Antonio, né? Eu nasci em um bairro chamado Marechal Hermes, no subúrbio do Rio de Janeiro e fui criado em um bairro chamado Irajá. (riso) Bairro também tradicional de subúrbio.
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Eu queria que você lembrasse um pouquinho da tua entrada no Ache. Que ano que aconteceu? E como é que você foi parar na empresa? R - O Achë é meu segundo emprego. Eu comecei em 1976 com 19 anos, quer dizer, com 20 anos. Comecei a trabalhar em Furnas Centrais Elétricas, fica no bairro de Botafogo. Na Rua Real Grandeza. Trabalhei lá durante 6 anos na época da ditadura. Em 1981 o presidente de Furnas, foi afastado e o Presidente Figueiredo, na época, o general Figueiredo, colocou na empresa o coronel Alzir Nunes Guei. E ele, então, demitiu 1500 funcionários. Fiquei 1 mês desempregado,
pensando o que é que eu ia fazer da minha vida. E um dia passando em uma farmácia perto de onde eu morava, vi um rapaz arrumando uma pasta em um carro em frente da farmácia. Aí eu fiquei assim: “Eu acho que esse vai ser o meu futuro. Vender. Ser vendedor. E vendedor de medicamentos porque eu acho que a pessoa sempre vai tomar medicamento”. Foi o pensamento que passou pela cabeça. A pessoa pode deixar de fazer tudo, menos de se alimentar e de tomar remédio. E eu conversando com o representante, perguntei como é que eu faria para entrar na indústria farmacêutica, ele falou: “Olha, realmente o único laboratório que você tem condições de entrar, que é um laboratório escola, que admite neófitos – ou seja, aquelas pessoas que não têm experiência na indústria farmacêutica – é o laboratório Aché. E fica no bairro de Botafogo”. Eu peguei, fui me informar e descobri que o Aché ficava no Rio de Janeiro na Rua Ipu 32. Exatamente em frente às Furnas Centrais Elétricas, (riso) onde eu tinha trabalhado. Peguei meu currículo coloquei debaixo do braço e fui lá e me apresentei. A recepcionista na época era Dona Olívia, conversei com ela e expliquei a minha vontade de entrar na empresa, na indústria farmacêutica. Ela me deixou aguardando das 7 e meia da manhã até as 10 horas da noite, quando eu fui atendido pelo senhor Boschin. Paulo Sérgio Boschin. Que era o gerente da filial na época. Ele fez a entrevista, analisou meu currículo, que realmente não era tão grande assim. Eram só 6 anos de uma empresa estatal a Furnas Centrais Elétricas. E na época nós fazíamos o curso. Fazíamos o curso sem sermos admitidos. E eu fui fazer o curso no bairro da Penha, na Rua Cuba 60. A empresa tinha um escritório lá também, na Penha. Fiz o curso. Fui o segundo colocado com a média 9.4 e fui admitido no centro da cidade como propagandista universitário. Porque nessa época o Aché não permitia que se estudasse, a equipe convencional. Mas ele tinha uma equipe só de universitários que dava uma oportunidade para quem estava começando realmente na indústria farmacêutica. E eu ingressei nessa equipe em 1/10/1981.
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Para fazer a área do Rio de Janeiro? R - Eu fazia o centro da cidade. Especificamente ali o Castelo, a área do Aeroporto Santos Dummont. Nós visitamos vários médicos na
Almirante Noronha 365. A Rua Marechal Câmara, Presidente Wilson, Presidente Antonio Carlos. Quer dizer, o meu setor era realmente aquele trecho ali do Castelo até a Rio Branco próximo à Cinelândia.
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Quantos anos de propagandista, Luis? R - Bom, já se vão 20 anos.
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Como propagandista mesmo? R - Não, ah, perdão, desculpe. É que eu me considero hoje um propagandista na função de Gerente Regional.
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Está certo. R - Nós somos eternos propagandistas. A nossa profissão é essa. Mas eu fiquei 2 anos e 10 meses como propagandista. E um belo dia meu supervisor e o gerente na época, me convidaram para ocupar um cargo de treinador. A empresa estava criando esse cargo. Eu fui o primeiro treinador da companhia junto com mais dois colegas. Um em São Paulo capital e outro em São Paulo interior. Fomos os três primeiros treinadores. A empresa estava implementando o treinamento. Começou a sentir uma necessidade de se criar uma área específica de treinamento e eu tive o prazer, o privilégio, de poder ocupar esse cargo ao qual eu acredito tenha desempenhado bem. Hoje inclusive tem muitos profissionais
aqui no Rio de Janeiro que tiveram a oportunidade de entrar comigo, foram selecionados por mim. Entrevistados por mim. Inclusive treinados por mim.
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O que fazia o treinador? R - O treinador ele tinha a responsabilidade naquela época, muito grande. Porque ele que recebia esses candidatos. Que normalmente procuravam a empresa, alguns, a grande maioria, normalmente eram indicados por nossos funcionários, outros até procuravam espontaneamente. Assim como foi meu caso. Eu fui ao Aché, não fui indicado por ninguém. Eu tive essa felicidade de ter tido a oportunidade de ter ingressado na empresa mesmo sem ter sido indicado por ninguém. Então o treinador recebia essas pessoas, avaliava os seus currículos, dava os testes. Preenchia as propostas. E depois quando surgiam as vagas – que naquela época eram muitas, porque a rotatividade da empresa era muito grande em função da empresa não ter um salário realmente muito atraente – então as pessoas entravam, aprendiam a profissão. Alguns aprendiam a profissão depois saíam. Eram convidados por outros laboratórios que sabiam das nossas dificuldades em termos salariais. Essas pessoas eram assediadas pela concorrência. Então elas saíam para outros laboratórios e acabavam gerando vagas. E eu digo assim, eu fiquei muito tempo, é, esses 2 anos e 10 meses que eu fiquei como treinador, realmente nós tivemos muito trabalho. Porque estava sempre administrando curso, entrevistando candidatos. Eu perdi as contas de quantas pessoas realmente eu tive o prazer e a oportunidade de entrevistar, de conversar. De conhecer um pouquinho das suas vidas. Profissionais, seu histórico educacional, essas coisas todas.
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Uma das características fortes do Aché é justamente essa força de vendas que foi criada. Eu queria entender um pouquinho como é que essa força foi se desenvolvendo? Como é que se formava a força de vendas do Aché? R - É a força de vendas, da família Acheana. Era um termo que a gente sempre usava muito. Porque nós trabalhávamos realmente por amor ao nosso trabalho, por gostar da profissão a gente acabava abraçando a causa. A causa do Aché é realmente uma causa interessante, um causa importante. Porque era um laboratório nacional brigando com as multinacionais para conquistar realmente o seu espaço. Então eu acho que isso é que acabava motivando a todos nós a passarmos isso para aqueles que estavam entrando, que estavam ingressando e que realmente queriam se desenvolver. Nós acreditávamos que a empresa ia crescer. Que ela ia chegar no patamar que ela está hoje e nós queríamos crescer juntos. Porque nós achávamos bonito. Achávamos que isso realmente, eu particularmente sempre achei que, tinha que ser o ideal de todo mundo. Eu acho que você não pode pensar em começar por cima. Você tem que pensar realmente em começar ali por baixo, galgando,crescendo junto com a empresa. E o Aché realmente foi crescendo e a gente foi acreditando. Então eu acho que passamos esse sentimento para muitos funcionários e acabou que hoje tem aí funcionários antigos, funcionários realmente experientes, melhor dizendo. E que ainda trabalham com esse mesmo amor, com esse mesmo afinco, com essa mesma dedicação. Eu acho que foi basicamente isso: estar sempre nas reuniões, mostrando para eles que era importante. Que a empresa ia crescer. Que nós íamos fazer uma grande indústria farmacêutica nacional, o que era mais importante. Esse sentimento de nacionalidade também acho que me ajudou muito. E muitas pessoas acreditaram nessa causa assim como eu.
