P – Armando, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Meu nome é José Armando Gomes. Eu nasci em Taperoaba. É uma cidadezinha que fica aqui no interior do Estado do Ceará. Para muita gente é um distrito, ainda de Sobral. Que ...Continuar leitura
P – Armando, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Meu nome é José Armando Gomes. Eu nasci em Taperoaba. É uma cidadezinha que fica aqui no interior do Estado do Ceará. Para muita gente é um distrito, ainda de Sobral. Que é uma cidade bastante falada aqui no Estado. Mas é uma cidade bastante carinhosa que ainda não tem seus políticos. A gente pode ir lá tranqüilo. Eu nasci no dia 25/5/1967.
P – E toda a tua família é dessa cidade?Teus pais? Avós? R - É, a gente, a comunidade é toda dali.
P – Hum, hum. R - Então meus pais também são de lá, avós também. Um ele tem uma relação muito forte ainda com Taperoaba. Mas a minha avó não. Minha avó já é do Estado do Amazonas. Pela própria característica de amazonense, eu estou assim. Desculpa eu estou um pouco rouco, um pouco afônico. Desde domingo do Penta. E a reunião inteira, a gente já está aqui no final, então eu estou, desculpe um pouquinho. Mas então minha avó ela tem essa relação com o Amazonas.
P – Avó por parte de? R - Avó por parte de mãe. E meu bisavô ele era sul-coreano. Inclusive agora na Copa a gente pode rever um pouquinho de alguns familiares por lá. Então ele veio para o Brasil e entrou pela Bolívia. Entrou
ali pelo Estado do Amazonas e lá teve uma relação com uma pessoa daquela região. E aí teve minha avó. E minha avó, meu avô era daqui de Taperoaba e nessas idas dele para lá trouxe ela para cá. Ela ainda menina, né? E ele já um tanto quanto com uma idade mais avançada do que ela. E ele veio praticamente como pai dela e depois teve uma relação com ela e ficaram maridos e tiveram minha mãe e a família da minha mãe. E meu pai, da região, conheceu minha mãe lá em Taperoaba e aí veio a renca como se diz aqui no Ceará.
P – Naquela região como era a vida dos teus pais? Na tua infância? R - É, a região era muito difícil. O interior do Estado do Ceará é muito sofrido. É claro que não é aquilo que se propaga no Sul. Hoje eu estava aqui sentado e uma das meninas da Austin Eventos viu um calango. Ela disse: “Aqui vocês comem calango? Come isso aí, né? Eu sei que vocês comem calango.” Aqui ninguém come calango. Então quer dizer, aqui também ninguém come rato. Se propaga no Sul que o pessoal passa fome. Existe a dificuldade do nordestino que é aquela falta de água. Aquela falta de chuva. Mas o nordestino ele é muito sagaz, ele é muito vencedor. Ele pega a espingarda vai para o mato. Ele mata um mocó, um preá. Ele mata um rabudo, ele mata uma girita. Tudo isso são caças do mato que aqui vai sobrevivendo. Então ele se vira disso. Além de tudo ele faz alguma coisa, né? Então algum tempo atrás tinha o algodão. Que era o ouro branco do Estado do Ceará. Era o ouro...
R - ....e depois do algodão veio o bicudo. A peste do bicudo. E acabou com o algodão. E aí veio essas outras alternativas, né? de vida.
P – No caso dos teus avós, dos teus pais eles se dedicavam a que trabalho? R - A agricultura. A agricultura como um todo. Viviam da agricultura. A maioria do
povo do interior vive da agricultura. Só que naquele tempo você tinha o algodão. Então o meu bisavô ele era um homem que tinha muitas terras no interior. Então era uma agricultura muito forte. e tinha uma plantação de algodão muito grande. Se plantava por exemplo ao oiticica. Da oiticica se extrai o óleo da oiticica que era vendido para algumas indústrias do Estado. Porque se produzia óleo então se tinha esse recurso. Hoje se você for, diz: “Pôxa, o que é que mudou daquele tempo para cá? Já que você não tem mais algodão, já que a seca continua assolando o teu Estado. O que é que mudou?” O povo se vira de todo jeito. Então hoje as mulheres elas fazem o bordado na região. Trabalham com o bordado. Com a máquina de costura. Então passou-se a trabalhar com artesanato, né? Então esse artesanato ele é exportado. Hoje se você for nos Estados Unidos você encontra peças feitas em Taperoaba, né? Você encontra pelo mundo afora coisas que alguns colegas meus que exportam isso, vivem disso. E vivem muito bem. Então Taperoaba hoje é uma cidade que tem médico. Eu tenho colegas médicos aqui em Fortaleza. Cardiologista famoso. Doutor Silvio Loyola que é médico lá de Taperoaba. Nasceu lá com a gente. Jogava bola com a gente. Hoje continua jogando a nossa bolinha com a gente. Nós temos também outro médico que é o doutor Fábio. Amigo nosso. Foi criado, inclusive mais novo do que eu. Temos advogado. Enfim, temos várias profissões. E o gostoso de Taperoaba é que quando você sai daqui de Fortaleza para lá, para essa região lá você não é ninguém. Você não é médico, lá você não é gerente de laboratório. Lá você é um cidadão taperoabense.
P – Quando é que você deixa Taperoaba? R - Eu deixei Taperoaba com 4 anos de idade. Minha passagem em Taperoaba foi curta. Fiquei lá até 4 anos de idade. Meu pai ele comprou um caminhão. Um Ford, né? Aquele Ford aí através desse Ford ele passou a fazer um trabalho com as indústrias de Sobral. E daí ele ganhou estrada. Ele levou a gente para Sobral, a família. E ganhou estrada. Ganhou o mundo afora. E depois ele se capitalizou um pouco e resolveu ser comerciante. Então ele comprava banana na Serra de Oruburetama, que é uma serra em uma cidade próxima de Sobral. E também trazia um pouco de Pernambuco para Sobral. E aí ele comprou mais um caminhão, mais outro. Aí ele levava banana para Sobral, levava banana para Teresina e para São Luiz. Então ele abastecia as Ceasas de Sobral, de Teresina e de São Luiz com esses caminhões. Ele fez uma equipezinha de motorista. E ele coordenava um pouco esse trabalho. E ele viajava em um caminhão, viajava em outro. ficava gerenciando esse trabalho. E a gente foi criado dentro desse costume, né? Então uma das coisas assim que mais me marca nessa vida todinha é que por exemplo, a casa do meu pai em Sobral era a casa do povo de Taperoaba. Então como Taperoaba fica muito próximo a Sobral, fica 70 quilômetros. E Sobral é o centro de tudo. Sobral tem tudo. Sobral tem hospital bom, tem tudo. Tem colégio, tem faculdade. Então todo mundo que vinha de Sobral ou morava lá em casa ou se hospedava, ou tomava banho ou fazia alguma coisa. Então meu pai ele era o paizão de Taperoaba. De todo o povo de Taperoaba. Então lá em casa eu fui criado em um quarto que eu não tinha um quarto meu, né? Eu nunca fui assim uma pessoa... Sempre aprendi a dividir o que é meu. Então meu quarto lá tinha uma cama para mim e para quem vinha de Taperoaba. Uma rede e aí vai. Tinha vários armador. Armadores. E aí eles iam ficando. Então quer dizer, era considerado o hotel do seu Vicente Armando. Nunca foi cobrado nada de ninguém. Então hoje foi muito gostoso. A gente vai lá e todo mundo agradece a gente por isso.
