Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Mariana Lopes de Araújo Gomes da Silva
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 06 de abril de 2024
Código da entrevista :PRN_TM004
Revisão: Nataniel Torres
P - Boa tarde, Mariana! Tudo bem?
R - Oi, Paula!
P - Muito obrigada pela sua pa...Continuar leitura
Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Mariana Lopes de Araújo Gomes da Silva
Entrevistada por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 06 de abril de 2024
Código da entrevista :PRN_TM004
Revisão: Nataniel Torres
P - Boa tarde, Mariana! Tudo bem?
R - Oi, Paula!
P - Muito obrigada pela sua participação no nosso projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio Niterói, concedendo depoimento sobre história de vida e sua relação profissional e afetiva com a Ponte Rio-Niterói.
R - Eu que agradeço o convite.
P - Então, vamos começar do começo, seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Mariana Lopes de Araújo Gomes da Silva, nasci no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1980.
P - Nome dos pais, por favor? E profissão?
R - Carlos Roberto Lopes de Araújo e Maria da Graça Cidade Lopes de Araújo. Profissão, sou Engenheira Civil.
P - E os avós, você conheceu os avós? Nome dos avós, por favor, maternos e paternos?
R - Eu só conheci os meus avós paternos, não conheci… Que dizer, só conheci os meus avôs, não conheci as minhas avós, porque elas já tinham falecido quando eu nasci. Minha avó por parte de pai, faleceu bem jovem, meu pai ainda tinha 8 anos, então só conheci meu avô paterno, que chamava Ilk Lopes de Araújo. E por parte de mãe também, quando eu nasci a minha avó já tinha falecido, há uns 3 anos antes, chamava Noah. E conheci o meu avô, que chamava Nelson Cidade.
P - Você tem irmãos?
R - Tenho um irmão, chama Roberto Lopes de Araújo. E tenho dois filhos, eu tenho a Giovana de 15 anos, Giovana Araújo Gomes da Silva e um filho de 14 anos, que é o Arthur Lopes de Araújo Gomes da Silva. E sou casada com Daniel Gomes da Silva.
P - Então, voltando aos pais, qual é a profissão do seu pai? Você pode contar um pouquinho das suas memórias de infância? Onde você nasceu, como é que foi esses primeiros anos de vida?
R - Eu nasci no Rio de Janeiro. Na época, meu pai estava trabalhando num projeto na Venezuela, então ele já trabalhava e morava lá há dois anos, então eles vieram no Rio de Janeiro só para eu nascer, com um mês de vida a gente já retornou para Venezuela, passamos três anos lá. E na volta pro Brasil, ele já comprou uma uma casa na Barra da Tijuca, na época, na Barra não tinha nada, era em 1983 e a gente já foi lá morar nessa casa, tenho memórias ótimas, mas foi uma infância muito feliz, eu sempre gostei muito de animais e bichos, e na época também tinha uma fazenda, um sítio em Campo Grande, aí depois quando ele vendeu esse sítio para eu não ficar muito triste por causa de ficar longe dos animais, eu comecei a praticar o Hipismo, então a minha infância e a parte da juventude foi muito atrelada ao esporte. Cheguei a representar o Brasil na categoria juvenil, então tive todo uma disciplina atlética. E aí, depois, na época que eu acabei o segundo grau, a gente sempre tem a vontade de fazer o que a gente gosta, então queria muito fazer veterinária, que era a minha ligação, e queria continuar no esporte, era uma época que você fica ali, ou você se profissionalizar no esporte ou você vai fazer uma faculdade. Meu pai já era engenheiro, trabalhava, já era uma referência na época. E aí, ele chegou um dia para mim e falou assim: “Mariana, você tem que pensar no que você quer filha, não tem caminho melhor, mas você tem que pensar se você no futuro vai querer sempre está montando no cavalo de outras pessoas, ou se você no futuro quer fazer uma outra opção que te dê de repente dinheiro para você ter seus próprios cavalos”. E eu além de ter a referência dele, que eu acho que os pais sempre, a profissão dos pais sempre nos influencia, eu era muito bom em Matemática, e aí eu falei: “Ah, quer saber de uma coisa, eu vou fazer engenharia”. Aí peguei meu cavalo na época, vendi, entrei na faculdade de engenharia, com o dinheiro do cavalo eu já comprei meu primeiro carro e estou seguindo a profissão até hoje. Hoje se você parar para pensar eu acho que foi… Tenho os meus cavalos agora e acho que foi o caminho correto, me dá muita satisfação.
P - Qual a profissão do seu pai e com o que ele estava trabalhando na Venezuela?
