Infância
Meu nome é Marcos Muller eu nasci em São Paulo, no dia 30 de janeiro de 1958, na maternidade São Paulo.
O nome do meu pai é Aloris ou Aluís em português, Aluís Muller. O nome da minha mãe é Diva Baes Gouvêa, ambos são brasileiros meu pai era neto de alemão, e não tenho irmão...Continuar leitura
Infância
Meu nome é Marcos Muller eu nasci em São Paulo, no dia 30 de janeiro de 1958, na maternidade São Paulo.
O nome do meu pai é Aloris ou Aluís em português, Aluís Muller. O nome da minha mãe é Diva Baes Gouvêa, ambos são brasileiros meu pai era neto de alemão, e não tenho irmãos. Então, por parte de pai tem esse lado alemão, mas é bem distante. Meu avô materno é português, e minha avó materna é filha de espanhol.
Meu pai era marceneiro depois virou comerciante, minha mãe foi esteticista, enfim trabalhou na Helena Rubinstein aquelas empresas de cosméticos.Meus pais moravam na cidade jardim, naquela época meu pai tinha uma mercearia na cidade jardim. Logo depois eles se separaram, e eu fui viver na Lapa com meus avós, nesta época eu tinha três ou quatro anos, assim morei até os nove anos em Hamburguesa Vila Leopoldina.
Morei na, rua Bela Aliança, tinha um campinho de malha na esquina, um bairro bastante operário, na época Vila Leopoldina, a estação de trem, lembro quando construíram o industrial que hoje é a escola
Basilites Godoy.Tenho algumas lembranças da molecada jogando bola na rua, enfim até os nove anos.
Jogávamos futebol, jogo de botão, bolinha de gude, peão, pipa, carrinho de rolimã. Tinha bastante espaço
naquela época. Depois eu mudei para esse lugar onde eu moro, hoje e já fazem 39 anos.
Minha mãe saia cedo para trabalhar, eu era criado pela minha avó. Aquela, ligação, criação de avó, Super avó, comer na hora certa, enfim,.mas, depois como era um bairro também bastante tranqüilo, Vila São Francisco era muito tranqüilo,os pais não se preocupavam muito e agente ficava na rua brincando, as ruas de terra, só se preocupavam um pouco porque tinha uma lagoa ali onde é o campo de golfe, ali tinha uma lagoa, e ali era a preocupação maior. Mas fazíamos campinho na enxada, enfim, inúmeras brincadeiras. Tive uma infância que parecia uma infância de cidade de interior, prazerosa.
Adolescência/ juventude
Já na adolescência, saía vinha até o centro esportivo.
Então, como era um bairro relativamente afastado, nós convivíamos muito com os amigos, tanto é que nós somos amigos até hoje. Toda ultima sexta do mês, nós nos encontramos para matar as saudades.Casamos com as vizinhas, com as irmãs dos amigos. Nós saíamos geralmente para fazer o colegial, porque não tinha nenhum colégio, nenhuma escola que tivesse o ensino médio, o período chamado de ensino médio.
Eu acredito que foi muito interessante, acredito que a gente criou uma identidade, você ficar no bairro por muito tempo, você passa a ser reconhecido pelas pessoas, pelos pais dos amigos, as casas, as pessoas também freqüentavam a sua casa,eu achei que foi importantíssimo, porque foram amizades que permaneceram.e prazeroso por conta do espaço. Teve tipo uma época que a gente começou a fazer bailinho de garagem, tem uma questão engraçada que os pais passavam Cascolac na sala, eles só deixavam fazer baile na sala se fosse de meia, para não riscar o Cascolac.
Então, eu casei com uma vizinha, irmã de um amigo meu de infância, que eu sou padrinho de casamento do filho dele,eu tenho dois filhos uma moça de vinte e dois, e um moço que vai fazer vinte e um, no próximo mês.
Meu primeiro trabalho, carteira registrada, foi bancário no caixa do BANESPA.
