IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Fernando Baratelli Júnior, eu nasci no dia 20 de abril de 1947, na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo. INGRESSO NA PETROBRAS Quando eu completei o curso de Engenharia Química pela Universidade de São Paulo, em 1969, fiz o concurso, passei e entre...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Fernando Baratelli Júnior, eu nasci no dia 20 de abril de 1947, na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS Quando eu completei o curso de Engenharia Química pela Universidade de São Paulo, em 1969, fiz o concurso, passei e entrei na Petrobras, em janeiro de 1970. Eu vim fazer o curso aqui de um ano, chamado o Cenpro, o Curso de Engenharia de Processamento. Hoje sou engenheiro de processamento sênior da Petrobras.
COTIDIANO DE TRABALHO O engenheiro de processamento trabalha na operação das unidades, fazendo acompanhamento técnico das unidades ou fazendo o projeto das unidades de processamento das refinarias. Eu iniciei meu trabalho fazendo a partida das unidades da Replan, em 1972. Em 1976, eu vim para o Cenpes para iniciar o grupo de Engenharia Básica, que passaria a fazer os projetos das unidades de processamento da Petrobras.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Foi uma trajetória longa. Eu iniciei no curso de processamento de petróleo, depois fui pra Refinaria Gabriel Passos, trabalhei lá durante nove meses fazendo estágio e trabalhei como coordenador de turno também. Depois eu fui para a Refinaria de Paulínea, a Replan, trabalhei lá de 1972 a 1976, fazendo as partidas das unidades. Trabalhei como coordenador de turno também, como supervisor de partidas da unidade de enxofre, supervisor de partidas da unidade de craqueamento catalítico. Em 1976, eu vim para o Cenpes, onde participei do grupo que originou a Engenharia Básica. Participei de um processo de transferência de tecnologia em unidades de amônia, depois trabalhei em álcool-química. Fizemos um processo de produção de eteno a partir de álcool que foi implantado no Nordeste na Salgema. Ela operou por muito tempo a maior unidade de produção de eteno de álcool do mundo. Hoje essa tecnologia já está tendo novamente espaço, existe uma procura grande por essa tecnologia. Depois, eu trabalhei em processos ligados à produção de álcool e fertilizantes.
DIVISÃO DE CATALISADORES Em 1985, passei para a divisão de catalisadores, que foi uma divisão criada no Cenpes para dar apoio à produção de catalisadores de FCC no Brasil. Houve um acordo de intercâmbio tecnológico entre a Petrobras e a empresa holandesa Akzo, nós desenvolveríamos catalisadores e eles também. Nós colocaríamos uma planta industrial na Fábrica Carioca de Catalisadores, que operam até hoje em Santa Cruz, produzindo praticamente todos os catalisadores de craqueamento catalítico que a Petrobras necessita. Ainda hoje existe esse acordo de desenvolvimento tecnológico, que teve bastante êxito. Esse acordo foi motivado por ocasião da guerra nas Malvinas, quando os fabricantes de catalisadores de FCC bloquearam a venda pra Argentina. O Brasil acabou suprindo, naquele momento da guerra, esse insumo que é muito importante, porque senão as refinarias não operam. Isso abriu os olhos do pessoal da Petrobras de tal forma que levaram em conta que esse catalisador era um insumo estratégico. Era necessário que ele fosse feito no país de qualquer maneira. Por isso foi feito o intercâmbio com essa empresa holandesa.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu fiquei nessa divisão de catalisadores até 1990, quando passei a ser o superintendente de pesquisa industrial, que englobava as pesquisas não só de catalisadores, mas dos processos de refino. O petróleo sendo pesado, você tem que produzir produtos de maior qualidade e, lógico, mais leves que o petróleo; você tem que adaptar e inventar processos novos de processamento. Porque o petróleo brasileiro tem algumas características: primeiro, ele é bastante pesado, 19ºAPI ou menos; segundo, ele tem o teor de nitrogênio alto, o que é um problema porque é um veneno pra catalisador; terceiro, ele tem uma acidez naftênica importante e grande, que leva à corrosão dos equipamentos; e quarto, tem uma faixa muito grande na área de gasoil. Então, você precisa desenvolver processos que permitam pegar aquele petróleo e transformar em produtos de boa qualidade na saída através de catalisadores, de esquemas de processos, através de condições de operação diferentes, e esse grupo fazia isso.
