P/1 - Bom dia, seu Raphael. Eu queria começar a nossa entrevista perguntando quando é que o senhor começou a fotografar o time do Santos.
R – A época certa assim, o comecinho, eu não lembro, mas o forte que eu peguei mesmo do Santos foi em 46? 1946. Eu sou Rafael Dias Herrera.
P/1 – Seu ...Continuar leitura
P/1 - Bom dia, seu Raphael. Eu queria começar a nossa entrevista perguntando
quando é que o senhor começou a fotografar o time do Santos.
R – A época certa assim, o comecinho, eu não lembro, mas o forte que eu peguei mesmo do Santos foi em 46? 1946. Eu sou Rafael Dias Herrera.
P/1 – Seu Rafael, o senhor trabalhava na Tribuna?
R – Na Tribuna. Essa matéria aqui é pra Tribuna ou é pra...
P/1 – É para o Museu do Santos.
R – Museu do Santos? Museu do Pelé?
P/1 – É, o Museu do Santos que a história do Pelé também está no meio.
R – Então, nessa época é que nós começamos a dar o sangue, né, pelo glorioso Santos Futebol Clube.
P/1 – Era muito difícil fotografar naquela época? O fotógrafo não tinha acesso ao campo ou era tudo, assim, mais liberado?
R – Era mais liberado porque havia muita confiança nos fotógrafos que estavam trabalhando, cobrindo o Santos. Havia muita confiança, ninguém ia chegar lá pra quebrar o pau, ou isto ou aquilo. Não, havia muita confiança. Agora, trabalhava-se muito. Era o Santos Futebol Clube de outra época, minha época é atual. Então nós tínhamos acesso. Livre acesso a todas as dependências do Santos Futebol Clube: secretaria, vestiários, aqui, ali... Todo canto.
P/1 – E o senhor... Na época era um equipamento diferente, né? Era mais complicado fotografar, então, na década de 40?
R – Era um pouco. O material não era tão moderno, né? As máquinas eram diferentes. Eram diferentes... Daí há um pouco já melhorou. Um começou a trabalhar com uma máquina de um tipo, outro com máquina de outro tipo, quer dizer, já melhorou o equipamento. E passamos a ter mais facilidade, né, por causa do equipamento que ajudava mais.
P/1 – E o senhor, por exemplo, nos títulos do Santos de 55, 56, o senhor já estava lá fotografando?
R – Já. Já estava. Em 55, 56 eu
já estava lá. Acompanhei o Santos numa viagem à Europa, né? Em que ano foi a viagem à Europa? Foi em 55 ou 56?
P/2 – Foi em 59.
R – Não, essa foi depois. Em 59 e 60 já estava muito em cima...
P/1 – E desta excursão, o que é que o senhor se lembra?
R – Lembro de muita coisa.
P/1 – O senhor foi o único fotógrafo?
R – Não. Aqui de Santos fui o único. Fui o único daqui de Santos, né? É... O Zezinho foi, o meu outro irmão, fotógrafo também, que está também doente. Foi operado agora há uma semana atrás e está sob cuidados médicos. Tanto é assim que... Vocês não estão com idéia de ir lá, não?
P/1 – É, me falaram que agora ele não poderia atender porque ele está convalescente, né?
R – Ah, bom. Certo, certo. Não dá, não. Está convalescente. Eu estou convalescente e estou aqui. Mas estou melhor do que o Zé, né? O Zé, coitado, foi um lutador, foi um espelho pra mim.
P/1 – Ele é mais velho?
R – Mais velho. É cinco anos mais velho.
P/1 – Na excursão que o senhor foi, o Pelé já estava?
R – Estava. Ele estava em todas elas. Eu fiz a Copa do Mundo de 50, 54, 62... De 54 na Suíça, 62 no Chile e 66 na Inglaterra.
P/1 – Que beleza! E em relação às excursões do Santos, tem alguma foto que marcou? Que o senhor lembra muito?
R – Que eu esteja jogando? Não. (risos)
P/1 – Não, que o senhor fotografou o time.
R – Eu sei, estou brincando. Tem várias fotos.
P/1 – Podia nos contar sobre alguma delas?
R – Essas fotos... Tem alguma coisa aí, não tem, Heliete?
P/1 – Então, continuando a entrevista. A gente está vendo aqui um gol do Pelé na rua Javari, que, segundo o próprio Pelé, é o gol mais bonito da carreira dele.