Opção vocação
Bom, eu sempre gostei, de ser professor mas aí naquele momento de decisão para prestar o vestibular, eu acabei optando pelo curso de administração, fiquei na faculdade três anos, apreendi muito, amadureci, vi realmente que o meu viés socialista não batia com o curso que era oferecido, e comecei a trabalhar numa pesquisa de historia econômica, com a professora Alice Canabrava, aí tomei coragem, rompi com o curso de administração, fui para a faculdade de História (departamento de História da faculdade de Filosofia e Ciências Sociais), e acho que valeu a pena.
Quando decidi ser professor, não imaginava que era muito mais importante daquilo que eu entendia, as comunidades muito carentes, as favelas, as crianças, tinha muito pouco espaço, a escola era praticamente tudo, tinha muito pouco afeto, e as vezes um sorriso, uma atenção especial acabava ajudando muito.
Enfrentada em relação a distancia, dinheiro de gasolina, já tinha filhos enfim. Eu senti que apesar das dificuldades foi importantíssimo no meu processo, acho que se eu não tivesse passado por essa experiência, eu teria uma outra dimensão do magistério hoje, porque, dentro da universidade os nossos cursos são teóricos, então não nego a importância de Roger, Piaget, só que a hora que você cai na realidade, enfim, o aprendizado é muito rico.
Formação Professional
Bom, a universidade abriu um leque muito grande, cria visão de mundo. O fato de eu ter trabalhado com pesquisa histórica, isso me ajudou muito na questão metodológica, e de levar meus alunos a ter um desenvolvimento metodológico também (evidentemente guardada as devidas proporções) as dificuldades com um curso de ensino fundamental são menores, mas eu crio autonomia.Se tornar protagonista do próprio conhecimento, a questão da metodologia é fundamental.
E, a visão do mundo, eu acho que a universidade tem uma visão de mundo mais ampla, entender que o conhecimento é uma coisa só.A questão do conhecimento, ciências especificas, compartimentar o conhecimento, evidentemente que deve-se ter noção do que é história, do que é sociologia, do que é filosofia, sabendo que estão extremamente relacionadas, isso também acho que a universidade me propiciou.
Sempre que é possível, uso a interdisciplinaridade não é a todo o momento, as vezes você entra em umas discussões que não permitem isso.
Então, eu leciono há vinte e três anos, uma coisa é você contar com a família, porque muitas vezes não existe. Os pais são separados, enfim, não tem um lar. Muitas vezes mesmos os pais vivendo juntos, o trabalho, a falta de tempo, as crianças se tornam abandonadas. Não estou generalizando, mas sem tem muito isso, as crianças não são assistidas.
Hoje, eu acredito, que boa parte da periferia isso também aconteça, a escola onde eu leciono hoje, que tem seus problemas, essa carência toda, isso acontece.
Logo que eu comecei a lecionar, eu procurei fazer alguns cursos de vídeo educação, na rede publica isso demorou um pouquinho mais, até as escolas comprarem vídeo.
Mas eu trabalho em uma escola particular, divisa de Osasco com São Paulo, e logo em 1985 eu comecei a perturbar o padre para comprar um vídeo, bem chato meu esquema, então fiz uns seis cursos de vídeo educação, enfim, a imagem eu acho muito importante principalmente nas novas gerações, também quadrinhos, charge, enfim, tentar utilizar a cultura, principalmente com literatura, tem textos fantásticos, os três primeiros parágrafos da mãe do Goc , que pega a questão do cotidiano do trabalhador, um lance assim de arrepiar, de chorar, e qualquer teórico, qualquer historiador que venha trabalhar isso, não vai conseguir pegar tão bem a situação da classe operária.
Textos literários às vezes ajudam bastante a motivar e a despertar o interesse do aluno.
