P/2 – Boa tarde Mires.
R – Boa tarde.
P/2 – Eu queria começar perguntando o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Maria Mires Martiniano Ribeiro de Andrade, nasci em Acari, Rio Grande do Norte, em 14 de julho de 1961.
P/2 – Agora, me diz o nome dos seus pais, avós, me conta a origem da sua família.
R – Os meus pais, Luís Martiniano Dantas, mas ele achava feio o nome Dantas, então, ele deixou Luis Martiniano.
P/2 – Ele mesmo tirou?
R – É, ele mesmo tirou. Mas eu gosto do nome Dantas, foi uma pena ele ter tirado. Minha mãe é Maria José Martiniano. Os meus avós são do Seridó do Rio Grande do Norte, interior do Rio Grande do Norte, todos dois. O meu pai é do Seridó e a minha mãe é do Agreste. Eles casaram em Natal, se conheceram em Natal e moraram sempre em Natal. Depois, meu pai queria ter uma filha ou um filho do mesmo lugar de onde ele era. Então, dos oito filhos, eu sou a única que nasceu em Acari, Rio Grande do Norte, de onde ele é nascido e criado. Eu nasci em Acari e me criei em Natal, mas Acari está no coração.
P/2 – Me conta a atividade profissional do seu pai e da sua mãe. O que eles faziam?
R – Meu pai trabalhou, no início, assim que ele casou, ele serviu o Exército em Natal, depois ele trabalhou no reflorestamento de algarobas.
P/2 – Como?
R – Algarobas.
P/2 – O que é isso?
R – O nome de uma planta, uma árvore, no interior, indo para Fortaleza, do Rio Grande do Norte para Fortaleza. Depois, com dois, três anos de casado, ele entrou no Banco de Crédito Real de Minas Gerais, em Natal, na capital, e ficou até aposentar.
P/1 – Essa planta é uma fruta? Você sabe alguma coisa?
R – Não, é uma planta que foi reflo...
P/1 – É típica da região?
R – É típica da região, dessa região do Rio Grande do Norte até o Ceará. O que eles fizeram foi...
Continuar leituraP/2 – Boa tarde Mires.
R – Boa tarde.
P/2 – Eu queria começar perguntando o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Maria Mires Martiniano Ribeiro de Andrade, nasci em Acari, Rio Grande do Norte, em 14 de julho de 1961.
P/2 – Agora, me diz o nome dos seus pais, avós, me conta a origem da sua família.
R – Os meus pais, Luís Martiniano Dantas, mas ele achava feio o nome Dantas, então, ele deixou Luis Martiniano.
P/2 – Ele mesmo tirou?
R – É, ele mesmo tirou. Mas eu gosto do nome Dantas, foi uma pena ele ter tirado. Minha mãe é Maria José Martiniano. Os meus avós são do Seridó do Rio Grande do Norte, interior do Rio Grande do Norte, todos dois. O meu pai é do Seridó e a minha mãe é do Agreste. Eles casaram em Natal, se conheceram em Natal e moraram sempre em Natal. Depois, meu pai queria ter uma filha ou um filho do mesmo lugar de onde ele era. Então, dos oito filhos, eu sou a única que nasceu em Acari, Rio Grande do Norte, de onde ele é nascido e criado. Eu nasci em Acari e me criei em Natal, mas Acari está no coração.
P/2 – Me conta a atividade profissional do seu pai e da sua mãe. O que eles faziam?
R – Meu pai trabalhou, no início, assim que ele casou, ele serviu o Exército em Natal, depois ele trabalhou no reflorestamento de algarobas.
P/2 – Como?
R – Algarobas.
P/2 – O que é isso?
R – O nome de uma planta, uma árvore, no interior, indo para Fortaleza, do Rio Grande do Norte para Fortaleza. Depois, com dois, três anos de casado, ele entrou no Banco de Crédito Real de Minas Gerais, em Natal, na capital, e ficou até aposentar.
P/1 – Essa planta é uma fruta? Você sabe alguma coisa?
R – Não, é uma planta que foi reflo...
P/1 – É típica da região?
R – É típica da região, dessa região do Rio Grande do Norte até o Ceará. O que eles fizeram foi plantar algarobas. Isso que ele fez no início. Depois que ele saiu do Exército, ele trabalhou com isso. Acho que por um ou dois anos e, aí, foi para o Banco.
P/2 – E a sua mãe?
R – Minha mãe sempre foi do lar, doméstica. Sempre cuidou do lar.
P/2 – Cuidou dos filhos?
R – É.
P/2 – E os seus avós, eles faziam o quê? Você sabe?
R – Todos, da parte da minha mãe e da parte do meu pai, eles eram de trabalhar na roça, como se fala, na lavoura, rural. Todos são da área rural.
P/2 – Você sabe qual a origem do nome da sua família? Você estava falando desse Dantas, você sabe de onde veio?
R – A origem? É Carnaúba dos Dantas, uma cidade. Na realidade, os meus avós são de Carnaúba dos Dantas, que é uma cidade vizinha a Acari. Essa cidade Carnaúba dos Dantas tem um lugar em que as pessoas fazem o Monte do Galo, que fazem peregrinações, romarias, tem uma santa chamada Vitória... e as pessoas todas da nossa família, avós, bisavós, são dessa região. Antes disso, eu não sei. Meu pai falou que alguém falou para ele que o nome Martiniano tem origem alemã, mas ele não conseguiu ver essas coisas. A família do meu pai tem uma parte que é bem loura e a minha mãe é mais para cabocla, a família dela é mais para cabocla; eles trabalhavam em casa de farinha, essas coisas. E o meu pai sempre em Seridó, mesmo. O Seridó é essa coisa, lidam com terra, gado, essas coisas, e trabalham em lavouras, né? Aí, o Seridó é esta coisa de leite, queijo, manteiga do sertão, de Caicó, esta região.
P/2 – Manteiga de?
R – Do sertão. É uma manteiga de garrafa.
P/2 – Ah, uma manteiga de garrafa.
R – Então, aí, aquela região do Seridó, Caicó, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas já é menor. Aquela região ali toda chamam de Seridó. Não sei se por causa das serras que tem, chapadas nesta região. E também tem minério, em Currais Novos, que é vizinho, tungstênio.
P/1 – Você foi criada em Natal?
R – Fui criada em Natal e nas férias de julho, que era a época menos quente no interior, a gente sempre passava o mês de férias lá, todo o mês de julho.P/1 – E chega a ser fresquinho nessa região de serra no inverno?
R – Em julho é. Em julho, à noite, você dorme com coberta. Assim, não é frio como o Sul...
P/1 – Me diz uma coisa, Mires, para você era uma diferença muito grande da vida em Natal, essas férias que você ia para o Seridó, para o sertão? Você tem registro bom na memória?
R – Era diferente porque no interior, eu sentia saudade de pão francês, pão de padaria, e na capital eu não dava valor a isso, porque comia isso todos os dias. E na casa da minha avó comia macaxeira, carne de sol, de manhã, no café da manhã, ovos, batata, milho... parecia que estava almoçando de manhã. E, aos domingos, se comia pão francês. No café da manhã, só aos domingos tinha pão francês. E em Natal era isso que eu comia, né, pão, manteiga, café com leite, essas coisas. Café com leite eles tomam, normal, porque tem muito leite.
P/1 – Você chegou a aprender a fazer farinha, ir para a casa de farinha, ou você era criança e só via?
R – Só via, mas a minha mãe sabia fazer porque o pai dela trabalhava, era empregado dessas pessoas. Eram trabalhadores rurais, não eram fazendeiros, não eram donos de fazenda, não [risos]. Eles cuidavam das fazendas de outros, não era deles, não.
P/2 – Você tem quantos irmãos?
R – Sete irmãos. Ao todo são oito: quatro homens e quatro mulheres.
P/2 – E vocês iam constantemente para a casa dos seus avós?
R – Até o ginásio, o período de ginásio, a gente sempre ia. No primário, era certo, todo mês de julho passávamos as férias lá. No ginásio, ainda assim a gente ia. Mas depois que fica assim, moça, né, fiquei moça, aí já demorei mais a ir, porque aí já gostava de ir à festas em Natal, discotecas, essas coisas, aí já diminuiu um pouco. Mas sempre meu pai fazia questão, porque a minha avó cuidava de uma fazenda grande, de um primo distante da gente, primo de, sei lá, terceiro grau, não sei, longe. Acho que não vou considerar primo não. Lá no interior, todo mundo é primo. Ela cuidava e tinha muitos quartos na casa. Ela tinha um quarto para cada filho dela. E ela tinha 12 ou 13 filhos. E ele conseguia assim, uma boa quantidade de filhos que podiam ir com as esposas e os netos. E ficavam todos nessa casa.
