P/1 – A gente vai começar agora pela sua identificação. Eu queria que você falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – É Ofélia Aparecida Gomes de Carvalho, eu nasci em Guaranésia, Minas Gerais.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – É José Gomes Neto e Isméria Cândida de Oliveira.
P/1 – O seu nome é um nome bem diferente, tem o sobrenome da sua mãe e do seu pai?
R – Eu tenho do meu pai e do meu marido agora, é Gomes de Carvalho.
P/1 – O sobrenome do seu pai, qual que é a origem da sua família mesmo?
R – Eu acho que é portuguesa
P/1 – Então, a gente vai falar agora um pouco da sua infância, assim, eu queria que você contasse pra gente como que era a rua que você morava, as brincadeiras, enfim.
R – Hum... deixa eu voltar lá atrás, né? É uma cidade pequena, eu morava com os meus tios, eu e minhas irmãs, porque minha mãe é esquizofrênica, né, não conheci ela normal, não. Quando eu nasci ela já era esquizofrênica, então viveu muito em hospitais psiquiátricos, todo esse tempo, até falecer. Então, eu fui criada com os meus tios e minha avó,que é avó paterna, e a minha irmã mais velha casou-se em 1960 e veio pra São Paulo e eu, como era a mais nova, vim morar com ela. Em 1961 eu vim pra São Paulo, aí, eu comecei e fiquei até me casar. Saí com 24 anos e fiquei com ela e meu cunhado que acabaram de me conduzir, mas foi meio que assim.
P/1 – Você tem mais irmãos, Ofélia?
R – Eu tenho irmãs, nós somos em quatro irmãs e essa mais velha, que eu vivi praticamente com ela. As outras, uma foi morar com uma tia, a outra também morou uns tempos, depois veio morar com essa minha irmã também, a gente foi meio que criada assim (RISO), meio que separadas, né, não foi muito junto hoje, acho que por isso que a gente é muito unida, porque nós fomos meio assim separadas, criadas assim.
P/1 –...
Continuar leituraP/1 – A gente vai começar agora pela sua identificação. Eu queria que você falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – É Ofélia Aparecida Gomes de Carvalho, eu nasci em Guaranésia, Minas Gerais.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – É José Gomes Neto e Isméria Cândida de Oliveira.
P/1 – O seu nome é um nome bem diferente, tem o sobrenome da sua mãe e do seu pai?
R – Eu tenho do meu pai e do meu marido agora, é Gomes de Carvalho.
P/1 – O sobrenome do seu pai, qual que é a origem da sua família mesmo?
R – Eu acho que é portuguesa
P/1 – Então, a gente vai falar agora um pouco da sua infância, assim, eu queria que você contasse pra gente como que era a rua que você morava, as brincadeiras, enfim.
R – Hum... deixa eu voltar lá atrás, né? É uma cidade pequena, eu morava com os meus tios, eu e minhas irmãs, porque minha mãe é esquizofrênica, né, não conheci ela normal, não. Quando eu nasci ela já era esquizofrênica, então viveu muito em hospitais psiquiátricos, todo esse tempo, até falecer. Então, eu fui criada com os meus tios e minha avó,que é avó paterna, e a minha irmã mais velha casou-se em 1960 e veio pra São Paulo e eu, como era a mais nova, vim morar com ela. Em 1961 eu vim pra São Paulo, aí, eu comecei e fiquei até me casar. Saí com 24 anos e fiquei com ela e meu cunhado que acabaram de me conduzir, mas foi meio que assim.
P/1 – Você tem mais irmãos, Ofélia?
R – Eu tenho irmãs, nós somos em quatro irmãs e essa mais velha, que eu vivi praticamente com ela. As outras, uma foi morar com uma tia, a outra também morou uns tempos, depois veio morar com essa minha irmã também, a gente foi meio que criada assim (RISO), meio que separadas, né, não foi muito junto hoje, acho que por isso que a gente é muito unida, porque nós fomos meio assim separadas, criadas assim.
P/1 – Quando você era pequena você convivia com outras crianças, brincava?
R – Ah, sim, porque esses meus tios tiveram quatro filhos. Era uma casa muito grande, entendeu, e morava a minha avó, os meus tios com os quatro filhos, com a mais velha da minha tia que é a minha idade, eu sou a mais nova, e o meu tio tinha uma padaria na cidade. Era a única da cidade, meu pai era padeiro dele, entendeu, que é irmão da minha tia. E vivia a minha avó, ela que acabou cuidando da gente, porque minha mãe ficou, acho que só em Itapira, Barbacena, acho que cinco anos seguidos, então ela vinha,melhorava, ficava três meses e voltava pro hospital, então a minha avó era quem cuidava da gente. Meu pai morava sozinho e a gente ficava com a minha avó, esses meus tios e tinha outra parente também que morava nessa casa, uma casa muito grande. Então, eu convivi com esses meus primos, que são praticamente irmãos, né, fiquei todo tempo até nove pra dez anos.
P/2 – E do quê que vocês brincavam? Tantas crianças brincavam?
R – Nossa, muito, era um quintal enorme. Foi uma infância muito boa, assim, porque a gente tinha muita fruta no quintal, a gente brincava assim. Ah! De casinha, que eles falavam, fazia batizado de bonecas, sabe, fazia com comes e bebes mesmo e roupa pra boneca, tudo. Todo evento (RISO) era feito por nós mesmas crianças, entendeu? Então foi muito boa a minha infância, apesar de que não estava com a minha mãe e tal, mas foi muito boa.
P/1 – Você falou que era numa cidadezinha de Minas, né?
R – É.
P/1 – Interior de Minas?
