Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Jaceline Silva Campos Basílio
Entrevistada por Stela Tredice e Pablo Downey
Três Pontas, 22 de maio de 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento MCE_CB016
Transcrito por: Bruno Weiers
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Oi Jacelin...Continuar leitura
Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Jaceline Silva Campos Basílio
Entrevistada por Stela Tredice e Pablo Downey
Três Pontas, 22 de maio de 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento MCE_CB016
Transcrito por: Bruno Weiers
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 –
Oi Jaceline. Fala pra gente seu nome completo, novamente, o local e a data de seu nascimento.
R – Jaceline Silva Campos Basílio, nasci aqui em Três Pontas no dia 21 de maio de 1964.
P/1 –
E como era a sua infância aqui? O que você fazia, do que você gostava de brincar? Como era o seu cotidiano?
R – Ah, a gente brincava na rua, né? Cidade do interior, brincava de jogar bola, de jogar queimada, brincava muito de boneca. Escola era pertinho, ia e voltava a pé sozinha. Não tinha muita coisa assim diferente, não.
P/1 –
E a cidade mudou muito? Você sente que mudou muito?
R – A cidade mudou, não muito, não. Assim, cresceu, mas não acho que mudou muito não. Mudou que na minha infância eu ia pra todo lugar a pé sozinha, hoje meu filho não vai mais, né? Já não tá mais daquele jeito. A gente deixava a porta aberta, não existia trancar a porta. Então a porta estava sempre aberta, quem chegasse aqui entrava pra dentro de casa: “Oi!”. Não tinha que tocar campainha, nem essas coisas.
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E nessas suas brincadeiras de criança incluía canto também, por exemplo?
R – Não. Sempre fui péssima de canto (risos). Ninguém gostava. Aqui em casa era só a mãe mesmo e o Bituca. Tinha o teatrinho, isso a gente fazia, uns teatrinhos assim, mas cantar, não.
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E você se lembra da sua mãe cantando?
R – Me lembro. Ela cantava sempre. Qualquer... Ela gostava muito de cantar.
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O que ela cantava?
R – O que ela cantava? Cantava... (risos) Sei lá, o que ela ouvisse no rádio, né?
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Modinha, tinha alguma musiquinha em especial?
R – Uma musiquinha em especial? Não me lembro.
P/2 – E fora de casa, ela canta em algum coral? Tinha alguma atividade?
R – Não, na minha época, não, já. Mas eu sei que ela cantava antes, né? Eles tinham aqui, quando o Bituca era criança, tinha negócio de quermesse da igreja, aí eles cantavam. Ela canta e o Bituca tocava aquela sanfoninha dele. Ela diz que era a barraca que mais vendia, que mais arrecadava dinheiro pra igreja. (risos)
P/2 – E o que eles cantavam?
R – Ah, não sei o que eles cantavam, pra te falar a verdade.
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Qual é sua diferença de idade?
R – A diferença de idade são vinte e dois anos. Então, quando eu nasci o Bituca já tinha mudado pra Belo Horizonte, foi no ano que ele mudou, já estava começando a carreira dele, né? Então a gente conviveu mais assim: de ele vir pra cá, de eu ir pra casa dele, mas a gente não chegou a morar na mesma época junto aqui.
P/2 – Você tem alguma lembrança, independente dele morar fora, quando ele vinha aqui, alguma lembrança de criança, alguma coisa que te marcou na tua relação com o Bituca nessa sua infância?
R – Ah, eu era muito grudada nele. Porque o Bituca tem uma coisa muito forte com criança, até hoje, todas adoram ele. E eu era doida com ele também. Ele chegava, a gente deitava junto no sofá. Tem foto aí, a gente deitado junto no sofá. A mãe fazia umas bolachinhas de nata que ele adorava. Punha uma latinha de natinha de lata, a gente ficava deitado ali debaixo do cobertor. Não sei como que cabia a gente no sofá ali da sala. Ele contava muita história. Eu perguntava muito, enchia o saco dele, ele reclamava um pouco. Mas ele gostava no fundo, né? Eu falava: “Posso perguntar uma coisa?”. Aí ele: “Pode”. Então ele sempre foi muito carinhoso, assim, brincava muito. Contava umas bobagens assim, tinha um negócio que eu não conseguia falar de jeito nenhum. Ele ficava: “Num ninho de mafagafos, quatro mafagafinhos há. Quem desmafagafenizar o ninho, bom desmafagafenizador será”. E eu achava o máximo, porque eu não conseguia falar de jeito nenhum, né? Aí eu tinha que repetir aquilo o dia inteiro. Então tinha umas coisinhas assim que ele sempre falava com a gente, era bom.