Cotidiano escolar
Então, tinha o pré-primário tinha uma escola de freiras ali na Hamburguesa que eu não lembrar o nome, depois, eu fui para uma escola estadual chamada Boa Nova na Hamburguesa, isso até a terceira série. Depois a quarta série e o ginásio na época, já foi no Esperidião Rosas, só que tinha um problema, não sei quanto isso interessa mas, a escola municipal era até a quarta série que, o ginásio já era responsabilidade da rede estadual.
Então, a rede municipal emprestava um prédio para a rede estadual, então a municipal funcionava em dois períodos, das 7hrs ás 11hrs e das 11hrs ás 3hrs, e a rede estadual funcionava com o ginásio das 3hrs ás 7hrs da noite, das 7hrs ás 11 da noite.
Complicado, mas era assim que funcionava, assim como eu ia nove e dois é que eu já estava no finzinho do ginásio que o primário foi estendido até a oitava série.
Lembro muito da disciplina, plena ditadura militar. Lembro daquela professora Elezira, depois eu vim encontra-la em uma defesa de tese,eu sei que ela foi presa, ficou quarenta dias presa.
Então, tinha o pré-primário tinha uma escola de freiras ali na Hamburguesa que eu não lembrar o nome, depois, eu fui para uma escola estadual chamada Boa Nova na Hamburguesa, isso até a terceira série. Depois a quarta série e o ginásio na época, já foi no Esperidião Rosas, só que tinha um problema, não sei quanto isso interessa mas, a escola municipal era até a quarta série que, o ginásio já era responsabilidade da rede estadual.
Na época o que me salta mais, a lembrança é a questão da fila, da posição de sentido, de não poder nem respirar direito, aquelas questões típicas da escola da época.
Durante a vida escolar, tive um professor o Arcanjo do Fernão Dias, porque depois eu fui fazer o colegial no Fernão Dias, professor Arcanjo, era professor de história, sempre tradicional na questão do curso, mas eu apreendi muito com ele.
Enfim outro dia eu encontrei com ele na CPH POESP, diz que ele era responsável por tudo, eu brinquei com ele, é uma pessoa que marcou.
A Elezira também marcou muito, uma professora de história, com seu jeito de tratar os alunos, em uma escola muito autoritária ela se diferenciava pelo carinho, respeito com os alunos, acho que foram as duas pessoas que mais marcaram,talvez por
eu também gostar de historia.
As escolas que mais tarde, eu vim a lecionar, que também me ensinaram muito, tinha uma outra realidade,eu acabei passando concurso, acabei me aproximando mais da minha casa.
Primeiro a questão da localização, eu trabalho hoje em um bairro que é muito tranqüilo, onde a violência é pequena, tem um padrão sócio econômico mais favorável.
A escola onde eu iniciei, estava dando aula e bateram na porta porque tinham acabado de ouvir dois tiros e chamaram a menina porque tinham acabado de matar o pai dela.
O que acontece hoje em dia, na periferia de São Paulo constantemente, mas em relação a isso, as escolas que eu leciono já são mais tranqüilas em relação a esse aspecto.Tem outros problemas, mas a questão da violência, da carência ainda é menor.
Hoje a gente pode discutir as contradições, não atrapalhando a cabeça do aluno, acho que a função do educador é essa, mas sim para discutir, formar um senso critico, colocar as varias visões que se tem sobre os fatos. Enfim, fazer o trabalho de historia que o professor de historia tem necessariamente que fazer, colocar diversas discussões sobre a mesma verdade.
Nesse aspecto, eu acho que é interessante, há possibilidades de termos mais recursos tecnológicos, como: vídeo, os aparelhos, que de uma certa maneira existem em uma boa parte das escolas.