R – Muito pequena, que acho que é o tamanho de um bairro pequeno aqui em São Paulo. Então é a igreja, o coreto.
P/1 – E foi lá que você começou os seus estudos?
R – Eu fiz o primário lá, inclusive, boa a escola lá. Tinha, eles chamavam de grupo escolar, lá, mas a gente tinha até música, aula de música lá, assim, uma escola boa. Aí, eu vim pra São Paulo, fui estudar numa escola ali na (via) Anchieta, que a gente morava, minha irmã morava ali, no Ipiranga, é numa escola municipal, até de madeira inclusive, essa escola, e, daí, eu fui em frente e fui até o segundo grau só, porque eu não tinha condição de fazer a faculdade, tinha muita vontade, mas tive que parar, então fiz até o segundo grau. E a minha irmã sempre bancando, tudo. Estudei também naquela escola, a Carlos de Campos, que na época era uma escola só de mulher, né, eu estudei ali, eu fiz admissão e saí pro Colegial dali, fiz o Ginásio ali.
P/1 – Como que foi? Conta um pouco pra gente como foi essa experiência de estudar nessa escola que tinha só mulheres?
R – Nossa, muito legal também, aprendi muito lá, você tinha que aprender trabalhos manuais, pintura, bordado.. trabalho em argila de barro e couro também, aprendi muita coisa ali. E, é... cuidados, os primeiros cuidados de um bebê, a gente tinha que aprender,postura, sabe? Assim boas maneiras, então eu lembro que a gente, era a professora Íris, eu não esqueço nunca, porque ela obrigava a gente a andar com livro na cabeça, essa coisa toda que usava antigamente, né? Então foi uma experiência legal, uma coisa muito assim e tudo menina só, era muito gostoso; e tinha uma coisa também, a gente tinha que se pesar. A minha prima tava também comigo nessa escola. Ela era sempre magrinha, então, ela não tinha o peso pra idade, pela estatura, então ela tinha que fazer as refeições lá, a gente entrava sete da manhã e estudava até meio-dia e ela ficava ali no refeitório, porque tinha nutrição, as alunas é que providenciaram a comida, tudo com peso, tudo com as vitaminas ideais pra um adolescente e ela tinha que ficar pra almoçar ali.E não saía sem almoçar, porque ali tinha toda a alimentação que ela precisava. Ela engordava assim cem gramas, porque era dela mesmo, né, mas eles tinham essa coisa e eu ficava ali esperando, porque a gente morava junto (RISO). É uma coisa assim que hoje em dia não existe, né? Mas, então, foi uma escola muito legal, boa, gostei, tenho boas recordações de lá.
P/1 – Tem alguma coisa que seja muito marcante assim, que tenha acontecido? Nesse período escolar, mesmo que não tenha sido lá.
R – Não, eu acho que não (PAUSA). Não me lembro assim de uma coisa que me marcou.
P/1 – Como que era, assim, a sua vida social nessa época? Você tinha amigos, você saía?
R – É, a gente saía muito entre primas, que eram várias, então, saía só a gente mesmo. Assim, amigas? Eu tinha na escola, tinha bastante amiga mas pra sair mesmo a gente saía só entre a gente,minhas irmãs e primos, não tinha...
P/1 – Vocês namoravam ou não?
R – Ah, eu namorei (RISO) escondido, né, porque naquela época minha irmã era muito preocupada e, com 15 anos, e eu, minha prima, a gente saía, namorava escondido mesmo. O pai dela era muito assim rigoroso mas foi muito, muito legal. A gente ia muito em baile. Nossa! Fazia assim, cada semana era na casa de um, e a gente não faltava uma semana, ia muito, muito mesmo, aproveitei bastante (RISO), bastante mesmo.
P/1 – Você começou a trabalhar com que idade Ofélia?
R – Dezoito anos, e eu fui trabalhar numa loja, que era do meu sogro, foi o meu primeiro trabalho. Ele era vizinho da gente e a minha irmã estava numa situação meio difícil, tal, e aí que eu fui trabalhar, fui meio tarde até, fui porque precisou mesmo, mas meu cunhado sempre me ajudou muito e daí eu fui e como eles estavam precisando de balconista, eu nunca tinha trabalhado, fui prá lá. Fiquei lá um ano, nem fui registrada, nada, fiquei lá, a onde eu conheci o meu marido (RISO).
P/2 – E era uma loja do quê?
R – Olha, tinha ferragens, tinha roupa;, na época, eram quatro portas e tinha uma porta pequena, era charutaria então era um bazar. Tinha de tudo lá, louça, alumínio, malas de viagem, roupa feminina, masculina, em cada porta tinha uma seção.
P/1 – Aonde que era?
R – No Largo da Concórdia. Ele ficou ali,veio pra São Paulo em 1953, acho,colocou uma portinha depois foi aumentando e saiu em 1993 lá, do Largo. Ele vendeu, assim, o ponto, né?
P/1 – E seu marido trabalhava lá também?
R – É, e agora ele tá aqui no DIEESE [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos], como pesquisador, ele sempre trabalhou com o pai e daí saiu, mas surgiu essa oportunidade e ele tá com pesquisa e tá adorando, tá há dez anos já.
P/1 – E depois desse trabalho, como que foi, você continuou trabalhando?