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E da música, ele tocava, cantava alguma coisa aqui em casa contigo? Você se lembra de acompanhar ele, alguma coisa assim, em alguma música?
R – Alguma música assim, não. Ele tocava quando tinha mais gente reunida. Mas não era muito, não.
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E você estava me contando que você foi morar uma época em Belo Horizonte, né? Você foi trabalhar. Foi nesse período que você foi pra faculdade?
R – Foi. Eu fui pra lá pra estudar. Em 1983. Bituca morava lá nessa época. Aí morei com ele um tempo, depois fui morar numa república com umas amigas, ele comprou um apartamento. Aí fiquei lá, aí estudei, me casei, depois vim embora.
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Que curso você fez?
R – Fiz Turismo.
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Por que você escolheu Turismo?
R – Porque isso é uma coisa que me interessa assim, História, Geografia, coisa que me agrada, né? Gostei de fazer. Mas depois acabei não trabalhando com Turismo. Trabalhei em loja, depois trabalhei em confecção de enxoval. Depois mudei de lá, fui pra Lavras, fiquei três anos em Lavras, mas eu queria era voltar pra cá, né? Porque minha mãe estava aqui sozinha com o pai, eu queria ficar com eles. Já estavam ficando velhos.
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O que você acha que tem nessa cidade que é tão fecunda pra formação de grandes músicos?
R – Grandes músicos, né? É. Não sei. Todo mundo aqui gosta muito, né? Sempre tem uma reunião assim, um toca, não sei o quê. Eu acho que é talento mesmo pessoal. Sei lá, não sei explicar, não.
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Você acha que a paisagem, alguma coisa que influencie.
R – (risos)
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Não? Não tem nada assim, as Três Pontas, nada disso?
R – Não.
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E por que chama Três Pontas?
R – Porque tem uma Serra que é um pouco longe que tem três pontas, assim de um ângulo, você vê três pontas, dos outros não. Mas são três pontas, aí ficou. Mas no início chamava Arraial das Candongas, quando era um arraial. Sabe o que é candonga?
P/1 –
Ãn.
R – Língua de fofoca. (risos) Devia ser aquela coisa aí assim. Aí depois passou a ser Três Pontas, quando virou cidade, por causa da Serra.
P/1 –
E você se lembra da sua infância de festas populares, de procissões, o que tinha em termos de manifestação cultural aqui?
R – Ah, mais religiosa mesmo, né? Procissão de Semana Santa, Corpus Christi, essas coisas. Tinha cinema, tinha algumas coisas. O carnaval era muito bom, depois foi caindo, mas era chiquérrimo, muita gente animada, muita gente de fora, escolas grandes. Tinha dois cinemas também na época, a cidade era pequena pra ter dois cinemas, muito movimento. E sempre teve muita música em bar, né? A gente ia muito pra pracinha, tocar violão, a turma, essas coisas.
P/2 – Das recordações da sua mãe, [além da] música. Como ela era? Como era o jeito dela? Ela tinha alguma coisa que te marcava, ou te marcou muito?
R – Ela era (suspiros segurando o choro).
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Quer parar um pouquinho? A gente para. Quer tomar uma aguinha?
R – Não, posso falar.
(PAUSA)
P/2 – Bom, a gente estava falando sobre sua mãe, as recordações mais fortes.
R – É, o que ela mais passou pra gente, ela era uma pessoa muito alegre, sabe, de dar gargalhada, assim. Muito carismática. E não tinha ninguém que não gostasse dela, sabe? Até hoje, as minhas amigas, todo mundo fala: “Ah, a tua mãe!”. Todo mundo tem saudade. (voz chorosa) Época de aniversário meu, sempre tinha festa. Ela sempre adorava fazer festa, ela que fazia doce, ela que fazia o bolo, e todo mundo fala: “Ah, você lembra como é que era, como é que fazia? Você tem a receita? Era muito gostoso de fazer. Comida boa. Ela era assim, superagradável com as pessoas, sabe? Era...
P/2 – E da relação dela com o Bituca? Você se lembra?
R – Ah, eu acho que eles são assim, de outras vidas, os dois. Eu acho que são almas gêmeas, alguma coisa assim. Porque era uma cumplicidade imensa que eles tinham, muito forte. Eu acho que já era pra ser junto, eu acho que eles ainda vão viver muitas vezes junto de novo. (risos) É muito legal.
