Projeto: Pueri Domus - 40 Anos
Entrevistado por Lenir Justo e Maurício Rivero
Depoimento de Luis Antonio Laurelli
Local: São Paulo - SP
Data: 10/08/2006
Realização: Museu da Pessoa
Código do depoimento: Pueri_HV005
Transcrito por Susy Ramos
Revisado por Grazielle Pellicel
P/1 – Lenir Justo
P...Continuar leitura
Projeto: Pueri Domus - 40 Anos
Entrevistado por Lenir Justo e Maurício Rivero
Depoimento de Luis Antonio Laurelli
Local: São Paulo - SP
Data: 10/08/2006
Realização: Museu da Pessoa
Código do depoimento: Pueri_HV005
Transcrito por Susy Ramos
Revisado por Grazielle Pellicel
P/1 – Lenir Justo
P/2 – Maurício Rivero
R – Luis Antonio Laurelli
P/1 – Bom dia, Laurelli!
R – Bom dia!
P/1 – Vamos começar com você nos falando seu nome, local e data de nascimento.
R – Luis Antônio Laurelli, nasci em São Paulo, no dia 25 de agosto de 1956.
P/1 – Que atividade ou função você exerce no Pueri Domus hoje?
R – Hoje eu sou Diretor de Ensino das escolas do Pueri Domus - as escolas próprias, as seis unidades -, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Caetano Laurelli e Adelaide ____ Laurelli.
P/1 – E a origem da sua família, qual é?
R – A origem é 50% italiana e 50% espanhola. Uma família de imigrantes. Eu sou resultado de algumas gerações de imigrantes. Então, a parte materna tem origem na Espanha; a parte paterna tem origem na Itália.
P/1 – Qual é ou era a atividade dos seus pais?
R – Meu pai era motorista, faleceu muito jovem, com 38 anos de idade, [teve] um infarto fulminante, e a minha mãe foi costureira durante muitos anos - hoje é uma senhora aposentada.
P/1 – E a casa onde você morava na infância, você lembra? Como era essa casa, quem morava?
R – A casa que eu morava, na verdade, nós morávamos em duas casas ao lado uma da outra, onde moravam os irmãos da minha mãe. Então, a minha mãe com seus irmãos, os meus avós maternos e a minha bisavó, mãe do meu avô materno. Era muito interessante porque eu não tinha uma casa, tinha duas casas. Era bastante interessante porque eu podia ficar numa ou noutra. E, frequentemente, a minha opção era ficar na casa dos meus avós, principalmente porque tinha um tio que não era tão mais velho que eu, e a minha bisavó que era uma pessoa muito querida. Eu lembro perfeitamente: era numa vila, bairro do Pari, em São Paulo, e nessa vila tinha cinco casas. Tinha uma outra vila em frente, onde tinha muitas crianças, então eu tinha muitos amigos nessas duas vilas. Era um lugar muito tranquilo, uma rua de terra, onde se podia brincar; e lembrava muito uma cidade do interior.
P/1 – E quais eram essas brincadeiras?
R – Bom, muitas brincadeiras: desde o famoso futebol, que todo menino tem que jogar futebol, até brincadeiras que poderiam envolver as meninas. Aí tinha barra-manteiga, era uma brincadeira que podia ser coletiva com as meninas. Mas tinha uma coisa muito interessante onde eu morava, que era uma pequena chácara e, nessa chácara, tinha muitos pés de goiaba. Era muito interessante ir pegar goiabas nessa chácara. E as brincadeiras, os períodos de férias, onde jogávamos etc. E até, eu lembro que desde muito criança eu tinha algumas atividades já indo pro lado do trabalho. Então, eu lembro que eu montava uma banca de revistas na frente da minha casa, na frente dessa vila, onde as pessoas poderiam trocar revistas ou comprar revistas usadas. Essa, talvez, tenha sido minha primeira atividade profissional, quando eu devia ter uns nove anos de idade. E, também, fazer papagaios pra vender na feira, que era uma feira próxima. E era muito interessante porque, a vida era muito divertida, as pessoas faziam atividades pra ter o seu dinheiro. As pessoas podiam brincar - era um bairro muito tranquilo, muito calmo. Enfim, mas o jogo de futebol era o preferido.
P/1 – E quem, normalmente, brincava com você? Irmãos, primos, amigos?
R – Não, amigos porque eu só tinha uma irmã
Eu só tenho uma irmã que é seis anos mais jovem do que eu. Então eu tinha alguns amigos nessa rua, tinha na vila, na outra vila, em frente à vila que eu morava, tinha uma família com três meninos e tinha um outro menino na vila em que eu morava que eram os meus melhores amigos. Éramos cinco amigos e, apesar desses três irmãos terem idades diferentes, eu era amigo dos três.
P/1 – (risos) E festas na sua casa? Eram comemoradas, quais, como eram essas festas?
R – Algumas festas eram muito marcantes: as festas de aniversário, mas, particularmente, o Natal e o Ano Novo eram festas bastante comemoradas; Dia das Mães ou dos Pais - eu tenho menos lembrança de ser uma comemoração. Mas o Natal era o momento em que reunia todos, inclusive, aqueles que, depois que os irmãos foram embora, porque estavam casando. Era o local onde se reuniam as pessoas. O fato de existir o avô materno que estava lá e a avó, a constituição familiar, era muito importante. O Natal era talvez a festa mais importante, realmente. Por tabela, a coisa se estendia de comemorações até o Ano Novo. O Ano Novo parecia que era uma extensão do próprio Natal.
P/1 – Tem algum fato marcante na sua infância que você gostaria de nos contar?
R – Um fato marcante da infância... Depende do foco. Tem algumas coisas bastante importantes que aconteceram. Eu lembro que minha mãe só me levou um dia na escola. Eu entrei na escola com seis anos de idade - eu faço aniversário em agosto, então entrei antes do tempo -, as crianças entravam aos sete anos, mas conseguimos que eu entrasse antes, porque aos seis anos eu já tinha feito a primeira comunhão mesmo sem saber ler e escrever, então minha mãe mostrou pras pessoas que eu poderia já estar na escola com seis anos de idade. E ela me levou um dia só na escola e a partir do segundo dia eu comecei a ir sozinho. Da minha casa até a escola devia ter uns oito quarteirões, pra mim era uma coisa absolutamente importante eu ter a autonomia de poder ir e vir. Eu acho que foi um conceito que ficou marcado pra mim como importante, que é a busca da liberdade, a conquista da liberdade. Naquele momento, esse ir e vir representava a liberdade - isso eu lembro desde muito cedo, que era com seis anos de idade. Nessa mesma época, aconteceu um fato muito interessante: a minha bisavó trabalhava pra uma fábrica que embrulhava bala e eu, com seis anos de idade, era o ajudante da minha bisavó. Imagine uma criança aos seis anos de idade pegar uma lata de balas toda manhã e ir embrulhar balas? Talvez o emprego desejado por qualquer criança.
P/1 – (risos)
R – Isso eu acho que é um fato bastante importante, marcante. São fatos interessantes.
P/1 – Qual foi essa tua primeira escola?
R – Era uma escola chamada Grupo Escolar Orestes Guimarães. Essa escola, onde ela existia, hoje é um hospital que está situado lá. Depois ela mudou de endereço. Hoje não tenho certeza se ela ainda existe, mas era uma escola pública, uma escola que tinha só até a quarta série. Ficava no bairro do Pari.