P/2 – Então, você convivia muito com os primos e tios?
R – Muito, convivia muito, até os 15 anos, todo mês de julho estava lá, nas férias de julho.
P/2 – A família toda?
R – É, a família toda. E depois ficava em Natal o ano todo. Eles também iam à Natal.
P/1 – Eles eram de Natal também?
R – Eles eram todos de lá.
P/1 – Todos da região mesmo?
R – Todos da região. Assim, a minha família é toda oriunda do interior. E, em Natal, meu pai foi a primeira pessoa da família dele a ir morar na capital. Porque ele foi servir o Exército e ele gostou. Acho que ele gostava mais da vida da capital do que do interior. Dos filhos, os outros não, mas ele sim. Ele ficava em Natal e, depois do Exército, ele quis ficar. Tanto que ele não parece que foi uma pessoa do interior. Mana mãe fala isso assim: “ih, nem parece que você morou no interior!” Porque ele sabe só mexer com papel, fazer contas. A minha mãe ficava falando que ela era o homem e a mulher da casa, porque ela é que consertava porta, em Natal. Aí, moramos sempre em Natal.
P/1 – Em Natal morava em casa, perto de praia? Como era o bairro que você morava?
R – A gente morava no bairro Lagoa Seca. Era um bairro que não era no centro, mas ele era próximo da Escola Técnica Federal, lá. Assim, dava para ir a pé para a cidade se quisesse. É longe um pouco, mas a gente andava muito a pé. Não era um bairro bem central, porque centro é o centro da cidade, não era tão central. Depois, a gente foi morar mais afastado, na entrada da cidade, no Conjunto Residencial Pirangi, que já era um bairro afastado, antes de Ponta Negra, na entrada de Natal. E era longe da cidade. No início, era no centro, depois ficou longe. No segundo grau, já fui morar nesse lugar, mas a infância eu passei mais próxima do centro.
P/1 – E tinha muitos colegas na rua? Quais eram as brincadeiras? Muito irmão que você tem, né, devia ser uma farra...
R – É. Você chegava da escola, tirava a roupa, o uniforme da escola, e já ia para a rua. Antes de almoçar mesmo, eu já estava brincando na rua. Tinha muitos amigos na rua. A gente sempre brincou na rua nesse período. Não tinha muito essa coisa de ver televisão, não. Era brincar na rua mesmo.
P/1 – Tinha alguma brincadeira que era preferida, que você lembre?
R – Ah, que eu me lembre, esta que o pessoal chama de queimado aqui. A gente chama de queimada, também lá, esqueci, é queimada. Aqui chama queimado, lá chama queimada. E garrafão, brincava no garrafão, dava a volta no garrafão; e pegar bandeira do outro, correndo para o outro lado; pular corda. Essas brincadeiras de rua, né? Sempre na rua. Tomava banho de chuva...
P/1 – É bom, né?
R – Chuva é bom, no Nordeste, chover é...
P/1 – Aquela chuva grossa, quando cai no final do dia.
R – É, ih, tomava muito banho de chuva!
P/1 – Você falou que na sua casa, quem fazia as coisas era a sua mãe. E ela mandava mais dentro de casa ou era o seu pai?
R – Ela é que mandava dentro de casa. Meu pai só dava o dinheiro do trabalho dele.
P/1 – Ela é quem sapecava as palmadas?
R – É, ela é quem educava, quem dizia não para a gente. Ela sempre foi quem educou e cuidou dos filhos. Ele era só bom porque ele era muito responsável no trabalho dele, nunca bateu na gente. É ruim quando o pai bate, porque batida de pai dói mais.
P/2 – Mas a mãe batia, né?
R – Ah, minha mãe, chinelo... A gente dava muito trabalho, porque muitos filhos, davam muito trabalho. Não sei como ela dava conta, eu só tenho dois...
P/1 – E você teve alguma educação religiosa em casa?
R – Católica. Eles não eram muito rígidos, mas foi católica. E no primário, também estudei numa escola que era Ambulatório Padre João Maria, que também tinha ensino religioso.
P/1 – Foi a sua primeira escola?
R – A primeira escola foi o Educandário Dom Bosco, que eu só fiz a alfabetização. Depois, fui para essa escola Ambulatório Padre João Maria, e lá tinha educação religiosa só no primário. Depois, estudei numa escola polivalente, que é a Escola Estadual Polivalente e, depois, a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Aí não tinha religião, não.
P/1 – E como era a sua primeira escola? Você ainda tem lembrança dela?
R – Ah, eu tenho, porque na alfabetização, acho que eu fui a primeira da turma e a professora gostava muito de mim, me visitava, me convidava para almoçar com ela. Eu gostava muito. A gente ir na casa da professora era...
P/2 – E você tinha quantos anos?
R – Na alfabetização? Seis anos. Não fiz Jardim, já fui direto para alfabetização. Aí, eu gostava muito da professora, e me lembro dela por isso, porque ela não tinha filhos e ela me convidou umas duas ou três vezes para almoçar na casa dela. Eu gostei muito.
P/2 – E depois, você estudou onde? Me fala um pouco da sua vida escolar.
R – Na escola primária era uma escola que de manhã, a gente estudava normal e, algumas vezes à tarde, a gente aprendia a costurar, bordar.
P/2 – Mas ficava direto na escola?
R – Não. Nessa escola, tinha crianças que eram internas, a gente chamava de creche. Mas eu ia e voltava pra casa. Era perto da minha casa e eu ia sozinha e voltava sozinha. Era boa a escola. Eu não sei como se chama aquela escola, eu sei que pagava uma caixa escolar, mas era bem barato, porque os meus pais conseguiam pagar e eles tinham uma vida difícil, e eles conseguiam pagar para esse povo todo [risos].
P/1 – Para os oito?
R – Ah, eu esqueci de uma irmã que morreu com nove meses, a Arlete. Primeiro é meu irmão, Paulo, depois eu, Maria Nires, depois essa menina, a minha mãe colocou o nome dela de Arlete. Ela caiu da cama, a minha mãe contou. Eu tenho uma foto dela só, pequenininha… Ela caiu da cama e aí faleceu. A minha mãe falou que meu pai é muito supersticioso – igual o Roberto Carlos – e ele achou que foi porque ele mudou muito o nome, então ele não ia mais “botar” nome diferente. Então, na minha casa, as quatro meninas que são vivas são: Nires, Iris, Isis e Dires.
P/2 – Ah, por causa disso?
R – Ele fez assim, ele pegou essa raiz desse meu nome Nires, e foi fazendo o nome das outras. Só por superstição
P/1 – Isso é só com as mulheres?
R – Só com as mulheres. Dos homens é: Paulo, Carlos, Jarlinho e André. Os homens são diferentes. Só com as meninas que ele achou que não, então ia pegar meu nome e do meu nome ele fez Iris, Isis e Dires. A minha irmã caçula não gostou do nome dela, não: “ah, foi muito inventado o meu nome.” Eu sou Maria Nires, a segunda é Iris Maria e a outra é Isis Maria. A caçula é Dires Miele, porque a minha mãe queria o nome Miele e ele queria Dires. Aí, ele já se aceitou, ficou Dires Miele. Entraram num acordo no final. Nos nomes ele sempre dava palpite.
P/1 – Nires, me diz uma coisa: você é a segunda filha aí dessa irmandade. Você ajudava a cuidar dos seus irmãos menores? Brincava de boneca com elas?
R – Ah, ajudava. Eu que, quando eu casei, o que eu sei fazer bem é cuidar de filhos. Eu acho que eu sou uma boa mãe. Boa dona de casa eu não sou, não. Sou boa mãe, eu acho que eu sou uma mãe muito boa, porque eu cuidava dos meus irmãos. Levava na escola, buscava, dava remédio, sabia cuidar bem de criança. Posso abrir uma creche [risos].
P/2 – Mas você ajudava também nas tarefas da casa ou não?
R – Ajudava. Nas tarefas de casa, a minha mãe dividia assim, tinha um dia que eu varria a casa, outro dia tinha que lavar a louça. Mas, se eu tivesse que estudar, eu não era obrigada a fazer nada em casa. Se eu não quisesse fazer alguma coisa, eu dizia: “ah, tenho uma prova hoje.” Aí, minha mãe: “ah, então você está liberada, não precisa fazer nada em casa.” Ela não obrigava a gente a trabalhar dentro de casa.
P/1 – Você era estudiosa?