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A equipe foi crescendo em número no decorrer dos anos? R - É, o Aché sempre teve uma grande equipe. A gente sempre se destacou por ter o maior número de profissionais atuando na propaganda. Era a ideologia da administração anterior o Aché passou por muitas crises. E toda vez que tinha uma crise, a inflação estava muito alta, acontecia algum problema. O controle de preços naquela época, nós éramos regidos pelo Cipe – Conselho Interministerial de Preços – que era muito rigoroso em termos de preço de medicamentos e isso acabava criando uma certa dificuldade para a companhia, para ela poder se desenvolver. A gente acabava contratando mais gente, entendeu? Porque a empresa dizia: “Bom, para superar essa crise eu tenho que colocar mais gente visitando, mais gente gerando receituário”. Porque a única forma que a empresa tinha de crescer realmente era contratando mais pessoas, era visitando mais médicos. Para visitar mais médicos nós tínhamos que ter uma equipe maior. E com isso a gente passou a ser o laboratório que mais visitava. Que mais encontrava médico no Brasil. Quer dizer, nós tínhamos, sempre tivemos o maior potencial médico visitado pela indústria farmacêutica, P -
E onde que encontravam esses propagandistas? Como é que essas pessoas chegavam para a empresa?
R - Como eu lhe falei, na época a empresa tinha uma exigência, os profissionais tinham que ser neófitos. Então aonde nós íamos buscar esses profissionais? Às vezes no nosso
próprio dia-a-dia, às vezes no banco. Nós estávamos no banco encontrávamos uma pessoa que tinha mais ou menos o perfil, aí conversávamos com aquela pessoa, convidávamos para fazer uma proposta. Para preencher uma proposta para conversar conosco. E íamos separando as propostas, né? Quando surgiam as vagas nós recorríamos a esse banco. Quer dizer, era no comércio, nos bancos, às vezes pessoas conhecidas dos representantes. Mesmo que trabalhasse em outros segmentos também, mas que preenchesse o perfil, que a gente percebesse que tinha o perfil mais ou menos parecido com o nosso. Pessoas idealistas, pessoas que realmente queriam abraçar essa causa de trabalhar no Ache.
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E os médicos? Como é que surge a lista de médicos a ser visitada? Essa lista ela vai sendo renovada? R - É eu não posso dizer quando começou o primeiro cadastro. Mas quando entrei na companhia já tinha um cadastro. Em 1981 já existia um cadastro médico. E a gente ia visitando esses médicos. Aqueles médicos que já tinham no cadastro e toda vez que estamos trabalhando em um determinado setor, passamos em um endereço, chegamos em um prédio, a gente se informa. Procura saber junto ao porteiro se por acaso se instalou algum médico naquele local. A gente visitava as faculdades. Ficávamos sabendo dos novos médicos que se formavam. Para onde eles iam. Quais são as clínicas aonde eles iam trabalhar, os consultórios. Então era assim que a gente ia fazendo o cadastro. Passando as informações um colega para o outro e o cadastro ele se formou assim, no dia-a-dia, visitando os locais aonde possivelmente encontraria médico.
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E o relacionamento que o Aché tem com os médicos é um pouco diferente do que os concorrentes, Luis? R - É, porque assim como nós passávamos para o representante essa causa de a gente trabalhar em uma indústria nacional, uma indústria que ia crescer, que ia vencer. Esse sentimento acabava sendo estendido também para a classe médica. A gente valorizava muito, fizemos muitas campanhas. A empresa fez muitas campanhas nesse sentido. De enaltecer realmente o fato de o laboratório ser genuinamente nacional e que os médicos como brasileiros também poderiam pactuar desse projeto que era fazer realmente do Aché uma grande indústria farmacêutica competindo com as multinacionais.
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Tem alguma campanha ou iniciativa em relação aos médicos que tenha te marcado, assim, que você goste de contar? R - Olha tiveram muitas campanhas. Realmente é difícil até citar uma em particular porque todas as campanhas eram voltadas para isso na época, quando eu era propagandista. Eu vibrava muito com essas campanhas. A gente falava que no logotipo do Aché tinha uma barrinha verde-amarela, o laboratório genuinamente nacional. Eu me lembro que o Diuzix, que era um produto a base de furozemida, que nós trabalhamos durante um bom período pela companhia, enaltecia muito isso, a gente falava: o diurético brasileiro. O diurético previsível das 6 horas. Genuinamente brasileiro. Produzido por uma indústria brasileira. Quer dizer, então as campanhas que eram voltadas para esse sentimento, eu vibrei muito. Eu acho que essas campanhas elas também corroboraram para que o Achê conseguisse se desenvolver dentro da classe médica.
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E tem uma margem para a equipe ou o próprio propagandista inovar um pouco na forma de agradar, ou se relacionar com o médico? R - Sim, porque logicamente a propaganda é feita por seres humanos. E cada um tem a sua peculiaridade, cada um tem a sua característica, sua forma de transmitir. Acabava realmente, alguns se diferenciavam por isso, mas a mensagem sempre era a mesma. A empresa sempre preservava que as mensagens fossem sempre as mesmas. Agora, uns eram mais persuasivos que os outros. Alguns tinham algumas características que às vezes agradavam mais aquele médico daquela determinada região, daquele determinado setor.