R - Meu pai é Engenheiro Civil. E ele sempre trabalhou com obras de grande porte, assim que ele saiu da faculdade ele foi trabalhar na construção da ponte Rio-Niterói, aí depois da construção da ponte Rio-Niterói, ele foi convidado para trabalhar nessa Hidrelétrica de Guri, era a maior hidrelétrica daquela época, em construção. E a gente acabou passando 5 anos lá, a família toda com ele. Engenheiro aí de trecho e a família acabava sempre acompanhando o engenheiro, então fomos pra lá, minha mãe e meu irmão mais velho, ficamos com ele lá nessa época. E aí depois que ele voltou, ele já retornou para cá em 1983, naquela época ainda era época de grandes obras, o ramo de hidrelétrica ainda tinha aquecido, embora não hidrelétricas tão grande porte, mas menores portes ainda tinha aqui no Brasil, depois esse ramo parou e ele já engatou aí no ramo de rodovias e concessão de rodovias, a parte sempre de planejamento e orçamento, era o que ele sabia fazer de melhor, então daí ele já partiu com a turma aí de novos negócios para se desenvolver. Na época estava tendo as primeiras concessões de rodovia, então ele participou dos processos licitatórios e da formação das propostas comerciais. E normalmente as pessoas que participam ali das propostas comerciais, são as pessoas depois que tem mais acesso à informação, então acho que ali foi bem oportuno para ele já entrar dentro do ramo das concessões, já que ele já tinha participado da proposta da maioria das concessões daquela época, que era EcoSul, a Ponte Rio-Niterói, a Rio-Teresópolis, a Rio-Petrópolis e a Rio-São Paulo. Então, acho que isso aí deu bastante bagagem pra que ele encontrasse esse nicho aí de mercado das concessões que não são obras somente, tem ali um projeto de financiamento abarcado, então acho que ele era o homem certo na hora certa.
P - Na sua infância você lembra da figura do seu pai como um engenheiro que trabalhava muito, as obras requisitavam muito dele? O que ele contava, por exemplo, sobre a Ponte Rio-Niterói?
R - No início da minha infância, eu lembro muito dele, porque a gente sempre fazia muito o trajeto Barra da Tijuca, Niterói, porque o meu avô paterno morava em Niterói, então era muito normal, todo domingo a gente pegar a ponte Rio-Niterói para ir lá almoçar na casa do meu avô, na época do Chacrinha e os programas que tinham, então eu tenho essa essa lembrança muito forte. E claro que quem participa da construção se sente eternamente dono daquilo que faz, então sempre ele passou: “A minha ponte! A ponte que eu construí!”. E contava as histórias que tinham acontecido na época da construção e o quão grandioso era ponte por dentro, porque quem passa ali de carro não tem ideia toda infraestrutura que a ponte é, ali o que que acontece? Tem um mundo todo ali que passa por debaixo dela. Então, ele sempre falou com a gente com muito carinho e é uma obra que não tem jeito, marca a carreira de qualquer pessoa, ela te referenda como profissional de uma magnitude totalmente diferente. Hoje a Ponte Rio-Niterói, ela ainda é uma obra que todo mundo conhece internacionalmente. Então, a gente como sempre fez esse trajeto, a gente sempre falou muito da ponte. E aí depois na época de adolescência, de juventude, a gente tinha uma casa de praia em Búzios, então também esse trajeto, Barra, Búzios, era muito frequente na nossa rotina. Então, não tem jeito, sempre quando a gente passa pela ponte, ainda mais tendo essa bagagem que ele sempre falou e sempre comentou. Se hoje a gente se hoje a gente já para para pensar na dificuldade que seria fazer a Ponte Rio-Niterói com toda tecnologia que a gente tem, imagina 50 anos atrás? Então, realmente era uma obra impressionante, extraordinária, em qualquer lugar e em qualquer tempo.
P - Pode contar de uma forma reduzida seu amor pelo hipismo, pelos cavalos? Sua participação como atleta?