P/1 – E como era o espaço físico da escola? Você lembra disso?
R – Lembro sim. Eram dois prédios basicamente ligados por um corredor, com um grande pátio em volta. As salas eram salas onde as carteiras eram duplas, sentávamos em dois na mesma carteira, aquelas carteiras que ainda tinham o espaço pra colocar o tinteiro. Eu usei o tinteiro, caneta (tinteiro?) etc. Tinha uma coisa muito agradável nessa escola, que era a hora do lanche. A hora do lanche era o momento que a gente recebia o lanche, o leite com chocolate e era um momento muito esperado na atividade escolar. Eu lembro que era uma escola que tinha dentista, a gente fazia o tratamento dentário dentro da escola. E tenho boas e más lembranças das professoras. A professora da primeira série, por um lado, era uma pessoa que eu considerava que era uma professora que sabia tudo, era a dona do conhecimento mesmo, pra mim. Ela era uma pessoa que, por um lado, me amedrontava. Eu sentia que ela ia correr atrás de mim com o lápis vermelho pra me fazer um X, mas, por outro lado, era uma pessoa que a gente chamava de Enciclopédia Ambulante porque qualquer pergunta que você tinha, a dona Luísa tinha respostas pra dar.
P/1 – E tinha uniforme na escola?
R – Tinha uniforme, que era calça cinza, camisa branca, a gente [também] usava uma gravatinha. Nessa gravatinha, conforme ia passando a série, tinha uma marcação como se fosse uma divisa - lembra muito o modelo militar. Quando é cabo tem não sei quantos risquinhos, assim por diante. Lá na escola também, a gente tinha essa marca de série em série. Depois, eu lembro que deixou de existir a gravata, durante o processo que eu estava na escola, e já passamos a ter um uniforme com a camisa sem a gravata. O distintivo da escola no bolso da camisa. Mas era uniforme calça cinza, camisa branca, sapato Vulcabrás - isso é muito importante - e meia branca. (risos)
P/1 – As classes eram mistas?
R – Não, as classes não eram mistas. Até a quarta série eu não estudei em classe mista, eram só de meninos. Interessante, porque era uma coisa que tinha - agora que você me fez a pergunta, me veio a lembrança imediata, mas, eu tinha esquecido desse detalhe: era uma escola masculina.
P/1 – E os materiais que usavam? Tinham jogos, massinha? Você falou que ainda tinha caneta tinteiro.
R – É. Eu estudei com a cartilha. As coisas mais marcantes pra mim foram a cartilha, os famosos quadros que a professora trazia, que eram os temas das redações. Havia alguns painéis, pequenos quadros, e aqueles quadros eram o inspirador pra redação. Às vezes a cena era uma de uma fazenda, uma cerca etc. e, a partir daí, se criavam as composições. Isso era um material, um recurso que era muito utilizado na escola que eu estudei. Os livros, tenho uma lembrança menor, mas marcante mesmo foi a cartilha.
P/1 – E você lembra?
R – Era a cartilha Caminho Suave. Mas eu não lembro da organização de jogos, era muito mais uma atividade expositiva - menos atividades mais lúdicas e mais atividades expositivas.
P/1 – E caderno de caligrafia?
R – Eu tinha caderno de caligrafia, isso era uma coisa importante. Importante porque isso era uma cobrança muito grande da escola, que as crianças escrevessem corretamente, e a letra tinha que ser uma bonita. Eles não tiveram muito êxito comigo, a minha letra, digamos, que não é nenhum primor, mas eu lembro que era uma coisa muito difícil de lidar porque você tinha que repetir muitas vezes, era uma coisa absolutamente massacrante e repetitiva. Então, nessa medida, a caligrafia tinha um peso muito sério nesse aspecto da repetição, para que você tivesse a competência pra escrever com uma letra que fosse absolutamente legível; e não só legível, mas que ela fosse uma letra basicamente desenhada.
P/1 – Quais eram suas matérias preferidas? Tinha alguma que você não gostava?
R – Eu gostava de aprender, não tinha preferências, se eu pensar, até [a] quarta série. A partir da quinta série - não era quinta série, era primeira série do ginásio -, aí eu acho que já tinha as preferências. Mas eu acho que até a quarta série primária, como era chamada, eu lembro que até o final da quarta série, durante o segundo semestre da quarta série, eu fiz paralelamente um curso de admissão pra prestar o exame para a primeira série do ginásio. Isso acontecia. Tinham algumas crianças que iam para o quinto ano e outras que passavam direto, portanto, poderiam ir para a primeira série do ginásio. Eu passei direto, fui para a primeira série do ginásio em uma outra escola chamada Colégio Estadual Frei Paulo Luig e, essa escola, aí sim eu tive preferências mais marcadas, mais importantes. Até a quarta série todas tinham importância.
P/1 – Nessa fase, quais eram as suas preferidas?
R – A partir da primeira série do ginásio? Eu creio que aí a marca era muito em função dos professores. E tinha uma que era o terror, era História. História, seguramente, era o terror por conta da professora, que a metodologia que ela utilizava era de ditar, ela ditava a matéria. Nós não tínhamos livro e ela ditava absolutamente tudo. Ela preenchia, durante o ano, dois cadernos de 200 folhas e as crianças ficavam com dor no braço de escrever. Ela não parava de ditar e a pergunta, nas provas, era pra responder exatamente o que ela tinha ditado. História era a odiada. Já Matemática, era muito agradável, Português era muito agradável, era muito gostoso por conta, evidentemente, dos professores. Uma boa lembrança sempre foi a área de Ciências, porque mexia com coisas que estavam ligadas à natureza, à vida das pessoas, e que eu gostava bastante.
P/1 – Tinha biblioteca na escola?
R – Não tinha. Da primeira à quarta série não tinha biblioteca. No ginásio tinha uma pequena biblioteca, mas a biblioteca não era um lugar de destaque da escola, não me recordo como sendo um local privilegiado ou de destaque.
P/1 – Tinha alguns materiais que a professora usava pra dar aula fora, aquele quadro...
[Pausa]
P/1 – Estávamos falando de materiais.
R – Os recursos que eram utilizados, eram recursos... Ou que são utilizados a partir dos livros. O livro didático era uma coisa importante, mas recursos diferentes eram utilizados mais pela Geografia, pelas Ciências, por Inglês; Francês [também], porque o currículo que eu tinha na primeira e na segunda série do ginásio era Francês e na terceira e na quarta série, o que seria hoje a sétima e a oitava, era o Inglês. Então, essas disciplinas tinham alguns recursos diferentes, alguns materiais de apoio, mas as outras, a Matemática, [por exemplo], que utilizava aqueles esquadros de madeira etc.
P/1 – Por exemplo, mimeógrafo, já tinha? Carbono?
R – Ah, sim, mimeógrafo. Todo o material era impresso com o mimeógrafo. Depois eu, como professor, também utilizei muito o mimeógrafo. Já existia o mimeógrafo, mas a maioria dos materiais não eram mimeografada, só as provas que eram mimeografadas. O livro didático é que era o grande norteador da aula, e outros materiais de apoio eram menos utilizados pelos professores.
P/1 – Você citou a hora do lanche, mas e o recreio em si, vocês brincavam? Como era?