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Você lembra de alguma experiência tua como propagandista, assim? R - Olha, a gente sempre lembra dos fatos assim engraçados, fatos relevantes. Tem um fato que eu sempre procurei passar para a equipe, são algumas lições que eu aprendi na propaganda. Tinha um médico, professor, Presidente da Sociedade de Reumatologia no Rio de Janeiro, chamado Valdemar Bieck. Professor Valdemar Bieck. Era um médico super cortejado por todos os propagandistas. Era um médico importantíssimo, tinha uma clientela em torno de 50 mil pacientes por mês. Nós na época tínhamos produtos como Tandrilax, Dorilax, o Energizan intramuscular, que era um produto tradicional que vendia muito. A empresa, eram líderes de venda da indústria farmacêutica. E eu com 3 meses de propaganda aprendi uma lição, eu sempre falo para o pessoal, né? Eu aprendi uma lição realmente importante. Porque eu visitava o Doutor Valdemar e nos recebia muito bem, de pé. Chamava a gente: “secretário, por favor”. Aí nós entravamos, atendia a gente de pé. A gente fazia a propaganda. E eu procurava me esmerar. Fazia aquela propaganda bem decoradinha. Na época era assim que a gente fazia. Falando para o médico tudo o que a gente tinha para falar. Deixávamos amostras com ele e tal. E ele sempre recebia aquilo de forma positiva. Mas é o que eu digo que aí entra o diferencial de cada um. Eu com 3 meses, embora tivesse toda essa orientação de que tinha que chegar e fazer a propaganda que não precisava fazer mais nada. Fazer a propaganda, massificar, deixar bastante amostra para
conquistar o receituário. E eu comecei a aproveitar o relacionamento que eu fui adquirindo com as fisioterapeutas da clínica, com a secretária. Porque elas sempre pediam amostras a gente sempre dava. Porque naquela época nós recebíamos bastante amostra. Então elas pediam: “ah, me dá um Tandrilax.” Sempre tem um, probleminha de uma dorzinha aqui e tal. E eu sempre procurava agradá-las. E trata-las também com carinho, com atenção, com educação. Então eu fui adquirindo uma amizade muito grande. E eu fazia um negócio para poder saber se realmente meu trabalho estava dando resultado, já que no meu setor não tinha farmácia. As farmácias estavam nos setores adjacentes. Eu pensava: “Como vou saber se realmente o médico está me prestigiando?” Nós não tínhamos auditorias que nós temos hoje. Quer dizer, nós só podíamos saber através de farmácia. E eu não tinha farmácia. Qual era a solução que eu tinha que encontrar? Era a amizade que eu tinha com as atendentes. Então essas fisioterapeutas, quando a pessoa saía do consultório elas pegavam a paciente: “Olha, vem aqui, vamos aqui na recepção e tal, para fechar”. Elas pegavam a receita
olhavam e anotavam o nome do produto que ele tinha prescrito. Eu consegui convence-las a fazer isso para mim. E eu comecei a perceber que o Tandrilax ele raramente prescrevia mas ele me recebia tão
bem. Na época tinha o Algitanderil, Donorex. Quer dizer, eram produtos que ele receitava muito, de outros laboratórios, e o meu, raramente. E eu digo, poxa, aquilo me deixou chateado: “Mas ele me recebe tão bem. Ele é tão simpático comigo. Eu também estou sendo sempre cortês com ele. O que é que está acontecendo? Eu devo estar fazendo alguma coisa errada”. Aí com 3 meses de trabalho, um belo dia eu entrei no consultório do doutor Valdemar: “Eu hoje vim aqui, eu queria só conversar com o senhor. Não fazer propaganda, mas obter do senhor uma informação que para mim é muito importante. Eu já estou aqui há 3 meses lhe visitando, sempre deixando as amostras. O senhor me recebe muito bem. O senhor sempre foi muito carinhoso comigo, muito atencioso. Eu percebo que o senhor recebe as amostras de Tandrilax, a impressão que eu tenho é que o senhor gosta do Tandrilax, do Dorilax. Mas raramente eu vejo o senhor prescrever um Tandrilax, um Dorilax. O que é que está acontecendo?” Ele disse: “Olha, mas você nunca me pediu. Todo mundo que vem aqui pede: me ajuda aí doutor. Eu estou precisando do leitinho das crianças. Eu preciso vender meu peixe. Você chega aqui, faz uma propaganda inclusive brilhante. Maravilhosa. Mas você nunca pediu.” Eu disse: “Poxa, doutor, pelo amor de Deus. Eu preciso mais...”, ainda na época nós podíamos fazer isso,
“...mas doutor eu posso lhe garantir que eu preciso muito mais do que eles. Porque realmente meu trabalho é comissionado. Eu dependo muito do serviço.” Aí fiz aquela cobrança e realmente eu consegui conquistar
o
receituário dele. Consegui sensibiliza-lo. Mas também foi uma lição
a gente precisa cobrar o receituário também, não pode confiar somente na nossa experiência ou então na nossa habilidade. Tem que existir alguma coisa
a mais. isso eu aprendi com 3 meses de empresa.
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Você tem outra?
R - É uma outra, porque quando a gente entrava na empresa eles diziam: “Olha, você tem que agradar o médico, se o médico torce pelo Flamengo você é Botafogo, tem que ser flamenguista. O médico torce para o Fluminense, mesmo que você não goste do Fluminense, tem que ser tricolor. Então o médico falou que ele é católico, você tem que ser católico. Ser for umbandista você tem que ser umbandista. Então eu disse: “Bom, tudo bem.” Aí uma das primeiras propagandas que eu fui fazer, o doutor Horácio, que era secretário do superintendente do Instituto Nacional de Previdência Social lá no Rio de Janeiro, quando eu entro eu vejo assim no vidro da sala dele: Flamengo é freguês. Vasco 3 a 2.” Eu disse: “Poxa, já sou vascaíno, né?”(risos)
Eu entrei no consultório dele, coloquei a pasta: “Doutor, tudo bem aí? É um prazer conhecê-lo, meu nome é Luis Antonio e vascaíno como o senhor.” Pronto o médico: “Poxa, você é vascaíno? Que chinelada que nós demos no Flamengo. Você viu e tal?” Eu não tinha visto o jogo porque eu não era, eu sou botafoguense. (risos) Eu não gostava nem do Vasco na época, como até hoje. (riso) Mas aí eu disse:
Não, doutor, mas foi bom e tal.” Ele pegou: “O gol do Roberto Dinamite, não sei o quê.” Ele comentando aquilo com aquele entusiasmo. Ele era um torcedor fervoroso do Vasco da Gama. Eu disse: “Doutor, mas conseguimos. Vamos ver se a gente ganha esse campeonato.” Aí na outra visita, era sempre às segundas-feiras que eu o visitava. Na outra semana eu já procurei começar a ler um pouquinho mais sobre o Vasco da Gama para poder conversar com ele. E chegando lá o Vasco tinha ganho outro jogo. Aí conversamos e tal. Aí no terceiro, na outra semana ele disse: “Olha, vamos assistir o jogo comigo. já vi que você é vascaíno. Você vai ver o jogo comigo.” (risos)
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E daí?