Em 1998, houve uma grande reformulação no Cenpes e eu fui pra divisão de produtos, responsável pelo desenvolvimento da qualidade do produto para atender o mercado. Em 2000, com a re-focalização da companhia, através do seu planejamento estratégico, que definiu que a Petrobras não ia ser simplesmente uma empresa de óleo e gás, mas uma empresa de energia, foi criado aqui no Edise um grupo para cuidar de gás e energia. E, no Cenpes, foi criada como uma imagem especular, uma área de gás e energia. Eu fiquei nessa área pra iniciar os trabalhos de desenvolvimento tecnológico em apoio à área de negócios em gás e energia. Hoje eu continuo nessa área, desenvolvendo projetos na área de gás natural, na de biocombustíveis e na de energias renováveis.
CATALISADOR DE FCC O catalisador é um pózinho, que tem 60 a 100 mícrons de diâmetro, onde você tem uns cinco ou seis componentes. Esse catalisador, a uma temperatura elevada, em contato com hidrocarbonetos, promove a quebra desses hidrocarbonetos. O hidrocarboneto pesado é como um óleo combustível, nessas situações, ele se quebra e produz gasolina ou GLP. Esse processo é extremamente lucrativo pra empresa, porque você pega um produto mais pesado, sem valor comercial, e transforma em gasolina e GLP, produtos de grande valor. O catalisador é como se fosse um agente que permite que a reação química se processe.Nesse caso específico, é a reação do craqueamento, como se fosse a quebra das moléculas. Uma molécula grande se transforma em duas ou três moléculas menores, com um maior valor comercial. Isso é o catalisador em princípio. Então, na questão das águas profundas, quando o Brasil começou a encontrar petróleo muito pesado, com muito nitrogênio, que é um veneno pra esse catalisador, se tornou mais importante ainda ter formulações especiais pra poder processar esse petróleo. Cada tipo de óleo, a cada interesse de atender o mercado, você desenvolve uma formulação diferente, por isso que é importante estar sempre pesquisando. O que fazemos no Cenpes? Fazemos essa particulazinha que tem cinco ou seis componentes, vamos variando de composição, de produto, e testamos em escala pequena. É o que chamamos de screening. Quer dizer, pegamos vários catalisadores, uma carga, e vemos qual é o resultado. Pegamos a melhor, produzimos uma quantidade maior e colocamos na planta piloto. Se aquilo se confirma, vamos à área industrial e mandamos fazer uma quantidade maior ainda e se faz um teste industrial. Sendo uma boa solução, você já tem um catalisador melhor pra usar nas suas refinarias. Um caso interessante é que numa formulação, nós usávamos o açúcar. Ele era colocado junto com os outros ingredientes e depois nós lavávamos. O açúcar se dissolvia, ficando umas espécies de cavernas minúsculas. Ali as moléculas entravam e faziam com que a reação ocorresse de maneira mais adequada. Essa formulação usou o açúcar como um dos componentes, foi interessante e deu até resultado industrial.
EMPRESA DE ENERGIA A re-focalização da empresa aconteceu na revisão do planejamento estratégico de 1999 –2000. Então, começou o foco mais direcionado nas renováveis, sendo que agora está se dando uma ênfase maior em biocombustíveis. Mas nós fizemos estudos na área de eólica, temos levantamentos da medição de ventos em várias regiões do país, temos uma planta piloto de geração de energia eólica em Macau, temos algumas coisas ligadas à energia fotovoltaica também e, lógico, biodiesel e álcool, projetos muito importantes da nossa área.