R – Então, eu saí, na verdade, da loja e fui pra uma outra no Bom Retiro, fiquei três meses só nessa loja, que também eram de uns amigos nossos e, então, eles precisavam de uma pessoa só, era a irmã dele quem tocava, eles mudaram pro Interior e eu fui pra lá ajudar essa irmã dele. Eu fiquei só três meses, era cama, mesa e banho e, aí, eu fiquei em casa, porque a minha irmã resolveu trabalhar ela tinha dois filhos pequenos, e falou assim: “Ai”, eu estudando, eu fiquei,aí ela foi trabalhar. E, depois de dois anos que eu acho que fiquei em casa, veio um primo meu de Presidente Prudente pra arrumar um trabalho, ele não sabia andar em São Paulo e a gente tinha uma agência que a gente conhecia, ali na Bráulio Gomes, e eu fui levá-lo pra arrumar um trabalho, de temporário, na verdade, e aí eu estava na agência acompanhando, ele fazendo a ficha, a moça da agência falou assim: “Ai, você não quer trabalhar?” – eu falei: “Ai, não, não tô procurando, eu trouxe o meu primo só.” – ela falou assim: “Ai menina, eu preciso de uma recepcionista”, aí, eu falei assim: “Mas eu não tô procurando, fico olhando meus sobrinhos, tal” – ela falou assim: “Ai é um advogado super chato aqui no décimo andar, aqui no prédio”, então você”, ela falou “nem que for pra você ficar hoje, dois dias depois você fala que não gostou e sai, só porque ele tá me ‘enchendo o saco’ e eu não acho e não para ninguém com esse cara!” Eu falei assim “Ai meu Deus nem avisei minha irmã”. Ela falou assim – naquela época não tinha telefone, assim, eu não tinha – eu falei “Ai, meus Deus”, ela falou “Aha, vai lá, só pra, quem sabe, né?” Aí eu fui (RISO). Subi, fui no décimo andar, eu cheguei, era o advogado, o Almir Pazzianoto, aíentrei, e ele falou assim “A, é você que vai começar, não, que veio da agência?” – eu falei – “É” – ele falou assim “Ah então pode sentar, é essa mesa aí e é você fazer isso, aquilo, ir, lá no tribunal e tal, fazer alguns serviços externos”, eu falei, “Ah, tudo bem”. Ele falou “Vvocê estuda?” “Tô, tô fazendo o Colegial”, “Ah! Então pode começar, senta lá”, ele falou assim. Eu falei“Meu Deus, tá”, aí, ele falou assim “Você pode comprar um lanche pra mim?”, eu falei “Posso”, aí fui, desci, encontrei meu primo no elevador (RISO), eu falei “Pra onde você tá indo?”, ele falou “Pra Secretaria da Saúde, teve um serviço temporário.E você?”, eu falei “Já vou comprar‘ lanche” (RISOS), ele falou “Não acredito! Você vai ficar aí com esse cara?”, eu falei assim “Ah! Vou tentar, se eu não gostar eu saio, né?” Nossa! Só saí às seis horas da tarde, meu primo também, minha irmã estava" enlouquecida quando eu cheguei. Cheguei em cima da hora pra ir pra escola, ela falou “Mas quê que?”, eu falei “Tô Trabalhando”. Ela falou “Não acredito! E o primo?”, eu falei “Já tá trabalhando também”. Aí,fiquei um ano lá com ele e, quando eu pedi, ele me ajudou muito no estudo, e ele pagava pouco, era advogado dos sindicatos, aí, no final do ano eu pedi um reajuste. Ele falou assim “Ó Ofélia eu não posso te dar um reajuste, mas eu vou te indicar pro DIEESE”, porque lá ia o (Walter) Barelli, a Anes, que era uma equipe pequena o DIEESE na época, e ele como era advogado dos sindicatos,tinha muito contato com o DIEESE, muito mesmo, qualquer orientação eles iam lá falar com ele, que eles eram amigos também. Aí, o (Walter) Barelli sempre ia lá, eu conhecia, o Lula, que era de São Bernardo, ele era advogado de lá, então, eles iam lá, e ele pegou e me apresentou pro (Walter) Barelli e falou assim “Olha, eles estão precisando de uma datilógrafa. Você topa ir? Você vai ganhar bem mais lá.”, eu falei “Ah! Eu topo.”. Aí, saí de lá numa sexta-feira do Dr. Almir, comecei na segunda, que foi dia 3 de fevereiro de 1975. Eu já tinha participado da campanha do Dr. Almir, que ele era candidato a deputado estadual, trabalhei na campanha dele e depois fui pro DIEESE, ele me indicou e comecei lá no DIEESE em fevereiro de 1975, aí, que eu me casei, eu tava lá e tal, aí, quando nasceu meu filho não tive coragem de deixá-lo, aí, eu fiquei pensando a licença toda “volto, não volto”. Aí, deu o dia, eu fui lá e falei “Ai, Barelli, eu não sei, não sei o quê é que eu faço.” – ele falou assim “Se você tá em dúvida é melhor você ficar em casa”. Porque eu falei, eu não tinha visto nada pro menino, nem creche, nem pra deixar com ninguém, eu não tive coragem. Ele falou “Olha Ofélia, eu tenho experiência de pai, é melhor você ficar‘”.Naquela Época a gente tinha esse privilégio ainda, escolher, poder ficar, mas tem que se anular, também, né? Aí eu fiquei oito anos em casa.Eu vendia roupa, fiz algumas coisas assim, extras. Aí, quando meu filho fez oito anos, eu já tinha a do meio, que tinha cinco anos, quatro, por aí, quase cinco, aí, o (Walter) Barelli me ligou lá em casa e falou que ele ia ter uma telefonista, que o DIEESE não tinha, ele falou “Ah! Teus filhos já tão grandes, Ofélia, volta, você não quer trabalhar seis horas só?” Daí dá pra você ficar com os meninos e voltar e ter um trabalho assim”. Eu falei, “Ai meu Deus, será que eu volto, Barelli?” – ele falou assim “Ah, agora eles já tão grandes, dá pra voltar”, aí, eu falei “Eu vou pensar”. Fiquei 15 dias pensando se eu voltava, porque eu vendia roupa, também tinha alguma coisinha assim. Aí eu falei, “Vou voltar”. Olha, foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Aí voltei no dia do aniversário do meu filho, dia 14 de outubro de 1985 e tô até hoje.