R - Eu falo com muito orgulho porque eu acho que hoje toda a base profissional veio do esporte, o esporte ele te dá uma disciplina incrível, ele te dá oportunidade de vivenciar tudo aquilo que você vai usar, a gente acha, não tem muito vínculo, mas é o que você vai usar na sua profissão. O Hipismo ainda tem uma outra característica, você tá ali lidando com outro ser vivo, é um ser vivo que ele não aceita muito desaforo, então você ali desde pequena é acostumado que você tem que respeitar um outro animal e que eu não tenho domínio. Você quando monta ali o cavalo, é um controle que você tem sobre uma força que tá ali debaixo de você de mais 500 kg, então vem um medo efetivo, não é um medo, não querendo desmerecer outros esportes, mas tem um risco real de vida. Então, você tem que saber ter esse autocontrole ali em cima do animal, para você poder passar para ele toda a tranquilidade. Dizem que os cavalos eles conseguem sentir as batidas do seu coração, então você tem que ter todo um trabalho, uma disciplina para se manter tranquilo para que você consiga passar essa tranquilidade, que ele é capaz de sentir tudo que a gente sente. E o cavalo na natureza ele não é predador, ele é caça, então todo medo que ele sente, a primeira coisa que ele quer fazer, ele quer fugir, então tem todo um trabalho ali do cavaleiro quando tá em cima dele de se acalmar, de se tranquilizar. E hoje você vê que a gente tá tendo tendo essa entrevista, o meu domínio, sou engenheira, mas esse poder de você controlar sua mente, ele é necessário para o que você quiser fazer, então ele te habilita a várias coisas. E é o cair e levantar, que é a grande lição que a gente tem dos cavalos, a gente cair e a gente depois ter a coragem de levantar e montar novamente. A vida é assim, é um cai, levanta e a gente ter coragem de seguir em frente. Então, o esporte, eu sou super fã, eu acho que dá uma formação diferenciada para qualquer pessoa. E eu tive esse privilégio na juventude de realmente poder competir em alto rendimento, então eu acho que isso me capacitou muito pela profissão que eu sou. E eu sou muito grata e hoje poder retornar ao esporte de novo é muito satisfatório.
P -
Uma competição que você participou?
R - Na minha juventude foi um americano que a gente pulou em São Paulo, estava a América toda, dado aos cavaleiros que representam o Brasil, a casaca verde, então você poder… Até me emociono um pouco, você poder vestir uma casaca que representa o seu país, a casaca verde ela tem uma importância e um orgulho, então foi um campeonato muito marcante, que foi a primeira vez que eu usei a casaca do Brasil e a gente saiu um vitorioso com uma equipe e foi uma lembrança extraordinária.
P - Como é que chamava o cavalo?
R - Chamava Sputnik, foi o cavalo da minha vida, tenho uma lembrança muito boa. E aí depois eu já acabei deixando o esporte, fui fazer a faculdade de engenharia. Mas hoje também acho que quando a gente exerce uma função que a gente é boa, que a gente se sente fazendo a diferença, eu acho que isso te motiva, talvez não fosse a profissão que eu fizesse logo de largada, porque eu tinha toda essa questão dos animais, mas hoje eu percebo que quando a gente faz uma coisa que a gente faz bem, a gente consegue amar profundamente aquela profissão. Então, hoje eu posso dizer que eu sou muito feliz no que eu faço.
P - Então, me conta um pouquinho qual foi a escola que você estudou e como foi essa entrada na Universidade de Engenharia, por favor?
R - Eu estudei no Santo Agostinho, que é um colégio católico, bem tradicional no Rio de Janeiro, puxa muito pela excelência acadêmica, nessa época eu já tinha toda a minha carreira esportiva, então era difícil para eu levar o Santo Agostinho e o esporte. Aí, nos últimos anos eu lembro que eu fui numa competição e o Frei falou assim: “Não, porque eu só reconheço, para mim é xadrez, o esporte de xadrez”. E aí, eu lembro que a minha mãe ficou muito chateada e eu acabei fazendo o segundo grau em uma outra escola, para eu poder conciliar a vida atlética e a escola. Mas no segundo ano do Ensino Médio, eu consegui passar para a PUC, que era a faculdade que eu queria, na época. Então, eu acabei entrando para a PUC, fiz um terceiro ano praticamente em dois meses, já comecei na faculdade. E aí, eu já tinha toda aquela referência do pai, ele era o que eu queria ser quando eu crescesse, quando eu já optei pela engenharia, ele era minha referência, meu ídolo e eu já queria começar a trabalhar com ele. Ele já estava com uma empresa de consultoria, na época, e eu falei: “Não, pai, eu quero começar…”. Eu sempre quis essa questão de ser independente e eu lembro muito da minha mãe falando comigo. “Não, Mariana, você tem que ser… mulher agora é independente, primeiro você tem que estar bem profissionalmente”. Então, essa questão, acho que uma influência da minha mãe que eu sempre tive, foi muito marcante na minha na minha trajetória, foi a questão da minha independência, independência financeira mesmo, porque a mulher possa exercer com toda a sua magnitude, na minha geração ainda estava o dinheiro muita atrelado a questão financeira do homem bancar as coisas de casa e a mulher ter que cuidar dos filhos, então, “como eu tenho dinheiro eu mando e a mulher obedece”. Então, ainda vem um pouco de uma de uma geração que acho que começou a se libertar desse domínio patriarcal do homem ser o líder dentro de casa. Então, eu já fui fazer a faculdade, eu entrei na PUC…
P - Que ano você entrou?
R - Em 1998.
P - Em Engenharia?
R - Em engenharia.
