Cheguei à Metrópole no final da década de 1990. O primeiro lugar onde morei foi em Santana. Nunca havia andado de metrô sozinho e ao chegar ao terminal do bairro, vindo da rodoviária do Tietê, meu amigo que me recebera em uma república de colegas da minha cidade, foi me buscar para que eu nã...Continuar leitura
Cheguei à Metrópole no final da década de 1990. O primeiro lugar onde morei foi em Santana. Nunca havia andado de metrô sozinho e ao chegar ao terminal do bairro, vindo da rodoviária do Tietê, meu amigo que me recebera em uma república de colegas da minha cidade, foi me buscar para que eu não me perdesse.
Quando eu era criança e morava no interior, sempre ouvia os mais velhos dizerem: “─ Jamais moraria em São Paulo... aquela loucura, trânsito, violência, poluição...”. Fiquei com aquilo na cabeça. O tempo passou e cá estava eu, recém-saído da faculdade de engenharia cursada lá no interior.
Meu primeiro emprego aqui foi em uma obra na Av Berrini: prédios modernos, muita gente bonita. Aquilo me impressionava. Cruzava a cidade de ônibus pra trabalhar, pois tinha medo de ir de carro. Só tomei coragem de me arriscar no transito dirigindo quase um ano depois. A cidade não era mais a terra da garoa, como nos tempos em que eu vinha de excursão ao Playcenter na década de 1980. Era a terra dos temporais, que alagavam tudo castigando a cidade, como nos dias de hoje. Minha mãe quando via aquilo na TV nos programas da tarde, me ligava preocupada pra saber se eu não tinha ficado sitiado em alguma enchente. Apesar daquela certa resistência com a cidade uma coisa que sempre me deixava curioso, era saber como seria assistir a um jogo do meu time de coração ao vivo num estádio.
Um dia, saindo do trabalho, tomei coragem e fui ao Pacaembu numa terça-feira à noite. A chegar ao estádio, vendo aquelas luzes acesas, a arquibancada ainda com poucas pessoas, aquilo me marcou muito, pois se tratava da materialização de um sonho de criança. Vi naquela noite a vitória do Corinthians frente ao Juventus por um a zero, jogo simbólico para quem já estava se apaixonando pela cidade.
Na agitação do dia-a-dia, pensava que tudo aquilo era provisório, que logo, logo arrumaria um emprego no interior e voltaria. Porém nas horas de lazer, diante de inúmeras opções pensava que tudo aquilo era muito bom, não tinha como abandonar tudo isso e voltar. Depois de Santana, morei em vários lugares: na vila Mariana, na Saúde, no Centro, na Vila Prudente e até andei cometendo infidelidade morando em Santo André, em Osasco e em Barueri, mas sempre trabalhando em São Paulo.
Hoje estou de volta e moro na Barra Funda, bem próximo do terreno hoje vazio onde vinha de ônibus à Sampa na minha adolescência com meus amigos e minha namorada (hoje, minha esposa) brincar no famoso parque de diversões. Nas minhas andanças pela cidade ouço os paulistanos da gema dizerem: “─ Isso aqui é uma loucura, já não aguento mais, transito, enchente, violência... Quando me aposentar, quero ir morar no litoral ou no interior...”.
Eu, hoje, que já me rendo à minha paixão pela cidade, como paulistano “naturalizado” penso comigo: “─ Eu, quando me aposentar, quero mesmo é morar em São Paulo!”.Recolher