P/1 – Que bom, né?
P/2 – Coincidência gostosa, né?
R – É, a minha irmã deve conhecer muito mais, eu acho, porque eu saí pequena, mas eu volto sempre lá.
P/2 – Ofélia, a senhora falou, começou, como disse, a trabalhar em 1975 e permaneceu, então, um período, né, até 1978. Qual era a sua visão do papel do DIEESE na época? Como é que a senhora pensava? Porque a senhora estava trabalhando com o Almir Pazzianoto, então, a senhora foi praprá lá, qual era o seu entendimento a respeito do DIEESE naquele período?
R – Olha, a gente trabalhava muito e eu sempre gostei desse trabalho do DIEESE, assim, me identifiquei muito, porque sempre foi voltado muito pro trabalhador, inclusive, o ambiente do DIEESE, o pessoal, assim, são pessoas que estavam ali trabalhando não pensando no dinheiro, sempre no ideal, né, sempre lutando pelo trabalhador, e eu acho que me identifiquei mais por isso, porque o pessoal muito assim desprendido dessas, de materiais dessa vida O'Financeiro não levava muito em conta, era o ideal mesmo e eles faziam por amor, todos, era uma família na verdade, tinha 15 pessoas eu acho, mais ou menos, era uma família. Então, o pessoal trabalhava muito mesmo e mais por amor, isso que acho que mais me prendeu.,que, Eu não tinha problema, até quanto, de grana mesmo, não teve muito problema nessa época, eu não me lembro, pelo menos, eu ainda trabalhava pro sindicato! Você vê? E sempre com muito amor. Nossa, atendia sindicato porque a gente depende deles, né? E depois que eu voltei, eu sabia das dificuldades, assim mesmo não tinha problema. Quando pintava uma grana eles retomavam, porque não tinha e tudo isso na boa, sabe? Então, eu acho que foi um trabalho com muito amor. Eu acho que foi o que mais me prendeu. Eu tinha essa visão desprendida. Muita preocupação com o trabalhador, eu acho que eles tiveram sempre.
P/2 – Quando a senhora se retirou por questões pessoais em 1978, qual era a situação do DIEESE?
R – Acho que ainda estava normal, e eu acho que depois é que começou a complicar mais. Mas até então, nunca me atrasou salário, nada, nessa época. Quando eu saí mesmo eles estavam bem.
P/2 – A senhora comentou que voltou depois de oito anos a trabalhar no DIEESE. Quais foram os principais desafios que a senhora enfrentou quando retornou pro DIEESE?
R – É, porque eu fiquei fora, mas a minha função como telefonista, nossa, eu aprendi muito, porque esse relacionamento,eles tinham um atendimento técnico, então, eu queria, sabe, facilitar o trabalho, essa triagem Eu acabava, tinha a divulgação do índice na época, então eu queria saber “Ah, quanto deu”, pra facilitar, porque eram poucas pessoas, muito trabalho, então, praprá atender, era muita ligação e o pessoal não dava conta, o que estava de plantão, entendeu, pra dar essas, e se é pra dar um índice, assim, um valor, eu mesmo dava, aí falava, “Quanto deu?” Aí, eu facilitava. E o cara, “Ah, quero saber, quanto”, era tanto, então você se envolvia nessa coisa, porque era "pauleira". Ah! Lá atrás, eles tinham um boletim do índice do custo de vida, você vê, não ia pra gráfica, a gente que montava ele lá. Então era "pauleira" mesmo. Então tinha prazo pra divulgar, a gente fazia o quê? Datilografava e montava o boletim, né? Eu e o rapaz, então era assim. E quando eu voltei, eu aprendi muito, só no telefone, nossa, eu fiquei mais desembaraçada e me ajudou muito nessa função e a entender um pouco mais do DIEESE, a ter esse relacionamento com o sindical, né, entender as políticas que cada um tem, né, uma corrente política, eu comecei a aprender a ter cuidados, porque nessa época a gente tinha que ter muito cuidado, ser neutro, né, então eu aprendi muito a lidar com esse público aí externo que é o...
P/1 – Como que você aprendeu, as pessoas tinham uma preparação dos funcionários ou você aprendeu no dia a dia?
R – Não tinham, não, você tinha que se virar bem ali, porque eles não tinham tempo, mas, às vezes, nos comentários que eu ficava observando e, sei lá, ou é da gente mesmo, né, ter essa preocupação, porque eu via que era muita política ali entre os sindicalistas,então eu tinha esse cuidado assim, pra ver o que é que a gente fala, como passa, e eu me preocupava muito nesse sentido. Talvez porque era uma família ali, a gente comentava muito, né, o (Walter) Barelli falava muito assim, passava isso muito pra gente também, aprendi muito com ele também.
P/2 – Como é que foi a sua mudança de cargo? Então, a senhora disse que voltou como telefonista e depois a senhora passou por uma mudança.