P – Tá certo. Você viveu a tua infância e adolescência lá em Sobral? R - Foi, em Sobral. Até os 16 anos eu fiquei em Sobral. E aí depois eu, sempre fui muito assim, sempre visualizei muito a questão do estudo, né? De querer ser alguém por conta do estudo. Já o outro eu tinha um irmão que foi jogador de futebol profissional e não quis muita
coisa com estudo. O outro resolveu ficar ajudando o meu pai, o mais velho. Então nós era uma família de seis e infelizmente perdi alguns irmãos aí ao longo da vida. E ficamos três. Eu e mais dois. E eu sou o mais novo. E eu...
P – Você foi estudar. R - ...pôxa, vou ter que me apegar aos estudos. Para mim ser alguém eu vou ter que me apegar. Vim embora para Fortaleza. E uma das coisas assim que também chateou muito meu pai, porque quando eu vim para cá ele achava que o pessoal de Taperoaba aqui em Fortaleza e outras pessoas da família iam também me acolher da mesma forma que ele acolhia as pessoas lá. E foi totalmente diferente, né? Aqui eu passei 2 meses na casa de um. 3 meses na casa de outro e não dava certo. aquela coisa. Até que eu resolvi. Achei um quitinetezinho ali em um bairro aqui da periferia. E morei lá uns 8 anos sozinho lá. Um fogãozinho de duas boca. Uma geladeirazinha pequena. E fui me virando e trabalhando. E virando a noite e...
P – Estudando o quê? R - ...estudando. E eu fiz o terceiro ano aqui já em Fortaleza em um colégio bom. Já caro. Me sacrifiquei para pagar. E entrei depois na faculdade. E o sonho era fazer farmácia. Eu sempre fui muito ligado a essa área de medicamentos e farmácia. Eu tinha um guru que hoje ele é, tem algumas farmácias no interior. É um bioquímico. Então ele era o meu referencial como pessoa, como profissional. Então eu queria ser igual a ele.
P – Isso lá da época de Sobral? R - Lá da época de Sobral. Da época de Taperoaba. Porque ele é um taperoabense. O doutor Egberto. Ele é um taperoabense, lá. Ele...
P – Ele é dono de farmácia?
R - ...ele tem farmácia. Era bioquímico. Aquela coisa de farmácia, de remédio. E eu, aquilo era um desejo desde pequeno. Então quando eu vim para cá eu digo: “Eu vou fazer farmácia.”
P – Você lembra o que te fascinava nesse mundo? R - Era a forma dele manipular. Ele já gostava de manipular. Eu achava interessante como que ele manipulava os medicamentos. Tanto que hoje ele tem uma farmácia de manipulação. Ele manipulava drogas e eu achava muito legal. Muito legal. Então aquilo era assim, e por ele ser um cara assim incrível. Ele é também um ser humano, não era porque ele era bioquímico aquela coisa todinha, ele sabe, ele sempre teve um carinho muito grande por mim. Então eu mesmo pequeno ali, pivete mesmo, ele chegava, toda vida que eu chegava perto dele ele tinha um carinho. E aquilo, sabe, me dava assim uma segurança muito grande. Eu disse: “Eu vou ser como esse cara.”
P – E você chegou a fazer esse curso? R - Aí eu fiz Farmácia. Não passei no primeiro vestibular. Aí passei em uma outra faculdade para Fonoaudiologia. Eu fiquei fazendo fono e tentando Farmácia. Como a minha base estudantil, a Farmácia aqui só tem, só tinha na Universidade Federal do Ceará e era uma concorrência muito grande então eu tive que um pouco mais de sacrifício para poder entrar para Farmácia. E aí 3 anos depois eu já perto de terminar fono eu entrei em Farmácia. Aí foi uma vitória fantástica porque eu, era aquilo que eu queria. Entrei em Farmácia e aí fiz os quatro semestres de Farmácia. Mas eu tinha que me formar em fono porque eu já tinha a turma, aquela coisa todinha do envolvimento. E aí no ano seguinte o meu pai faleceu e ficou difícil. Porque meu pai me ajudava muito. E aí ficou aquela coisa. Ele tinha os caminhões em Sobral. E ficou aquela coisa: “Volto para Sobral para tocar o negócio dele com meu irmão? Ou fico aqui e termino essa faculdade? Como é que eu vou me virar?” E nesse ínterim aí eu, um colega meu que tinha uma rede de farmácias aqui em Fortaleza, o Paulo César que inclusive também é aqui de Taperoaba, ele me convidou ara trabalhar com ele nessas farmácias. Dar um apoio, uma ajuda logística lá.
e eu fui, né? a parte que eu fui lá dar um apoio. Ele tinha seis farmácias. Eu fui organizando e vendo material e fazendo isso e aquilo outro. E nesse pequeno espaço apareceu um propagandista do Aché, lá. Visitando, vendendo. Inclusive hoje eu sempre encontro ele. Ele está em outro laboratório. Sempre encontro com ele por aí. Agradeço a ele por ele ter dito: “Olha, vai lá no Aché. Está tendo vaga. Você é um cara que leva jeito e tudo.” E eu falei isso para o dono da farmácia. Para o Paulo. O Paulo disse: “Rapaz, Armando, vá rapaz. Aqui na minha farmácia não tem futuro para você não. Você é uma pessoa boa. Vá lá no Aché, é um laboratório bom. é isso e aquilo outro.” Aí falou muito bem do Aché. E eu fui sem pretensão nenhuma. Fui lá no Aché sem pretensão nenhuma. E lá fui recebido. A minha intenção, eu não sabia o que era propagandista. Achei que lá fosse trabalhar com computador. Que eu trabalhava na Pernambucana antes. Tinha feito um estágio, um trabalho na Pernambucana. Na Lundrig Tecidos, né? Que é a empresa Pernambucana. Trabalhei um ano na Pernambucana. Então a Pernambucana fechou, meu pai faleceu. Tudo assim. Desgraça não vem pouca. Ela vem com um monte de coisa junto. Então eu saí da Pernambucana, sem pai e sem nada e morando aqui na capital sem anda. Eu digo: “Ai meu Deus, acabou o mundo.” Mas aí eu tive a força de entrar nessa farmácia e tentar me virar de alguma coisa. E aí eu fui lá no Aché e tentei. O cara disse que estava tendo uma vaga. Ia abrir uma linha. Uma linha chamada Lacaz, né? Que depois se tornou Novoterápica. E eu todo bem, preenchi a ficha e fui embora, né? Perguntou se eu não tinha carro. Eu disse que eu não tinha carro, não tinha nada. Se eu tinha tempo. Eu disse não tenho tempo, eu faço faculdade, eu estudo, eu faço isso, aquilo outro. “Ah, então não dá.” “Tudo bem.” Voltei. Conversei de novo com o dono da farmácia ele disse: “Rapaz não é assim não. Faça isso, isso, isso.” E eu por sorte eu fui indenizado na Pernambucana por 6 meses. Eu acho que eu fui um caso inédito na Pernambucana. Porque a Pernambucana eu estava lá a empresa ia fechar.