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Aí nós fomos assistir o jogo. Fui ao Maracanã assistir um jogo do Vasco. Inclusive Vasco e América, aonde o Vasco ganhou de 3 a zero do América. Foi uma vitória realmente retumbante. E eu vibrando com a camisa do Vasco. (risos)
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Para agrada-lo?(risos) R - Para agradá-lo. Mas o problema que isso foi, eu fiquei 2 anos e 10 meses visitando, e os colegas sabiam? Alguns sabiam que eu era botafoguense. E quando me viam às vezes propagandeando, falando sobre o Vasco, eu já estava sabendo tudo de Vasco. Eu sabia as escalações, o técnico. As dívidas do Vasco. Os problemas do Vasco da Gama. Eu passei a ser vascaíno pelo doutor Horácio. Que era um médico importantíssimo. E eu preocupado, porque algum dia alguém vai me desmascarar (risos) aí vai ser complicado. Mas isso passou, foram quase 3 anos. O doutor Horácio saiu do setor e eu também depois saí de lá. e passaram-se anos, o doutor Horacio foi trabalhar no Sesc de Ramos. Um belo dia eu estava supervisionando aquela área, muitos anos depois, um pouco antes dele se aposentar. Aí eu entro com o propagandista que trabalhava comigo, e ele era botafoguense (risos) Aí quando eu entro no consultório que eu vou falar com o doutor Horácio, nem me lembrava mais que era o doutor Horácio. Quando eu entrei: “Oh, meu amigo e tal.” Me deu aquele abraço. “O nosso Vascão.” Aí o representante ficou, já ia falar, eu peguei e dei uma cutucada no representante (risos).Ele ficou me olhando. Depois eu expliquei
a história para ele. Realmente foi uma história que marcou muito Porque eu tive que ser vascaíno durante quase 3 anos para poder agradar o doutor Horácio. Que era uma pessoa realmente importante. Era secretário do superintendente do INPS daquela época. Nós tínhamos um bom trabalho junto ao Instituto Nacional de Previdência Social através das clínicas de atendimento. Então aquilo realmente bem marcante. Quer dizer, são várias histórias. Todas elas voltadas para esse lado pitoresco, esse lado realmente engraçado porque são muitas situações que acontecem no dia-a-dia.
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Você deixou esse dia-a-dia de contato com
o médico quando você passou a ser treinador? R - Não, nós continuamos mantendo. Eu até hoje acho que é fundamental. Eu sempre comento isso. Eu acho que todo mundo tinha que estar no campo. Todo mundo. Eu acho que é como se fala, conhecer o chão da fábrica. A gente tem que estar no campo porque ali é que acontecem as coisas. Não adianta a gente ficar no escritório elocubrando alguma coisa: “Não, vamos fazer, vamos acontecer.” Tudo bem. As coisas são realmente muito bonitas no papel. Mas na prática realmente é que a gente vai perceber quais são as dificuldades, quais são as necessidades, o que é que o médico quer ouvir. Eu sempre falo que o propagandista é uma das funções mais complicadas. Porque a gente fala para quem não quer ouvir. Cobra de quem não quer pagar. E vende para quem não quer comprar.
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Está certo. R - Então realmente é uma função extremamente difícil e que precisa, então, conhecer os nuances do campo para poder então traçar estratégia. Para poder realmente avaliar até que ponto aquela estratégia que nós estamos traçando, aquelas metas que nós estamos traçando,
são realmente factíveis ou não, entendeu?
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E depois da fase de treinador Luis, você assumiu qual função? R - Eu passei para supervisão de equipe. Mas eu já estava embasado até pela experiência de treinador, embora eu não liderasse as equipes, mas eu tinha um acompanhamento muito grande. Porque como eu falei: eu ficava no escritório administrando os cursos e entrevistando. Mas sempre tirava dois dias na semana, dois, três dias na semana ou então às vezes até mais tempo quando não tinha curso, quando não tínhamos que fazer nenhuma admissão trabalhando com a equipe do campo. Então eu participava dos pontos de encontro que os supervisores faziam com a equipe. Conversava muito com os supervisores da época. A gente trocava muitas informações. Então quando eu assumi a supervisão de vendas foi muito fácil porque eu já sabia realmente qual era a função. Como a gente tinha que se comportar como equipe. E em 1985 eu tive a oportunidade então de pegar a minha primeira supervisão de uma equipe lá no Botafogo, Largo do Machado e Flamengo. Uma área realmente nobre e difícil de se trabalhar. Porque Botafogo concentrava muitos professores. E os pedidos eram muitos. Para ajuda de Sociedades, os Congressos. O Aché não tinha essa característica, era muito difícil. Nós tínhamos que contornar muito essas situações. Então
minha primeira equipe foi ali. Quer dizer, eu passei para supervisor de vendas nessa região. Aprendi muito nessa região e aprendi muito com aquela equipe. Que era uma equipe realmente vitoriosa. Uma equipe que trabalhava com motivação.
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Você citou o ponto de encontro. Eu queria que você explicasse o que é que era isso, o ponto de encontro? R - Esse ponto de encontro seria, vamos dizer assim, um encontro estratégico do supervisor com os seus comandados. À época nós tínhamos uma visão do que seria esse ponto de encontro. Primeiro era recolhimento de todo material burocrático. Que eram os volantes, toda a produção do representante de visitação que precisava ser registrada, lançada nas estatísticas. Então nós tínhamos que recolher esse material e passar para o escritório. Tínhamos que recolher as informações para a equipe, sobre algumas coisas. Parte burocrática, mas ao mesmo tempo como se fosse uma parada estratégica para avaliar como é que foi o desempenho da semana anterior. Quais foram as dificuldades que foram encontradas pela equipe. Porque nós não tínhamos condição de trabalhar isso com toda a equipe. Eu cheguei a ser supervisor de 15 propagandistas. Então por mais que eu me esforçasse, quer dizer, se eu trabalhasse com cada um, eu encontraria um representante a cada 3 semanas. Porque eram 15 dias úteis. Então 15 representantes. E o que acontecia era isso. Eu não tinha como. Eu ficava às vezes 2 semanas, 3 semanas sem ver aquele representante. Então nós fazíamos essa parada, esse ponto de encontro semanal era importante por isso. Para a gente poder encontrar a equipe, avaliar e analisar a produção dele. Ver se era necessário haver uma mudança do roteiro de trabalho dele para que
tivesse uma produtividade melhor. O ponto de encontro basicamente ele era realizado para isso.
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E onde acontecia? R - Eu sempre brinquei: “nós somos supervisores parecemos supervisores de empresa de bebida. Porque na realidade a gente fazia o ponto de encontro em barzinho. A gente procurava um barzinho, porque o nossos pontos de encontro sempre foram às 7 horas da manhã. Onde é que eu vou encontrar alguma coisa aberta às 7 horas da manhã? Só mesmo nos bares. Aqueles bares mais tradicionais. Aqueles bares de maior movimento. Então a gente fazia ponto de encontro em botequins, em padarias. Quer dizer, sempre em locais de comércio onde a gente ia reunir a equipe para poder então conversar.
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7 horas da manhã da sexta-feira? R - Não. Isso dependia. Na realidade não era só um dia. Eu falei um dia mas era sempre dois dias. A gente fazia às vezes terças e quintas. Quartas e sextas. Sempre procuramos fazer às terças-feiras porque segunda-feira a gente ia ao escritório, pegava todo o material que tinha que pegar para passar para o representante na terça-feira. Então a gente tinha dois pontos, era terças e quintas, ou terças e sextas. Quer dizer, aí variava de acordo com as determinações também da gerência à época. O que eles determinavam a gente cumpria.