P/2 – Ela gostava de cantar e o Bituca é músico.
R – É.
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Eles cantavam? Faziam alguma farra assim, musicalmente?
R – É, quando tinha assim, uma festa, né, um Natal, uma coisa que ele tocava, ela cantava. Ela não podia ver uma música que ela cantava. Ela gostava.
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Parece que o fusquinha 62 ficou com você, né?
R – É, tá guardado lá em casa, ficou lá em casa, tá lá, guardado.
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Conta um pouquinho da história desse fusquinha.
R – Todo mundo aprendeu a dirigir no fusquinha. (risos) Ele é 55, 56, uma coisa assim.
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Ah, é?
R – E hoje eu vou tentar dirigir, eu não sei como é que a mãe dirigia aquele carro, ela é marcha seca, você tem que parar pra pôr primeira, senão ele não anda de jeito nenhum. Aí uma vez a gente foi pra, não sei como. Bituca morava em Piratininga, lá em Niterói e nós fomos passear na casa dele. Foi o Jacaré dirigindo, o pai, a mãe, eu, a Beth, e dois primos. Não sei como. (risos) Que nós fomos naquele Fusca, mesmo sendo todo mundo pequeno, fomos para lá. E ele andava pra todo lado, a gente ia para o Rio, voltava, o tanque de gasolina tem uma coisa enorme, assim. O pai ia olhar lá dentro se tinha gasolina, não marcava. (risos) Era bom o Fusca, andava pra todo lado.
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E o Bituca colocou um apelido nele?
R – Vovô. Ele chama Vovô.
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“Vovô” ele colocou o apelido dele?
R – É, do Fusca. Porque é um vovô, mesmo.
P/1 –
E o Antônio, quem era, o carro com apelido de Antônio?
R – Ah, eu acho que era um carro que ele tinha, um Fusca branco. Primeiro carro que o Bituca comprou.
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E porque que era Antônio?
R – Ah, não sei. Ele gosta de pôr nome em tudo. Ele tinha uma piscina que chamava Priscila. Ele tem essas coisas. Ele denomina tudo.
P/2 – E você relatou aqui que em uma época em Belo Horizonte, na sua época de faculdade, você morou com o Bituca. Isso foi há quanto tempo? Como é que foi essa experiência de universidade?
R – Foram alguns meses, não foi muito tempo. Foi bom, ele estava mais caseiro na época e foi quando a gente começou a conviver mais na verdade, né, foi quando eu fui pra lá. Eu fiquei lá uns meses. Onde ele ia, eu ia junto, ver show, essas coisas, nadava muito na tal da Priscila, fazia churrasco, né, na época do Marcinho Ferreira, ele gostava de fazer churrasco lá. Era bom. Aí só que depois, eu tinha vinte anos, ele acabou falando: “Não, Jajá”... Comprou um apartamento aqui pertinho aí eu comecei a morar com uma amiga. Mas estava sempre junto, sempre almoçava na casa dele. E o Bituca é muito pai assim, ele tem essas coisas.
P/2 – A sua relação com ele, como é que você poderia descrever? É uma relação assim, você se vê com ele atualmente, mantém um contato?
R – Tenho. Sempre. Me liga, eu ligo, sempre. E ele está sempre por dentro do que está acontecendo, né, tem muito contato. As crianças...
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Você continua indo muito a shows, ou ia. Vi fotos suas desse Woodstock que teve aqui, né?
R –
É. (risos)
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Eu vi você lá com seus pais. Conta um pouquinho dessa experiência de participar dos show, de assistir.
R – É, sempre que eu tenho oportunidade, eu vou. Agora mais do que antes eu ia. Quando eu era criança eu ia a alguma coisa, né? Ia no Rio às vezes, mais no Rio, porque a família da minha mãe morava lá também. Até nessa época eu ficava na casa de uma prima minha, não ficava na casa dele, não. Aí, depois que eu mudei pra Belo Horizonte foi que eu comecei a ver mais, né? Aí sempre que tem... Aí depois eu vim pra cá. Então, tem que sempre sair daqui pra assistir. Mas sempre que tem estreia, todo show que tem, eu vou, ensaio, vou assistir. O “Tambores de Minas” a gente foi um monte. Porque a Julia era pequena, minha menina, ela tinha dois anos e meio, três, a gente ia pra todo lado com ela. Ela adorava o show, a gente ia muito.
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Voltando um pouquinho pra sua infância, você se lembra da bodas de prata que teve dos seus pais aqui?