E eu estava lá na Pernambucana e o sindicato, né, o pessoal em greve. Fazendo todo aquele movimento fora da empresa. e alguns depredando alguns departamentos. Com muita raiva porque a empresa estava fechando. Não podia, aquela coisa todinha. O sindicato ele causa aquele, né, inflama algumas pessoas. E eu estava no meu departamento que era o CPD – Centro de Processamento de Dados – e um dos objetivos do sindicato era destruir o Processamento de Dados, né? E eu como responsável, que eu consegui crescer nesse um ano na Pernambucana muito rápido eu como um dos responsáveis pelo sistema não deixei eles entrar. Então isso causou um transtorno muito grande. Deu polícia. Eu briguei mesmo, sabe? “A Pernambucana ela está me pagando ainda. Ela não fechou. Então até i meu último dia eu vou honrar o meu compromisso com ela.” E honrei o compromisso com a Pernambucana. E a Pernambucana eu sou muito grato a ela também porque eles chegaram para mim me convidaram para ir para o Rio. Porque ela continuou no Rio. Eu agradeci. Não era a oportunidade de eu ir. Mas eles, uma forma de me recompensar. Acho que por ter protegido o patrimônio deles, recompensaram com 6 meses de salário. Aí deu para mim comprar o Fusquinha para entrar no Aché.
P – Esse foi o teu primeiro carro? R - Ah, foi o meu primeiro carro.
P – Que cor que era esse Fusquinha? R - Um Fusquinha branco.
P – Que dia foi esse que você entrou no Aché? R - Ah, eu entrei no Aché, aí eu fiz uma entrevista já no final de novembro de 90. E quando foi em 91, no dia 3/1/1991 eu peguei a estrada já com o Fusquinha e saí para viajar o interior aí do Estado do Ceará.
P – Você estreou em que região?
R - Eu estreei aqui na minha própria região. Região de Sobral. A sede era Sobral. A sede era Sobral. Eu digo: “Bom, essa região eu já conheço alguma coisa.” Aí eu peguei Sobral e a Serra da Ibiapaba. Um pouco do sertão central. Uma região muito, mas muito sofrida.
P – Você já conhecia?
R - Não. Não. Eu conhecia Sobral, Taperoaba, aquela coisa ali. Taperoaba não tem médico. Então era Sobral era o grande fruto. Mas Sobral estava lá a casa do meu pai, né? Apesar do meu pai não estar mais lá, e minha mãe também mas tem a casa dele, tem meus irmãos. Aquela coisa toda. Então eu fiquei lá tendo um apoio lá na casa. meus irmãos e tudo. Então serviu como base lá para mim. Então eu fiquei fazendo um trabalho lá naquela região. E foi um trabalho
gostoso. Porque eu entrei em 91. Quando foi final de 91 – a
gente tem aquelas confraternizações do Aché – eu vim para uma confraternização daquelas aqui. E me foi revelado na confraternização que eu teria sido o melhor vendedor, né? Porque naquele tempo você vendia, propagava e cobrava. Você era PVC: propagandista, vendedor e cobrador. E quando terminou o ano de 91 eu terminei como melhor vendedor Brasil da divisão Novoterápica. Então eu fiquei muito feliz, né? porque eu ganhei um troféu em plena, em plena confraternização, do gerente que era o Edmil, regional daqui, né? Fiquei feliz com aquilo. E me motivou a vender mais. Só que no ano seguinte em 92, acabou a venda. O Aché deixou de vender para os distribuidores. Aliás, eu deixei de vender para a farmácia. Ele passou a vender para os distribuidores. E aí foi muito assim interessante porque o próprio Edmil e outras pessoas na empresa começaram a falar: “O Armando, acabou-se o Armando. Porque o Armando só sabe vender. Ele não sabe propagar. Agora o homem ele deixou de ser um vendedor passou a ser um intelectual.” Eu disse: “Oxe, como é que pode? Se eu vendo é porque eu propago bem” E foi uma história interessante. Porque aí eles disseram que eu estava acabado para o Aché. E eu aquilo foi uma grande motivação para mim. No mês seguinte a gente lançou, era para lançar Vita-E 400, foi um lançamento. E ninguém sabia nada sobre radicais livres. Eu perguntei ao Quental que hoje está aí ainda com a gente. O Quental era treinador na época, o Quental disse: “Eu não sei, eu vou estudar ainda.” Eu perguntei a um e a outro, ninguém sabia nada. Eu botei o material debaixo do braço e fui para o carro. Fazer meu setor. E em uma dessas viagens eu entrei no consultório do doutor Geraldo Marques Barbosa, né? É um ginecologista de Crateús. Que é uma cidade do interior. E o doutor Geraldo com a gentileza de sempre eu conversei com ele, ele disse: “Armando, passa no meu consultório lá para as 8 e meia da noite.” Eu voltei para o hotel. O Hotel Fortaleza, do Joinha. Um amigo fantástico que eu fiz ao longo desses anos. E lá eu tomei banho, jantei e me arrumei. Botei a melhor roupa que eu tinha e fui para o consultório do doutor Geraldo Marques Barbosa. E aí fiquei com ele acho que até 10 horas da noite a gente ficou conversando. E ele tinha acabado de sair de um Congresso no Rio sobre Medicina Ortomolecular. Então ele estava sabendo tudo sobre vitamina E, sobre radicais livres. Sobre como é que ela agia, e tudo. E me passou tudo. E me deu uma aula. E eu passei o mês todinho estudando. E entrava no médico: “Doutor, nós vamos lançar um produto a base disso, e disso aqui.” E comecei já a fazer o treinamento. E fazer aquela propaganda daquela coisa. Quando nós chegamos na reunião eu já, eu vim aqui, eu vim para a reunião para ensinar todo mundo, né? Com uma muita modéstia. Mas eu vinha muito seguro. E aí eu fiz uma das melhores reuniões. Que até hoje eu nunca esqueci dessa reunião. Fiz uma propaganda logo primeiro. E na reunião eu falei tudo sobre o produto. E onde foi para apresentar o produto foi eu que apresentei. Enfim, eu comecei a reunião e terminei a reunião falando de Vita-E 400. Falando de (BLAlfa Cotoferol?) suas ações e tudo aquilo que ninguém sabia. Ficava todo mundo olhando. Então quer dizer, a partir dali eu aprendi que você sempre tem que buscar alguma coisa, né?