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E tem alguma padaria, algum botequim mais histórico assim, que vocês se reuniram mais tempo? R - Ah, tem, nós tínhamos um barzinho: Niterói. Porque ficava na beira da Alameda São Boa Ventura em Niterói e que era uma barulheira. Um local freqüentado por motorista de ônibus e aquele pessoal que tinha que trabalhar muito cedo. E era terrível, porque esses pontos de encontro tinham muita interferência externa. A gente falando tinha que às vezes gritar. Eu me lembro uma vez que estava fazendo ponto de encontro e de repente chegou um grupo de motoristas, para tomar café no bar,
eu estou falando e a voz foi aumentando gradativamente. Conforme eles iam falando, eu fui aumentando, fui aumentando e já estava gritando, sem perceber. Foi até engraçado por isso. De repente eles perceberam que eu já estava gritando, de repente parou todo mundo de falar. (riso) E eu estava: “Nossa produção tem que melhorar” (risos). Aí eu parei todo mundo olhando assim, rindo. Eu disse “Desculpe”. É que realmente eu estava tentando modular a voz de acordo com o som que estava no ambiente. Esse bar realmente ficou muito marcado, todos os pontos de encontro ficaram marcados porque a gente acabava criando aquele vínculo com o dono do bar. Aconteciam situações das mais engraçadas. Quer dizer, é o que eu digo: nossa profissão sempre esteve voltada muito para esse lado, da descontração. Dessas coisas pitorescas que acontecem. Porque às vezes você estava no bar chegava um cara bêbado, ou então mendigo. Aí entrava no ponto de encontro (riso) falava, ficava perturbando a gente. Quer dizer, a gente ficou exposto muito tempo em função disso. Até na rua, eu quando entrei no Aché, meu supervisor fazia o ponto de encontro na Praça Monte Castelo. Era um banquinho, ele ficava em pé de terno e gravata. Todo mundo de terno e gravata, a gente sentado nos bancos. Ficava um de costa para o outro. E ele falando para todo mundo e tal e
daqui a pouco passa um mendigo, mexia com um, mexia com outro, entendeu? Era o pessoal pedindo dinheiro, pedindo esmola, e a gente tendo que realmente fazer esses encontros dessa forma, né?
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Até quando que duram esses encontros? Você lembra? R - Até quando assim, você diz?
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No tempo assim? Esses encontros aconteceram até que ano mais ou menos? R - Não, isso acontece.
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Acontece. R - Até hoje. Até hoje porque é uma necessidade nas grandes capitais. Evidentemente que eu estou me referindo às grandes capitais. Porque evidentemente no interior e setores de viagem não tem como fazer isso porque as comunicações eram feitas através de Sedex, através de malote. Essas coisas todas. Mas isso até hoje ainda é feito. Só que lá na filial a gente vem tentando conscientizar os gerentes distritais para que eles procurem um local mais adequado. Algumas clínicas que abram mais cedo para a gente poder ter aquele isolamento que é necessário para poder conversar com a equipe e que esteja mais adequado ao nosso trabalho. Eu sempre brinco com isso: nós não somos supervisores de empresa de bebida. Então fazer ponto de encontro em um bar é realmente um negócio... (riso) Mas era uma necessidade, eu acho que foi uma fase importante. A gente precisava ter essa comunicação. Não tínhamos celular, não tínhamos todas essas facilidades tecnológicas que
temos hoje. Não tínhamos e-mail. Então nós tínhamos que encontrar os representantes. E inclusive o pessoal do interior tinha essa desvantagem porque as comunicações só podiam ser feitas semanalmente. Através de sedex. Quer dizer, isso prejudicava muito Acabava demorando um pouco. As resoluções demoravam um pouco, hoje não.
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E o teu dia-a-dia muda muito quando você passa a ser gerente regional? R - Olha, existe uma sobrecarga muito grande porque nós ficamos divididos, entendeu? Divididos porque nós queremos ir para o campo. Queremos estar no chão da fábrica. Mas ao mesmo tempo a gente fica preocupado porque o volume de informações que recebemos, o volume de solicitações que a gente recebe é muito grande. Ainda mais agora que nós estamos vivendo essa fase de mudanças, as pessoas todas que estão ocupando determinados departamentos elas estão começando a querer conhecer algumas nuances do nosso trabalho e a gente está sempre recebendo solicitações. Eu preciso de uma estatística disso. Preciso daquilo. Preciso de informações disso. Quer dizer, então ficamos muito sobrecarregados. Se nós ficamos direto no campo essas coisas não vão ser resolvidas. Se também ficarmos só no escritório também vamos deixar de acompanhar as necessidades básicas dos médicos, dos representantes. Quer dizer então, hoje a nossa rotina está muito dividida entre o escritório e o campo.
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E os gerentes regionais trabalham em que escritório? Você tem uma filial, um prédio no Aché?
R - É aqui no Rio de Janeiro nós temos uma, um prédio que é do Aché, que era do Parke-Davis. Foi, quando o Aché comprou os direitos de comercialização da linha Parke-Davis
adquiriu também o imobilizado. E o local que nós temos escritório hoje em Jacarepaguá pertence ao Ache, mas a empresa está mudando. Nós vamos passar agora para algumas salas que vão ser locadas porque esse patrimônio será colocado à venda. E o escritório vai ser um ponto somente de contato, com a área administrativa para receber todos os materiais que têm de ser distribuídos para a equipe.
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Mas houve uma época em que esse prédio serviu até inclusive de estoque de medicamentos? Que época foi essa? R - É, nós tivemos lá no Rio de Janeiro, nós tivemos as Pró-Doctor. O Aché há um tempo atrás tinha as Pró-Doctor que eram as distribuidoras do Aché. E esse prédio especificamente que eu estou me referindo lá em Jacarepaguá ele tem uma área muito grande, ele foi usado como estoque. A empresa faturava inclusive dali.A Pró-Doctor comprava os medicamentos do Aché e faturava. E os pedidos saíam desse local que nós hoje usamos somente como área administrativa e também fazíamos nossas reuniões lá.
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E a distribuição era da própria Pró-Doctor? Tinha uma frota de caminhões alguma coisa assim? R - Não nosso transporte sempre foi terceirizado. Ele sempre foi terceirizado. Nós trabalhamos com várias transportadoras. Então a gente contratava as transportadoras elas faziam as entregas, a coleta das mercadorias e faziam as entregas normalmente. Mas isso depois acabou. Acabaram as Pró-Doctor. A gente continuou com o faturamento do Aché e lá passou a ser usado somente pela área administrativa e para as nossas reuniões. Porque as instalações nos permitiam isso. Quer dizer tinham vários salões que foram adequados para fazer as
reuniões da equipe.
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E depois quando muda? Quando é extinta a Pró-Doctor? Como é que passa a ser a distribuição Luis? R - Ela é feita diretamente por São Paulo. Naquela época nós vendíamos direto para as farmácias. A empresa já há alguns anos mudou esse procedimento e então hoje nós atendemos as principais distribuidoras do país. O Aché ele vende para essas distribuidoras,
que se encarregam de fazer então a distribuição para todas as farmácias do país. Então Aché vende. Entrega. Contrata. As transportadoras levam essas mercadorias para as distribuidoras, elas estocam e passam a distribuir então para essas farmácias.