R – Um momento. O gol mais bonito?
P/1 – Na rua Javari.
R – Ah, na rua Javari! Foi! Na rua Javari foi.
P/1 – Ele deu chapéu em todos os adversários e aqui ele...
R – Um pulso... O camarada aqui, o ponta esquerda, Dorval, centrou essa bola... Veja que ele chutou de lá, olha. É, aquele é o Dorval. Chutou e a bola estava vindo no ar. Passou por vários jogadores e quando arriou, o goleiro... Cadê o goleiro aí?
P/1 – Aqui, olha, tá caído aqui.
R – Ah, ele voou, voou... O goleiro Manga defendeu. Voou, defendeu... E quando a bola voltou para o campo, o Pelé cabeceou e marcou o gol. Aqui o Pelé está acabando de cabecear. Tá vendo o Pelé aí? Foi esse o negócio.
P/1 – O senhor ficava sempre atrás do gol?
R – Conforme... Porque eram as fotos mais bonitas, viu? Geralmente eram as fotos mais bonitas.
P/1 – E aqui, é o Pelé servindo o Exército?
R – Ele fez o Serviço Militar em Santos, o Pelé.
P/1 – Ele já era famoso na época?
R – Já.
P/1 – Foi depois da Copa?
R – Não, não foi.
P/1 – Foi antes?
R – Foi antes, durante a Copa. Ele era jogador da Seleção. Aqui, olha, o Pelé com o irmão do Kennedy. O Pelé com o Garrincha... Não é o Garrincha aí?
P/1 – É o Garrincha.
R – O Pelé com um dos maiores jogadores da época, do mundo. O Puskas, centro avante. Aqui na Vila Belmiro, em um jogo à noite... Eu fui fazer o jogo lá... Pelé e o Puskas, Ferenc Puskas, jogador do...
P/1 – Real Madrid?
R – Não.
P/1 – Da seleção Húngara? Honved, né, da Hungria.
R – Vamos ver o da Hungria. Aqui o Pelé numa escola que ele estava visitando na Praia Grande, Escola de Menores... Cidade da Criança, que pertence à Praia Grande, né? Aqui é a Seleção que jogou no Chile.
P/1 – E aqui? Quem é do Santos aqui? Zito, Gilmar...
R – Zito, Gilmar... De óculos assim não dá pra ver direito, viu?
P/1 – E essa foto aqui do Pelé machucado?
R – Foi na Inglaterra isso. Ele está sendo amparado pelo guarda inglês. Ele procurou socorrer o Pelé, colocou um cobertor no crioulo... Colocou um cobertor pra amparar, né? O Pelé, nesse jogo aqui, não pôde jogar. Estava machucado, lesionado. Aqui é um flagrante, um lance lá.
P/1 – No jogo... Isso é em 1970, no México?
Heliete – Isso é na Inglaterra.
P/1 – Ele foi em 70 também ao México? A senhora falou que tem mais fotos que a gente podia...
Heliete - Tem umas coisas que eu separei...
P/1 – E o Pelé se deixava fotografar ou ele era cheio de “frescura”?
R – Não, não. Era muito simples. Carregador de sal em Bauru! Ele andava...
P/1 – Ela trouxe mais fotos, então, olha. Essa é ele no Serviço Militar...
R – Igual aquela que tem ali. Com o Puskas, com o Garrincha...
P/1 – Não tinha publicidade nos uniformes. Era mais bonito, né?
R – É, não tinha publicidade não. Pelé com garotas da... Lá na Inglaterra, tá vendo?
P/1 – Dando autógrafo.
R - Dando autógrafo. A Seleção Brasileira... Aqui dá pra ver... Aquela foto lá, por exemplo, do Zito, né? Dalmo, o... Esse eu sei o nome, mas não lembro.
P/1 – Calvet.
R – Calvet. O Calvet, o Mauro, o Pepe, o Pelé, o crioulo lá, o...
P/1 – Dorval.
R – Dorval. Dorval tá aqui. Coutinho e Mengálvio.
P/1 – E o Mengálvio. Esse foi o melhor ataque da história do Santos?
R – Foi. O ataque foi o melhor... O ataque.
P/1 – Aqui a gente tem a foto do gol no Juventus.
R – Bonito lance esse, viu?
P/1 – Bonito, né?