R – Era, sempre estudei, sempre gostei muito. Eu fui muito estudiosa, principalmente no primário. Eu não digo ginásio, segundo grau, essa coisa, não. Era normal, era uma aluna média. Mas no primário, eu sempre queria ser a primeira da turma e nem só por isso, mas porque eu gostava de estudar, eu queria ser professora, dava aula para as minhas amigas. Se alguém chegasse na minha casa e quisesse que eu ensinasse alguma coisa, eu adorava fazer isso. Eu sempre gostei. Eu ia com febre para escola, a minha mãe não queria que eu fosse à aula e eu queria. Não gostava de ficar doente porque não gostava de perder aula. Eu gostava muito de estudar no primário. Gostava muito.
P/1 – E você tem alguma lembrança marcante desse período da escola?
R – Eu peguei pneumonia e fiquei um mês em casa.
P/1- Gostava de ir para a escola, mas gostou da pneumonia?
R – Fiquei um mês em casa, foi ruim essa época. Da infância que eu lembro que foi ruim foi isso.
P/1 – Mas uma lembrança boa da escola?
R – Boa da escola era fazer aquelas festas de final de ano, que tinha escola que tinha teatro, e apresentar alguma coisa. Eu gostava de fazer isso, gostava muito.
P/2 – Como os estudos influenciaram na sua escolha?
R – Na profissão?
P/2 – É, porque você falou que queria ser professora. Por que você não foi ser professora?
R – Eu não fui professora porque as irmãs do meu pai, elas ficaram no interior, mas todas se tornaram professoras. Elas davam aula no interior, em casa, no Mobral – naquela época tinha Mobral. Das irmãs do meu pai, a profissão delas é professora. Tem uma que é nutricionista, que foi para Natal e outra que trabalhou na Petrobras de Natal. Mas o resto, a maior parte, são professoras. Então, acho que você acaba vendo muito o que os parentes estão fazendo. Eu tinha vontade de ser professora. Eu gostava muito e tenho muito respeito pela profissão de professor. Mas, minha mãe, ela achava que não era bom ser professora, porque ela disse que eu ia falar muito, que eu ia ficar debilitada – o jeito que ela falava – de tanto falar: “você não sabe o que é a vida de uma professora!” Ela achava que não era uma profissão boa. Não sei por quê. Depois, eu fui para a Escola Técnica, já era uma área mais técnica, e gostei, eu gostei dessa área de Exatas, de Técnica. Eu fiz Mineração.
P/1 – Você entrou com que idade para a escola técnica?
R – Para a Escola Técnica, eu entrei com 15 e daí fiz 16, 17 e 18 anos. Porque eu sou de julho. Entrei com 15 e saí com 18 anos.
P/2 – Você fez o curso técnico de Mineração?
R – É, de Mineração, e fiz estágio na Petrobras de Natal. Um curso técnico mesmo de Mineração, eu fiz estágio no laboratório de fluidos de perfuração, e depois fiz concurso para a Petrobras. E também vestibular, essas coisas. Tudo ao mesmo tempo.
P/1 – Ah, você chegou a fazer vestibular?
R – Primeiro eu fiz estágio na Petrobras e, enquanto eu estava fazendo estágio, eu já estava fazendo faculdade.
P/2 – Faculdade de que?
R – Comecei com o curso superior de Tecnologia Têxtil, depois mudei para Engenharia Química.
P/2 – E você terminou?
R – Não, nenhum dos dois.
P/2 – Por que não?
R – Porque fiz concurso para a Petrobras e passei para analista, antes não era esse nome, técnico químico de petróleo, antes acho que era só analista.
P/2 – Antes de você chegar nessa parte Petrobras, que a gente vai retomar, queria voltar um pouco. Fala um pouco da sua juventude, quem eram os seus amigos.
R – Meus amigos eram os amigos da rua, os vizinhos, que moravam na rua, e os da escola técnica. Eu comecei a sair assim, para festa e essas coisas, quando eu já estava no segundo grau. No ginásio ainda não saía muito, não. Comecei a sair para passear, namorar, com 15, 16 anos.
P/2 – O que vocês costumavam fazer? Qual era o seu divertimento?
R – Ir à praia, ir a luau, essas coisas, e também discoteca. Quando chegou a época da discoteca, eu estava dentro, eu já ia dançando na rua. Adorava dançar. Era isso que a gente fazia, dançar, tocar violão de noite, na rua, ficar em banquinhos sentados. Ou então, ia assim, acampar em praia, ficar na beira de praia até tarde da noite, essas coisas. E andar a pé na rua. Gostava muito de andar a pé na rua, voltava dos bailes a pé, com o grupo, né?
P/1 – Era muito namoradeira?
R – Namoradeira? Eu acho que... não sei... Não... Era... Era namoradeira, mas acho que tinha mais amigos, que namoradeira. Mas eu gostava de namorar [risos]. Mas eu tinha mais amigos. Eu posso considerar que eram mais amigos do que namorados. Hoje em dia fala ficante, né? Eu falo para a minha filha: “ó, você vai paquerar alguém aqui?” [risos] Paquerar... Mas eu gostava. Nessa época é normal, de adolescente, né?
P/2 – Com quantos anos você teve o seu primeiro namorado? Você lembra?
R – Primeiro namorado? Eu acho que eu tinha uns 16 anos. Então, já não era namoradeira [risos].
P/1 – Você disse que a sua mãe não gostou muito da ideia de você ser professora. Ela tinha alguma expectativa em relação a sua carreira?
R – Não, ela não dizia nenhuma, ela só não queria que eu fosse professora.
P/1 – Sabia o que não queria.
R – Eu não sei por quê. Eu fico pensando nisso, mas ela não queria que eu fosse professora. Não sei por quê. Acho que ela achava que as cunhadas dela eram professoras e também donas de casa, e também ajudavam os maridos delas na lavoura e, vira e volta, elas ficavam doentes por excesso de trabalho. Acho que era isso. Ela nunca falou, mas ela não queria que eu fosse professora.
P/1 – E quando você escolheu o curso técnico, você já tinha alguma expectativa em relação a sua carreira?
R – Não, eu escolhi mais porque eu gostava de ficar no mato, em campo. Eu gostava muito de ter contato com a natureza, essas coisas, de ir à praia, ou no próprio interior, subir morro, descer serra, essas coisas. Eu fiquei pensando que se eu fizesse curso de Mineração ou Geologia, eu ia trabalhar no campo direto assim, não como lavoura, mas com pedras, rochas, minerais, essas coisas. Aí, eu fiquei pensando: “eu vou fazer mineração porque eu quero trabalhar num afloramento, trabalhar com minérios no Brasil.” Aí, eu fiz o curso todo. Mas quando desci numa mineração em (Acauana?) (Chelita?), a gente desceu 70 metros - numa mina de subsolo - a gente desceu 70 metros num elevador de madeira, e depois tinha umas galerias e muita falta de ar. Ali mesmo eu já disse que aquela não ia ser a minha profissão. Já desisti daquela profissão no último ano. Eu gostei de estudar as rochas, cristalografia, estudar aquilo tudo, gostei de estudar a Mineralogia, mas quando eu fiz essa experiência de descer na mina, eu já desisti. E gostei de Química nesse período. Fazendo mineração, comecei a gostar de química. E quando tive oportunidade de fazer estágio no laboratório da Petrobras, eu disse: “é isso que eu quero.” Eu já estava decidida. Mesmo que não fosse entrar na Petrobras, eu iria seguir essa carreira de Engenharia Química, porque já tinha escolhido isso.
P/1 – E você tinha que prestar concurso para o estágio ou não?
R – O estágio, a escola técnica deu o nome da gente, indicou, encaminhou. Aí, fazia estágio lá. E no estágio, eu já estava gostando de Química: “ah, então, é isso que eu vou fazer.” Tanto que eu passei no concurso e eu fazia faculdade de Engenharia Química. Já estava no primeiro semestre de Engenharia Química, já tinha mudado de curso, mas na mesma hora, acho que independente da condição da minha família, assim, de eu ter a oportunidade de trabalhar na Petrobras mesmo no nível médio, eu fui trabalhar e gosto muito disso. Porque eu já tinha escolhido a profissão e já tive a oportunidade, não assim, com nível superior, mas já trabalhando na área onde eu gostava.
P/1 – E quando a Petrobras apareceu como opção de trabalho para você, o que te motivou a fazer o concurso?
R – O estágio. Eu gostei muito do estágio, de como era a Petrobras, da visão da Petrobras, do que ela representava. Eu fiquei muito empolgada.
P/1 – E qual era a imagem que você tinha da empresa?