P - Era Civil?
R - Civil. Você já escolhia qual era a especialidade que você ia fazer de curso. Só que a PUC, eu fazia faculdade o dia inteiro, não que você estudasse de manhã até de noite, mas como os horários eram muito recortados e eu queria já começar a trabalhar com o meu pai, aí eu sempre trouxe muito… as coisas sempre foram muito planejadas na minha cabeça, talvez até uma referência ele que era de planejamento, então eu já sabia muito aonde eu queria chegar. E aí, eu cheguei um dia em casa, falei: “Pai, não quero mais fazer a PUC, eu quero ir para a Gama Filho porque lá tem o curso à noite”. E ela tinha um campus aqui na Barra, então para mim vai ficar ótimo, porque o escritório era aqui na Barra, ali no Downtown. E aí, tinha a Gama Filho, o campus era aqui na Barra, eu falei: “Então, para mim já está tudo certo, estabelecido”. Claro que a PUC, na época, era uma faculdade mais reconhecida, mas eu falei para ele assim: “Mas pra que que eu preciso de faculdade reconhecida se eu já tenho um grande professores, já sei onde eu quero trabalhar”. Então, eu acabei indo pra fazer a Gama Filho, à noite. E acabei me formando, aí comecei a puxar bastante matéria, sempre tive essa ambição de querer terminar as coisas logo, eu acabei me formando até em quatro anos e meio na faculdade. Me formei no primeiro semestre de 2003. Já desde 1998, que eu comecei, acho que teve um ano de PUC que eu não trabalhei, mas 1999 eu já trabalhava com ele, ele já dava consultoria para várias concessões. E essa área como é bem específica, naquela época só ele fazia, então ele trabalhava com vários grupos de concessão de rodovia. Então, dali eu já meio que estagiei. E aí, ele ficava, acho que sempre foi a menina dos olhos dele, a Ponte Rio-Niterói, então embora tivesse a consultoria, ele ficava a maioria dos dias da semana lá e eu já tive a oportunidade de vivenciar um pouquinho ali da ponte, na época a sede ficava no Fonseca, não ficava na sede atual, então eu lembro de várias tardes, eu já ia com ele para ponte e já fazia alguns trabalhos ali com uma estagiária e fui formando também, ou estava na ponte ou estava no escritório da Barra e ali eu já fui vivenciando um pouquinho da rotina da ponte, que acabou até me influenciando para a minha monografia de final de curso de engenharia, que lá eles estavam acabando de fazer uma técnica nova, no vão central do pavimento, era bem revolucionário inovador e aí eu aproveitei todo aquele ambiente laboratório para poder fazer a minha monografia do meu curso.
P - Qual é o título do seu TCC?
R - Era “O Pavimento Rígido do Vão Central da Ponte Rio-Niterói”. Foi a minha monografia do meu curso.
P - E como é que seu pai reagiu?
R - Eu acho que desde da primeira vez que eu falei para ele. “Pai, eu não quero mais ficar no esporte, não quero ser veterinária, é engenharia que eu quero fazer”. Ele já brilhou o olhinho. E na época, quando a gente estava falando, ele veio com essa proposta. “Poxa, porque você não faz o vão central da ponte, você tem todo acesso a informação, é uma tecnologia nova, os engenheiros estão todos aí, você vai ter acesso a todos materiais, você vai poder fazer as pesquisas”. E aí, eu falei: “Não, pai, é isso!”. E aí, a gente já vê que o olho dele de orgulho, do pai orgulhoso e do pai babão ali da da filha. A monografia representa um final de curso também, né? E você vê que o seu filho já tá indo, sendo encaminhado é bem bacana, assim. Então, eu sempre percebi nele o orgulho e a satisfação de ver a filha trilhando o caminho dele. Acho que a gente por mais que não queira influenciar os filhos, mas quando a gente vê que os filhos estão seguindo os nossos passos também, dá uma satisfação e principalmente acho que uma conexão, eu acho que eu ter escolhida a mesma profissão dele… [interrupção] Então, eu acho que essa conexão que a gente acabou formando, de eu ter seguido a mesma carreira dele, nos aproximou, a relação de pai e filho, você acaba… Não é só minha filha, é uma parceira, agora também é uma colega, ela é engenheira como eu sou engenheiro. Então, eu acho que a nossa relação se estreitou demais e a gente… toda a filha tem um carinho e vê o pai como um grande ídolo. E ele para mim ele era mais que isso, ele era minha referência profissional. Não tem como a gente falar que não é mais fácil a gente seguir uma carreira que seu pai já desbravou por você, já tem o nome dentro do mercado. Então, claro que que facilita e ajuda.
P - Qual o nome profissional que você usa?