R – Muito bonito! Olha o Dorval. Aqui é que centrou a bola. Chutou daqui e foi passando por cima da turma toda, quando arriou ali, o crioulo meteu a cabeça e mandou lá pra dentro.
P/1 – Ele deu um chapéu, né?
R – Deu.
P/1 – Aqui é o Pelé, novinho, né?
R – O Pelé assinando contrato.
P/1 – Ah, assinando contrato!
R – De onde é?
P/1 – Aí não fala.
R – Aqui já é depois do Santos.
P/1 – O senhor começou a fotografar o Pelé desde que ele chegou ao Santos ou só depois que ele foi ficando famoso?
R – Desde que ele chegou ao Santos. Desde que ele chegou. Eu estava na Vila Belmiro, no estádio do Santos, quando o Pelé chegou de carro. Um carro meio sujo do tempo, né, da viagem... E o Pelé veio junto. Foi trazido pelo Waldemar de Brito, que introduziu o Pelé no Santos.
P/1 – E ele era garoto ainda. Tinha 16 anos?
R – Tinha 16 anos. Olha a cara dele e vê que era garoto, né?
P/1 – Que foto linda essa aqui!
R – Esta foto aqui é um gol... Esta foto aqui pouca gente soube avaliar, viu?
P/1 – É maravilhosa essa foto.
R – Nessa foto aqui a bola foi centrada pra frente e o Pelé acompanhou a jogada... Olhando, né, a jogada. E entrou. Aqui é o Gilmar, que era... esse jogo aqui era contra o Corinthians. E o Pelé entrou e tomou a bola do Gilmar. E marcou esse gol.
P/1 – Mesmo ele agarrando no pé dele?
R – Mesmo ele agarrando. Aqui! Deve estar o resultado aqui. Zero a zero... Foi um a zero... O que é que diz ali?
P/1 – Diz zero Santos, zero Corinthians.
R – Ah, então foi zero a zero mesmo.
P/1 – Isso em que estádio?
R – Ah, e o curioso é que a turma tá voltando do ataque, tá voltando... Isso é em frente ao ataque. Para todos os efeitos, para essa turma aqui, vai ver que eles não viram marcar o gol, eles estão de costas. E aqui era o juiz da época, um juiz famoso, não lembro o nome dele...
P/1 – Etzel?
R – Não, era argentino.
P/1 – Isso era no Parque São Jorge?
R – No Parque São Jorge.
P/1 – E é lindo aqui na foto, que ainda está escrito: “Salve os campeões do mundo.” E a gente ainda pode ver a bola aqui.
R – É, porque o pessoal pensou que não fosse dar em nada, sabe? Que o Pelé não fosse atacar e defender... Atacar em cima do goleiro, né? Tanto assim que estão voltando, estão voltando, olha. Olha, de costas.
P/1 – Essa foto é pra ganhar prêmio no mundo inteiro. Uma foto muito bonita!
R – Eu sou muito modesto. (risos) Olha aí o Pelé, novinho. Santos Futebol Clube, na Vila... Aqui na Vila! Não tem mais foto?
P/1 – Ela está ampliada...
R – Esse é o Pelé com uma camisa...
P/1 – Vestindo a camisa.
R – É, mas camisa para treinar. Aí não precisa dizer que é para treinar, na foto, né?
P/1 – O senhor pode falar o que o senhor quiser. E aqui ele está fazendo uma embaixada, né?
R – Claro. Com crianças de orfanatos. Orfanato lá de Praia Grande.
P/2 – E o senhor acompanhava o Pelé quando ele fazia visitas a orfanatos, tudo... O senhor acompanhava?
R – Não, às vezes não. Isso aí eu acompanhei por estar na ocasião. Não foi propositalmente... Fazer visita do Pelé ao orfanato. Visita do Pelé ao orfanato, agora que eu estou lembrando.
P/1 – O senhor é torcedor do Santos, não é?
R – Corinthiano.
P/1 – Então o senhor sofreu muito com o Pelé?
R – Não, porque o Pelé não fazia a gente sofrer muito. Ele podia fazer a gente sofrer um determinado tempinho, mas daí um pouco fazia miséria. Acabou!
P/1 – E o senhor falou que foi a excursões à Europa. Tinha muita concorrência com os fotógrafos de lá? Era difícil fotografar na Europa?