R – Ah, eu sentia assim, um cartão postal do Brasil. Um cartão não, mas uma coisa que estava dando certo no Brasil. Tinha uma imagem positiva da Petrobras.
P/1 – E você entrou e foi trabalhar em que área na empresa?
R – Direto em laboratório. Sempre trabalhei em laboratório, como analista – eles chamavam analista – tem analista de sistemas, mas a gente era só analista. Fazia análise, né, de tudo, petróleo, essas coisas assim. Depois, a Petrobras teve uma mudança de cargos e passou para técnico químico de petróleo.
P/1 – É o seu cargo?
R – É, hoje em dia é esse nome, mas quando eu entrei, era analista.
P/1 – E ficou difícil conciliar com a faculdade?
R – No estágio, eu acho que eu tranquei algumas matérias e consegui fazer o estágio e fazer a faculdade. Só que aí, eu terminei o estágio e já teve o concurso. Eu passei no concurso e continuei na faculdade esperando a Petrobras chamar. Quando chamou, larguei a faculdade e fui trabalhar.
P/1 – Então, ficou difícil conciliar?
R – Não dava porque em Macaé, eu vim direto para Macaé. E Macaé só tinha faculdade de Letras, particular e não era federal. Aí, nunca mais fiz faculdade [risos].
P/2 – Nunca mais teve vontade de voltar a estudar?
R – Depois, no ano seguinte – eu cheguei em 1982 –, eu me casei e já tive filhos. Aí, depois, já não dava mais para trabalhar, ter filhos e ainda fazer faculdade de uma coisa que eu não queria, porque eu não queria Letras. A não ser que eu fosse ser professora. Talvez, um dia [risos]! Quem sabe, quando aposentar, vou ser professora [risos] de alguma coisa.
P/1 – Nires, como você conheceu o seu marido? Ele é da Petrobras também?
R – É, ele fez estágio no laboratório da Petrobras de Macaé. Ele foi fazer estágio e eu falei para ele: “ah, você pode ficar no meu lugar, para eu voltar para Natal?” Ele disse: “Não sei...” Tipo assim: “você não quer trabalhar aqui, no meu lugar? Você fica aqui e eu vou para Natal, peço transferência.” Quando eu cheguei em Macaé, eu já fiquei tentando transferência para Natal.
P/1 – Você chegou em Macaé em que ano?
R - Em 1982. Em dezembro de 1982 mesmo, o José Mauro se apresentou no meu setor para fazer estágio. Aí eu falei para os meus colegas: “ih, será que ele não quer ficar no meu lugar aqui? Ele é daqui de Macaé...E eu vou embora para Natal.” Aí, eles falaram: “não, ele está fazendo Engenharia Química, ele não vai querer ficar no seu lugar.” Todo mundo ficava falando.
P/2 – Ele é do Rio de Janeiro?
R – Ele é de Macaé, Rio de Janeiro.
P/1 – E ele fazia Engenharia Química onde?
R – Aqui na Universidade Rural do Rio de Janeiro.
P/1 – Ah, na Rural?
R – É, na Rural. Aí, eu estava na secretaria lá da Petrobras, tirando as férias da secretária do nosso gerente. Ele se apresentou e eu falei: “ah, você vai fazer estágio em Química aqui e tudo? Depois eu quero conversar com você… não sei o que...” Aí, falei com ele: “olha, determinado ensaio que tem lá, você não deixa ninguém ensinar para você, porque eu faço isso bem e eu vou ensinar para você, porque você vai ficar no meu lugar.” Ele ficou assim, ele achou estranho o jeito de eu falar: “ah, tá...” E toda hora eu falava pra ele: “não deixa ninguém. Eu estou aqui na secretaria, mas quando eu descer no laboratório, eu vou lhe ensinar isso. Você não deixa ninguém ensinar isso, eu é que tenho que ensinar.” Aí, ele ficava esperando. Ele disse que as pessoas falavam: “olha, você agora vai aprender determinado ensaio.” “Não, é a menina que está na secretaria, falou que ela é que vai ensinar.” E eu ficava enrolando, e aí começou aquela paquera no laboratório. Eu fiquei ensinando as coisas a ele: “olha, você vai ficar no meu lugar.” “Mas por que você quer ir embora?” “Ah, não. Fico triste longe da minha família. Gasto muito dinheiro com passagem de avião.” Porque, tipo assim, Carnaval, ia para Natal, na Semana Santa ia para Natal, em Novembro, votar, ia para Natal. Então, os primeiros salários meus foram da Varig. Eu não tinha nada. Às vezes eu ficava sem dinheiro para comer, assim, fazer um lanche extra, porque eu gastava tudo em passagem de avião, para ir para Natal. Porque eu não estava me adaptando à Macaé quando eu cheguei.
P/2 – Aí, vocês começaram a namorar...
R – Comecei a namorar e conheci a família dele que é toda de Macaé. Se ele não tivesse família em Macaé, acho que eu não tinha me casado com ele [risos]. Ele falou que ele tinha família em Macaé e eu estava carente, sozinha. Aí, eu fui me envolvendo, me envolvendo... Depois, acho que a transferência até chegou a sair. Aí, o pessoal: “ih, você ainda vai querer a transferência para Natal?” “Não...”
P/1 – E ele aprendeu o tal ensaio?
R – Aprendeu. Eu ensinei bem...
P/1 – E ele ficou trabalhando na mesma área que você?
R – Não, ele só fez o estágio lá na Petrobras e voltou para a Universidade Rural e a gente continuou namorando, namorando. A gente começou a namorar em janeiro e, em novembro desse mesmo ano, a gente casou.
P/2 – Nossa!
P/1 – Foi rápido?
R – É. Em julho...
P/2 – Por que tão rápido?
R – Porque, porque eu fiquei grávida [risos]. Acho que a gente ia acabar casando mesmo, mas a gravidez apressou o casamento. Aí, nós casamos, ele ainda era estudante. Eu trabalhava e ele era estudante, ele estava se formando na Rural. Os pais continuaram ajudando. O pai dele deu uma casa para a gente morar e ele continuou fazendo faculdade e eu trabalhando.
P/1 – E ele voltava todo dia?
R – Não, ele ficava aqui na Rural de segunda a sexta. Na sexta feira à noite, ele ia para Macaé e voltava na segunda de madrugada. Era sempre assim. E quando tinha prova, não vinha. Fiquei um ano assim, ele estudante e eu trabalhando. No ano seguinte, eu fiquei grávida do segundo bebê – os dois únicos filhos nossos – e aí ele entrou na Petrobras.
P/1 – Ele fez concurso? O estágio já era concurso?
R – Não, fez concurso. Ele fez outros concursos, mas uns ele perdeu a entrevista... O concurso que ele passou primeiro foi para operador de produção, que passou e se empregou. Aí, pronto. Foi melhor assim. Para ele, não sei se foi tão bom, porque ele acabou não exercendo a profissão dele, né, não exercendo engenharia química que ele se formou. Mas para a gente foi bom. É ruim quando fica o esposo sem trabalho e só a esposa trabalhando... Não é bom.
P/1 – Então, o primeiro ano de casamento de vocês, você ficava lá e ele cá. Já era...
R – É, já era essa coisa. A gente já estava acostumado com essa coisa de ficar longe fisicamente.
P/1 – E quando o primeiro filho nasceu, como foi a arquitetura de ele vir pra cá e pra lá? Você se sentiu muito só?
R – Os pais dele ajudaram bastante. E também veio uma irmã minha de Natal.
P/1 – Você era nova, não é?
R – É, Luane nasceu, eu ia fazer 23 anos ainda. Tinha 22, 23. Aí, uma irmã minha, a segunda, veio e me ajudou a cuidar de Luane. Ficava com Luane em casa enquanto eu ia trabalhar. E a minha sogra também me ajudou bastante. Ela foi assim, uma mãe aqui. Porque a minha mãe não podia, porque quando a minha filha nasceu, eu tinha um irmão ainda de uns oito, sete anos, e a minha mãe tinha que cuidar. E é longe a distância, não dava para ela vir para cá de jeito nenhum. Mas é isso!
P/2 – Logo depois, você teve outro filho também?
R – Sim, tive outro filho. Olha, quando a minha filha tinha oito meses, eu fiquei grávida do meu segundo filho.
P/2 – E como foi conciliar casamento, casa, dois filhos?
R – Nossa! Às vezes, eu ficava pensando: “ah, eu vou desistir disso tudo! Eu vou embora!” [risos] Às vezes dava vontade de desistir de casamento - de filhos não, porque eu acho que essa coisa, a relação que a gente com filho é muito forte - mas de trabalho, de tudo. Meu Deus, que loucura! Eu era muito jovem, era muita responsabilidade. Mas consegui passar por essa fase mais difícil.