R – É, nós viemos pro Parque da Água Branca, aí,á precisou de duas telefonistas, dois turnos, porque aqui ampliou o quadro, os escritórios aumentará e duas telefonistas, e quando eu vi que fui uma das últimas que saiu lá das Carmelitas, eu vim pra cá e aí foi o ano que... Acho que foi o primeiro e único ano que ficou a direção sindical dentro do DIEESE, ela nunca permaneceu. Este ano eles ficaram, foi meio que alguma coisa política que teve ou a própria Direção que definiu isso e ficaram aí no DIEESE. Nunca tinha acontecido. Eu vim pra cá e um dos diretores falou assim “Olha Ofélia, você então vai ficar pra atender só a Direção Sindical”, eu falei “Ah, tudo bem”, fiquei num corredor uma mesa no corredor, não tinha onde a gente ficar, eles ficavam numa sala pequena e eu comecei a trabalhar com eles e eu falei assim “Olha, só que eu quero seis horas ainda”, porque meus filhos eram pequenos, e ele falou “Tudo bem”, porque era pra trabalhar já com a Direção Técnica, mastinha que trabalhar oito horas e eu falei “Não eu quero que permaneça seis”, então tive que trabalhar com eles, eles topavam e já tinha outra secretária na Direção Técnica, ela trabalhava oito horas, então não podia ficar por seis. Então, eu fiquei com eles como auxiliar administrativo, acho que depois do telefone e em 1993 que eu fui pra trabalhar Eu trabalhei, fiquei com as duas Direções, a Técnica e a Sindical, que eu tô até hoje, fiquei como secretária da Diretoria, então eu fiquei com os dois lados. E, até quando eu fui pra trabalhar com a Direção Sindical, eu fiquei meio, meio desconfortável, na verdade, na posição, porque muita gente achou que eu, sei lá, que eu tinha alguma, assim, eu era pra estar vendo o outro lado, porque teve um probleminha político na época e eu falei “Ai, o que é que eu faço?”,eu fiquei muito preocupada. O pessoal já começou a me olhar assim, meio, né, eu fiquei muito desconfortável. Aí eu liguei pro (Walter) Barelli da minha casa à noite, eu falei “Ai, eu não tô legal, não sei o quê é que eu faço, como que eu vou agir, né?”, ele falou assim “Ofélia, a única coisa que você tem que ser é não tomar partido, faça sua função, atenda eles bem como você atende a gente e seja neutra, não tome partido em hipótese alguma, em momento algum.”. Eu falei, “Ai, então tá”, aí eu fiquei onde eu fiquei, e onde eu até me preocupava muito porque eles estavam assim, meio que separados, as Direções. Ai, eu fiz muito pra unir, mas, assim, eu me preocupei muito, porque eu falei “Pô, eu gostava dos dois lados, né?”. E fiquei, acho que eu fiquei um ano e meio, por aí. Aí depois que eu fui ficar com as duas Direções. Aí, tudo bem, passou esse episódio, que foi péssimo, e tô até hoje com eles.
P/2 – A senhora falou que, comentou que telefonou pro (Walter) Barelli pra fazer uma consulta pra pedir um conselho pra ele. A senhora tinha bastante proximidade com ele, a senhora poderia comentar essa história dessa amizade que a senhora tinha com ele?
R – É, eu tinha muita afinidade com ele, muito tempo eu trabalhei com ele, não diretamente, porque eu era datilógrafa, mas tinha bastante afinidade. Ele me orientava muito, porque eu era muito jovem quando eu fui pra lá. É, uma que eu não tinha muita experiência, assim,eu na verdade trabalhei na loja pouco tempo e eu trabalhei mesmo foi no DIEESE, então, ele me orientava muito, me ajudou muito.
P/2 – Quando a senhora retornou pro DIEESE em 1985, a senhora teve uma questão pessoal. A senhora poderia contar essa história pra gente?
R – É, porque eu voltei em outubro e fui contratada, ele falou “Ó, você vai ficar contratada três meses e depois a gente te efetiva”, eu falei “Tudo bem”, e eu fiquei grávida nesse meio de tempo. Voltei e engravidei. Saí por causa do filho e engravidei. Eu falei “Ai, eu não acredito”, fiquei em pânico, eu falei Meu Deus e agora?”. Voltei,e quando eu soube que eu estava grávida,cheguei, entrei e falei “Barelli, posso falar com você?”, “Pode senta aí”, eu falei “Barelli, você não vai acreditar.”. Ele falou “Oo quê?”, Eu tô grávida”, ele falou “Ah, não, eu não acredito”, eu falei “Olha, por favor, se sinta à vontade, se você for me efetivar”, isso foi em dezembro, ele ia efetivar em janeiro, eu falei assim “ Fique à vontade, você não tem nada, não tem problema, eu posso, eu saio sem problema algum”. Ele falou assim “Ofélia, mas daí você vai ficar?”, eu falei assim “Não, agora eu fico”, (RISO) ele falou Você vai ter coragem?”, eu falei, Não, agora eu já tenho uma pessoa que cuida das crianças, eu volto sem problema algum, eu fico.”, ele falou “Ah! Então tá, então vamos te efetivar, não tem problema.”. Aí ele me efetivou,eu fiquei até hoje.
P/2 – Como a senhora, secretária em nível de Diretoria, ocupando um cargo de confiança e de extrema responsabilidade e proximidade com o cérebro da instituição avalia a evolução do DIEESE ao longo destes 27 anos que trabalha na instituição?
R – (PAUSA) Ai, nossa, teve fases ruins, péssimas.
P/2 – Fala um pouco das fases ruins pra falar das boas depois também, né (RISOS).