R – O recreio era bastante divertido. Se pensar, sempre o jogo é uma coisa que acontecia no recreio e depois, nas séries maiores, o teu espaço de relações vai se ampliando etc., mas era o local onde você poderia ter uma relação que ia além dos saberes escolares, ia, pro que eu considero, como os saberes que você adquire por conta das relações. Então, quantas coisas as crianças e os adolescentes não aprendem diferentemente dos saberes escolares ou dos saberes acadêmicos? E o recreio era um momento importante. Eu lembro que, além do recreio, tinham os momentos das criações, então, o teatro que se fazia, algumas atividades paralelas... Você havia perguntado da biblioteca, eu lembro que em frente à escola que estudei o ginásio tinha uma biblioteca, uma biblioteca municipal. Então a biblioteca municipal era um lugar que era muito frequentado pelos alunos da escola. Quando a gente não tinha aula, a gente estava na biblioteca. A biblioteca era o lugar onde eu lembro que eu tinha uma banda de música, era o lugar onde a gente fazia o teatro. A biblioteca era um lugar de atividades, de outras atividades. O recreio, eu acho que a extensão era ao final da aula, ir pra biblioteca e continuar fazendo as atividades na biblioteca, mas aí, fora da escola - era praticamente uma extensão da própria escola. A atividade de Educação Física não acontecia, era muito voltada mesmo, era uma postura mais militaresca, então tinha uma prática, a primeira parte era mesmo aquecimento, uma coisa bem marcada, o (cobrir?), a postura, a organização. Era o currículo oculto da escola, a questão da pontualidade, da disciplina. Isso era uma coisa muito forte e era marcado nos momentos em que a gente não tinha a liberdade do recreio, por exemplo. Então outras atividades eram sempre voltadas muito com a questão de pontualidade e disciplina.
P/1 – E a relação entre os alunos e os professores, como era?
R – A relação entre os alunos e os professores era uma relação mais distante mesmo. Quando eu estava no primário, era uma relação, um afetivo, mas um afetivo não tão apegado, não tão próximo, ela não tinha a imagem da mãe e não era a "tia" também, era a professora. Ela era uma pessoa que estava em uma posição diferente, o que eu acho que foi uma perda importante, porque os adultos passaram a querer se igualar, principalmente os professores de adolescentes, passaram a querer ser um igual ao adolescente e, a partir disso, ele deixa de ter um papel de ser o adulto, quem ensina, o professor. E a postura dos professores era muito firme nesse aspecto. Por outro lado, alguns assumiam postura muito autoritária. Por ele ser um detentor do saber, tinha uma postura mais autoritária. Se eu lembrar mais os professores do ginásio, eram professores mais posicionadamente de forma autoritária. Eu lembro do professor de Matemática da sexta série, se chamava Samuel, era um professor terrível, ele era bastante autoritário e inflexível; por outro lado, eu tive um professor de Ciências na oitava série que era um professor totalmente adorável, uma pessoa maravilhosa e que durante a minha oitava série ou a minha quarta série do ginásio. Infelizmente, ele parou, porque era o ano de 1967, 68, e ele foi uma pessoa que teve que sumir por uns tempos por conta da situação política do país etc., e era um professor bastante interessante. Foi curioso porque, depois, na minha atividade com escolas associadas, eu reencontrei esse professor como Diretor de uma escola que foi associada ao Pueri Domus.
P/1 – Havia outras atividades, tipo, fanfarra, coral, esse tipo de coisa?
R – Havia, mas o que era mais forte na minha lembrança era o teatro. Teatro era uma coisa muito marcada na escola que eu estudei. A fanfarra era pequena naquela escola e eu não fazia parte da fanfarra [e] nem de coral, não foram atividades que me mobilizaram naquele momento, mas o teatro sim, era uma coisa que eu sempre participei de maneira bem entusiasmada. E a banda sempre tinha - não era uma banda, na época, a gente chamava de conjunto. Então tinha o conjunto de música e sempre tinha espaço mesmo para aquele que não tocasse nenhum instrumento. Ia cantar ou simplesmente bater um pandeiro furado, mas tinha espaço pra todos.
P/1 – Já indo pra parte da sua adolescência, sua juventude, como era? Tinha um grupo de amigos, quem eram esses amigos? Da escola?
R – Minha adolescência foi uma adolescência truncada porque o meu pai faleceu quando eu tinha 14 anos, isso fez com que nessa idade eu já era uma pessoa que trabalhava o dia inteiro e passei a estudar à noite. Aí eu já estudei em uma outra escola, o que a gente chamava de colegial. Eu vivi o final do científico - porque era o científico, o clássico e o magistério -, eu vivi o final disso e o começo do colegial. Eu estudei em uma outra escola, num outro bairro, chamado Colégio Domingues Faustino Sarmiento, e a minha turma era ligada à escola. Na época, uma coisa que era muito forte eram as comunidades de jovens ligadas à igreja e eu tinha muitos amigos que eram da comunidade de jovens. Alguns eram em comuns da escola e da comunidade de jovens. Ao final do meu colegial, quando eu já estava na terceira série do colegial, os meus amigos já eram amigos mais da escola e a articulação que se fazia era daqueles que estudavam junto pra passar no vestibular, apesar de carreiras diferentes. Então a gente tinha o grupo de estudo, esse grupo de estudo eram os amigos. Eu tinha um grupo de estudo que eram os amigos e tinha um outro grupo que era um grupo por afinidade. Na época, minha afinidade era o rock, então tinha o grupo do rock, que gostava de rock, a gente trocava os discos e que passou a ser a minha relação principal quando eu estava no colegial. Eu tinha os amigos do trabalho também porque, como eu trabalhava, tinha dois grandes amigos no trabalho, mas que eram amigos que moravam em outros bairros, lugares mais distantes, então eu cheguei a fazer algumas viagens com eles. A relação maior com esses amigos se estabelecia no período de férias. Nas férias, tinha esses amigos do trabalho que eu viajava com eles e tinha os outros amigos também que eram os ligados ao rock - a afinidade pela música e pelos interesses comuns. Era muito interessante, tenho muito boas lembranças desse grupo. Algumas pessoas eu continuei com a amizade durante muitos anos, outros, infelizmente, eu perdi o contato.
P/1 – E havia bailinhos, festas?
R – Eu até fui um que organizava bailinhos. Com 12 anos, eu ganhei minha primeira vitrola que era uma vitrola Philips, e a partir daí eu organizava as músicas pros bailinhos e decoração, as capas dos discos - a gente fazia capas diferentes com colagens -, mas era uma atividade obrigatória, no sábado, ter o bailinho, ou no domingo - que passou a ter as domingueiras, como eram chamadas. Vários bailinhos que a gente participava ou como organizador ou frequentando alguns bailinhos - alguns já eram de alguns conjuntos importantes que começavam a surgir. Eu lembro de ter ido em baile com Os Mutantes, e uma coisa que eu gostava muito era de ir em programas de TV. Eu participava, na época, a Record era talvez o canal que tivesse os grandes programas e eu cheguei a frequentar Jovem Guarda, de ir participar dos programas de domingo do Roberto Carlos, aquela coisa toda; participei de festivais da Record. Eu gostava muito de ir aos canais de TV, na época, eu assistia não só musicais, mas eu ia assistir à gravação da Família Trapo. Na época, o programa da Hebe Camargo, enfim, programas humorísticos. Tinha um programa que chamava Esta Noite se Improvisa, era um programa que eu gostava muito, de perguntas e respostas, que o (Blota?) Júnior era a pessoa quem dirigia o programa. Tinha “A palavra é:”, aí falava uma palavra e alguém entrava cantando uma música com aquela palavra. E eu achava muito divertido aquele tipo de programa.