R - Hoje eu uso o meu nome profissional de Mariana Araújo e exerço com muito orgulho, porque a família toda acabou indo para esse mesmo ramo, então o Araújo, quando você olha a parte de equilíbrio contratual, gestão contratual, é o irmão que está fazendo, é o tio, sou eu, ou é o pai, então o Araújo acabou puxando muito essa veia da parte da gestão contratual e de concessão de rodovias, e é com muito orgulho que hoje eu adoto o Araújo aí como a minha referência profissional. Acho que a diferença antes é que eu era só a filha do Araújo e hoje as pessoas também conhecem a Mariana Araújo, mas é claro que é com muito orgulho aí de ter seguido os passos que lá atrás ele abriu as portas pra gente, não vou falar nem que para mim, mas pra família toda hoje aí que tá trabalhando com construção de rodovias.
P - Mariana, eu queria que você me contasse o que você considera o seu primeiro trabalho como engenheira formada?
R - No meu final de curso eu já trabalhava com uma concessão que ligava a Friburgo a Rota 116. E aí, eu ainda fiquei um pouquinho mais de tempo, ainda dentro da empresa do meu pai de consultoria, e aí como toda filha um pouco rebelde talvez, não sei se rebelde, mas eu queria viver uma outra experiência. Então, eu vi um processo seletivo no jornal, que era para implantar o SAP, lá na Petrobras e aí eu me candidatei, meio ainda sem falar com o meu pai desse processo seletivo, era para uma empresa chamada Accenture e participei, entrei, fui selecionada. E aí, eu cheguei em casa e falei com meu pai: “Pai, teve aqui um processo seletivo pra implantar área de projetos lá em Macaé e eu estou com vontade de ter essa experiência, porque a minha experiência sempre foi muito ligada com você”. E aí eu fui para esse ano, queria também ter a experiência de morar sozinha, então fui para lá, acho que foi uma vivência bem legal, porque eu trabalhava com os engenheiros mais seniores da Petrobras e realmente me tirou da minha zona de conforto, porque eu tinha que ensinar eles a fazerem todos os projetos que eles faziam na prancheta dentro de um sistema, então eu fui bem testada lá. Passei um ano. E após isso, eu recebi, como eu já tinha essa experiência em construção de rodovias, eu recebi um convite da antiga CRT pra vim trabalhar, retornar para esse ramo de concessão de rodovias. Então, eu acabei voltando, já não era como consultora, vim com CLT e aí, foi uma experiência também diferente, porque a relação profissional com o meu pai, sempre foi ali uma relação onde ele era o meu chefe, aí depois a gente teve um hiato de um ano e depois quando eu voltei já para trabalhar na Rio-Teresópolis, foi ao contrário, ele dava consultoria para mim, então eu virei a cliente dele. Então, também foi uma relação bem diferente assim pra gente. E eu acho que para nossa construção profissional foi bem interessante. E apesar da gente falar muito do Araújo, da filha, às vezes profissionalmente as pessoas nem sabem que a gente é pai e filha, porque a gente tem uma relação muito respeitosa dentro do ambiente profissional, então, às vezes, as pessoas não conseguem perceber que a gente tem ali uma relação familiar, a gente sempre separou muito bem esse lado profissional do lado pessoal. E aí, eu fiquei alguns anos ali…
P - Na BR 116?
R - É a BR 116, nessa época ligava a 116 ali do Rio até Além Paraíba, era um trecho menor. E aí, foi nessa concessão que eu acabei, casei, tive os meus dois filhos e logo depois fiquei de 2005 até mais ou menos 2009, 2010, que foi quando o meu segundo filho nasceu. E aí depois…
P - Sempre conciliando a vida de casada, de mãe, trabalhando?