R – Pouco, não me lembro muito, não. Me lembro assim do povão, que virou uma festa enorme. Um monte de gente, eu sei que a minha vizinha, aqui da mãe, ofereceu a casa dela, ficou um monte de gente hospedado ali e ela disse que no dia só não tinha gente comendo no banheiro. Porque a casa estava entupida de gente, mas a minha memória é meio fraca, não lembro muito não.
P/1 –
Tinha seis anos, né? Seis, em 1970, não foi?
R – Não, foi em 1975.
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1975? Ah, tá. Então você já era...
R – Não é 1975? Não, 1970! (risos) Eh, tô ruim! É, vinte e sete, tá certo, 1970.
P/1 –
Por isso que eu falei.
R – É, não tem jeito de eu lembrar.
P/1 –
É, pequenininha, por isso.
P/2 – E do Clube da Esquina, do disco?
R – Pois é, o disco, eu conheço assim, depois que eu cresci. Mas eu não participei daquela época de gravação, aquelas coisas. Eu estava mais em casa ainda.
P/2 – E tem alguma música que você gosta mais? Mexe mais com você?
R – Ah, o “Clube da Esquina” mesmo, né? Que eu gosto muito. É, o Fusca...
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Você acha que seus pais tinham uma outra projeção para o Bituca, por exemplo? Imaginar que ele fosse médico... Você lembra de alguma coisa?
R – O pai, assim, matemático, né? Seria uma coisa mais certinha. Tanto que ele teve que fazer Contabilidade, né? O Bituca queria tocar e tal, e ele falou: “Não, você vai tocar se você quiser, mas, além de ter talento, tem que ter sorte. Então você vai ter uma profissão”. Aí ele teve que fazer Contabilidade. Mas lá depois ele acabou desistindo de fazer faculdade. Mas o pai queria uma coisa assim. A mãe não, acho que a mãe já sabia que ele ia ser isso mesmo. Desde pequeno ela via que não tinha jeito de escapar.
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E você imaginava ter um irmão assim? Qual que...
R – É, pra mim, pra gente, sempre foi muito natural porque ele já tinha uma carreira, né? Já era um músico. Então, eu custei a entender que, é igual hoje, a Julia, hoje ela tem oito anos, e fala: “Nossa, mamãe, eu tenho um tio que é uma celebridade”. Agora tá esse papo de celebridade, né? Mas é porque a gente vai convivendo com aquilo e você acha que é assim mesmo, natural, não tem muito deslumbramento, não. A gente sempre foi muito, o Bituca sempre foi muito simples, nunca teve muito glamour. Então, pra gente era isso, que tinha que ser ele mesmo, né?
P/1 –
E do Clube da Esquina então, você, mesmo não tendo participado, você tem a questão de ser presente, esse disco ser muito forte?
R – Ah, sim, muito forte. A gente sabe que é um movimento nacional que mexeu com muita gente, né, superimportante. Que puxou os menino tudo novinho, né? Como foram capazes de fazer uma coisa assim, forte desse jeito? Gente que estava começando, né?
P/1 –
E a sua filha escuta esse disco?
R – Escuta às vezes. Não é... Escuta também.
P/2 – Mas e quando você tomou conhecimento desse disco, quando você começou a ouvir esse disco já tinha sido lançado, ele já era uma pessoa conhecida, enfim. Como é que isso mexia com você no seu cotidiano nessa relação com as suas amigas, seus amigos, seus colegas, enfim, na escola? Isso era uma coisa que pra você tinha uma importância? Como é que era isso?
R – Ah, é. É, as pessoas olham pra gente com outros olhos, mesmo, né? “Nossa, aquela é a irmã do Milton Nascimento”. Tem aquele negócio, né? Agora na época da minha infância, eu não me lembro direito. Eu sou, não sei.
P/1 – Ficou a imagem de vocês debaixo do cobertor comendo biscoitinho de nata, né?
R – (risos)
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Além dessa, tem alguma outra?
R – Mais assim. É... Tem uma que ele me fez uma vez que a gente estava indo pra Niterói. Não, quer dizer, é uma lembrança, né? E eu estava perguntando, perguntando, perguntando, aí ele olhou pra minha cara e falou assim: “Você sabe o que é que tem?”. A gente estava naquela barca, na balsa, ele falou: “Você sabe o que é que tem lá embaixo?”. Eu falei: “Sei”. “Pois é, tubarão, baleia…” Ele falou só aqueles, peixe-espada. (risos) “Se você fizer mais uma pergunta, você vai parar lá embaixo, agora mesmo.” (risos) Fiquei quietinha até atracar. Na hora que chegou, eu falei: “Agora pronto, posso começar de novo”. Então ele gosta de dar umas, perde a paciência de vez em quando.