P – Nesse dia-a-dia assim, de propagandista
antes mesmo, né, de vendedor, cobrador qual que é o desafio maior de ser propagandista no interior do Ceará, né? (riso)
R - (riso)
P – Nesse dia-a-dia? R - O desafio é muito grande, Imaculada. Porque a gente hoje a gente sempre tem que se colocar no lugar do propagandista, né? Principalmente propagandista que trabalha no interior daqui. É muito complicado. Ele tem, as cidades geralmente não são muito próximas. Você viaja 200 quilômetros para entrar em uma cidade. Eu uma das coisas assim que marca muito é que as estradas, as condições das rodovias acho que em todo o país e aqui também, é uma, você imagina como é que é. é muito ruim. Então você tem essa dificuldade de chegar, né? Então a condição da rodovia como na época o veículo era nosso, hoje a empresa te dá o veículo, ela te loca. Ela te dá toda uma condição de trabalho. No nosso tempo, que eu era propagandista, não tinha isso. Então quer dizer, para você ver, a gente começava com um Fusquinha. O Fusquinha por si só – ele apesar de ser um carro super resistente – mas ele tem lá os seus problemas. Então em uma estrada esburacada. Quer dizer eu saía de Boa Viagem para ir para Tauá, eu dizia: “Pôxa, eu vou sair daqui. Mas será que eu vou chegar lá?” Então quer dizer, você chegava em Tauá, e eu ia para cima do médico mesmo . e a gente tinha aquela relação de ir almoçar na casa do médico. Eu quantas vezes eu tomei café na casa do médico. De jantar com ele. A gente ter uma relação porque era difícil o cara ir lá. então eu ia com muito prazer. Mas só que a gente ia e tinha que desfrutar daquele prazer, né, que a gente tinha lá. então o propagandista do interior ele tem essa vantagem de estar essa relação com o médico porque a concorrência não é muito forte lá. sabe você vai um pouco e se você souber fazer você consegue tudo do médico. Ele é um grande amigo teu. Você cria relacionamento com esse médico. Então é muito forte essa relação. O que muda do interior é o relacionamento. O que marca o interior é o relacionamento que você tem com o médico. Você tem um relacionamento tão bom, tão agradável que você, você consegue se equivaler a esse profissional. Porque muitas vezes os médicos na capital se acham médicos, têm aquela pompa, aquela coisa todinha. Querem menosprezar às vezes os profissionais. Então lá a gente se equivale. É uma relação muito aberta. Da gente realmente
conhecer o filho do médico, conhecer a esposa, conhecer a sogra, conhecer a mãe. Almoçar junto. E isso é muito gostoso.
P – Na tua atuação o que é que você lembra que era importante assim para essa conquista do médico?
R - Ah, era a questão da gente saber sempre lidar com aquilo que a gente tinha. Então a gente tem um material promocional sabia que aquilo ali que tinha que ser passado para o médico. E essa relação profissional. É você ser profissional. Então a partir do momento que você é um profissional, você entra para fazer o teu trabalho ele te reconhece como profissional. Então independente de você ser amigo, de você ter a relação, na hora no momento da verdade que você tem que estar com ele, você tem que fazer o seu trabalho. Então isso sempre esteve na minha cabeça. Eu posso ter a maior relação do mundo com qualquer médico, com qualquer um mas se é para mim fazer meu trabalho, eu estou sendo remunerado para isso aquele momento que eu estou com ele eu vou fazer o meu trabalho. Vou procurar fazer da melhor maneira possível. E alguns colegas às vezes se perdiam nisso. Porque o relacionamento era tão bom, e às vezes confundia. A liberdade e as outras coisas. Às vezes passava um pouco do ponto. Eu sempre soube realmente qual era o meu lugar, o meu papel. Então essa relação, esse contato eu acho que você pode ter uma relação super aberta. Eu tenho uma relação super aberta com a minha equipe, com quem eu faço. Eu trabalho muito aberto. Mas na hora que tem que ser profissional eu sou profissional.
P – Depois de você ser firmar como propagandista, né, aí como é que foi avançando? R - Ah, aí teve essa reunião de Vita-E que eu tinha te falado. Aí terminou a reunião de Vita-E o meu gerente, o meu supervisor vieram me elogiar e tudo. Eu disse: “Agora eu sou propagandista, né? Vocês disseram que eu era só vendedor, eu sou um propagandista. Eu tenho que conhecer tudo do meu produto. Eu tenho que pesquisar. Eu tenho que ir a fundo para mim entender o que é que acontece.” E eu tinha uma vontade de voltar, de trabalhar em Fortaleza. Porque o meu carro não agüentava mais o interior. O motor batendo e por mais cota que eu cobrisse, aquela coisa toda era difícil. Então eu queria voltar para Fortaleza para ter um desgaste menos do carro. Ter a oportunidade quem sabe de voltar a terminar a minha faculdade de fono que falta um ano para terminar. E eu fiquei pedindo a oportunidade de voltar. E ele me disse que na primeira oportunidade me traria para cá. E logo no mês seguinte teve um vaga de supervisor no Piauí-Maranhão e eu fui convidado a participar do processo seletivo dessa vaga. Eu vim muito determinado. Dizendo que a vaga era minha. Que tudo mais. Com 1 ano e 4 meses de companhia. E a empresa apostou em mim, né? E eu fui para o Maranhão- Piauí. Tinha um grande desafio o Maranhão-Piauí e saí. Peguei o carro...
P – Que desafio era esse? R - Ah, o desafio era grande lá. Porque, primeiro porque naquela época o pessoal do Maranhão e Piauí, principalmente o Maranhão, né, o Piauí não. Mas o Maranhão, o maranhense ele tinha um estigma de preguiçoso, de desonesto e alguns outros adjetivos bastante pejorativos. Então uma das minhas funções era tentar equilibrar isso. Tirar esse pessoal, né? Equilibrar a equipe. Dar nova vida à equipe. Então era um desafio muito grande. Porque alguns eram colegas meus de propaganda, entraram comigo. Mas só que a gente sabia o que eles faziam, né? Infelizmente um colega que estava lá estava sendo conivente com algumas coisas. E eu fui para lá com esse desafio. Foi um desafio e nós conseguimos. Passamos 2 anos naquela região. Sendo supervisor do Maranhão e do Piauí. Uma semana em Teresina, uma semana em São Luiz. Uma semana no interior do Piauí, uma semana no interior do Maranhão. E essa minha estadia lá no Maranhão-Piauí me deu uma bagagem muito grande de campo. Me deu uma couraça. Me encapsulou muito forte para que eu pudesse hoje estar nessa condição que eu estou hoje. Então foi uma vivência muito boa. Porque nós conseguimos equilibrar a equipe. Conseguimos colocar uma equipe muito boa. Os resultados foram aparecendo, aparecendo, aparecendo. Ao ponto de 2 anos depois a empresa me trazer de volta para o Ceará porque lá já tinha uma pessoa para ser promovida. Quer dizer, você sair daqui para ir para lá porque lá não tinha ninguém para ser promovido. Não tinha ninguém da própria região. Porque é muito melhor você aproveitar uma pessoa da própria região e promover essa pessoa.