P/1 – E o seu marido entrou para a Petrobras em que ano?
R – Então, eu entrei em 1982 e ele entrou em 1985. É, ele tem 18 anos de Petrobras.
P/1 – Aí, ele foi trabalhar em que setor, que você disse que não tinha nada a ver com a faculdade?
R – Ele foi trabalhar direto na Plataforma Cherne 1, como operador de produção. Eu falo assim, você estuda tanto, ele estudou, né, tem coisas da área dele também, mas só que você é formado em engenharia química e vai trabalhar como operador de produção? Você fica muito… Hoje em dia, a Petrobras se preocupa muito com e empregado, com ambiência, com essas coisas, mas no início, não sei se era culpa da própria gerência, mas era uma loucura.
P/1 – É porque estava iniciando a Bacia de Campos, estava crescendo nesse momento.
R – Então, as pessoas trabalhavam, tinham que fazer trabalho pesado... É a profissão também, né, porque toda profissão é digna, mas eu falo assim, é uma loucura. Além de ser um trabalho confinado, pelo menos o Zé Mauro demonstrava para mim que era muita pressão, assim.
P/1 – E em 1985 estava começando a esquentar ainda, né?
R – Começando a produção, aquela coisa toda. Eu achei que ele não gostou muito, não. Ele falava para mim que ele trabalhava naquele período porque ele precisava trabalhar, por causa da família, dos filhos. Ele parecia que não gostava. Enquanto eu gostava, adorava o meu trabalho, ele não gostava muito, nesse período, ele não gostava muito.
P/2 – E como era para você estar casada com alguém que trabalhava embarcado e ia pouco para casa?
R – Eu achava ruim, porque naquele período, além de ser nova, eu tinha que ficar dependendo muito das pessoas para me ajudar, como parentes. Apesar deles gostarem de ajudar, não é a mesma coisa. E eu sentia muita saudade.
P/1 – Quanto tempo ele ficava?
R – Naquela época, ele ficava 14 dias e folgava 14. Era 14 por 14.
P/1 – Os 14 dias de folga não davam para compensar não?
R – Ah, sim. Na realidade, para mim não era tão ruim, porque os 14 dias que ele ficava lá, ele levava o filho no médico, cuidava da educação, né, estava em casa, levava o filho na escola e me ajudava bastante.
P/1 – Era um pouco dona de casa?
R – Era. Ele falava assim que era pai e mãe. Durante 14 dias, ele dizia que era praticamente pai e mãe. E os outros 14 dias, eu era pai e mãe. E trabalhava fora.
P/1 – E, naquela época, a comunicação era fácil? Se você tivesse um imprevisto e quisesse falar com ele embarcado?
R – Era mais difícil, mas para o pessoal da Petrobras não era tão difícil, não.
P/1 – E para quem não era da Petrobras era complicado?
R – Sim. Para mim, que sou empregada, é fácil, mas para as esposas era difícil. É, porque alguns lugares, as pessoas tinham que falar por rádio. Eu me lembro que às vezes tinha que passar um rádio para as esposas de colegas meus embarcados, do meu setor, da minha área. Aí, “positivo, negativo...”, falava uma coisa assim: “oh, nasceu o seu filho, não sei...” Aí, o rapaz falava “negativo.” “Não, nasceu mesmo!” É porque ele não estava ouvindo o que eu estava falando. Então, ele falava “negativo, negativo”, porque ele não estava ouvindo a minha mensagem. Então, era difícil. Pra mim que era empregada, não era tão difícil.
P/1 – Conta um pouquinho isso, porque então as outras mulheres deviam usar muito, abusar dessa comunicação, desse privilégio.
R – Nossa, elas sofriam. A função assim, de secretária da Petrobras, tinha que ser um pouco psicóloga também, porque eu acho que tinha que filtrar um pouco. A pessoa que fica em casa, por exemplo, acontece um acidente na plataforma; eu sou da Petrobras e entendo mais ou menos como é o processo do controle de um acidente, pelo menos tenho uma ideia como ficam as coisas. Mas quem está em casa e é apenas dona de casa, é muito difícil. Então, as pessoas ligam desesperadas para saber: “ah, não sei quem tá aí”?” “Calma, está aqui...” Naquela época, acho que era mais difícil. Hoje em dia é mais fácil.
P/1 – O que é que mudou?
R – Acho que mudou essa coisa da Petrobras, por exemplo, ela tem mais gente na área de recursos humanos envolvida com esse trabalho.
P/1 – Dá assistência às famílias?
R – É, dá assistência, eu acho, assistentes sociais. Eu acho que a Petrobras melhorou bastante com isso, com assistentes sociais, psicólogos, ajudou mais essa coisa de apoio. Acho que ela dá mais apoio hoje em dia.
P/1 – E a comunicação é mais fácil? Nem se usa mais o rádio?
R – Ah, é, e tem internet e tudo. Acho que hoje em dia é bem mais fácil do que naquela época.
P/1 – As mulheres de embarcados se sentem um pouco mulher de pescador, que o sujeito sai para o mar...
R – É, eu acho que para mim que trabalho na mesma empresa é menos difícil, mas para quem não é, a pessoa deve sentir mais essa mudança do esposo, do marido embarcado e do marido desembarcado, acho que elas sentem mais do que a gente que trabalha, que sabe mais ou menos como é.
P/1 – E seus filhos quando eram crianças, eles reclamavam muito do pai estar fora? Como é que eles lidavam com isso?
R – Eles reclamavam porque eles ficavam vendo, assim, dois tipos. Eles sentiam bem essa diferença de “papai está embarcado” e “papai está em casa”. Eles sentiram mais do que eu, acho. Pelo menos o que eu converso com eles, eu acho que eles sentem mais essa diferença.
P/2 – Ainda sentem?
R – Hoje em dia? Eu acho que hoje em dia não, porque já estão na faculdade. Mas era diferente.
P/1 – Mas eles chegaram a reclamar?
R – Porque meu esposo é mais rígido, assim, com educação, e eu sou mais tipo “deixa ir nas festas”, ele já não. Minha filha, com 13 anos, já queria ficar até mais tarde, aí, Zé Mauro: “meia-noite em casa.” Eu já liberava um pouquinho. Essa coisa, eu acho que eles sentiram, da educação. Eu não sei qual vai ser o resultado disso, mas eles devem sentir, porque apesar da gente fazer uma coisa em comum, para a família, mas tinha diferença quando somente eu estava no comando em casa e quando era com o meu esposo junto. Quando estávamos nós dois, sempre a palavra dele é que valia mais.
P/1 – Quando estavam os dois?
R – Isso. E eu sozinha... Não tinha ninguém para concorrer comigo [risos].
P/1 – Tinha situações dos seus filhos esperarem ele embarcar para pedir alguma coisa?
R – Tinha.
P/1 – Conta como era isso.
R – Luane, a minha filha, é que dava mais trabalho. Porque ela nova, já queria ir para uma determinada festa ou “ah, mãe, eu posso ir passar a Semana Santa na serra com a mãe de uma amiga minha e ficar lá não sei quantos dias?” Aí, o Zé Mauro: “ah, eu acho perigoso, porque a serra tem cachoeira, e tem muito mosquito, muito não sei o quê...” Aí, ela falava: “o papai vai estar embarcado nesse período?” Porque aí, eu deixava e depois ficava “engambelando” o Zé Mauro. “Fulano tá aí?” “Ah...” Já aconteceu isso assim lá em casa. Em relação ao nosso filho não, mas a menina deu mais trabalho. Eu tive que deixar Zé Mauro despreocupado na plataforma, quando na realidade, Luane estava subindo serra, fazendo acampamento.
P/1 – Você ficava muito angustiada ou levava isso numa boa?