Hoje tem computadores, é mais fácil de os alunos estarem pesquisando,mas ai, nós temos uma outra questão que é a questão financeira, conversando com aquele professor que eu citei, o Arcanjo.Ele me dizia que ele dava dezesseis aulas por semana e ganhava como um juiz, quando ele trabalhava na década de 60 e que, quando ele se aposentou ele estava vendendo os livrinhos que ele tinha escrito na praça da República, nas assembléias, nas greves, para poder dar conta da sobrevivência enquanto aposentado, e a coisa não melhorou de lá para cá, muito pelo contrario, piorou.
Então, é delicado porque ao mesmo tempo em que você precisa estar motivando o aluno, e você tem pouco tempo para se atualizar, para pesquisar, para dar conta das tarefas dos alunos que você tem obrigação de corrigir, de devolver com anotações para que ele elabore, etc..
E nós não temos um dinheiro às vezes para comprar um livro, assinatura de um jornal, fazer uma viagem, enfim, você tem que abdicar de uma serie de questões, que não são nem luxo na minha opinião, são necessidades de um educador que
Muitos dos meus colegas compraram computador, mas não tem como manter uma banda larga, ou trocar uma peça do computador.
A rede estadual facilitou muito a compra de computadores, mas a questão da informática é isso, você compra mas depois, você precisa manter, e as vezes não tem dinheiro para manter.
Então, se por um lado a nossa atividade profissional ela foi facilitada, como aquilo que eu falei, eu acho que na questão salarial, a questão esta difícil, mesmo porque, como eu tinha dito antes, com a falta de professores, você não consegue trabalhar, porque o barulho na escola é muito grande.
Tem classes sem professores, classes que a professora quebrou o pé, se acidentou, não vem ninguém para substituí-la, porque ninguém se inscreve para querer dar aula. E as suas condições de trabalho ao redor? Ficam prejudicadas, e eu preciso de um mínimo de silencio para poder ler um texto, para fazer uma discussão, e você esta em uma escola que só tá faltando explodir, porque o que faltam pessoas para poder dar conta do atendimento dos jovens, então nesse aspecto também acho que complicou bastante.
As escolas de uma maneira geral estão bastante desorganizadas, falta funcionário, falta professor.
Redes de ensino:
A questão da interdisciplinaridade, inclusive tema do concurso de 1991 a prefeitura, na gestão Erundina, discussão era muito encima da interdisciplinaridade, então: meio ambiente, a questão étnica, trabalho, enfim, boa parte dos temas transversais, que são colocados hoje pelo MEC, já eram discutidos naquela época e eram práticas até nas escolas.
Muitas vezes trabalhava isto com a professora de biologia, enfim, sempre que era possível a gente tentava trabalhar, desenvolver projetos, quando não, dentro do próprio curso de historia, tentar discutir a questão da interdisciplinaridade.
Estou na rede municipal, desde 1980, 1979, eu comecei na rede estadual, teve no inicio a distância, trabalhar a 13 Km de casa, mas foi muito prazeroso, e apreendi bastante porque enfrentei dificuldades em escolas muito pobres, senti importância naquilo que eu avaliava, a minha escolha profissional.
Bom, hoje eu trabalho em duas redes: a rede municipal de ensino de São Paulo. Eu prestei concurso em 1991, ainda na gestão Erundina e aí passei, passei relativamente bem, consegui escolher uma das duas vagas que tinha lá.
E na rede privada, eu trabalho nessa escola Nossa Senhora dos Remédios; eu trabalhei de 1985 há 1993 no noturno, suplência e EJA. Depois acabou o noturno na escola, eu me afastei, fiquei cuidando dos filhos três anos durante uma parte do dia, consegui conciliar a rede municipal com cuidar dos filhos, porque a minha esposa também trabalhava.
Então, me chamaram para trabalhar no anglo de Osasco, fiquei um ano e o Colégio Nossa Senhora dos Remédios me chamou para voltar, para trabalhar pela manhã.
Voltei lá, e já
estou há dez anos, oito anos da primeira vez, dez anos no total.