P – E o que é que você acha que foi determinante para o sucesso da equipe de vendas, por exemplo, nessas estadas? R - Ah, acho que foi a confiança, né? A vontade de fazer o você ser, dar o exemplo. Eu acho que isso foi tudo. Porque a gente foi, eu fui para lá com o propósito de trabalhar mesmo. De pegar na pasta, ir para o campo, ir para a rua e mostrar como é que estava, como é que era para ser feito. De mostrar o trabalho. De viajar, sabe? De estar no ponto 7 horas da manhã. Terminar a noite com os propagandista. Então tudo isso eles viam na gente que a gente estava indo para trabalhar. Para ajudar. E aos poucos essa ajuda, esse trabalho que a gente foi mostrando deu uma cadência à equipe, não é? Então tudo é preciso de cadência. Você cria uma freqüência e uma seqüência para dar cadência ao trabalho. Então foi dando cadência, aquilo foi se acomodando e as coisas foram fluindo. Foram fluindo e foram se abrindo e começaram a acontecer e foi muito gostoso. Muito...
P – E essa tua volta para o Ceará? R - Ah, a volta para o Ceará foi assim: eu estava lá e trabalhando, estava gostando da equipe. Tinha um propósito lá para a equipe ainda mas aí apareceu uma vaga de supervisor de novo no Ceará. Na mesma função de supervisor. E aconteceu o inverso. Eles não encontravam ninguém para promover aqui no Ceará. E eu disse: “Eu tenho um propagandista aqui para promover. Se você quiser que ele vá para aí, ele vai.” Disse: “Não, é melhor que você volte para cá e ele fique aí.” E aí aconteceu esse processo de retorno. Porque eu fui para o Maranhão era o propósito da empresa era nunca mais voltar. Mas aí eu voltei. Aí eu tive a felicidade de ser supervisor no Ceará, no Piauí e no Maranhão. Aí os três Estados da filial eu passei a conhecer todos muito bem. Porque hoje não, mas até o ano passado, o ano retrasado eu acho, o ano passado supervisor no Aché quando representante adoecia ele cobria o setor. Então você imagina quantos setores eu cobri, né? Qualquer problema de propagandista tinha que cobrir o setor. Então eu cobri muitos setores. Eu acho que daqui para o Maranhão eu cobri todos os setores da pasta. Propagando, visitando. Alguns calos ainda aqui. Então eu visitei todos os setores. Então eu conheço muito bem daqui para o Maranhão. E hoje a regional que a gente trabalha: Ceará, Piauí, Maranhão, esses novos Estados que a gente faz corresponde aí um percentual muito bom. então eu adquiri um conhecimento muito bom nas três regiões. Aí facilitou o processo da gente ser promovido à uma outra função, né?
P – O passo seguinte qual foi? R - O passo seguinte foi a gerência.
P – Isso já era que ano? (pausa) P – Retomando: Fortaleza 014. Então o passo seguinte foi a gerência? R - Ah, foi a gerência. Então eu já vinha fazendo um trabalho de supervisão. Me destacando com algumas ações diferenciadas que a gente vinha fazendo. Ações que a gente fez.
P – Por exemplo? R - Ah, um exemplo muito forte, eu sempre procurei, eu sempre fui muito ligado a área de vendas. Então eu acho que meu pai me influenciou muito. Ele tinha todo um trabalho com vendas. Ele vendia banana. E você vender banana em feira para feirante é um negócio muito legal. Porque você tem o cara da barraquinha aqui, o outro ali. Ele saía de barraca em barraca às vezes recolhendo o dinheiro. Então eu sempre fui muito fã do meu pai.
P – Você acompanhava ele? R - Acompanhava ele. Então sempre fui muito fã. Acho que ele é o meu ídolo assim maior. Então e ele só sabia vender. Então eu aprendi a, pouco desse sangue da venda. Então eu assim, na minha supervisão era muito ligado aos distribuidores. E isso me diferenciou um pouco dos outros colegas porque eles não iam. Quem ia era os gerentes e eu era o supervisor mas eu sempre estava ligado aos distribuidores. E fiz várias ações com os distribuidores. Você perguntou a que mais marcou aí. Eu fiz por exemplo no lançamento de Redupress por exemplo, eu entrei no distribuidor – Redupress é um anti-hipertensivo – e nós entramos com ambulância dentro do distribuidor. Uma ambulância tocando aquela sirene e chamando a atenção de todo mundo. E dentro da ambulância nós estávamos com enfermeira, com paramédicos, com todo mundo dentro. E aí quando o pessoal todo lá fora saiu, saiu as enfermeiras da ambulância. Elas foram medir a pressão de todo mundo. E fizemos esse serviço lá. tiramos a pressão, fizemos avaliação clínica. Depois trouxemos um cardiologista também. E fizemos um trabalho muito gostoso lá no distribuidor e isso marcou o produto. E...
P – A idéia era marcar o produto junto ao distribuidor? R - A idéia era junto ao distribuidor para ele poder vender
o produto. Porque primeiro o distribuidor tem que conhecer o produto. Antes do médico o distribuidor tem que conhecer o produto. A farmácia tem que saber que esse produto está no mercado e ela tem que estar na prateleira dela. Porque se a distribuidora não conhecer e não colocar na farmácia, se for para o médico antes, primeiro, a receita volta sem nada. A receita dele bate e cadê o produto? Não tem. então primeiro você tem que colocar o produto. Você tem que contaminar o pessoal da distribuidora, e da distribuidora colocar o teu produto na prateleira da farmácia. Isto estando lá aí fica mais fácil. Você vai para o médico, avisa para o médico que tem um produto ele prescreve e não volta a receita. Porque não tem coisa pior para um médico do que ele prescrever e não encontrar, o paciente dele não encontrar o produto. Então sempre fiz esse trabalho. E outras ações, por exemplo, no próprio Novatrex mesmo a gente fez uma ação muito legal lá, coloquei um, tinha um propagandista que ele tinha um Escort XR3, daqueles conversível assim. Tinha um teto solar. E aí ele foi e eu coloquei dois propagandistas no teto, por cima do teto com uma caixa de Novatrex. Fizemos a caixa, embalagem do produto. E aí o carro entrou no som. Eu fiz uma música mesmo, uma musiquinha legal que só. Foi até um reggae, né, que eu trouxe do Maranhão. Fui paro o estúdio de um amigo, gravamos o reggae lá.