P/1 – E tinha alguma atividade social na comunidade? Você já citou que tinha um grupo ligado à igreja, vocês faziam alguma coisa?
R – Sim, muitas atividades, mas mais atividades voltadas mesmo à questão da filantropia, à questão de, quer dizer, eu era uma pessoa que trabalhava e estudava, trabalhava o dia inteiro e estudava à noite, então o tempo que me restava era o fim de semana mesmo. No fim de semana, era o tempo que eu usava mesmo pra fazer essas atividades sociais que, depois, na época da faculdade, veio com uma outra dimensão que foi a dimensão política, passou por uma outra forma, um outro formato. No período do colegial, era muito forte essa coisa de pensar no outro, da valorização do outro e os conceitos de igualdade, de solidariedade - eram conceitos muito marcados. E tinham os encontros de jovens, então muitas vezes estava voltado, dedicado a esse tipo de encontro onde eram discutidas várias coisas e as atividades aconteciam muito nesses encontros também.
P/1 – Na área profissional, como você decidiu a tua carreira? Tinha alguma expectativa da família?
R – Isso foi uma circunstância assim: eu era estudante de Engenharia, estudava Engenharia, que era um grande sonho pra minha mãe, porque, afinal de contas, eles não tiveram a possibilidade de estudar. Eu era a pessoa que tinha conseguido chegar à universidade. E o interessante é que eu entrei na universidade com a imagem que eu queria trabalhar com cinema, com som e imagem. Eu fui fazer Engenharia Eletrônica porque eu achava que seria uma maneira de conhecer tecnicamente o que acontece no cinema. Quando eu comecei a fazer os primeiros estágios, fui me decepcionando profundamente com o que era a área de desenvolvimento da Engenharia Eletrônica. E eu precisava me manter, eu trabalhava à noite etc. e apareceu a oportunidade de começar a dar umas aulinhas. Um amigo, que era um amigo desde a época do colégio, ele lecionava numa escola e me levou pra lá. E foi um encontro meu que foi absolutamente frustrante pra minha mãe porque, em um determinado momento, eu desisto da Engenharia - estava indo para o quinto ano da Engenharia, desisti no quarto ano. Eu desisto da Engenharia porque percebi que o que eu queria mesmo era ser professor, tinha muito mais a ver com a coisa das relações e era o que eu queria. Essa medida foi muito importante, mas foi uma descoberta casual, foi uma necessidade que me levou mais porque eu estava insatisfeito com aquilo que fazia, não estava me encontrando naquilo que fazia, e com o magistério eu fui me encontrar por conta do estabelecimento de relações.
P/1 – E aí, você fez outro curso? Como foi?
R – Sim, depois eu fui cursar. Eu fiz Ciências, depois fiz Física porque eu precisava ter a formação pra ser professor. Então eu fiz o curso de Ciências e depois, Física.
P/1 – Foi um curso bom?
R – Olha, eu primeiro me tornei profissional pra depois ser estudante nessas áreas. Foi interessante, porque como eu fui professor durante muitos anos em cursinho e o cursinho não necessitava que eu tivesse o diploma, então o diploma era uma coisa que eu perseguia mais como uma necessidade para dar conta da minha atividade profissional que eu já tinha escolhido. As pessoas, em geral, têm uma atividade profissional posterior à universidade, então a atividade profissional vai dar conta do que ele fez na universidade; comigo aconteceu o contrário: eu tinha encontrado a minha profissão e aí eu precisava da universidade, precisava do curso superior pra ter habilitação pra fazer uma coisa que eu já fazia e bem. Eu considero que fazia bem, porque fui um professor que os alunos gostavam e tinha uma boa relação, enfim. Então, o curso tinha uma dimensão menor nessa medida, porque precisava mesmo daquilo pra poder ser o profissional que eu queria ser, mas eu já tinha encontrado e me dedicava muito mais ao meu trabalho do que propriamente à minha faculdade. A minha relação, que eu tinha já na faculdade de Engenharia, aí sim eu tive uma participação política importante, fui uma pessoa que teve uma participação bastante ativa no movimento estudantil. Eu acho que foi uma coisa fundamental pra minha vida profissional, que me ajudou a ter uma visão crítica, uma visão que eu pudesse fazer análises de cenários, e eu creio que isso fortaleceu mesmo as questões de princípios. Eu lecionava, fazia da minha profissão algo mais consistente porque eu tinha uma concepção política por trás. Ser professor tinha um papel social importante; como estudante, esse papel social estava totalmente desqualificado. As coisas aconteceram ao contrário: na faculdade de Engenharia, tive a participação política, comecei a ser professor, já era professor e não tinha a faculdade. Talvez a faculdade de Engenharia tenha sido o momento onde eu vivi mais o clima da universidade etc. e tive muitos conflitos dentro do curso que eu fazia, porque o ambiente da universidade era maravilhoso, mas a faculdade que eu cursava não era o meu interesse. A política, naquele momento, tinha muito mais interesse pra mim do que propriamente a faculdade de Engenharia; posteriormente, a profissão professor tinha muito mais interesse do que cursar o curso de Física. Então foram momentos distintos que eu vivi.
P/1 – Agora, já deu um salto e chegou no professor. Voltando um pouquinho, antes, quais foram suas atividades? O primeiro trabalho qual foi?
R – Meu primeiro trabalho, como eu comecei muito jovem, com 14 anos eu já trabalhava como “office-boy”, trabalhei na Caixa Econômica Estadual. E ao trabalhar na Caixa Econômica Estadual, comecei no Departamento de Agências da Caixa Econômica, mas fiquei só seis meses. Eu rapidamente subi pro Gabinete da Presidência. Apesar de ter o cargo de “office-boy”, eu era uma pessoa que atendia ao público, então atendia a pessoas que faziam empréstimos e acompanhava os processos dessas pessoas. Como era no Gabinete da Presidência, o atendimento muito era em função de prefeituras que vinham captar recursos para a prefeitura, e os empréstimos, então eu trabalhava diretamente atendendo prefeitos. Foi um momento importante, porque tinha que trabalhar de terno e gravata - já era uma nova situação. A minha adolescência, eu era muito responsável, um adolescente muito responsável, coisa que quando eu estava com 17 anos, eu pude viver as transgressões que a adolescência vive e que são importantes. Quando eu fui fazer o primeiro ano da faculdade, aí fui trabalhar, tinha que trabalhar à noite porque eu fazia faculdade particular - eu tinha que pagar a faculdade. A minha mãe me ajudava o máximo que ela podia, mas eu tinha que ganhar o meu recurso pra poder pagar a faculdade. Então eu fazia um curso de Processamento de Dados de manhã, fazia Engenharia à tarde e trabalhava à noite. Eu era uma coisa chamada Operador de Periféricos, quer dizer, ser Operador de Periféricos era trabalhar num lugar onde tinha um grande computador que ocupava um salão e várias máquinas, vários terminais ligados a esse computador. A gente fazia compensação do cheque no período da noite e digitava numa máquina que perfurava fitas no computador. Era o começo da informática - estou falando do ano de 1975, onde não havia ainda os computadores pessoais. O computador ainda era uma coisa enorme. Enfim, eu vivi essa época e na Engenharia, no curso de Processamento de Dados, eu tive a oportunidade de fazer alguns cursos que não servem absolutamente pra mais nada, que era o Cobol, Assembler, Fortran. E é interessante porque hoje eu tenho as mesmas limitações que qualquer adulto tem em relação à informática, sendo que em um determinado momento eu fiz curso pra ser programador. E depois, eu já virei professor. Eu tive essa passagem por esses empregos, mas, em 1977, quando eu ainda estava no terceiro ano da faculdade de Engenharia, já comecei a lecionar. E, a partir daí, eu não saí mais da Educação, permaneci até os dias de hoje. Então, de 77 até hoje, já são 29 anos que eu estou na área de Educação.