R - Trabalhando com a vida dos filhos. Então, aí eu tive o meu primeiro em 2008, tive a licença maternidade e aí logo depois eu já tinha planejado ter logo o meu segundo filho. Então, eu dei aquela quebrada ali no ritmo, mas eu não ativo, que eu já conhecia todo mundo, a equipe me ajudou e me suportou. E aí, um ano e 3 meses depois da primeira filha nasceu o segundo e aí eu já tomei a decisão, aí realmente eu achei que ficou difícil você ali conciliar dois filhos muito pequenos e eu sempre fui de querer dar exemplo, de chegar na primeira hora e sair e que não tivesse um tratamento diferenciado. E aí, surgiu a oportunidade de voltar para consultoria, consultoria você gerencia melhor o seu tempo e eu acho que foi um momento oportuno que as crianças eram pequenas e eu queria viver outros negócios também, ali na época tinha um controle de acionista onde o presidente sempre era indicação de um grupo acionário e o vice-presidente. E outra, também não tinha muito como crescer ali dentro do ativo. Então, aí eu voltei de novo a ter a experiência profissional de estar trabalhando junto com meu pai na consultoria. E foi ótimo também esse período, porque você acaba conhecendo outros grupos, outras concessões e novas pessoas. E foi muito adequado assim pela fase familiar que eu estava vivendo, pela fase pessoal, porque as crianças eram pequenas, então eu acho que a consultoria te dá uma oportunidade de você conciliar melhor o seu tempo. Hoje é muito comum a gente ver o home office, já tá muito instaurado e eu acho que dependendo do ritmo e a vida que você tá, te ajuda, te contribui, mas naquela época não existia home office. Então, era difícil você imaginar que um profissional CLT pudesse ter um horário diferenciado, então eu acabei indo para consultoria, a gente ficou alguns anos aí trabalhando juntos, tendo uma vivência. E eu acabei pegando as concessões mais do Grupo Invepar. E aí, as crianças já tinham mais ou menos uns 10 anos, eu recebi de novo um convite da CRT, porque a superintendente indo embora e eles: “Não, Mariana, eu preciso de você aqui de novo”. Mas as crianças já estavam mais velhas, já tinham uma estrutura ali, tinha apoio aí de avó sempre por perto e avô me ajudando, aí eu voltei para Rio-Teresópolis, novamente como funcionária. É uma coisa até difícil de explicar, porque é uma escolha, eu tinha como seguir na empresa do meu pai fazendo a consultoria e tocando a Loar, como eu tinha como voltar a ser funcionária e eu acho que eu sempre achei que o meu papel era dentro da empresa, eu gostava, eu gosto ainda, desse sentimento de pertencimento, de por mais que a gente sempre fez uma consultoria onde a gente vestia a camisa da empresa, a gente sempre trabalhou dessa forma, mas tem um pouquinho de diferença, tem ali o dia a dia com os outros colaboradores, tem um senso de pertencimento diferente que sempre foi o que me motivou e sempre me deixou feliz. Então, eu acabei voltando para dentro dos ativos de novo e voltei. Aí voltei e aí coincidiu, porque tudo tem aí o seu destino, um pouquinho de como acontece os tempos e movimentos e vou permitir dizer, a mão lá de Deus nessa esfera toda. Então, quis o destino que o grupo que venceu a licitação da segunda concessão da CRT, foi o grupo EcoRodovias. Já era um grupo que eu tinha uma admiração enorme, se hoje você pensar em concessão de rodovias a gente sabe que tem dois grupos prioritários, que é a CCR e a EcoRodovias. E quis o destino que fosse a EcoRodovias que ganhou a Rio-Valadares, hoje o que era CRT, ela expandiu um pouco, ganhou bem mais porte e volume, então a CRT antigamente tinha 244 km, hoje EcoRioMinas tem 726, então cresceu pra caramba, então era um ativo que o mercado inteiro estava de olho, qualquer profissional. Vou até fazer uma referência, talvez o que era lá atrás a grande obra que era você participar da construção da Ponte Rio-Niterói, hoje a magnitude da Rio Valadares, pro ramo de concessão de rodovias, estaria nesse mesmo porte. E aí, assumindo a gestão ali, a gerência de administração contratual da EcoRioMinas, me chamaram pra também fazer parte da EcoPonte. Então, eu ainda ganhei ainda no pacote a EcoPonte, aí eu falei: “tô com as minhas duas, com a minha princesa e com a minha senhora, que é a EcoPonte…”
P - O que você sentiu quando recebeu esse convite?
R - Olha, elas fazem duas, são as rodovias que hoje fazem parte da minha história, seja o meu pai por ter passado da construção da Ponte Rio-Niterói, então sempre teve muito presente, como a Rio Minas, pela CRT, que a minha vida profissional sempre teve ali atrelada com ela, então tanto a EcoPonte como a EcoRioMinas, são as duas rodovias, as duas queridinhas no meu coração em termos de concessão de rodovias.
P - Quais as suas gerências em cada uma delas?
R - A gerência de administração contratual, quando a pessoa olha, ela acha que é a gerência que administra os contratos de uma forma em geral dentro do ativo e não seria bem isso, porque a gente na verdade, a gerência só administra um contrato, que é um contrato de concessão. Então, ali, a gente é como se fosse o grande guardião de vê se estão sendo cumpridas todas as suas obrigações, tudo ali que a concessionária se propõe quando chega, de serviço, de executar de obra e a gente que tá ali assegurando que aquilo tudo vai ser executado e dentro da melhor forma e dentro dos prazos e dentro dos custos. Então, a gente sempre está fazendo um papel ali, a relação entre concessionária, poder concernente e usuário. Esse triângulo a gente tá sempre gerindo e assegurando que tá tudo sendo cumprido a contento.