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Você falou das farmácias eu queria saber um pouquinho como é que era a relação do Aché, do propagandista com as farmácias? R - Sempre foi uma relação muito complicada.Porque o Aché realmente sempre manteve uma política de comercialização muito rigorosa. Os outros laboratórios sempre facilitaram bastante, dando prazo. Dando condições extremamente favoráveis e o Aché sempre teve uma política muito rígida. O prazo era 20 dias e não dava desconto. A empresa sempre acreditou, conforme nós acreditamos até hoje nossa grande demanda realmente está no consultório médico. Não está na farmácia. A gente precisa realmente dar um atendimento à farmácia. Precisamos estar dentro da farmácia conhecendo tudo o que está acontecendo. Não pode faltar nosso medicamento, mas a nossa demanda o nosso receituário está no consultório médico. Então nossa relação sempre foi muito difícil. Mas assim como eu lhe falei que a gente passava esse amor que nós tínhamos pela empresa junto aos médicos nós também fazíamos com as farmácias. Muitas vezes o dono da farmácia queria protestar. Ele queria reclamar do Aché, que o Aché não dava condição a gente colocava o nosso ombro para ele chorar. Deixávamos ele reclamar e no final a gente acabava fazendo amizade. Acabava criando um vínculo muito grande. Porque quando você está sempre ali,
a convivência constante acaba gerando esse tipo de relacionamento. E eles passavam a entender que o mais importante, eu sempre colocava isso, o mais importante era nós termos a rotatividade do produto. Porque assim ele conseguiria ter o seu negócio crescendo. Como muitas farmácias cresceram realmente em função do Aché. Em função da grandiosidade do Aché. Então a gente acabou tendo um relacionamento assim até certo ponto bastante razoável. Mesmo sem termos algumas armas que os outros concorrentes tinham.
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E nessa época era o propagandista que cobrava nas farmácias? R - É, o propagandista vendia, ele cobrava. Ele que era responsável até por ver os problemas. Os produtos com defeito de fabricação. Os produtos que às vezes quebravam. O cara reclamava. Achava às vezes que a empresa tinha que trocar, a empresa não trocava. Quer dizer, então nós tínhamos essa presença bastante atuante nas farmácias. E aí também surge uma série de histórias também, de cobranças. Às vezes o propagandista ia cobrar o cara
não queria pagar ou então não podia e ele protestava porque a mercadoria chegava com 5 dias de atraso. Ele queria 5 dias de prazo o Aché não dava. Quer dizer, essas coisas toda essa problemática que existia da farmácia junto à empresa a gente ficava no meio dessa guerra tentando resolver.
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Você tem alguma história especial? R - Comigo graças a Deus, não. Eu não tenho assim grandes histórias para contar nesse aspecto. Tivemos desgastes e tal e todos foram superados. Mas tem uma história de um representante, do Willian desesperado. Porque nós ficávamos desesperados porque a cobrança era muito grande. Porque a empresa realmente não admitia que a gente vendesse e não conseguisse receber. Mas eu me lembro do Willian que era um representante que fazia o bairro de Copacabana e ele teve que usar de um artifício em uma farmácia. A farmácia 1096, esse era o nome da farmácia. Eu nunca esqueço dele. Teve que usar desse artifício para poder receber
a duplicata. Porque já estava indo lá e não conseguia receber. O cara sempre enrolando, enrolando e ele desesperado porque a carteira de duplicata dele em aberto já há algum tempo e ele sem saber o que fazer. Aí um belo dia passou no posto e pegou uma lata encheu de gasolina (riso) e levou uma caixa de fósforo. Chegou na farmácia o cara já estava até tratando ele mal, não queria mais recebê-lo. Ele pegou a lata com a gasolina e falou: “Meu amigo eu vim aqui para receber a duplicata hoje. Se você não me pagar hoje eu vou tacar fogo na farmácia”. Aí o cara viu que ele estava falando: “Não, que é isso rapaz. Não sei o quê. já te falei que eu não posso.” “Não, eu vou receber. Você vai ter que me pagar hoje. Eu quero ver. Faz o cheque agora ou me dá o dinheiro senão eu vou tacar fogo na farmácia.” O cara começou a contestar ele pegou a lata e jogou na farmácia, no chão da farmácia. Pegou a caixa de fósforo e ficou com a caixa de fósforo não mão. (riso) Para poder jogar e dizendo que ia tacar fogo na farmácia. O cara ficou desesperado. E ele falando sério e tal. Ele foi lá, acabou fazendo o cheque. Pagou a duplicata. (riso) Essa foi uma história que ficou conhecidíssima lá na zona sul em função disso.
Porque a gente tinha que usar até de certos artifícios de pressão mesmo para poder receber. Era muito complicado.
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E hoje como é que é essa relação com as farmácias? R - Nós estamos retomando essa relação, porque nós estamos voltando a visitar todas as farmácias. As principais, porque todas realmente não dá, para a gente poder compatibilizar com o nosso trabalho de propaganda. Estamos com um objetivo, mais focados no que diz respeito à visitação o que está nos permitindo realmente ampliar as farmácias que nós vínhamos visitando. Nós visitávamos aquelas que fazíamos os pontos de encontro e tal, e estamos ampliando esse leque. Nós estamos praticamente retomando. A empresa vem tomando algumas atitudes no que diz respeito a comercialização. Criou-se um novo cargo: gerente de demanda. Que está atuando juntos as distribuidoras, junto às grandes redes de farmácia. Então nós estamos procurando estar junto às farmácias não para comercializar, não para falar realmente de negócios. Mas para acompanhar como é que está o desempenho de nossos produtos na farmácia. Nós procuramos saber se realmente está havendo falta
porque isso é uma coisa que não pode acontecer no nosso trabalho. Fazer a propaganda obter o receituário e o produto não estar na farmácia. Então estamos colhendo essas informações dentro da farmácia e subsidiando nosso gerente de atendimento de demanda para que ele possa então conversar com os atacadistas. A nossa proposta é falta zero. Porque realmente isso não pode acontecer. Isso prejudica muito o nosso receituário. Então a nossa relação está voltando a existir. Logicamente nós estamos recebendo muitas críticas, duras críticas. Porque o dono de farmácia ele reclama muito. Ele sempre viu o Aché com uma visão um pouco distorcida do que o Aché teria que ser visto. Então acaba acontecendo muitas críticas, muitas reivindicações. Mas é o que eu digo, uma equipe madura, nossa equipe já é bem madura, já está especialista em contornar essas reivindicações. Então nossa relação hoje está sendo positiva. Porque nós estamos retomando. Então essa retomada sempre é uma coisa nova para eles. Para algumas farmácias que nós não visitamos com tanta freqüência. Mas acredito que daqui a pouco a gente já estaremos naqueles tempos áureos que nós tínhamos. Só que não vamos ter a responsabilidade de estar vendendo, estar cobrando, nem tampouco ter que tacar fogo em farmácia. (risos)
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Além do dia-a-dia de trabalho a gente acaba perguntando um pouquinho também sobre as outras atividades que a pessoa tem? os hobbies, o que elas gostam de fazer além desse trabalho no Aché? Eu queria que você contasse um pouquinho o que é que você gosta de fazer nas horas livres? R - Eu gosto de tudo. Eu gosto de ler, eu gosto de por exemplo, agora eu estou jogando tênis. Quer dizer, parei nesses últimos meses não estou tendo tempo realmente de fazer, praticar esse esporte, mas eu gostava de futebol. Mas em função de eu ter, eu venho cultuando o meu físico já há muito tempo (riso) eu passei para o tênis. E também pela, idade, o tempo vai passando. A gente já não é mais nenhum garoto eu não posso jogar, a faixa etária da equipe, a média gira em torno de 28 anos, 29 anos eu já estou com 45. Então foi minha decisão. Comecei mais a me interessar pelo tênis. Mas eu gosto de tênis. O futebol também com os veteranos ainda jogo um pouquinho. Eu gosto de jogar sinuca. Sempre gostei de jogar muita sinuca. Cinema. Sair muito. Bom restaurante eu não preciso nem falar. Sair para tomar um chopinho no restaurante com a família, com a esposa.