R – Não, eu ficava rezando para que não acontecesse nada. Porque se acontecesse alguma coisa errada, o Zé Mauro falava “a culpa é sua, deixou essa menina subir a serra, nessa idade com...” O que ele fala assim, não é com parentes, é com amigos, com pessoas assim. Ele sempre falava: “olha, se acontecer alguma coisa...” Então, realmente tinha essa coisa dele embarcado e ele desembarcado. Se no Carnaval, Zé Mauro estivesse embarcado, botava a fantasia e ficava no clube até três, quatro horas da manhã, com os amigos, os vizinhos, todo mundo conhecido. Mas se ele tivesse em casa, ele já achava ruim: “essa hora, minha filha, você só tem 14, 15 anos! Voltar essa hora do clube?” Eu já fiquei no clube até cinco horas da manhã num Carnaval, porque ela tinha , acho que 12 anos, e queria pular carnaval. Então, eu tive que ficar lá, morrendo de sono, para não ter problema, porque aí, realmente, eu já fiquei preocupada de deixar ela ir sozinha e acontecer alguma coisa. Eu tive que ficar lá no clube, morrendo de sono, eu dizia: “meu Deus, como é que ela aguenta?” E ela lá, pulando. Ela sempre gostou de festa. Aí, o Mauro diz “não”, ela acha que ele só diz não, mas já deixou... Num mês assim, ele deixava duas vezes ela ir numa festa. Mas quando ele dizia “não” para ela, ela falava: “você só me diz não, não, não!” Ela não entendia que, às vezes, ele deixava também, só que ele deixava pouco, ele era bem rígido na educação. E ela muito festeira, gostava de muita festa. Eu não sabia dirigir, então sempre o meu marido é que tinha que pegar. Eu comecei a dirigir com 40 anos. Então, eu não podia dividir com ele. Eu vejo, hoje em dia, que ele tem razão: você estar em casa dormindo e três horas da manhã você acordar e ir lá pegar o filho numa festa, lá não sei aonde, é cansativo. E ela queria fazer isso todos os finais de semana. Ele tinha razão e ela também. Ela tinha razão porque ela é jovem e eu acho que essa época é muito boa, acho que você não deve prender tanto. Acho que você tem que dar educação, à distância, confiar no seu filho. Dar educação de forma que ele possa ir para qualquer lugar do mundo e você não precise tomar conta. Eu dei educação assim, à distância mesmo, não preciso ficar tomando conta do meu filho. Ele sabe mais ou menos que eu acredito, do que eu acho que é correto. A gente não sabe muito bem o que é certo e o que é errado. Mas assim do que eu aprendi, eles fazem, então, eu confio muito neles. Confio muito que eles não estão se envolvendo com coisas erradas, fazendo coisas que prejudiquem as pessoas. Aí, eu acho que não tem nada de mais, eu deixo mais solto. E meu esposo também acredita neles, confia, mas ele confia neles lá na caminha, deitados.
P/1 – Então, numa certa altura, os filhos deviam gostar do pai embarcado, né?
R – Gostavam. Eu acho que era isso, porque eu fui criada com muita liberdade, então, quis dar isso para os meus filhos também. E meu marido já foi criado com muita rigidez, os pais o criaram com bastante rigidez. Quando a gente casou, foi um contraste, uma diferença muito grande. A gente tentou conciliar, mas foi difícil. Isso, eu não sei como é que vai ser quando eles estiverem realmente adultos. Ele tem 19 e Luane tem 20. Eu acho que eles estão bem, mas eu não sei lá na frente...
P/2 – Eles moram com você ainda?
R – Eles ficam aqui no Rio durante a semana.
P/2 – Ficam sozinhos?
R – Zé Mauro fica mais aqui do que lá.
R – Ah, ele fica aqui tomando conta?
R – É, porque até pra ele, eu trabalhando o dia inteiro fora, deve ser muito triste ele ficar o dia inteiro dentro de casa, Macaé não tem nada para fazer.
P/2 – Aí, ele fica com os filhos?
R – É.
P/2 – E os seus filhos fazem o que aqui? Eles estudam?
R – Psicologia, a Luane. Psicologia e agora Nutrição. Ela vai fazer as duas juntas. Ela fazia Psicologia e agora passou para Nutrição. E Gabriel faz Engenharia Química na UERJ [Universidade do Estado do Rio de Janeiro] e passou para a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], para Engenharia também.
P/1 – Ah, é? Engenharia?
R – Aí, ele vai ficar um pouco na UERJ até o meio do ano, para decidir se ele vai pegar transferência para a UFRJ e ver qual é melhor.
P/1 – O seu marido ainda trabalha embarcado?
R – Trabalha.
P/1 – Agora, ele fica também 15 e 15 dias, como é?
R – Ele fica 14 dias embarcado e 21 desembarcado.
P/1 – E esses 21 dias ele passa aqui no Rio?
R – Literalmente, não, mistura com Macaé. Mas ele fica mais no Rio do que em Macaé. Eu venho aqui para o Rio também. A gente está assim, Rio- Macaé.
P/2 – Você não se sente sozinha, sem os filhos?
R – Eu me sinto, mas ao mesmo tempo, eu acho que talvez eu venha trabalhar aqui, a probabilidade é eu vir trabalhar no Rio. Mas eu acho que eles têm que ter essa oportunidade de ficar sozinhos, sem mim. Eu sou muito, como se fala, “galinha de pinto”, apesar de dar essa liberdade, quando eles estão em casa eu gosto...
P/2 – De todo mundo debaixo da asa.
R – É. Eu tenho essa coisa de ser protetora, mas dentro de casa. Porque eu gosto de fazer tudo, o leite, o pão, eu gosto de fazer essas coisas para eles. E para eles não ficarem, assim, muito acomodados...
P/2 – Independentes.
R – É, eu acho que eles precisam disso. Por isso que até eu estou dando esse tempo de ficar lá em Macaé, para eles... Eu sei porque a minha mãe fazia isso tudo para mim, apesar de ter oito filhos, ela praticamente me dava as coisas na mão. E foi ruim para mim, quando eu vim para Macaé, porque eu não sabia cozinhar, fazer nada, sofri muito. Ficava dependendo dos outros fazerem comida para mim. Não é bom.
P/1 – Mires, para você, você olhando assim para trás, como era, tão jovem, conciliar filhos, marido embarcado, ao mesmo tempo você sozinha em Macaé, como você reclamou que sua família era longe, por mais que a família do seu marido tenha te acolhido super bem, como era para você? Te dava angústia, te dava medo?
R – Eu achava que seria melhor se a minha família estivesse perto. Porque eu sou muito família, eu gosto muito da família, de festa em família, de andar com a família. Eu gosto muito da rua dos amigos, mas eu tenho muita saudade da família. Então, seria melhor se eu estivesse em Natal, assim, se isso tivesse acontecido em Natal, com os filhos, essa coisa. Mas, como a coisa aparece na sua vida de repente, um imprevisto, uma coisa que não era previsível, de eu me casar e com filho e tudo, é difícil. Eu acho que deve ser difícil para qualquer pessoa, porque eu era muito jovem.
P/2 – Você continua indo para Natal com aquela frequência que você ia? Seus filhos vão?
R – Não, agora a gente diminuiu bastante. Depois que eu fiz dez anos de casada... Antes, quando meus filhos eram pequenos, a gente fazia todos os anos. Todos os anos, a gente passava as férias em Natal. Depois que eles começaram a pagar mais do que 50% no avião, a gente foi diminuindo, porque já ficava muito caro para passar as férias em Natal, e também porque a gente foi fazer a nossa casa. Eu fiquei sete anos sem ir a Natal, juntando dinheiro para fazer a nossa casa.
(troca de CD)
P/1 – Durante o tempo que o seu marido ficava embarcado, o trabalho em casa para você dobrava? Você achava mais difícil?
R – Dobrava, porque eu tinha que fazer tudo, pagar as contas, eu tinha que levar na escola, levar filho no médico, tudo dobrava, bem dobrado mesmo. É difícil para a gente ficar sozinha nesse período, casada, e o fato mesmo da esposa, é difícil. Acha difícil fazer tudo isso e ainda trabalhar fora e conciliar essas duas coisas. Você fica sozinha, né?
P/1 – E ele sempre te apoiou para você trabalhar fora ou teve algum momento que ele...?
R – Não, sempre apoiou, sempre.
P/1 – E ele reconhecia o seu trabalho, que era mais difícil quando ele estava fora? Vocês conversavam sobre isso?
R – É, a gente conversava, mas, não sei porque, ele sempre achou o trabalho embarcado – e acho que é realmente – um trabalho mais difícil. Para ele, o trabalho dele era mais estressante que o meu. Ele achava isso. E, realmente, acho que era mesmo. E o meu trabalho, ele não achava que era tão... A impressão que ele tinha é que era mais tranquilo o meu trabalho. Ele sempre demonstrou que o dele era mais difícil que o meu, assim, mais desgastante.
P/1 – E você concordava com isso?
R - Eu concordava, mas, no fundo, era porque eu gostava muito, eu gosto muito do que eu faço. E quando você faz o que você gosta, você acaba não notando muito que você está trabalhando mais do que você deveria. Eu acho que tem isso, assim. Agora, ele gosta desse trabalho que ele faz, mas no primeiro período, no início do nosso casamento, ele demonstrava que não gostava do tipo do trabalho dele. Então, para ele era mais difícil. Quando você faz o que você não gosta, é mais difícil você fazer.