BIODIESEL E ÁLCOOL O biodiesel já tem três unidades que estão em construção e a Petrobras está se associando pra produzir uma quantidade importante de álcool para exportar pro Japão. O álcool, a partir de material lignocelulose, também é um projeto prioritário pra nós. A questão fundamental é mudança climática. Quando você utiliza combustíveis fósseis no seu carro, em um caminhão ou no ônibus, eles queimam e geram um gás do efeito estufa, o CO2. A concentração do CO2 vem crescendo na atmosfera desde a revolução industrial, quando estava em torno de 200 bpm (partes por milhão de CO2), veio crescendo, crescendo e hoje está em 380 bpm. Isso está levando a um aquecimento da terra, o efeito estufa, que sempre existiu, está se acentuando. O aquecimento leva ao degelo das geleiras do Pólo Sul e do Pólo Norte, isso vai aumentar o nível dos mares, criar precipitações mais severas e uma dificuldade na vida como a imaginamos agora. O álcool e o biodiesel têm um ciclo de vida. Quando se queima o álcool, ele emite CO2, mas antes de ter emitido esse CO2, a planta retira o CO2 pra crescer, então, aquilo fecha o ciclo. Se tivessem só energias renováveis, teoricamente, você não estaria aumentando o teor de CO2. Por isso que cada vez mais se torna importante encontrar fontes renováveis de energia, de tal forma que esse efeito estufa seja minimizado.
ENERGIAS RENOVÁVEIS Nós temos projetos na área de energia solar térmica e vamos fazer uma planta de geração de vapor a partir da energia solar no Nordeste. Nós temos projeto de energia fotovoltaica, todo o ciclo, desde a purificação do silício até a produção de células fotovoltaicas, produção de módulos fotovoltaicos e aplicação final – a aplicação em bombas de bombeios de petróleo, através da energia fotovoltaica, pra atender comunidades isoladas, como nós fizemos em São Thomé, no Pará. Nós temos aquela planta piloto de energia eólica em Macau, temos levantamentos de dados anemométricos no Brasil inteiro. Temos alguns estudos preliminares em energia dos mares e estamos acompanhando as universidades nos protótipos que elas estão propondo. Pequenas centrais de hidrelétricas: temos um estudo no estado da arte e estamos apoiando a área de negócios pra escolher as melhores tecnologias, caso eles queiram utilizar. Biocombustíveis, nós já falamos dos processos de álcool, do processo de biodiesel. Temos que falar sobre o aproveitamento da glicerina, um subproduto, que pode ser um problema. Tem mais um ponto: a gaseificação de biomassa. Trata-se de pegar a biomassa, que pode ser madeira ou bagaço de cana, e fazer um processo de pirólise catalítica ou um processo de oxidação parcial, de tal forma que produza um gás, chamado “gás de síntese”. Esse gás de síntese é CO + H2, que depois você pode num processo seqüencial chamado de síntese de Fischer-Tropsch, produzir combustíveis líquidos, tipo diesel de alta qualidade, nafta e GLP.
PROGRAMA PRÓ-ÁLCOOL A Petrobras foi fundamental pra que o Pró-álcool fosse aquele sucesso, ela comprava e armazenava o álcool, porque é uma indústria sazonal, ela produz numa época e na entressafra ela não produz. No início era mais sazonal ainda, porque não tinha as espécies que se tem hoje, que você pode administrar quando ela ficar pronta pra retirar. Naquela época, você tinha seis ou sete meses de produção, e o resto sem produzir. A Petrobras adquiria, colocava nos seus tanques e depois ia vendendo pro mercado. Essa foi uma situação fundamental. Houve um desenvolvimento tecnológico, o Centro de Tecnologia da Copersucar desenvolveu novas espécies de tal forma que umas amadurecem mais cedo – amadurecem é modo de dizer –, elas ficam prontas para serem processadas mais cedo e outras vão ser processadas mais tarde. Eles aumentaram o ciclo de produção. Hoje já chega a nove, dez meses. Ainda assim tem uma safra, mas eles também se prepararam com tanques, que antes não existia. A Petrobras usa também os seus polidutos pra transportar álcool, quer dizer, deu uma logística muito importante para o início do Pró-álcool. Deu um apoio também. Eu me lembro que os veículos da Petrobras que atendiam a diretoria foram um dos primeiros a serem transformados de gasolina para álcool. Nós desenvolvemos álcool a partir da mandioca, até em nível industrial, lá em Curvelo. Depois, por razoes econômicas, o projeto foi parado. Nesse primeiro momento, o apoio da Petrobras foi importante. Não é sempre reconhecido, mas foi importante no sentido de oferecer a logística.
