Meu nome é Iranildo Silva de Oliveira. Sou de Miguel Calmon (BA), mas desde 2013, resido em Luís Eduardo Magalhães (BA) e vou contar como o empreendedorismo norteou a minha trajetória de lá até aqui.
A veia empreendedora eu tive desde menino. Filho de uma família humilde de agricultores, eu a...Continuar leitura
Meu nome é Iranildo Silva de Oliveira. Sou de Miguel Calmon (BA), mas desde 2013, resido em Luís Eduardo Magalhães (BA) e vou contar como o empreendedorismo norteou a minha trajetória de lá até aqui.
A veia empreendedora eu tive desde menino. Filho de uma família humilde de agricultores, eu ajudava o meu pai no plantio da roça, na zona rural de Miguel Calmon, na Bahia. Nos dias de feira, coletava frutas na fazenda do avô para vender na cidade. Dessa forma, conseguia uns trocados para comprar sandálias. Meus pais não tinham condições de nos dar tudo. Aos 10 anos, eu já tinha minha própria roça de mandioca e uma plantação de maracujá amarelo, que me garantiam uma renda extra. Aprendi as letras e os números com minha mãe, que à noite passava a cartilha comigo e meus irmão. Alfabetizado por ela, saltei de turma quando entrei na escola, aos 10 anos.
Troquei a roça pela cidade aos 13 para cursar a quinta série. Com toda a sorte de bicos garanti um dinheirinho para viver. Quebrei pedra, trabalhei em olaria, vendi picolé e acarajé. Meu primeiro emprego fixo foi numa panificadora. O segundo ensinou-me a profissão que eu levaria para a vida. Fui contratado como ajudante de desmonte numa estofaria. Com o tempo, aprendi o ofício da reforma e construção de estofados. Quando o dono decidiu fechar as portas, tomei coragem e assumi o negócio. Fazia cópias dos móveis que via em catálogos e revistas até o dia que uma cliente me desafiou a criar um divã. Ela depositou em mim uma confiança que nem eu mesmo tinha. A execução com sucesso abriu caminho para minhas próprias criações.
A minha vida deu uma virada quando, em 2009, visitei minha sogra que havia se mudado para LEM, também na Bahia. Próspera por conta do agronegócio, a cidade ganhou fama de lugar fértil para o trabalho e o dinheiro. Deixei tudo para trás em Miguel Calmon e me mudei com a família em 2013. Quebrei a cara. Sem clientela na nova cidade e com entraves para abrir meu próprio negócio, tive que pegar serviço com outros tapeceiros. Enfrentei a crise apostando na excelência do meu trabalho. Consegui remontar minha estofaria e, hoje, sou requisitado, inclusive, pelos melhores arquitetos da cidade.
Com a vida nos trilhos, era hora de resolver outra questão que me afligia. Desde que cheguei a Luís Eduardo Magalhães, percebi certa desorganização nos bairros, um fenômeno próprio de uma cidade em crescimento desenfreado. Decidi formar, então, uma associação de moradores dos bairros Jardim dos Ipês e Tropical Ville II. Durante esse processo, conheci o projeto de desenvolvimento comunitário que o Instituto Lina Galvani estava lançando em LEM. Participei desde as primeiras rodas de conversa, que abordavam os sonhos da comunidade e as transformações que todos gostariam de ver na região. A metodologia das rodas foi uma escola para mim. Aprendi a valorizar mais a comunidade e a parar para ouvir a opinião do outro.
Lembro que descobri a força da mobilização popular na realização de um desafio lançado durante esses encontros: a construção de uma praça em apenas dois dias. Participei da organização e usei todo meu tino vendedor na busca de doações do material necessário para a obra. O lado criativo deu origem a um pula pula feito de pneus velhos.
O mutirão atraiu toda a comunidade e, em um final de semana, nascia a Praça Anna Zapponi. Foi surpreendente. Me dei conta que, juntos, somos capazes de realizar o que desejarmos.
A experiência me motivou a participar da etapa seguinte do projeto de desenvolvimento comunitário. O Instituto Lina Galvani lançaria o edital Ideias e Ações, de apoio a iniciativas sociais nas áreas de cidadania, cultura, lazer, educação e saúde, e planejou uma série de oficinas preparatórias para orientar os moradores na formulação dos projetos. Muito do que aprendi sobre temas como planejamento e organização financeira já apliquei não apenas no edital, mas também na minha empresa.
No momento de decidir seu projeto, eu tinha uma certeza: envolveria o karatê. Eu pratico a arte marcial desde os tempos em que vivia em Miguel Calmon e cheguei a ser campeão brasileiro da modalidade, em 2008. Até pensei em me tornar profissional, mas comecei numa idade avançada para o esporte de elite. Por experiência própria, sei que essa arte marcial desenvolve postura, alinhamento do corpo, raciocínio rápido e tranquilidade. Trabalha a mente e o corpo.
No projeto Escola de Karatê Shotokan, um dos selecionados do edital Ideias e Ações, meu foco está nas crianças e adolescentes. Minha proposta é oferecer a eles uma atividade que melhora a coordenação motora e o condicionamento físico e trabalha, por meio dos preceitos dessa arte marcial, a educação, a autoestima e os valores para a vida em comunidade. O principal deles virou o meu lema, tanto no karatê, quanto no mundo dos negócios: respeito acima de tudo.Recolher