R – Não, difícil, difícil não era não, porque no futebol hoje está muito mais difícil. Porque, você vê, se vai um time de muita capacidade jogar na Europa, na Argentina ou no Chile, nesses lugares, a freqüência é muito grande. É muito grande.
P/1 – E queria perguntar também, voltando lá ao passado, o senhor então vem de uma família de fotógrafos.
R – Meus dois irmãos. Os pais não eram fotógrafos.
P/1 – O senhor e mais dois irmãos?
R – Dois irmãos fotógrafos.
P/1 – E o senhor aprendeu a fotografar com que idade?
R – Será que eu aprendi mesmo?(risos) Ai, ai. Comecei com meu irmão no Diário de Santos.
P/1 – Começou com ele?
R – Com ele. Em que ano mais ou menos?
Heliete – Em 42.
R – Em 42?
P/1 – Ah, trabalhou cinco anos no Diário, depois foi pra Tribuna. E aí o senhor tem uma carreira aí na Tribuna muito grande, né?
R – Tenho, tenho. Tenho a maior carreira dentro do jornal, de todos os fotógrafos. Porque aconteceu, né?
P/1 – Quais são as principais qualidades que um fotógrafo tem que ter?
R – Sangue frio. Sangue frio. Olha aí o relógio, olha. Vai dar cinco horas.
P/1 – Então o fundamental é ter sangue frio?
R – Sangue frio, né? Se não tiver sangue frio, o cara vai gastar material de monte e se der sorte pega alguma coisa, se não der sorte gasta muito material e não... Você tem que ter a percepção da coisa, do lance, por exemplo.
P/1 – O senhor ia com muito material ou era material mais ou menos contado?
R – Era material suficiente.
P/1 – Era o quê? Dois rolos?
R – Dois rolos, ou podia levar três, mas usava só dois. Dependia do futebol o que era. O assunto que era.
P/1 – E além de fotografar futebol, o que é que o senhor gosta de fotografar?
R – Futebol mesmo. (risos)
P/1 – Futebol?
R – Futebol. Agora não, né? Porque agora estou com 75 anos, estou velho! Já “escamoteei”(?), né? Eu acho que eu parei no tempo.
P/1 – O senhor parou no tempo?
R – Eu parei no tempo que tinha que parar, né? No meu tempo.
P/1 – Porque existe um esforço físico muito grande pra ser fotógrafo?
R – Existe. Mas a gente sabendo levar a coisa tem que ter muita picardia, viu? Você tem que ter picardia para trabalhar. Não pode chegar feito um dinâmico, louco, e ir gastando filme em cima de filme e ter o aproveitamento mínimo. Não. Tem que trabalhar com consciência. Você vê aí, olha, tem fotos aí... Essa aí! Olha, essa aqui diz tudo.
P/1 – Essa foto é do gol do Pelé no Corinthians.
R – Você vê, se eu não tivesse acompanhando eu não fazia esta foto. Mas eu fiquei acompanhando o lance e vi o Pelé correndo pra cá. Esses aqui já estão voltando, são os companheiros do Pelé. Meu Deus do céu, esse juiz aqui...
P/1 – Nós vamos descobrir depois.
R – É fácil, viu, porque atuou muito, muito, muito, muito.
P/1 – É, sendo argentino, né, é mais fácil.
R – Argentino ou uruguaio.
P/1 – O Pelé era imprevisível, né?
R – Era imprevisível.
P/1 – O senhor tinha que ficar o tempo todo...
R – De picardia, né?
P/1 – Esse gol aqui do...
R – Olha aí, sangue frio, né? Se é outro fotógrafo afobado, tira antes a coisa e vai pegar a bola por aqui, assim, longe. Por aqui, mas da respectiva diferença do correr, né?
P/1 – Então, olha, continuação da entrevista do senhor Rafael. Agora ele vai descrever uma foto de um gol, uma foto frontal, Pelé com um uniforme branco atirando aqui contra o goleiro. Seu Rafael, por que é que tem essa fumaça aqui na área?
R – Porque o chão... O branco do chão era a terra, e com o movimento do outro que ali chutou, levanta a terra. Aqui correu também...
P/1 – Então, seu Rafael, continuando, nós estamos aqui com a revista Trip número 57, especial do Pelé, com fotos do senhor e do seu irmão. Essa foto aqui do Pelé no vestiário. Essa foto é sua?