ÁLCOOL / PRODUÇÃO ATUAL Atualmente, a Petrobras está se colocando como um player no mercado, está pretendendo produzir em associação a outras empresas internacionais, até para atender o mercado de exportação, e vai colocar um investimento na logística do álcool. Existe a proposta da Petrobras, em associação com empresas internacionais, produzir o álcool e garantir a produção pra atender o mercado internacional. O álcool brasileiro é muito competitivo, então, existe a viabilidade econômica, tanto que hoje estamos exportando álcool para os Estados Unidos. Poderia exportar muito mais se eles não colocassem uma taxa que impede a livre competição do álcool brasileiro no mercado americano. A idéia é que o álcool seja ainda mais competitivo. A idéia é exportar mais, de acordo com o planejamento estratégico da companhia, a meta é de 3,5 milhões de litros por ano em 2011, com esses novos empreendimentos que estão sendo feitos visando à exportação junto com o parceiro japonês. A produção do álcool brasileiro já é em larga escala. Essa é uma questão que preocupa a Petrobras. Nós, inclusive, estamos iniciando uma série de capacitações e projetos para analisar o ciclo de vida dos combustíveis. O álcool vai ser um deles, o biodiesel é outro. Particularmente, num processo de produção de álcool de segunda geração, que nós estamos desenvolvendo no Cenpes, você vai poder produzir mais álcool, vai poder plantar um pé de cana adicional. É o seguinte: esse processo usa o bagaço de cana, que hoje é queimado para gerar energia elétrica, e você usaria o bagaço de cana como matéria-prima pra gerar mais álcool, o chamado processo de hidrólise da lignocelulose. Com esse tipo de processo não haveria a necessidade de aumentar o número de plantações de cana. Nos projetos tradicionais que a Petrobras está em detalhamento com essas firmas no exterior, haveria necessidade de plantar mais cana. Agora, existem muitas áreas degradadas que se poderia usar. Em cada projeto vai ter a análise do ciclo de vida pra ver qual será realmente a repercussão. É um ponto que precisa ser analisado, mas eu acho que ainda existem soluções dentro do contexto que temos hoje de áreas degradadas e de possibilidade de áreas férteis que se poderia utilizar sem fazer um desflorestamento.
H-BIO O biodiesel é renovável. O H-bio é um processo que usa as refinarias pra injetar o óleo vegetal numa unidade de hidrotratamento, onde esse óleo vegetal se transforma, sofre um processo de hidrogenação e sai como um diesel de boa qualidade. Basicamente, o H-bio é isso. Qual é a vantagem? Você usa a planta da refinaria que já está disponível, não tendo grandes investimentos. Produz um diesel de boa qualidade, que faz melhorar a mistura ou permite fazer outras adições à mistura do diesel. Dependendo do preço do óleo vegetal e do preço do diesel, pode ser economicamente interessante.
GÁS NATURAL O gás natural é chamado de combustível da transição. Hoje, se usa principalmente gasolina. A gasolina tem uma composição química que é CnH2n, então, pra cada carbono tem dois de hidrogênio. O gás natural é basicamente o metano CH4, então, pra cada carbono você tem quatro de hidrogênio. Quando você queima a gasolina, você produz moléculas de CO2 e água na relação um para um. Quando se queima metano, produz duas moléculas de água e uma de CO2. O gás metano é a transição, é o hidrocarboneto que gera menos CO2 em relação aos demais. Ele tem essa vantagem em relação ao gás do efeito estufa. Ele é considerado o combustível da transição, pode ser utilizado para substituir carvão na geração de energia elétrica, pode ser aplicado em aplicações automotivas pra substituir a gasolina e o diesel. Fundamentalmente, ele é um combustível que vai ter um crescimento ao longo dos anos, maior do que o petróleo.