P - Tanta diferença entre a Rio-Minas e a Ponte Rio-Niterói.
R - Primeiro quando se pensou na concessão da EcoRioMinas, se pensou nessa sinergia, porque o grupo já tinha a concessão da EcoPonte, então foi feita essa construção onde você pudesse compartilhar as pessoas. Mas efetivamente se você olha, uma é enorme por questão de trecho, são 726 km. E aí, a outra você pensa: “Pô, mas a outra é muito pequenininha, são… contando os acessos, um pouco mais de 22 km”. Mas a EcoPonte, eu acho que em termos de complexidade, viabilidade, embora seja a menor concessão de rodovia federal, mas eu acho que é a que está sempre mais em evidência, que todo dia está no jornal da manhã, qualquer interferência, qualquer coisa que acontece, você tira uma ligação de duas cidades importantes, que é Rio de Janeiro e Niterói. Então, apesar de ser pequena em extensão, a complexidade dela e os impactos que ela traz, a visibilidade que ela tem, traz ela como se fosse uma gigante, não deixa em nada a desejar pra qualquer outra concessão de trechos maiores. Então, realmente é muito relevante. E quem opera a EcoPonte, está capacitado, com certeza, para operar em qualquer outra rodovia.
P - Como é a sua equipe de trabalho, por favor?
R - Hoje a equipe de trabalho, quem está na gestão contratual, ela é bem multidisciplinar, então a gente não tem um…Ah, tem que ser necessariamente um engenheiro, ou um advogado. Não, ela é composta por profissionais multidisciplinares, então a gente tem administradores, a gente tem economistas, a gente tem engenheiros, qualquer profissional é capaz de se adequar. É uma equipe que tem entre as duas unidades quinze colaboradores. E a gente brinca, costumava dizer que a gestão de administração do contrato é o coração ali da concessionária. E hoje a gente brinca mais que a gente é o cérebro, porque a gente tá ali pensando na estratégia, no negócio, nos impactos, e ao mesmo tempo que a gente não entrega um serviço efetivo, não somos nós que estamos ali na linha de frente da operação, não somos nós que entregamos depois uma ponte, ou um viaduto. Mas a gente sempre está permeado em todas as áreas da companhia. Então, às vezes eu brinco, que a gente não é o que leva um tapinha nas costas, porque quando está pronto não é a gente que está ali na frente da coisa, mas sempre quando dá errado é a gente que está no contrato, está envolvida em uma parcela aí da culpa. A gente permeia realmente todas as áreas da companhia.
P - Algum grande desafio enfrentado nessa gerência?
R - Hoje, eu acho que o grande desafio foi realmente a implantação da EcoRioMinas, é uma concessão de peso, só no primeiro ano foram mais de um bilhão de investimentos, então é bem relevante e significativo. E a gente tem a tendência sempre de olhar para o que está mais novo, o que está mais jovem. A gente não pode esquecer que em conjunto com ela a gente tinha que continuar tocando aí EcoPonte e não deixar a operação dela cair, ter um olhar mais atento pela complexidade que ela é e por tudo que ela envolve e representa. E aí, vou até completar um pouquinho da importância, hoje a gente que tem a EcoPonte na veia, eu ainda, por desde criança, estou acostumada a ver, a gente talvez repare mais quando ela aparece, então se você olhar nas cenas de filmes, nas cenas de novela, você pode ver que sempre a ponte ela tá lá estampada, ou representada. Hoje eu tenho certeza que se você entrar no Instagram dos teus amigos, se bobear vai ter alguém fazendo uma foto lá, passando pela ecoponte, com um dizer. “Ó, tô saindo de férias! Tô saindo de viagem!”. Então, realmente ela está muito presente acho que na vida de quem mora no Rio de Janeiro, ou até mesmo quem vem só a passeio, quer queira, quer não, sempre acaba passando pela Ponte Rio-Niterói, nem que seja chegando, para aterrissar ali no Santos Dumont, no Galeão, está vendo a Ponte Rio-Niterói.
P - Mariana, a Ponte, no dia 04 de março comemorou 50 anos da Ponte. O que você prospecta para 50 anos da Ponte Rio-Niterói?
R - Olha, hoje a gente já parou para pensar como é que realmente seria isso, a gente até pensa, vem muitas pessoas falando. “Poxa, mas será que faz sentido a gente criar uma outra Ponte Rio-Niterói?”. Porque hoje a gente não tem como ampliar a capacidade dela, em termos estruturais, a gente fazer mais uma faixa. Mas as coisas estão andando num caminhar tão grande, será que a gente não vai já ter o carro voador? Será que a gente não vai ter outras formas de transporte? Mas eu acho que o fato dela ali como uma obra imponente, um cartão postal e ela no dia a dia das pessoas, acho que ela daqui 50 anos, ela continua tendo a mesma importância e o mesmo status de monumento, que é assim que quem vive lá e tem esse carinho enxerga a Ponte Rio-Niterói.