P – Falando do Novatrex? R - Falando do Novatrex. Era uma música que chamava a atenção, entendeu? Ela dizia: (canta) “Seu Magela agora não tem jeito não, todos vão dançar com satisfação. Chegou Novatrex o antibiótico que será o líder da sua geração. Vamos vender, vamos arrebentar, com a Novatrex todos vão lucrar.” Aí a gente contaminava a televenda, aquela história todinha, né? E esse som muito alto.
Eles saíram todos de novo para ver o que era aquilo. Os fogos, né? E as embalagens desceram do carro e foram caminhando nos departamentos da empresa. e marcou muito. Novatrex foi um sucesso de lançamento. A gente, uma campanha extraordinária. Então isso a gente fazia. Isso no distribuidor. Mas fora isso tinha ações com médicos, ações com a própria equipe. O relacionamento com a própria equipe, encontro com a equipe, motivação da equipe, treinamento da equipe e outras campanhas que a empresa lançou. Campanha de inverno, campanha disso, campanha daquilo. A gente ganhava todas as campanhas. Quer dizer, nós ganhamos uma campanha com o Deprax aqui que ninguém ganhou. Pôxa, nós chegamos a vender 1000 unidades de Deprax, um antidepressivo caríssimo no distribuidor, tá?
P – como é que foi isso? R - Essa foi demais. Essa aí a empresa lançou uma campanha eram três produtos. Quem vendesse mais dos três produtos. Aí a gente já tinha ganhado as duas campanhas. E o meu gerente que chegou, ele era gerente, eu era gerente do Aché aqui. tinha o gerente do Parke-Davis e no Piauí-Maranhão os dois gerentes, o gerente era misto. Ele era Aché-Davis lá e o do Maranhão Aché-Davis no Piauí-Maranhão. Então ele juntou o cara do Parke-Davis no Maranhão, o outro Parke-Davis aqui e o Parke-Davis daqui e eu fiquei fora. Ele disse: ‘Armando, você agora está fora dessa. Eu vou trabalhar para o Parke-Davis, você já ganhou as duas.” Eu disse: “Mas não pode, não sou eu é a minha equipe. Eu tenho que fazer a minha equipe ganhar.” Ele disse: “Você está contra mim?” Eu disse: “Não, eu não estou contra você. Eu estou a favor da minha equipe.” Houve uma dissidência minha com o gerente nesse tempo. E ele disse: “Não, mas eu vou trabalhar para o Parke-Davis.” Aí tudo bem, ele trabalhou para o Parke-Davis junto com os colegas, os meus três colegas supervisores e eu fiquei com a minha equipe. A equipe: “Ô Armando, e aí?” Eu dizia: “Vamos com calma. Nós temos um produto Deprax, a cota dele é pequena. Se a gente vender 1000 unidades a gente bate a cota geral e aí vamos lá para cima.” E a equipe: “Não vai vender.” E eu: “vamos vender.” Bom e aí a campanha foi lançada e os meus gerentes começou uma briga com o outro gerente. Eram os dois gerentes brigando. Um com o Parke-Davis o outro brigando pela Prodome. Brigando, brigando, vendendo. Empurrando no distribuidor tudo o que podiam empurrar e aquela confusão todo mês e tal. Quando foi no último mês os distribuidor não agüentavam mais os produtos deles. Já estavam, não tinham como colocar mais estoque. E aí eu fiz uma campanha com os psiquiatras, né? Um passeio de barco com os psiquiatras, bati foto. Levei para o distribuidor e disse: “Olha, nós estamos com uma campanha só com psiquiatra. Vai vender para caramba o produto Deprax, eu estou precisando de você.” Ele foi me comprou 1000 unidades, né? E nós fizemos um pequeno investimento. Cada um da equipe me deu 50 reais e nós compramos um celular. Naquela época o celular top de linha era aquele Elite preto. Demos um Elite preto para o dono do distribuidor. O filho do dono do distribuidor que era que fazia as compras. E ele comprou 1000 unidades de Deprax e nós ganhamos a campanha, passamos por baixo do pano e foi uma coisa incrível. Porque a equipe acreditou realmente que eu tinha condições de fazer uma estratégia vencedora e a partir daí foi, e a equipe ganhou uma confiança maior e tudo aquilo que a gente falava ou dizia a equipe comprava a idéia. E pronto eu peguei esse estigma de, de estrategista, de ser uma pessoa que leva uma campanha que dá certo.
P – Como é que faz para motivar a equipe? Porque o região Norte tem essa marca de ser uma das equipes mais motivadas, né? R - É.
P – Como é que nasceu isso lá, Armando?
R - Porque na realidade, Imaculada, você tem que ter a percepção do homem, a vivência com ele, o dia-a-dia e saber como é que ele está. Você tem que ter essa relação com ele. Então você tem que entender a equipe como um todo. Então uma equipe bem motivada é uma equipe que dá um resultado. O resultado ele te dá a motivação. É a confiança daquilo que você prega para eles. Sem falsidade, jogando aberto. Sendo aberto. Então a equipe, a empresa fazendo as suas colocações, né? Tendo o seu comportamento. Trabalhar no Aché é muito bom porque o Aché sempre foi uma empresa que sempre cumpriu aquilo que disse. Sempre foi muito honrosa com seus compromissos. Então facilita isso para a gente. Você tem a base todinha da companhia então é só você implementar isso com a tua equipe. Ser sincero com eles. Então a sinceridade e o compromisso. A vontade de querer ajudá-los. Acho que a vontade de você querer ajudar a equipe faz com que eles se motivem. “Pô, esse cara está vindo aqui para me ajudar. Não para me complicar.” A gente usa uma expressão: para me encher o saco. “Ele está vindo aqui para me ajudar.” Então você estando indo para ajudar vai embora. O cara se motiva com você, sabe que você está contribuindo com ele. Você está agregando valor ao trabalho dele. Aí ele se motiva com você. Então motivar a equipe é você completar, ajudar o trabalho dele. A palavra chave é ajudar.
P – O passo seguinte já foi a gerência? R - Aí eu fui à gerência. Eu passei, eu passei de 97 até agora meados de, do ano de 2001 como gerente distrital. Mas nessa gerência distrital eu cheguei a fazer Ceará, Piauí, Maranhão. Voltei no Piauí-Maranhão como gerente. E aí no ano agora de 2002 a gente, a empresa agora nessas mudanças nós assumimos a regional, né? Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá. É, são nove estados. Se você olhar geograficamente, dá 35% da extensão geográfica do Brasil.