GÁS BOLIVIANO A Petrobras fez um movimento no sentido de importar gás boliviano. Ele continua sendo importado. Existe um limite até 30 milhões de metros cúbicos por dia, que é o limite de contrato e é o limite físico, porque os gasodutos não permitem mais do que isso. Originalmente, a idéia era aumentar essa importação, porque era o mais lógico a se fazer. Mas como houve esse problema político, a Petrobras simplesmente vai manter por enquanto o nível de importação nos 30 milhões de metros cúbicos por dia, ou um pouco menos, e vai buscar outras fontes de gás. A principal delas é a produção própria de gás natural. Os investimentos aumentaram muito na Bacia do Espírito Santo e na Bacia de Santos, pra produzir o gás aqui mesmo ao invés de trazer da Bolívia, mas isso tem um tempo de maturação. Nesse interregno, o que foi planejado, é trazer o gás na forma de líquido para dois terminais, um aqui do Rio de Janeiro e outro de P-100. Esse gás líquido é chamado de GNL, gás natural líquido, ele vem a uma temperatura muito baixa, e aqui vai ter umas estações de re-gaseificação pra colocar esse gás na malha. Lógico que é um pouco mais caro, mas é fundamental pra poder produzir energia com as termoelétricas. Esse é o panorama atual, não está se considerando o aumento da importação da Bolívia, se mantém aquela importação, mas se busca alternativas.
GÁS / TRANSPORTE Primeiro se faz um levantamento sísmico de uma determinada área pra exploração. Você identifica se ali pode ter hidrocarbonetos. Ainda mais, você pode identificar que ali tenha petróleo ou pode identificar que ali só tenha gás. A indústria do petróleo está mais desenvolvida do que a de gás. Quase sempre quando se acha petróleo tem gás, que é chamado de gás associado. Quase sempre se encontra petróleo com gás associado, em maior ou menor quantidade. Você pode encontrar também só gás, sem petróleo, tem um condensado que você acaba liquefazendo. As metodologias são pouco diferentes: escoar o petróleo é de uma forma e escoar o gás é de outra. Quer dizer, os problemas são diferenciados, mas no final das contas tudo é muito próximo. Quando você encontra petróleo tem que levar em consideração o que vai fazer com o gás. E quando você encontra só o gás, aí é uma situação de como levar esse gás pro mercado, porque é mais fácil levar grandes quantidades de líquido do que de gás.
Nós estamos estudando algumas formas de transportar esse gás, ou através de sistema de gás pressurizado, que é chamado CNG, compressed natural gas, ou através da transformação em gás natural em sólido, que é como se fizesse um sorvete do gás natural. Você mistura o gás natural com água, abaixa a temperatura e aumenta a pressão, ele se transforma no hidrato, que é um sólido e que você pode transportar, depois se faz uma re-vaporização. Pra transportar um copo d’água, digamos que ali tenha 300 gramas, você transporta dali pra cá. Mas para transportar 300 gramas de gás, imagina quantos copos você ia ter que trazer? Você tem que comprimir ou transformar esse gás em líquido. Existem tecnologias que você pode fazer esse tipo de coisa. O fato de estar no mar é um complicador. Mas, por exemplo, gás encontrado em terra na Indonésia, para trazer para o Brasil, você tem que transformar em líquido e trazer. O problema está na dificuldade do transporte e com a distância do mercado, não fundamentalmente porque é offshore. Lógico que offshore prejudica um pouco, mas se você encontrar em terra e não tiver mercado, também é problemático. Como transportar o gás da Bolívia pra cá? Teve que se fazer um gasoduto, e o custo é enorme.