Bom, a rede municipal, a rede publica de um modo geral, é a questão do ciclo, acho que mudou muita coisa na rede, tem um aspecto positivo do ciclo, eu fui uma das pessoas, e continuo defendendo a necessidade de haver um ciclo.
Paulo Freire quando era secretário da educação em São Paulo conseguiu depois de muita discussão, não foi nada autoritário, muito pelo contrário, foi um debate na rede muito intenso, tanto que foi ser implantada no final, já com Mario Portela. Não era nem o Paulo Freire mais o secretário, mas a idéia é essa, foi desenvolvida logo no inicio da gestão Erundina com Paulo Freire, não era nem legislação federal.
Só que, acabou a gestão Erundina, entrou Maluf e, em nível nacional aconteceu a mesma coisa, os governos aproveitaram isso para economizar dinheiro porque.
Não é porque se sabia gastar mais dinheiro, mas que a economia se faria a não reprovação, deveria ser utilizado para ser um paralelo, para aquele aluno com dificuldades.
Enfim, a administração municipal e o Estado iria investir no aluno durante o processo, durante o ano letivo, para que ele não ficasse retido, para que pudesse acompanhar a sua turma, para que nós não tivéssemos jovens de 15 anos com uma classe de 5a série com os de onze anos que não tem nada haver com ele não é?
Acho que a principal questão na educação é a manutenção da auto estima, você tem um caso desse e você já esta com dificuldade, o que os governos fizeram?
Os governos viram nisso a possibilidade de deixar, aprovar direto, sem retenção, mas não gastar com a recuperação paralela, então economizaram de um lado e não gastaram do outro.
Então, hoje nós temos alunos de 8a serie com muitas dificuldades: matemática, português, porque não tiveram essa recuperação e por outro lado, não tiveram a possibilidade
inclusive de refazer o curso.
Então, as classes ficaram mais heterogêneas e ai você precisa se desdobrar ainda mais para dar conta daquele aluno que tem dificuldade com o vocabulário, com determinados conceitos que já foram trabalhados lá na 5a, 6a série, enfim, mas que ele não assimilou por um motivo ou por outro.
Aquela recuperação paralela que não é feita que você não conseguiu fazer no tempo devido, no que se chama recuperação continua, que é durante o processo.Mas, se isso não foi feito, ai sobra para fazer na sala de aula em uma determinada serie do ciclo que já pressupunha aquele conhecimento, então é um outro agravante.
Eu geralmente nos últimos anos tenho trabalhado 7a e 8a, mas teve ano, por exemplo, que não havia professor de 6a série, por que ele não se dispõe mais a ganhar um piso salarial de 500, 600 reais.
Duas classes da minha escola esta sendo escolhido, não por titular, mas por adjunto, alguém que seja contratado, e ninguém vai. Então isso não acontece só com historia, aconteceu em 1993, eu lembro que ficou uma classe de 8a série sem professor de matemática de março a outubro.
Então, esse descaso acaba levando você a ter que se desdobrar, para tentar fazer o melhor possível, diante das condições da área.
Por exemplo, a escola municipal que eu trabalho hoje, a sala de vídeo precisou ser suprimida, porque teve que abrir uma 4a serie dos alunos que ficaram retidos, porque o ciclo só reprova na 4a e na 8a serie.
Tinha uma sala de latinha que era usada, que foi derrubada, o conselho de escola teve inclusive que aprovar, não tinha onde por aquela sala, então não existe mais sala de vídeo.
Então, aquele trabalho alternativo, que eu fazia de motivação, usando filmes, usando os documentários esse ano não teve jeito, não sei se no ano que vem vai dar.
A estrutura para que a gente possa estar desenvolvendo um trabalho mais efetivo, inclusive nessa recuperação, desses alunos que estão com defasagem, tentar motiva-los de outras formas, enfim, tem que ser uma vontade nossa.
Eu sei que muita gente encara como um sacerdócio, mas com as condições da área muitas vezes são dadas para praticar o sacerdócio.