P/1 – Aí só um pouquinho da sua passagem, antes de chegar no Pueri: pela área da Educação, como foi?
R – Eu comecei primeiro num supletivo, foi a minha primeira grande escola de professor porque era trabalhar com dificuldades de outra ordem. E o primeiro curso que eu fui dar aula, eu dava aula de tudo. Dava aula de Ciências, dava aula de Física, Química, Biologia, Estatística, eu dava aula de praticamente tudo. Eu brinco que só não dava aula de auto-escola, o resto eu dava aula. Mas eu aprendi a ser professor trabalhando com esses cursos que eram: curso técnico de Contabilidade, Secretariado e o supletivo. Depois disso, quando eu saí desse lugar, eu fui trabalhar com vestibulinho de escola técnica, aí eu comecei a me voltar mesmo pra Física. Trabalhei num curso chamado Pretec Vestibulares que preparava alunos que iam pra Escola Técnica Federal. Ao mesmo tempo, eu comecei a trabalhar com cursinho. Comecei a trabalhar num cursinho chamado ____ Vestibulares durante um tempo e depois, eu fui trabalhar no Colégio e Curso Objetivo. Fiquei três anos. Também foi uma boa escola de ser professor, apesar que considero que lá eu ainda não era um professor, era mais um “dador” de aulas. Eu dava aulas, era uma coisa muito mecânica porque eu tinha a aula certa pro dia certo e eu, como professor, tinha uma flexibilidade muito pequena dentre as concepções que acredito hoje na Educação: era um modelo de professor que não atendia a uma atividade mais criativa de ser um professor, então era muito fechada a minha atividade como professor - tanto no cursinho quanto no Objetivo. Aí eu fui trabalhar no Palmares. Quando eu fui trabalhar no Palmares, comecei a ser professor, eu era responsável pela minha aula, eu passei a ser o autor da minha aula; não era o material que dirigia a minha aula, mas eu que era o consultor dessa aula e comecei a enxergar a Educação de uma outra maneira. Quando eu estava no Palmares, comecei a trabalhar no Pueri Domus ao mesmo tempo - trabalhava nos dois lugares. E no Pueri Domus eu me dei muito bem. Recebi, depois de dois anos que eu estava no Pueri Domus, uma proposta pra que eu saísse do Palmares. Eu não queria sair, gostava também de lá, mas a proposta era uma absurdamente tentadora que praticamente fechava o meu horário, e eu vim pro Pueri Domus. A primeira fase do Pueri Domus, eu trabalhei seis anos direto. Durante esse tempo que eu estava no Pueri Domus, trabalhei muito ainda em cursinho, dando aulas particulares, até que eu virei Coordenador de Física do Pueri Domus - e aí eu estou falando do ano de 1986, que foi um ano bastante interessante porque houve uma organização dentro da escola que era o planejamento, era o momento em que nós começamos a organizar o material didático do Pueri Domus. Foi uma necessidade percebida pela dona Beth naquele momento, ela queria que os professores que ela considerava os melhores, os mestres, como ela chamava, que eles produzissem o que poderia ser o material didático e que esse material didático fosse uma referência para os professores dentro da escola. Eu participei desse processo de construção até 1989.
P/1 – Conta um pouquinho pra nós como é esse processo de desenvolver o material didático.
R – Foi um momento muito importante porque havia um grupo de coordenadores, vários coordenadores, pra discutir o que era a ideia de um material didático. Num primeiro momento, a ideia ainda não foi uma de você cruzar esses materiais. Ele tinha uma organização comum, mas havia ainda alguns conflitos. Eu, com a área de Física, tinha alguns conflitos com a área de Matemática, mas era um processo onde a gente discutia muito o que seria o ideal pra se trabalhar em sala de aula. Foi um momento de muita reflexão, no meu caso, sobre o ensino da Física. Extrapolei até porque, nesse momento, a escola tinha cursos de magistério e eu comecei a dar aulas nos cursos de magistério, pro quarto ano do curso. Foi uma oportunidade muito importante pra mim, porque no curso de magistério eu dava o conteúdo e a metodologia do ensino de Ciências, e e aí eu pude relacionar a Física com a Educação de uma maneira mais ampla e não pensar no material de Física exclusivamente com o olhar da Física, mas pensando que aquilo fazia parte de uma coisa maior que eram outros conhecimentos. A escola, até aquele momento, não o Pueri, mas em geral, as escolas tinham uma visão muito fragmentada. Até a própria escola pelo fato de ter coordenadores de área, a posição era mais fragmentada. A Física se comparava com a Física, a Matemática com a Matemática e a Química com a Química. Nessa medida, a integração com as diferentes áreas era mais difícil, principalmente no material didático. Era a primeira fase da elaboração do material didático porque, depois, foi configurado de uma outra maneira, mas essa maneira era muito mais pra que nós colocássemos de forma escrita aquilo que a gente realizava na prática em sala de aula. Era uma forma de transpor para uma outra forma, que era a forma escrita, aquilo que você praticava pra que outros professores pudessem ter uma referência de uma boa prática de sala de aula. O material vinha à luz da prática que se realizava dentro da sala de aula. Essa foi a primeira grande ideia e já com a perspectiva de poder, e esse era um sonho inicial, que isso pudesse, depois, ser transferido pra outros. Como era uma boa prática, que isso pudesse ser compartilhado com outras instituições e outras organizações. Em 89, iniciou-se um processo como esse que foi um processo de se fazer uma franquia e, naquele momento, duas franquias foram iniciadas: uma em Araraquara e uma em Sorocaba, e elas não deram certo. Não deram certo e se começou a perceber que escola é mais difícil de fazer franquia. É diferente de hambúrguer, é diferente de perfume, é diferente de esfiha, quer dizer, cada lugar tem a sua história, cada lugar tem os seus professores que têm alunos que têm histórias diferentes, culturas diferentes... Por mais que um material possa ser norteador, a escola tem que ter a sua característica própria em função da sua própria história. O material tem que ser um recurso, um meio e não um fim; e o professor tem que ser o autor dessa aula. Nessa medida, o conceito de franquia não era um conceito que pudesse ser replicável porque aí havia uma padronização que independeria da história daquela instituição. Tanto é que em Sorocaba não deu certo; em Araraquara, virou uma unidade própria do Pueri Domus. O Pueri Domus teve que adquirir aquela escola porque poderia haver um prejuízo até da sua imagem, do seu nome em função do que estava sendo praticado, que era muito diferente do que era praticado no Pueri Domus e de uma maneira ruim. Então foi importante que o Pueri assumisse aquilo lá como sendo uma unidade sua. Ao invés de ser uma franquia, ser colocado como mais uma unidade do próprio Pueri Domus, que depois veio ser diferente, fez ______ diferente, o Pueri Domus Escolas Associadas.