R – Nossa,mesmo as fases ruins que a gente passou, eu passei acho que por umas três, quatro fases, demissão voluntária, atrasos de salários, tal, mas, por incrível que pareça, a gente trabalhava com muito, assim, acho que a maioria pelo menos. Os que chegaram depois que é mais difícil aceitar essa situação do DIEESE, não entende muito bem, né, porque, meu marido mesmo fala, eu falei assim “Ai meu Deus”, mas você sempre tá na defesa, eu falei assim “mas, não é”, é que você, a gente que trabalha no DIEESE, você tem que ter muito amor. Se você for por esse lado, ó, de situação financeira e, sei lá, de progredir profissionalmente, é meio difícil, é mais trabalho mesmo, muito trabalho e eu acho que o DIEESE, nossa, mudou bastante, eu acho, cresceu, teve uma época que ele cresceu muito e eu acho que não podia ter crescido tanto, porque é a onde deu os problemas maiores, financeiro, né, porque ele é um órgão que o pessoal precisa tanto dele e usa tanto, mas não tem retorno desse pessoal que usa o DIEESE, né, ele teria que ter um respaldo melhor, sabe, porque é o único órgão no mundo que oferece tudo,[ prepara o sindicalista, o trabalhador, dá todas as coordenadas que ele precisa, em todo sentido, e eu acho que ele tinha que ser mais reconhecido, né? Então, eu acho que agora de uns anos pra cacho acho que desanimaram mais e tão mais com o pé no chão, porque a gente antes era aquela loucura que não dava nem pra parar, pra pensar nessa administração,por que cresceu tanto assim e não tem retorno? Eu acho que daí eles começaram a pensar nessa política, eu acho que foi onde começou a tirar o pé da lama, mas pra gente penou muito e muito trabalho, né. Você vê, nunca tivemos uma época assim, “pô,” tá tranquilo”, nunca. Você vê os técnicos, nossa, uma loucura, muitos técnicos aqui, a Vera mesmo que tá há não sei quantos anos, ela nem tinha vida própria! Porque eles ficavam aí até de madrugada trabalhando naqueles planos “Bresser”,eles amanheciam aí e pelo salário que era pouco, entendeu? Porque eles não ganham essas coisas, por isso que eu falo que é tudo por amor mesmo, porque se fosse pra ganhar pelo trabalho deles, nossa, eles estariam ricos, porque muita gente amanhecia aqui, muitas vezes, principalmente nessas mudanças, política salarial e tal, e são muito honestos,de uma credibilidade enorme que é o DIEESE. E a gente sente que é isso mesmo, é o que a gente fala pra esse pessoal que entra, os funcionários, eles ficam preocupados, uns falam, ai,”Ai, eu vou entrar na demissão voluntária porque depois fecha o DIEESE e aí a gente não vai receber, não sei o quê”, eu falo “Oi gente, vocês podem ficar tranquilos que isso não vai acontecer, não, nunca gente”. Eu sempre fiquei tranquila, nunca me preocupei, apesar de que, lógico, afeta a vida da gente. E é assim.
P/2 – E os momentos felizes, os momentos bons?
R – Ai, muito, porque é uma família, né, sempre foi, agora não, muita gente, e muita gente nova e tal, não é tanto, mas antigamente, nossa, final de ano a gente mesmo fazia almoço, se reunia, era uma família, sempre foi. Assim, de um ter um problema, o outro, sabe, ir lá pra ajudar, um ajudando o outro, é uma família mesmo.
P/2 – Quais os trabalhos que a senhora acha que são e que foramimportantíssimos que o DIEESE elaborou pra sociedade, pros sindicatos?
R – Eu acho que o índice de custo de vida, eu acho que, é, os cursos que eles dão pros sindicalistas, preparando eles melhor, eu acho que é legal, acho que, enfim, tudo, a maioria que eles fazem, esses relacionamentos, os escritórios em outros Estados também.
P/2 – Como é a relação? Como é que se dá essa articulação com os escritórios regionais e as subsedes, como é essa articulação?
R – Ah! Tem um coordenador deles que coordena todos os escritórios, e tem um que coordena as subseções, que antigamente acho que eram mais de 60 subseções, mas depois com a crise foi caindo, agora parece que tá também aumentando mais e é tranquilo eles têm reunião sempre que dá, duas vezes no ano reúne todos os supervisores e contato direto com aqui, com o nacional, e, e eles são preparados, eles sempre tão aqui, passam por treinamentos também e reuniões onde eles são orientados, mas a maioria é muito antigo também de DIEESE, muito antigo.
P/1 – Você falou anteriormente que quando você trabalhou com a direção sindical tinha uma certa tensão entre as duas direções, eu queria que você falasse, explicasse um pouco mais por que tinha esse conflito, assim, o que é que era?
R – É, foi por pouco tempo,porque essas direções têm um mandato de três anos, né, e essa direção era nova e tem muitos diretores que, às vezes, não é só novo na direção, mas é também, no movimento sindical. Então, até ele entender o que é o DIEESE... Você acredita que muito sindicalista não sabe ainda bem o que é, como, o que ele pode até exigir do DIEESE, muitos não sabem. E, nessa época, muitos não estavam entendendo bem, porque como cresceu muito o DIEESE sem estrutura, então eles ficaram meio assim, entendeu? Foi, acho que mais,alguns sindicalistas, alguns diretores que talvez ficaram meio assim ou pensando que não estavam"tava" indo na direção que eles queriam, né, então foi por isso que eles se instalaram aí, mas foi por pouco tempo, aí, viu que não é nada daquilo, que a direção é íntegra e tal, aí, eles saíram de novo, mas foi um mal-estar só, rápido.
P/2 – Qual a sua perspectiva em relação ao DIEESE pra um futuro próximo?
R – Olha,eu tenho muita esperança de que vai melhorar, já esteve pior, agora tá normalizando, tá, então, tem muito ainda, mas eu não sei,tenho a impressão que a direção parece que tá se preocupando um pouco mais. Agora tem as centrais também que eu acho que, eu acho que vai melhorar, eu acho.
P/2 – Em que sentido assim mais, poderiam colaborar com a melhoria das condições do DIEESE?