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Você falou dos botequins? Você tem também uma relação especial com a música
não é?
R - Olha, eu sempre gostei de samba, porque eu nasci e fui criado em Irajá, ao lado de um bloco chamado Boêmios de Irajá. E freqüentava. Era apaixonado por aquele ritmo. Pelas evoluções e tal. Aí eu fui morar em Olaria do lado do Cacique de Ramos. Eu vi inclusive o grupo Fundo de Quintal crescer. Participei inclusive tinha uns pagodes toda segunda-feira aonde ia a Bete Carvalho e começou a freqüentar, o Zeca Pagodinho. Quer dizer, esses principais artistas. Jorge Aragão inclusive era nosso vizinho lá em Ramos. Quer dizer todos esses artistas hoje que lidam com pagode, que lidam com samba. Martinho da Vila, eu vi crescer ali. Quer dizer, eu cresci, eles me viram crescendo. Eu participei ativamente. Então acabei gostando muito. Me envolvi. Em 1982 eu fui compositor da Imperatriz durante um ano só. Porque eu era muito amigo de um compositor da Imperatriz que foi tricampeão lá,
o Caxambu. Eu corrigia as letras. Porque o Caxambu era semi-analfabeto coitado. Ele tinha uma inspiração extraordinária. Mas ele ficava preocupado porque ele cometia muitos erros.
E ele me pedia para corrigir para ele. Então acabou surgindo uma amizade. A gente conversava até sobre os sambas. Ele acabou me levando para a Imperatriz. Mas quando eu entrei na Imperatriz, o samba enredo já tinha sido definido.Já não tinha mais tempo hábil para se colocar um samba enredo. Aí eu fiquei participando da Ala de Compositores, das reuniões. Participei do Festival de Samba de Terreiro, eu tinha alguns sambas também que eu escrevi. Coisas que eu gostava de fazer. Mas aí o Luizinho Drumont Neto, presidente, resolveu, que eram 66 compositores, ele resolveu tirar todos os compositores que não tinham colocado samba aquele ano para disputar. E foi uma experiência para mim positiva. E eu tinha um blocoque foi fundado por nós. Eu era cantor, compositor e relações públicas do bloco Turma do Trigão. Que era o prédio que eu morava. Construído pelo senhor Trigo. Era um grande construtor da região. E nós criamos ali a Turma, rapazes daquele prédio e resolvemos então fundar a Turma do Trigão.
Eram as meninas e o pessoal todo daquela região ali. Fazíamos ensaio todas as sextas-feiras, e aí fundamos esse bloco.
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Aonde é que era o ensaio? R - Era lá em Olaria. Lá na Rua Filomena Nunes. Nós ensaiávamos na rua. Em um recuo que tinha na rua. A gente comprou as peças e fizemos um bloco e chegamos a sair com 600 pessoas. Todo carnaval a gente ia para o clube, Olaria Atlético Clube. A gente brincava o
carnaval lá e desfilávamos nas ruas do bairro durante um bom tempo.
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Que época que era Luis? R - Isso foi na década de 70. Isso foi em 78, 77 até também 82. Foi quando eu fui para a Imperatriz. Quer dizer, aí nós paramos com o bloco em 82. Foi quando eu tive essa experiência na Imperatriz.
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E compunha o quê? Era marchinha ou era samba? R - Era samba. A gente chamava de samba de terreiro. Samba de terreiro é aquele samba de empolgação. Samba de terreiro. É um samba com refrão muito forte que o pessoal, todo
mundo canta. O pessoal vem dançando.
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Lembra de um trechinho? R - Ah, eu tenho um samba que eu gosto muito, né, que inclusive coincidentemente esse samba foi feito antes do samba do Dida e do Jorge Aragão que imortalizou a Bete Carvalho que foi aquele: “Chora, não vou ligar. Chegou a hora...” (canta) Esse samba ficou, realmente a Bete Carvalho teve um outro impulso na sua carreira a partir desse samba que era de três compositores do Cacique de Ramos. Mas antes disso eu já tinha um samba que
a temática era mais ou menos. Dizia assim: “Chora meu bem, mas chora que eu já tenho um novo amor, eu vou ser feliz agora. Chora meu bem, mas chora, que eu já tenho um novo amor, eu vou ser feliz agora. Você não soube aproveitar, quantas chances eu lhe dei para se regenerar, lá, lá, lá, iá. Agora vem pedir o meu perdão, eu lamento mas não tenho outra chance pra lhe dar. Mas chora meu bem. Chora...” (canta) Então esse é aquele samba que a gente chamava de samba de empolgação, né? Que todo mundo cantava. Tinha esse refrão muito forte. Em 1982 na Imperatriz eu tinha grandes chances até de ganhar esse festival porque a quadra reunia no domingo cerca de 1.000 pessoas e tal. E quando eu apresentei o samba eu levei os prospectozinhos tudo feito realmente de forma bastante precária, porque tinha um custo isso. Quando eu subi para cantar o samba pela primeira vez o pessoal com o prospecto, todo mundo cantando, foi realmente muito bacana.