Mas eu tenho que fazer o melhor diante das condições dadas, tenho que fazer o melhor, fazer com o prazer, a comunidade, os colegas, para que essas crianças ai, saiam da escola sentindo saudades da escola, saiam com uma herança significativa.
Ultimamente na rede municipal eu tenho mais autonomia para definir isso, e a gente geralmente trabalha com a questão temática, sem estar também se preocupando com as relações cronológicas que o aluno tem que fazer, senão ele fica perdido totalmente. Em cima da questão dos sistemas transversais, eu acho que são importantíssimos: discussão da ética, discussão do trabalho, e do consumo, do meio ambiente.
E estar discutindo as coisas que poderiam ser mais significativas a eles, sem perder também a noção que determinados conceitos tem que ser trabalhados.Porque hoje pode não dizer nada a eles, mas eles vão ter que ter clareza para poder acompanhar o mundo.
Conhecimento também, muitas vezes ele é
difícil , é duro, é árduo, não é tranqüilo, simples, não é uma brincadeira simplesmente.Você motiva etc, mas tem uma hora que você tem que concentrar.
Assim, não sobra muita opção, tem determinados conteúdos que o aluno precisa ter pelo menos uma noção daquilo, por mais que a gente não seja um turista, que não precise decorar aquilo, existem determinadas coisas que se ele sair do ensino fundamental sem saber.
Esse ano teve a questão do processo eleitoral, serviu para a gente debater mais o conceito de Estado, democracia.Tem a questão da musica popular brasileira, que é o que eu utilizo também para estar, trabalhando com eles,e isso motivo, senão todos, mas uma boa parte.
Agora, na rede particular, já é um grupo de professores maior e a gente se submete a decisão coletiva. Então, já tem o livro didático. A rede pública também tem livro didático, mas eu fico menos preso a ele.
Na rede particular também faço um trabalho com musica, ainda tenho possibilidades, mas existe uma cobrança maior, inclusive da comunidade em relação a cumprir o livro.
A comunidade ainda não tem clareza que a educação mudou.Eu tento explicar, entre uma reunião e outra, as vezes conversando com um pai em particular, mas, pelo fato inclusive da escola ser maior, e o grupo de professores definir no coletivo, a gente fica mais amarrado.
Na rede municipal, sou eu e a professora Jane, então é mais tranqüilo.
Bom, em relação à questão da liberdade que nós conquistamos nessas duas ultimas décadas, isso é fundamental. Imagino que há trinta anos atrás, boa parte dos professores de historia, havia presos e torturados.
Professor de historia hoje
Não sei, eu gostaria de continuar tocando minha vida, mantendo minha atividade profissional, vendo meus filhos também seguirem com dignidade a vida deles, estudando, trabalhando, tendo enfim, saúde a família inteira.
Não tenho muitas pretensões nem materiais, eu acho que no aspecto da realização, dentro das condições da área, eu consigo me realizar, eu consigo ser um profissional feliz.
A questão, é que nos temos algumas variáveis que nós dominamos, outras não, outras a gente tem que lutar para tentar transformá-las. E isso a gente continua tentando através dos sindicatos, dos conselhos de escola, inclusive dar para os alunos exemplo de cidadania, acho que isso é importante. Não adianta a gente discutir teoricamente em sala de aula e depois ficar em casa fechado, esperando a morte chegar com a boca cheia de dente, esperando a morte chegar não é assim? E é isso.
Eu achei fantástico dar este depoimento hoje, muito interessante, eu enquanto historiador, deixar um depoimento que pode ajudar algumas pessoas a pensarem um pouquinho, acho que é um documento histórico, simples, humilde, enfim, de um trabalhador, mas acho que é assim que se faz historia mesmo: Esse trabalho de vocês, nosso trabalho lá enfim, achei importantíssimo, que vocês continuem com esse projeto lá para frente e obrigado pela oportunidade.Recolher