P/1 – E o trabalho de vocês tem alguma coisa em comum?
R – Tem, porque ele trabalha na produção do petróleo e eu analiso o petróleo.
P/1 – E vocês conversam sobre isso? Isso é um assunto em casa?
R – Muito pouco. A gente fala pouco. Normalmente, sem ser uma coisa combinada, a gente não fala muito de trabalho não, mais dos filhos. A gente falava mais nos filhos.
P/2 – Qual é a sua atividade de trabalho hoje? Me diz um pouco do seu cotidiano de trabalho.
R – Eu trabalho oito horas por dia, horário administrativo, que a gente fala, e faço caracterização em óleos da Bacia de Campos, da Un-Rio, da Un- Exploratória, do Espírito Santo, dessa região daqui, caracterização de petróleo.
P/2 – Foi sempre esse o seu trabalho?
R – Não, antes era perfuração. Análise em fluidos de perfuração.
P/1 – Em que consiste exatamente esse trabalho? Como é, vocês recebem amostras?
R – É, a gente recebe amostras dos poços de petróleo da Bacia de Campos, da Bacia do Espírito Santo, da área do Espírito Santo e, às vezes, de outras áreas, mas atendem mais essa área daqui da Bacia de Campos. A gente faz análise de densidade, grau API do óleo, acidez do óleo, viscosidade do óleo, teor de asfaltenos, salinidade, teor de água. São os ensaios de caracterização do óleo. O Cenpes [Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello] complementa esses ensaios ou faz esses ensaios e mais outros também. O Cenpes também faz esses mesmos trabalhos, só que lá a caracterização deles é mais completa, porque eles tem mais equipamentos e estrutura para fazer esses trabalhos. Esses trabalhos que a gente faz lá, são mais os imediatos, rotina, amostras de rotina.
P/1 – E como é que, qual é o momento deste trabalho? Explica um pouco para gente? O momento, na escala de produção, de exploração, onde vocês entram?
R – Lá, a gente atende a parte de exploração da Petrobras, da Geologia, que são os poços pioneiros. Depois, atende a produção de petróleo de off load, a exportação, essas análises de exportação de Marlim, porque a Petrobras vende petróleo para o exterior – não sei se vocês sabem -, então essas cargas de exportação a gente também analisa - têm as análises deles no local, na plataforma e também no nosso laboratório – e esses poços que já estão em produção. Assim, a gente atende a parte da Geologia, que é a área da exploração, descobrimento de poços, e atende a parte de rotina de produção, de descobrimento e produção.
P/1 – Mires, você estava falando que tem um momento que é sigiloso, como é que é?
R – É a análise confidencial. É quando eles estão fazendo perfurações em reservatórios que os geólogos estão delimitando, têm análises que eles tinham a amostra e eles ficam aguardando aqui no Rio ou em Macaé, para tomar decisões. E aí, eles só precisam do grau API daquele óleo, que é o valor comercial do óleo que eles fazem, então, é só desse grau API. Esse é um ensaio confidencial porque interessa só a um grupo da Petrobras, que está trabalhando nessa área de exploração de reservatório. Têm outros que não, que já são no âmbito da produção dos ativos da Petrobras.
P/2 – Mires, você me falou que você estava pensando em, talvez, futuramente, vir morar no Rio. E como vai ser o seu trabalho aqui? Você espera? Você quer ficar fazendo a mesma coisa?
R – Aqui no Rio, se eu tivesse a oportunidade de trabalhar numa área de gestão, no escritório, essas coisas, eu até aceitaria, porque eu já tenho 23 anos de trabalho. Mas a probabilidade é de ir trabalhar no Cenpes, no Centro de Pesquisas, o convite que eu recebi, o que eu tenho, assim, disponível, é a área de reservatório.
P/2 – Então, já está mais ou menos encaminhado?
R – É, para conhecer o local, para avaliar. Vai ser bom porque eu já trabalhei 13 anos na área de perfuração e já estou em quase 10 na área de produção, e vou para o início, a exploração. Eu falo assim: se eu tiver que trabalhar, vou trabalhar na sala de geologia e vai ser bom, porque eu vou poder fazer um pouco do curso que eu fiz da escola técnica de Mineração. Eu nunca exerci profissão nenhuma diretamente com esse curso que eu fiz de Mineração. Na Petrobras, eu trabalho na área de Química, fiz o curso de Petroquímica, também de nível médio.
P/1 – Mas esse curso de Petroquímica você fez antes de entrar?
R – Não, eu fiz em Macaé.
P/1 – Então, você fez um treinamento depois que veio para cá?
R – Não, depois que eu cheguei na Petrobras, para passar de analista para técnico em petróleo, eu fiz o curso de Petroquímica, que era um curso reconhecido pelo Conselho Regional de Química daqui do Rio.
P/1 – Mas já oferecido pela Petrobras?
R – A Petrobras facilitou que eu fizesse esse curso, mas eu fiz esse curso por minha conta. Por dois anos, eu fiz esse curso.
P/1 – A Petrobras investe muito na formação do pessoal?
R – Sim. Durante esses anos todos, a gente faz vários cursos dentro da área da gente, dentro da área de trabalho. Até que essa parte de treinamento é muito boa, eu acho boa. A maior parte dos cursos que eu fiz dessa área de Química, foi pela Petrobras, né, porque eu tinha o curso técnico de Mineração.
P/1 – Então, atualmente, a sua família está um pouco dividida entre o Rio, Macaé e a plataforma.
R – E a plataforma. É plataforma, Macaé e Rio. Apesar do Rio ser perto de Macaé, às vezes dá um... Tipo assim, hoje eu estou aqui, mas eu vou voltar para Macaé. E meus filhos estão aqui, do lado. Mas não tem como eu ir lá na minha casa. Pra que? Vou lá e depois vou para Macaé?
P/1 – E no fim de semana eles vão para lá?
R – É, no fim de semana eles vão para lá. No final, eu acho que eu vou acabar tendo que morar aqui, na cidade do Rio de Janeiro.
P/1 – E essa sua vontade de vir para cá é em função dos seus filhos estarem aqui?
R – É, dos meus filhos estarem aqui.
P/1 – Não é porque você não gosta de Macaé?
R – Não, eu gosto muito de Macaé. Eu gosto da cidade, da tranquilidade, do ar da cidade. É uma cidade do interior e eu gosto de lá.
P/2 – E como você acha que vai ser essa mudança em termos de cidade, não de trabalho? Você acha que você vai se adaptar bem?
R – Não sei, eu tenho muito receio, porque eu acho o Rio muito bonito, só que eu tenho muito medo da violência aqui no Rio de Janeiro. Muito, muito. Assim, você trabalha o dia inteiro e só chega em casa à noite. O ar é poluído, pelo menos parece, em relação a Macaé. Eu acho que eu vou perder... O Rio tem mais opções de cultura, de lazer, mas dessa parte que eu falo de tranquilidade, eu acho que deixa muito a desejar. É uma cidade muito bonita, mas eu tenho receio de não poder andar tranquila nos ônibus, nem na rua, andar a pé, essas coisas que eu gosto de fazer, eu acho que eu não vou poder fazer aqui no Rio.
P/1 – E os seus filhos gostam de estar morando aqui ou eles tem vontade de se formar e voltar para Macaé?
R – Eles, por enquanto, ainda não se desgarraram de Macaé, não. Mas eles gostam do Rio, de sair no Rio. Mas eu não sei, vai depender muito de mercado de trabalho. É por isso que eu também fico nessa dúvida. Se eu venho para o Rio, e depois meus filhos vão para outro lugar, eu vou ficar no Rio sozinha.
P/2 – Aí, volta para Macaé.
R – Aí, volto para Macaé. Ah, não sei. Vamos ver. Mas eu acho que é bom.
P/1 – E pelo fato de estar embarcado, seu marido pressiona para você vir para o Rio?
R – Pressiona bastante, toda semana, às vezes todo dia.
P/1 – De você agilizar a sua transferência.
R – É, ele fala: “você tem que mudar de trabalho.” Ele acha que eu estou muito acomodada no mesmo setor, a vida toda. E ele acha que vai ser bom pra mim. Ele acha que é muito bom, ele gosta do Rio e ele quer que eu venha morar aqui no Rio.
P/2 – Para ficar tomando conta dos filhos, né?
R – É, acho que ele quer que eu venha para tomar conta.