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E então? R - Mas aí o Luizinho acabou com o festival também, acabou com alegria. Mas realmente o meu negócio acho que não era samba, não. Era propaganda. Porque realmente eu gosto muito de propaganda. Na época, nas reuniões a gente sempre brincava muito,fazia uns sambinhas para descontrair na reunião. Falava sobre os prêmios. Às vezes acontecia um fato pitoresco, a gente perdia um prêmio porque o pedido ficou perdido não sei aonde. Acontecia esses fatos. Às vezes mandava um pedido ia dentro de um envelope fechado e eles só abriam o envelope depois do faturamento. Nós perdemos o prêmio. Uma vez eu fiz até uns sambas brincando... (risos)
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Para finalizar eu queria te perguntar o que você achou de ter contado um pouquinho da sua história? R - É, isso nunca aconteceu. A gente sempre conversa, sempre conta. Porque falar de si mesmo é uma coisa muito difícil. A gente sempre tem sempre um receio de que seja mal interpretado. Que as pessoas pensem que quando você conta a sua história, que entendam isso como uma certa arrogância. Mas nós estamos aprendendo continuamente, nós também tivemos a nossa experiência. Tivemos as coisas que aconteceram. Evidentemente que nesse tempo aqui não daria para tudo o que nós passamos, toda a experiência que nós vivenciamos. Mas eu acho fantástico poder estar falando. E estar falando do Ache. Eu acho que falar do Aché é uma satisfação muito grande. Porque
como eu te falei foi uma relação muito especial com a companhia. Porque eu comecei a trabalhar nessa empresa quando não se ganhava dinheiro. Então nós não trabalhamos por dinheiro. Nós trabalhamos realmente por amor à causa. Por vontade mesmo. Por vontade e por credibilidade. À época quando eu entrei no Aché, o nosso ex-presidente ele freqüentava as reuniões semanalmente. As reuniões eram sábados e ele estava quase toda semana no Rio de Janeiro. Ele gostava muito de ir ao Rio de Janeiro. Era Rio de Janeiro e São Paulo. Ele se dividia muito nesse eixo ele viajava o Brasil todo. E ele sempre falava isso: “Nós vamos fazer uma empresa que todos nós vamos nos orgulhar. Quem ficar, vai acreditar, vai ver que realmente isso vai acontecer.” Então a gente acreditava. Eu paguei para ver. A gente pagava para ver. vamos ver, vamos crescer. Na época quando eu entrei no Aché também era solteiro. Isso também facilitava. Embora muito assediado, como todos por outros laboratórios, porque eu trabalhava no Aché, eu também sempre recebi muitos convites, mas eu resolvi acreditar na empresa. Então essa relação que eu tenho com a empresa é uma coisa muito especial por isso. Não é uma relação pura e simplesmente de trabalho, trabalhou, recebeu. É uma relação que não é pelo dinheiro. É uma relação muito mais importante que isso. Eu posso falar isso com toda tranqüilidade. Que as pessoas que me conhecem nesses 20 anos que estão comigo há 20 anos também sabem disso. Porque realmente a gente não pensava nisso não, entendeu?
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Está certo. R - Mas sempre trabalhando para ter grandes salários, para ter grandes benefícios. Coisas que hoje tem. A equipe hoje tem
o fruto, eu tenho certeza absoluta disso, é fruto dessa nossa luta, até das nossas reivindicações. A gente sempre colocava que isso podia ser melhor. Se a empresa tivesse seria bom. se a equipe tivesse um outro benefício seria importante também para o desenvolvimento da companhia. Então a gente fica muito feliz hoje de ver que essa empresa cresceu, que essa empresa está dando oportunidade para muitas pessoas também que estão vindo de fora. Pessoas mais graduadas. E que realmente abriu essa oportunidade, esse leque para todo mundo. Eu fico muito satisfeito com isso. E fico muito orgulhoso de poder estar falando. Agradeço a oportunidade que vocês estão dando de eu poder falar alguma coisa aqui para vocês. (riso)
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Muito obrigado, foi ótimo. R - Obrigado a vocês. E parabéns pelo trabalho, eu tenho certeza que vocês
vão fazer realmente um grande livro, uma grande história. Vamos contar essa grande história. Pena que a gente já não tem muita coisa. Porque as coisas vão se perdendo. Eu perdi muito material nesses 20 anos. Porque com mudanças de residência eu infelizmente acabei perdendo. Eu lamento profundamente porque eu guardava. Mas tem umas coisas assim mais
pessoais que eu guardo até hoje. (riso) Mas eu fico muito satisfeito. Muito obrigado pela oportunidade e parabéns a vocês pelo trabalho, tá bom?
P -
Imagina, obrigado você. P -
Obrigado também.
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Você tem muitas fotos assim, alguma coisa? R - Fotos, eu perdi todas as fotos.E eu fico magoado. Tenho minhas placas lá de 20 anos, meus certificados. Essas coisas todas que eu guardo com o maior carinho. Eu tinha, eu fui no Aché nessa época de treinador. O nosso gerente regional tudo o que aparecia diferente quem tinha que fazer era o Luis Antonio, que era o treinador. “Ah, você faz, porque aí você aproveita e tal.” Eu já fui também jornalista do Aché. (riso)
P -
Ah, é?
R - Quando surgiu o Informaché, quem escrevia as matérias do Rio de Janeiro era eu. Inclusive fiz uma história sobre o Rio de Janeiro que na época . A gente conhece, o carioca tem muito disso, ele conhece os pontos turísticos, mas essa parte cultural, informativa
ele não tem ou então não marca datas. Nos outros estados, O cara sabe quanto é que mede aquele monumento. Quem colocou aquela estatua ali e tal. E a gente não tem isso. O Pão de Açúcar? Quem colocou o Cristo Redentor? Quando?
Eu fui pesquisar, conheci um motorista do táxi que ficava no Hotel Aeroporto que me deram orientações. Esse cara conhece tudo do Rio de Janeiro.
Ele é um motorista de praça mas ele sabe tudo sobre o Rio de Janeiro. Aí eu bom, fui lá procurar o cara. Estava ele lá, disse: “Seu Manoel, eu queria bater um papo com o senhor.” Ele: “Ah, tudo bem.” Sentamos em um banquinho lá no centro da cidade e ele foi me falando, eu fui anotando tudo o que ele me falava. Ele dizendo quanto media, quem colocou a estátua do Cristo Redentor foi um engenheiro francês Paul Landanski em 1931, ele trouxe uma estátua mas ela quebrou. Ele teve que colocar outra. Fez com material aqui no Brasil, que era aquela pedra-sabão. Quer dizer, ele foi me contando aquilo. O quanto media o Cristo de ponta, de pé à cabeça, os braços. Quer dizer, tudo isso ele foi falando eu fui anotando. Porque o nome do Pão de Açúcar, é origem indígena: Pan de Azucan. Até hoje ainda lembro de alguma coisa, né? E eu fui anotando aquilo tudo mas sempre fica aquele receio: “Será que o que ele está falando realmente procede?” (riso) Fui então na Biblioteca Nacional fazer uma pesquisa mais aprofundada para não dar uma informação errada. E...
P -
E batia? R - ...para minha surpresa batia. Era todas as datas, todas as informações que ele me deu realmente batiam. Eu fiquei assim realmente muito impressionado com esse motorista de praça porque realmente ele tinha um conhecimento muito grande. E ele pegava o pessoal do hotel e fazia uns passeios turísticos. E eu fiquei impressionado com a habilidade dele. Com o
seu conhecimento.
Foi um negócio realmente fantástico, viu?
P -
E aí você fez uma matéria sobre o Rio de Janeiro? R - Aí eu fiz uma matéria: O Rio de Janeiro Continua Lindo. Eu até lembro. Mas eu perdi esse material, eu fico chateado porque houve essa mudança. Ainda me lembro que eu comecei,
O Rio de Janeiro reúne nas suas característica uma perfeita harmonia entre o belo e o funcional. Aí comecei a falar dos pontos turísticos,entendeu? Fiz uma entrevista na época com Sergio CabralRecolher