P – E qual que é o desafio ser propagandista da região Norte? R - O propagandista, desafio maior, ele continua sendo regionalizado. O Ceará ele tem um perfil. Piauí-Maranhão, Piauí um, Maranhão outro. O Pará outro. E o desafio ele em um todo, o objetivo é um só. Conquistar o receituário. Levar para o médico produtos de confiança que é o Aché. Promover o material promocional elaborado pela companhia de maneira eficaz, eficiente, comprometida. Com a linguagem fácil. Procurar valorizar tudo isso. Agora o desafio ele é muito regionalizado. Apesar de ser uma região Norte, mas o cearense ele tem uma peculiaridade. Porque o cearense ele e descontraído, né, ele tem o humor mas ele é responsável. Ele é muito responsável, muito preocupado. O piauiense ele já é caloroso. Ele é preocupado em excesso. Ele quer mostrar para a companhia que ele está, que ele é importante por ele ser o menor Estado da Confederação. Então ele já é mais assim. Você chega ele já, ele quer estar mais próximo de você. Ele sente a necessidade de estar próximo de você, de mostrar o que ele faz. Ele valoriza muito tudo isso. Então ele valoriza até mais do que o próprio cearense. Então até pela própria característica do Estado. Ele se sente como a forma dele tentar mostrar que ele é importante. E o cearense ele já, ele também faz tudo isso, só que ele já é mais despojado. Ele já é mais descontraído. Ele é mais aberto. Já o maranhense não, o maranhense já tem uma outra característica. Lá o povo maranhense tem toda aquela brisa aquele, aquela cultura, né? De ser o ludovicense. Então você já tem que ele agrada, mas hora ele não agrada, sabe? Ele faz um trabalho e você tem que estar um pouco mais ligado, né? Então tem toda uma cultura diferente do maranhense.
P – Cada Estado vai tendo a sua particularidade. R - Cada Estado vai tendo a sua. O paraense do mesmo jeito. O manauara. E
aí vai. Você tem que entender essas características e procurar trabalhar dentro delas, senão você... Se você disser: “Não eu vou implantar minha linha de trabalho, minha filosofia de trabalho.” Você implanta sua filosofia de trabalho. Você pode implantar a sua filosofia, o seu jeito aquela coisa. Mas querer que as pessoas seja igual a você não dá. Minha mão não é igual a sua nunca.
P – Hum, hum. A gente já está finalizando, antes disso eu queria que você comentasse duas histórias, né? Uma da campanha que foi feita de responsabilidade social e de, junto a uma entidade. R - Ah, tá, muito bom. aí eu era supervisor. Então foi uma das coisas que me diferenciou como supervisor foi exatamente também fazer essa campanha do Iprede. Com o Iprede. O Iprede é o Instituto de Prevenção a Desnutrição e a Excepcionalidade. Um órgão aqui do Ceará sem fins lucrativos. De uma carência muito grande. Ele pega pessoas totalmente esquálidas, esqueléticas mesmo, né? Se você olhar para uma criança que entra no Iprede e uma criança da Etiópia você vai dizer: “Puxa, essas crianças são exatamente iguais.” Não tem como você entender aquilo. Então a gente estava lançando o Novatrex e uma das maneiras da gente também alavancar as vendas de Novatrex, o Itromax é um produto da Pfizer que tinha 35% do mercado aqui dentro, né, dos macrolídeos. E a gente precisava fazer alguma coisa. Entrar com o Novatrex forte nesse mercado. Então eu fiz uma campanha com o Iprede. A equipe ela contribuiu. Me deu um ticket, um ticket refeição. Me deu um dia de alimentação de cada um. Nós conseguimos arrecadar 1000 reais em tickets. Levamos isso pra o Iprede em forma de alimentação. O Iprede nos deu uma declaração que nós estávamos com uma campanha com o Novatrex. Comprometemos a classe médica. Ou seja, cada receita de Novatrex o médico estaria ajudando também o Iprede. E aí a gente comprou mais de 500 latas de Mucilon e levamos lá para o Iprede. E foi uma festa. Porque o Novarex, o médico viu que a gente estava ajudando uma instituição, que era o Iprede, um instituição conceituada aqui. Viu também que o produto era eficaz, bom. tinha todo um aparato em relação ao concorrente e foi muito gostoso. Porque no final o Iprede ganhou, nós ajudamos uma instituição, as crianças lá. ajudamos o médico a prescrever para o paciente um produto muito bom também. um antibiótico muito bom. a empresa ganhou, todos nós ganhamos.
P – E como é que nasceu essa idéia? R - Essa idéia ela sai assim. Esses inputs vem assim, do nada. Eu precisava fazer alguma coisa por Novatrex. Precisava também fazer uma ação social. Eu já tinha tido um contato com o Iprede antes disso. Eu já tinha ido lá, eu já tinha feito algumas doações de roupa, de brinquedo, né? E tinha uma pequena relação. Quando veio o produto eu: “Bom, já posso fazer isso com isso.”Deu tudo certo.
P – Que momento dessa campanha mais te marcou, assim, mais te emocionou? R - Ah, foi a entrega. A entrega. A entrega lá foi muito emocionante porque eu vi a criança pegar em uma lata de leite de Mucilon e ele não poder pegar com a lata. Ele, a criança ela, sabe, a mãe da criança não ter o que comer é difícil. Você vê a criança pegar uma lata e não poder pegar uma lata de leite. Ela cair porque não tem força. Então aquilo me marcou muito. Mas marcou muito, muito mesmo. E eu vi que eu estava contribuindo. Naquele momento eu vi que a campanha deu resultado. O carinho como aquela criança pegava aquela lata. Eu até me emociono porque foi muito lindo. Foi muito legal.
P – E eu imagino que outro momento de emoção tenha sido a realização do sonho esse ano que você estava contando que era levar a equipe lá para a tua cidade. R - Ah, é.
P – Conta essa história. R - É Taperoaba é uma cidade que nunca deixei, nunca deixou de fazer parte da minha vida. Eu acho que você tem que preservar as suas raízes. Você tem que dizer da onde você é. E eu sempre gostei muito do pessoal de lá porque como eu te falei lá você é o que você é. lá você é um cidadão de lá. então eu tinha dentro desse tempo todinho no Aché eu tinha o sonho de levar minha equipe para lá. para conhecer minha cidade. Para ver lá as minhas origens, ver como que a gente, né? Ver o meu povo, como a gente é simples, como a gente é humilde e tudo. E como a gente gosta de ser humano. De receber as pessoas. Então eu levei a equipe esse ano pra lá. fiz lá o Primeiro Congretaba – Congresso de Representantes em Taperoaba. Foi muito marcante.
P – A equipe do Ceará?
R - A equipe do Ceará.
P – Hospedaram aonde lá? R - Ah, se hospedaram na nossa casinha que a gente tem lá. onde eu comprei essa casa de volta. A casa que eu nasci. E lá a gente tem um morador. É coisa simples mas é nosso. É coisa bem caseira. E foi muito bom porque a equipe viu tudo aquilo lá com a gente. Vivenciou. Conheceu as pessoas com quem a gente cresceu. As pessoas davam depoimento espontâneo: “Ah, o pai desse rapaz era pessoa muito boa.” Isso muito espontâneo e no final a gente fez um futebol com o time da cidade. E marcou foi aquela coisa, então.