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A coisa do irmão mais velho?
R – É. (risos)
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Mas vocês não tinham idade pra brigar entre vocês, né?
R – Não, não.
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E Elizabeth? Fala um pouquinho dela pra gente.
R – A Beth, a gente conviveu bastante, né? E ela participou mais também dessa coisa do Bituca, porque ela saiu de casa mais cedo, então ela lembra de muita coisa, ela participou bastante disso com ele.
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E tem o Luiz Fernando, não é?
R – Tem. O Fernando já é mais, eu também não convivi com ele. Ele se mudou logo para o Rio, se casou e vinha um pouco aqui. E ele, na verdade, é filho de uma prima da minha mãe. Então não sei nem se convém, assim, mas a gente sempre foi, tem uma relação mas não é tão chegada, é mais assim. Porque ele se distanciou mais, então a gente nunca conviveu muito não. É mais a Beth, o Fernando e eu mesmo, não, o Bituca.
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São os três irmãos.
R – Os três mesmo, que a gente tá sempre sabendo de tudo aí, apoiando e não sei o quê, essas coisas de família. E eu acho interessante porque ninguém é irmão de ninguém e todo mundo é irmão. Então é interessante. Isso acontecia muito, a minha mãe ficava muito chateada aqui na cidade porque eles falavam na frente da Beth. Às vezes a gente estava andando: “Qual é a sua filha de verdade?”. A mãe queria matar, sabe? “As duas são minhas filhas, né?” Então era uma coisa que na época não existia, isso assim aqui, principalmente no interior, desse tamanho a cidade. O povo não adotava criança, criava, como o empregado da casa e tinha que achar muito bom porque ele tinha comida, tinha escola, tinha tudo, né? Então não era filho. Então quando o Bituca veio pra cá teve muito esse choque, né? Porque ele estudava, ele passeava, ele tocava, ele era um filho. Então teve esse problema. E a Beth também ainda passou por isso. Mas pra gente nunca teve nada de diferente, a mãe sempre fez questão de mostrar que não tinha diferença nenhuma. Até quando ela me contou que a Beth era adotiva também, quer dizer, que eles eram adotivos, não sei quantos anos eu tinha. Que não tinha nascido da mesma barriga, não sei o quê. Aí eu falei assim: “Mas o Bituca sabe?”. (risos) Então era uma coisa tão natural pra gente ser irmãos, sabe, que eu não tinha diferença nenhuma.
P/1 –
Nossa, sua mãe, seus pais, né, figuras superespeciais. Independente dele ter se tornado ou não famoso, mas coração imenso, se todo mundo pensasse que nem eles, né? A gente não teria tanta criança abandonada, né? Muito legal.
R – Com certeza.
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Realmente fiquei emocionada quando eu entrei aqui. Falei: “Nossa, que bonito isso aqui”.
R – É, bonito sim. É muito bom fazer parte disso, sabe? Ter o privilégio de ter sido educada por pessoas assim. Convivido com eles, né? E ter recebido os valores que eles passaram pra gente.
P/2 – E sua filha, você consegue traduzir pra ela esses valores também? E como é que é, o que que ela acha disso tudo?
R–
É, eu tento passar isso pra ela, né? Ah, sei lá. (risos)
P/2 – Não é fácil, né?
R – Mas eu tento passar sempre o que eu recebi, né?
P/1 –
Legal. Tem alguma mensagem que você gostaria de deixar sobre a sua participação? O que você achou de ter participado dessa entrevista? O que você está achando desse projeto, enfim, uma coisa que você gostaria de falar sobre o Museu Clube da Esquina.
R – É, eu sou péssima pra falar, sabe? (risos)
P/1 –
Você falou até agora, tá muito bem, não parece. (risos)
R – Sempre: “Ai meu Deus, que que eu vou falar”. Que eu só fico meio constrangida, né?
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É,
não. Você tem que se sentir à vontade. Se você quiser também, né, se você achar. Dessa bagunça que a gente está fazendo aqui, o que você acha que isso está sendo para o seu pai?
R – Não, meu pai acha ótimo o movimento. Porque está, né, a cabeça dele, ele está aí no dia a dia, né, não está parado no tempo. E é muito legal, não sei falar.
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Tá bom. Obrigada, Jaceline. Prazer.
R – Igualmente.
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Muito legal seu depoimento.
R – Obrigada a vocês. (risos)Recolher