PETROBRAS DO FUTURO A Petrobras, como as outras empresas da área de energia, tem que estar muito atenta a essa questão das mudanças climáticas. Se aparecer, digamos, uma decisão da sociedade mundial de não ter mais combustíveis fósseis, de forma a não aumentar mais o teor de CO2 na atmosfera, os produtos da Petrobras não vão ter mais mercado, assim como o das outras empresas de petróleo. Existe um movimento no sentido de alavancar a área de energia na área de renováveis, alavancar os biocombustíveis. A Petrobras está buscando se posicionar como uma provedora de energia, cada vez mais aumentando o seu plantel de produtos renováveis. Eu acho que no futuro isso vai acabar acontecendo. Dizem que no futuro vamos ter a economia do hidrogênio; o combustível viria do hidrogênio. Quando se queima o hidrogênio gera energia e produz água, então, não haveria grandes problemas de poluição, tanto local quanto global. Mas pra isso você teria que ter as células-combustíveis, que pegam o hidrogênio e geram uma corrente elétrica, e depois reagem com o oxigênio formando água. A Petrobras está buscando a capacitação nessa área para um redirecionamento nos seus portfólios de projetos no futuro.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Eu acho que um momento importante foi quando nós projetamos uma unidade de produção de eteno de álcool, uma unidade grande de 60 a 100 mil toneladas por ano, e conseguimos fazer a partida dessa unidade em três horas, atingindo no dia seguinte quase 100% da capacidade. Aquilo foi realmente um momento importante, porque o resultado do trabalho foi nosso. Outro momento foi na área de catalisadores, quando se conseguiu fazer a unidade industrial operar e se colocar bem no mercado, atingindo inclusive a liderança na América do Sul. Também foi outro aspecto importante. Vamos ver se agora no futuro, com essas unidades de álcool, se conseguimos também bons resultados. Acho que esses foram os pontos importantes da minha carreira.
PATENTES
As patentes estão ligadas a esse processo do álcool. Têm outras patentes que estão nascendo agora. Essa invenção é interessante. Eu tinha voltado da transferência de tecnologia de amônia e me colocaram na área de eteno de álcool. Eu só estudava aquilo, teoricamente, eu saberia tudo sobre aquilo. Estávamos fazendo um processo chamado de isotérmico, onde fazíamos o reator. Mas o reator trocava calor com um fluido térmico. E eram reatores com tubos, ficava um negócio enorme e havia a dificuldade de transportar com caminhão. Até que o meu chefe, o João Batista, fez uma pergunta: “Escuta, por que vocês não fazem isso num reator sem esses tubos e deixa a temperatura cair ao longo do processo?”. Eu ouvi ele falar e pensei: “Poxa Eu estou trabalhando todo dia nisso aqui e ele me fez uma pergunta que eu não sei responder”. Não fiquei satisfeito comigo mesmo. Mas pensei: “Ele tem razão, nós poderíamos fazer isso”. Mas aí tinha que colocar vapor d’água pra temperatura não cair tanto, porque se caísse muito a reação deixava de acontecer. Quando se colocava vapor d’água, era uma quantidade muito grande, que tornava inviável o processo. Foi aí que veio a invenção: “Eu vou pegar esse vapor d’água, reaquecer e usar no segundo reator”. Quer dizer, eu passei a usar a mesma quantidade de produto três ou quatro vezes, e com isso o custo diminuía, tornando o processo econômico. A origem veio de uma pergunta de outra pessoa, chegamos no ponto de que a idéia era interessante, mas não era viável. Você pega carona naquela idéia e chega a algo viável, dando seqüência a uma idéia original. Isso foi interessante, foi uma maneira de fazer o desenvolvimento e conseguimos chegar até a escala industrial.
IMAGEM DA PETROBRAS A Petrobras foi muito importante pra mim. Praticamente é a única empresa onde eu trabalhei. Depois de formado, eu entrei na Petrobras e não saí nunca. Toda a minha trajetória foi dentro da empresa. Eu acho que é uma empresa muito boa de se trabalhar, uma empresa que você consegue fazer as coisas acontecerem, é uma empresa séria, ética, que dá muito valor aos seus empregados. Eu estou bastante satisfeito, tanto que já podia me aposentar, mas ainda continuo trabalhando. A Petrobras é conhecida mundialmente como uma empresa inovadora. Temos a liderança em tecnologia em várias áreas, na área de águas profundas e na área de refino. Isso é reconhecido internacionalmente. É uma empresa inovadora, uma empresa que busca colocar recursos significativos em pesquisa e desenvolvimento, mais do que outras do mesmo porte. E tem obtido bons resultados.
MEMÓRIA PETROBRAS Eu achei interessante, foi agradável conversar, relembrar algumas coisas do passado, e também traçar alguns planos pro futuro. Eu acho que é uma boa iniciativa, registrar a história da companhia é importante. Zelar pela sua história e ser visto com exemplo para um desenvolvimento futuro.Recolher