P - O que é pra você saber que nesses 50 anos de comemoração da Ponte, a sua família Araújo, seu pai, Carlos Roberto, participou disso?
R - Eu acho… Sempre quando vem uma data importante, vem aí a gente lembrar como foi um pouquinho o passado, essa questão nostálgica, que sempre quando a gente tem uma data importante, comemorativa acontece. Então, mais que nunca, esses 50 anos da Ponte conseguiu trazer esse vínculo, esse passado e a gente morrer de orgulho, de falar, assim: “Caramba, o meu pai participou da construção da Ponte Rio-Niterói”. A gente enche a boca para falar disso. E eu acho que nessa data tão significativa, isso veio com mais evidência e de forma mais calorosa. Então, foi muito bom poder participar e estar presente e ver… Vocês puderam já colher aí o depoimento com ele. Aproveitar para a gente poder também registrar toda essa memória. Eu acho que a data influenciou muito pra que a gente pudesse fazer esse resgate, enquanto a gente está aí com todos esses elementos e com toda essa riqueza de depoimentos. Então, eu acho que chegou em tempo, em muito boa hora.
P - Eu recentemente vi uma postagem sua no Linkedin, alguma coisa em relação a Ponte Rio-Niterói. Você comentava sobre esse seu orgulho de trabalhar na ponte, esse orgulho de ser filha do Carlos Roberto Araújo, que tinha participado da construção. Consultando o Linkedin do seu pai, ele repostou essa sua postagem e com uma forma muito carinhosa. “Muito obrigada minha filha, muito orgulhoso de você estar seguindo esse caminho, seguindo muito bem”. Agradecendo. Queria que você comentasse.
R - Eu acho que a minha missão agora é cuidar daquilo que ele construiu, que ele fez com tanto amor e dedicação, porque uma obra daquele porte, no prazo que eles fizeram e com a qualidade que eles fizeram, porque a ponte está aí hoje, firme e forte pra todo mundo ver. Então, é uma satisfação enorme de hoje eu poder cuidar de uma obra que meu pai fez. Então, é extraordinário, é uma sensação incrível e a gente sempre sente ali um pouquinho de dono mesmo, um pouquinho desse cuidado, desse zelo, como se fosse um familiar que está na nossa vida.
P - Mariana, um conselho para uma jovem engenheira, recém formada, interessada em seguir a especialidade de rodovias, pontes?
R - Olha, eu acho que mais que nunca a mulher hoje está conseguindo entrar nesse mercado e exercer o seu papel com um olhar muito diferente. Antigamente, eu ainda vim de um tempo onde era difícil, em alguns momentos eu já me vi em reuniões onde só tinha homens. Então, cada vez mais a gente está vendo as mulheres chegarem e não que a mulher seja melhor do que o homem, o homem seja melhor que a mulher, mas, às vezes, a gente tem algumas divisões diferentes e complementares. Então, que venham as mulheres, que venham para a EcoRodovias, que venham para EcoPonte e que principalmente possam trazer o nosso lado maternal, que é o que a gente tem de melhor e a gente pode sim exercer o nosso lado maternal dentro do nosso lado profissional, eles se complementam. E vamos cuidar dessas rodovias que estão por aí.
P - Eu te agradeço por esse compartilhar de histórias. Gostaria de saber se você gostaria de colocar mais alguma coisa? Como foi dar esse depoimento?
R - Só agradecer a oportunidade. É muito legal o projeto que vocês tem, a gente saber que a gente pode deixar isso registrado, a gente falou aqui muito, você perguntou muito sobre os avós, sobre os pais e sobre os filhos e é tão bom saber que de certa forma a gente está deixando um legado, uma história do que a gente viveu, para ser contado aí para os nossos bisnetos, sei lá qual é a geração que vem, então eles poderiam acessar essas memórias, eles poderem ver: “Caramba, olha lá, minha tataravó, olha só o que ela fez, o que ela falou”. Eles poderiam ver, ter esses registros. Hoje mais cedo você perguntou aqui um pouquinho até dos meus avós, e confesso que a gente vem de uma geração onde a gente vai esquecendo dos nossos antepassados, então é uma forma lindíssima que vocês têm, eu acho que com certeza no futuro eles vão ter toda curiosidade de ver essas origens, da onde veio, o que fizeram e o que entregaram e a forma com o que eles lidaram com tudo isso. Então, muito obrigado pela oportunidade de estar deixando aí as minhas memórias registradas.
P - Eu que te agradeço.
R - Obrigada! E obrigada a toda sua equipe.Recolher