R – Eu acho que valorizando mais o trabalho do DIEESE (PAUSA) E também tem os projetos que também estão entrando, isso ajuda bastante também, eu acho pro DIEESE seguir, porque o sindicato, apesar de ter diminuído bastante, mas eu sinto que eles estão se preocupando um pouco mais, que antigamente não sei se eles se preocupavam tanto, vamos dizer, se eles tinham problema financeiro no sindicato, o primeiro que eles cortavam era o DIEESE, agora parece que eles estão se preocupando um pouco mais e também com a ajuda dos projetos, né?
P/2 – Como são esses projetos, dona Ofélia?
R – Ah, é mantido pelos ministérios, geralmente é com o ministério, parceria, tem as PETs que é com o Governo, então isso ajuda um pouco também.
P/2 – Desde quando esses projetos estão sendo implementados?
R – Ai, já tem..., Começou acho que em 1994 que era o Pcda [(Programa de Capacitação de Dirigentes e Assessores Sindicais]), né, que é esse curso voltado pros trabalhadores, acho que eles ficaram no Pcda que era com o Ministério do Trabalho, acho que foi até 1998, por aí, o Pcda, isso também, nossa, qualificou muito os sindicalistas, porque eram módulos, assim, de 15 dias no hotel, concurso e alunos que foram do Pcda, são é da Direção hoje, entendeu, isso ajudou muitoeles conheceram melhor o DIEESE também.
P/2 – Esses cursos, eles eram de formação para os trabalhadores no sentido de prepará-los para formar os novos quadros dos sindicalistas, dos dirigentes sindicais?
R – É, isso, isso ajudou muito, até pra conhecer melhor o DIEESE, eu achei.
P/2 – A senhora disse que a senhora é casada e que tem três filhos. O que fazem os seus filhos atualmente, eles estão grandes, o que eles fazem?
R – É, meu filho, ele tá no comércio,trabalha com um grupo de representantes e tá lá já há dez anos com esse grupo, então, ele cuida da parte financeira, faz cobrança, vende também um pouco;, ele gosta do comércio. A minha filha do meio, que já é casada, ela tá nessas do meio aqui, ela trabalhou na Anteag [(Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária]),na Secretaria do Trabalho com o Márcio Potman, com a Rosana, foi pra Secretaria do Trabalho lá em Osasco, também, que chamaram ela, e trabalhou no Consórcio da Juventude também algum tempo. Agora também tá a minha outra filha mais nova no Consórcio, que trabalha com o cursinho da Poli, a mais nova tá lá e agora tá numa ONG, aqui o Via Pública, que é do Pedro Paulo, que era Diretor do Cead(Centro de Educação a Distância]), então ela tá trabalhando com ele, já tem seis meses que ela tá lá, que ela saiu de Osasco e foi pra lá.
P/2 – Como é que a sua família vê o seu trabalho, a sua dedicação ao DIEESE, a senhora falou sobre o seu marido, mas e a sua família?
R – Ai, gostam muito, a minha filha, essa mais nova, e quando tinha esse PCDA lá em Atibaínha, eu tinha que ficar às vezes uma semana, então, como ela era a menor, ela ia comigo pra esse, lá ela ficava, ela me ajudava muito lá,então a diretoria conhece ela desde pequena,. Eu ficava com ela lá, porque era muito pequena pra eudeixar, então o meu marido ficava com os maiores, né, e ela lá comigo, então ela adora o DIEESE, conhece, vem até hoje aí e eles gostam muito, tanto é que a minha filha tá no mesmo grupo, tá indo pro mesmo grupo.
P/2 – Quais foram as principais lições que a senhora tirou da carreira, da sua carreira como secretária da Direção Técnica do DIEESE?
R – (PAUSA) Ai, aprendi tanto, sabe, ter mais jogo de cintura, (PAUSA), sei lá, muita tranquilidade, eu tive que aprender, principalmente às vezes pra lidar com o pessoal externo, interno, então eu aprendi muito ter esse jogo de cintura, essa tranquilidade, equilíbrio, né, sempre nas fases difíceis, eu aprendi, porque eu trabalhei muito com o Sergio Mendonça, ele é muito tranquilo, aprendi muito com ele também, nessa parte, ter esse equilíbrio e jogo de cintura com todos, que ele sempre foi muito dez nessa parte, muito humano, sabe, eu aprendi muito com ele.
P/2 – Por que devia ser bastante interessante, a senhora era a pessoa mais próxima, né, aos diretores, então muitas pessoas acabavam chegando pra conversar com a senhora como uma possibilidade de chegar ao Diretor Técnico também.
R – É, até muita gente, às vezes, desabafava, reclamava, falava, então era meio colete de aço, né, porque vinha de tudo ali (RISO), vinha bomba, vinha tudo; nas fases ruins, eu sempre ali no meio de campo, então eu aprendi muito mesmo ali.
P/1 – Até mesmo os diretores desabafavam com você os problemas?