R – Não, se não me engano é do Zezinho.
P/1 – Então vamos pular.
R – Essa aqui é minha, essa aqui é minha, essa aqui é minha.
P/1 – Essa aqui é o Pelé, o Coutinho e o Dorval de boina com Coca-Cola na mão?
R – É isso? É.
P/1 – Aonde é isso?
R – Isso é... Às vezes é em algum aeroporto. Não lembro onde foi tirado.
P/1 – E eles eram assim, sempre brincalhões?
R – Sempre. Sempre, sempre.
P/1 – Olha, essa aqui o senhor me mostrou. O Pelé botando a camisa, aqui o Pelé tá fazendo...
R – Uma ginástica.
P/1 – Essas são do senhor?
R – Algumas são.
P/1 – Tá. Ele estava fazendo ginástica aonde? Preparando pra algum jogo ou é na Seleção?
R – Não, ginástica durante a Seleção, né? Durante a estada na Seleção, em qualquer país onde eles estavam, eles faziam uma ginasticazinha, tinham que fazer, né? Porque precisavam fazer ginástica, senão ficavam empedrados.
P/1 – Aqui tem uma foto que é o Pelé com a família, aqui no Carnaval? Não, né? São admiradores, né?
R – Admiradores. Fãs.
P/1 – Tinha muitas fãs, o Pelé?
R – Tinha.
P/1 – Era uma coisa terrível!
R – Olha aqui, um carro que eu... Aqui é na porta do Santos Futebol Clube.
P/1 – Aqui é a Auto Escola Miramar. Ele num carro.
R – É, o carro que ele ganhou.
P/1 – Ele ganhou esse carro?
R – Ganhou.
P/1 – De quem?
R – De um patrocinador.
P/1 – E aí tinha que ficar escrito “Auto Escola” no carro? Não podia apagar?
R – Não, não.
P/1 – E esse aqui que está com ele, é quem? O motorista?
R – É amigo do peito, amigo do peito, ele tinha um amigo.
P/1 – E aqui ele está com a filha, Kelly?
R – Kelly Cristina. É, a filha. Dentro de casa, está vendo?
P/1 – Essa foto aqui é muito bonita, do Pelé nadando. Essa é do senhor?
R – É, mas o Pelé não era um grande nadador, não, viu? (risos) Ele afundava.
P/1 – Mas essa foto aqui o efeito é maravilhoso, né? Mexeu na velocidade, né?
R – É.
P/1 – Aqui está o Pelé...
R – E esse aqui quem é?
P/1 – Esse é o presidente da Nigéria. Não, do Zaire, ditador Mobuto. Aqui tem o Pelé lutando judô.
R – É, uma exibição, né?
P/1 – Não lutava muito judô não, né?
R – Não.
P/1 – Essa aqui é a família?
R – Não sei.
P/1 – É a filha, Kelly, não é?
R – Ah, é. É verdade. Kelly Cristina.
P/1 – Bem, aqui temos fotos que a gente já viu.
R – Pelé e Garrincha, Pelé assinando contrato, com fã...
P/1 – E aqui, o Pelé coroado?
R – Ah é, foi coroado o Rei do Futebol, né?
P/1 – Isso foi aqui no Brasil ou no exterior?
R – Não lembro agora onde. Olha, essa foto aqui também fui eu que tirei.
P/1 – Qual é que é?
R – Presidente da Portuguesa de São Paulo, que tem o filho também que era diretor.
P/1 – A foto número 16, aqui, que o Pelé está com uma camisa na mão?
R – É.
P/1 – Espera só um instantinho. Recebendo camisa da Seleção Paulista do Paulo Machado de Carvalho.
R – Paulo Machado de Carvalho. É o próprio. O filho dele era diretor também, da Portuguesa.
P/1 – E aqui ele está num parque, né?
R – No parque. Aguinha limpa, calor, né?
P/1 – Fazenda Nicolau Moran.
R – Fazenda Nicolau Moran.
P/2 – Concentração.
R – Concentração do Santos.
P/1 – E essa aqui, o senhor é que tirou ele fazendo vestibular?
R – Foi, ou eu ou o mano. Não lembro bem.
P/1 – Ele passou neste vestibular, né?
R – Passou.
P/1 – Aqui tem o Pelé dando comida pra filha.
R – É o que diz aí?