P/1 – Ele fica mais tranqüilo quando você pode estar aqui?
R – Sim, ele prefere. Ele fala isso direto, quer que eu venha. Mas é difícil na Petrobras. Não é tão fácil assim.
P/1 – E tem a possibilidade dele ficar aqui direto também?
R – Não, por enquanto não. Mas se ele ficasse aqui direto era mais fácil. Acho que talvez eu ficasse mais animada de vir. Porque depois eu vou ter que ficar aqui sozinha, resolvendo tudo e lá em Macaé tem família para ajudar.
P/1 – Já é o seu porto seguro.
R – É, então. Às vezes eu não preciso me ausentar do trabalho, muito pouco que eu me ausento, para resolver problemas pessoais. Aqui no Rio, não vai ter ninguém para fazer isso por mim. Qualquer coisa que acontecer, eu vou ter que sair do trabalho para resolver. E tudo é longe, né, não são tão perto as coisas [risos].
P/1 – Nires, num balanço geral dessa experiência de ter um marido durante 20 dias, depois 14 não tem. O que é você acha que é bom nisso, o que é ruim? Um balanço.
R – Eu acho que o que é positivo, é que você tem sempre aquela coisa de encontros e despedidas. E isso é bom, no geral, no relacionamento eu acho que isso é bom. Agora, a outra coisa, é que você tem que ter uma relação de confiança muito maior do que o normal. Porque você fica um tempo só você, sozinha, e outro tempo você conversando com aquela pessoa, fazendo as coisas juntas, e outras horas você faz tudo absolutamente sozinha. Então, eu acho que no geral, tudo tem lados positivos e negativos. O que eu acho que é mais negativo é em relação aos filhos. Acho que os filhos são os que mais sofrem. É difícil para os filhos, ainda mais porque eles obedecem ordens. Eles são educados, né, a gente tenta educar, então, fica pai e mãe juntos, às vezes só pai, às vezes só mãe. As crianças sentem muito. Tem crianças que estranham os pais, os meus não tiveram isso, mas eu conheço crianças.
P/1 – Mas em criança, pequenininho?
R – É, pequenininho. Essa parte assim é ruim, mas eu acho que tem tanto tipo de trabalho assim, né? Também médicos, que ficam não sei quantas noites fora de casa. É um trabalho diferente, tem seus impactos positivos e negativos. Pra mim não foi tão difícil, mas para os filhos... para os filhos é difícil.
P/1 – Eles reclamam isso hoje?
R – Reclamam. Eles não gostaram. Para eles não foi tão bom. Pra mim não, por ele trabalhar na área, mas pra eles é difícil sim. Não é bom ficar sem o pai, né, você gosta do pai, tem saudade, fica esperando o pai chegar.
P/2 – E o que eles estão achando de você agora ir morar com eles, já que agora eles têm mais liberdade?
R – Na realidade, eles não me convidaram [risos]. Porque, na realidade, eles queriam morar só os dois, sozinhos. Eles tinham vontade de ficar só os dois sozinhos. Só que eles começaram a ficar sozinhos e a gente tinha que ficar resolvendo muitas coisas. Morar sem uma pessoa para ajudar, estudar fora, pagar conta e tal, eles ainda não estavam tão preparados e acabaram aceitando.
P/1 – O socorro.
P/1 – É, o socorro da gente. Mas acho que eles queriam morar sozinhos. O desejo deles era de morar sozinhos.
P/2 – Mais liberdade, não é?
R – É, queriam, mas ainda não estão preparados para isso. Morar sozinho é bom quando você é independente financeiramente. Porque você morar sozinho e depender… Eu sei que somos pais, mas a gente cobra, quer saber das coisas: “oh, que é isso? Tá gastando com isso, com aquilo...” Então, eles ainda não são independentes. Mas eles, no início, queriam morar sozinhos. E no Rio de Janeiro [risos]!
P/1 – E você se sente dona de duas casas com essa situação, de ter que dar conta das coisas daqui e de lá?
R – Às vezes eu compro duas coisas iguais para aqui, para a casa do Rio, e na casa de Macaé não tem. Eu fico confusa, às vezes, com isso. É complicado, assim, ter duas casas. Zé Mauro praticamente está cuidando daqui do Rio. Mas nesse início dessa transição, se vinha para o Rio, se não vinha, ficou difícil saber cuidar das duas casas, se preocupar com as contas das duas casas, com os filhos, com a alimentação. Eu me preocupo muito com a alimentação deles. Talvez eu tenha que vir morar aqui é por isso, eu tenho medo deles ficarem doentes, porque eles vão ficar estudando e não vão comer nada. Eu me preocupo um pouco. Eu acho que eu devo vir por isso. Depois, eu tenho medo de quando eles forem ter a vida própria deles e viverem sozinhos, eu me arrepender de ter ficado mais próxima, de ter a oportunidade de ficar aqui próxima deles e estar lá em Macaé.
P/1 – Eles são estudiosos?
R - São, são bons filhos.
P/1 – Já é uma tranquilidade, né?
R - É, são estudiosos, são bons. Eles gostam de estudar.
P/1 – E a sua principal atividade hoje qual é?
R – A principal atividade hoje é fazer análises e implementar ensaios novos dentro do nosso laboratório, equipamentos, instalação de equipamentos – desenvolvimento de métodos, que a gente fala – novas metodologias e ensaios de caracterização de petróleos.
P/1 – E nas horas de lazer, o que você faz?
R – De lazer? Eu vou ao cinema.
P/1 – Macaé tem muitos?
R – Só tem um [risos]. Só tem dois filmes.
P/1 – Mas passa muito filme variado?
R – Eles passam dois filmes só, desses que estão em lançamento. Gosto de ver DVD, alugar DVD, ir à praia.
P/2 – Mas você sai sozinha, agora que não tem a companhia dos filhos?
R – Não. Eu chego em casa já muito tarde, porque sempre passo na casa da minha irmã, na casa da minha sogra, quando eu saio da Petrobras. Agora, eu vou retornar as minhas aulas de inglês. Fiz um período de yoga e parei. Faço isso, um dia yoga, à noite, e os outros dois dias vão ser o curso de inglês. Sobram dois dias que eu não vou fazer nada, sei lá, vou ver jornal, novela.
P/1 – E fim de semana é mais comum os seus filhos irem para Macaé do que você vir para o Rio?
R – É, é mais comum eles irem para Macaé.
P/2 – E vocês costumam fazer algum programa juntos?
R – O programa é ir a shows, que a gente gosta de ir juntos.
P/2 – Lá em Macaé?
R – No Rio. Eu venho aqui para o Rio e a gente vai a shows e também à praia.
P/1 – O apartamento aqui no Rio é onde?
R – Em Botafogo. A gente alugou um apartamento em Botafogo. No Rio é isso: show, cinema e shopping. Barzinho, pizzaria, essas coisas que se faz à noite. Lá em Macaé tem essas coisas só que em escala menor. Aqui no Rio tem muita opção, mas a vida aqui é muito cara, eu acho. Você tem muita opção , mas você paga mais por isso. E Macaé têm menos, é mais ou menos o que a gente pode fazer.
P/1 – Então, como última pergunta – são duas, na verdade – primeira é saber o que você achou de ter participado desse Projeto Memória da Petrobras e o que você acha desse projeto?
R – Eu achei muito importante fazer isso, porque a Petrobras tem uma marca no Brasil. O nome dela é um destaque no Brasil. E também a valorização do empregado, porque é bom você fazer essa pesquisa com os empregados. Acho que tudo que ela puder fazer que envolva os empregados é bom, porque nós somos a Petrobras, né, em geral. Todos, entre contratados e concursados, todos têm orgulho de trabalhar na Petrobras. Eu acho. Eu tenho essa ideia do que é bom para a gente que é funcionário e também para quem presta serviço. Dá essa ideia que é bom, que é uma coisa positiva.
P/1 – E você gostou de dar o seu depoimento?
R – Eu gostei de participar. Gostei muito.
P/1- O seu marido deu depoimento também?
R – Ele deu [risos]. Ele deu o depoimento.
P/1 – E ele te contou alguma coisa do depoimento?
R – Não, nada. Não sei nada o que ele falou [risos].
P/2 – Mais alguma coisa que você queira falar, que a gente não tenha perguntado ou que você queira acrescentar e deixar gravado?
R – Não. Fiquei feliz de fazer esse trabalho com vocês. Foi bom. Gostei.
P/1 – Então, tá bom. Muito obrigada.
P/2 – Obrigada pela entrevista.
(fim do CD)
--- FIM DA ENTREVISTA ---
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