R – É, às vezes a gente comentava muito, porque no fim a gente fica mais com a Técnica, né, e sendo que a Direção Sindical é o que dá né, porque são eles os patrões, na verdade. Então, como eles não ficam aí e cada um age, pensa de uma forma, então, nas assembléias eu sempre participei assim, então a gente fica pensando, a gente comentava entre a gente, falava assim, “Ai, meu Deus, o cara nem sabe o que passa, o que a gente passa aqui, né”. Porque o que fica lá fora em outro Estado, porque são 45 da Direção Nacional e a maioria é de outros Estados, eles vêm duas vezes no ano, ali despeja tudo que tem no ano então a gente comentava sim, você acaba conhecendo cada um, como agir com cada um, o Presidente que fica fora e com você, eles têm que estar mais presente, então, você tem que ficar ligando e aquele jogo de cintura, porque não é fácil, né, não é fácil,Ai, olha, tratando assim com jeito, né, e você tinha, e cada um de uma Central. E nesses Pcda, que era as centrais que indicavam, e aí eu tinha que tá muito atenta, pra ver, ah, esse é da central tal e tal. A gente não queria no início, não queria misturar muito, porque dava choque, mas depois a gente foi, eles foram se unindo também, porque a gente foi com jeito. Então, num seminário que teve na Unicamp, eu era, assim, leiga nesse assunto e eu fui, falei tinha CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores]), STS [Supervisões Técnicas de Saúde], tal, eu não sabia muito bem distinguir. Eu, eu chamei uma menina lá que acho que ela era diretora, falei “Ai você é da Força, não sei quê” – “Pelo amor de Deus, você tá me xingando”. Nossa, eu falei, “Ai, desculpa desculpa”, daí pra frente eu fiquei atenta a isso, nessas correntes, né, eu falei “Ai, meu Deus, Força (Sindical]), CUT (Central Única dos Trabalhadores]), e tal”, por isso que eu falei, eu aprendi muito nisso aí, era essa coisa, agora não, eles já tão se unindo mais através do DIEESE,já não tem aquela coisa,assim, que um não pode olhar pro outro, nossa, melhorou muito! E graças ao DIEESE, melhorou muito. Hoje eles ficam no mesmo quarto, não tem problema algum, mas a gente teve que aprender, né, eu principalmente, que lidava com eles, então...
P/1 – Deixa eu só colocar uma pergunta. Você deixou bastante claro que foi muito importante pra sua vida, o DIEESE trouxe muitas coisas boas, mas você, tem alguma coisa que você vê de negativo no seu trabalho? Teve alguma coisa que foi difícil pra você, enfim, tem alguma queixa que você colocaria em relação ao DIEESE? Só por curiosidade, assim, não, não precisa ser nada, ou não, enfim, queria saber.
R – É, depois que saiu essa última Direção, eu fiquei meio que assim, desmotivada, porque foi muita mudança. Eu fiquei com o (Walter) Barelli um tempo, não trabalhando diretamente, mas tinha muito contato, depois que eu fui mesmo trabalhar com o Sergio Mendonça diretamente, eu fiquei acho que com o Sergio uns dez anos, e tinha o Wilson, tal. Com o Clemente (Ganz Lúcio) eu trabalhei também, mas não diretamente e, na verdade, ele que acabou me tirando do telefone. Foi o Clemente, ele veio do Paraná e começou a me pedir, ele trabalhava com as subseções e escritórios e eu no telefone, ele pedia pra eu agendar reunião e tal, foi onde ele falou “Acho que você deve trabalhar na secretaria, ia ajudar bastante”, então, na verdade ele que me levou pra secretaria. E então, mas depois ele se afastou, voltou e eu não trabalhei mais muito com ele. E aí o Sergio (Mendonça) saiu, eu estava" tão acostumada com o Sergio, que é um perfil muito diferente, os dois são diferentes totalmente, ai eu falei “Ai, meu Deus”, eu já tinha passado aquela fase de salário atrasado e tudo, muito trabalho, eu fiquei desmotivada, sinceramente, eu fiquei, eu falei “Aii, agora muda tudo radicalmente”. E o Clemente é mais exigente, né, e eu falei E agora?”, eu com essa idade, muito tempo e ele queria mudança brusca. Aí eu fiquei desmotivada, pensei até em sair, aí eu falei “Ai, meu Deus”, mas, aí senti muito com a... Eu tinha muita afinidade com o Sergio, com o Wilson, com a Dedé e saiu todo mundo, Solange, Prado, nossa, foi mesmo e eu, muitos anos trabalhando com eles, falei “Eu acho que ele não vai ficar comigo, eu...”, aí eu fiquei, fiquei bastante desmotivada, mas eu falei “Ah, é um desafio, vamos lá” e fui, enfrentei. Aí, no início, ficou meio assim, eu era meio..Ele também, ele é mais sério, falei “Ai meu Deus”, mas daí a gente já tá se acertando, eu acho, né, não sei ele, mas eu já tô mais tranquila, eu sei que ele é bem diferente, mas eu faço o que posso, eu falei, “Ah, qualquer coisa ele vai chegar em mim e fala, aí e pronto”, tudo bem, ou muda de função ou descarta, sei lá. Mas eu fiquei até, depois eu falei até com o Serginho, “Ai, Serginho, eu não sei se eu vou ficar, não sei se ele vai ficar comigo, né”, ele falou “Ah, calma, calma”, que é duro gente, olha mudar assim, radicalmente, não é fácil, tudo, mas estamos aí“, vamos ver que é que dá.
P/2 – O que a senhora pensa da sua participação nesse projeto “Memória DIEESE 50 anos”?
R – Ah, é gratificante, muito bom, você falar, porque é um lugar, que eu só trabalhei praticamente aqui, toda a minha vida assim. Eu acho que é gratificante, eu gosto do DIEESE, trabalho porque gosto. Fiquei, olha, em 2003, sem receber três meses, eu e meu marido, foi uma barra, minha filha casou nesse mês, então não foi fácil pra gente e eu não desanimei, ainda dei forças pro meu marido que ele já não tá tão assim com o DIEESE como eu, né, e passamos uma boa. Então acho que é por amor mesmo, porque, nossa, muita gente não aguentou, saiu, porque não, mas eu fiquei, eu apostei, porque eu gosto muito, gosto mesmo, trabalho por amor aqui.
P/2 – Muito obrigada então pela sua participação no projeto.
R – Obrigada, eu.
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