P/1 – E foi a partir daí já que surgiu a ideia das escolas associadas? Você participou desse processo?
R – Eu saí da escola em 89 e retornei em 94, que foi exatamente o ano que se iniciava o Pueri Domus Escolas Associadas. O primeiro ano de existência de Pueri Domus Escolas Associadas. Esse processo de 86 até 89, que eu vivi, era o começo da ideia. 89 foi aquela franquia que não deu certo, e de 89 até 94 foi o desenvolvimento mesmo de um modelo que pudesse ser um modelo de expansão do que se trabalhava dentro do Pueri Domus. Nesse momento, eu fui ter outras experiências fora do Pueri Domus, mais com direção pedagógica de escolas. Eu fui trabalhar em outras instituições. Foi uma experiência muito importante, fora de São Paulo. Uma escola de empresa, no caso, da Aracruz Celulose, que eu acho que foi um enorme aprendizado pra mim, que foi trabalhar dentro de um condomínio com dois mil alunos dentro de uma instituição que fazia parte de uma empresa muito grande, que vivia do mercado externo - uma empresa de altíssima tecnologia. Em 92, a tecnologia desenvolvida já era clonagem, uma coisa absolutamente implantada e desenvolvida e bastante sofisticada, então eu aprendi muitas coisas tanto na área da gestão de uma unidade educativa quanto na questão da própria aplicação pedagógica dentro de uma organização desde a Educação Infantil até o Médio. Quando eu retorno pro Pueri Domus, em 94, voltava com uma experiência acumulada de escola que era diferente da experiência que eu tinha vivido dentro do Pueri Domus, que era mais atividade ou de sala de aula ou com uma área de conhecimento, no caso, era a Física, e na concepção de material didático. Eu voltava mesmo com a visão do gestor, do gestor de uma escola. Quando eu volto pra Escolas Associadas, em 94, já é um momento onde eu era a pessoa que saía pra vender a ideia de escolas associadas, eu era um vendedor de ideias – acho que o professor também é um vendedor de ideias. Hoje, eu tenho isso muito mais claro e falar que é um vendedor, pra um professor, é uma coisa muito séria, porque ele jamais vai se assumir como um vendedor - mas eu viajei muito esse país visitando escolas e eu pude perceber muitas experiências diferentes. Eu creio que pude participar tanto dos projetos iniciais de concepção de material didático, e aí sim pensando em materiais que se articulavam e uma coisa já ficou clara: um bom professor não necessariamente é um bom autor. Aí a busca de autores extrapolava se era professor ou não do Pueri Domus, mas pessoas que tinham boas propostas, que se enquadravam dentro de uma proposta maior: uma proposta de educação e que seria traduzida em materiais didáticos e que, evidentemente, se espelhava numa prática que estava sendo desenvolvida no Pueri Domus. O Pueri Domus continuava sendo um grande laboratório, entre aspas, vamos dizer assim, pra que pudesse dar as referências pras escolas associadas. Eu acho que esse foi um momento bastante importante na história do Pueri, porque ele compartilha a sua prática com outras instituições. Mais do que isso, não só compartilha, mas submete à crítica de outras instituições - o que é muito ousado você se submeter à crítica de outras instituições. Por outro lado, a visão era de como você se expõe à crítica de outras instituições, você revê o que faz e, portanto, aprimora, você melhora. Essa ideia de compartilhamento é uma ideia muito interessante, porque o compartilhar faz você melhorar, faz você crescer, porque recebe outras experiências e outras ideias. Então você melhora as suas. Eu acho que isso é um conceito moderno onde você considera que uma organização aprende porque, em geral, a gente está pensando em pessoas que aprendem, e quando a organização se coloca no lugar dela, como aprendiz, ela tem melhores elementos pra fazer com que os aprendizes dessas escolas aprendam melhor. Porque ela percebe que o conhecimento não é uma coisa finita e acabada, mas que está em constante construção e ela, enquanto organização, também constrói novos momentos.
P/1 – E você voltou como diretor?
R – Na verdade, eu fui Gerente Geral em Escolas Associadas, era responsável pelo negócio Escolas Associadas e fiquei nesse processo até o ano 2000 como a pessoa que era a responsável por esse negócio. Eu fui a pessoa que criou, naquele momento, a equipe de assessoria, a equipe que ainda está hoje no Pueri Domus Escolas Associadas. Eu que iniciei o processo de formação dessa equipe em parceria com alguns profissionais como a Cleide (Terzi?), como a _____ Nune, que são pessoas muito caras a essa instituição e que foram pessoas que trabalharam bastante junto comigo na formação dessa primeira equipe porque o conceito era ao vender um material, ao levar o material pra uma instituição, a questão central era a questão da formação dos professores. Então iniciamos um processo tanto de assessoria pedagógica às instituições, como de eventos que realizávamos no Pueri Domus. Naquele momento, nós realizamos importantes eventos de educação do país dentro do Pueri Domus. Eu lembro de debates no Ensino Médio, que nós realizamos antes de existir a nova Lei de Diretrizes e Bases. Naquele momento, a gente já discutia, e fez com que uma via de mão dupla provocasse dentro do Pueri Domus discussões importantes como foi, por exemplo, o Domus Alfa, que foi um programa educacional que aconteceu dentro do Pueri Domus que tinha muito a ver com essa troca de experiências com escolas associadas e que nos fez pensar à frente do nosso tempo. Ter escolas associadas e desenvolver esse trabalho com outras escolas fazia com que novas questões fossem colocadas pro Pueri, pra avançar em educação e pensar em novas questões que estavam colocadas: a sala de aula estava mudando, os alunos eram outros, o mundo era outro, novas estratégias deveriam ser utilizadas, novos currículos, enfim, isso está em constante modificação. “Escolas Associadas” te empurra a pensar e a refletir sobre essas questões, como acontece até hoje o papel de escolas associadas em relação ao próprio Pueri Domus.
P/1 – Agora você já não está mais na Escola Associada, é isso?
R – É. Em 2000, eu saí de Escolas Associadas, fui trabalhar em uma outra instituição que faz isso também, uma outra organização concorrente até do Pueri Domus. Mas, em 94, portanto, quatro anos depois, eu fui chamado pelo Pueri pra trabalhar a ensinar a escola Pueri Domus, com o sentido de fazer um resgate até do projeto político pedagógico do próprio Pueri Domus e com a ideia de fortalecer essa visão de pensar à frente do nosso tempo. Hoje eu sou responsável pelo ensino da escola Pueri Domus e das mudanças que, hoje, ocorrem dentro da escola e da promoção, da formação dentro da escola. Enfim, agora eu sou um parceiro de Escolas Associadas, a minha atenção e o meu olhar está muito mais voltado pra prática que hoje acontece dentro da escola Pueri Domus. Na qualidade de Diretor de Ensino, eu tenho uma equipe que trabalha com a rede; entretanto, hoje iniciamos um processo importante dentro do Pueri Domus que é de descentralização das unidades Pueri Domus a partir de um projeto, de uma orientação pedagógica muito clara e que é norteadora pra todas as unidades. Cada unidade poder viver de forma mais autônoma. Em outros momentos, o Pueri Domus teve uma postura mais centralizada, as ações eram muito mais centralizadas. E hoje a orientação é centralizada, as ações acontecem em função da realidade de cada unidade escolar, mas com a mesma orientação muito clara.