P/1 – É, Kelly.
R – É, Kelly Cristina.
P/1 – Aqui ele dando entrevista na televisão.
R – Aqui naquele carro lá fora.
P/1 – Num Mercedes. Com tanta foto assim, o Pelé tinha alguma privacidade, seu Rafael?
R – De que?
P/1 – Assim, ele não conseguia fazer nada, ele não podia sair mais à rua depois de uma certa época, né?
R – Saía muito! Nunca deixou de sair, não. Saía sempre.
P/1 – E não era muito assediado, não?
R – Era assediado, mas ele... Aquela coisa, cuidava da vida dele, né? Resguardando-se bem... Mas sempre...
P/1 – Essa foto aqui é famosa, ele tomando banho, né? O senhor ficava sempre lá no vestiário?
R – Sempre não. De passagem, metia uma lâmpada no flash e tocava fogo na hora.
P/1 – E tem uma aqui que o Pelé tá tocando cavaquinho... Ele tocava cavaquinho mesmo ou era só pose pra foto?
R – Não, era um enganador.
P/1 – Aqui ele tocando bateria.
R – Aí, sim. Mas ainda tem foto do Pelé aí?
P/1 – É, são 50. O senhor acha que tirou quantas fotos do Pelé na vida?
R – Umas... Deixa eu fazer um cálculo. Acho que umas 50 mil. Não, mas não põe isso não, porque eu não sei ao certo. Olha ele fazendo café aí. Cafezinho.
P/1 – Na concentração?
R – Na concentração. Você tem material aí para “lavar a égua”, heim?
P/1 – É.
R – Quero ver como é que ele vai se arrumar com tanto material.
P/1 – O irmão do senhor já tem 80 anos agora?
R – Tem 80 anos.
Heliete – 79.
P/1 – 79?
R – Heliete, deixa os 80! Estou brincando, Heliete. Não é 79 não, é 80. Eu estou com 75...
Heliete – Bem vividos, né?
R – Bem vividos. E estou vivendo demais. Agora estou demais.
P/1 – Esse aqui, novinho, é o senhor?
R – Justamente ele. Este é o meu irmão, é o Zezinho.
P/1 – E aqui?
R – Aqui a vítima sou eu.(risos) Aqui está falando em nós.
P/1 – É, está falando. Falando que vocês dois são corinthianos...
R – Corinthianos. Mas não errado, não. Corinthiano errado, não. Isso foi tirado no laboratório que tenho lá em cima. Que tinha, né? Agora estamos acabando com ele.
P/1 – Então está certo. Então, com isso aqui, a gente já deu uma cansada boa no senhor, né?
R – Já deu pra cansar, né?
P/1 – Já, já. Já deu bem pra fazer também uma boa entrevista e depois a gente continua numa outra ocasião. Então, muito obrigado, seu Rafael.
R – Às ordens.
R – Provenzano não, Provenzano não. Não lembro o nome dele, mas quando for pra matéria, se for preciso... No jornal mesmo lá... É só pegar a escalação de jogos dessa época e está lá o nome do fulano. Um grande repórter, grande, grande. A ponto de...
P/2 – O Moraes?
R – Não, não. O Moraes? Era de lá também da Folha.
P/1 – Mas ele levou a bolada e o quê? Ele desmaiou?
R – Ele machucou, cortou. A bola ficou molhada, se torna mais pesada, mais brusca. E ele levou uma bolada e pegou no rosto e cortou um pouquinho porque prensou o rosto com a bola, né?
P/1 – E o senhor torcia pelo Brasil? Tinha como não torcer ou dava pra controlar a emoção?
R – Controlava. Trabalhava muito sério, muito sério.
P/1 – Seu Rafael, então, olha, eu queria agradecer a oportunidade da gente fazer essa entrevista. E fica, então, esse nosso pedido para, numa outra ocasião, voltar aqui com umas fotos pra relembrar mais alguns momentos do seu trabalho. Tá? E a gente agradece pela paciência de nos atender.
R – Tudo bem. Eu não sei como é que eu... Não sei se eu vou cobrar alguma coisa disso...
P/1 – Isso é com ela.
R – Você que é a vítima? (risos)
P/1 – Eu sou.
R – Coitadinha! Justamente a vítima é mulher. (risos)
P/2 – É porque ele que amolece o coração de vocês. É por isso que é mulher.Recolher