P – E os moradores como é que reagiram? R - Ah, muito bem, né? Cada um contribuiu um pouco. Um botou a faixa na rua, o outro foi lá. O outro deu uma galinha. O outro, sabe, matou um carneiro. E foi um barato, foi um barato porque a gente lá a gente é muito, muito bem recepcionado.
P – Mas por que é que você fazia questão de levar a tua equipe para a tua cidadezinha? R - Eu até dá assim, Imaculada, você perguntando: “Ah, fazia questão.” Até difícil. É aquela vontade de você querer que, sabe de mostrar também um pouquinho como você conviveu. As pessoas com quem você também tenha outra relação ____ profissional. São
pessoas simples, do dia-a-dia. E a equipe também, eu estou com uma linha esse ano que é uma linha, a linha 3. Ela tem uma linha de produtos assim que eu considero ela é muito, ela é uma linha polivalente. Mas é uma linha barata. Que eu digo assim: “Ah, a minha linha é popular.” Então eu gosto muito do povo. Eu gosto muito do povão. Eu sabe, eu não sei,
eu acho que o fim da minha vida eu acho que eu vou ser feirante em algum canto desses aí. Porque eu gosto muito do contato com as pessoas. E eu disse: “Bom, se eles saírem daqui e forem para lá, eles vão ver que lá o povo é simples, né? Assim como a nossa linha é simples. Eu vou fazer uma associação de tudo isso.” Então eu pensei mais ou menos por aí. E foi muito bom.
P – Depois de tantas histórias eu queria falar um pouquinho de futuro. Como é que, o que é que você sonha para o futuro, Armando? R - A gente sonha tanta coisa, né? A gente hoje, a gente é pai e já começa a se preocupar um pouco em dar aos seus filhos uma condição melhor daquilo que você teve. Mas assim eu sonho que, eu espero que o Aché continue crescendo, se desenvolvendo. Eu hoje apesar de trabalhar com pessoas, tudinho, eu trabalho para o Aché. Eu trabalho para o Aché e espero que o Aché cresça. Porque se o Aché crescer ele leva a gente junto com ele. Então eu sonho, eu vejo o Aché no momento que ele precisa se firmar no mercado. O mercado, ele passou por toda essa turbulência do mercado então eu sonho o Aché fazendo coisas novas. Eu sonho o Aché fazendo produtos novos. Eu sonho o Aché trazendo um produto inovador. Eu estou vivendo todo esse sonho junto com o Aché, essa perspectiva. Se eu pudesse estar lá ajudando, contribuindo, indo buscar. Viajando, trazendo produto, né? Até mandei um xarope de ararás daqui.
P
– (riso)
R - Fitoterápico para ver se contribuía, mas não...
P – Como é que é essa história de xarope? R - É um xarope. Um produto feito aqui no, um produto feito aqui no Estado do Ceará, feito na Universidade Federal do Ceará que é para asma. Eu visitando um médico ele: “Olha, eu tenho esse xarope.” Eu digo: “Me dê para cá. O Aché vai fazer esse xarope.” Sabe, eu sonho muito com isso. Eu ainda sou assim muito, não sei se saudosista, mas eu ainda sou muito apegado aquilo que eu faço. Eu sou muito apegado a tudo isso aqui. Eu até brinco com o pessoal: “Pôxa, no dia que isso acabar como é que vai ser? Eu não tenho mais equipe, eu não tenho mais” Às vezes eu fico pensando. Então eu sonho com tudo isso. E a gente sonha com futuro, não é? Com o Brasil saindo desses problemas sociais, resolvendo problema tributário que tanto afeta Estados, regiões. A gente vê muita sonegação. A
gente trabalha com indústria vê muitos produtos aí ainda vendido de forma ilegal. Então a gente sofre muito com tudo isso. Com um Governo que pregue uma política de genéricos realmente que tenha que ser uma política de genéricos saudável. Hoje em dia o que a gente vê por aí são similares, e similares, e similares vendendo. Então eu sonho que isso acabe. Que a gente possa ter tranqüilidade para trabalhar. Tranqüilidade. Eu sonho com tranqüilidade. Tendo tranqüilidade para trabalhar você vai longe. Porque esses intempéries do dia-a-dia às vezes desestabiliza não a você. Porque como eu te falei eu tenho uma couraça muito forte, mas a equipe. Eu me preocupo com a equipe. A equipe é muito frágil. Você tem que estar ali. Doutrinando, falando, falando, para que ele sinta assim coragem para poder vencer. Então é isso que eu sonho.
P – Por último o que você achou te ter contado um pouquinho da tua história? R - Eu achei legal. Eu até tinha te mostrado, eu tinha relatado isso já um pouco. Em rabiscos. Mas parei em 97 alguma coisa. Eu sempre gosto de relatar e contar. Tenho muitos causos para contar. Fosse passar aqui a gente passaria muita coisa, né? Mas eu achei legal. Eu acho que é importante esses depoimentos. Eu acho que fica marcado aí um pouco de cada um. Não só meu mas de outros colegas por aí. A empresa é muito grande. O Aché ele é, ele tem que se dar conta que ele é do tamanho do Brasil, né? O Brasil é muito grande então o por exemplo, o Brasil ele tem reservas, recursos muito grande. Então os políticos entram, aqui entra outro e tudo acontece. E desvio daqui e daquilo outro e o Brasil ainda não quebrou. Então o Aché ele é do tamanho do Brasil. Ele tem muita estrutura. Se todo mundo der um pouquinho, se cada um contribuir um pouquinho mais, se der um pouquinho mais ele se torna muito grande. Muito maior do que ele já é. então a gente vive aqui como se fosse em um condomínio. Hoje a gente está em um condomínio. Quer dizer, um condomínio de casa. tem a casa um, a dois, a três, a quatro e a cinco. Que é a institucional. São cinco linhas. São cinco casas. Então eu sou o morador da casa três. Mas o condomínio é o Aché. O condomínio a piscina precisa estar limpinha, a quadra tem que estar limpa para os meninos jogar. O porteiro tem que estar lá. o condomínio Aché tem que funcionar. Então se nós moradores não nos dermos as mãos para que esse condomínio funcione fica difícil. E o mais complicado é que o síndico não mora no condomínio. Ele mora em São Paulo. Nosso síndico, nosso gerente nacional mora em São Paulo. Que é o síndico desse condomínio. E aí? Você conviver sem síndico, você conviver entre si você tem que ter uma harmonia muito grande para tudo isso dar certo. deixar as vaidades de lado e ser realmente acheano de coração.
P – Tá certo. Muito obrigada pela participação. R - Tá, eu que agradeço.Recolher