P/1 – Quais você considera que foram seus maiores desafios no Pueri?
R – No Pueri, ah, eu tive grandes desafios no Pueri. Primeiro, quando eu fui Coordenador de Física que eu saía da sala de aula e passava a ser Coordenador, porque aí eu era responsável por um grupo de professores, por uma área dentro da escola e, portanto, a minha responsabilidade era diferente da sala de aula. Eu não diria que era maior, mas era diferente. A responsabilidade da sala de aula eu considero que é uma das maiores responsabilidades, o papel e a função de um professor é uma coisa absolutamente fundamental dentro de uma instituição educativa. Entretanto, como Coordenador da Área, eu tinha que olhar [com] um outro olhar, que eu não tinha e que eu tive que aprender a ter. Quando eu fui dar aula no magistério, foi um outro grande desafio porque trabalhar no magistério era pensar muito além da Física. Foi muito interessante porque as meninas, como eu chamava do magistério, do quarto ano do magistério, é que me mostraram um mundo novo. Foi muito interessante porque elas me ensinaram que eu era um eterno aprendiz e que eu devo ser um eterno aprendiz. Aprendi que elas estavam me ensinando sobre educação mais coisas do que eu tinha pra ensinar pra elas. Eu tinha uma visão muito clara sobre a ciência e do ensino de ciência, mas elas me fizeram pensar coisas que, até então, eu não havia pensado. Trabalhar com aquelas meninas era um desafio diferente. Eram grupos pequenos, mas meninas que tinham um outro olhar. Um terceiro desafio importante que eu tive no Pueri Domus foi quando retornei pra ser Gerente Geral, pra trabalhar com Escolas Associadas, que era trabalhar na qualidade de uma pessoa que vai conduzir um negócio do grupo e esse negócio do grupo projetava uma imagem do Pueri Domus nacionalmente e que tipo de instituição que poderia ser parceira. Portanto, qualificar a escola que vai ser parceira era muito importante porque tinha que ser escola, uma escola que comungava de princípios comuns. Então você tinha que ter muito claro quais os princípios do Pueri e da outra instituição, pra ver essa sinergia e essa liga e ter uma responsabilidade mesmo nessa relação e na parceria que se estabelece. Esse cuidado de escolher certo, a instituição certa pra fazer parte, foi um grande desafio - que eu considero que fui bastante feliz nas escolhas que eu fiz e no trabalho que desenvolvi. Alguns parceiros que foram conseguidos desde o ano de 94, permanecem hoje ainda como parceiros e numa relação de constante crescimento, de um e de outro. O outro grande desafio foi quando eu retornei pra escola como Diretor de Ensino, porque era voltar pra um outro momento da escola. Eu estava longe da escola, na verdade, desde 89. Apesar de ter passado por Escolas Associadas, eu estava absolutamente distante no que diz respeito ao olhar diretamente pra ação. E chego numa escola que tem em torno de 300 professores, que tem uma linguagem comum da Educação Infantil ao Médio, que tem um grupo de coordenação grande e o grupo estava muito mais voltado pra questão educacional e começamos a modificar pra uma orientação mais pedagógica... E o implantar de tutoria, de novos tempos [e] espaços dentro da escola, acabar com a fragmentação da educação dentro da escola, [com] um olhar mais integrado. Aí, talvez, trazer todo o repertório que eu consegui colher e aprender com várias instituições que tive contato, pra um novo momento do Pueri Domus e pensar à frente das demandas que hoje a gente tem. Talvez, hoje, a minha responsabilidade é de outra ordem: de ser um grande maestro de um trabalho que está sendo desenvolvido em cada sala de aula. Em cada sala de aula, cada pessoa que trabalha aqui na escola, seja [o] professor, seja o porteiro, seja qualquer um, ele ter uma coerência na sua postura, na sua ação, sem tirar a sua individualidade, suas características - a história de vida profissional, pessoal etc.
P/1 – Falando na escola, agora, como um todo, qual você acha que hoje é a função da escola?
R – A escola eu acho que tem uma função bastante importante. Ela tem que ser um agente de transformação social. Ela tem que formar pessoas pra quê? Pra que sejam agentes de transformação. E formar pessoas que sejam agentes de transformação, ela tem que ter como princípio ser uma instituição que forme indivíduos autônomos, indivíduos que sejam éticos, que sejam protagonistas, que queiram continuar estudando continuamente. Hoje, apesar de ser uma instituição privada, ela tem um caráter público, porque reúne pessoas que vão, depois, atuar num mercado. E essas pessoas que vão atuar no mercado, em função do que elas receberam de formação, elas vão ser pessoas que vão provocar transformações que sejam em benefício do coletivo, em benefício do país ou não. E num país que está com valores tão distorcidos, valores tão comprometidos, a formação de crianças e jovens que saem daqui dentro de uma perspectiva de pensar no bem comum, e não só no seu bem comum, mas pensar no bem comum do outro e do planeta. Então, pensar desde os cuidados que eu tenho que ter com a minha própria saúde até com a saúde do planeta. É uma responsabilidade muito grande, uma função absolutamente fundamental. Então se a escola erra nesse trabalho, ela formará indivíduos que não tenham esse compromisso com a sociedade e, se essas pessoas não tiverem esse compromisso com a sociedade, seguramente, o cenário que a gente vislumbra no futuro é um cenário pior do que temos hoje. Eu, na qualidade de educador, tenho que acreditar que a minha ação dentro da escola possa ser transformadora o suficiente pra que as pessoas saiam daqui com essa perspectiva de serem agentes de transformação no sentido de coisas melhores, coisas que sejam favorecedoras pra vida, favorecedoras pra condições melhores de vida pras outras pessoas que vão viver no futuro. E cada professor, cada pessoa que trabalha aqui tem imbuído esses princípios. Então, estar na posição que eu estou hoje e pensar nessa função da escola, é ajudá-la, enquanto corpo conjunto, a promover isso nas suas ações coletivas e individuais. Eu me sinto hoje o grande guardião do projeto político-pedagógico que esta instituição tem que ter a serviço de ser quem transfere pro adolescente um legado cultural que existe. Nós somos quem garante que esse legado cultural será sim transmitido pros nossos alunos, mas muito mais do que isso, formará alunos com uma outra perspectiva, e é nesse sentido que a função social da escola é fundamental. É nesse sentido que eu entendo que ela tem um caráter público sem ser uma escola pública. Mas ela tem o caráter de atender a sociedade, então ela tem que prestar um serviço à sociedade.
P/1 – E você transferiria isso em nível de Brasil? Isso seria o ideal? Escola, no Brasil: esse modelo seria o modelo ideal?
R – Eu não acredito muito numa escola fazer isso sozinha, mas eu acredito muito... Tem uma historinha que eu gosto de contar que é uma historinha que o Betinho contava, é uma historinha conhecida que era a história de um incêndio na floresta e o passarinho começa a pegar água com o seu biquinho e apagar o fogo, enquanto todos os outros bichos estavam fugindo, rindo muito do passarinho, e falam pro passarinho: “Você acha que vai conseguir apagar esse fogo?”, “Se eu vou conseguir eu não sei, mas eu estou fazendo a minha parte”. Quer dizer, nós, enquanto instituição, temos que fazer isso; nós, enquanto instituição, estamos fazendo isso com escolas associadas, pra que isso seja feito com mais instituições dentro do país. E eu acho que o papel que o Pueri tem que ter, dentro dessa perspectiva, é de ser centro de referência pra que outras instituições possam olhar pra isso e falar: “Esse é um modelo que eu gostaria de ter comigo”, e isso seja um modelo praticado por outras instituições de ensino que trabalhe com crianças e adolescentes, e que aí sim a gente consiga ter uma quebra de paradigma e que a gente possa ter diferentes instituições, independentemente de estarem ligadas ou não, mas que possam se espelhar no que o Pueri desenvolve hoje. Nesse sentido, acho que o Pueri tem um papel importante e acho sim que ele é um modelo pra outras instituições. E se outras instituições tiverem uma concepção que vá nessa direção que nós temos, eu acredito que as chances que nós temos serão muito melhores. Com isso a gente resolve todos os problemas? Não! Eu acho que tem a questão da escola pública, enfim, tem outras questões do sistema educacional brasileiro que são sérias, que são importantes e que eu acho que nós temos que contribuir também em relação a isso. Hoje, dentro do nosso trabalho, a gente trabalha com formação de professores da escola pública, então hoje nós temos momentos em que a gente reúne voluntariamente até pra que professores da escola pública possam receber formação aqui dentro e, com isso, a gente poder propagar ideais e ideias de educação nessa perspectiva de ter uma função social que forme agentes de transformação social.
P/1 – O que você acha do Pueri Domus estar comemorando os 40 anos dele por meio desse projeto que envolve a memória da comunidade escolar?
R – Eu acho que é uma coisa absolutamente fundamental, o registro. E é interessante porque o registro - eu acho que a escola não tem na sua concepção inicial uma coisa marcada e forte em termos de registro. Eu acho que o resgate, nesse momento, é pra aprender a fazer uma coisa que acreditamos que possa ser uma metodologia que a gente vá utilizar daqui pra frente. Essa coisa da memória, ela deve fazer parte do nosso cotidiano daqui pra frente, e como eu acho que a vida começa aos 40, (risos) eu acho que esse resgate está nos ensinando que a partir de agora nós vamos registrar tudo de uma outra maneira; a partir de agora, a gente vai começar a fazer história de uma outra maneira, podendo, portanto, fazer com que isso seja utilizado por outras pessoas de uma maneira muito mais consistente, organizada, declarada etc. Nós entendemos que o Museu da Pessoa é a instituição que está em parceria conosco pra nos ajudar a fazer isso da melhor maneira possível, então, que essa ideia de compartilhar nos parece que na relação com o Museu ela está absolutamente presente. E, da mesma forma que as nossas histórias estão acrescentando pro Museu da Pessoa, muitas histórias que eles têm registradas, essa metodologia pra nós é fundamental pra que a gente possa incorporar na nossa prática e se transforme em uma rotina da nossa existência pros próximos 40, 80, 120, sei lá quantos anos.
P/2 – Dentro disso, bem sucintamente, qual o melhor momento ou um momento marcante que você tenha passado?
R – Algum fato marcante? Nossa, eu tive tantos fatos marcantes dentro do Pueri Domus, mas eu creio que a coisa mais importante é eu poder ter a função que eu tenho hoje tendo passado por diferentes funções dentro da instituição. Eu comecei aqui como professor, então, quando eu falo hoje com um professor, eu tenho propriedade pra falar com o professor porque eu sou professor. Eu só não estou professor, mas eu sou professor. Nessa medida, eu acho que a maior marca foi a oportunidade que essa instituição me deu pra eu aprender o que sou hoje. Acho que eu não seria o que sou hoje se eu não tivesse passado por essa instituição. Eu acho que é uma marca que ela não dá só pra mim, ela dá oportunidades pra quem quer desenvolver e pra quem quer crescer, e eu aproveitei essa oportunidade dentro do Pueri Domus, a partir das chances que me foram dadas, das diferentes chances. Então o fato marcante é o fato de chances terem aparecido. E deu até espaço, teve momentos que eu fui muito crítico dentro do Pueri Domus; como estudante, eu fui um ativista sindical dentro do Pueri Domus. Teve momentos que eu tive conflitos com a direção do Pueri Domus, eu de um lado e a direção do Pueri Domus em outro, e a gente negociando salário. Então eu pude ser uma pessoa que essa instituição ao invés de discriminar e falar: “Não, esse daí é um ativista”, ao contrário: essa instituição me deu espaço pra que eu pudesse hoje ser um diretor da rede do Pueri Domus e acreditou no meu potencial. Eu acho que isso é a grande marca que o Pueri Domus deixa na vida das pessoas, é de acreditar nas capacidades das pessoas e dar às pessoas a possibilidade que elas desenvolvam essas potencialidades. Eu sinto que isso aconteceu comigo com todas as letras.
P/2 – ________________________________________________?
R – Eu acho que sim. Não só na sala de aula, mas na postura que o educador, e quando eu falo educador não penso só em professor, estou pensando em todos aqueles que estão lidando com educação, seja na sala de jantar de uma casa, família reunida, seja na sala de aula, seja o bedel que fala com o menino que jogou o lixo fora da lixeira e tem que jogar na lixeira. Qualquer oportunidade educativa tem que ser trabalhada. Os adultos têm que assumir esse papel de educador. Ele não é um igual ou um semelhante ao adolescente, ele é uma pessoa que tem a responsabilidade, que é diferente. Eu acho que passa pela responsabilidade dos adultos. O pai tem que ser pai, ele não é um igual, ele tem uma outra função em relação ao filho, [e] o professor tem uma outra função em relação ao aluno. Os adultos têm uma outra relação quando ele se coloca na qualidade de educador. Eu acho que a mudança, a transformação passa pela educação, não pela sala de aula, mas pela educação que se estabelece dentro da sala de aula e em outros espaços educativos dentro da escola. Eu acho que todo espaço, toda intervenção que se faz dentro da escola, tem que ter esse fundo formativo, tem que ter como pano de fundo pra qualquer ação que eu realizo, que sou responsável pela formação.
P/1 – O que você achou de ter participado dessa entrevista, Laurelli?
R – É muito legal. Eu gosto muito de falar, de expor as minhas ideias. Acredito muito no que eu faço, sou uma pessoa que as pessoas falam que vendo as ideias porque eu sou muito contundente, falo muito com os olhos, com o coração, com a emoção, e é isso mesmo, porque eu não faço coisas que não acredito. Teve momentos que o Pueri passou por desvios, que eu não acreditei, fui embora. E voltei porque acreditei que ele estava querendo corrigir os desvios que ele tinha sofrido. Todos nós passamos por desvios, isso é uma coisa absolutamente que faz parte da vida, então falar hoje sobre tudo isso que aconteceu, poder falar de forma transparente, com tranquilidade, é uma coisa que me deixou muito à vontade. Eu me sinto muito bem em poder fazer isso porque, independentemente de eu ser o professor que um dia entrou aqui, em 1984, ou eu ser o Diretor de Ensino, em 2006, eu sou uma pessoa que continua falando aquilo que acredita. Eu nada mais fiz aqui do que contar uma história e falar coisas que eu fiz, que eu acredito e valorizo, porque é a minha história, é a história da minha vida.
P/1 – Então em nome do Pueri Domus e do Museu da Pessoa nós agradecemos essa entrevista.
R – Obrigado!
[Fim do depoimento]Recolher